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Dados Internacionais de Catalogação- na-Publicação (CIP)

Biblioteca do NCADR/UFPA

S471l Seminário A Diversidade do Mundo Rural na


Amazônia (1: 2017: Belém, PA)
Livro de resumos... / Seminário A Diversidade do Mundo
Rural na Amazônia, 7, 8, 9 jun. 2017, Belém, PA. – 2017.

264 p. : il.
Inclui bibliografias

1. Agricultura familiar – Amazônia – eventos. 2.


Desenvolvimento sustentável – Amazônia – eventos. 3. Ecologia
agrícola – Amazônia. I. Titulo.

CDD – 22 ed. 338.109811


O Seminário "A diversidade do mundo rural na Amazônia" foi uma promoção do
Grupo de Estudos Interdisciplinares sobre Biodiversidade, Sociedade e Educação
na Amazônia (BioSE/CNPq), em parceria com o Núcleo de Estudos em
Agroecologia (NEA) AJURI, ambos do Núcleo de Ciências Agrárias e
Desenvolvimento Rural (NCADR) da UFPA. Foram parceiros desse evento, ainda,
os Programas de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas (NCADR/UFPA) e
Antropologia (IFCH/UFPA).

O evento discutiu, a partir de uma abordagem interdisciplinar, as diversas questões


que abarcam o mundo rural na Amazônia. Estiveram no centro das atenções
temas como Agroecologia, Gênero e Sexualidade, Produção Familiar, Conflitos
Socioambientais, Agrobiodiversidade e Soberania Alimentar, Artes e
Religiosidades, Educação do Campo, dentre outros assuntos que demarcam a
vida dos agricultores e agricultoras familiares, povos e comunidades tradicionais. O
seminário priorizou o debate contemporâneo de uma enorme diversidade de
temas, bem como exercitou o diálogo de saberes entre acadêmicos e lideranças
locais, que participaram contando suas histórias e experiências vivenciadas nas
comunidades, nos movimentos sociais, nas associações. Histórias de luta e
resistência, da busca por direitos territoriais e humanos, assim como as
experiências de relação com a natureza no manejo e formas de apropriação da
sociobiodiversidade presente nas florestas, rios, várzeas, roças e quintais.

Além desses momentos, o seminário foi permeado por sessões de arte nas suas
mais diferentes linguagens (música, teatro, dança e artes visuais), exposição de
pinturas em aquarela, venda de produtos artesanais das comunidades, troca de
sementes, lançamentos de livros e outras formas de produção do conhecimento,
venda de produtos orgânicos, etc.

Com o intuito de privilegiar a diversidade e a pluralidade, a metodologia


contemplou palestras, rodas de conversa, mesas redondas com mestres egressos
da Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas, que compartilharam suas
experiências pós-curso. Os Grupos de Trabalho foram coordenados por
professores e professoras junto aos estudantes de graduação e pós-graduação,
que receberam e avaliaram os resumos expandidos dispostos no presente volume.

Organizadores
Flávio Bezerra Barros
William Santos de Assis
Sobre a (des)articulação entre saberes indígenas e saberes escolares na
Amazônia rural

About the (dis)articulation between indigenous knowledge and school knowledge in the
rural Amazon

BATISTA, Ramiro Esdras Carneiro1; IOIÔ, Adonias Guiome2; MIRANDA, Daniel da


Silva3;
1 Universidade Federal do Pará, jjesdras@bol.com.br; 2 Universidade Federal do Pará,
adoniasarukwyene@gmail.com; 3 Universidade Federal do Pará, srdanielmiranda@gmail.com;

Resumo

O presente texto, ao considerar que cada grupo humano dispõe de modelos, ritos e
instituições educacionais próprias, adequadas a produção e (re)produção
intergeracional de seus valores epistemológicos, étnicos e culturais objetivando a
manutenção de um modus vivendi específico, propõe uma reflexão acerca dos
impactos da implementação de espaços escolares estatais contemporâneos, junto a
centenas de comunidades e povos indígenas no Brasil. Partindo da experiência de
resistência a este modelo, empregada pelo povo Palikur-Arukwayene, do rio Urucauá /
Amapá.

Palavras-chave: Educação; Escolarização; Saberes indígenas;

Abstract: The present text, considering that each human group has its own models,
rites and educational institutions, suitable for the production and intergenerational (re)
production of its epistemological, ethnic and cultural values, aiming at the maintenance
of a specific modus vivendi, proposes a reflection about the impacts of the
implementation of contemporary state school spaces, together with hundreds of
communities and indigenous peoples in Brazil. Starting from the experience of
resistance to this model, employed by the Palikur-Arukwayene people, of the river
Urucauá / Amapá.

Keywords: Education; Schooling; Indigenous knowledge;

Introdução

A prática de educar e formar as jovens gerações para a vida social é inerente a


existência e reprodução dos grupos e sociedades humanas. Estas práticas
formativas demonstram-se engendradas a partir das referências cosmológicas,
sociopolíticas, culturais e econômicas, instituídas coletivamente no âmbito de
cada grupo étnico.
A afirmação acima é estabelecida em diálogo com Brandão (2007). O autor
considera que toda sociedade detém práticas de reprodução intergeracional
dos saberes e comportamentos necessários à continuidade do grupo, bem
como a incorporação de novos saberes. Nesse sentido, de acordo com
Brandão, todas as sociedades humanas possuiriam, constituiriam ou
reelaborariam modelos e instituições educacionais próprias.

Deste modo, por meio do autor, percebe-se a desnaturalização do que se


entende comumente como Escola e Pedagogia, criticando modelos que as
estabelecem enquanto conceitos universais à vida humana, categorias e
metodologias de ensino absolutas. Liberta-se assim, a atividade educativa das
restrições impositivas do meio escolar, estendendo-a a um tempo-espaço
anterior e independente da existência desta instituição. Abrindo caminho às
experiências plurais de outras formas de ensino.

No Brasil, a educação escolar quando direcionada aos povos indígenas se vê


regulamentada a seguir certos objetivos. Em suas definições, é estabelecido a
preconização da escolarização específica, intercultural, bilíngue e comunitária a
fim de atender o que considera-se “a especificidade dos povos indígenas” em
território nacional (LDB 9394/96).

Ora, trata-se pois, de um modelo de educação que estabeleceria o diálogo


entre as variadas expressões culturais encontradas entre estes grupos étnicos.
No entanto, o que se percebe é a proposta de uma instituição patrocinada pelo
estado nacional, voltada a aproximadamente 300 povos plurais e diversos, a
partir de uma pretensa interculturalidade a ser implementada no interior de
cada comunidade e respectivos projetos pedagógicos. Sem de fato definir as
particularidades destes diálogos.

Desta maneira, o objetivo do presente resumo, traduz-se na necessidade de


analisar as limitações desta escolarização compulsória, que há um só tempo se
pretende especifica e diferenciada, perante as visões e categorias nativas
sobre o que representa a conquista ou a aceitação do espaço
escolar/educativo formalizado. Para tanto, pretendemos dialogar com a
resistência histórica que o povo Palikur-Arukwayene do rio Urucauá/Amapá
empreendeu a este modelo educacional, afim de desvelar os insucessos desta
inciativa.

Metodologia
Como apontado acima, esta reflexão vai se guiar a partir da comparação
acerca do que significa Educação na sociedade Palikur-Arukwayene e, de outro
lado, como a educação escolar se articula ou não com este modo de educar e
reproduzir os saberes socialmente importantes para a formação da pessoa
Palikur.

As perguntas a serem respondidas são: As práticas pedagógicas vigentes no


ensino escolar articulam-se as práticas formativas tradicionais daquela
sociedade indígena? Porque a “conquista” do direito a escola na aldeia e vista
com desconfiança pelos anciãos e xamãs, outrora responsáveis pelas práticas
formativas coletivas? Como um professor indígena Palikur/Arukwayene lida
com a tensão entre ser um agente do estado e há um só tempo cultivar o
respeito as práticas formativas tradicionais? Sendo dois dos autores docentes e
radicados na Amazônia rural (Terra Indígena Uaçá / Município de Oiapoque /
Amapá), trabalhando especificamente com educação escolar indígena, a
resposta a estas questões poderá ser fruto tanto do estudo etnológico do povo
em questão quanto do observado no cotidiano de trabalho dos autores.

Resultados e discussões
Os Palikur-Arukwayene do rio Urukauá são um povo da família linguística
Aruaque, tidos pela literatura antropológica como o grupo autóctone daquela
região (Capiberibe ,2007). Este povo detêm a particularidade de continuar
reafirmando, depois de mais de quatrocentos anos de contato com não
indígenas que dispõem de seu próprio jeito de educar.

Segundo o professor Palikur/Arukwayene Thierri Ioiô (Green e Green ,1977


p.33), a educação de seu povo é baseada na sabedoria dos mais velhos. Ele
afirma que “quando era criança meu pai me ensinou muitas coisas. [...] Ele só
me mostrou como fazer as coisas para que mais tarde eu pudesse imitá-lo. [...]
No futuro [...]” dizia seu pai, “[...]você vai ensinar seus filhos da mesma forma
que eu lhe ensinei”.

A tradição oral Arukwayene converge ao relato do professor Thierri, de que a


educação do Palikur não tem uma instituição ou horários circunscritos
formalmente, mas são feitos pelo o que eles entendem como transmissão de
saberes. Esta transmissão se encontra baseada na relação familiar, sendo
estabelecida de forma sistemática e por fases, tendo como característica o fato
de que da criança nunca se exige o que ela não pode fazer. Este ideário
expresso, aliado ao conhecimento histórico de que os Palikur foram, dentre
todos os quatro povos indígenas do Oiapoque, o que resistiu com mais
veemência a instalação da escola estatal em seu território, parece demonstrar
a existência de uma tensão ou desarticulação entre os saberes escolares e
aqueles saberes socialmente valorizados para a formação da pessoa Palikur.

Existem muitas formas de pensar essa negação da escola, mas a versão mais
aceita entre este povo foi trabalhada pelo Palikur Ivanildo Gomes (2011), dando
conta de que entre os líderes do povo Palikur existia a interpretação de que a
escola era uma estratégia dos brancos para reduzir e preparar escravos
infantis, o que parece remontar ao passado colonial e, consequentemente, a
resistência. Também Hélio Labontê, outro membro da etnia
Palikur/Arukwayene reafirma que o modelo de formação de seu povo era
baseado na “pesca e caça e tem seu lugar de educação na aldeia, no campo
alagado, no igarapé, no lago. (...) esses são os lugares da Educação Palikur
antes da existência da escola.” (Labontê ,2015 p.19). Este discurso contra a
hegemonia da escola estatal feito por diferentes membros deste povo aponta
para a necessidade de pensar um modelo ou modelos de Educação escolar
que preconizem a convivência de diversos sistemas de conhecimento,
priorizando o escambo de resultados, e distinguindo-se da sanha do
conhecimento homogeneizante e colonizador historicamente veiculado pela
escola pública (Oliveira ,2012).

Conclusões
Entendemos que o ambiente escolar e as práticas pedagógicas vigentes na
maior parte das aldeias e comunidades Palikur/Arukwayene são alienígenas e
não se coadunam com a tradição formativa daquele povo, não obstante o
apontamento da legislação educacional, no sentido de que tais escolas devem
realizar o diálogo intercultural tendo em vista sua melhor implementação. Desta
maneira, uma instituição escolar estatal que não esta ambientada na divisão
social do trabalho em moldes capitalistas, precisa ser ressignificada e
renomeada a fim de atender não as demandas da sociedade nacional, mas do
arranjo e organização social na qual esta inserida.

Referências bibliográficas:

BRASIL, LDB. Lei 9394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.


Disponível em < www.planalto.gov.br >. Acesso em: 30 Jun. 2015.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação - São Paulo: Brasiliense ,2007.

CAPIBERIBE, Artionka. Batismo de Fogo: Os Palikur e o Cristianismo.


FAPES/NUTI/ANNABLUME: São Paulo, 2007.

GOMES, Ivanildo. A História Palikur a partir da Memória dos mais velhos:


Licenciatura em Educação Escolar Indígena-Ciências Humanas/UNIFAP, 2011.

GREEN, Harold; GREEN, Diana. Você Pode Ler e Escrever na Língua Palikúr: por
Aldiere Orlando, Thierri Ioiô, Ivanildo Gomes, Elizabete Silva (gramática sucinta da
língua Palikúr). Belém: Sociedade Internacional de Linguística ,1997.
LABONTÊ, Hélio Ioiô. Trajetórias Históricas do Povo Palikur do Urukauá: contatos,
evangelização e escolarização em processo. Licenciatura Intercultural Indígena – Área
de Ciências Humanas/UNIFAP ,2015.

OLIVEIRA, Joana Cabral de. “Vocês sabem porque vocês viram!”: reflexão sobre
modos de autoridade do conhecimento. Revista de Antropologia, São Paulo: USP – V.
55 , 2012.
Escola, juventude e educação profissionalizante: entre a agropecuária e a
agroecologia
School, youth and vocational education: between agriculture and agroecology.

GOMES, Izaquiel Mateus Macedo; MACHADO, Rômulo Ribeiro.

