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ReviVale

Campus Araçuaí

TECIDOS AFRICANOS: história e matemática em sala de aula

Priscila Lourenço Soares Santos1

Recebido em: 12/2021


Aprovado em: 02/2022

RESUMO

O presente trabalho, na dimensão da proposta educacional Etnomatemática na educação


básica, tem por objetivo dar enfoque a abordagem antirracista e interdisciplinar, relacionando
os Componentes Curriculares Matemática e História, por meio dos tecidos Kente, oriundo da
região de Gana, no continente africano. Nessa perspectiva analítica, faremos uma breve
abordagem histórica dos povos da região contextualizando o tecido e da sua simbologia e
cores representadas nas vestimentas africanas. De maneira propositiva, reportamos e
articulamos habilidades e competências presentes na Base Nacional Comum Curricular
(BNCC) e no Currículo Paulista, além dos materiais disponíveis nas escolas públicas do
Estado de São Paulo que dialogam com o Ensino da História e Cultura Afro-brasileira e
africana, em cumprimento a Lei Federal n.º 10.639/2003. Diante disso, com intuito de
contribuir para uma aprendizagem e de ação pedagógica da geometria como a
Etnomatemática, aprender acerca da produção de conhecimentos realizados por diferentes
povos.

Palavras-Chave: Educação. Etnomatemática. História.

AFRICAN FABRICS: history and mathematics in the classroom

ABSTRACT

The present work, within the dimension of the educational proposal Ethnomathematics in
basic education, aims to focus on the anti-racist and interdisciplinary approach, relating the
curricular components Mathematics and History, by means of Kente fabrics, from the region
of Ghana, on the African continent. In this analytical perspective, we will make a brief
historical approach of the people of the region contextualizing the fabric and its symbology
and colors represented in the African clothes. In a propositional way, we report and articulate
skills and competencies present in the Common National Curricular Base (BNCC) and in the
Paulista Curriculum, besides the materials available in public schools of the State of São
Paulo that dialogue with the Teaching of Afro-Brazilian and African History and Culture, in
compliance with the Federal Law 10.639/2003. Therefore, in order to contribute to the
learning and pedagogical action of geometry as Ethnomathematics, to learn about the
production of knowledge held by different peoples.

Keywords: Education, Ethnomathematics and History.

1
Cursando Mestrado em Ciências Humanas no programa da Universidade Santo Amaro – Unisa. Professora de
História na Educação Básica de São Paulo. Formada no curso Lato Sensu História, Sociedade e Cultura pelo
COGEAE/PUC-SP. Lato Sensu Política de Promoção da Igualdade Racial na pela Escola Universidade Federal
de São Paulo (UNIFESP). Graduada em licenciatura em História pela Universidade de Santo Amaro (UNISA).
Graduada em Pedagogia pelo Centro Universitário Ítalo Brasileiro (UNIÍTALO).

ISSN ReviVale | Araçuaí | v. x | n. x | set. 2020/fev. 2021 1


TECIDOS AFRICANOS:
história e matemática em sala de aula

1. INTRODUÇÃO

O estudo de uma educação unicamente com base europeia pode contribuir para o
aumento dos índices de desigualdade escolar apontados na Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios realizada pelo IBGE (PNAD/IBGE, 2009) que apontam a diferença entre a
escolaridade média de um jovem negro e um jovem branco de 25 anos, como 2,3% o que
confirma a estrutura da desigualdade na educação brasileira. Quanto ao analfabetismo, o
índice ainda é mais alarmante, chegando a 12,9% entre pessoas negras e 5,7% entre pessoas
brancas e, no nível superior, é 15,7% de negros e 80% de brancos.
Sabemos que o processo das representações simbólicas está presente no itinerário do
desenvolvimento histórico do homem. As identidades dos estudantes são formadas, algumas
vezes, por elementos históricos que não valorizam e nem apresentam as culturas, ciência,
tecnologia e as riquezas dos povos africanos, como é evidenciado ao longo da história
humana. Devemos sempre lembrar que o ensino de História constitui um processo relevante
no âmbito educacional, com aplicabilidade de seus conceitos em diversos componentes
curriculares nas escolas da educação básica, tais como a Matemática.
Pensar no ensino de matemática para a educação básica, pode ser associado à
resolução de problemas, com isso, devemos desenvolver a aprendizagem dos estudantes,
enfatizando a importância das conexões entre o conhecimento matemático adquirido e
utilização dele em seu convívio social com a linguagem simbólica do componente
matemática.
Para embasar legalmente este trabalho antirracista na educação, podemos pontuar
algumas mudanças nas políticas educacionais das escolas brasileiras a partir de alguns
importantes marcos legais, como a Constituição Federal de 1988, a lei n.º 7.716 de 05 de
janeiro de 1989que estipulou o racismo como crime e a Lei Federal número 10.639 de 9 de
janeiro de 2003 que determinada a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-
brasileira e africana na educação básica.
A Lei n.º 10.639/2003 e a sua complementação com a Lei n.º 11.645/2008, alteram a
Lei n.º 9394/96, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que estabelecendo e
tornando obrigatória a Educação das Relações Étnico-Raciais e o ensino da História e Cultura
Afro-Brasileira e Africana, no ensino básico. No parágrafo 1 do artigo 26-A da Lei n.º
11.645/2008 aponta-se:
Art. 1º O art. 26-A da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com
a seguinte redação:

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Art. 26-A Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos


e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e
indígena.
§1º- O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos
da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir
desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos,
a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena
brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas
contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.
§2º Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas
brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas
áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras. (BRASIL, 2008).

Tendo o aparato legal como referência inicial, este artigo tem como objetivo contribuir
para uma reflexão sobre a inclusão da cultura africana em sala de aula, estimulando a
formação de uma educação que rompa a visão eurocêntrica, tradicionalmente presente na
seleção de conteúdos.
Quando falamos da educação antirracista é a educação que combate ativamente
qualquer expressão de racistas nas unidades escolares e na educação. Assim apresentado aos
estudantes e profissionais da educação, deste modo reconhecendo e valorizando as diversas
contribuições do passado e presente de africanos e afro-brasileiros em todos os campos do
conhecimento humano.
Considerando uma concepção de aprendizagem ativa e significativa do estudante,
propõem-se uma abordagem pedagógica interdisciplinar. Ressaltando as vantagens de tal
abordagem que
não dilui as disciplinas, ao contrário, mantém sua individualidade. Mas integra as
disciplinas a partir da compreensão das múltiplas causas ou fatores que intervêm
sobre a realidade e trabalha todas as linguagens necessárias para a constituição de
conhecimentos, comunicação e negociação de significados e registro sistemático dos
resultados. (BRASIL, 1999, p. 89).

Desta maneira, parte-se das possibilidades do trabalho pedagógico com as disciplinas


História e Matemática. Considerando que o ensino da Matemática possa adquirir benefícios
ao incluir elementos da cultura africana como conteúdos, e que tal disciplina possa contribuir
para as aprendizagens dos alunos através do estudo destes elementos culturais sob o prisma de
diferentes áreas do campo matemático, como pela geometria, estatística e álgebra.
A escolha dos tecidos africanos Kente ocorre pela percepção da sua potencialidade
para a promoção de aprendizagens, podendo se dar através da análise do contexto histórico-
cultural dos povos africanos que os produzem, bem como, pela análise de suas características
físicas pelo campo da matemática.
A utilização de um elemento cultural de um povo africano como um objeto de estudo
para estudantes da Educação Básica, pode contribuir também na formação de uma imagem

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positiva dos povos africanos, na valorização da diversidade étnica e cultural, na percepção das
suas contribuições e no reconhecimento da ancestralidade.
Enquanto aos saberes tradicionais dos povos africanos e afro descendentes é
interessante abordar os estudos sobre a etnomatemática, feitos pelos matemáticos Ubiratan
D’Ambrósio e Paulus Gerdes. Segundo Gerdes (2007):
Tradições matemáticas que sobreviveram à colonização e atividades matemáticas na
vida diária das populações, procurando possibilidades de as incorporar no currículo;
Elementos culturais que podem servir como ponto de partida para fazer e elaborar
matemática dentro e fora da escola. (GERDES, 2012, p. 18).

Assim, como também aponta D’Ambrósio (2005), explorar esses saberes no cotidiano
escolar, mostrando a presença e influência destas culturas no Brasil, pode contribuir para a
construção de uma identidade social dos estudantes.
Trabalhar a partir de uma concepção decolonial propondo práticas tradicionais
africanas e afro brasileiras em atividades, pode enriquecer a visão dos estudantes sobre como
resolver problemas. Bem como, a ampliação de saberes sobre como outros povos criaram,
significavam e utilizavam determinados objetos.
Decifrar a simbologia dos tecidos Kente poderá assim, ser um convite para diversas
aprendizagens que partem das tradições dos povos dos territórios da África Ocidental,
principalmente Mali e Gana e com isso ensejamos que a produção e divulgação deste artigo
possam contribuir nesse processo.

