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Resumo
A abordagem da História da Ciência no ensino não é algo novo, e vem ga-
nhando cada vez mais espaço nas discussões que envolvem formação de profes-
sores e o processo de ensino aprendizagem pelos alunos, podendo ser um dos
caminhos para combater concepções ingênuas sobre a construção do conhe-
cimento científico. Contudo, se fizermos um levantamento desses trabalhos no
ensino básico, pode-se observar que a maior parte deles se concentra nos anos
finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio. O presente trabalho buscou
apresentar uma estratégia didática de incorporação da História da Ciência nos
anos iniciais, utilizando um livro infanto-juvenil: “Isaac no mundo das partículas”
da autora Elika Takimoto. A inserção dessa estratégia didática aconteceu em uma
escola municipal da periferia de Barra Mansa (RJ) e foi aplicada para cerca de
65 alunos do 3º, 4º e 5º ano do Ensino Fundamental. No percurso da aplicação,
houve um grande envolvimento da escola, como um todo e a realização acon-
teceu nos momentos de sala de leitura estabelecendo uma interlocução com a
oficina de práticas de ciências, que é oferecida nas escolas de tempo integral no
município. A estratégia didática mencionada criou motivação e interesse na tur-
ma, evidenciando todo um processo de construção do conhecimento científico,
realizando uma transposição didática da física das partículas, através da História
da Ciência presente no livro, de maneira lúdica e participativa.
Palavras Chave: Ensino de Ciências, História da Ciência, Literatura infanto-juvenil.
Introdução
É notório que a História da Ciência no Ensino pode trazer muitos benefícios
na construção dos conceitos científicos. As discussões acerca da importância da
introdução da História da Ciência no ensino não é algo novo. Em um artigo anti-
go e tradicional da área, o autor Matthews (1995) afirma a existência de um gran-
de movimento em busca da aproximação entre a História e o Ensino de Ciências.
Existem vários trabalhos na área que traz contribuições e possibilidades de
abordar a História da Ciência, no Ensino Superior e na Educação Básica (SEPINI,
MACIEL, 2016; VITAL, GUERRA, 2017; REIS, SILVA, BUZA, 2012, GUIMARÃES, CAS-
TRO, 2019; GUIMARÃES, CASTRO, 2019). Contudo, se fizermos um levantamento
desses trabalhos no ensino básico, podemos observar que a maior parte deles se
concentra nas graduações e nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino
Médio (CALLEGARIO et.al, 2015). Existem ainda poucos estudos da incorporação
da História da Ciência já nos primeiros anos escolares.
Esse trabalho tem como objetivo apresentar uma estratégia didática de in-
corporação da História da Ciência nos anos iniciais, utilizando um livro infanto-ju-
venil: “Isaac no mundo das partículas” da autora Elika Takimoto. O livro é repleto
de arte, filosofia e história sobre física de partículas para crianças a partir de
5 anos e conta a história de Isaac, uma criança, que conheceu e viajou com Argo,
uma partícula de areia, pelo mundo das partículas, encontrando filósofos como
Aristóteles e conhecendo novas descobertas como o Bóson de Higgs.
A inserção dessa estratégia didática aconteceu em uma escola municipal da
periferia de Barra Mansa (RJ) e foi aplicada para cerca de 65 alunos do 3º, 4º e
5º ano do Ensino Fundamental. No percurso da aplicação, houve um grande en-
volvimento da escola, como um todo, do diretor aos funcionários, e a realização
Autores todos da segunda metade do século XIX, são os que confirmam a literatura
infantil como parcela significativa da produção literária da sociedade burguesa e
capitalista. Dão-lhe consistência e um perfil definido, garantindo sua continuidade e
atração. (...). (LAJOLO e ZILBERMAN, 2007, p.20)
Procedimentos metodológicos
A atividade foi desenvolvida com 65 alunos do 3º, 4º e 5º ano do ensino
fundamental, na faixa etária de 7 a 10 anos, de uma escola pública municipal em
Barra Mansa, no Estado do Rio de Janeiro. Os alunos foram nomeados de A1 a
A65 para resguardar a identidade das crianças.
Esse trabalho trata-se de um relato de experiência, envolvendo uma sequên-
cia didática com a apresentação dos resultados produzidos no formato de roda
de conversas a partir do livro infanto-juvenil: “Isaac no mundo das partículas” da
autora Elika Takimoto. As rodas de conversa se configuram como uma estratégia
didática que aproxima os atores envolvidos na relação de troca de informações,
sendo uma metodologia que desenvolve atividades como leitura, sistematização
de ideias, introdução de novos conteúdos e debates, o que gera práticas argu-
mentativas (MESSEDER E OLIVEIRA, 2017).
O trabalho com o livro “Isaac no mundo das partículas”, ocorreu através da
roda de conversa durante os momentos na sala de leitura, onde as falas e inda-
gações, coletadas por meio de um diário de bordo, fizeram com que os alunos se
posicionassem para a solução dos problemas encontrados na história. Os alunos
demonstraram interesse com as descobertas do menino, motivando-se com o
desenrolar da história e demonstrando dúvida e interesse pela ciência.
As aulas da sala de leitura eram intercaladas com as oficinas de Práticas de
Ciências, e o principal objetivo era colocar o que era lido na “prática”. Os alunos
foram levados à observação da areia através da lupa, tendo em vista que as par-
tículas desse material ocupavam um espaço central no livro que estava sendo
trabalhado. Após as atividades desenvolvidas de observações e descobertas, os
educandos demonstraram os conhecimentos adquiridos através de registros e
diálogos interativos que serão analisados na seção seguinte.
Ao término da contação do livro, foi realizado um momento de reflexão cria-
do pelos alunos diante dos cientistas e figuras históricas encontrados no livro e
Resultados e discussão
Em busca de unir o imaginário ao real, a atividade trouxe uma inquietude por
parte dos alunos no momento em que perceberam a aproximação com o mundo
onde vivem em paralelo com um mundo microscópio que é invisível ao nosso
primeiro olhar. A partir da leitura do livro infanto-juvenil “Isaac no mundo das
partículas”, os alunos puderam perceber que o mundo que eles veem é constitu-
ído de várias partículas que constituem um mundo “invisível”, que dependendo
da forma que se olhe, pode ser encantador.
Para o desenvolvimento das crianças, iniciou-se a contação da história e o
diálogo na roda de conversa para compreender as representações dos alunos em
relação ao livro que seria trabalhado durante as aulas da sala de leitura, tendo em
vista que a professora responsável por esses momentos tem uma prática profis-
sional que encanta a toda comunidade escolar.
Oliveira e Messeder (2017) compreendem que as crianças demonstram em
seus discursos a capacidade de reflexão sobre questões sociais vivenciadas no
cotidiano e que a intervenção do professor é fundamental no processo educativo
que objetive a construção de conceitos científicos:
Figura 1: capa explorada como sondagem inicial da concepção da ciência que as crianças possuíam
Fonte: site da autora Elika Takimoto.
Disponível em: https://elikatakimoto.com/isaac-no-mundos-das-particulas/
Os relatos iniciais das crianças apontam para um fato até então inusitado. A
influência religiosa é muito clara e forte nas suas concepções iniciais, foram pou-
cas crianças que relacionaram a capa com a palavra ciência em sua interpretação,
a relação era sempre de um criacionismo divino feito por Deus.
Nas semanas seguintes, a professora da sala de leitura desenvolveu suas au-
las a partir do capítulo dos livros. Segundo seu relato, ela ficou muito surpresa
com a motivação dos alunos com o desenvolvimento da história, afirmou que
alguns alunos não gostavam de fazer leitura coletiva e passaram a realizar pela
motivação que o livro possuía, ela ainda relatou a grande motivação dos educan-
dos do 3º ano do ensino fundamental o que não era esperado no planejamento
inicial. A maior dificuldade de trabalho com o livro foi no seu desenvolvimento
quando conceitos de Física Quântica foram sendo inseridos.
Os experimentos relativos ao livro foram realizados de forma intercalada
com as aulas da sala de leitura, conforme os alunos iam lendo, eles eram incen-
tivados a exercer uma postura ativa e investigativa frente aos desafios propostos
na oficina de práticas de ciências. O experimento a ser destacado foi a análise da
areia através de uma lupa em um experimento de observação (figura 2). Os alu-
Considerações finais
No desenvolvimento deste trabalho, foi discutida a importância da História
da Ciência no ensino e da utilização da literatura infanto-juvenil para a introdu-
ção de tal abordagem. Esse enfoque não pode ficar restrito para os anos finais
do Ensino Fundamental, Ensino Médio e Superior, devendo abranger todos os
níveis de ensino. É nos anos iniciais que os sujeitos têm o primeiro contato com a
Ciência. É nessa etapa que começam a construir os primeiros significados, sendo
parte deles a história na qual os mesmos foram desenvolvidos.
A História da Ciência não serve apenas para enfeitar uma aula, mas para
transformá-la em uma busca pela construção do conhecimento. Sua incorpora-
ção, para que tenha um valor efetivo, exige uma postura diferente do professor
e do aluno. É essa modificação que permite que os benefícios de tal enfoque
sejam alcançados e que o ensino passe a ter como objetivo o desenvolvimento
do conhecimento.
A presente pesquisa mostrou que incentivar a leitura, através de um livro
infanto-juvenil leva motivação para o processo de ensino-aprendizagem em ci-
ências devido ao fato do acréscimo da narrativa que o livro possibilita no percur-
so da estratégia didática. Desse modo, o que se constata nessa atividade é uma
aproximação da riqueza proporcionada pela literatura infanto-juvenil nas escolas.
A escola, portanto, torna-se um espaço específico e privilegiado onde a criança
pode entrar em contato direto com a literatura. No entanto, a forma como essa re-
lação se dá nem sempre é satisfatória. O aspecto lúdico e a relação prazerosa com
o texto, ficou claro no percurso das atividades que foram sendo desenvolvidas.
Portanto, é extremamente relevante a utilização da História da Ciência e da
literatura infanto-juvenil para o ensino. Trabalhar em todas as etapas da educa-
ção com tal tipo de enfoque garante que o sujeito compreenda efetivamente o
trabalho científico e a maneira pela qual a Ciência, dos dias atuais, foi construída,
desmistificando a ideia de conhecimento linear ainda tão presente no ensino.