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HISTÓRIA
FLORIANÓPOLIS
2010
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FLORIANÓPOLIS
2010
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SUMÁRIO
1. Projeto de ensino:
1.1 Histórias na África na África Centro-Ocidental:
Congo e Dongo na escola..........................................................................................04
2.Planos de aula:
2.1 Aula 1...................................................................................................................15
2.2 Aulas 2 e 3...........................................................................................................29
2.3 Aula 4..................................................................................................................47
2.4 Aula 5 e 6............................................................................................................61
2.5 Aula 7..................................................................................................................78
3. Currículo em ação:
3.1 Currículo em ação e histórias no continente africano:
uma experiência de estágio em história da África.....................................................89
4. Cronogramas............................................................................................................104
-4-
1
LEI 9.394. Disponível em <<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>> Acesso em. 08.
maio 2010.
2
LEI 10.639. Disponível em <<www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.639.htm>> Acesso em
08. maio 2010.
3
SILVA, Alberto da Costa e. Os estudos de história da África e sua importância para o Brasil.
Palavras na abertura da II Reunião Internacional de História de África. 1997. Disponível em
<<www.casadasafricas.org.br/site/img/upload/732820.pdf>> acesso até 20 de mar. 2010.
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Este projeto de ensino tem por objetivo apresentar algumas considerações sobre
a prática docente em História à luz de questões próprias do ensino de história e de
natureza historiográfica acerca do tema, compondo uma das atividades dos Estágio
Supervisionado em História II realizado no Colégio de Aplicação da Universidade
Federal de Santa Catarina. O tema escolhido para as aulas foi a história dos reinos do
Congo e Dongo, que se situam no macro-tema „história da África anterior ao século
XV‟, destinado a 7ª série do ensino fundamental. Tendo como eixo de abordagem uma
reflexão sobre a diversidade africana do referido recorte temporal. E por problemática a
seguinte questão, como uma abordagem específica pode contribuir na reflexão sobre a
diversidade?
Os colégios de aplicação têm a particularidade de constituírem os campos de
estágio das universidades das quais fazem parte e, entre outras funções, de serem
escolas experimentais no desenvolvimento de experiências pedagógicas, seguindo as
exigências da LDB.5 De acordo com o Projeto Político Pedagógico do Colégio de
Aplicação da UFSC, os conteúdos programados na disciplina de História para a 7ª série
são a queda do Império Romano do Ocidente, Alta Idade Média, Feudalismo, Império
Bizantino e a expansão islâmica, a cultura medieval européia e a Baixa Idade Média. 6 E
para 8ª série são a questão do poder na colônia, a questão da terra no Brasil, escravidão,
a queda do Antigo Regime e o mundo contemporâneo. Um dos itens da unidade
escravidão é “o início do martírio: a “captura” dos africanos pelos africanos
(compreensão da criação de um comércio que envolvia nações africanas rivais e
interesses mercantilistas europeus); o transporte pelo Atlântico; a chegada no Brasil”7
Mas como trabalhar de acordo com a Lei 10.639 se a história da África e dos africanos
4
OLIVA, Anderson Ribeiro. A História da África nos bancos escolares: representações e imprecisões na
literatura didática. Estudos Afro-Asiáticos. Rio de Janeiro, v. 25, n. 3, 2003 . Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101546X2003000300003&lng=en&nr=iso>.
Acesso em 07 abr. 2010.
5
Projeto político pedagógico. Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Santa Catarina.
6
Ibidem. p. 48
7
Ibidem. p. 60
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estados/reinos do continente entre os séculos VII e XV. Assim, no capítulo „África dos
reinos‟, são apresentados Gana, Mali, Zimbábue, Kush e Aksum, a abordagem enfatiza
relações políticas e econômicas, uma caixa de texto que apresenta informações sobre a
Universidade de Sankore é a única seção que apresenta aspectos diferentes. No capítulo
seguinte, „a África das sociedades tribais‟, é uma tentativa de demonstrar como viviam
os povos não organizados em estados. A abordagem panorâmica dissolveu importantes
diferenças entre os grupos, favorecendo a noção de um continente homogêneo
culturalmente, mas organizado em estados independentes. Faltou também uma
diferenciação dos conceitos de reino e tribo.
Outro problema dos capítulos referentes ao continente africano diz respeito às
imagens, o livro traz exemplos de cultura material e suas legendas citam o país no qual
a imagem, escultura, ruína, templo, pintura, etc. pertence atualmente, mas não há um
mapa político atual pra localizar os países citados nas legendas. A coleção propõe
seções de análise de mapas ou de imagens e a trabalhar com fontes históricas, “a seleção
de fontes, escritas e não-escritas, permite que você exercite, aos poucos e de maneira
bem simples, o método da investigação, essencial no ofício do historiador”. 8 Mas nos
dois capítulos destinados a história da África não há nenhum dos trabalhos anunciados
na proposta. Somente nas atividades, onde aparecem trechos da obra Filosofia da
história universal, de Georg. F. Hegel, e A enxada e a lança: a África antes dos
portugueses, de Alberto da Costa e Silva, o exercício de análise aparece.
O capítulo dedicado para a história do continente africano anterior ao século XV,
o volume único, História, de Gislane Seriacopi e Reinaldo Seriacopi, de 2005, aborda a
divisão do continente em África setentrional e África subsaariana. Trabalha o conteúdo
de forma panorâmica enfatizando aspectos políticos, há nesta obra uma tentativa de
apresentar aspectos culturais. No entanto, ao tratar das religiões, por exemplo, fazem-no
de forma genérica. A caixa de texto „Religiões Africanas‟, tenta dar conta da totalidade
das religiões fazendo inúmeras simplificações que contribuem para a noção de uma
homogeneidade cultural.
