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Versão Online ISBN 978-85-8015-079-7

Cadernos PDE

II
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Produções Didático-Pedagógicas
Ficha para identificação da Produção Didático-Pedagógica – Turma 2014

Título: Comunidades Quilombolas: espaços de resistência e preservação cultural

Autor: Angela Maria Kolitski

Disciplina/Área: História

Escola de Implementação do Colégio Estadual Professora Inê Messias


Projeto e sua localização: Erdmann – Ensino Fundamental e Médio.

Município da escola: Ivaí

Núcleo Regional de Educação: Ponta Grossa

Professor Orientador: José Roberto de Vasconcelos Galdino

Instituição de Ensino Superior: Universidade Estadual de Ponta Grossa

Relação Interdisciplinar: História e Geografia


O presente projeto intitulado Comunidades
Resumo:
Quilombolas: espaços de resistência e
preservação cultural, aborda o tema Relações
Étnico-Raciais e tem por objetivo ampliar os
conhecimentos dos alunos acerca das
Comunidades Negras e Quilombolas, enquanto
espaços de resistência e preservação cultural;
analisando as contribuições dos africanos e
afrodescendentes para a cultura nacional. A
implementação desse Projeto de Intervenção
Pedagógica visa a superação de práticas
racistas e preconceituosas, promovendo a
melhoria qualitativa do ensino e da
aprendizagem no contexto escolar; para tanto,
a realidade da escola deve ser considerada por
meio de uma permanente reflexão teórico-
prática, viabilizando a formação de uma
consciência histórica crítica. A proposta
metodológica buscará a valorização e a
reconstrução das identidades locais e
regionais, estabelecendo articulação da história
do Paraná com a história nacional. A
contextualização da temática partirá dos
saberes prévios dos alunos onde novas
informações serão viabilizadas/construídas
para que esses saberes sejam aprofundados
e/ou transformados por meio da consciência
histórica. O estudo sobre a formação das
Comunidades Quilombolas no Paraná, sua
perpetuação e a preservação de traços
culturais africanos, será pautado em aspectos
econômicos, sociais, políticos e culturais,
proporcionando visibilidade a esses sujeitos
negligenciados pela história.

Palavras-chave: Comunidades Quilombolas; Relações Étnico-


Raciais; Resistência; Preservação Cultural.

Formato do Material Didático: Unidade Didática


Público: Alunos dos 8º anos A e B
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED
SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS -
PARANÁ DPPE
GOVERNO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
DO ESTADO

ANGELA MARIA KOLITSKI

UNIDADE DIDÁTICA

PONTA GROSSA
2014
ANGELA MARIA KOLITSKI

COMUNIDADES QUILOMBOLAS: ESPAÇOS DE RESISTÊNCIA E


PRESERVAÇÃO CULTURAL

Produção Didático-Pedagógica apresentada


no Programa de Desenvolvimento da
Educação – PDE, Turma 2014, da Secretaria
de Estado da Educação do Paraná – SEED-
PR, em parceria com a Universidade
Estadual de Ponta Grossa – UEPG; Núcleo
Regional de Ponta Grossa.

Orientador: Prof. José Roberto de


Vasconcelos Galdino

PONTA GROSSA
2014
INTRODUÇÃO

A presente Unidade Didática norteia-se nas propostas do PDE – Programa


de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná, turma de 2014, instituído
pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED); desenvolvido em
parceria com a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e sob a
orientação do professor José Roberto de Vasconcelos Galdino.
Esta produção didática servirá de referencial teórico e metodológico para a
implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica no Colégio Estadual
Professora Inê Messias Erdmann – Ensino Fundamental e Médio, localizado no
Município de Ivaí, no primeiro semestre do ano letivo de 2015 e terá como público
alvo os alunos dos 8º anos A e B.
Esse Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola pretende contribuir
para: a formação do pensamento histórico dos alunos através da consciência
histórica; a produção do conhecimento histórico; o desenvolvimento de um
trabalho com diferentes fontes sobre a temática abordada; a discussão de
assuntos pertinentes ao contexto escolar partindo dos conhecimentos prévios dos
educandos; a valorização da história local e regional; favorecer a recuperação de
experiências individuais e coletivas dos discentes; a ampliação da reflexão acerca
da realidade sociocultural; a construção de uma história mais plural que não
silencie os diferentes sujeitos negligenciados pela História.
Através de seis oficinas pedagógicas, com carga horária diferenciada,
totalizando trinta e duas horas com efetivo trabalho com os alunos, objetiva-se
levar os discentes à discussão sobre as Comunidades Quilombolas, percebendo-
os como forma de resistência, espaços de preservação das tradições culturais e
afirmação de identidades dos povos africanos e afro-brasileiros. Para isso, será
priorizado o estudo das Comunidades Quilombolas regionais e locais –
destacando a Comunidade Remanescente de Quilombo do Rio do Meio ou
Comunidade Quilombola do Rio do Meio, localizada no município de Ivaí -
estabelecendo articulação com a história do Paraná e com a história nacional.
Buscar-se-á, também, o conhecimento sobre a cultura africana e afro-brasileira,
em seus diversos aspectos e sua contribuição para a formação da cultura
nacional.