2. CURRÍCULO DE HISTÓRIA E MATEMÁTICA

O Conselho Estadual de Educação, cujas funções estão presentes na Lei 10.403 de


06/07/1971, apresentou a partir da Deliberação CEE nº 169 de 2019 o Currículo Paulista de
Educação Infantil e Ensino Fundamental para a rede de ensino estadual. Este currículo
também é adotado por algumas escolas de rede privada e municipais que possuem vínculos
com o Sistema de Ensino Estadual.
O Currículo Paulista está pautado na Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
apresentando competências e habilidades que devem ser desenvolvidas nos estudantes no
decorrer de sua escolarização.
Promulgada no ano de 2017 a BNCC do Ensino Fundamental em História apresenta a
inserção de conteúdos e habilidades ligados à temática étnico racial. Comparando com o
Currículo Paulista do Ensino Fundamental, pode-se perceber algumas alterações nas

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habilidades propostas pela BNCC, ampliando e modificando estes conteúdos e habilidades,


realizando desdobramentos das proposições.
Sempre é importante lembrar que o currículo precisa englobar um sistema de valores,
organizados de acordo com o meio social e com o pensamento de um período. Ele tem como
objetivo elevar a condição humana, aqui definida pela concretização de valores fundamentais,
a fim de que tenha um caráter direcionador com a finalidade de emancipar o estudante.
Analisando o documento curricular do estado de São Paulo, presume-se que as
questões referentes ao papel do negro na historiografia brasileira não se resumirão à
escravidão e ao preconceito. Espera-se que ocorra um movimento para ressignificar a
importância do reconhecimento de povos africanos e indígenas como pilares essenciais para a
formação da sociedade brasileira, bem como seu papel dos sujeitos históricos nas habilidades
propostas do currículo.
O ensino de História nas escolas pode ser um instrumento na luta por uma educação
decolonial e pensamento afrodiaspórico e, também, uma ferramenta de ressignificação dos
conteúdos, em busca de novas subjetividades, através de memórias e identidades que
permitam a reconstrução das relações étnico-raciais para os estudantes da rede estadual.
Encontramos um importante marco desta mudança de pensamento historiográfico, em
uma competência que não está presente na BNCC, mas que foi criada exclusivamente para
Currículo Paulista pelos seus redatores.
8- Compreender a história e a cultura africana, afro-brasileira, imigrante e indígena,
bem como suas contribuições para o desenvolvimento social, cultural, econômico,
científico, tecnológico e político e tratar com equidade as diferentes culturas. (SÃO
PAULO, 2019).

Existindo uma competência em História referente a um objetivo de formar, ao longo


dos nove anos do Ensino Fundamental, estudantes que conheçam a história de diferentes
povos e que possam compreender as relações de pertencimento em uma sociedade plural,
ontraditória e complexa, incidindo, ainda, no seu reconhecimento enquanto sujeitos
históricos, poderão se conscientizar da importância do seu protagonismo e atuar de forma
crítica, ética, solidária, empática e responsável no meio em que vive.
Quando dividimos competência e habilidade: a competência envolve a mobilização
de várias habilidades para o desenvolvimento e a integração desse estudante ao ambiente
escolar. As competências também falam de “participar de práticas diversificadas da
produção artístico-cultural”. O currículo pensado por competências não se baseia
exclusivamente no modelo tradicional de organização curricular por objetivos, ementas e

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disciplinas, porém, poderemos encontrar formas pluridisciplinar, interdisciplinar e


transdisciplinar um contexto de transversalidade dos conhecimentos em todo o currículo
escolar. Assim, conteúdos dos componentes deverão se constituir num meio, ou seja, num
suporte para a construção de competências e não num fim em si. Várias atividades não têm
sido desenvolvidas desta forma com características absolutamente simplistas, muito longe
dos principais conceitos do trabalho Interdisciplinar, como: atitudes, posturas, ações
descontextualizadas propostas pelos professores sem um diálogo e planejamento prévio das
atividades, que possui um objetivo interagir e integrar as disciplinas e o seus diferentes
saberes.
No ensino de Matemática para os estudantes do ensino fundamental, podemos
encontrar uma competência que traz um ponto importante para embasar o trabalho de
etnomatemática proposto neste artigo para os professores:
Reconhecer que a Matemática é uma ciência humana, fruto das necessidades e
preocupações de diferentes culturas, em diferentes momentos históricos, e é uma
ciência viva, que contribui para solucionar problemas científicos e tecnológicos e
para alicerçar descobertas e construções, inclusive com impactos no mundo do
trabalho.
Desenvolver e/ou discutir projetos que abordam, sobretudo, questões de urgência
social, com base em princípios éticos, democráticos, sustentáveis e solidários,
valorizando a diversidade de opiniões de indivíduos e de grupos sociais, sem
preconceito de qualquer natureza. (SÃO PAULO, 2019).