Neste livro detalhou-se também aspectos dos reinos Axum, Gana e Mali, um
outro sub-item, „A expansão dos bantos‟, menciona as organizações tribais e os reinos
Grande Zimbábue e do Congo, mas também sem fazer qualquer diferenciação
conceitual de „tribo‟ e „reino‟. O mapa utilizado para localizar os principais reinos
8
Projeto Araribá. São Paulo: Moderna, 2006. p. 6
-8-
africanos entre os séculos VII a. C. e XV d. C., contém a divisão política dos atuais
países, a delimitação dos desertos do Saara e do Sahel, o entorno extra-continental e a
delimitação dos principais reinos. O livro apresenta a trajetória do viajante marroquino
Ibn Battuta e a importância de seus relatos de viagem para a escrita da História, mas a
atividade proposta não sugere análise de fontes. Assim como não acontece com a
atividade proposta a partir da imagem do Reino do Mali de um dos oito painéis de
madeira que compõem o Altlas Catalão, de 1375.9
Os autores do livro orientam aos professores paraque formulem perguntas como
“Qual a natureza do documento? Quem o produziu? Quando? Com qual objetivo foi
produzido? Como chegou até nós? Qual a questão central desse documento? (...) Em sua
opinião, existe algo que esteja subentendido na leitura do documento? (...).”10 Mas o
trabalho com documentos não é incorporado ao desenvolvimento do livro didático nem
corroboram os objetivos mencionados pelos autores. Este livro não é utilizado pelos
professores do Colégio de Aplicação, mas inúmeros exemplares estão disponíveis na
biblioteca da escola para consulta.
A coleção Vontade de saber História, dos historiadores Marco César Pellegrini,
Adriana Macho Dias e Keila Grinberg, apresenta significativa abordagem de história da
África. Os conteúdos programados são pensados também de forma panorâmica, mas
diferencia-se dos demais livros analisados por fazer uma divisão temporal naquilo que
chamamos de África anterior ao século XV. Com isto, para a 6ª série, destina-se o
capítulo denominado de „A África Antiga: uma diversidade de povos‟, no qual são
trabalhados os reinos Cuxe, Axum, de Garamantes e o povo Nok. O mapa não apresenta
as atuais divisões territoriais, mas dialoga concretamente com o texto. A abordagem
apresenta além dos aspectos políticos e econômicos, aspectos da organização social nos
reinos trabalhados. Na seção “enquanto isso...” aparecem textos sobre outros recortes
geográficos no mesmo período que contribuem para pensar a diversidade intra e extra-
continental. Esta coleção, tal como a coleção da historiadora Gislane e do jornalista
Reinaldo Seriacopi, consegue trabalhar a história do continente africano e dos africanos
em diversas seções das obras, como determina a Lei 10.639.
O volume da 7ª série, da coleção Vontade de Saber História, apresenta os
„Reinos e impérios africanos‟, contemplando os reinos de Gana, Congo e os impérios do
9
SERIACOPI, Gislane Campos Azevedo; SERIACOPI, Reinaldo. História. vol. único. São Paulo: Ática,
2005. p. 96
10
Ibidem. Manual do professor. p. 6
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11
DIAS, Adriana Machado. GRINBERG, Keila. PELLEGRINI, Marco. Vontade de saber Historia. 6°
Ano. Livro para análise do professor. São Paulo: FTD, 2009. [Manual do professor] p. 16
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Fernando nas 7ª série do ano anterior, onde cada estudante deveria escrever uma palavra
que definisse os temas ditados pelo docente. Esta atividade não constará no conjunto
das notas, visto que será somente uma tentativa de compreender aquilo que os
estudantes relacionam ao continente africano.
Na segunda atividade está prevista uma leitura do mapa político atual do
continente africano. O objetivo desta atividade é estabelecer um primeiro contato dos
estudantes com o mapa da África, percebendo que se trata de um território composto
por mais de cinqüenta países diferentes, contribuindo para pensar a diversidade cultural.
A correção desta atividade considerará se os estudantes conseguem responder aos itens
solicitados, como „Por quais oceanos/mares é banhado o continente africano?‟, „Quais
os continentes vizinhos do continente africano?‟, „Quantos países o existem no
continente?‟ e etc. Uma breve pesquisa em sites ou enciclopédias é suficiente para
responder às questões, ainda que não acertem o número do total de países, a simples
constatação de que se trata de um continente com mais de cinco dezenas de países, e
não de um único país, será importante para internalizar a existência da diversidade.
O terceiro exercício chama a atenção para as fontes e para o trabalho do
historiador, voltado para a História da África. A partir de trechos da obra História da
África Negra, de Joseph Ki-zerbo, os estudantes devem apresentar e discutir trechos dos
argumentos do filósofo Hegel e do historiador Reginald Coupland mencionados por
Joseph Ki-zerbo, compreendendo que a História é campo de disputas e transformações.
No quarto e no sexto exercício os estudantes elaborarão quadros síntese, com a
finalidade de definir aspectos socioculturais como linhagens, regimes de descendência,
arranjos matrimoniais, divisão sexual do trabalho, dentre outros, na região da África
Centro-ocidental, e sobre os habitantes, idiomas, organização política e provincial,
atividades econômicas nos reinos do Congo e Dongo. Será considerado na correção a
capacidade dos estudantes em distinguir e descrever com suas palavras os aspectos
socioculturais dos quadros.