Instituto Federal do Amazonas, Izaquiel.mateus@ifam.edu.br; Instituto Federal do Amazonas,


romulo.machado@ifam.edu.br.

Resumo

Este trabalho pretendeu identificar qual a compreensão que os alunos do curso de


agropecuária 3º ano do nível médio e integrado, concluintes ano 2017, tem sobre a
relação sociedade – ambiente - agroecologia. O objetivo é avaliar a formação do
estudante nas questões relacionadas as atividades agropecuárias, sustentabilidades e
desenvolvimento rural. Para tanto, as entrevistas informais e DIALOGAR em sala de
aula foram determinantes para levantamento do conhecimento. Vale ressaltar como foi
deveras discutido entre os discente tal temática durante o curso o que está resultando
em trabalhos finais.

Palavras-chave: Formação, Ambiente, sustentabilidade.

Abstract

This work aimed to identify the understanding that the students of the agricultural
course 3rd year of the middle and integrated level, completed in 2017, has on
agroecology. The objective is to evaluate the student's education in the issues related
to farming activities, sustainability and rural development. For this, the informal
interviews and DIALOGAR in the classroom were determinants for knowledge survey.
It is worth emphasizing how it was really discussed among the students such subject
during the course which is resulting in final works.

Key words:Training, Environment, Sustainability.

Introdução

O trabalho pretende contribuir considerando ambas dimensões do tema


gerador: a) juventudes, à medida que os discentes (homens e mulheres) do 3°
ano nível médio e integrado do curso de Agropecuária do Instituto Federal do
Amazonas – campus Maués encontram-se na faixa etária entre 16 e 20 anos
de idade; e, b) sociedade, ambiente e agroecologia, à medida que os mesmo
tem em sua formação uma disciplina específica chamada: sociologia,
agroecologia, por exemplo, com carga horária mínima de 80h. com o objetivo
de identificar qual a concepção que os discentes construíram e/ou
materializaram durante mais de 2/3 do curso. Considerando que alguns
desse/as são filhos de guaranalistas (como são conhecidos os cultivadores de
Guaraná) ou de agricultores de outras culturas e que também cultivam a terra
inseridos em contextos de transformações do espaço rural no interior da
Amazônia faz-se pertinente ‘olhar’.

Material e Métodos.

O trabalho desenvolveu-se na sala durante as aulas enquanto debatíamos o


assunto: Ambiente e Sociedade. Na sala encontram-se 21 discente, sendo 11
homens e 10 mulheres, assíduos. A principal tarefa para construção do
conhecimento foi o diálogo e/ou debate fecundos, provocativos, inquietante
mediado pelo livro didático. Sociedade e Ambiente mostrou-se um grande tema
para discussão de problemática local, regional, internacional. Local na
dimensão do cultivo familiar rural, da preocupação doméstica do cuidado diário
infindável; regional dentro da compreensão amazônida da relação entre
conhecer↔cultivar considerando as metamorfoses entre fauna-flora-clima-
solos e questões sociopolíticas etc. e a dimensão internacional pautada com a
entrada da agenda ambiental no cenários dos player. Assim, o uso dos slides
na aula provocou o diálogo que provocou debates que possibilitam conceitos.
Inicialmente, a questão norteadora foi aquela presente no livro didático, qual
seja: Como conciliar os princípios dos movimentos de proteção ao meio
ambiente com as lutas contra as desigualdades sociais e a favor do
desenvolvimento econômico e da superação da pobreza?

Resultados e Discussão

A discussão é iniciada com apresentação da relação das sociedades modernas


com o meio ambiente e as problemáticas em decorrência das rápidas
transformações. Nesse momento, os discente alentam para o desenvolvimento
tecnológico e cientifico, principalmente, as máquinas que transformam
rapidamente o ambiente. Falei para os mesmos minha experiência com visitas
na empresa Mineração Rio do Norte no município de Barcarena no Pará, a qual
faz transformação peças de alumínio transportadas para o Japão. Processo
esse que se dá em enormes caldeira e utiliza enormes quantidades de água
para resfriamento. Então perguntei a respeito de máquinas utilizadas nas terras
de suas famílias. A principal citada foi o trator que serve para duas finalidades:
a) para ‘quebrar a roça’, ou seja, revirar a terra e prepara-la para novo cultivo e;
b) ajuda no transporte e para escoar a produção, principalmente em tempos de
chuva. Dizem eles, os discentes que utilizam maquinas em suas propriedades
que a utilizam procurando ‘devastar o mínimo possível’. Então foi citado uma
passagem do livro “...a história das sociedades também é a história de
múltiplas relações com o meio ambiente, pois cada sociedade encontra formas
de satisfazer suas necessidade socialmente construída” (SOCIOLOGIA, 2013).

A discussão sobre a entrada da agenda ambiental no cenário mundial: Clube


de Roma 1968; Estocolmo 1972, Eco 1992. Trouxe para discussão a
preocupação dos alunos as florestas que cercam a cidade de Maués -
Amazonas e a legislação ambiental. Contudo, a conversa ‘caminhou’ para a
ocupação do território seguindo do desmatamento, especulação e conflito
fundiário. Nesse sentido, segue a preocupação com a presença de vários
garimpos ao longo das calhas de rios. A cidade de Maués faz fronteira com a
cidade de Itaituba no Pará cidade que apresenta inúmeros garimpos. Assim
esses se confundem ao longo da fronteira. Quando se trata de política a
compreensão apresentada pelos alunos é sempre a perspectiva punitiva e em
suas compreensões a baixa efetividade da presença do Estado no combate
aos crimes ambientais. Visão essa construída principalmente devido as
reportagens televisivas.
Fiz uma provocação a respeito do conceito de agroecologia e suas práticas em
suas propriedades. O conceito expresso foi aquele aprendido durante as aulas
da disciplina agroecologia, qual seja, ‘é a ciência que estuda os ecossistemas
de maneira sustentável’ respeitando alguma variação que tenha ocorrido não
foi dito nada muito diferente. As suas práticas relacionadas ao conceito se
mostraram ainda tímidas em suas propriedades, uma vez que os
conhecimentos dos mais velhos ainda é um paradigma muito forte, assim difícil
de permeabilidades. Mas apresentam algumas ‘inovações’ aprendidas no
espaço escolar como por exemplo o combate as pragas e uso de químicos nas
diversas cultura. O relato de uma aluna ao querer demonstrar o prejuízo a
saúde pelo uso de químicos. Construiu um canteiro ao lado do canteiro da mãe
e então apresentou os efeitos negativos sobre a terra e a qualidade dos
produtos. Ainda segundo a discente, sua genitora deixou de usar os defensivos
e procurou mais os conhecimentos da filha aprendido no Instituto Federal do
Amazonas – campus Maués.

Conclusão

A presença do Instituto Federal do Amazonas no município de Maués com a


educação profissionalizante é vetor de mudança de paradigma contribuindo
sobre maneira para a construção de novas práticas que vão ao encontro do
desenvolvimento rural sustentável e agroecológico. O curso de agropecuária
nesse sentido tem importância fundamental quando se vale do processo de
ensino – aprendizagem para alcançar seus jovens alunos; hoje, 2017; com
cerca de 130 discentes nos três anos do ensino médio; para reverberar
praticas, técnicas e saberes juntos as várias gerações (pais e avós), no espaço
rural brasileiro, principalmente, no espaço rural amazônico, onde as
problemáticas ambientais são conhecidos. Dessa forma, a mudança de
concepção é lenta, gradual e conflituosa num devir entre casa e escola e entre
os alunos – professores – responsáveis.
Agradecimentos

Quero agradecer o Instituto Federal do Amazonas campus Maués na pessoa


do diretor geral Prof. Msc. Elias da Silva Souza; ao coordenador do eixo
Recursos Naturais Prof. Dr. Israel Pereira dos Santos; ao coordenador de
pesquisa e inovação Prof. Msc. Danilo de Oliveira Machado; Coordenador
cursos EAD Prof. Msc. Rômulo Ribeiro Machado. Aos membros do grupo de
pesquisa Arranjos Produtivos Locais no baixo Amazonas amazonense; aos
discentes do curso de agropecuária.

Bibliografia
LOUREIRO, B. Sociologia em Movimento – 1 ed. – São Paulo: moderna, 2013
Educação do campo na Amazônia e desenvolvimento rural agroecológico:
uma análise da experiência do MST sob enfoque das Epistemologias do
Sul

Field education in the Amazon and agroecological rural development: an


analysis of the MST's experience under the focus of Southern Epistemologies

NASCIMENTO, Maycom. D.F1, CORREA, Sérgio M. C2. R.M2. ARAÚJO, Paulo H. B3

1 Discente do Curso de Pedagogia e Bolsista PIBIC-Fapespa da Universidade do Estado do


Pará (UEPA), maycomufpa@outlook.com. 2 Docente-pesquisador da Universidade do Estado
do Pará, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação da UEPA. Orientador do
Projeto PIBIC-UEPA, sergiorcm2001@yahoo.com. 3. Discente do Curso de Pedagogia e
Bolsista PIBIC-Fapespa da Universidade do Estado do Pará (UEPA),
phenrique.phba@gmail.com

Grupo de trabalho: GT 1 - Educação do Campo

Resumo

O presente artigo se objetiva a analisar os temas da educação do campo e


desenvolvimento no Brasil, em particular na Amazônia, a partir das experiências do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), sob uma interpretação das
Epistemologias do Sul. Ele se propõe apresentar resultados do projeto de Iniciação
Científica – PIBIC/FAPESPA/UEPA- intitulado: “Desenvolvimento Agroecológico e
Educação do Campo na Amazônia: uma análise da experiência do MST sob o
enfoque das Epistemologias do Sul”. Foi possível identificar uma reorientação no
repertório do MST com a inserção do tema da agroecologia.
Palavras-chave: Agroecologia; Movimentos Sociais; Educação; Desenvolvimento

Abstract: Agroecology; Social Movements; Education; Development.

Keywords:

This article proposes to analyze the themes of rural education and development in
Brazil, particularly in the Amazon region, based on the experiences of the Landless
Workers Movement under an interpretation of Southern Epistemologies. It aims to
present the results of the Scientific Initiation Project - PIBIC / FAPESPA / UEPA -
entitled "Agroecological Development and Field Education in the Amazon: an
analysis of the MST experience under the Southern Epistemologies approach". It
was possible to identify a reorientation in the MST's repertoire with the insertion of the
agroecology theme.

Introdução

Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de identificar o papel e impacto


que a experiência de transição agroecológica do MST vêm produzindo na sua
proposta de desenvolvimento rural e de educação do campo no âmbito da
realidade dos assentamentos rurais, em particular da Amazônia paraense. Sob
esse ângulo, o referido projeto teve como objeto de análise a proposta e
experiência de Transição Agroecológica que o Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST) vêm incorporando ao seu repertório e suas
implicações sobre sua proposta de Desenvolvimento Rural e Educação do
Campo. Diante disso, a referida pesquisa tomou como base a seguinte
questão:

 Que papel e impacto essa perspectiva e experiência de transição


agroecológica do MST vem produzindo na sua proposta de
desenvolvimento rural e educação do campo no âmbito da realidade dos
assentamentos rurais, em particular da Amazônia Paraense?

Metodologia
Como referencial teórico-metodológico, esse projeto de pesquisa assentou-se
nos Estudos das Epistemologias do Sul, com ênfase na abordagem crítica
do cientista social Boaventura de Sousa Santos, que têm como base os
procedimentos: da Sociologia das Ausências, Sociologia das Emergências,
Ecologia dos Saberes e Trabalho de Tradução (SANTOS, 2004, 2006, 2010)
em diálogo com o pensamento social e educacional brasileiro/latino-americano.

Os procedimentos metodológicos trilhados e desenvolvidos nessa pesquisa


foram:
 Levantamento bibliográfico e documental, a fim de se construir um
quadro referencial amplo e consistente sobre o objeto de estudo e a
temática em questão.

 Pesquisa de campo, para levantamento e coleta de dados. Nela, foram


desenvolvidas as seguintes "técnicas" dentro da abordagem qualitativa:
observação e registro de campo; entrevista de corte "semiestrutrada".

1 2

FIGURA 1 E 2 - (1) Sementes crioulas do Lote Agroecológico de Produção


Orgânica (LAPO) no Assentamento Mártires de Abril. (2) Espaço de convivência
do Sistema Agroecológico de Produção Orgânica (SAPO)

 Outro procedimento utilizado foram as sessões de estudo, selecionamos


a literatura para cada eixo temático e distribuímos os textos para os
membros do grupo de pesquisa, nos encontros feitos pelo grupo e com
base no texto em estudo fazíamos nossas intervenções para propiciar
um diálogo e problematização sobre o mesmo.

Resultados e discussões
1.1 A transição agroecológica: avanços e limites no contexto
desenvolvimentista

Foi possível verificar, tomando como base os percursos feitos no desenrolar da


pesquisa, que a experiência de transição agroecológica desenvolvida pelo MST
vem enfrentando avanços, limites e desafios internos e externos para
implantação da proposta frente à agenda de cunho desenvolvimentista que
pairou no Brasil e até recentemente sobre Amazônia (CORRÊA, 2014). Uma
importante conquista, protagonizada por movimentos e organizações sociais do
campo, foi a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica
(PNAPO), instituída por meio do Decreto nº 7.794/2012, com o objetivo de
integrar, adequar e articular políticas, programas e ações indutoras de
transição agroecológica e da produção orgânica, contribuindo para o
desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade de vida da população,
por meio do uso sustentável dos recursos naturais e da oferta e consumo de
alimentos saudáveis. No entanto, foi possível identificar contradições, no que
tange a falta de apoio técnico e financeiro por parte das agencias de fomento
do poder público como explica uma liderança do MST.

Uma questão são os minifúndios que se estabelecem no


assentamento, arrendando e alugando terra, não podemos aqui
garantir propositalmente, mas eles se divergem com a questão do
gado danificando a produção daqueles que ainda tentam trabalhar a
questão da sobrevivência através da produção. Então com isso os
agricultores aqui no assentamento estão tendo muitos prejuízos e
alguns até desistem, então essa são as questões que nós
enfrentamos. A outra questão que nós temos de dificuldade é
referente ao gado, uma cultura sem um manejo adequado tem
deixado muitos lotes e muitas famílias sem recursos hídricos, ou seja,
a estruturação do gado inadequadamente também é passível de
soterrar as nascentes e nós estamos com essa situação bem
agravante no assentamento. E a outra questão é a assistência
técnica que não cumpre diretamente sua função no campo prático, ou
seja, no auxílio produtivo dos agricultores e isso pra nós é muito
sentindo porque nós queríamos uma assistência técnica mais
presente na questão do espaço produtivo. (liderança D).
Sob esse ângulo dos conflitos sociais e contradições, é possível
identificar, também, a partir da experiência agroecológica do MST, além da
redefinição da agenda do movimento, que essa experiência se posiciona e se
desenvolve num campo contra-hegemônico frente aos grandes projetos de
desenvolvimento para a Amazônia, em particular ao agronegócio. Quando
questionado se a agroecologia se desenvolve num campo de resistência, uma
outra liderança do MST argumenta:
Sim! Porque a questão dessa base econômica de mercado ela não se
importa com seus arredores, ou seja, com que acontece no planeta, o
que acontece pra destruir vida, ela quer o lucro, a mais valia, a
exploração, e pra nós a agroecologia consiste nisso, a não
exploração da mão de obra, ou seja, ela implica numa outra base
econômica que não é capitalista, porque se você tem uma
agroecologia dentro de um princípio educacional e se você está
explorando seu semelhante você tá fazendo um papel que não condiz
ao seu discurso, aos seus princípios, por isso que pra nós a
agroecologia ela vai além do plantar, da prática plantativa, de
espécie, ela vai também por essa questão de conceito, por essa
questão de cultura, pela questão de consciência. (Liderança B).

1.2 A proposta de Educação do Campo


Ao abordar o tema da Educação do Campo (EC) nessa pesquisa, nos
ajudou a identificar que o tema da EC se encontra situado numa agenda e num
repertório mais amplo, ou seja, associado dialeticamente à questão da agenda
da reforma agrária e de um projeto de nação em desenvolvimento, em
particular para o mundo rural. Isso fica claro na pesquisa quando foi
perguntado ao entrevistado "F" sobre o espaço que o debate da EC ocupa
atualmente no MST, ele demarca a ênfase dessa educação associada a
"estratégia" da luta pela reforma agrária do MST ao mesmo tempo vinculada a
um outro de projeto de sociabilidade, orientado pelo paradigma agroecológico:

O debate da educação do campo se constrói dentro da discussão da


reforma agrária para o campesinato brasileiro, sendo ela entendida
não só como o acesso à terra, mas como um conjunto de políticas
públicas que visam melhorar e ordenar o campo brasileiro.
(Entrevistado F).

Assim, a defesa da democratização “da terra” e do território com a


reforma agrária está associada à implementação de um conjunto de políticas
públicas que vise melhorar a vida dos trabalhadores (as) do campo, garantindo
as condições básicas de dignidade humana, como direito à saúde, educação,
cultura e moradia e sustentabilidade etc. (CORRÊA et al, 2016, p. 12). Sobre
isso, o entrevistado diz:

A educação do campo se inseriu nesse processo, pois não só


adiantava ter acesso à terra com pessoas ignorantes, sem o acesso à
educação e cultura. O assentamento não pode ser visto somente
como uma maneira de se obter renda, ali se produz cultura, vida,
novas relações sociais, e com isso, a educação foi ganhando
centralidade no MST. Para nós, a escola não é uma bandeira do
MST, é uma prioridade do movimento. (Entrevistado F).

Conclusões
A presente pesquisa identificou que essa reconfiguração do repertório e da luta
do MST com a inserção da Agroecologia assinala uma imersão diferente do
campo de resistência contra-hegemônico e no debate da educação do campo e
do desenvolvimento, em particular do desenvolvimento rural e da reforma
agrária, inserindo dimensões e questões ambientais e simbólico-culturais ao
debate político-econômico e, assim, pautando uma necessidade de revisão e
problematização da agenda anterior de luta e resistência e de interpretação do
lugar desse sujeito coletivo no Brasil e no debate do desenvolvimento e da
questão agrária do país, que passa por uma crítica redefinida e contextualizada
ao capitalismo (periférico) e, também, a colonialidade do poder e do saber
(SANTOS, 2006, 2010; QUIJANO, 2010; FREIRE, 1996)

Referências bibliográficas:

CORRÊA, Sérgio R. M. et al. Educação do Campo, Desenvolvimento e


Movimentos Sociais na Amazônia: uma análise a partir das Epistemologias do
Sul. Comunicação apresentada no GT 03 (Movimentos Sociais e Educação) da
Anped-Norte. Out/2016.
CORRÊA, S. R. M. Questões históricas e atuais do debate sobre o tema do
desenvolvimento no Brasil. In. As lutas e resistências do Movimento Xingu
Vivo Para Sempre diante do Projeto Hidrelétrico Belo Monte. Tese de
Doutorado – Campina Grande, 2014.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa. 13. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
LOUREIRO, I. Agronegócio, resistência e pragmatismo: as transformações do
MST. In. SINGER, André e LOUREIRO, Isabel (Orgs.). As contradições do
Lulismo: a que ponto chegamos? São Paulo: Boitempo, 2016.
QUIJANO, Anibal. Colonialidade do poder e classificação social. In. SANTOS,
Boaventura de Sousa e MENEZES, Maria Paula (Orgs). Epistemologias do
Sul. Gráfica Coimbra; Janeiro, 2009.
SANTOS, Boaventura de Sousa; MENEZES, Maria Paula Menezes. (Orgs).
Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez, 2010.
_____. Uma Sociologia das Ausências e uma Sociologia das Emergências. In.
SANTOS, Boaventura de Sousa (Org). A gramática do tempo: para uma
nova cultura política. São Paulo: Cortez, 2006.
_____. Para uma Sociologia das Ausências e uma Sociologia das
Emergências. In: SANTOS, Boaventura de Sousa (Org.). Conhecimento
Prudente para Uma Vida Descente. Um discurso sobre as ciências
revisitado. São Paulo: Cortez, 2004.
Resistir nesse latifúndio de saberes
To resist in this latifundio of knowledge
CAVALCANTE, Ingra Carla Cardoso1; BRITO, Wesley Martins de2
1 UEPA, cavalcanteingra01@gmail.com; 2 UEPA, wesleybrito2996@hotmail.com

Resumo

Este resumo discute como está se dando o processo da educação dentro do


Assentamento João Batista II, no município de Castanhal – PA do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a partir de suas dificuldades enfrentadas no
dia-a-dia para desenvolver melhorias no seu contexto de aprendizagem com as
crianças. Observando o contexto histórico do assentamento, foi feito uma análise
sobre a educação do campo de acordo com as Diretrizes Operacionais para a
Educação Básica nas Escolas do Campo que foram aprovadas pela Resolução
CNE/CEB nº 1, de 3 de abril de 2002, da Câmara de Educação Básica do Conselho
Nacional de Educação.

Palavras-chave: Educação do campo; conflitos educacionais; direito à educação;


sujeitos do espaço.

Abstract:

This summary aims to discusse how the education process is taking place in the João
Batista II Settlemente, in the municipality of Castanhal of the Landless Rural Workers
Movement – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), from their
difficulties faced daily to develop improvements in their context of learning with kids.
Observing the historical context of the settlement, an analysis was made on the
education of the field according to the Operacional Guidelines for Basic Education in
the Field Schools which were approved by Resolution CNE/CEB n. 1, of Abril 3rd,
2002, of the Chamber of Basic Education of the Nacional Council of Education.

Keywords: Field Education; Educational Conflict; Right to Education; Subjects of


Space.

Introdução
O presente trabalho se desenvolveu através de pesquisas feitas no
Assentamento João Batista II, da cidade de Castanhal, com ênfase em um
projeto de Educação criado pelo MST que tem como objetivo compreender a
necessidade de intervir na forma de organizar a produção da educação no
interior das relações sociais do movimento.
A escola E.M.E.F Roberto Remigi atende aos filhos dos assentados há
8 anos, que são chamados de “sem terrinhas”, a escola é resultado de lutas e
reinvindicações do MST e tem uma boa estrutura para atender as crianças, no
entanto, enfrentam dificuldades para desenvolver o modelo de educação a
partir das diretrizes do MST.

Para analisar algumas questões sobre a Educação do Campo, é


necessário compreender o modelo pedagógico de educação do MST, para
assim entender e dialogar com eles sobre os avanços e desafios dentro do
assentamento, conhecendo as questões sobre os conflitos de saberes entre o
urbano e o rural, ou seja, saber as dificuldades que os professores do campo
enfrentam na construção desse modelo de educação, de uma realidade social
brasileira no campo. É importante destacar a resistência do MST em todo esse
contexto de luta dos Sem Terra com intuito do desenvolvimento de uma escola
crescendo na prática.

Metodologia

Inicialmente, esta pesquisa foi desenvolvida através de um trabalho de


campo dentro do Assentamento, com objetivo de dialogar com o modelo de
Educação do Campo que trabalha com uma educação diferenciada voltada
para realidade do sujeito do campo. Trabalhou-se nessa pesquisa com caderno
de campo, gravador de áudio e celular para registrar as fotos.
Utilizou-se métodos e técnicas de pesquisa antropológica para
execução da pesquisa no Assentamento João Batista II. Na sua composição e
divisão, o mesmo hoje está com 164 lotes de terra, cada lote tem
aproximadamente 9-12 hectares, dentro da comunidade, podendo constatar
avanços na questão de direito às moradias, com 168 domicílios, a logística do
assentamento contribui para o bem estar das famílias, com pequenos
comércios, bares, uma cooperativa e no arredor há denominações diferentes
como duas igrejas católicas, uma assembleia e duas associações de
moradores, pois todos os assentados já tem suas casas próprias, cada casa foi
construída com um modelo de arquitetura diferente de acordo com a vontade
de cada morador, algumas casas são próximas uma da outra, o que facilita um
pouco para as crianças irem à escola E.M.E.F Roberto Remigi.

Resultados e discussões
É importante debater a necessidade dentro do assentamento da
produção de novas pesquisas sobre a correlação entre a precarização das
condições de vida e (re)produção dos diferentes sujeitos presentes no espaço
rural, e também dos conflitos de saberes, no qual sofrem de certa forma na
perda de seus territórios em consequência do avanço da reorganização
capitalista do espaço agrário e o papel da Educação do Campo nas construção
de políticas públicas que sejam capazes de interferir neste processo histórico
do MST. Parte-se do pressuposto que a concepção de educação, sob o olhar
dos Movimentos Sociais do Campo, se constitui como uma possibilidade de
fazer a luta política, forjando a formação dos “sem terrinha” como sujeito social
que seja capaz de transformar a realidade.
Imagem 01 – Visão frontal da E.M.E.F Roberto Remigi. Fonte: Pesquisa de Campo
(2016)

Nos últimos anos, os debates de Educação do Campo instigam as


pesquisas acolherem a diversidade de sujeitos e da própria condição de
território do MST, onde garantem sua reprodução social neste movimento. Daí
se dá a compreensão do campo como espaço de produção e reprodução da
vida, do trabalho, de novas relações com a natureza, da produção da cultura.
É sob essa ótica que o texto de Fernandes (apud MOLINA, 2006, p.11),
faz uma recuperação da história recente da construção do conceito Educação
do Campo e discorre sobre as categorias centrais para o aprofundamento de
seus paradigmas: espaço e território.
De acordo com Molina “Educação, cultura, produção, trabalho, infra-
estrutura, organização política, mercados são relações sociais constituintes das
dimensões. São concomitantemente interativas e completivas”. Ou seja, elas
não existem em separado. Educação não existe fora do território, assim com a
cultura, a economia e todas as outras dimensões.
O Assentamento João Batista II do MST busca romper com leituras
fragmentadas fora da realidade e construir olhares que captem sua
complexidade, propondo práticas educacionais constituintes das dimensões
essências da reprodução da vida. Este é um dos desafios da Educação do
Campo: provocar rupturas em interpretações, tal como é o território rural.

Conclusões
A análise do perfil da população estudada reforça o argumento de que
os assentados vêm possibilitando o acesso à propriedade da terra para a
população historicamente excluída. A diversidade é fundamental para a
emancipação social, pois quanto mais houver a pluralidade de projetos
coletivos para a educação, mais aumentam as possibilidades de alternativas do
capitalismo. No entanto, esses projetos precisam se articular de modo não
hierárquico em função de objetivos comuns. Do ponto de vista do
conhecimento que os fundamenta, não se pode cair na armadilha de que uma
teoria geral irá dar conta da aproximação da realidade, por isso, nem uma
teoria política nem pedagógica pode dar conta da heterogeneidade do
complexo de relações que há no campo.
O assentamento, por sua vez, também é um novo espaço social que
está em constante transformação. É nele que o assentado constrói diversas
alternativas de sobrevivência para manter-se na terra, na maioria das vezes,
produzindo a lavoura de subsistência e comercializando o excedente de
produção. Entre o espaço físico e o espaço social não há separação, pois
“entre eles há várias interseções e as constantes relações dialéticas que
caracterizam a totalidade da existência humana” (WHITAKER; FIAMENGUI,
1995, p. 65). Nesse espaço, ocorrem também as diversas formas de
sociabilidade, as quais são responsáveis em produzir as relações sociais.
Trata-se de algo mais amplo do que afirmar e exaltar os muitos
saberes que têm os camponeses. Está em causa parte da crise paradigmática
da ciência atual, que ignora outras formas de racionalidade, deslegitimando e
marginalizando outras formas de saber e de vida, que afrontam a lógica da
acumulação.

Referências bibliográficas:

CORTELLA, Mário Sergio. A escola e o conhecimento: fundamentos


epistemológicos e políticos. 14. Ed., São Paulo, Cortez, 2011.

COLLARES, Darli. Epistemologia genética e pesquisa docente: estudo das ações


no contexto escolar. Lisboa: Instituto Piaget, 2003.

MOLINA, Mônica Castagna. Educação do Campo e Pesquisa: questões para


reflexão. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2006.

MACHADO, Vitor. O Movimento Sem Terra e a educação escolar: a construção de


uma proposta pedagógica para além dos muros da escola. Aprovado em: 9 de
novembro de 2011.
WHITAKER, Dulce Consuelo Andreata; FIAMENGUE, Elis Cristina. Assentamentos
de reforma agrária: novos atores e novos espaços sociais no campo. Retratos de
Assentamento, NUPEDOR, ano II, n.2, 1995.
Refletindo sobre território e educação quilombola
Reflecting on quilombola territory and education

MASCARENHAS, Carlos1; LOPES, Carla2; MASCARENHAS, Mayre3.


Resumo

Examinamos a relação entre território e educação quilombola. Consideramos


educação como política territorial para quilombolas no espaço agrário amazônico.
Focalizamos uma situação empírica, o quilombo de África e Laranjituba no município
de Abaetetuba (PA). O objetivo é mostrar como essas políticas desconsideram
educação e território como indissociáveis e fundamentais para modificar as condições
precárias de existência. Utilizamos metodologias como revisão bibliográfica,
entrevistas e questionários com perguntas semiestruturadas. As políticas educacionais
ignoraram as experiências dessas populações e impediram o ingresso em níveis
elevados de escolaridade.

Palavras-chave: Política pública; Escolaridade; espaço areal.

Abstract: We examine the relationship between territory and quilombola education.


We consider education as a territorial policy for quilombolas in the Amazonian agrarian
space. We focused on an empirical situation, the quilombo of Africa and Laranjituba in
the municipality of Abaetetuba (PA). The objective is to show how these policies
disregard education and territory as inseparable and fundamental to modify the
precarious conditions of existence. We used methodologies such as bibliographic
review, interviews and questionnaires with semi-structured questions. Educational
policies ignored the experiences of these populations and prevented them from
entering high levels of schooling.

Keywords: Public policy; Schooling; Areal space.

Introdução
O planejamento das políticas educacionais e sua execução nos territórios
quilombolas não contribui para a superação da dificuldade de acesso,
permanência e respeito às singularidades culturais. As escolas quilombolas

1
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Geografia – PPGEO/UFPA. Pesquisador do
EDUQ/UEPA. E-mail: profgeografiacarlos@hotmail.com
2
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Geografia - PPGEO/UFPA. Pesquisadora do
EDUQ/UEPA. E-mail: carlajoelma@gmail.com
3
Especialista em ERER/UFPA. Pesquisadora do EDUQ/UEPA. E-mail:
mayre.mascarenhas@hotmail.com
sofrem com a deterioração física e com processos educacionais alheios às
suas especificidades culturais. Nossa reflexão centra-se na relação entre
território e educação quilombola, isto é, a educação como política territorial
para quilombolas compromete as condições de existência do lugar. Elegemos o
quilombo de África e Laranjituba no município de Abaetetuba (PA) pela
situação de exclusão social, invisibilidade e desconhecimento do território
quanto às políticas de educação. O objetivo é mostrar como essas políticas
desconsideram a existência espacial quilombola.

Metodologia
África e Laranjituba localizam-se na zona rural do município de Abaetetuba
(PA), no quilômetro 68 da Rodovia Alça Viária, ramal Caeté. Definimos
metodologia por meio de revisão bibliográfica. Os dados primários foram
coletados utilizando questionários e entrevistas contendo perguntas
semiestruturadas com lideranças da Associação de Quilombos do Baixo Caeté
África e Laranjituba (AQUIBAC), com o coordenador do projeto sociocultural
Filhos do quilombo e com moradores.

Resultados e discussões
O quilombo possui um total de 193 habitantes, 82 em África e 111 em
Laranjituba, distribuídos em 72 famílias numa área de 1108,18 ha. Quanto às
condições de acesso à educação, duas escolas ajudam a compor a
configuração espacial do lugar. A Escola Municipal de Ensino Fundamental
Bento Lima de Oliveira em África e a Escola Municipal de Ensino Fundamental
Baixo Caeté em Laranjituba. A primeira oferece o ensino médio modular em
apenas um turno com professores lotados pelo Estado e o ensino fundamental
do 6º ao 9º ano que não funciona, deixando os alunos negros à margem do
direito à educação. O número elevado de falta dos professores ao longo do
mês prejudica a regularidade das aulas no ensino médio. Na segunda escola,
os processos educacionais não permitem a realização do reconhecimento de
sua cultura, pois não há articulação entre conhecimento escolar e
conhecimentos quilombolas. Para Freire (1989, p 13), “as palavras com que
organizar o programa da alfabetização deveriam vir do universo vocabular dos
grupos populares, expressando a sua real linguagem, os seus anseios, as suas
inquietações, as suas reivindicações, os seus sonhos”. Observe o gráfico 1.

Gráfico 1. Escolaridade em África e Laranjituba (2016)


Fonte: Organizado pelos autores, Out/2016. Pesquisa de campo.

Notem que os dados demonstram fortes desigualdades acerca da


realização educacional no lugar. Analisando a escolaridade, observamos que
embora haja uma baixa taxa de analfabetismo, 3 pessoas (1%), é elevada a
taxa do nível fundamental incompleto, 90% do total, isto é, são 173 com
baixíssima escolaridade. Isso nos permite afirma que a forma de pensar o
espaço nas políticas educacionais elimina a existência territorial quilombola. A
noção abstrata do espaço impera nas políticas, isto é, “espaço é forma pura”
(LEFEBVRE, 2016, p.41).
Ultrapassar as barreiras do ensino fundamental para médio e deste para o
superior se torna muito difícil, pois os dados mostram que 5% (9 moradores) e
1% (2 moradores) respectivamente possuem ensino médio completo e
incompleto. A taxa do nível superior completo representa 1% (2 moradores) e
superior incompleto 2% (4 moradores). Mesmo com as políticas de cotas,
acesso ao ensino superior, o ingresso e a permanência nos níveis fundamental
e médio torna-se bastante precário, impedindo a progressão aos níveis
educacionais mais elevados. Esses dados nos permitem afirmar que política de
educação para o quilombo considera o espaço como simples continente vazio
de conteúdo social, de relações concretas. Nesta perspectiva,

“O espaço abstrato funciona ‘objetalmente’ como conjunto de


coisas-signos, com suas relações formais: o vidro e a pedra, o
cimento e o aço, os ângulos e as curvas, os plenos e os vazios.
Esse espaço formal e quantificado nega as diferenças, as que
provêm da natureza e do tempo (histórico), assim como as
oriundas do corpo, idades, sexos, etnias” (LEFEBVRE, 2006,
p.48).

Os dados nos ajudam a pensar aspectos definidores do processo de


reprodução das desigualdades no lugar, uma vez que crianças e jovens
matriculados no ensino regular possibilitam maiores oportunidades de
formação e de permanecer por mais tempo estudando. Sem uma educação
diferenciada quilombola (ARRUTI, 1999) e os alunos fora da escola, diminuem
sensivelmente as oportunidades de retorno e quanto mais a idade avança, o
regresso é remoto. Significa dizer que a política educacional para quilombos
concebe o espaço como puro e vazio, esquecendo as práticas sociais do lugar.
Trata-se do espaço concebido pelos planejadores municipais e estaduais das
políticas que promovem o esvaziamento das práticas espaciais quilombolas e
ignoram a educação, “esta dimensão territorial é espaço essencial para o
desenvolvimento de seus territórios” (FERNANDES, 2006, p. 30).
Preocupados em “pensar a educação quilombola com base nos contextos de
uso do território, da etnicidade e da memória presentes nas narrativas dos
sujeitos...” (CARRIL, 2017, p. 555), as lideranças fortaleceram as lutas pela
identidade cultural nas escolas e combateram políticas territoriais de educação
que desconsideram as suas especificidades acionando a defensoria pública
para cobrar do Estado, da prefeitura e ainda convocaram reunião para discutir
problemas que os afligem para fazer valer a consulta prévia sobre qualquer
mudança que afete o seu território.

Conclusões
A insuficiência de políticas educacionais assumiu uma dimensão geográfica
muito grave, o que colocou em risco a existência quilombola. Representou o
esquecimento das práticas e experiências territoriais e do espaço vivido
impedindo a progressão a níveis educacionais mais elevados, daí as
baixíssimas taxas de escolarização que fragilizaram a segurança territorial. As
lideranças se posicionaram para romper com essa sofrida trajetória de negação
dos seus direitos.

Referências bibliográficas:
ARRUTI, José Maurício Andion. “Políticas Públicas para quilombos: terra,
saúde e educação”. In: Caminhos Convergentes - Estado e Sociedade na
Superação das desigualdades Raciais no Brasil, edited by Marilene de Paula e
Rosana Heringer. e ed 1. Vol. 1, 75-110. Rio de Janeiro: Fundação Henrich
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em:http://www.boelllatinoamerica.org/downloads/caminhosconvergentes_03_jo
se_mauricio.pdf. Acesso em: 25 set. 2016.
CARRIL, Lourdes de Fátima Bezerra. Os desafios da educação quilombola no
Brasil: o território como contexto e texto. Rev. Bras. Educ. [online]. 2017,
vol.22, n.69, pp.539-564. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v22n69/1413-2478-rbedu-22-69-0539.pdf.
Acesso em: 02 mai. 2017.
FERNANDES, Bernardo Mançano. Os Campos da Pesquisa em Educação do
Campo: espaços e territórios como categorias essenciais. In: MOLINA, Mônica
Castagna. Educação do Campo e Pesquisa: questões para reflexão. Brasília:
Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2006. Disponível em:
http://www.reformaagrariaemdados.org.br/sites/default/files/Educaçao.pdf.
Acesso em: 15 mai. 2017.
FREIRE, P. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam.
23. ed. São Paulo: Cortez, 1989.
LEFEBVRE, Henri. A Produção do Espaço. Trad. Doralice Barros Pereira e
Sérgio Martins do original: La production de l’espace. 4ª ed. Paris: Éditions
Anthropos, [2000].
Primeira versão: fev. 2006. Disponível em: <http://www.mom.arq.ufmg.
br/mom/arq_interface/1a_aula/A_producao_do_espaco.pdf>. Acesso em: 03
jan. 2017.
______. Espaço e política: direito à cidade II. Tradução de Margarida M. de
Andrade, Pedro H. Denski e Sérgio Martins. Belo Horizonte: Editora UFMG,
2016.
Pedagogia da alternância e características da Casa Escola da Pesca, Ilha
de Caratateua/Outeiro, Pará
Pedagogy of alternation and characteristics of the School of Fisheries, Caratateua
Island / Outeiro, Pará

SOUZA, Yslaine Soraya Rocha de1; ALMEIDA, Ruth Helena Cristo2, MARTINS,
Alexandre Barra3
1 UFRA, yslaine_sol@yahoo.com.br; 2 UFRA, ruth.almeida@ufra.edu.br, 3 UFRA,
alexandre.barra@outlook.com

Resumo: O trabalho apresenta o processo de escolarização promovido pela Casa


Escola da Pesca, vinculada à Fundação Centro de Referência em Educação
Ambiental Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira (Prefeitura de Belém), situada na
Ilha de Caratateua (Outeiro) em Belém do Pará. Para isso foram utilizados como base
o Projeto Político Pedagógico da escola (ano 2014), referencias bibliográficas, roteiro
de entrevistas, bem como como a vivência na instituição. Como resultados destaca-se
que a Casa Escola contempla o ensino de Jovens e Adultos que estão fora da idade
escolar regular, fazendo uso da Pedagogia da Alternância juntamente com uma
Educação Técnica e Profissionalizante. E, que a prática educativa de Pedagogia da
Alternância é uma alternativa viável para a promoção da solução das problemáticas
que envolvem a educação das comunidades que necessitam de escola por não terem
condições de ir e vir todos os dias para cidade em busca de ensino médio.

Palavras-chave: Comunidade Ribeirinha; Educação de Jovens e Adultos; Educação


Profissional e Técnica; Pedagogia da Alternância.

Abstract: The work presents the schooling process promoted by the School of
Fisheries, linked to the Foundation Center of Reference in Environmental Education
Forest School Professor Eidorfe Moreira (City Hall of Belém), located in the Island of
Caratateua (Outeiro) in Belém do Pará. Used as basis the school's Political Project
Pedagogical (year 2014), bibliographical references, interview script, as well as how to
live in the institution. As a result, it is worth noting that the Escola Escola contemplates
the teaching of young people and adults who are out of regular school age, making use
of the Alternation Pedagogy along with a Technical and Vocational Education. And,
that the educational practice of Pedagogy of Alternation is a viable alternative for the
promotion of the solution of the problems that involve the education of the communities
that need school because they do not have the conditions to come and go every day to
city in search of high school.

Keywords: Community Ribeirinha; Youth and Adult Education; Professional and


Technical Education; Pedagogy of Alternation.

Introdução
Segundo Palitot (2007) a Pedagogia da Alternância busca não se
desvincular da realidade do meio rural. É uma proposta de educação que
permite a vivência acadêmica e do dia a dia na contrução do saber. Além dos
mais, busca respostas aos problemas existentes neste rural tendo a educação
como instrumento de mudança da realidade social.

Coadunando com esta proposta o artigo nº37 da LDB (Lei de diretrizes e Bases
da Educação Nacional) nº 9394/96 diz que a educação de jovens e adultos
será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no
ensino fundamental e médio na idade própria e que a educação de jovens e
adultos deverá articular-se, preferencialmente, com a educação profissional.

Assim, o trabalho apresenta o processo de escolarização promovido pela Casa


Escola da Pesca (CEPE) onde a mesma busca cumprir o papel de fornecer a
esses jovens e adultos a oportunidade a educação juntamente com a
qualificação profissional e técnica.

Metodologia
Este trabalho foi desenvolvido na Casa Escola da Pesca, localizada na Ilha de
Caratateua (Outeiro) em Belém-PA. A escola foi fundada em 17 de Abril de
2008 e faz parte do Sistema Municipal de Educação, que se encontra vinculada
a Fundação Centro de Referência em Educação Ambiental Escola Bosque
Professor Eidorfe Moreira (FUNBOSQUE). Oferta o Ensino Fundamental e
Ensino Médio na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA)
integrado a qualificação profissional e técnica em Pesca e Aquicultura (PPP,
2014). Figura 1.
Figura 1: Fachada da Casa Escola da Pesca , 2017.

Para o desenvolvimento deste trabalho, foi utilizado como base o


Projeto Político Pedagógico da escola (ano 2014), referencias bibliográficas,
roteiro de entrevistas, bem como como a vivência na instituição. No
desenvolvimento deste trabalho foi utilizado, métodos e técnicas de pesquisa
como a observação participante, conhecendo a estrutura da instituição e seu
funcionamento e as relações sociais que ali se realizam.

Resultados e discussões
A Casa Escola da Pesca atende ao Ensino Fundamental, o qual forma
profissionais habilitados em Pesca e Aquicultura, e Ensino Médio Integrado na
modalidade EJA, o qual forma Técnicos em Recursos Pesqueiros, onde
oferece ensino de tempo integral em sistema de semi-internato fazendo uso da
Pedagogia de Alternância (PA).

Possui duas turmas, uma de meninas e outra de meninos, sendo que cada
turma fica 15 (quinze) dias na escola, o qual contabiliza apenas os dias úteis,
neste caso apenas 5 (cinco) dias da semana (segunda-feira à sexta-feira) e aos
finais de semana os alunos retornam para suas residências, o que totaliza 3
semanas. Após essa turma ficar essas 3 semanas, vem uma outra turma que
fica sob o mesmo regime e por igual período e ao final desse período a
primeira turma retorna à escola. Com isso, a escola tem um método de gestão
de matricula em que divide por sexo os alunos que irão ficar nos dormitórios.
Os professores e membros da coordenação da instituição realizam a prática
de visita aos alunos em suas residências no período que eles não estão na
escola, o que é chamado de Visitas de Alternância (VA), onde a escola tem a
oportunidade de conhecer a realidade dos alunos e solucionar possíveis
dúvidas do plano de estudo (PPP, 2014).
Segundo Souza (2015) na região das Ilhas de Belém há pouca oferta
educacional para a juventude, inclusive há escassez de escolas de ensino
médio, e a CEPE vem justamente de encontro com essa realidade. A escola
possui uma embarcação que vai buscar e deixar seus alunos nas ilhas
próximas, alguns alunos que residem em Mosqueiro e Salinas ou mais distante
se deslocam de ônibus para a escola. Existem ainda os alunos moradores de
bairros da região metropolitana de Belém (Tabela 1).

Tabela 01 – Onde reside os estudantes na Casa Escola da Pesca (Ano: 2016)


Localidade Quantidade Porcentagem
Outeiro 7 19,44 %
Paquetá 4 11,11 %
Mosqueiro 2 5,56 %
Jutuba 5 13,89 %
Cotijuba 3 8,33 %
Onças 1 2,78 %
Cumbu 1 2,78 %
Caiçara 1 2,78 %
Mucura 1 2,78 %
Arrapiranga 1 2,78 %
Total dos estudantes das ilhas 26 72,22 %
Tapanã 3 8,33 %
Icoaraci 4 11,11 %
Telegrafo 1 2,78 %
Água Boa 1 2,78 %
Total de estudantes dos bairros 9 25,00 %
Santa Barbara 1 2,78 %
Total de estudantes de outras cidades 1 2,78 %
TOTAL DE ESTUDANTES 36 100,00 %
Fonte: Análise dos questionários, organização da Autora.

Para Queiroz (2004), as escolas que trabalham com a educação do campo,


estão sendo desafiadas a investir mais na pesquisa, no estudo, na socialização
de conhecimentos vividos e sistematizados, tornando-se assim o centro de
formação dos agricultores familiares, sendo o caso da CEPE, centro de
formação para ribeirinhos com a pesca, aquicultura e tecnologia do pescado.
Fazendo uso desses pressupostos, a PA foi o meio escolhido para desenvolver
uma educação que contemple formação adequada e direcionada ao público em
questão, pois os estudantes da CEPE em sua maioria necessitam trabalhar
para sustentar suas famílias ou colaborar com as despesas do lar (Tabela 1).

TABELA 1: O Projeto Político Pedagógico da Casa Escola da Pesca (2014)

Fomentar a Educação ambiental com ênfase na pesca e aquicultura em seu sistema


a) escolar para atender à comunidade ribeirinha de Belém;
b) Desenvolver práticas educativas que envolvam pesquisas e socialização de atividades;
c) Promover viagens e visitas de estudo, como princípio científico e educativo na busca de
alternativas viáveis à formação profissional; Desenvolver programas com a comunidade
nas questões ambientais, dando ênfase à sistemas alternativos de manejo da pesca e
aquicultura com enfoque no desenvolvimento sustentável
d) Realizar convênios de cooperação e colaboração com instituições públicas e privadas
para realizar visitas técnicas e/ou estágios supervisionados;
e) Proporcionar atividades práticas de beneficiamento do pescado, visando o
perfeiçoamento técnico em recurso pesqueiro;
f) Construir o projeto profissional de vida do aluno (PPVA) com bases nas atividades
educativas desenvolvidas nos dois anos do Ensino Médio; f) Atuar no monitoramento da
qualidade de manejo da pesca e da aquicultura incluindo-se o monitoramento das ilhas
que será efetuado em consonância com a Prefeitura Municipal de Belém.
g) Organizar ações profissionais conforme orientação do Catálogo Nacional de Cursos
Técnicos para formação de técnicos em recursos pesqueiros;
h) Preparar tanques e viveiros para o cultivo das espécies, assim como realizar ações de
controle da qualidade de água e do solo.
i) Realizar a preparação, oferta e ajuste da alimentação das espécies cultivadas,
acompanhando seu desenvolvimento e sanidade.
j) Processar e beneficiar o pescado para produção de alimentos dentro da cadeia produtiva

Conclusões
Das proposições contidas no PPP de 2014, evidencia-se na escola a realização
de todas dando ênfase na preparação técnica e profissionalizante dos alunos.
E, a prática educativa de Pedagogia da Alternância é uma alternativa viável
para a promoção da solução das problemáticas que envolvem a educação das
comunidades que necessitam de escola que ofereça infraestrutura para abrigá-
los.

Referências bibliográficas

PALITOT, Maria de Fátima de Souza. Pedagogia da Alternância: estudo exploratório


na Escola Rural de Massaroca (ERUM). 2007. 100 f. Dissertação (Magister Scientiae)
– Universidade Federal de Viçosa. Viçosa – MG, 2007.
PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO (PPP). Escola Municipal Casa Escola da Pesca,
Ilha de Caratateua (Belém-Pará), 2014.
QUEIROZ; J. B. de. Impactos da Alternância contados pelos sujeitos dos
CEFFAs. Revista Formação por Alternância, v. 2, p. 91-96, 2006.
SOUZA, N. S. D. de. Na Belém Ribeirinha, A Juventude e o Direito à
Escolarização com Educação Profissional: Análise da Experiência da Casa
Escola da Pesca. Tese de Doutorado da Universidade Federal do Pará. Belém-PA,
2015.
Wuaran: a construção histórica e identitária da etnia Sateré-Mawé

Wuaran: a construção histórica e identitária da etnia Sateré-Mawé

MACHADO, Rômulo Ribeiro1; SERRA, Vilma de Jesus de Almeida2;; GOMES, Izaquiel


Mateus Macedo3; ESTEVES, Carlos Dinely4

1 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas, campus Maués,


romulo.machado@ifam.edu.br; 2 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Amazonas, campus Maués, vilma.serra@ifam.edu.br; 3 Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia do Amazonas, campus Maués, izaquiel.mateus@ifam.edu.br; 4 Secretaria de
Estado de Educação e Qualidade do Ensino do Estado do Amazonas,
vilma_serra_@hotmail.com

Resumo
Este trabalho tem como objetivo descrever às representações históricas dadas a
identidade da etnia Sateré-Mawé por parte de pesquisadores. Esse povo que foi o
primeiro a domesticar o fruto do guaraná. Este estudo se justifica na sua busca por
alcançar uma compreensão daquilo que representa a realidade Sateré-Mawé. Foi
adotada uma metodologia de investigação qualitativa, a partir de uma pesquisa
exploratória de cunho bibliográfico e documental. Este trabalho mostrou que esta etnia
tem grande valor cultural, histórico, econômico e social para Maués denominada
“Terra do Guaraná”.

Palavras-chave: Identidade; guaraná; produto agrícola.

Abstract
Este trabalho tem como objetivo descrever às representações históricas dadas a
identidade da etnia Sateré-Mawé por parte de pesquisadores. Esse povo que foi o
primeiro a domesticar o fruto do guaraná. Este estudo se justifica na sua busca por
alcançar uma compreensão daquilo que representa a realidade Sateré-Mawé. Foi
adotada uma metodologia de investigação qualitativa, a partir de uma pesquisa
exploratória de cunho bibliográfico e documental. Este trabalho mostrou que esta etnia
tem grande valor cultural, histórico, econômico e social para Maués denominada
“Terra do Guaraná”.

Keywords: Identity; Guarana; agricultural product.

Introdução

Este trabalho tem como objetivo descrever às representações históricas dadas


a identidade da etnia Sateré-Mawé por parte de pesquisadores. Segundo
ESTEVES (2008), este povo que cultiva o guaraná e que o tem como
representação simbólica de sua realidade. A crença que este fruto fornece o
poder e a força de sua etnia e, principalmente, a construção de sua identidade
no que se pode acreditar como povo e como cultura, que habita a área
indígena dos rios Marau /Andirá em Maués e Barreirinha, Waicurapá no
município de Parintins.

Em seus estudos ESTEVES (2008), afirma que a ocupação territorial acontece


desde o século XVII, entre o Rio Tapajós e Rio madeira, percebe-se que o
cultivo do guaraná servia como meio de identificar os Sateré-Mawé. Este
produto é algo que expressa a construção etnohistórica do grupo, não sendo,
assim, por acaso que, atualmente, Maués é o terceiro e maior produtor
nacional do guaraná, uma planta nativa da região Amazônica e sua
domesticação foi e é, fortemente, realizada pelos Sateré-Mawé. O processo de
ocupação de região se reflete nas palavras de Teixeira, quando ele afirma que:

Os sateré-Mawé se autodenominam “os filhos do guaraná”, tendo


essa planta grande importância para organização social e econômica
da população. São eles os inventores da cultura do guaraná, já que
domesticaram uma trepadeira silvestre e criaram a técnica para seu
beneficiamento, tornando possível que muitos conheçam e
consumam o guaraná no Brasil e no exterior. (TEIXEIRA, 2005,
p.130)

Sendo assim, este trabalho se justifica na medida em que pode ser mais uma
fonte de estudo. Haja vista que, sempre é salutar fazer uma releitura dos
trabalhos desenvolvidos sobre a história de um povo, que aqui esta
representado pela etnia Sateré-Mawé, e tecer um diálogo dessa história com a
sua identidade étnico-racial. Identidade essa que é representada pelo guaraná,
um produto agrícola muito importante para a economia local e que tem forte
presença no imaginário social da região.
Metodologia

Para alcançar o resultado da pesquisa, seguiu-se a metodologia de


investigação qualitativa a partir de estudos culturais (BOGDAN e BIKLEN,
1991, p.61) mediante uma pesquisa exploratória de cunho bibliográfico e
documental.

Resultados e discussões

Observou-se que as reflexões dos pesquisadores sobre o grupo étnico Sateré-


Mawé iniciam a partir de 1691 (SILVA, 2004, p. 81). Nesse época eles
habitavam a vasta região da Mundurucânia, que significa “País dos Guerreiros
Mundurucus”. Região compreendida entre os rios Amazonas, Madeira e
Tapajós, local das “terras pretas”, propicias as concentrações populacionais e
atividades agrícolas (RIBEIRO, 2000, p. 66). Região de representação
panteísta do Noçoquém ou Nusoken, onde encontravam todos os tipos de
alimentos, plantas e animais, segundo o Mito do Guaraná (PEREIRA, 2003, p.
22). Ao longo dos anos, as guerras, moléstias, prolongadas estiagens ou
calamitosas inundações influenciaram os deslocamentos dos Maués para a
localização atual.

Na localização atual, este povo continuou com a sua organização social e


econômica, centrada na produção do guaraná, como descrita a seguir, “Alguns
se especializaram em certas atividades econômicas, como os Mawé, que se
tornaram conhecidos pela alta qualidade do guaraná que cultivavam”
(RIBEIRO,1996, p.57). Nos séculos XVIII e XIX eles foram vítimas de um
processo que não levava em conta a sua identidade, com o objetivo de limitar
sua expansão e sobrevivência. Eles, ainda lutaram contra atraimentos,
descimentos, catequese, guerras ofensivas, criando e reiterando práticas e
estereótipos pejorativos (SILVA, 2004, P. 153).
Em 1989, foi criado o Conselho Geral do Povo Sateré-Mawé (CGPSM),
expressão política da união das Nações (yvãnia) Mawé, instrumento
sociocomunitário do povo Sateré-Mawé. Entre os anos de 1982 e 1986
(RIBEIRO, 2000, p. 39), conseguiram homologar demarcar seu território.
Demarcaram 788.528 hectares, área compreendida entre os vales dos Rios
Andirá e Maués, situadas entre os Estados do Amazonas e do Pará. Nessa
região, Eles fazem roçados de mandioca, milho, arroz, cará, batata-doce,
feijão, favas, fumo, algodão (RIBEIRO, 2000, p. 39), tubérculos utilizados para
vários fins. Mas, o seu principal produto agrícola é o guaraná, que possui toda
uma simbologia e um tratamento ritualístico devido a sua importância
identitária.

Waranan é o nome dado pelos Sateré-Mawé ao guaraná e paullinia cupana


seu nome científico. Eles o consomem coletivamente, sob nome de sapó, com
a crença mistificada no fruto de que sua ingestão tem o intuito de iniciar
diálogos, favorecer os negócios, animar o ser humano e estimular seu trabalho.
O cultivo do guaraná ocorre de duas maneiras: o beneficiamento nativo feito
pelos Sateré-Mawé, considerado de melhor qualidade tanto para o seu próprio
consumo quanto para o comércio, alcançando elevado preço. O segundo, é
chamado, guaraná Luséia, produzido em maior escala, sem as técnicas
tradicionais é considerado de qualidade inferior e, portanto, de menor valor
comercial.

Conclusão

Concluímos, que o guaraná é a construção da identidade desta etnia. Para os


pesquisadores esta ideia está ligada a cultura local que, a quase 40 anos,
acontece “A Festa do Guaraná”, um dos maiores eventos culturais do Estado
que propaga a imagem de Maués como a “Terra do Guaraná”. Neste evento, o
ponto culminante é a apresentação do Mito e Lenda do Guaraná. Esta festa
promove uma feira de agronegócios com objetivo de desenvolver
economicamente o município. Portanto, mesmo após quatro séculos de
contatos com os não-índios, eles ainda preservam sua língua e organização
social. Os Sateré-Mawé, hoje, possui a população de aproximadamente 11000
indígenas que ainda mantém sua cultura, histórias e tradições. Mantendo-se a
sua identidade étnica e sua tradição no plantio guaraná.

Referências bibliográficas

BOGDAN, Robert; BIKLEN, Sari. Investigação qualitativa em Educação: uma


introdução a teoria e aos métodos. Portugal: Porto Editora, 1991.

ESTEVES, Carlos Dinelli. PRÁTICA PEDAGÓGICA E CONSTRUÇÃO DE


IDENTIDADE SATERÉ-MAWÉ: Escola Wenteru - ponte entre o passado e o
presente. 2008. 137 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Educação, Faced,
Universidade Federal do Amazonas, Manaus, 2008. Cap. 3. CD-ROM.

PEREIRA, Nunes. Os índios Maués. 2ª ed. Ver. Manaus: Editora Valer e


Governo do Estado do Amazonas, 2003.

RIBEIRO, Berta G. O índio na cultura. Rio de Janeiro;1987. 3ª edição, 2000.

RIBEIRO, Darcy. Os índios e a civilização: a integração das populações


indígenas no Brasil Moderno. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

SILVA, Marilene Corrêa da. O Paiz do Amazonas. Manaus: Editora Valer.


Governo do Estado do Amazonas. Uninorte, 2004.

TEXEIRA, Pery. Sateré-Mawé: Retratos de um povo indígena. Manaus:


EDUA, 2005.v. 01, n.01, 2015. (ECO-REBEL). P. 30-35.
Etnovariedades de Manihot esculenta (Cranz) cultivadas por agricultores
familiares de Tefé

Ethnovarieties of Manihot esculenta (Cranz) cultivated by smallholder farmers of


Tefé

AVILA, Julia Vieira da Cunha1; RODRIGUES, Jacson1; SANTOS, Jéssica Poliane


Gomes dos1; STEWARD, Angela2

1 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, julia.avila@posgrad.ufsc.br;


jacson@mamiraua.org.br; jessica@mamiraua.org.br
2. Núcleo de Ciências Agrárias e Desenvolvimento Rural (NCADR) da Universidade
Federal do Pará, angelasteward@gmail.com

Resumo

Na Amazônia, a mandioca é um produto de relevante papel na subsistência e renda


das famílias, tanto em meio rural, como urbano. Esse trabalho objetiva documentar as
etnovariedades de Manihot esculenta cultivadas por agricultores familiares da região
de Tefé (AM). Foram realizadas 8 entrevistas com agricultores familiares que
comercializam seus produtos na Feira do Produtor, Tefé. Todas os agricultores
relataram cultivar apenas uma etnovariedade de mandioca e uma de macaxeira. Tal
aspecto aumenta a suscetibilidade desses na proteção contra infestações por pragas e
poderia significar uma baixa resistência a mudanças climáticas. Nesse sentido, o
resultado pode representar uma baixa estabilidade produtiva a longo prazo, que
geraria consequências tanto na segurança nutricional e alimentar dos agricultores
como na economia doméstica. Assim, ações que ampliem a agrobiodiversidade local,
como feiras de troca com agricultores de outras regiões, se tornam ações de grande
potencial e importância.
Palavras-chave: Amazônia; agrobiodiversidade; mandioca; agricultura familiar.

Abstract: In the Amazon, cassava plays a significant role in providing subsistence and
generating income for families, both in rural and urban areas. This work aims to
document the ethnovarieties of Manihot esculenta cultivated by smallholders in the
Tefé region (AM). Eight interviews were conducted with traditional farmers who market
their products at the Farmer’s Market in Tefé. All families mentioned cultivating only
one ethno-variety of manioc and one of sweet manioc. This low varietal diversity
increases susceptibility to pest infestation and likely implies a low resistance to climate
change. In this sense, results could have consequences both for smallholders’
nutritional and food security. Thus, actions that expand local agrobiodiversity, such as
trading fairs are activities of great potential and importance in the region to reduce such
fragility posed by low varietal diversity.

Keywords: Amazon; Agrobiodiversity; manioc; smallholder farmers.

Introdução
A agricultura familiar possui relevante papel na alimentação da
população brasileira, em que, 60% dos alimentos que chegam à mesa do
consumidor, são provenientes dessa. (MMA, 2015a). Os plantios realizados na
agricultura familiar sinalizam a diversidade dos sistemas produtivos. Dentre os
produtos provenientes da agricultura familiar há destaque, em primeiro lugar,
para a mandioca (87%), seguida do feijão (70%), milho (46%) e do café (34%)
(MMA, 2015b).

Seguindo tal destaque, na Amazônia, a farinha de mandioca e a


macaxeira são produtos de relevante papel na subsistência das famílias, tanto
em meio rural, como urbano, onde seu cultivo também se destaca como fonte
de renda (ADAMS et al. 2009; LIMA, STEWARD & RICHERS, 2012).

Nesse contexto, as etnovariedades de Manihot esculenta vem sendo


investigadas por pesquisadores, tanto com agricultores de populações
tradicionais como com agricultores familiares, considerando que a
agrobiodiversidade pode conferir maior estabilidade produtiva, redução dos
riscos de incidência de pragas e doenças (ALTIERI, 1999) e ampliar a
adaptação do sistema agrícola em um contexto de mudanças climáticas (secas
e cheias extremas, por exemplo) (SANTILLI, 2009).

As denominações populares das variedades de mandioca cultivadas


podem ser chamadas de “etnovariedades”, por serem consideradas um artefato
cultural das comunidades e por apresentarem diferenças fenotípicas
reconhecíveis pelos agricultores. Quanto a essas denominações, pode tanto
haver variação genética entre os indivíduos identificados por um mesmo nome,
quanto o mesmo nome ser aplicado para variedades diferentes (PERONI &
MARTINS, 2000).

Considerando a importância da agrobiodiversidade, bem como de


contribuir para sua manutenção e ampliação dessa, esse trabalho objetiva
investigar as etnovariedades de Manihot esculenta cultivadas por agricultores
familiares da região de Tefé (AM- Brasil) quem tem a sua produção como
principal atividade produtiva, gerando renda e alimentos.

Metodologia
Área de Estudo
O presente trabalho ocorreu na cidade de Tefé, localizada cerca de
659.220 km da capital Manaus no estado do Amazonas, cuja população
estimada é de 62.662 habitantes, com uma área territorial de 23.692 km² (IBGE
2015). Essa cidade fica localizada no Médio Solimões, em frente ao lago Tefé.

No município ocorre mensalmente a “Feira da Agricultura Familiar”,


promovida por iniciativa dos próprios agricultores com apoio da prefeitura e
outros parceiros, para ser um espaço de comercialização direta entre o
agricultor familiar e o consumidor. Durante 3 dias ao mês, agricultores da
Município de Tefé (comunidades da Estrada da Emade e Estrada da Agrovila,
comunidades do Lago de Tefé, da Floresta Nacional de Tefé e comunidades do
Rio Tefé), do Município de Alvarães (comunidades Lago de Tefé) e do
Município de Maraã (comunidades da Reserva de Desenvolvimento
Sustentável Amanã), comercializam seus produtos no centro da cidade.

Coleta e análise de dados


A coleta de dados ocorreu na XVI Feira do Produtor, realizada em
setembro de 2016, onde foram entrevistados agricultores de Tefé, que cultivam
mandioca e/ou macaxeira e têm suas propriedades na Estrada da Emade, na
Estrada da Agrovila ou na cidade de Tefé. Durante a entrevista era levantado
quais variedades de Manihot esculenta estavam sendo cultivadas atualmente.
Tais localidades foram selecionadas, pois, posteriormente ao trabalho,
gostaríamos de coletar as etnovariedades com os agricultores em suas
propriedades, para futura exposição didática. Devido a falta de recursos, não
teríamos como viabilizar a coleta de materiais das outras regiões das quais
provém os agricultores.
Resultados e discussões
Ao total foram entrevistadas 8 famílias de agricultores. Todos os
agricultores cultivam tanto mandioca como macaxeira. A mandioca/macaxeira
comercializada é vendida tanto “in natura” como na forma de farinhas (farinha
tapioca, amarela, ova e ovinha), tucupi, goma, bolo, biju e povilho.

Além disso, outros produtos são comercializados por esses agricultores,


que variam conforme a época do ano, por exemplo: tucumã (Astrocaryum
aculeatum), pupunha (Bactris gasipaes), uichi (Endopleura uchi), abacaxi
(Ananas comosus), mari (Poraqueiba sericea), banana (Musa spp) (comprida,
pagovã, maçã e prata), coco (Cocos nucifera), cheiro verde (Petroselium
crispum e Allium fistulosum), pimenta (Capsicum spp) (cheiro e ardosa), limão
(Citrus spp), laranja (Citrus spp), tangerina (Citrus spp), maxixe (Cucumis
anguria), couve (Brassica oleracea), castanha da Amazônia (Bertholletia
excelsa), mel de abelha, pólens, óleo de copaíba (Copaifera langsdorffii) e
andiroba (Carapa guianensis), doces, poupas de frutas e outros.

Todas as famílias entrevistadas citaram cultivar apenas uma


etnovariedade de mandioca (denominada catombo) e uma de macaxeira
(chamada de macaxeira).

Apesar de, no momento, tais variedades estarem suprindo as demandas


dos agricultores e consumidores, no que se refere: a subsistência, produção de
excedente e de renda com a venda dos produtos, os sistemas agrícolas atuais
apresentam pouca variabilidade intraespecífica de mandioca e de macaxeira.
Tal aspecto aumenta a suscetibilidade desses na proteção contra
infestações por pragas e pode conferir baixa resistência a mudanças climáticas
(secas e cheias extremas) (SANTILLI, 2009), como vem ocorrendo na região.

Nesse sentido, a longo prazo, tal situação pode representar uma baixa
estabilidade produtiva, que geraria consequências tanto na segurança
nutricional e alimentar dos agricultores como em sua renda.

Conclusões
A partir da presente pesquisa identificamos que a diversidade de
mandioca e macaxeira cultivada pelos agricultores entrevistados é baixa,
possivelmente conferindo fragilidade aos sistemas agrícolas e a economia
doméstica.

Assim, ações que ampliem a agrobiodiversidade local, como feiras de


trocas, a nível local e regional, se tornam ações de grande potencial e
importância para aumentar diversidade na região e reduzir tal fragilidade.

Além disso, dialogar com os agricultores, a fim de esclarecer, sensibilizar


e divulgar a importância da agrobioversidade ser mantida nas roças, mesmo
que em menor abundância, mas representando um estoque genético das
variedades, pode contribuir para que seja conferida uma maior resiliência aos
sistemas agrícolas frente a mudanças a longo prazo.

Agradecimentos

Agradecemos aos agricultores familiares que gentilmente se dispuseram


a participar da pesquisa. Ao CNPq pela concessão da Bolsa de Capacitação
Institucional de Julia Ávila e ao BNDES pela concessão da bolsa de Jéssica
dos Santos.
Referências bibliográficas
ADAMS, C. et al. "Bread of the land: the invisibility of manioc in the Amazon."
Amazon Peasant Societies in a Changing Environment. Springer Netherlands,
2009. 281-305.

ALTIERI, M. A. The ecological role of biodiversity in agroecosystems.


Agriculture, Ecosystem and Environment. 74, 1999. p. 19-31.

LIMA, D. M.; STEWARD, A. M.; RICHERS, B.T. Trocas, experimentações e


preferencias: um estudo sobre a dinâmica da diversidade da mandioca no
médio Solimões, Amazonas. Mus. Para. Emílio Goeldi. Ciênc.
hum. vol.7 no.2 Belém 2012.

MMA (Ministério do Meio Ambiente) a Apoio à implementação do Programa de


educação ambiental e agricultura familiar nos territórios: volume 2 – Cenário
socioambiental rural brasileiro/Alex Barroso Bernal, Organizador. Brasília:
MMA, 2015. 68 p. ISBN 978-85-7738-210-1

_________________ b Apoio à implementação do Programa de educação


ambiental e agricultura familiar nos territórios: volume 1 – Educação ambiental
e agricultura familiar no Brasil: aspectos introdutórios/Alex Barroso Bernal,
Organizador. Brasília: MMA, 2015. 68 p.ISBN 978-85-7738-210-1

PERONI, N., MARTINS, P. S., E ANDO, A. Diversidade inter e intra-


específica e uso de análise multivariada para morfologia de mandioca
(Manihot esculenta Crantz): Um estudo de caso. Scientia Agricola. 56 (3), 1999.
p.587-595.

SANTILLI, J. Agrobiodiversidade e direitos dos agricultores 1. ed. São Paulo:


Peirópolis, 2009. 519 p.
Produção orgânica na agricultura familiar: importância para a segurança
alimentar e geração de renda
Organic production in family agriculture: importance for food security and
income generation

SANTANA, Luma Ingrid Cunha¹; SOUZA, Karoline de Kássia Reis de²; BELEZA,
Tatiana de Nazaré Moraes³; TEIXEIRA, Erika de Oliveira4; SOUSA, Allan Pereira de5,
ALMEIDA, Ruth Helena Cristo6.
2
¹Universidade Federal Rural da Amazônia, lumasantana123@gmail.com; Universidade
3
Federal Rural da Amazônia, karolineufra@hotmail.com; Universidade Federal Rural da
Amazônia, tatiana_beleza@yahoo.com.br; Universidade Federal Rural da Amazônia,
eriikateixeira@hotmail.com; Universidade Federal Rural da Amazônia,
6
jhonyallan1@hotmail.com; Universidade Federal Rural da Amazônia,
ruth.almeida@ufra.edu.br.

Grupo de Trabalho: 2

Resumo

Segurança alimentar e nutricional é a garantia ao acesso de alimentos básicos em


quantidade suficiente, que atenda a demanda populacional, e com qualidade,
possibilitando uma vida mais saudável. A agricultura familiar é uma das principais
responsáveis por assegurar o acesso a estes alimentos, tendo os alimentos orgânicos
como a sua produção fundamental, os quais possuem inúmeros benefícios para quem
os consomem, promovendo uma vida mais saudável. Objetivou-se analisar a
relevância da produção orgânica familiar na segurança alimentar e na geração de
renda. Este trabalho baseou-se na aplicação de 8 questionários, os quais continham
24 perguntas, aos produtores orgânicos da agricultura familiar da Associação Pará
Orgânico. Estes demonstraram que 75% dos produtores tinham conhecimento sobre o
termo “segurança alimentar”, porém não souberam explicar o conceito de forma
precisa e que a principal atividade que contribue para a geração de renda é a
agricultura orgânica. Constatou-se também que as principais práticas adotadas pelos
produtores era a compostagem e a adubação verde e que os principais produtos
comercializados eram hortaliças e frutas.
Palavras-chave: Alimentação Orgânica; Produção Familiar; Associação.

Abstract: Food and nutritional security is the guarantee to access basic food in
sufficient quantity, that meets the population demand, and with quality, enabling a
healthier life.
Family farming is one of the main responsible for ensuring access to these foods, with
organic foods as their fundamental production, which have numerous benefits for those
who consume them, promoting a healthier life. The objective was to analyze the
relevance of family organic production in food security and income generation. This
work was based on the application of 8 questionnaires, which contained 24 questions,
to the organic producers of family agriculture of Association Pará Organic. The results
were presented in the form of pizza graphic. They showed that 75% of farmers knew
about the term "food security", but they could not explain the concept accurately and
that the main activity that contributes to income generation is organic farming. It was
also found that the main practices adopted by the producers were composting and
green manure and that the main products marketed were vegetables and fruits.

Keywords: Organic Feeding; Family Production; Association.

Introdução

Segurança alimentar e nutricional é assegurar à população o acesso aos


alimentos em quantidade e com qualidade possibilitando uma garantia de vida
saudável e ativa (CAPORAL et al.,2003). No Brasil, estima-se que
aproximadamente 70% dos alimentos orgânicos são produzidos pela
agricultura familiar (BORGUINI, 2006). Estes contribuem para a segurança
alimentar das populações brasileiras, além de gerarem renda para os
produtores. A agricultura orgânica tem recebido crescente atenção nos últimos
anos, pois o consumidor deseja alimentos de qualidade e produzidos com
menor uso de insumos artificiais (SOARES et.al., 2006).

A formação das associações entre os produtores rurais são de extrema


importância, pois beneficiam o processo produtivo e a própria comunidade,
permitindo o acesso aos incentivos governamentais, como o crédito rural, pelos
produtores (ARAÚJO et al., 2009). Os produtos orgânicos vendidos no Brasil
chegam ao consumidor através de supermercados e feiras, sendo estas de
extrema importância para que o produtor familiar venda diretamente para o
consumidor oferecendo a este uma maior diversidade de produtos, e
alcançando uma melhor remuneração (LUCENA, 2009). Desta forma, o
objetivo deste trabalho foi analisar a relevância da produção orgânica familiar
na segurança alimentar e na geração de renda.

Metodologia
A metodologia aplicada foi com base no trabalho de Cooper e Schindler (2003).
Este método foi selecionado devido as suas características que consistem na
utilização do diálogo, de forma interrogativa, para a obtenção dos dados. O
referente trabalho tem caráter qualitativo e quantitativo, devido ao emprego de
questionários direcionado aos produtores orgânicos da Associação Pará
Orgânico com perguntas socioeconômicas, de segurança alimentar, práticas
agrícolas e principais produtos comercializados. Este trabalho baseou-se na
aplicação de 8 questionários, os quais continham 24 perguntas. A aplicação do
questionário foi realizada em abril de 2017 na Praça Batista Campos,
localizada em Belém-PA, em uma feira organizada pela associação Pará
Orgânicos.

Resultados e discussões
Do total de produtores entrevistados, observou-se que 25% disseram não ter
conhecimento sobre o conceito de segurança alimentar, enquanto que 75%
apesar de afirmarem conhecer, não sabiam explicar precisamente, enfatizando
a necessidade do esclarescimento deste termo (Figura 1). Considerando-se
que 70% da produção orgânica é decorrente da agricultura familiar, e que os
produtos derivados dessa atividade, por apresentarem elevada qualidade
nutricional, possuem estreita relação com o conceito de segurança alimentar
(BORGUINI et al., 2006). Além do mais, constatou-se que 75% dos
interrogados tem na agricultura orgânica a sua principal fonte de renda,
reafirmando a necessidade de conhecimento, por parte dos produtores, tendo
em vista que estes são os principais responsáveis pela garantia dessa
produção e que esse conhecimento poderá causar um incremento no lucro
destes (Figura 2).
FIGURA 1. Conhecimento sobre segurança FIGURA 2. Principais fontes de renda.
alimentar.

Já em relação às principais práticas utilizadas pelos produtores, nota-se que a


compostagem e a adubação verde foram às práticas mais comuns entre 50%
dos entrevistados (Figura 3). Um dos motivos para a utilização da
compostagem é a elevada qualidade nutricional que esta tem, além de
promover a incorporação de matéria orgânica e a elevação da CTC, resultando
em uma maior fertilidade do solo (EMBRAPA, 2004). Já a adubação verde, de
acordo com Castro et al. (2004), contribui com o fornecimento de nitrogênio
para as culturas, sendo este um macronutriente importante para o crescimento
e desenvolvimento dos vegetais. Em resultados obtidos por Borguini et al.
(2006), constatou-se, também, que a adubação orgânica promove um
acréscimo de proteínas, vitaminas e matéria seca, resultando em um alimento
mais nutritivo.

Verificou-se que dentre os produtos comercializados 75% são de hortaliças e


frutas e que 25% são de apenas hortaliças (Figura 4). O que demonstra a
persistência da comercialização de hortaliças nos dois casos, estando em
conformidade com estudos realizados por Borguini et al (2006), os quais
confirmam a expressividade das hortaliças na comercialização in natura. Tal
preferência pode estar relacionada a uma demanda comercial crescente por
estes produtos, de acordo com pesquisas bibliográficas feitas por Santos et al.
(2014). A comercialização desses produtos contribuem para a saúde dos
individuos que os consomem, resultando na prevenção de doenças, em uma
maior qualidade nutricional e, consequentemente, no bem estar, sendo
fundamentais para a redução de distúrbios alimentares (BORGUINI et al.,
2006).

FIGURA 3. Principais práticas utilizadas FIGURA 4. Principais produtos vendidos


pelos produtores. pelos produtores.

Conclusões
Constatou-se que dentre os produtores entrevistados, mesmo trabalhando com
produção orgânica a maioria não sabia ou nunca tinha ouvido falar sobre o
termo segurança alimentar, mostrando a necessidade do esclarescimento
deste termo, haja vista que a maioria dos produtores tem na agricultura
orgânica a principal atividade responsável pela geração de renda. Verificou-se
também que metade dos entrevistados adotam o sistema de compostagem e
adubação verde em sua agricultura e que a maioria dos produtos
comercializados são hortaliças e frutas, tendo no geral as hortaliças sempre
presentes no processo de comercialização.

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Uaraci, a mãe das frutas
Uaraci, the mother of fruits

GOMES, Jones1
UFPA, jonesgom@yahoo.com.br

Grupo de Trabalho: GT 2 Agrobiodiversidade, Cultura e Alimentação

Resumo Uaraci é o mito de origem da palmeira conhecida na Cidade de Abaetetuba


como Miritizeiro. Sua narrativa atrela-se aos índios tupinambás da região do baixo
tocantins, oralidade que chega até nós pela imagem da Mãe das frutas” Mãe que “a
tudo provê” registrada de forma inédita pela folclorista Abaetetubense Maria de Nazaré
Lobato. Tal linguagem que traduz uma poética e simbolismo bem universais são
singularizados pela cultura. No mito que aqui se reproduz como lenda é destacado o
sacrifício da heroína pela tribo numa teleologia que elucida o renascimento pelo
vegetal, alusão a conhecida árvore da vida, um dos arquétipos coletivos que os
estudos do imaginário tentaram compreender quando investigaram a estrutura dos
mitos nas sociedades arcaicas. Da Palmeira tudo será aproveitado desde as “raízes a
última folha”; é isso que comunica Uaraci em sonho ao seu pai, o cacique Uarucá.
Decerto, que este simbolismo agregador refere-se ao fruto (miriti) que até hoje
alimenta os povos dos campos e cidades ribeirinhas, com diferentes usos na culinária
e artesanatos. Por sua vez, sua configuração estética nos brinquedos, oriundo das
buchas de suas ramas- material tão leve como as mãos dos artesãos- que o entalham
numa conjugação de imaginação e forma, revelando-se também numa ética capaz de
recolocar os laços sociais; tratando-se, pôr isso, de um alimento gerador de beleza e
sensibilidade, imaginação e solidariedade, próprios do horizonte da arte popular que
agrega e atualiza as formas míticas. Nestes fenômenos que gravitam em torno do
cultural, e, que Durand (1989) classifica como “resistências do imaginário” vemos um
mundo “ainda” encantado pela cultura e vivido nas cotidianas faces. O vegetal como o
centro da realidade de uma tribo, e, hoje de uma cidade, deixa-se olhar pelas margens
dos rios e ramais, de feiras e quintais, de Museus, ateliês e lentes de fotógrafos e
poetas. O simbolismo do “centro” explorado por Eliade (1992), e, aqui revisto na
eminente aparição de Uaraci no regaço, dá a sacralidade do gesto uma atualização do
mito. E, mais adiante se considerarmos a narrativa como modelo exemplar que ecoa
nos gestos e relações sociais advindas destas margens, é que observamos pela
Ciência do Imaginário as muitas palavras que significam um alimento; a Palmeira
Santa ecoará nos sonhos dos artesãos e suas comunidades da arte que de forma
diversa alimentam-se nas margens de uma imponente Palmeira, Uaraci- A mãe das
frutas.

Palavras-chave: Arte Popular, Simbolismo; Narrativa, Miritizeiro, Palmeira Santa,


Brinquedos.

Abstract: Uaraci is the origin myth of the palm tree known in the City of Abaetetuba as
Miritizeiro. Its narrative is related to the Tupinambás Indians of the region of the low
tocantins, orality that reaches us by the image of the "mother who provides everything"
- recorded unprecedentedly by the folklorist Abaetetubense Maria de Nazaré Lobato.
Such language that translates a very universal poetics and symbolism are singled out
by the culture considered in its ethical and aesthetic dimensions. In the myth
reproduced here as a legend, the sacrifice of the heroine by the tribe is highlighted, in it
a teleology is elaborated, which elucidates the rebirth by the vegetable, an allusion to
the well-known tree of life, one of the collective archetypes that the imaginary studies
tried to understand When they investigated the structure of myths in archaic societies.
From the Palm tree everything will be taken advantage of since the "roots the last leaf"
is this that ensures in dream Uaraci to its father, the cacique Uarucá. Certainly, this
aggregating symbolism refers to the fruit (miriti) that until today feeds the people of the
fields and riverside cities, with different uses in cooking and handicrafts. On the other
hand, its aesthetic configuration in toys, originating from the bushes of its branches, the
material as light as the hands of the craftsman who envisages it combines imagination
and form, also revealing itself in an ethics capable of re-establishing social ties; It is a
food that generates beauty and sensitivity, imagination and solidarity, typical of the
horizon of popular art that adds and updates mythic forms. In these phenomena that
gravitate around the cultural, and that Durand classifies as "resistances of the
imaginary" we see a world "still" enchanted by the culture and lived in the everyday
faces. The vegetable as the center of the reality of a tribe, and nowadays of a city, is
allowed to look at the banks of rivers and branches, fairs and backyards, museums,
workshops and lenses of photographers and poets. The symbolism of the "center"
explored by Eliade, and here reviewed in the eminent appearance of Uaraci in the lap,
gives the sacrality of the gesture an update of the myth. And, further on if we consider
narrative as an exemplary model that echoes in the gestures and social relations
arising from these margins, we observe by the Science of the Imaginary, the many
words that mean a food; The Palm Santa will echo in the dreams of artisans and their
communities that in different ways feed on the banks of an imposing Palm, Uaraci- The
mother of fruits.
Keywords: Popular Art, Symbolism; Narrative, Miritizeiro, Santa Palm, Toys.

Introdução

A muito que os mitólogos e folcloristas dedicados aos estudos da oralidade na


Amazônia negligenciaram a imponência de Uaraci, não só como um fato de
natureza, como também de cultura e digno de investigação. Por isso mesmo,
camuflaram uma fonte do imaginário social, tanto que a lenda não foi
esquecida, e, com a recente implosão das imagens dos brinquedos de Miriti no
mundo, ela vem à tona pela encantada Palmeira, a Mauritia Flexuosa dos
botânicos. Uma índia que ousou torna-se fruto, alimento da alma do artesão e
de sua comunidade, a mensagem de Uaraci embebida dos mistérios da morte
e da sabedoria, convenciona as forças naturais à sagrada cura e a
imortalidade, e, como toda teleologia, completa o seu ciclo messiânico, a terra
sem fome dos índios Tupinambás na planície das Icamiabas- Marajó e o Baixo
Tocantins são sua geografia mítica, conforme já apontava Cascudo (1990)
formada por uma diversificada ocupação de povos que dependem do Miritizeiro
no estuário. Como teria sido a primeira visão de Uaraci no regaço? Este fato
daria origem a imagem, já que do ponto de vista do pensamento, os índios não
conheciam a separação entre o mundo real e o imaginário, logo, onde se via
uma árvore habitava-se uma alma, nisto o mundo dos sonhos era um
prolongamento da vida cotidiana, dando seus misteriosos acenos poéticos. Na
versante cabeça da escritora Maria de Nazaré Lobato, esta narrativa é a
própria gênese de nossa civilidade, dada pela oralidade de muitas gerações,
que ecoou em suas obras, desde “Kamaig’ até “Fagulhas e Fragmentos”, onde
temos o registro escrito. De uma tribo amazônica, nasceu uma jovem de beleza
irresistível, pele tostada pelo efeito do calor, cabelos longos como o reflexo do
sol, andar majestoso como o de uma deusa satírica totalmente diferente, assim
era Uaraci. Filha única do cacique Uarucá. Possuía toda sabedoria da cura
pelas plantas da selva, da caça pelo domínio que tinha sobre os animais e da
pesca por seu fascínio pelas aguas dos rios e igarapés. Uaraci era considerada
como um ente sagrado por seu pai e todos a respeitavam, por sua meiguice, a
qual se igualava a da própria lua, a quem adorava. Causava paixão em todos
os jovens de sua tribo, porém parecia não amar ninguém. Em noites de luar,
Uaraci que se dava à beira do regato e contemplava a lua cheia com fascínio e
deslumbramento. Amava a lua? Mas a lua não é uma mulher? Se perguntava
cheia de aflição. Essa visão não lhe sai da cabeça, do pensamento, como a
certeza atroz e alucinante de que não pertencia a esse mundo, porém queria
ser útil de alguma forma, antes de partir. Uaraci caiu doente, misteriosamente,
definhava a cada dia, até que em uma noite de lua, veio morrer àa beira do
regado. O pai muito triste escolheu um terreno onde a água pudesse bater de
vez em quando, e enterrou Uaraci, próximo a água que tanto amava. Os dias
passaram, mas Uarucá não deixava de visitar aquele local, notou entretanto
que ali brotava uma estranha palmeira a qual logo se encheu de cachos com
frutos vermelhos. Nesse dia, ao se chegar no local, ouviu a voz de sua filha que
dizia, Prova desse fruto, tu e toda a nossa tribo, ele é o alimento produzido por
mim, para o alento de todos, aproveitará dessa palmeira desde a raiz, até a
mais pequenina folha. E assim aconteceu; Com o tempo deram o nome de
Miritizeiro aquela palmeira prodigiosa e para o fruto tão gostoso o nome de
Miriti; e Uaraci foi considerada como semelhante a mãe das frutas”. No Tupi-
Guarani, Ua: Fruta, Ra: semelhante, Ci: Mãe. (LOBATO, 2004,p.25). A
personagem de Uaraci, por exemplo, repousou seu serenar numa unidade com
a natureza que sempre foi sua força imanente- sagrada, a lua da qual amava,
as águas dos rios e igarapés, as plantas e seres viventes misturados nas
margens. Contudo, a jovem Índia de beleza sem igual, cai em venosa doença e
morre, para depois renascer como Mãe de todos Nós. Tal qual a tartaruga que
sustenta em seu casco o mundo, as montanhas sagradas, as colunas dórica ou
jônica, serão lembradas como símbolos de cultura em meio à barbárie e o sem
sentido. E o que falar do Miritizal ou do Miritizeiro, quando advogamos a ele um
arquétipo ligado a “árvore do mundo”, que para os índios Tucanos, significava a
árvore da vida, aquela que emite líquidos. Segundo o historiador das religiões,
Eliade (1992), a árvore representa o centro do mundo, referencia do sagrado
para varias religiões, assim como, o foram as águas, templos, tendas e objetos,
lembremo-nos da árvore que abrigou Buda em sua jornada Interior, a sarça
ardente que vivificou os pés de Moises e que serviu as aparições de Maria
(Nossa Senhora de Fátima). A palmeira que pelo tamanho e exuberância na
extremidade das folhas e no vermelho do caroço de miriti em grandes cachos,
forma na aparente massa verde da floresta, uma espécie que evolui ao ponto
de merecer os alpes das planícies, com suas montanhas verdes, misturadas ao
cinza e as águas barrentas das várzeas, geralmente, ao fundo o tom do azul do
céu, o sol crepuscular ou o cinzento da chuva de inverno no Maratauíra, em
noites estreladas ela parece procurar de braços abertos a lua, sua amiga. Da
palmeira aproveita-se quase tudo, as braças das ramas em sua superfície mais
dura, de onde se retira as talas para a produção de artesanato e utensílios dos
ribeirinhos, como: paneiros, cestaria, abanos, além de instrumentos de pesca
como o matapi, os índios já utilizavam-na redes maqueiras. Do fruto a culinária
regional com mingau, doces, picolés, creme, licores, sucos, e mais, atualmente,
na produção de loções e produtos do gênero de cosméticos, confirmando o que
o mito recitava:“aproveitarás dessa palmeira desde a raiz, até a mais
pequenina folha“. A árvore da benção dos ribeirinhos pode ser visualizada às
margens dos rios, os troncos são utilizados como atracadouros ou pontes de
acesso a casas e barcos. Uaraci a Mãe de todos os frutos viu na cultura a sua
alma, sua escrita e seu lugar; e, como Mito deu vida aos brinquedos de Miriti,
mas está é outra história.

Metodologia
Conduzimos uma reflexão acerca do simbolismo indígena suscitado pelo mito
de Uaraci, e, procuramos fazer um exercício hermenêutico de interpretação de
textos escritos e ditos, mergulhados que estamos na oralidade e imaginação
dos povos ribeirinhos, bem como, diria Certeau (2003) sobre as artes de fazer.
O mito de Uaraci evoca uma resistência na imagem contemporânea, pela
inventividade de uma comunidade de imaginação. Tratando-se, portanto, de
um estudo sobre o imaginário na região do baixo Tocantins, numa perspectiva
transdisciplinar.

Resultados e discussões
Com Uaraci uma dupla relação se estende completando o simbolismo do
centro: a vida (biológica) e a cultural, estas dimensões produzem-se em mutua
dependência. Ainda mais, a palmeira traz consigo a imagem feminina da mãe
provedora, aquela que tudo dá, expressando o valor dado a natureza, bem
como, retira da sensibilidade estética presente no popular, nos usos cotidianos
destas artes que darão novos sentidos, abrindo leques de experiências com o
mito.

Conclusões
O imaginário atrelado a Uaraci: A mãe das frutas da região de ilhas e ramais
(meio rural) das Cidades ribeirinhas do baixo Tocantins compreende um
complexo simbólico ligado a arvore da vida, aquela que alimenta o corpo e a
alma da tribo, por isso, se estende as artes de fazer dos ribeirinhos
configurando uma atualização da narrativa e seu simbolismo.

Referências bibliográficas:

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Uxi ou uva? Tambaqui ou calabresa? Mudanças nos hábitos alimentares
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Uxi or grape? Tambaqui or Calabresa? