Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Curitiba
2015
1
Faculdade Cascavel
Eduard Henry Lui
Turma: 1C
Curitiba
2015
2
AGRADECIMENTOS
Sempre, ao meu Deus que é responsavel por tudo que sou e o que vier a ser.
Aos meus pais, Dirceu e Lourdes que foram o canal condutor das bênçãos divinas. À
minha esposa Camila que tem me sustentado com seu amor, carinho e
compreensão. Aos meus filhos Júlia, Davi e ao Lucas que está por chegar.
ABSTRACT:
The Ancient Egypt fascinates people, especially for its exotic religious and artistic
manifestation present and lasting. This article aims to present brief overview of
textbooks aimed at high school, made available by the Government of the State of
Paraná to the Public Network of teacher education for selecting books to be used by
state schools. Observed: broad panorama of history teaching in Brazil; perspective of
the textbook and its use by the Brazilian school; presence of matter related to
Ancient Egypt; analysis of selected collections. The objective is to explain the way
that the authors addressed the Antiquity content, especially the Egyptian case and its
issues related to religion - gods, mummification, beliefs, funeral works etc. There was
also cinematographic information and their ways of approach on the theme of Egypt
INTRODUÇÃO
Entende-se que escrever um livro do gênero didático não é tarefa das mais
fáceis. Mais dificultoso ainda se torna quando há uma infinidade de temas a serem
abordados e quando se pretende abordar toda a História da Humanidade em
páginas limitadas por espirais, margens, leis e orçamentos. Por um lado, critica-se o
sistema; por outro, compreende-se a necessidade de delimitação e ordenamento.
Da mesma maneira, entende-se que cada especialista acredita piamente que seu
objeto de estudo é injustiçado pelo pouco espaço a ele destinado.
De acordo com Garcia (2011, p. 359), é possível afirmar que
Este artigo tem por objetivo analisar a produção didática destinada ao Ensino
Médio no que concerne à apresentação de conteúdos voltados aos temas da
Antiguidade, especificamente do Egito Antigo. As possibilidades são inúmeras
5
devido à grande demanda de produções dessa natureza. Sendo assim, utilizou-se
como critério de seleção livros aprovados no Plano Nacional do Livro Didático
(PNLD), com autores que estão há vários anos no mercado e cujas produções
foram elaboradas nos últimos cinco anos. Optou-se, então, por selecionar oito livros
que se encaixam nessa natureza.
A produção de livros didáticos atua de maneira muitas vezes imprecisa,
conduzindo o usuário a erros conceituais, criando mitos sobre o Egito Antigo. Muito
se fala e escreve sobre o Egito, especialmente em relação ao que chama muito a
atenção: a religiosidade. Observa-se os disparates e as contradições do que se
produz e se ensina sobre a vida cotidiana e a religião no Egito Antigo aos alunos de
1º ano do Ensino Médio. Pretende-se verificar a presença do senso comum na
análise do tema e fazer um levantamento de problemas conceituais.
Muita curiosidade se forma em torno de temas relacionados ao Egito Antigo.
No entanto, os meios de comunicação de massa, em especial o cinema e a
televisão, promovem um desserviço ao conhecimento, transmitindo inverdades ao
público. Jovens e adolescentes são prejudicados por isso, pois vão à sala de aula
sedentos em saber mais sobre uma fantasiosa civilização egípcia, e acabam se
deparando com outros equívocos de autores de material didático que, não sendo
especialistas, reproduzem erros e proliferam crendices sobre o assunto.
Diante de tal verificação, propõe-se responder às questões: De que maneira
é apresentada a Antiguidade e especificamente o Antigo Egito nos livros didáticos?
Qual o espaço destinado a esse período? Quais recortes temáticos são
privilegiados? Existem erros conceituais? Quais abordagens reforçam clichês e
informações que são desconexas com as recentes pesquisas em História Antiga?