A quinta atividade trata-se de uma análise de fonte histórica, um mapa do
continente africano do início do século XVIII, elaborado por John Harris, datado de
1744-48. A atividade enseja que os estudantes descrevam o documento, interpretem-no,
e comparam-no com o mapa dos reinos antigos, o mesmo da coleção História,
atentando para as regiões em destaque. E ao final, deverão levantar hipóteses sobre sua
utilidade, “o documento foi produzido numa época em que os europeus e africanos
- 11 -
comercializavam escravos, qual pode ter sido a relação entre o documento e o comércio
de escravos?”
As atividades exigem o exercício da interpretação, portanto, na correção será
considerada a elaboração das respostas a partir das palavras deles demonstrando
compreensão do enunciado da questão. Nas atividades com quadros síntese, se os
estudantes além de completarem os elementos solicitados, responderem às questões de
interpretativas do mesmo.
O termo „África anterior ao século XV‟ é muito vago e utilizar Idade Média
Africana seria incorreto, sobre a periodização própria do continente Carlos Moore
Wedderburn afirma que a historiografia africana tem divido sua história em cinco
grandes períodos, “respectivamente denominados como „clássico‟, „neoclássico‟,
„ressurgente‟, „colonial‟ e „contemporâneo‟”. Assim os reinos do Congo e Dongo
floresceram no Período Ressurgente (1500-1870), “marcado pelo apogeu e declínio dos
12
Estados agro-burocráticos ressurgentes nos diferentes espaços geo-civilizatórios” A
periodização proposta pelo africanista não será utilizada no decorrer das aulas, no
entanto, o debate historiográfico foi incorporado quando a periodização tradicional,
História Antiga, História Medieval, História Moderna e História Contemporânea, será
problematizada em atividade. Fazer-se-há exercício ao trabalhar a divisão História e
Pré-História, problematizando a relevância da sistematização de uma escrita para os
povos que têm a oralidade por tradição.
Considerações Finais
12
MOORE, Carlos Wedderburn. Novas bases para o ensino de História da África no Brasil.
(Considerações preliminares). Disponível em <<www.forumafrica. com.br/NOVAS%20BA
SES%20PARA%20O%20ENSINO%20_DEFINITIVO%20para%20MEC_11%20abril_1_.pdf>> Acesso
em 17. abr. 2010. p. 22
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Referências Bibliográficas
AMARAL, Ilídio do. O reino do Congo, os Mlundu (ou ambundos), o reino dos
"ngola" (ou de Angola) e a presença portuguesa, de finais do século XV a meados
do século XVI. Lisboa: Instituto de Investigação Científica Tropical, 1996.
APPIAH, Kwame Anthony. Na casa de meu pai: a África na filosofia da cultura. Rio
de Janeiro: Contraponto, 1997.
SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. 2ª ed. São Paulo: Ática, 2007.
Tema da Aula:
A pluralidade cultural no continente africano.
Conteúdos:
- Representações do continente africano;
- Aspectos socioculturais de diferentes grupos étnicos contemporâneos;
- Aspectos geoeconômicos do continente africano.
Objetivos gerais:
Apreender a existência da diversidade de povos presentes no continente
africano.
Objetivos específicos:
- Refletir sobre as representações do continente africano considerando a
diversidade dos povos;
- Compreender o conceito de diversidade étnica;
- Perceber a macro distribuição espacial de alguns povos;
- Valorizar a existência da multiplicidade de povos.
Conceitos:
- Pluralidade cultural;
- Diversidade étnica.
- Data show.
Atividade:
- Atividade acerca das representações que os estudantes têm sobre o continente
africano. (Anexo 1.)
- Atividade sobre o mapa político do continente africano. (Anexo 5)
Referências Bibliográficas
SILVA, Alberto da Costa e. A África ensinada para meus filhos. Rio de Janeiro: Agir,
2008.
SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. 2ª ed. São Paulo: Ática, 2007.
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(Anexo 1)
COLÉGIO DE APLICAÇÃO / UFSC
DISCIPLINA: HISTÓRIA 7ª série
PROFESSOR: FERNANDO LEOCINO DA SILVA
PROFESSORA ESTAGIÁRIA: MAYSA ESPÍNDOLA SOUZA
ALUNO(A): TURMA:
ATIVIDADE
1.Sabemos muito sobre a África, diariamente vemos imagens e/ou vídeos na televisão e
internet, dificilmente os jornais passam um dia sem trazer ao menos alguma notícia.
Com estas informações construímos representações sobre esse continente. A partir do
que você conhece, em cada uma das linhas, assinale uma ou mais fotografias que você
acredita ser do continente africano.
Natureza
□ □ □ □
Arquitetura antiga:
□ □ □ □
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□ □ □ □
Crianças:
□ □ □ □
Centro urbano:
□ □ □ □
Habitações:
□ □ □ □
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(Anexo 2)
Mapa do mundo
Referências
(Anexo 3)
Referências Bibliográficas
Divisão política da África (atual). SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano.
2ª ed. São Paulo: Ática, 2007. p. 17
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(Anexo 4)
Referências
(Anexo 5)
Referências Bibliográficas
Divisão política da África (atual). SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano.
2ª ed. São Paulo: Ática, 2007. p. 17.
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ATIVIDADE 1
LEITURA DE MAPA
(anexo 6)
Tema da Aula:
- A questão das fontes para a história da África e as subdivisões de análise.
Conteúdos:
- Fontes escritas;
- Fontes orais;
- Fontes materiais;
- Fontes iconográficas;
- Divisões da história;
- Construção das subdivisões estatísticas: África Ocidental, África Central,
África Central, África Oriental, África Austral e África do Norte;
Objetivos Gerais:
- Compreender a construção das subdivisões estatísticas e as diferentes fontes
que se deve considerar para o estudo do continente africano, com ênfase na
região Centro-Ocidental, região de onde provém grande parte dos indivíduos
escravizados no Brasil.