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No atual contexto educacional, convive-se com práticas discriminatórias e
racistas, onde se valorizam as tradições culturais de matrizes europeias em
detrimento das tradições culturais de matrizes africanas e indígenas. Apesar da
criação de políticas públicas com ações afirmativas de reconhecimento da
diversidade étnico-racial e da sua efetivação nos estabelecimentos escolares,
para tentar reverter práticas preconceituosas presentes no espaço escolar. Além
dos valores discriminativos existentes entre os alunos, também os professores, o
material didático-pedagógico e a própria escola muitas vezes os reproduzem.
Cabe à escola, enquanto espaço de formação de cidadãos críticos,
participativos, democráticos e conscientes, contribuir para o reconhecimento e
valorização das diversas culturas que cooperaram na formação do povo brasileiro.
Através de atividades diversificadas deverá se fortalecer a cultura do respeito às
diferenças, às identidades plurais, tendo por base os princípios da cidadania, da
liberdade e da dignidade humana.

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OFICINA 1 – CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROJETO E DO TEMA

Duração: 6 horas

Neste primeiro momento, os alunos envolvidos com o presente Projeto de


Intervenção Pedagógica, serão informados sobre o Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE) instituído pela Secretaria de Estado da
Educação do Paraná (SEED) em parceria com a Universidade Estadual de Ponta
Grossa; bem como, sobre o assunto abordado “Comunidades Quilombolas:
espaços de resistência e preservação cultural”; a metodologia utilizada, as fontes /
referências consultadas, além do contato com conceitos históricos básicos como:
memória, identidade, cultura, preservação cultural.

Texto 1: Escravidão: trabalho, resistência e luta

Com o objetivo de ampliar a produção e os lucros metropolitanos, a partir


do século XVI, milhões de africanos foram arrancados de suas terras e trazidos
para o Brasil onde foram utilizados como mão de obra na agricultura, no comércio,
na mineração, nas atividades domésticas e artesanais. O comércio de escravos
desorganizou muitas sociedades africanas, afetando-lhes a produção,
corrompendo tradições e princípios, destruindo famílias e linhagens, espalhando o
medo e a insegurança por todo o continente africano.
O tráfico de escravos era uma atividade rentável para os comerciantes e
para a Coroa, assim, além solucionar o problema da mão de obra para as
atividades econômicas, também garantia mais uma fonte de lucro para a
metrópole. De acordo com Ciro Flamarion Cardoso, o modo de produção
escravista no Brasil, em seu funcionamento econômico e como fundamento das
estruturas sociais, resultou da subordinação colonial aos interesses
metropolitanos, da vulnerabilidade das estruturas coloniais às imposições do
mercado internacional. (CARDOSO, 1988)
A maior parte dos africanos que vieram para o Brasil pertencia aos atuais
estados do Congo, Angola, Moçambique, Nigéria, Daomé e Costa do Marfim e
foram destinados, principalmente, às capitanias de Pernambuco, Bahia, Minas

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Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. As primeiras capitanias do Brasil que
receberam escravos africanos foram as que mais prosperavam na produção de
açúcar.

 Trabalhando com mapa

1) Observe o mapa a seguir e responda:

a) Qual é a identificação do mapa? Quais continentes são ressaltados no mapa?

b) De que regiões da África saíam e para onde iam os escravos africanos?

c) Que portos recebiam os navios negreiros e em que estados atuais do Brasil


eles estão situados?

d) Em que regiões do Brasil Colonial mais se concentrava a população escrava


africana?

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 Socialização das respostas
1) Em dupla, discutir as respostas e socializar com o grande grupo.