Ainda, pretende-se buscar nas produções cinematográficas – geralmente
indicadas nesses livros – clichês, equívocos e informações incoerentes com os
fatos pesquisados e profundamente analisados por arqueólogos e historiadores dos
temas relacionados ao Egito Antigo.
6
ENSINO DA HISTÓRIA
7
chegassem a uma era dourada, o comunismo. Ainda hoje, com certas variações,
esse modelo ainda é adotado em países como China e Cuba.
Um novo modelo de história, que procurava justapor a História Ocidental à
História Africana, Ameríndia e Asiática, surgiu na década de 1960, seguindo a onda
de abertura cultural do período. De qualquer forma, a visão eurocêntrica
permanecia, mesmo incluindo a história de outros povos. Ao mesmo tempo, na
França e na Bélgica, junto de uma história temática houve iniciativa de um ensino
de história que levava em consideração o status de quem recebia o ensino:
8
especialmente heróis que assumiam um caráter republicano, foram os nortes
principais das obras nesse período. Era uma história ufanista que valorizava a
nação, nos mesmos modelos do Período Imperial. Diferenciou-se apenas na
introdução de uma história regionalizada, atendendo às demandas das oligarquias
que dominavam os vários estados da União. Isso se deve, em grande parte, ao
sistema federativo implantado com a Constituição de 1891, que descentralizou o
sistema de ensino.
Mudanças significativas ocorreram após a Revolução de 1930. Com maior
autonomia, a História estabeleceu-se como disciplina. Permaneceu a divisão em
História Universal e História do Brasil. Posteriormente, o Conselho Federal de
Educação recomendava o ensino de História Geral e do Brasil e, se possível,
História da América, graças à vigência da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (Lei 4.024/61). Os avanços eram sentidos especialmente nas
universidades, no Ensino Fundamental pouca coisa mudou, inclusive com relação
aos autores, que permaneciam os mesmos por muitas décadas. Conforme
apresentou o professor Renato Mocelin,
10
O LIVRO DIDÁTICO
A prática escolar no Brasil está extremamente vinculada ao uso dos livros
didáticos no desenvolvimento dos conteúdos. Isso pode ser confirmado por Alves2,
citado por Freitag et al. (1997, p. 111), indicando que
2
ALVES, N. O cotidiano do livro didático: a articulação do conteúdo e do
método nos livros didáticos. Brasília/Rio de Janeiro: INEP/FLACSO, 1986, 1
e 2. Relatório final (Mimeo).
11
Com ênfase nessa análise dos livros didáticos, Batista (2002) cita o caso
particular dos livros de História do início do século XX, que eram destinados ao
ensino de jovens e que se tornaram obras de referência, o autor afirma que
Para Kátia Abud (1984, p. 81) “o livro didático é um dos responsáveis pelo
conhecimento histórico que constitui o que poderia ser chamado de conhecimento
do homem comum”. Abordado dessa maneira, o livro didático é o responsável pela
formação de um conhecimento específico da história que, certamente, será
encarado como detentor da “verdade histórica”, uma vez que acompanhou toda a
trajetória escolar dos alunos.
12
ANTIGO EGITO NOS LIVROS DIDÁTICOS
A imagem de uma civilização pode ser transmitida por vários meios:
memória, documentos escritos, pinturas, artefatos da cultura material, relatos orais
e, ultimamente, cinema, fotografia, internet. A ciência histórica chama esses meios
de estudo e interpretação de fontes históricas.
A leitura de uma fonte nem sempre é exata e precisa. Ela reflete o momento
de sua leitura. Com o passar do tempo e com o distanciamento cronológico do
acontecimento, fato, civilização etc. que está sendo estudado, não é incomum que
a interpretação dessa fonte sofra alterações.