Objetivos específicos:
- Compreender a importância de estudar a história da África para entender não
só Brasil, mas o mundo;
- Compreender que as fontes históricas são múltiplas e que o são por critérios de
quem escreve a história.
Conceitos:
- Fonte histórica;
- História;
- Eurocentrismo.
Atividade:
- Atividade. (Anexo 8)
Referências Bibliográficas
APPIAH, Kwame Anthony. Na casa de meu pai: a África na filosofia da cultura. Rio
de Janeiro: Contraponto, 1997.
SILVA, Alberto da Costa e. A África ensinada para meus filhos. Rio de Janeiro: Agir,
2008.
SLENES, Robert. Malungu N'goma Vem. A África coberta e descoberta no Brasil. In.:
WEFFORT, Francisco.(et alli.) (orgs). Para nunca esquecer: negras
memórias/memórias de negros. Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 2002.
(Anexo 1)
Referências Bibliográficas
(Anexo 2)
Referências Bibliográficas
(Anexo 3).
Referências Bibliográficas
(Anexo 4)
Referências
(Anexo 5)
Referências
(Anexo 6)
Referências
(anexo 7)
Como as concepções de
História se pautavam apenas nas
fontes escritas, considerava-se
que povos ágrafos não possuíam
história e, além disto, que o fato
de não terem desenvolvido uma Griot - Leroy Campbell. 2008.
Os povos ágrafos não deixam registro de sua história? Deixam sim, só que
constroem esses registros de acordo com sua própria cultura. Um exemplo disto são os
griots, da região da África Ocidental. Os griots são figuras importantes em suas
sociedades, eles são os portadores da história. O griot é também o guardião do
- 40 -
conhecimento sobre a ascendência de seu povo e das tradições. Como estas histórias não
são escritas, o griot é crucial para manter os registros do passado. Esta função social
pode ser hereditária ou não, exigindo muito daqueles a exercerão. São necessários
muitos anos de preparação para se tornar um griot, exige-se de muitos que aprendam a
tocar instrumentos musicais e que conheçam as variações dos idiomas. É importante
lembrar que, assim como os textos escritos, os textos orais também devem ser
analisados e decifrados, cada um com seus métodos específicos. Pois todos eles são
produtos de alguém e têm objetivos particulares em sua construção.
Períodos da História
Atividade oral:
História da África
Mas afinal, por que devemos estudar o continente africano? Desde janeiro de
2003 foi estabelecido por lei a obrigatoriedade de se estudar a história e a cultura da
África, dos africanos e dos afro-descendentes nas escolas. Este pode ser por si só
poderia ser um motivo lógico, mas para além deste devemos estudar estes conteúdos
porque eles ajudam a compreender não só o Brasil, mas também o mundo. Não estudá-
los seria equivalente a montar um quebra-cabeça sem uma de suas peças.
Troncos lingüísticos
Vitória e Tanganica. Mas entre eles existiam também artesãos, produtores de grãos e
moradores das cidades saelianas que floresceram à sombra do comércio.
Referências Bibliográficas
SILVA, Alberto da Costa e. A África ensinada para meus filhos. Rio de Janeiro: Agir,
2008.
SLENES, Robert. Malungu N'goma Vem. A África coberta e descoberta no Brasil. In.:
WEFFORT, Francisco. et alli. (orgs). Para nunca esquecer: negras
memórias/memórias de negros. Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 2002.
SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. 2ª ed. São Paulo: Ática, 2007.
(Anexo 8)
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Atividade 2
A tradição oral
“A tradição oral é ainda muito discutida como fonte histórica, embora cada
vez menos. (...). A maior parte dos historiadores da África admite agora,
porém, a validade da tradição, mesmo se muitos a consideram menos
consistentes do que as fontes escritas ou exigem que ela seja escorada por
uma outra fonte. Ora nem os próprios documentos escritos escapam a esta
famosa regra do testis unus testis nullos. Em contrapartida, numerosos
autores, (...) consideram a tradição oral como uma fonte tão respeitável como
os escritos, embora em geral menos precisa.” p. 19/20
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Conteúdos:
- Organização social;
- Hábitos alimentares;
- Relações de trabalho dependente;
- Regimes de descendência e de residência.
Objetivos gerais:
Objetivos específicos:
Conceitos:
- Regime de descendência;
- Divisão sexual do trabalho;
- Relações de trabalho dependente;
- Regime de residência.
- Aula expositiva;
- Leitura do texto didático: “Sociedades da África Centro-Ocidental”;
- 48 -
Atividade:
Referências Bibliográficas
AMARAL, Ilídio do. O reino do Congo, os Mlundu (ou ambundos), o reino dos
"ngola" (ou de Angola) e a presença portuguesa, de finais do século XV a meados
do século XVI. Lisboa: Instituto de Investigação Cientifica Tropical, 1996.
APPIAH, Kwame Anthony. Na casa de meu pai: a África na filosofia da cultura. Rio
de Janeiro: Contraponto, 1997.
SILVA, Alberto da Costa e. A África ensinada para meus filhos. Rio de Janeiro: Agir,
2008.
SLENES, Robert. Malungu N'goma Vem. A África coberta e descoberta no Brasil. In.:
WEFFORT, Francisco. et alli. (orgs). Para nunca esquecer: negras
memórias/memórias de negros. Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 2002.
SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. 2ª ed. São Paulo: Ática, 2007.
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(Anexo 1)
Sorgo
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A atividade agrícola na
África Central era baseada na
cultura do inhame, cujo cozimento
Mosca Tsé-tsé, nome científico Glossina
empregava-se óleo de palmeiras Palpalis.
A formação de excedente na
produção garantia que o patriarca se afastasse
Linhagens: As linhagens compreendem do processo produtivo para dedicar-se somente
a descendência de uma família, toda
à sua organização. Com o passar do tempo, um
linhagem tem um antepassado comum e
todos são parentes de um dos fundadores excedente cada vez maior possibilitava não só
da região, neste caso os primeiros ao patriarca como também aos conselheiros
habitantes bantu a se estabelecerem ao manterem-se fora do processo produtivo.
longo do Rio Kwanza. A partir das
linhagens formava-se uma linha de A complexidade do sistema político de
descendência direta que contribuía para
alguns grupos levou à construção de estados
determinar o status social das pessoas
dentro do grupo. organizados em confederações de linhagens,
nas quais todos deveriam aceitar o governo
dos mais velhos e ter laços de parentesco, uma
vez, que descenderiam de um ancestral
comum, um fundador. É muito importante compreendermos a organização das
linhagens na região da África Centro-Ocidental, porque é através delas que
conseguimos entender as relações de trabalho nos Reinos do Congo e do Dongo.
***
Referências bibliográficas
M'BOKOLO, Elikia. África Negra: história e civilizações. Salvador: Edufba; São Paulo:
Casa das Áfricas, 2009.
PANTOJA, Selma Alves. Nzinga Mbandi: Mulher, guerra e escravidão. Brasília: Thesaurus,
2000.
SILVA, Alberto da Costa e. A África ensinada para meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2008.
__________. A enxada e a lança: a África antes dos portugueses. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2006.
(Anexo 2)
E ser escravizado poderia significar uma das maneiras pelas quais os indivíduos
seriam introduzidos no novo meio social, no entanto, poderia ser também uma maneira
de negar aos estrangeiros direitos e privilégios de modo que eles pudessem ser
explorados com objetivos
econômicos e sociais. Não se pode
pensar a as sociedades da África
Arranjo matrimonial poligâmico ou
Centro-Ocidental apenas sob a
poligamia – os homens podiam ter várias
oposição das condições jurídicas
esposas tantas quantas pudessem sustentar e
„escravidão‟ e „liberdade‟, existiam
é assim até hoje, exceto entre aquelas
outras condições entre elas.
sociedades que seguem zelosamente o
Não estar na condição de
cristianismo. Ter muitas mulheres era tanto
escravizado não significava que o
um sinal de riqueza quanto uma fonte de
indivíduo fosse plenamente livre,
riqueza. Na maioria das sociedades africanas,
ele poderia ter sua força de trabalho
a prosperidade de um chefe de família
explorada por parentes mais velhos.
dependia do número de dependentes –
Desta forma, devemos mulheres, filhos, noras, demais parentes,
utilizar cautelosamente o termo agregados e escravos – que tivesse para
'escravo' para identificar o cativo na trabalhar para ele. Às mulheres cabia o grosso
África, pois, o que determina a das labutas agrícolas. Os homens derrubavam
escravização é a ausência de as matas, mas eram as mulheres que
parentesco, e esta condição poderia preparavam os campos com suas enxadas,
ser efêmera, advinda de sanção semeavam, regavam e colhiam. Eram elas que
social (feitiçaria, adultério, dívida, cuidavam das criações das aves e cabras.
roubo, entre outras violações.). É Fiavam, teciam, moldavam no barro potes,
importante enfatizar que nestas pratos e travessas. E levavam para vender nos
sociedades a escravidão era apenas mercados. Além disso, faziam todas as tarefas
uma das dimensões de trabalho de casa: cozinhar, varrer, ocupar-se das
dependente, antes e depois do crianças. Daí o valor que tinham dentro da
contato com os portugueses. família, que cobrava caro para cedê-las em
casamento.
- 55 -
sempre isto acontecia e muitos eram mantidos nesta condição durante toda e vida e/ou
sofrendo com os castigos recebidos.
***
Referências Bibliográficas
PANTOJA, Selma Alves. Nzinga Mbandi: Mulher, guerra e escravidão. Brasília: Thesaurus,
2000.
SILVA, Alberto da Costa e. A África ensinada para meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2008.
________. A enxada e a lança: a África antes dos portugueses. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2006.
(Anexo 3)
Referências Bibliográficas
África com cidades e reinos antigos.In.: SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil
africano. 2ª ed. São Paulo: Ática, 2007. p. 15.
- 58 -
(Anexo 4)
Atividade 3
Regimes de
descendência
↑ Nesta última linha escolha um tema abordado em sala, que não apareça
na atividade, e escreva sobre ele.
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Angela e específica no meu. Retomei questões das aulas anteriores, lancei questões
acerca dos mapas e tirei dúvidas dos conteúdos trabalhados.
- Ainda em reunião, o Professor Fernando nos falou sobre a importância de realizar ao
menos uma atividade em sala. Durante a observação vimos que é neste momento que o
professor consegue tirar dúvidas individualmente, conversar melhor com aqueles que
demonstram dificuldades, ou ainda, é neste momento que ele reforça os incentivos
positivos àqueles que apresentam melhoras no desenvolvimento cognitivo. Assim, a
atividade do quadro comparativo foi realizada em sala, aproveitando o momento para
tentar estabelecer um diálogo mais próximo com cada estudante.
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Tema da aula:
Conteúdos:
Objetivos gerais:
Objetivos específicos:
- Compreender a maneira como se organizava a sociedade;
- Estabelecer paralelos entre a organização do Reino do Congo e outros
contextos;
- Descaracterizar o senso comum de que os “povos tradicionais” não se
organizavam em estados.
Conceitos:
- Cosmovisão;
- Crença;
- Organização político-estatal.