 Aprofundando o tema

Texto 2: Comunidades Quilombolas: espaços de resistência e luta

Segundo Reis e Silva (1996), os africanos e seus descendentes


constituíram a força de trabalho principal durante mais de trezentos anos de
escravidão. Muito além do trabalho, deixaram suas marcas na cultura brasileira,
na ciência, na tecnologia, na culinária, na religião, na língua, na música, na dança,
entre outras. Os autores ressaltam que houve resistência e negociação ao
sistema escravista “[...] o escravo negociava espaços de autonomia com os
senhores ou fazia corpo mole no trabalho, quebrava ferramentas, incendiava
plantações, agredia senhores e feitores, rebelava-se individual ou coletivamente.”
(REIS; SILVA, 1996, p.9) No entanto, a fuga e a formação de grupos de escravos
fugidos eram as mais típicas formas de resistência à escravidão. Conforme os
autores:
Trata-se da fuga e formação de grupos de escravos fugidos. A fuga nem
sempre levava à formação desses grupos, é importante lembrar. Ela
podia ser individual ou até grupal, mas os escravos terminavam
procurando se diluir no anonimato da massa escrava e de negros livres.
[...] No Brasil esses grupos eram chamados principalmente quilombos e
mocambos e seus membros, quilombolas, calhambolas ou mocambeiros.
(REIS; SILVA, 1996. p. 9 e p.10)

Muitas vezes, nos quilombos viviam além de escravos fugitivos, indígenas,


brancos, mestiços, geralmente, organizados coletivamente, sobreviviam da
agricultura, da pecuária, da caça, da pesca, além do artesanato e de um comércio
a base de trocas. Eram duramente combatidos pelas autoridades e senhores
proprietários de escravos, pois representavam uma ameaça, uma afronta à
posição hegemônica dos senhores, uma negação ao sistema escravista por
serem grupos politicamente estruturados, com lideranças consagradas e por
estabelecerem alianças com diferentes setores sociais. (REIS; SILVA, 1996)
Segundo os historiadores, os diálogos e negociações entre escravos e senhores,
muitas vezes, se davam pelo temor da violência devido a grande quantidade de

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escravos e também pelas alianças firmadas com outros grupos sociais. Em
algumas circunstâncias, eram através de negociações que os escravos lutavam
pelo direito de cultuar livremente sua religião, de obter um pedaço de terra só sua,
que auxiliasse na subsistência e de conseguir folga nos finais de semana. (REIS;
SILVA, 2009)

1) Após a leitura individual e coletiva, discutir o texto supracitado.

2) Sobre o texto acima, responda as seguintes questões:

a) Quais foram as marcas culturais deixadas pela presença africana e

afrodescente no Brasil?

b) Quais eram as formas de resistência empreendidas pelos escravos?

c) Qual é o conceito tradicional de quilombo?

d) Por que os quilombos representavam uma ameaça ao sistema escravista?

 Explorando o tema

1) Ler o texto a seguir com atenção. Após a leitura, fazer a discussão do


mesmo.

COMUNIDADES QUILOMBOLAS: PASSANDO POR UMA


REDISCUSSÃO

As principais formas de resistência empreendidas pelos escravos africanos


eram as fugas e a formação de Comunidades Quilombolas. Esses refúgios
espalhavam-se pelo Brasil a medida que as lutas e os movimentos de resistência
se intensificavam.
O conceito de quilombo passou por uma rediscussão, especialmente
depois que os movimentos negros (no ano do centenário da abolição da
escravatura) conseguiram incluir na Constituição Brasileira de 1988, o Artigo 68,
que assegura: “Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam
ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado
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emitir-lhes os títulos respectivos.” (BRASIL, 1988). Este artigo provocou uma
expectativa por demarcação de territórios e por outros direitos para estas
comunidades negras.
Nesse contexto, algumas Comunidades Negras Rurais, como Frechal, Rio
das Rãs, Kalunga, Conceição das Crioulas e outras, já começaram a se
reconhecer como “remanescentes de quilombos”. Também iniciou uma
organização política das comunidades negras rurais. Então, estabeleceu-se uma
enorme discussão sobre o que seria “remanescentes das comunidades de
quilombo”, tendo em vista que muitas terras de comunidades negras foram
herdadas, ocupadas e mesmo compradas por escravos e/ou ex-escravos e seus
descendentes e, em muitas delas, os negros foram expulsos. Isto não coadunava
com a concepção tradicional de quilombo.
A interpretação tradicional via o quilombo como um local de negros
escravos fugidos, como unidade guerreira em luta contra a escravização, com
uma população homogênea e isolada. Era um conceito histórico estático no
tempo, acrítico, o que restringia e limitava as Comunidades Quilombolas, nos
seus direitos sobre a terra. A interpretação relativizadora passou a ver o quilombo
como um conceito histórico ressignificado, que trazia o conceito para a
contemporaneidade e ampliava os direitos das comunidades quilombolas.
Conforme Neusa Gusmão afirmava: “Antes de mais nada, cabe ressaltar a
insuficiência conceitual, prática, histórica e política do termo ‘quilombo’ para dar
conta da diversidade das formas de acesso à terra e das formas de existir das
comunidades negras no campo.” (GUSMÃO, 1991, p. 34).
No início da década de 1990, pesquisadores e a Associação Brasileira de
Antropologia (ABA) passaram a discutir a reinterpretação do termo quilombo e
quilombola, para adequá-lo às condições concretas e contemporâneas das
comunidades negras. Atualmente, os antigos quilombos passaram a ser
denominados de Comunidades Quilombolas ou Comunidades Remanescentes de
Quilombo. Para a ABA o quilombo deveria ser pensado como um conceito que
abarca uma experiência historicamente situada na formação social brasileira;
como um grupo que teve e tem experiências coletivas e históricas de resistência
(inclusive posteriores à abolição); como um grupo que desenvolveu práticas
cotidianas de resistência na manutenção e reprodução de seus modos de vida