O Currículo Paulista de Matemática organiza os conhecimentos em cinco unidades


temáticas: Números, Álgebra, Geometria, Grandezas e Medidas e Probabilidade e Estatística,
assim como foi feito na BNCC.
Entre estas unidades, destacamos o ensino da Geometria, o qual será uma das
principais ferramentas para a análise e compreensão dos tecidos Kente. Segundo Fainguelernt
(1999), a geometria é usada como ferramenta para compreender, descrever e interagir com o
espaço em o qual vivemos; é a parte da matemática mais intuitiva, concreta e visto que tem
ligação com a realidade, uma ciência em razão de permitir ao aluno basear-se em ambientes
reais para entender o pensamento geométrico, pois ela contribui ao desenvolvimento do
raciocínio e permite compreender, descrever e representar, de forma organizada, o mundo em
pelo motivo de viver sendo essencial na formação do indivíduo.

3. ESTAMPARIA AFRICANA: história e simbolismo

A sugestão para trabalhar os tecidos Kente enquanto um recurso didático para que os
professores surge do anseio do desenvolvimento de habilidades, competências e

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aprendizagem sobre a cultura africana e de outros conteúdos específicos do ensino


fundamental, integrando as disciplinas de História e Matemática.
Nesta prática pedagógica apresenta-se aos estudantes a importância de se conhecer as
origens do povo brasileiro e seus impactos sociais, capazes de transformar os olhares deste
estudante através das atividades escolares.
Neste contexto é importante apresentar a origem de alguns termos utilizados neste
artigo, como a denominação Kente dos tecidos:
Acredita-se que o termo kente deriva da palavra de origem Fanti kenten, que
significa cesta. Há ainda referências mitológicas da tradição asante que conferem a
origem da tecelagem à narrativa de dois caçadores observando uma aranha
(Ananse) criando uma complexa teia. Tais caçadores copiaram a técnica e a
trouxeram em formato de roupa para o chefe Oti Akenten. (ACERVO ÁFRICA,
2021).

O tecido escolhido para desenvolver o trabalho de análise foi o Kente dos Ashanti ou
Asante. Este é um dos povos mais conhecidos dentre os Akan de Gana, na região ocidental da
África. Eles ocupam o território grande área do centro-sul e estão organizados de forma
confederação de estados. A primeira produção conhecida desses tecidos datam do século
XVII.
Devemos sempre lembrar que, ao analisar as vestimentas na cultura africana, temos
uma caracterização com o objetivo de exceder o material que, normalmente, não tem apenas
uma função utilitária de cobrir o corpo enquanto uma roupa. Para muitos povos os tecidos são
carregados por significados sociais para esta sociedade.
Assim, ao desenvolver um trabalho sobre os tecidos Kente é importante que o
professor inclua em seu planejamento etapas para a apreensão e compreensão destes
significados.
O vestuário é linguagem, fortalece a palavra, visto a importância da oralidade na
cultura africana. A interdependência corpo/vestuário caracteriza o traje como objeto
indissociável do corpo, e lhe confere significado, daí a importância do ditado
popular: “Estar nu é estar sem palavras”. O comportamento dos personagens frente
ao vestuário revela seu valor para as sociedades africanas, identificando-o como
signo sociocultural, cuja função utilitária se dilui em relação à função social e
simbólica. Segundo mitologia africana, o vestuário e a palavra surgiram juntos,
quando a terra recebeu do gênio criador, um traje de fibras vegetais cheias de
essência divina. O entrelaçamento de fibras simbolizava o caminho pelo qual a
palavra se revelava; e terra vestida portava então uma linguagem. (PETTER, 1992,
apud MENEZES, 2006, p. 2).

Os tecidos produzidos, assim como as diferentes matérias primas utilizadas em sua


confecção, assumem grande importância no momento simbolicamente ainda maior.
Observa-se nas produções de alguns povos do continente africano a geometria fractal,
que tem migrado para diferentes objetos, demonstrando a migração e ligação de elementos

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culturais. Assim, também, podemos encontrar materializado em certos produtos têxteis, como
nos tecidos Kente, elementos presentes em outras culturas do continente africano.
Podemos desenvolver nas aulas de História uma análise com os estudantes sobre as
principais cores utilizadas para elaborar os tecidos. Promovendo um debate em classe sobre
qual seria a simbologia das cores como, Ouro representando a realeza, riqueza, status elevado,
glória e pureza espiritual; Prata para serenidade, pureza, alegria, associado com a lua; Cinza
rituais de cura e limpeza; Preto para a maturação e energia espiritual intensificada; Branco
para a purificação, ritos de santificação e ocasiões festivas; Amarelo para preciosidade,
realeza, riqueza, fertilidade e beleza; Rosa para a essência feminina da vida etc. Nesse
processo é interessante dialogar sobre as diferenças de significado das cores para nossa
cultura e a para a cultura dos povos de Gana, bem como a mudança de significação das cores
no decorrer do tempo.
No Currículo Paulista conseguimos estabelecer uma ligação entre componente de
História do 7.º ano com esta proposta de trabalho nas habilidades relacionadas:
(EF07HI03) Identificar aspectos e processos específicos das sociedades africanas e
americanas antes da chegada dos europeus, com destaque para as formas de
organização social e para o desenvolvimento de saberes e técnicas, valorizando a
diversidade dos patrimônios etnoculturais e artísticos dessas sociedades.
(EF07HI12) Identificar a distribuição territorial da população brasileira em
diferentes épocas, considerando a diversidade étnico-racial, étnico-cultural
(indígena, africana, europeia e asiática) e os interesses políticos e econômicos. (SÃO
PAULO, 2019, p. 477-478).