- Aula expositiva;
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- Aula expositiva;
- Data show;
- Texto didático: “Manifestações religiosos na África Centro-ocidental”;
(Anexo1)
- Texto didático: “O Reino do Congo”; (Anexo 2)
- Mapa para localização; (Anexo 3)
- Atividade 3. (Anexo 4)
Atividade:
Referências Bibliográficas
AMARAL, Ilídio do. O reino do Congo, os Mlundu (ou ambundos), o reino dos
"ngola" (ou de Angola) e a presença portuguesa, de finais do século XV a meados
do século XVI. Lisboa: Instituto de Investigação Cientifica Tropical, 1996.
APPIAH, Kwame Anthony. Na casa de meu pai: a África na filosofia da cultura. Rio
de Janeiro: Contraponto, 1997.
SILVA, Alberto da Costa e. A África ensinada para meus filhos. Rio de Janeiro: Agir,
2008.
SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. 2ª ed. São Paulo: Ática, 2007.
- 64 -
(Anexo1)
aos espíritos e gênios das águas. Todos estes espíritos eram responsáveis pela
fecundidade das mulheres e pela fertilidade das terras e por este motivo era
preciso práticas assíduas de veneração, a fim de manter harmônicas as relações
entre os humanos e a natureza. Comumente pendurava-se nkisi,objetos rituais de
criação humana, em árvores como mostra de respeito e adoração.
Referências Bibliográficas
(Anexo 2)
O Reino do Congo
cacau, a banana, batata-doce e vezes o sucessor era eleito por uma espécie de
colegiado composto de nove membros, dos
a pimenta, igualmente valiosos.
quais o mais importante era aquele que
no comércio.
detinha o direito de
veto.
Bakongo: são os habitantes
Não havia exército permanente, embora o Manikongo
do Reino do Congo. Os
dispusesse de uma guarda composta de estrangeiros, talvez
bakongo são falantes de
escravos, afirmam alguns historiadores. Em casos de guerra,
variações do idioma
o exército era convocado pelos chefes de aldeias quando Kikongo, idioma muito
assim ordenassem os funcionários reais. conhecido atualmente ao
Através de relatos de viajantes dos séculos XV e XVI norte de Angola, Congo e na
sabemos que no Reino do Congo os homens bakongo República Democrática do
usavam principalmente peles de animais como roupa e as Congo, apesar de ter sofrido
mulheres raspavam seus cabelos e enfeitavam-se com panos inúmeras transformações
coloridos na cabeça. As pessoas não livres podiam cultivar a ao longo dos séculos.
- 69 -
terra ou prestar serviços para outros. Um homem poderoso sempre tinha numerosos
escravos que capturava nas guerras, os quais podiam estar alocados em tarefas como
transações comerciais, ou prestar serviços em mercados distantes para seus senhores.
***
Referências bibliográficas
SILVA, Alberto da Costa e. A África ensinada para meus filhos. Rio de Janeiro: Agir,
2008.
_________. A enxada e a lança: a África antes dos portugueses. 3. ed. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2006.
(Anexo 3)
O Reino do Congo
Referências Bibliográficas
O Reino do Congo. In.: SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. 2ª ed.
São Paulo: Ática, 2007. p. 39.
- 71 -
(Anexo 4)
Referências
(Anexo 5)
COLÉGIO DE APLICAÇÃO / UFSC
DISCIPLINA: HISTÓRIA 7ª série
PROFESSOR: FERNANDO LEOCINO DA SILVA
PROFESSORA ESTAGIÁRIA: MAYSA ESPÍNDOLA SOUZA
ALUNO(A): TURMA:
Referências Bibliográficas
África com cidades e reinos antigos. SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil
africano. 2ª ed. São Paulo: Ática, 2007.p. 15.
- 73 -
IDENTIFICAÇÃO
Aponte as seguintes informações, que são muito importantes para analisar as fontes
históricas:
a) Autor:
b) Data:
c) Tipo de documento:
INTERPRETAÇÃO
ANÁLISE:
(Anexo 6)
Referência Bibibliográfica
- Nesta aula retomei alguns elementos das aulas anteriores e os estudantes realizaram a
atividade em sala. A primeira parte da aula se estendeu por mais tempo do que eu
previa, eles fizeram muitas perguntas e, como diz o Professor Fernando, é na hora da
formulação das perguntas que eles articulam os conteúdos estudados, permiti que as
perguntas estendessem o tempo que lhes era destinado. Na segunda parte da aula eles
fizeram a atividade em sala. Após a explicacação, fui de mesa em mesa tirar dúvidas, a
Angela e o Professor Fernando fizeram o mesmo.
Conteúdo:
Objetivos gerais:
Objetivos específicos:
Conceitos:
- Organização social;
- Divisão sexual do trabalho;
- Relação de trabalho dependente.
- Aula expositiva;
- Utilização do mapa para localização: “Continente africano: as cidades e reinos
antigos”;
- Utilização do mapa para localização: “A costa ocidental da África Central:
principais grupos etnolingüísticos”;
- 78 -
- Mapa; (Anexo 1)
- Mapa; (Anexo 2)
- Texto didático; (Anexo 3)
- Atividade 4; (Anexo 4)
- Data-show;
- Quadro negro e giz.
Atividade:
- Atividade 4. Quadro síntese.
Referências bibliográficas
AMARAL, Ilídio do. O reino do Congo, os Mlundu (ou ambundos), o reino dos
"ngola" (ou de Angola) e a presença portuguesa, de finais do século XV a meados
do século XVI. Lisboa: Instituto de Investigação Cientifica Tropical, 1996.
SILVA, Alberto da Costa e. A África ensinada para meus filhos. Rio de Janeiro: Agir,
2008.
SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. 2ª ed. São Paulo: Ática, 2007.
- 79 -
(Anexo 1)
Referências Bibliográficas
África com cidades e reinos antigos. SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil
africano. 2ª ed. São Paulo: Ática, 2007. p. 15.
