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África Contemporânea: Uma análise a partir dos livros didáticos de História do 9º ano do
Ensino Fundamental

Luana Guerrieri1
Polyandra Neves
Renata Teixeira Amaral

Resumo: A despeito do crescimento observado nos últimos anos dos diversos recursos utilizados em
sala de aula como suporte para a mediação entre o ensino e a aprendizagem, o livro didático continua
sendo o instrumento mais usado na tradição escolar e principal referência para os estudantes sobre o
conhecimento do continente africano. Á vista disso, nos propormos nesse trabalho, analisar os conteúdos
apresentados sobre o tema de África Contemporânea nos livros didático de História do 9ª ano do ensino
fundamental da editora moderna (2º e 4º ed.). Utilizamos como metodologia a análise de resenhas, das
tabelas e das fichas de avaliação desses livros disponibilizados no site do Programa Nacional do Livro
Didático – PNLD. Verificamos por meio de nossa pesquisa, que embora a Lei 10.639/03 tenha
implantado a obrigatoriedade do ensino de História da África nos currículos escolares, na prática a sua
inserção tem sido realizada de forma lenta e progressiva. Embora é possível observamos avanços
consideráveis, há permanência de conceitos e estereótipos depreciativos sobre o continente africano
ainda podem ser encontrados nos manuais escolares.

Palavras-chave: Livro didático. História da África Contemporânea. PNLD.

No exercício da prática docente, o professor não deve agir como um mero transmissor
de conhecimento, mas um mediador entre o objeto a ser compreendido e o aluno. Para tanto o
docente deve fazer uso de materiais didáticos que podem ser usados como instrumentos
mediadores nesse processo. Embora nos últimos anos tenha ocorrido um crescimento de
inúmeros recursos que podem ser utilizados como suportes na mediação entre o ensino e a
aprendizagem, o livro didático continua sendo o instrumento de trabalho mais usado na tradição
escolar, e a familiaridade de seu uso permite identifica-lo e distingui-lo de outros livros.

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Graduandas do 8º semestre do curso de Lic. em História da Universidade do Estado da Bahia –Uneb – Campus
XVIII.
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Conforme nos lembra Circe Bittencourt (2008), o livro didático não pode ser
considerado um objeto cultural de fácil definição, sendo essa dificuldade caracterizada por se
tratar de uma obra complexa que envolve a interferência de diferentes sujeitos em sua produção,
circulação e consumo. Tal situação ainda permite que ele assuma funções diversificadas, que
serão direcionadas pelas condições de tempo e lugar em que foi produzido e utilizado nas
variadas situações escolares.
Ainda nessa concepção Oliva (2009) reconhece em seu artigo Olhares sobre a África:
Abordagens da História Contemporânea da África nos Livros Didáticos Brasileiros que o livro
didático se apresenta como a principal referência na composição, manutenção e transformação
do conhecimento sobre continente africano construído pelo público escolar e , assim como
José Eduardo Melo Silva (2013) em seu artigo África ensinada: Uma análise do ensino de
África a partir dos livros didáticos do 6º ao 9º ano, aponta que apesar das mudanças advindas
pela implementação da lei os livros ainda continuam em sua maioria resistindo as inovações,
mantendo a representação do continente africano de forma arcaica desprovidos de
desenvolvimento cultural e social.
Diante destas considerações nos propormos nesse trabalho, analisar o livro didático de
História como fonte de pesquisa para entendermos como os conteúdos sobre o tema a África
Contemporânea está sendo retratado. Para atingirmos esse objetivo utilizamos como
metodologia a análise de resenhas, das tabelas e das fichas de avaliação de livros didáticos,
disponibilizados no site do Programa Nacional do Livro Didático - PNLD,
Como base para a análise das fichas de avalição do PNLD fizemos uso da 2ª e 4º edição
dos livros didáticos de História de uma das coleções da editora Moderna, referente ao 9º ano do
ensino fundamental, intitulados respectivamente: Estudar História: das origens do homem à
era digital da autora Patrícia Ramos Braick (triênio 2017/2018/2019), e o segundo o livro
Projeto Araribá: história. Maria Raquel Apolinário (2014), além do livro o livro História nos
dias de hoje dos autores Flavio de Campos, Regina Claro e Miriam Dolhnilkoff, editora Leya,
2015.
Dentre os critérios estipulados pelo PNLD para a escolha dos livros didáticos aprovados
na avaliação pedagógica, as resenhas que compõe as coleções selecionadas constitui-se uma
tarefa obrigatória para os professores e equipe pedagógica das escolas. Através delas são
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analisados aspectos como conteúdo, referências, ilustrações e recursos didáticos que o livro
oferece, além de indicar se esses aspectos estão de acordo com a Proposta Política Pedagógica
– PPP, de cada escola. A resenha da coleção Moderna objeto desta análise, apresenta as
informações em forma de subtítulos englobando a visão geral, o sumário sintético, a descrição
da obra e como a História da África, afrodescendentes e indígenas são retratados nos livros
dessa coleção.
Os conteúdos apresentados na resenha estão organizados em torno de uma narrativa
linear e cronológica, integrada da História do Brasil, da África, da América, da Ásia e da
Europa, em um formato temático, atualizado, com uma proposta reflexiva diante dos
acontecimentos políticos, culturais e cotidianos que envolvem a vida dos alunos. O Manual do
professor apresenta estratégias e propostas de atividades que aprofundem o entendimento sobre
as fontes históricas e o uso de imagens em sala de aula.
A leitura de textos, investindo no desenvolvimento da capacidade de compreensão e de
análise das temáticas, estimulada por meio das atividades propostas, é um dos focos da coleção,
além do trabalho com uma variedade de recursos textuais e não textuais, entre eles gráficos,
fotografias, charges, quadrinhos, mapas, infográficos, cinema e mais, orientando para a noção
de história enquanto construção. Em relação à abordagem da História, várias fontes são
utilizadas na coleção, em propostas que objetivam a construção de conhecimento pelos
estudantes. No sumário sintético são relacionados os conteúdos referentes as séries do ensino
fundamental anos finais. A quantidade de páginas varia entre 224 para o6º ano e 280 para o 9º
ano.
Todos os volumes organizam-se em nove unidades, subdivididas entre quatro ou cinco
temas. Os volumes possuem seções fixas e outras que aparecem intercaladamente. São elas:
Apresentação; Página de Abertura; De Olho no Infográfico, com informações complementares,
imagens e questões sobre o tema; Em Foco, com texto e trechos de fontes acompanhados de
exercícios; Sugestão de Trabalho, que pode ser de filme, leitura ou site; Atividades, divididas
em Organizar o Conhecimento, Aplicar e Arte, para revisão de conteúdo s; e Compreender um
Texto, focando a competência leitora dos alunos. Ao final, há referências bibliográficas e a
reprodução de mapas.
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A coleção dispõe do livro do aluno, o Manual do Professor e o Manual do Professor


Multimídia que é composto por quatro volumes e cada um possui quatro Objetos Educacionais
Digitais (OEDs) acompanhados de orientações para o professor. O Manual contém, ainda, a
reprodução do Manual do Professor impresso e ferramentas para navegação, como o índice por
OED, a marcação de páginas, as anotações e a ampliação da visualização da tela.
O trabalho com os conceitos da disciplina História, como identidade, historiografia,
memória, sujeito histórico está presente, articulando às discussões dos conteúdos. O conceito
de tempo é abordado de forma mais direta no 6º ano e, nos demais volumes, está contemplado
nas operações de datação e nas análises comparativas entre passado e futuro. Na Proposta
Didático-pedagógica, o aluno é orientado para o entendimento de que a História é formada por
sujeitos comuns do passado e do presente. Em todos os volumes, há sugestões de trabalhos
coletivos e efetiva-se a relação entre os textos e as atividades propostas.
A História da África, afrodescendentes e indígenas é abordada continuadamente na
coleção e demonstra grande empenho na forma e na quantidade de recursos utilizados para
problematizá-la, destacando contribuições atualizadas e levando à percepção das singularidades
(sociais e culturais) e potencialidades dessas culturas e povos. Além de estimular os alunos à
reflexão sobre racismo, preconceito e discriminação, levando-os a atitudes de respeito às
diferenças culturais e sociais e de tolerância.
A presença negra no Brasil é discutida por meio de análise de imagens e de textos que
tratam da escravidão compulsória, violência física e condição dos libertos, assim como a cultura
afro-brasileira. Com a mesma metodologia, evidencia o negro na sociedade brasileira da
atualidade, suas singularidades, marcas da escravidão, hábitos das diversas tribos africanas que
contribuíram para formar as culturas do povo brasileiro, seu espaço e direitos na sociedade
atual.
Como já mencionados acima, dessa coleção escolhemos analisar as discussões sobre
África contemporânea que se apresentam nos conteúdos do 9º ano encontrados no capítulo 8
desse livro, com o título As Independências na África e da Índia. Nos outros anos do ensino
fundamental da coleção os conteúdos sobre o continente africano estão divididos da seguinte
forma: no 6º ano os conteúdos de África aparecem nos capítulos referentes as civilizações
antigas onde são abordados os assuntos da Mesopotâmia, China, Índia Egito e os reinos da
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Núbia; no 7º ano a África é apresentada nos conteúdos relacionados na II unidade Origens e


expansão do Islã, Reinos e povos da África. Já no 8º ano não há referência direta sobre os
conteúdos de África, porém eles aparecem no contexto dos assuntos: a mineração no Brasil
colonial, a Independência do Brasil e o Primeiro Reinado, Da Regência ao Segundo Reinado.
Ainda no site do PNLD encontramos uma tabela que nos mostra as principais coleções
das editoras Saraiva, Scopione, FTD, Moderna, Positivo, Leya, Ática, Editora do Brasil e
Saraiva Educação, que estão disponíveis para as escolhas dos livros didáticos. Conforme os
dados apresentados na tabela podemos observar que a coleção da editora Saraiva educação e
FTD apresentam maior quantidade de edições, já as coleções das editoras Scipione, Saraiva,
Positivo, Leya, Ática, Editora do Brasil, Editora positivo, IBEP só apresentaram uma edição da
lista do guia. As coleções da editora moderna aparecem com edições no ano de 2014 e 2015.
Diante desses dados, podemos perceber que as coleções das editoras Saraiva educação
e FTD são as que mais tiveram alterações no seu conteúdo, indicando provavelmente a
necessidade de enquadramento aos conteúdos exigidos no PNLD, porem estas análises não
foram aprofundadas por não ser objeto deste trabalho a comparação entre as edições anteriores
e atuais das coleções.
Para conduzir a análise do livro didático do 9º ano da coleção Moderna aplicamos os
dados da ficha de avaliação do PNLD que está dividida em Avaliação geral da coleção, Manual
do professor, História, Proposta Didático-Pedagógica, Formação cidadão e Projeto gráfico.
Dentre os tópicos apresentados acima, destacamos o Manual do professor em que se
observa como o livro didático de modo geral apresenta os objetivos da proposta didático-
pedagógica, bem como os pressupostos teóricos metodológicos por ele assumidos, explica a
organização da obra, traz informações que orientem o docente para o melhor uso do livro,
propondo textos de aprofundamento e propostas de atividades complementares a serem
trabalhadas com os alunos.
O Manual apresenta propostas para desenvolvimento de atividades interdisciplinar;
apresenta subsídios que possibilitam a reflexões de orientações práticas do professor no
processo de avaliação da aprendizagem, de acordo com as normas que regem a educação
brasileira. De modo específico ao conteúdo sobre África Contemporânea observa-se que há
uma orientação ao professor quanto as diversas possibilidades para a abordagem significativa
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e pertinente do ensino de História e cultura do tema específicos que propiciem a aplicação do