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característicos e na consolidação de um território próprio.
Isto começou a se estabelecer, de maneira mais explícita, com o Decreto
4.887/2003, no governo Lula, que considera como remanescentes de
comunidades quilombolas os grupos étnico-raciais: 1º) segundo critérios de auto
atribuição; 2º) com trajetória histórica própria (comum); 3º) com relações
territoriais específicas (território comum); 4º) com presunção de ancestralidade
negra (parentesco comum); 5º) relacionada com a resistência à opressão histórica
sofrida. Então, a caracterização dos remanescentes das comunidades
quilombolas é atestada mediante auto definição da própria comunidade.
Desde os anos de 1980, o quilombo aparece como um movimento por
direitos, principalmente à terra e por cidadania plena, numa sociedade altamente
discriminatória e excludente para a população negra. Esta demanda foi concebida
como forma de compensação e/ou reparação à opressão histórica por eles
sofrida, ou seja, o Estado e a sociedade brasileira tem uma “dívida histórica” para
com os descendentes dos africanos escravizados. Apesar da criação de uma
legislação estabelecendo direitos à demarcação de territórios e outros para as
comunidades quilombolas, a efetivação dessas conquistas há um longo caminho
a ser trilhado.

 Fazendo a síntese do encontro

Após as leituras, discussões e aprofundamentos, sintetize o encontro


lembrando das questões abordadas, dos conceitos trabalhados e dos enfoques
ressaltados.

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OFICINA 2 – QUILOMBOS: MUITO ALÉM DO CONCEITO TRADICIONAL

Duração: 6 horas

 Retomando o assunto da oficina anterior

a) Conversar com os alunos sobre os assuntos abordados na oficina 1.


b) Socializar com o grupo as sínteses produzidas no final do encontro anterior.

 Para fixar melhor

Assistir o documentário 1: “Quilombos Raízes do Brasil” de Armando


Daudt, disponível: https://www.youtube.com/watch?v=hg0uF0-EOJo, com duração
de 13 minutos e 36 segundos, o qual aborda o tema quilombo em uma
perspectiva mais tradicional e enfatiza importantes aspectos do processo de
formação das Comunidades Quilombolas no território nacional, bem como,
salienta a estrutura social e econômica na sua implementação.

 Trocando informações
Após assistir o documentário. Sob a mediação do professor, discutir e
sintetizar, em dupla, as informações principais elencadas no mesmo. Na
sequência, cada equipe apresenta os dados que considerarem mais relevantes.

 Hora de estabelecer relações

Para uma abordagem mais atualizada sobre a temática estudada, na


sequência, assistir-se-á ao documentário 2: “ Quilombos: luta e resistência”,
elaborado pelos Caminhos da Reportagem, publicado em 25/05/2012, com
duração de 50 minutos e 42 segundos, disponível:
https://www.youtube.com/watch?v=hg0uF0-EOJo. Essa reportagem aborda as
Comunidades Quilombolas enquanto expressões de luta organizada no Brasil;
com um enfoque atual, mostra como vivem hoje os remanescentes desses

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lugares. Também expressa as tradições culturais preservadas em muitas
Comunidades Quilombolas rurais e urbanas brasileiras.