- 80 -
(Anexo 2)
Referências Bibliográficas
(Anexo 3)
O Reino do Dongo
O Ngola era considerado mediador entre mortos e vivos e, além disto, protetor
das linhagens frente à invasão dos grupos étnicos estranhos. Cada aldeia buscava um
protetor para garantir sua autonomia linhageira, os Ngola eram títulos locais
conciliáveis com as redes de parentesco. Como passar do tempo, os Ngola passaram a
adquirir influência política e militar, controlando o comércio, os depósitos de ferro
situados no vale do Lucala e as rotas que levavam sal à região do interior.
No Dongo, o chefe com título mais importante era o Ngola, auxiliado por um
conjunto de poderosos senhores, cada um com funções específicas. Havia os cargos de
Ngolambole, um comandante de guerra; Moenelumba, responsável por zelar pela
residência e outros bens do Ngola; Muenequizoile, cuidavam da alimentação do Ngola e
de seus convidados; o Tendala, auxiliava nas principais decisões, tanto na época de
guerra como de paz, era o cargo de maior poder depois do Ngola. Tal como no Reino do
Congo, no Dongo existiam os chefes locais que tinham a obrigação de pagar tributos ao
soberano, neste reino eles eram chamados de sobas.
Um escravo podia acumular bens e com isto tornar-se livre, em outras situações,
chegava a ocupar cargos de confiança do Ngola. O cativo perpétuo, com a morte do seu
- 83 -
dono, ficava completamente livre. Os cativos não deveriam estar inseridos em qualquer
relação de parentesco e, por isto mesmo, estavam no nível mais baixo da escala
hierárquica da sociedade. Juntamente com as mulheres eram encarregados das tarefas
agrícolas, feitas até o esgotamento da terra.
No Dongo também existia divisão sexual do trabalho. A pesca em alto mar era
feita pelos homens, mas a pesca do marisco zimbo, cujas conchas serviam também
serviam de moeda, era tarefa exclusivamente feminina.
***
Referências Bibliográficas
(Anexo 4)
- Aula final, o objetivo da aula de hoje era explicar a última atividade, que eles levaram
para casa na aula anterior, e dar um tempo para que a fizessem, quando o sinal soou
pedi que recolhessem atividade e entregassem ao Professor Fernando na terça-feira.
- Na segunda aula tentei retomar alguns elementos de todo o conteúdo que eles
estudaram comigo e dar um retorno do que eu esperava do conjunto de atividades, que
eu havia terminado de corrigir no final de semana.
- Os slides traziam uma imagem e uma frase, que era lida pelos estudantes, a partir disto
lancei questões à turma e a exibição seguiu esta dinâmica até o seu término. Mostrei o
mapa político e mapa físico do continente e perguntei a diferença entre os dois, as
subdivisões da ONU e perguntei quais eram, e sobre os motivos de fazê-las. Mostrei os
principais grupos etnolingüísticos e ao mostrar a localização no mapa pedi que
repetissem os nomes dos mesmos. Mostrei a imagem colorida do Griot, presente no
primeiro texto didático. Perguntei sobre a importância destas figuras e nas sociedades
de tradição oral. Mostrei a imagem colorida da mosca tsé-tsé, e perguntei-lhes sobre o
seu ciclo vital. Na apresentação havia um slide para a importância dos rios, sobre os
zimbos, sobre o inhame, o sorgo e imagens de nkisis. Acredito que pelas respostas dos
estudantes, durante a apresentação dos slides e nas avaliações, as aulas foram
significativas e ainda que eles não tenham tido aulas panorâmicas sobre o continente
africano o objetivo de pensar a diversidade se concretizou ao verem a existência
diferentes arranjos matrimoniais, de regimes de descendência e residência, as diferenças
entre os dois reinos, entre outros elementos. O fato de saberem que a vida se organizava
de uma forma na África Centro-Ocidental e que esta maneira diverge das demais
- 88 -
regiões contribui para pensar diversidade. Percebi que eles gostam bastante das aulas
com imagens e me arrependo de não ter trabalhado com mais delas. Ao final da aula
agradeci a colaboração dos estudantes e disse-lhes que eles fizeram a minha experiência
da regência ser bastante prazerosa, agradeci à Angela e ao Professor Fernando pela
contribuição.
- 89 -
Planejamento e re-planejamentos
As estagiárias receberam como temática das aulas „África antes do século XV‟,
o objetivo era trabalhar durante o período que compreende a Idade Média diferentes
recortes espaciais. A primeira preocupação foi quanto às nomenclaturas, afirmar que „A
Queda do Império Romano do Ocidente‟ e a „Revolução Francesa‟ simbolizam marcos
significativos ao continente africano seria no mínimo jocoso. Ou ainda, como sustentam
alguns, que tenha existido uma Idade Média Africana tal como a européia. Estudos
revelam que muitos locais na Europa não vivenciaram os elementos que atribuímos
como característicos à Idade Média, sequer o continente africano tão diverso
internamente.
Fez-se um recorte dentro da temática, optou-se por trabalhar os Reinos do Congo
e Dongo em detrimento de uma abordagem panorâmica. A opção por trabalhar estes
dois reinos deve-se também a sua importância ao trabalhar posteriormente, na 8ª série, o
comércio de escravos. Compreender, por exemplo, que a escravidão e outras relações de
trabalho dependente existiam para além do contato moderno com os europeus colabora
- 92 -
com a explicação do parágrafo. A metodologia funcionou de tal forma que no último dia
de leitura com texto a estagiária ficou com dúvida se havia elaborado uma aula abaixo
do rendimento da turma ou se os estudantes se adequaram à metodologia. Ainda que os
estudantes desta turma travassem verdadeiras disputas uns com os outros para ter a
oportunidade de ler os parágrafos do texto, mudar a metodologia foi fundamental para
renovar o fôlego dos estudantes que não estavam acostumados a trabalhar
sistematicamente com leitura textos didáticos.
Na tentativa de melhorar os ânimos das aulas na 7ª B empregou-se a mesma
metodologia de sortear os estudantes para contribuir com a explicação. A metodologia
mostrou-se frustrante, muitos dos estudantes não demonstraram interesse em participar
e a metodologia que tinha por objetivo aumentar a participação deles acabou não sendo
viável de continuar. Assim, foi somente na interação dos estudantes com os conteúdos
planejados, dos estudantes com as estagiárias que foi possível „testar‟ as metodologias,
mantendo-as ou re-planejando-as. Neste(s) re-planejamento(s) feitos durante a prática, a
orientadora, o professor da escola e a outra estagiária (que embora não compusesse mais
uma dupla, assistiu a todas as aulas e fez considerações importantes para o andamento
das mesmas) têm papel fundamental, eles contribuem com reflexões críticas com o
intuito contribuir para o desenvolvimento de metodologias que favoreçam a
aprendizagem.
Em uma das aulas precisou-se explicar o conceito de linhagem e seus
significados na região da África Centro-Ocidental para os estudantes, ao fazê-lo pela
primeira vez e notou-se que a explicação havia ficado um tanto vaga. Ainda que na
reunião posterior àquela aula ninguém tenha mencionado nada sobre a explicação do
conceito a idéia de que os estudantes não tivessem apreendido a importância do
conceito era cruciante. Enquanto relia o texto didático dentro do ônibus na volta pra
casa a organização dos bancos do ônibus deu-me uma idéia. Na aula seguinte, após
retomar a aula anterior através de questões o conceito de linhagem foi re-explicado,
desta vez exemplificando as unidades familiares por meio das carteiras de cada
estudante e as linhagens por meio das filas que cada carteira alinhada forma. Com isto,
foi solicitado que os estudantes identificassem os sucessores e os antecessores de seu clã
familiar. A estratégia foi bastante salutar e fez com que os estudantes conseguissem
„visualizar‟ o arrolamento dos clãs, feito oralmente, para legitimar o direito de utilização
uma determinada porção de terra na África Centro-Ocidental. Notou-se que, nas
atividades, os estudantes conseguiram relacionar o conceito de linhagem a outras
- 94 -
A primeira aula ministrada pelas estagiárias tinha por objetivo aplicar uma
atividade diagnóstica, ou seja, uma atividade que possibilite apreender as noções que os
estudantes da 7ª série do Colégio de Aplicação têm acerca do continente africano.
Natureza:
13
Ibidem, p. 165.
- 97 -
ambiente muito seco; Porque eu vi num filme o safari africano, que tinha leões”. As
demais repostas têm proporções menos expressivas.
50
45
40
35
30 1ª Imagem 14%
25 2ª Imagem 58 %
20 3ª Imagem 94%
15
4ª Imagem 16%
10
5
0
Série: Natureza
Arquitetura Antiga:
50
45
40
35
30 1ª Imagem 80%
25 2ª Imagem 24%
20
3ª Imagem 24%
15
10 4ª Imagem 20%
5
0
Série: Arquitetura Antiga
50
45
40
35
30 1ª Imagem 58%
25
20 2ª Imagem 86%
15 3ª Imagem 48%
10
4ª Imagem 6%
5
0
Série: As características das
pessoas
Crianças:
(Marrocos) e uma outra com crianças negras vestidas com uniforme escolar (Namíbia).
A imagem mais assinalada foi a fotografia da criança próxima ao abutre de Kevin
Carter, 86%, e as menos assinaladas foram as imagens da menina da África do Sul e a
das crianças da Namíbia, com 6 e 12%.
50
45
40
35
30 1ª Imagem 12%
25 2ª Imagem 86%
20
3ª Imagem 48%
15
10 4ª Imagem 6%
5
0
Série: Crianças
Centros Urbanos:
50
45
40
35
30 1ª Imagem 100%
25 2ª Imagem 12%
20
15 3ª Imagem 6%
10 4ª Imagem 10%
5
0
Série: Centros Urbanos
Habitações:
50
45
40
35
30 1ª Imagem 50%
25 2ª Imagem 44%
20 3ª Imagem 42%
15
4ª Imagem 10%
10
5
0
Série: Habitações
Para melhor analisar os dados desta atividade seria importante conhecer alguns
aspectos cotidianos da vida dos estudantes como fez Lana Maria de Castro Siman em
- 101 -
Referencias Bibliográficas
AMARAL, Ilídio do. O reino do Congo, os Mlundu (ou ambundos), o reino dos
"ngola" (ou de Angola) e a presença portuguesa, de finais do século XV a meados
do século XVI. Lisboa: Instituto de Investigação Científica Tropical, 1996.
APPIAH, Kwame Anthony. Na casa de meu pai: a África na filosofia da cultura. Rio
de Janeiro: Contraponto, 1997.
SILVA, Alberto da Costa e. A África ensinada para meus filhos. Rio de Janeiro: Agir,
2008.
__________. A enxada e a lança: a África antes dos portugueses. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2006.
SLENES, Robert. Malungu N'goma Vem. A África coberta e descoberta no Brasil. In.:
WEFFORT, Francisco.(et alli.) (orgs). Para nunca esquecer: negras
memórias/memórias de negros. Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 2002.
SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. 2ª ed. São Paulo: Ática, 2007.
Visualizações do continente africano: mapa físico e mapa político. Google Earth. 2010.
- 104 -
4. Cronogramas