Nessa habilidade é importante ressaltar que esses povos eram organizados nos
aspectos social, político e econômico, com cultura e conhecimento científico complexos,
opostos à noção de espaço a ser construído presente na África. Devemos enfatizar e valorizar
os saberes dos povos africanos principalmente no que tange ao conhecimento científico,
arquitetônico e da diversidade cultural, assim para o desenvolvimento desta habilidade o
importante valorizar e apresentar aos estudantes estes conhecimentos africanos.
Enquanto as figuras presentes nos tecidos Kente, ao analisarmos, reproduzirmos ou
reinterpretá-las com os estudantes, podemos propiciar o desenvolvimento de algumas
habilidades propostas pela disciplina Matemática no Currículo Paulista do 7º ano, como:

(EF07MA21) Reconhecer e construir figuras obtidas por simetrias de translação,


rotação e reflexão, usando instrumentos de desenho ou softwares de geometria
dinâmica e vincular esse estudo a representações planas de obras de arte, elementos
arquitetônicos, entre outros.
(EF07MA22) Construir circunferências, utilizando compasso, reconhecê-las como
lugar geométrico e utilizá-las para fazer composições artísticas e resolver problemas
que envolvam objetos equidistantes.

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(EF07MA25) Reconhecer as condições de existência dos triângulos e suas


aplicações em diversas situações práticas, como na construção de estruturas
arquitetônicas (telhados, estruturas metálicas e outras) ou nas artes plásticas. (SÃO
PAULO, 2019, p.351).

Quando analisamos o Currículo Paulista encontramos habilidades propostas para


realizar um trabalho com a interdisciplinaridade, o qual pode ser construído por esta ponte
para o melhor entendimento dos componentes curriculares. Assim, habilidades de diferentes
disciplinas podem ser desenvolvidas através de um mesmo conteúdo enquanto objeto de
estudo, é necessário criar uma situação problema no sentido de elaborar um trabalho coletivo
comum. Para tal, é importante salientar que o plano de trabalho referente a esta
interdisciplinaridade não pode ser realizado individualmente por um dos professores. Sendo
importante pensar que cada um dos componentes curriculares precisa ser analisado não
apenas no lugar que possui nas grades curriculares, mas também em seus saberes durante a
execução do trabalho. Por tanto, um trabalho coletivo, para que assim, as competências
relativas às ações desenvolvidas enriqueçam e construam com os conhecimentos de ambas
áreas do conhecimento, de forma integrada, dinâmica, com foco nas aprendizagens dos
estudantes.
Para que o professor de História possa traçar os itinerários mais adequados para
conduzir os estudantes à aprendizagem ele deve conhecer a historicidade dos saberes a
ensinar; a natureza dos conceitos, os procedimentos lógicos e investigativos, com a finalidade
de orientar a produção do conhecimento científico na sua área; a amplitude e profundidade
dos conteúdos; a relevância, a hierarquia, os princípios organizadores e a interação complexa
entre os elementos que compõem o saber disciplinar (ACOSTA, 2013).
Observando a produção tradicional dos tecidos Kente, percebe-se que os artesões
costumam usar teares manuais para a elaboração e criação. Para esse processo é necessário
um conhecimento técnico que envolve elementos matemáticos adequados para a produção das
padronagens tradicionais, sendo que esse saber foi passado dos ancestrais às novas gerações
de forma não escolarizada entre os povos da região.

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Figura 1 – Tear manual

Fonte: Pinterest (2021). Disponível em:


https://br.pinterest.com/pin/AX7kwUoqHy9gqUXOYFihnG7grqdHHfR9f0Mt7L5cvWbzpOdMFfm1KH
HDI5b-kKjQbTGVJn 5TzLE5kzA 3uJUqmpw/ Acesso 30 nov. 2021.