1) Após assistir a reportagem, responda:

a) Qual a situação atual das Comunidades Quilombolas no Brasil?

b) Quais são os novos desafios para os quilombolas nos dias atuais?

c) Afinal, o que significa ser quilombola no Brasil atual?

d) Por que as tradições culturais variam muito de uma região para outra do Brasil?

e) Quais são os maiores problemas enfrentados pelas Comunidades Quilombolas


atualmente?

f) Quem certifica as Comunidades Quilombolas localizadas no território brasileiro?

g) Qual é a condição básica para que essa certificação aconteça?

h) Quantas Comunidades Remanescentes de Quilombos estão, atualmente,


certificadas no Brasil?

i) Podemos afirmar que os “quilombos são formas de resistência ao domínio de


exploração”? Por quê?

j) O que estabelece a Lei nº 10.639/2003?

k) Quais são as tradições culturais africanas e afrodescendentes preservadas nas


Comunidades Quilombolas brasileiras atuais?

 Socialização das respostas

Em grupo com quatro componentes, discutir e socializar as respostas das


questões acima propostas. Apresentar ao grande grupo as principais

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considerações discutidas.

 Fazendo a síntese do encontro

Após as atividades propostas na oficina de hoje, sintetize em uma página


ou em um cartaz os assuntos trabalhados nesse encontro.

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OFICINA 3: COMUNIDADES QUILOMBOLAS NO PARANÁ

Duração: 6 horas

• Retomando o assunto da oficina anterior

a) Conversar com os alunos sobre os assuntos abordados na oficina 2.

b) Solicitar que os alunos leiam as sínteses produzidas no final do encontro

anterior ou apresentem os cartazes elaborados.

1) Leia o texto abaixo com atenção e destaque as informações principais:

 TEXTO 1:

O Paraná foi, por muito tempo, visto como um estado com contingente
populacional, predominantemente, de origem europeia; camuflando a participação
dos africanos, afrodescendentes e povos indígenas na formação social,
econômica, política e cultural paranaense. Segundo Gomes Júnior; Silva e Costa
(2008), o Paraná é o estado com maior população negra do Sul do Brasil (24% da
população paranaense é negra composta por afrodescendentes).
A presença dos africanos no território paranaense dá-se a partir do século
XVII com a exploração do ouro de aluvião no litoral. No século XVIII, com a
decadência da mineração, a mão de obra africana foi transferida para a
agricultura e a pecuária, atividades que exigiam grande quantidade de
trabalhadores sejam eles livres ou escravos. Muitas fazendas surgiram na região
dos Campos Gerais, Guarapuava e Palmas ligando a economia paranaense ao
restante do Brasil, através do Caminho das Tropas. A mão de obra africana
também foi utilizada na extração, beneficiamento e transporte da erva mate no
século XIX, atividade que exigia grande quantidade de trabalhadores, pois
praticamente todo o trabalho era realizado manualmente. Além dessas atividades
produtivas, os africanos trabalharam na extração de madeira para exportação,
nos afazeres domésticos, nas carpintarias, nas ferrarias, nas sapatarias, no
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artesanato entre outras.
Como acontecia em outras regiões brasileiras, no Paraná também os
africanos e afrodescendentes resistiam ao sistema escravista de diversas
maneiras como: negociando a liberdade, através de revoltas, fugas individuais e
coletivas e com a formação de “quilombos” – comunidades, geralmente,
localizadas em locais de difícil acesso, áreas montanhosas, isoladas, próximas de
rios onde os africanos e afrodescendentes viviam em liberdade, cultivavam a terra
e criavam animais coletivamente. Conforme Gomes Júnior; Silva e Costa (2008,
p.15) os quilombos se constituíram como “(...) espaços de liberdade buscados por
negros e negras no Paraná (...) espaços de resistência e manutenção dos traços
culturais que os identificam e os certificam como descendentes efetivos dos
africanos (...)”.
Segundo levantamento realizado pelo Grupo de Trabalho Clóvis Moura
(GTCM) - 2005-2008, existem hoje no Paraná trinta e seis Comunidades
Remanescentes de Quilombos, auto reconhecidas e certificadas pela Fundação
Cultural Palmares (FCP) – instituição responsável pela identificação desses
grupos no Brasil.

 Discutindo o texto

1) Discutir o texto acima, aprofundar os aspectos mais relevantes e responder às


questões:

a) Como se deu a presença africana no Paraná a partir do século XVII?

b) Quais foram as estratégias de resistência ao sistema escravista utilizadas pelos

africanos e afrodescendentes?

c) Qual é o órgão responsável pela identificação das Comunidades

Remanescentes de Quilombos no Brasil?