disposto nas Leis 10.639/03 e 11.645/08.
Com referência ao tópico História da Ficha de Avaliação verifica-se que na Abordagem
Teórico Metodológica da História o livro didático mostra coerência e efetivação da
fundamentação teórico-metodológica da História com a proposta apresentada no Manual do
professor, nos textos principais e complementares, atividades, ilustrações e nos objetivos gerais
do ensino de História da África Contemporânea, promovendo que o aluno perceba a
historicidade das experiências sociais, e desenvolva o pensamento histórico, de forma autônoma
criando o raciocínio crítico e da capacidade de apresentar argumentos historicamente
fundamentados.
Na Correção e Atualização de Conceitos, de Informações e de Procedimentos, vale
apontar que na página 166 do livro, os africanos são denominados como “nativos” podendo esta
expressão levar a compreensão de tratar-se de um povo inferior em desenvolvimento e cultura.
Observa-se que o livro didático na Construção e/ou Apresentação Significativa de Noções e de
Conceitos Históricos apresenta a sua organização na parte inicial mostrando ao aluno a
estruturação dos capítulos através das imagens do capítulo sobre. As independências na África
e a da Índia, indicando e explicando que tipo de recurso estará sendo trabalhado nos capítulos
como tirinhas, charges, sugestões de textos e filmes. Nesta parte, o livro didático também
esclarece ao aluno que os capítulos contem instrumentos que visam estimular que o aluno reflita
sobre o conteúdo e dialogue sobre ele com seus pares.
No tópico proposta didático-pedagógica observa-se que o conteúdo proposto ao aluno
está em consonância com a proposta de ensino aprendizagem apresentada no manual do
professor, há organização que permite uma progressão em direção a aprendizagens de maior
profundidade e/ou complexidade e a consecução dos objetivos do conteúdo de África
Contemporânea. Permite o trabalho interdisciplinar e de integração da reflexão histórica com
outros componentes curriculares das ciências humanas e outras áreas do conhecimento como a
pesquisa proposta as páginas 172 sobre “doenças negligenciadas”.
Na parte que trata sobre a formação cidadã do aluno percebe-se que o conteúdo proposto
promove a aplicação das normas constitucionais e infraconstitucionais que regem a educação
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brasileira no que concerne o estudo da História e cultura Afro-brasileira, promovendo o


Respeito aos Princípios Éticos, incentivando ações positivas à cidadania e ao convívio social.
Para finalizar as considerações sobre a ficha de avaliação do livro didático observamos
que o livro didático no que se refere ao projeto gráfico a organização da coleção é objetiva do
ponto de vista da proposta didático-pedagógica, a legibilidade gráfica está adequada para o
nível de escolaridade dos alunos do 9º ano, não há presença de erros de impressão. As
ilustrações apresentam a diversidade étnica da população africana a pluralidade social,
religiosa, cultural e regional como podemos observar que no capítulo há uma montagem de
várias fotos ocupando as duas primeiras páginas, com imagens de mulheres com vestimentas
mulçumanas, uma cantora com roupas no estilo ocidental e outra com roupa bem colorida e
uma criança de cabelos trançados, fotos de personalidades africanas como Mandela, há uma
cantora, e um homem e uma mulher com livros nas mãos fazendo referência ao estudo.

A montagem esta acompanhada por um texto sobre o dia 25 de maio escolhido como o
“Dia de África”. O texto destaca a união de estados africanos que participam de conferências
anuais dos novos países independentes da África, tendo por objetivo superar os traumas, a
pobreza e as desigualdades geradas pelo colonialismo e apoiar os movimentos pela
independência no continente.
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Para a condução da análise realizada acima consultamos os conteúdos indicados na


BNCC, um dos documentos norteadores das políticas educacionais brasileiras, que prevê, para
o 9º ano do ensino fundamental, em uma das unidades temáticas a abordagem da História
Recente da África e Ásia, como objetivo do conhecimento os processos de descolonização
destes continentes, e como habilidade a descrição e avaliação dos processos de descolonização
na África e na Ásia.
Desse modo concluímos que a seleção de conteúdos sobre África Contemporânea é
adequada, pois verificamos que apesar da elaboração da coleção ser anterior a instituição da
Base Nacional Comum Curricular – BNCC para o ensino fundamental (Resolução CNI/CA nº
02/2017), a mesma contempla os conteúdos. A coleção aponta como recorte temporal os
acontecimentos ocorridos no período correspondente, ao que se classifica como África
Contemporânea (final do século XIX e início século XX) tendo como título principal As
independências na África e a da Índia 2, nas páginas 164 a 178, como subtítulo os seguintes:
África na Primeira Guerra Mundial; Movimentos de identidade africana; A Crise do
colonialismo; As colônias portuguesas; O regime do Apartheid na África do Sul; A
independência da Índia.
Contudo vale apontar que a coleção ao intitular o capítulo como independências
analisar os aspectos endógenos e exógenos que levaram ao processo de emancipação,
permitindo a reflexão da participação do povo africano como agentes atuantes nessas lutas,
conforme podemos observar na imagem anterior acima mencionada.
A sequência em que são apresentados os conteúdos obedece à progressão da
aprendizagem planejada na escola, haja vista o livro didático contempla os assuntos pautados
no Plano Político Pedagógico – PPP, documento obrigatório das escolas que norteia a escolha
dos livros didáticos a serem utilizados, como: os assuntos a serem estudados, conjunto de
conteúdos, o tratamento didático dado a eles, se é adequado para o seu aluno e se está de acordo
com o currículo..

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Salientamos que o último subtítulo não foi analisado neste trabalho por esta localizado no continente Asiático.
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A linguagem adotada é adequada, sendo o texto das explicações acessível para os


alunos, é de fácil entendimento para a faixa etária da maioria dos alunos, para melhor
compreensão do conteúdo faz uma ligação dos assuntos abordados com os conteúdos ensinados
nas unidades anteriores, faz a descrição do significado das siglas indicadas em cada subtítulo,
traz as margens perguntas que instigam a reflexão nos alunos e propõe pesquisas, trabalha com
a interdisciplinaridade com outras disciplinas como a geografia, apresenta o significado de
palavras desconhecidas pelo vocabulário dos alunos, além de indicar leituras complementares
sobre o conteúdo.
As atividades auxiliam o aluno a entender o texto das lições. Conforme imagens abaixo,
verificamos que o livro oferece outras fontes que auxiliam na realização de pesquisas sobre
eventos abordados nos textos.

Segundo o exemplo acima, o livro menciona uma leitura complementar sobre as lutas
de independências , permitindo ao aluno que compreenda melhor os processos de emancipação
política que ocorreram em todo território africano.
Já nas imagens abaixo observamos que o livro, propõem questões reflexivas
relacionadas aos temas estudados, além de trabalhar com analise de imagens, levantando
discussões/reflexões sobre o tratamento dado pela mídia aos assuntos relacionados aos Estados
Unidos e a Europa em contraponto com os assuntos referentes aos países Africanos.
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Verificamos também que o Manual do Professor contribuiu para o melhor uso do


material, pois apresenta inicialmente textos base possibilitando ao professor recordar conceitos
aprendidos em sua formação como a história oral, muito importante para a abordagem sobre
África já que o continente tem forte tradição na oralidade, apresenta textos sobre música,
cinema, obras de arte, fotografia e questões raciais.

Abordagens sobre o tema África contemporânea apresentados nos conteúdos dos livros
didáticos do 9º ano do ensino fundamental anos finais.

De acordo com as informações acima, os conteúdos referentes ao tema sobre África


Contemporânea aparecem nos livros didáticos nos assuntos do 9º ano do ensino fundamental
anos finais sob o título As independências da África e da Índia.
Conforme esboça o autor Godfrey N. Uzoigwe (2010) no capítulo II intitulado Partilha
europeia e a conquista da África: apanhado geral do volume VII da coletânea História Geral da
África editada por Albert Abu Boahen (2010), a divisão e ocupação do continente africano pelas
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nações industrializadas da Europa, a chamada partilha ocorreu no fim do século XIX e o início
do século XX (1880-1914), e os motivos que impulsionaram essa conquista e retaliação do
território africano e como os países europeus impuseram sua dominação na região, como os
africanos resistiram e porque não conseguiram obter sucesso nessa empreitada, as
consequências e impacto dessas transformações na vida do colonizado e do colonizador são os
temas que compreendem o período chamado de África contemporânea.
No livro da coleção Moderna intitulado Estudar história: das origens do homem à era
digital, da autora Patrícia Ramos Braick 3esses assuntos são abordados a partir da página 164
com os subtítulos: A África na Primeira Guerra Mundial, movimentos de identidade africana,
a crise do colonialismo, colônias portuguesas e a Revolução dos Cravos e o fim do Império
Português.
A abordagem sobre a Independência das colônias africanas inicia-se no livro
mencionado com a apresentação da data de 25 de maio como O Dia de África, discorrendo
sobre as conferencias anuais que se organizavam em diferentes países para construir ações
conjuntas dos novos Estados africanos para superar as consequências do colonialismo e
impulsionar os movimentos de independência que ocorriam no continente. De acordo com
Muniz Ferreira os processos pelos quais as nações africanas enfrentaram para alcançar a sua
independência política foram diferentes pois estavam associadas as maneiras de dominação que
cada um sofreu.
Nesse sentido o tratamento sobre esse conteúdo aparece de forma bem geral, não
discutindo as lutas e as diversas dificuldades enfrentadas pelos países africanos nesse processo.
Por meio da data comemorativa, a autora chama a atenção dos alunos para a necessidade de se
pensar sobre os questionamentos que tornaram essa data uma referência, mas não apresenta
discussões sobre como se deu o processo da independência, ele já aparece como uma
conquista, destacando a fundação da OUA (Organização da Unidade Africana) atualmente
conhecida como União Africana e sua atuação no sentido da promoção cada vez maior dos
ideais de constituir uma África unida, sem fronteiras políticas e territoriais, defendido por
muitas lideranças africanas e ressaltando a luta contra o colonialismo.

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Professora Mestre em História pela Pontífice Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS)
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Nos subtítulos seguintes: A África na primeira Guerra Mundial e os Movimentos de


identidade africana, são apresentados os motivos que levaram os povos europeus a explorar o -
-território africano. Usando termos como “ justificar a dominação”, “discurso civilizador”,
“povos atrasados” e “barbárie” a autora faz menção dos conceitos defendidos pelo que foi
considerado como primeiro movimento da historiografia africana, segundo o autor Macedo
(2016) caracterizado por uma produção exótica da África que consistia na negação da condição
humana dos africanos.
Já no decorrer da apresentação do texto podemos observar que os questionamentos sobre
a maneira como os africanos participaram na guerra, como formou-se os primeiros movimentos
de afirmação da identidade africana é contextualizado pela autora sob a perspectiva da
influência da corrente historiográfica produzida com baseada no segundo momento da história
da África denominado por Dimas Masolo (1994) como o momento da resposta ou replica
africana ao discurso sobre a África.
Esse momento foi considerado como o da construção endógena em que conforme
salienta os autores Chizenga e Cabral (2016) os próprios africanos conduziram sua escrita,
colocando-se como os personagens principais dessa história, assumindo o controle das
produções intelectuais, desmitificando conceitos errôneos sobre a história do continente. Neste
sentido, a autora associa as duas visões historiográficas sobre o processo de emancipação do
continente africano, mas não problematiza as questões, o o que gera lacunas que precisam ser
melhor trabalhadas pelo professor na explanação dos assuntos.
A menção dos movimentos de afirmação da identidade africana, como o primeiro
congresso Pan-Africano, e o Negritude discute as ações empreendidas por intelectuais negros
como Henry Sylvester-Williams, Burghardt Du Bois, Blaise Diagne Aimé Césarie, Léopold
Sédar Senghor, para a emancipação gradual das colônias, suas articulações para resgatar e
revalorizar as raízes africanas e o envolvimento de muitos africanos e negros norte-americanos
que lutaram nas batalhas pela independência. No diálogo com outras disciplinas, como a
geografia o livro apresenta aos alunos as divisões do território africano, permitindo que
percebam o quanto o território repartido pelos colonizadores europeus. Discute o surgimento
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de uma elite ocidentalizada que estava alinhada aos interesses da metrópole e uma elite colonial
que exerceu um papel fundamental nas denúncias feitas contra o colonialismo.
Apesar desses assuntos serem abordados de maneira bem resumida, permite ao aluno
compreender algumas estratégias desenvolvidas pelos colonizadores para dominação do
território e como a participação dos africanos nas batalhas da primeira guerra lhes motivaram
para lutar contra o colonialismo em seu território, conforme mencionado pelo autor Ali A.
Mazrui na coleção História geral da África volume VIII Para que essas e outras questões
possam ser problematizadas na discussão desse tema, o professor pode utilizar os textos
suplementares indicados no Manual do professor para se aprofundar sobre os assuntos,
realizando assim um planejamento criterioso que englobe a história do continente Africano
problematizando suas adversidades do passado e suas consequências na atualidade.
Segundo Muniz Ferreira (2013) a crise do colonialismo atingiu seu ápice na Segunda
Guerra Mundial, quando as grandes potências europeias esgotaram seus recursos e suas
capacidades de manter a dominação sobre os impérios coloniais, passando a apresentar
limitações nas administrações das colônias, além do interesse dos Estados Unidos em promover
uma mudança no status quo internacional, haja vista ter sido excluído da partilha do território
africano na conferência de Berlin (1884).
Diante dessas colocações percebemos que o livro mas uma vez, trata desse assunto de
maneira bem resumida, e não discute os motivos que interessavam aos Estados Unidos oferecer
apoio as lutas pela independência das colônias africanas, pelo contrário a sua participação nesse
processo aparece de forma positiva e altruísta, destacando entre outros pontos um trechos na
Carta do Atlântico, documento produzido pelos presidente Franklin Roosevelt e o primeiro
ministro Winston Churchill em 1941, que é entendido como uma das muitas manifestações de
apoio que os povos subjugados da África receberam nesse período.
O livro destaca os conflitos de independência dos países da Costa do Ouro (1957) que
posteriormente foi chama de Gana, as colônias portuguesas Guiné Bissau, Moçambique, Cabo
Verde, São Tomé e Príncipe e Angola. A participação de Kwame Nkrumah como líder do
movimento de independência de Gana e um dos participantes ativo do Pan-Africanismo
aparece como uma grande liderança nesse contexto, destacando sua participação na conferência
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de Adis Abeba na Etiópia em 1963. Também nomes como o cabo-verdiano Amílcar Cabral e o
angolano Agostinho Neto são mencionados como jovens educados nas metrópoles que
retornam aos seus locais de origem para lutar contra o colonialismo.
Embora esse assunto seja abordado com ênfase na participação desses intelectuais
negros como lideranças ativas nas lutas contra o colonialismo, e apresentar indicação de leitura
sobre o esse momento em vários países africanos, é importante que o professor desenvolva
atividades que possam aprofundar melhor o assunto, para que os alunos compreendam os vários
interesses que estão em jogo nesse processo.
Quando a formação de grupos de guerrilha que lutaram para a libertação da dominação
europeia, a duração desses conflitos e como foram reprimidos também são discorridos no livro,
destacando especialmente a situação dos protetorados franceses. De acordo com Muniz Ferreira
(2013), as diferentes estratégias de lutas enfrentadas pelos países africanos variavam de acordo
com a política desenvolvida pelo seu colonizador. Nesse caso a França segunda maior potência
colonizadora europeia na África, implantou uma prática bem ostensiva sobre as suas colônias,
que segundo Muniz (2013) teve como resultado um enfretamento bastante violento entre as
administrações coloniais e os movimentos de libertação nacional.
O uso da imagem em sala de aula de forma significativa, permite o desenvolvimento
do senso de observação e percepção dos alunos sobre os conteúdos que estejam relacionados a
ela. Nesse sentido conforme as considerações apresentadas por Litz (2009) toda a imagem é
histórica e quando o aluno é apresentado a ela, ele tende a relacionar a imagem que está vendo
com as informações que já possui, construindo um entendimento sobre a produção da imagem,
dando a ela uma significação histórica.
Para que a análise de uma imagem seja compreendida como uma fonte de informação e
conhecimento, seguir alguns procedimentos se faz necessário para que sua intencionalidade não
se perca. Segundo Litz (2009) a imagem deve ser problematizada, combinada com um texto,
explorada em todos os seus detalhes, para que possa representar o contexto que está inserida.
Sendo assim, observamos que as imagens que aparecem no decorrer da disposição dos
capítulos que tratam sobre os assuntos da independência das colônias africanas, aparecem junto
com as fontes, articuladas a perguntas que envolvem reflexão e reforçam o período da
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independência como um momento de superação e conquista dos povos africanos, reforçando a


valorização da identidade africana. São mostradas fotografias de líderes africanos, de ritos
religiosos, soldados africanos nas tropas coloniais francesas, rituais de celebração da
Independência de Gana, Vista da cidade de Angola, além de belos e felizes africanos em
diversas atividades cotidianas.
Ao contrário da maioria das imagens referentes ao continente africano que aparecem
na maioria dos livros didáticos representando uma África podre, subdesenvolvida, cheia de
miséria e morte, essas imagens promovem a cultura e a capacidade dos povos africanos de
resistir e superar os traumas e as desigualdades sofridas no processo da colonização, além de
apresentar o desenvolvimento econômico e humano do continente.
Apesar de toda essa valorização, o professor não deve se furtar a análise dessas imagens.
Para além da contextualização a que estão inseridas, devem ser comparadas a outras imagens
que nos vem à mente quando nos referimos ao continente africano, como esses povos foram
retratados e como estão sendo apresentados, fazendo alusão aos diversos estereótipos que são
construídos de forma errônea e arcaica sobre os povos africanos através da maioria das imagens
vinculadas a África.
Todos esses assuntos tratados no livro mencionado fazem parte da história
contemporânea do continente africano, embora sejam apresentados de forma bem resumida,
oferece um material bem significativo para que esse tema seja trabalhado em sala de aula de
forma mais objetiva, permitindo a elaboração de questionamentos e discussões bem atualizados
sobre a situação dos africanos. Apresenta intelectuais negros que tiveram uma importante
participação no processo de independência e afirmação da identidade africana, favorece a
desconstrução de muitos estereótipos em relação a África, como: racismo, inferioridade,
pobreza e outros. Seja em por meio de conflitos armados, guerras civis ou processos eleitorais,
o livro permite ao aluno compreender a longa caminha do continente africano em busca da
soberania política dos povos africanos.
Portanto conforme salienta Oliva (2009) os estudos sobre os manuais escolares tornam-
se fundamental para revelar aos alunos o papel desempenhado pelos africanos para preservar
sua cultura e história em meio aos interesses e intervenções estrangeiras. Segundo ele ainda a
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muito o que ser revisado, pois apesar de algumas experiências positivas como a que pudemos
observar no livro acima descrito, a maioria dos textos continua repetindo estereótipos arcaicos,
contrariando os rumos direcionados pela lei e a historiografia africana.
Já no livro da coleção História nos dias de hoje, dos autores Flavio de Campos, Regina
Claro e Miriam Dolhnilkoff, editora Leya, ano 2015 destinada ao 9º ano não apresenta um
capítulo específico sobre a África Contemporânea, trata o assunto no capítulo décimo primeiro
intitulado A Descolonização do Terceiro Mundo, onde aborda o tema na Índia, Indochina e
África, finalizando com a criação do Estado de Israel. O uso do termo descolonização contribui
para descaracterizar a participação do povo africano no processo de emanciapação, ao passo
que o termo independência remete a um movimento de luta e participação popular.
No que se refere às Independências em África a coleção acima mencionada aborda o
tema de forma superficial diluída nos tópicos do capitulo, aponta que no continente africano as
independências têm características especificas para cada região e o tipo de colonização,
abordando em menos de dez linhas como o continente estava dividido passando a relatar como
ocorreu em alguns país, em três ou quatro linhas. Um dos pontos centrais do relato é a violência,
com exceção de Gana, na maioria das vezes deixa de mencionar quem foram os agentes desta
violência, em outros momentos intitula os movimentos africanos pela independência como
“organizações clandestinas” como no caso do povo Kikuyu do Quênia, ainda apontando que a
organização era contra os colonizadores, sem em nenhum momento historicizar o evento
narrado.
O destaque dado a violência é verificado em momentos que não se tratam de confronto
físico, mas sim de ideias, quando no trecho destinado a independência do Congo os autores
apontam que Patrice Lumumba, líder do Movimento Nacional Congolês proferiu um “violento
discurso” em Leopoldville, quando defendia o direito do povo congolês aquelas terras, no
parágrafo seguinte aponta que o líder congolês por ocasião da independência proferiu discurso
atacando o rei belga. Nas linhas a seguir mais uma vez a violência entra em destaque quando
os autores apontam que o líder acaba por ser assassinado após ser preso por determinação do
presidente Joseph Kasavubu.
17

O livro não apresenta detalhes sobre a colonização belga no congo., apenas oferece
como exemplo da violência que era utilizada como forma de dominação. Esse método também
foi mantido pelos governos locais quando tomaram o poder. O único momento que aparece a
questão da violência física é no subtítulo Contestação ao Apartheid em foto de uma reação do
exército contra o protesto pacifico realizado por centenas de sul-africanos contrários a lei que
os obrigava a portar cartão de identificação para se locomoverem em Johanesburgo, onde foram
mortos 69 pessoas e 186 feridos.

Com referência as demais imagens utilizadas nos textos sobre a independência no


continente africano o livro didático apresenta poucas imagens e no geral não propõe uma
reflexão sobre seu conteúdo, com exceção das quatro fotos apresentadas no início do capítulo
onde solicita os alunos que observem as imagens. Esta coleção não está muito diferente dos
manuais sobre o Século XXI e a África analisado por Anderson Oliva (2009) já que o continente
africano continua sendo apresentado como marcada de guerras, onde há raras exceções, e
também porque as imagens veiculadas continuam levando a compreensão de um cenário
negativo sobre o continente e suas sociedades.
Essa perspectiva da historiografia africana sob o olhar eurocentricista vem sendo
debatida por estudiosos da educação que refletem sobre a pedagogia decolonial. Segundo
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Moore (2007, p.34) a História da África precisa ser abordada sob o olhar decolonial que seria
“[,,,] é dar um estatuto epistemológico aos povos subalternizados e deslocar o foco de
constituição e dinâmica da própria formação do ocidente europeu [...]”.

O livro didático de História do 9ª ano do Ensino Fundamental II utilizado pela editora


Moderna chama-se “Projeto Araribá”, a editora responsável pelo livro chama-se Maria Raquel
Apolinário (2014). As Independências na África e na Ásia é o tema do 7ª capitulo do livro
didático que de forma bem harmônica e colorida, traz em suas folhas os negros africanos,
desenhado pelo artista tanzaniano Hemedi Mbaruku,.

A obra representa uma comunidade da Tanzânia com seus moradores em plena


atividade. A figura é apresentada em conjunto com o depoimento do escritor e biólogo
moçambicano Mia Couto que problematiza a identidade africana. Por meio dessa imagem, é
possível trabalhar o conteúdo de África de forma mais criativa. Primeiramente alguns
questionamentos são levantados dentro do depoimento de Couto (2005):

Aconteceu num debate, num país europeu. Da assistência, alguém me


lançou a seguinte pergunta:
19

- Para si, o que é ser africano? [...]


- E para si o que é ser europeu?
O homem gaguejou. Ele não sabia responder. Mas o interessante é que,
para ele, a questão da definição de uma identidade se colocava
naturalmente para os africanos. Nunca para os europeus.
Quando se fala de África de que África estamos falando? Terá o
Continente africano uma essência facilmente capturável? Haverá uma
substância exótica que os caçadores de identidades possam recolher
como sendo a alma africana? (COUTO, 2005, p.11)

Os questionamentos acima levantados instruem e dão arcabouço para que o educando


se torne um ser crítico e reflexivo da sociedade que está inserido, bem como possibilita
entender/compreender a pertinência dos signos em torno da identidade africana. Dentro desta
ótica, a autora sinaliza a visão eurocêntrica e preconceituosa criada em torno do Continente que
perdura até os dias atuais e como os povos africanos lutaram pela independência de seu povo e
redescobriram o orgulho e a identidade africana que havia sido sufocado pelos colonizadores.
“A história, a arte e a cultura ancestral dos povos negros, em vez de sinônimos de atraso, foram
resgatadas e re-valorizadas como marcas de sua identidade. ” (APOLINÁRIO, 2015, p.84). Esta
passagem contida no livro didático ressalta a valorização destinada/dada à identidade africana.
Já no primeiro tema: Independências na África a autora chama a nossa atenção para o
importante papel dos diferentes movimentos contra o colonialismo europeu ocorridos no século
XX, sem desconsiderar os acontecimentos internacionais que contribuíram e atrapalharam o
processo de Independência. No decorrer das páginas do livro Apolinário (2014) destaca
algumas sugestões de pesquisa e leitura sobre África, sugestões estas bem elaboradas/colocadas
no conteúdo proposto, dentre elas se destacam: site por dentro da África, a autora mostra
algumas sugestões de sites de pesquisa africana, uma rica fonte de conhecimento sobre o
Continente africano e uma sugestão de literatura chamada O menino Burma, (2009) relata a
história de um menino africano que tenta sobreviver na Segunda Guerra Mundial, escrita por
Biyi Bandele, um romancista, dramaturgo e renomado cineasta nigeriano.
20

No que tange as imagens, em todas as páginas do capitulo a autora evidencia de maneira


crítica e correlata imagens sobre o continente africano. O martinicano Aimé Césaire, um dos
principais líderes do movimento da negritude é exibido na página 189 dedicada a tratar o
movimento da negritude símbolo de maior expressão do pan-africanismo na África Ocidental.
Outro símbolo de excelência exposto na página 193 destinada a tratar as independências das
colônias portuguesas é o Cabo-verdiano Amílcar Cabral, um dos principais líderes do
movimento pela Independência da Guiné e de Cabo Verde. Apolinário (2014, p. 193) evidencia
de maneira bem aplicada que “o surgimento de uma elite de jovens intelectuais foi essencial
para a criação de um projeto político para a independência”..
Na página 186 do livro destaca-se uma charge que interpreta o processo de
Independência como uma ação dirigida pelos povos negros colonizados, que expulsaram do
continente os dominadores europeus.

Intenso outono de limpeza, Charge de Szego Gizi, de outubro de 1960

Essa charge foi produzida pelo artista gráfico e cartunista húngaro Szego Gizi em 1960.
Ela representa o processo de descolonização do continente africano ocorrido no final da
Segunda Guerra Mundial. O negro retratado na imagem com a vassoura na mão, faz menção
direta a participação dos povos africanos nas lutas que envolveram a emancipação do
21

continente. Por meio de movimentos de afirmação da identidade africana, como o negritude e


pan-africanismo os africanos contribuíram para que a dominação europeia no seu território
fosse encerrada.
Tendo em vista as análises realizadas, entende-se que, em busca de um ensino que
ultrapasse a visão eurocêntrica e estereotipada da história, que transponha barreiras e promulgue
a inserção do indivíduo na comunidade, que lhe dê subsídios para assim emergir como seres
participativos e reflexivos do meio que o cerca, o campo historiográfico base dos autores parte
de uma perspectiva endógena.

Considerações Finais

Conforme os conteúdos analisados acima, percebemos que embora a Lei 10.639/03


tenha implantada a obrigatoriedade da História da África nos currículos escolares na prática a
sua inserção tem sido feita de forma lenta e progressiva. Podemos verificar avanços
consideráveis, mas a permanência de conceitos e estereótipos sobre o continente africano ainda
podem ser encontrados nos manuais escolares.
Para além da exposição dos assuntos sobre a História da África nos livros didáticos, é
preciso investir na formação dos futuros professores e oferecer capacitação especifica para os
que já estão atuando nos ensinos fundamentais anos iniciais e finais, afim de se desenvolver um
ensino de História da África dinâmico e objetivo, capaz de contribuir na desconstrução de
estereótipos arcaicos e preconceituosos disseminados sobre o povo africano.

REFERÊNCIAS:

APOLINÁRIO, Maria Raquel. Projeto Araribá: história / organizadora Editora Moderna: obra
coletiva, 4 ed – São Paulo, 2014
22

BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo. 2
ed. Cortez, 2008.

BRAICK, Patrícia Ramos. Estudar história: origens do homem à era digital. In: ______. 2 ed. São
Paulo: moderno, 2015.

BANDELE, Biyli. O menino de Burma. Brasil. Record. 2009.

CAMPOS, Flávio de; CLARO, Regina; DOLHNIKOFF. História nos dias de hoje. 2 ed. São Paulo:
Leya, 2015.

COUTO, Mia. Um retrato sem moldura, In: HERNANDEZ, Leila Leite. A África na sla de aula:
visita à história contemporânea. São Paulo: Selo Negro, 2995, p.11.

FERREIRA, Muniz. A África contemporânea: dilemas e possibilidades. 12f. 2013

História geral da África, VII: África sob dominação colonial, 1880-1935 / editado por
Albert Adu Boahen. – 2.ed. rev. – Brasília: UNESCO, 2010.
1040 p.

LITZ, Valesca Giordano. O uso da imagem no ensino de História. Curitiba.2009

MACEDO, José Rivair de. O pensamento africano no século XX. São Paulo: Outras Expressões,
2016.

SILVA, José Eduardo Melo. África Ensinada: Uma análise do ensino de África a partir dos livros
didáticos do 6º ao 9º ano. XXVII Simpósio Nacional de História: Conhecimento histórico e diálogo
social. Natal. RN. 22 a 26 jul.2013

OLIVA, Anderson Ribeiro. Lições sobre a África: abordagens da história africana nos livros
didáticos brasileiros. In: Revista de História. 2009. nº 161. P213- 244.

OLIVEIRA, Luiz Fernandes de; CANDAU, Vera Maria Ferrão. Pedagogia decolonial e educação
antirracista e intercultural no Brasil. Educação em Revista. Belo Horizonte, v. 26, n.01, p.15-40. Abr
2010

CAMPOS, Flávio de; CLARO, Regina; DOLHNIKOFF. História nos dias de hoje. 2 ed. São Paulo:
Leya, 2015.

www. http://portal.mec.gov.br/pnld.

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