Na tecelagem africana o tear se destaca como ferramenta principal. A evidência mais


antiga do uso do tear surge no Antigo Egito. Segundo Cunha (2004) os teares são
considerados uma das mais admiráveis criações africanas e interferem no aspecto do tecido,
de modo a destacar suas características essenciais para análises do professor com os
estudantes culturais, artísticas, econômicas e sociais (CUNHA JÚNIOR; MENEZES, 2004).
Assim o docente pode relacionar e debater com os estudantes conforme a habilidade tendo em
visto que a proposta de desenvolvimento de saberes e técnicas, valorizando a diversidade dos
patrimônios etnoculturais e artísticos dessas sociedades africanas.
Considerando nossa proposta para turmas de 7º ano do Ensino Fundamental, os
estudantes podem ainda produzir seus próprios tecidos com pequenos teares manuais, como o
da Figura 1, apropriando-se e reinterpretando as padronagens Kente. Durante o planejamento,
execução e observação dos produtos finais, os professores podem instigar problemáticas para
os estudantes enquanto aos processos para a obtenção de determinada forma ou cor, assim
como, reflexões sobre o tempo para a produção, gasto financeiro, função do tecido para cada
sociedade etc.
Quando analisamos os panos Kente Ashanti2 encontramos ainda a apresentação em
cores vibrantes de representações de objetos de formas mais estilizadas e geométricas,
enquanto os outros tecidos como o Kente Ewe3 possuem cores menos vibrantes que o tecido

2
Os ashanti são os mais conhecidos dentre os povos akan de Gana, na região ocidental da África. Eles ocupam uma
grande área do centro-sul do país e estão organizados numa confederação de estados, sendo que cada estado é dirigido
por um chefe supremo, que por sua vez, está subordinado ao rei (ashantehene).
3
Embora os Ewe (pronuncia-se “Ev-ay”) não sejam tão conhecidos fora de Gana como os Asante, eles também tecem
muitos dos tecidos conhecidos como kente. Na verdade, muitos colecionadores consideram os têxteis Ewe a expressão
mámundialmente xima da arte da tecelagem africana. O povo Ewe vive na região do delta de Volta, no sudeste de
Gana, e na fronteira internacional do Togo. De acordo com suas histórias locais, alguns grupos chegaram à sua terra
natal no século XVII após uma série de migrações do leste, passando pela cidade de Notse, no Togo.

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Kente Ashanti. Assim, ele é representado de forma mais realística com as cores da natureza
(BERMUDA NATIONAL GALLERY, 2010). Nesta comparação é interessante o professor
de História desenvolver um debate em sala de aula por esta diferença, explicando-a.
Todos os padrões Kente possuem significados específicos e podem ser uma poderosa
ferramenta para expressar pontos de vista, inclusive políticos. Considerando o tecido como
um objeto de estudo para o desenvolvimento de habilidades e competências nos estudantes,
pode-se trabalhar dentro dos estudos sobre as técnicas e tecnologias, bem como, um
patrimônio cultural, desenvolvendo e aprofundando-se na cultura de Gana, trabalhando
também questões socioemocionais dos estudantes com a motivação e engajamento além da
ampliação de repertórios artísticos-culturais e desenvolvimento da criatividade.
Na realização de uma análise minuciosa do tecidos Kente junto aos estudantes pode-se
considerar os principais elementos estruturais como: ponto, camada, linha, plano, volume,
cor, escala, textura, movimento e transparência, no caso de análise têxtil física, neste quesito,
pontua-se que se possível o educador deve levar uma amostra do tecido para sala para
aproximar, mas o objeto de análise.

Figura 2 – Exemplo de tecido Kente

Fonte: Acervo pessoal tecido Kente – Gana.

Muito importante pensar em revisitar a história da Matemática, é essencial para


podermos refletir sobre o seu ensino, para entender os reflexos de uma ciência eurocêntrica
que universalizou o ensino. Assim pensar na etnomatemática e desenvolver uma metodologia
de trabalho com os estudantes sem os estigmas do componente, podendo ser criada através de
um olhar sensível para sua sala de aula com o aprendizado escolar.
Frequentemente, quando estamos estudando Matemática são apresentados aos
estudantes os heróis da Grécia antiga ou da Idade Moderna, de países centrais da Europa,
sobretudo, Inglaterra, França, Itália cientistas e matemáticos como Tales, Euclides, Pitágoras,

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Galileu Galilei, Newton, Descartes, Leibniz, Albert Einstein, Carnot, Lagrange, Lacaille, J. J.
Cousin, Lacroix, Euler, Bézout, Monge, Legendre, Laplace, Delandre e Brisson entre outros
nas aulas, reafirmando o pensamento eurocêntrico da componente.

4. PRÁTICA ETNOMATEMÁTICA EM SALA DE AULA

No desenvolvimento deste artigo compreendemos a utilização do tecido Kente para o


ensino da Matemática, no sentido de que é possível trabalhar com as habilidades propostas no
Currículo Paulista e enriquecer as aulas, desenvolvendo um trabalho diversificado,
encontrando outros signos e significados existentes na cultura africana. Elaborando uma
proposta com a introdução de conteúdos matemáticos integrados ao componente de História
por meio dos tecidos de Gana, enfatizando a cultura africana e valorizando os conhecimentos
tradicionais, para contribuir com o envolvimento e interesse dos estudantes no processo de
aprendizagem.
Segundo Ubiratan D'Ambrósio (2008), a etnomatemática nos dá a oportunidade de
refletir sobre qual o verdadeiro papel do professor de Matemática na educação. De agente
facilitador de um futuro melhor para humanidade ou agente complicador, responsável pela
formação de sujeitos acomodados, submissos, oprimidos, que não lutam, nem questionam
seus direitos e que, portanto, não transformam, nem buscam novas soluções. (SANTOS,
2008). A prática da etnomatemática não pode ser expressa como o abandono da matemática
acadêmica. Portanto, é muito importante para os professores que tentam aplicar este novo
conceito de ensino da matemática aos alunos e cada vez mais incorporar este conselho
pedagógico na sala de aula, com o objetivo de melhorar o nível da sala de aula.
A proposta de trabalho nas escolas tem como foco os elementos de base da geometria,
o desenho geométrico, a simetria e os padrões dos tecidos Kente. Podemos lembrar que a
geometria plana e a espacial teve como uma de suas origens a necessidade apresentar e
quantificar territórios e a distribuição de água no Egito.
É interessante pensar que:
Estudos mostram que o pensamento geométrico compreende as relações e
representações espaciais que as crianças desenvolvem, desde muito pequenas,
inicialmente, pela exploração dos objetos, das ações e deslocamentos que realizam
em seu ambiente e da resolução de problemas que lhes são apresentados (BRASIL,
1998, p.143).

Com isso podemos traçar um certo paralelo entre o início das explorações infantis com
o início do estudo da matemática partindo do campo da geometria.

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TECIDOS AFRICANOS:
história e matemática em sala de aula

Quando analisamos o assunto etnomatemática dificilmente a encontramos sendo


abordada nas unidades escolares de São Paulo, pois, até mesmo nos livros didáticos
fornecidos pelo governo federal, através do Programa Nacional do Livro e do Material
Didático (PNLD) não encontramos esta abordagem para o ensino das escolas públicas da
educação básica.
Devemos sempre ressaltar que a utilização de material físico como os tecidos nas
aulas, não é garantia que os estudantes terão adquirido conhecimentos de História e de
Matemática, porém esta proposta ultrapassa o conhecimento especifico do conteúdo da
habilidade, para um trabalho de aprendizagem antirracista em um currículo oficial. No qual o
estudante terá a possibilidade de conhecer um pouco mais sobre seus ancestrais.
Segundo Lorenzato (2010), para esta aprendizagem ocorrer com sucesso depende de o
docente ter o conhecimento sobre como utilizar corretamente esses materiais, assim ele deve
se planejar para realizar a aula que será proposta ao estudante, analisar o motivo da utilização
desse material didático. Desta forma, a proposta que realizamos com este artigo apresenta
uma possível ampliação no desenvolvimento das habilidades através da etnomatemática,
como os materiais existentes nas escolas públicas.
Nesta proposta, parte-se do princípio de que os materiais de apoio para a
implementação do currículo com o nome de “Currículo em Ação”, para a rede estadual de
ensino do estado de São Paulo, são amplamente conhecidos pelos docentes. Pois, a secretaria
estadual tem elaborado estes materiais para os estudantes nos últimos 12 anos.
Contudo, é interessante pontuar que o material atual do “Currículo em Ação” possui
um diferencial que é importante ressaltar, ele foi construído em 2019 por professores da
educação básica da própria rede paulista.
No espaço escolar, observamos que é fornecido para as escolas como Currículo em
Ação, pode ser uma boa ferramenta de trabalho para os professores, pois está presente em
todas as escolas e todos os estudantes têm o mesmo material, portanto, devemos sempre
analisar e discutir sua utilização em sala de aula.
Eles podem ser à base da intervenção do professor, assim, é interessante que os
mesmos se apropriem, analisem e reflitam sobre composição. Considerando, o material de
Matemática do 7.º ano podemos ver por exemplo a seguinte atividade abaixo encontrado nos
materiais dos estudantes:

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TECIDOS AFRICANOS:
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Figura 3 – Atividade proposta geometria e construções

Fonte: Currículo em Ação Matemática. 7º ano. 2º bimestre. Pág. 74.

É possível verificar na atividade que há o intuito de reconhecer os saberes tradicionais


com o uso de triângulos aproveitando sua propriedade que promove a estabilidade para as
construções. Contudo, para exemplificar foram utilizadas duas fotos de construções com
aparência moderna. Com isso, é interessante pensar que o professor pode apresentar para os
estudantes em sala outras imagens com exemplos de construções por diferentes povos,
ampliando os conhecimentos e promovendo a valorização destas culturas e de seus saberes.
É interessante salientar que as construções, os tecidos e outros materiais culturais que
possam ser fonte de estudo não sejam encarados na escola apenas como figuras ilustrativas
para a aplicação ou análise de conceitos matemáticos, desligados de seus contextos de criação
e uso. Neste quesito a interdisciplinaridade ganha maior importância para propiciar tais
aprendizagens.
Retomando o trabalho com os tecidos o professor pode os apresentar ao estudante de
forma física ou através de imagens, que devem ser observadas para reconhecimento da
padronização do tecido. Apresentam também em seus trabalhos construídos pelos teares e
telões africanos que vão mais além, revelando, por exemplo, uma estrutura visual retangular,
chamando assim a atenção do estudante para as variadas escalas, formando um padrão
estético baseado na repetição dos triângulos no tecido.
A proposta que apresentamos como sugestão de ampliar a aprendizagem a partir da
educação Etnomatemática, apresenta um tipo de arquitetura presentes nos tecidos, exibindo
uma estrutura criada a partir de retângulos e o desenvolver da habilidade de Matemática.
Deste modo, os retângulos presentes na estampa não precisam ser necessariamente fechados
para sempre, eles são capazes de gerar outras combinações retangulares nos tecidos para
elaboração da padronização estética.

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TECIDOS AFRICANOS:
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Como em um segundo momento, podemos realizar uma investigação das figuras


geométricas com suas transformações nas estampas dos tecidos Kente. Assim, nesta fase da
nossa proposta podemos entregar, para cada grupo de estudantes, modelo de estampas
impresso em uma folha de papel para análise do grupo.
O principal é que o professor deve orientar e solicitar a análise das transformações
geométricas presentes nas estamparias e de realizar o registro das impressões da análise em
seus cadernos. Este momento pode conduzir os estudantes a construir um olhar sobre o uso da
geometria na África, o professor deve se colocar na possibilidade de mediar o conhecimento
como o qual os estudantes estão apresentando com esta análise.
Como sugestão para terceiro passo criarem seu próprio padrão, a partir dos conceitos
que aprenderam de geometria com a sua análise desenvolvida. Não podemos esquecer que
durante este mesmo período o professor de História da classe desenvolveu suas aulas com o
mesmo foco, realizando análise do povo Kente, sobre sua tecnologia para realizar a tecelagem
dos tecidos e os significados das cores e imagens que estão presentes no tecido.
As aulas poderão ser desenvolvidas em alguns momentos, num espaço livre na
unidade escolar possui e outro em sala de aula, onde cada turma desenvolverá uma atividade
Matemática e História relacionada com tecidos africanos, sob orientações dos professores,
assim contribuindo também para a descolonização do currículo no modelo eurocêntrico
tradicional das escolas.
Para finalizar as atividades propostas, os professores devem estar sempre atentos e aos
estudantes nos momentos propostos para a classe, isso possibilitará a avaliação dos estudantes
e do seu desenvolvimento das habilidades e competências propostas para as aulas.
Lembramos que as atividades que foram desenvolvidas pelos professores conjuntamente
podem ser aplicadas e avaliadas de forma contínua, nas aulas Matemática e História.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Acreditamos que este trabalho está em acordo com a Lei nº 10.639 / 2003, que
valoriza a cultura africana no ambiente escolar e que pode ser utilizada como base para outros
trabalhos, que desejamos que ocorram no decorrer de todo o ano escolar e não apenas na
Semana da Consciência Negra.
Compreender como a geometria pode ser desenvolvida na escola pública através
trabalho metodologia Etnomatemática e suas aplicações práticas ajuda os estudantes a
aprender com outro olhar sobre a matemática.

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TECIDOS AFRICANOS:
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Com a proposta do trabalho com os tecidos Kente pode-se construir conhecimentos,


habilidades e valores, ampliando os conceitos de geometria e propiciando uma vivência
interdisciplinar com o componente de História, permitindo que o estudante construa seu
conhecimento de forma significativa, assim a matemática pode deixar de ser vista pelos
alunos como uma disciplina com conhecimentos prontos e distantes da vida.
Nosso entendimento é que valorizar os saberes dos povos africanos é acima de tudo,
valorizar as origens da população brasileira, e nesse processo os estudantes podem construir
uma imagem positiva de seus antepassados e também de si.
Conhecemos os desafios e sabemos que planejar coisas tão atípicas no campo da
educação matemática não é fácil, mas, como pesquisadores, precisamos contribuir com os
resultados acadêmicos de pesquisas voltadas para diferentes culturas para estimular outros
profissionais da educação a incorporá-las em seu trabalho docente. promover a valorização da
cultura e riqueza do povo africano.

REFERÊNCIAS

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Acessado em 25 de novembro de 2021.

ENDEREÇO DA AUTORA

Priscila Lourenço Soares Santos


E-mail: priscilalourenco@prof.educacao.sp.gov.br

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