 Trabalhando com mapas:

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1) Observe o mapa 1 do Estado do Paraná com as Comunidades Remanescentes
de Quilombos e Comunidades Negras Tradicionais identificadas pelo GTCM:

Disponível:http://www.itcg.pr.gov.br/arquivos/File/Quilombolas_2010/Comunidades_quilombolas.pd
f (Acesso: 24/11/14 às 22:50). (Observação: na oficina o mapa será projetado em multimídia).

2) Observe o mapa 2 e faça o que se pede:

a) Localize no mapa as Comunidades Quilombolas mais próximas do Município

de Ivaí:

b) Em quais municípios paranaenses localizam-se as Comunidades

Remanescentes de Quilombos?

c) Em quais regiões do estado concentram-se mais Comunidades

Remanescentes de Quilombolas?

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Disponível:http://www.itcg.pr.gov.br/arquivos/File/Quilombolas_2010/Populacao_Negra.pdf.
(Acesso: 24/11/14 às 23:15). (Observação: na oficina o mapa será projetado em multimídia).

1) Veja no mapa 3 com as Comunidades Remanescentes de Quilombos situadas


no município de Ivaí:

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Disponível: http://www.itcg.pr.gov.br/arquivos/File/quilombolas_2009/IVAI.pdf. (Acesso: 24/11/14,
às 23:30). (Observação: na oficina o mapa será projetado em multimídia).

 Aprofundando o tema

1) Assistir o documentário sobre as Comunidades Remanescentes Quilombolas


no Paraná, com duração de 15 minutos e 17 segundos, disponível em
DOC.CAPOEIRA.TV. Quilombos do Paraná, TV Paranaense 2012,
http://www.youtube.com/watch?v=6zeZ3fLfPSw. (Acesso em 25/11/14 às 22:00 ).

2) Após assistir o documentário, fazer a discussão do mesmo.

3) Registrar, por escrito, os pontos principais do documentário.

4) Apresentar as considerações registradas.

5) Utilizando o livro “Paraná Negro”, organizado por Jackson Gomes Júnior,


Geraldo Luiz da Silva e Paulo Afonso Bracarense Costa, editado em 2008, dividir

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os alunos em equipes com 3 componentes, propor um seminário sobre as
Comunidades Remanescentes de Quilombos no Paraná, enfocando:

a) a contextualização das Comunidades Quilombolas;

b) a formação das Comunidades Quilombolas no Estado do Paraná;

c) os traços culturais africanos e afrodescendentes preservados;

d) as relações de trabalho presentes nessas comunidades;

e) a estrutura física das Comunidades Quilombolas (construções, questões

fundiárias, entre outras).

6) Apresentação do seminário.

• Fazendo a síntese do encontro

1) Utilizando da estratégia dos mapas conceituais, já trabalhada anteriormente,


sintetize os conceitos e pontos relevantes abordados na oficina 3.

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OFICINA 4: VISITA À COMUNIDADE QUILOMBOLA DO RIO DO MEIO

Duração: 6 horas

 Retomando o assunto da oficina anterior

1) Conversar com os alunos sobre os assuntos trabalhados na oficina 3.

 Elaborando entrevista

1) Exposição de aspectos gerais sobre a Comunidade Quilombola do Rio do


Meio, localizada no município de Ivaí/PR pela professora coordenadora do projeto
no colégio.

2) Organização da entrevista, no período matutino, juntamente com os alunos


envolvidos no projeto, para visita à Comunidade Quilombola de Rio do Meio que
acontecerá nessa mesma data, no período vespertino. A entrevista deverá
contemplar os seguintes aspectos:

a) Origem da comunidade;
b) Estrutura social e econômica da comunidade;
c) Relações de trabalho;
d) Relações culturais (religião, festas, costumes, etc.);
e) Regularização das terras da comunidade;
f) Entre outras.

 Visitando a comunidade

1) Visita à Comunidade Quilombola do Rio do Meio, no período vespertino, com


entrevista aos moradores.

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OFICINA 5: A CULTURA AFRO-BRASILEIRA

Duração: 6 horas

 Sistematizando a oficina 4

1) Retomar os registros realizados na visita à Comunidade Quilombola do Rio do


Meio, acrescentar novas informações a respeito da mesma aprofundando o
conhecimento dos alunos sobre a comunidade visitada.

2) Sistematizar, individualmente, as informações coletadas e estudadas sobre a


Comunidade Quilombola do Rio do Meio possibilitando a produção do
conhecimento histórico e a reconstrução das identidades.

3) Apresentar os textos produzidos ao grande grupo.

 A cultura afro-brasileira

1) Para o estudo sobre a cultura afro-brasileira e as influências da cultura africana


nas tradições culturais brasileiras, será proposto:

a) Assistir ao documentário “A cultura afro-brasileira”, volume 2, produzido por


SBJ Produções Editoriais Ltda., em São Paulo, no ano de 2007, duração de 75
minutos. Analisando algumas as contribuições dos africanos para a formação da
cultura brasileira na religião, principalmente no que se refere à música e à dança.

b) Discutir pontos relevantes abordados no documentário e sistematizar os


mesmos.

c) Utilizando-se do livro “História e cultura afro-brasileira”, de Regiane Augusto de


Mattos, da Editora Contexto, publicado em 2007, dividir os alunos envolvidos no
projeto em duplas e propor um seminário enfocando os seguintes aspectos da
cultura afro-brasileira:
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 Religiosidade;
 Culinária;
 Tradições e costumes;
 Vocábulos de origem africana;
 Danças;
 Músicas.

d) Apresentar o seminário proposto.

e) Assistir trechos do filme brasileiro “Besouro”, lançado em 2009, dirigido por


João Daniel Tikhomiroff, que conta a história do capoeirista Manuel Henrique
Pereira, conhecido como “Besouro”. O filme se passa no Recôncavo Baiano, na
década de 1920 e retrata a situação dos ex-escravos africanos enfocando alguns
aspectos culturais afro-brasileiros como: Capoeira e o Candomblé. Disponível:
https://www.youtube.com/watch?v=7JjFbIRVtB8. Acesso em 27/11/14 às 20:10.

f) Na sequência, discutir com os alunos os trechos do filme assistido e solicitar


que, em dupla, façam um relatório apontando os aspectos principais abarcados no
filme.

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OFICINA 6: COMBATE AO RACISMO E A DISCRIMINAÇÃO ÉTNICO-
RACIAL

Duração: 2 horas

 Retomando a oficina anterior

1) Retomar os assuntos principais trabalhados na oficina 5, partindo das


colocações dos alunos e fazer os aprofundamentos necessários.

 Como combater o racismo e a discriminação?

1) Solicitar aos alunos que, utilizando dicionários ou a internet, pesquisem os


conceitos de: racismo, discriminação, preconceito.

2) Discutir, aprofundar e sistematizar os conceitos pesquisados.

3) Ouvir a música “Lavagem Cerebral” de Gabriel O Pensador, prestando atenção


na letra que trata da temática estudada e critica o preconceito, o racismo e a
discriminação . Música disponível: https://www.youtube.com/watch?v=tk2fAvjdYlI.
Letra disponível: http://www.letradamusica.net/gabriel-pensador/lavagem-
cerebral.html (Acesso em 27/11/14 às 21:30).

Música: “Lavagem Cerebral” de Gabriel O Pensador

Racismo, preconceito e discriminação em geral


É uma burrice coletiva sem explicação.
Afinal que justificativa você me dá para um povo que precisa de união
Mas demonstra claramente
Infelizmente
Preconceitos mil

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De naturezas diferentes
Mostrando que essa gente,
Essa gente do Brasil é muito burra
E não enxerga um palmo à sua frente.
Porque se fosse inteligente esse povo já teria agido de forma mais consciente
Eliminando da mente todo o preconceito
E não agindo com a burrice estampada no peito
A "elite" que devia dar um bom exemplo
É a primeira a demonstrar esse tipo de sentimento
Num complexo de superioridade infantil
Ou justificando um sistema de relação servil
E o povão vai como um bundão na onda do racismo e da discriminação
Não tem a união e não vê a solução da questão
Que por incrível que pareça está em nossas mãos
Só precisamos de uma reformulação geral
Uma espécie de lavagem cerebral

Não seja um imbecil


Não seja um Paulo Francis
Não se importe com a origem ou a cor do seu semelhante
O quê que importa se ele é nordestino e você não?
O quê que importa se ele é preto e você é branco?
Aliás branco no Brasil é difícil, porque no Brasil somos todos mestiços
Se você discorda então olhe pra trás
Olhe a nossa história
Os nossos ancestrais
O Brasil colonial não era igual a Portugal
A raiz do meu país era multirracial
Tinha índio, branco, amarelo, preto
Nascemos da mistura então porque o preconceito?
Barrigas cresceram
O tempo passou...
Nasceram os brasileiros cada um com a sua cor

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Uns com a pele clara outros mais escura
Mas todos viemos da mesma mistura
Então presta atenção nessa sua babaquice
Pois como eu já disse racismo é burrice
Dê a ignorância um ponto final:
Faça uma lavagem cerebral

Negro e nordestino constroem seu chão


Trabalhador da construção civil conhecido como peão
No Brasil o mesmo negro que constrói o seu apartamento ou que lava o chão de
uma delegacia
É revistado e humilhado por um guarda nojento que ainda recebe o salário e o
pão de cada dia graças ao negro, ao nordestino e a todos nós
Pagamos homens que pensam que ser humilhado não dói
O preconceito é uma coisa sem sentido
Tire a burrice do peito e me dê ouvidos
Me responda se você discriminaria
Um sujeito com a cara do PC Farias
Não, você não faria isso não...
Você aprendeu que o preto é ladrão
Muitos negros roubam mas muitos são roubados
E cuidado com esse branco aí parado do seu lado
Porque se ele passa fome
Sabe como é:
Ele rouba e mata um homem
Seja você ou seja o Pelé
Você e o Pelé morreriam igual
Então que morra o preconceito e viva a união racial
Quero ver essa música você aprender e fazer
A lavagem cerebral.

O racismo é burrice, mas o mais burro não é o racista


É o que pensa que o racismo não existe

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O pior cego é o que não quer ver
E o racismo está dentro de você
Porque o racista na verdade é um tremendo babaca
Que assimila os preconceitos porque tem cabeça fraca.
E desde sempre não para pra pensar
Nos conceitos que a sociedade insiste em lhe ensinar
E de pai pra filho o racismo passa
Em forma de piadas que teriam bem mais graça
Se não fossem o retrato da nossa ignorância
Transmitindo a discriminação desde a infância
E o que as crianças aprendem brincando
É nada mais nada menos do que a estupidez se propagando
Qualquer tipo de racismo não se justifica
Ninguém explica
Precisamos da lavagem cerebral pra acabar com esse lixo que é uma herança
cultural
Todo mundo é racista mas não sabe a razão
Então eu digo meu irmão
Seja do povão ou da "elite"
Não participe
Pois como eu já disse racismo é burrice
Como eu já disse racismo é burrice

E se você é mais um burro


Não me leve a mal
É hora de fazer uma lavagem cerebral
Mas isso é compromisso seu
Eu nem vou me meter
Quem vai lavar a sua mente não sou eu
É você.

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1) Discutir com os alunos a letra da música “Lavagem Cerebral”, refletindo sobre:

a) Diversas formas de exclusão social existentes;

b) A desigualdade racial ainda presente na sociedade brasileira;

c) Consequências do racismo para a sociedade;

d) Estratégias de combate ao racismo, a discriminação e ao preconceito;

e) Diversidade étnica, racial e cultural do povo brasileiro.

2) Escolher uma música e elaborar uma paródia, em dupla, que faça crítica ao
preconceito, ao racismo e a discriminação.

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REFERÊNCIAS:

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil – 1988.

______. Lei nº 10.639, de 09 de Janeiro de 2003. Acesso em: 15/11/14.


Disponível: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm.

CARDOSO, Ciro Flamarion (org.). Escravidão e abolição no Brasil: novas


perspectivas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988.

GUSMÃO, Neusa M. M. de. A questão política das chamadas ‘Terras de


Preto’. Textos e Debates. Florianópolis, NUER/UFSC, n. 2, 1991.

GOMES JÚNIOR, Jackson; SILVA, Geraldo L.; COSTA, Paulo A. B. (orgs.)


Paraná Negro. Curitiba: UFPR/PROEC, 2008.

MATTOS, Regiane Augusto de. História e cultura afro-brasileira. São Paulo:


Contexto, 2007.

PARANÁ, Secretaria de Estado de Educação do. Diretrizes Curriculares da


Educação Básica de História: SEED/ DEB-PR, 2008.

REIS, João José e SILVA, Eduardo. Liberdade por um fio: história dos
quilombos no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

REIS, João José e SILVA, Eduardo. Negociação e conflito: a resistência negra


no Brasil escravista. 3. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

Relatório do Grupo de Trabalho Clóvis Moura 2005-2010.Acesso em: 10/11/14.


Disponível: www.gtclovismoura.pr.gov.br/arquivos/File/relatoriofinal2005a2010.pdf

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