Todavia, com o advento das novas tecnologias nos séculos XX e XXI – que
sem dúvida trouxeram benefícios para a humanidade – chegaram novas mídias
para o estudo e a apresentação da história em sala de aula. A livre expressão ou
livre interpretação, mais conhecida no meio artístico como releitura, acabou se
infiltrando no mundo histórico por meio do teatro, da música e também do cinema.
De fato o Egito foi uma sociedade escravocrata, no entanto não condiz com
as pesquisas arqueológicas a atribuição de que tudo no Egito foi construído por
escravos. A imagem do escravo construindo as pirâmides só começou a ser banida
do senso comum após as descobertas de vilas de construtores e seus registros
contábeis. Foram tantas as informações e registros que colocou em desuso a teoria
da construção das pirâmides apenas pelo trabalho escravo.
3
The ten commandments (Os dez mandamentos), é um filme norte-
americano de 1956, dirigido por Cecil B. DeMille. É uma narrativa
romanceada da vida de Moisés e sua liderança para retirar o povo hebreu
do Egito.
4
Cleopatra é um filme britânico, estadunidense e suíço, de 1963, do
gênero drama biográfico histórico, dirigido por Rouben Mamoulian e
Joseph L. Mankiewicz e com roteiro baseado em obra de Carlo Mario
Franzero.
14
Questiona-se: De que maneira desconstruir inverdades, senso comum e
mitos inseridos no contexto da filmografia que se apresenta de forma tão atrativa,
mas que contém certos equívocos históricos?
Com isso em mente, resolveu-se voltar os olhos para uma das formas que se
crê conseguir combater tais tipos de equívocos: os livros didáticos. O recorte
temático escolhido foi, portanto, o Egito Antigo. Como ele é retratado nos livros
didáticos? Com o auxílio desse suporte, de que forma os professores de História
podem mostrar aos alunos que as releituras da sétima arte não são a verdade
histórica, mas o entendimento do diretor/autor/roteirista sobre ela?
• Ser protagonista, de Anderson Roberti dos Reis, Débora Yumi Motooka, Gilberto
Lopes Teixeira, Edições SM.
16
ANÁLISE DAS COLEÇÕES
Nas três páginas que os autores apresentam sobre o Egito Antigo o foco
extensivo sobre os métodos de produção e organização leva a crer que o foco de
pesquisa dos autores do livro não é a sociedade egípcia antiga, mas mostrar que a
17
divisão de terras e a luta de classes está presente por toda a história. Isso mais
para validar as teorias de Marx e Engels, deixando de lado a chance de apresentar
um Egito independente e com características próprias, procurando justificativa no
passado para problemas do presente, negando, assim, a identidade do povo
egípcio.
A utilização de fontes é rica, no entanto, reforça a tese de que estão ali para
corroborar com a ideologia expressa ao longo das páginas. A presença do homem
comum e de cenas cotidianas são constantes e bem amarradas. A diagramação é
muito bem feita e transmite uma leveza na sua distribuição textual e imagética.
19
A apresentação gráfica é, sem dúvida, um dos pontos fortes da
coleção. Página 29.
A coleção possui uma diagramação muito bem feita e atrativa, porém, peca
pela falta de dados específicos às civilizações da Antiguidade Oriental, que além de
certamente serem tão ricas quanto as da Antiguidade Clássica, tiveram
características próprias e diversas. Portanto, pouco contribui para reconstruir um
aprendizado consistente, capaz de derrubar mitos e inverdades propagados pelo
senso comum.
20
São 14 páginas, um capítulo inteiro dedicado ao estudo do Antigo Egito. O
trabalho com fontes históricas é constante e distribuído de maneira satisfatória. A
análise da sociedade apresenta praticamente todos os segmentos. A diagramação é
leve e bem distribuída, não se perde em trechos em branco e todas as imagens
possuem um bom tamanho, adequado para leitura e interpretação.
22
São utilizadas seis páginas para uma civilização de mais de 3 mil anos, com
informações que são bastante superficiais, pouco ajudando na construção de
conhecimento e na compreensão da sociedade egípcia.
A coluna falsa foi mal aproveitada, a imagen da pirâmide poderia ter sido
melhor aproveitada se expandida e preenchido a página. Página 53.
O trabalho com documentos não está presente no corpo do texto e sim, após
o termino do capítulo, o que empobrece e distancia a importancia do uso do
documento histórico.
23
Oficina de História — Editora Leya — Flavio de
Campos e Regina Claro.
São cerca de 6 páginas e meia que tratam do tema. Diferencia-se pois situa o
Egito como um reino da África. Apresenta gráficos cronológicos bastante didáticos e
possuem uma distribuição de diagramação bastante harmoniosa. A abordagem, no
entanto é bastante tradicional, com ênfase na distribuição política e econômica
egípcia.
24
religiosa a proposta reformista de Amenófis IV e a implantação do culto ao Disco
Solar.
Nos primeiros anos do seu reinado, Akhenaton tinha escolhido Aton como
deus supremo, mas ainda retinha outras deidades solares — Rá, Harakhte e
Shu — junto com o seu deus. [...] Hornung argumentou que, como
tradicionalmente os egípcios não podiam conceber uma unidade exclusiva ou
a unidade de deus, o monoteísmo era um avanço impossível para eles.
(DAVID : 2011: 303,304)
26
História 1: Das sociedades sem estado às
monarquias absolutistas — Editora Saraiva —
Ronaldo Vainfas, Sheila de Castro Faria, Jorge
Ferreira e Georgina dos Santos.
Trechos do livro páginas 32 e 33. A ênfase ao exótico e a temas relacionados com a realeza ou aos
deuses dominam a interpretação acerca do Egito.
27
Ainda ressalta a importância de duas mulheres — Hashepsut e Nefertiti —
ambas parecem que foram importantes apenas pelo fato de estarem próximas do
poder.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após análise das obras citadas, conclui-se que não somente a falta de
especialistas ajudam na pouca elaboração do saber histórico, como também a
brevidade com que o assunto é tratado. A impressão que muitas coleções passam
é a de que o Egito se resume à pirâmides, escrita hieroglífica e uma religiosidade
fantasiosa. Não abordam aspectos significantes do cotidiano e, além disso, com
informações pífias que parecem ser retiradas todas de um mesmo livro do início do
século XX.
28
Observa-se, portanto, que a pouca atenção destinada aos assuntos da
Antiguidade não causa mudança no olhar dos alunos sobre o tema ou mesmo sobre
o Egito, o que facilita a permanência de ideias equivocadas sobre essa civilização
que tanto contribuiu e, de certa forma, contribui para as noções de civilização que
se tem ainda hoje. Compreende-se que todos os assuntos presentes no currículo
básico de História são de extrema importância e que precisa ser feita uma escolha,
aqueles que receberão maior atenção e os que receberão menor atenção.
Todavia, a Antiguidade Oriental vem sempre sendo colocada de lado, o que se faz
criar ideias errôneas sobre tais civilizações.
29
Livros didáticos utilizados na análise / Fontes
REFERÊNCIAS
30
BRITO, A. P. A problemática da adopção dos manuais escolares, critérios e
reflexões. In: CASTRO, R. V. et al. Manuais escolares: estatuto, funções e
história. Braga, Portugal: Universidade do Minho, 1999. p. 139-148.
CHOPPIN, A. História dos livros e das edições didáticas: sobre o estado da arte.
Revista Educação e Pesquisa, v. 30, n. 3, set./dez. 2004, São Paulo, p. 549-566,.
Tradução de: CAPPELLO, Maria Adriana C.. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/ep/v30n3/a12v30n3.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2008.
31
KOSELLECK, R. Futuro do passado: contribuição à semântica dos tempos
históricos. Rio de Janeiro: Editora da PUC-Rio, 2006.
32
33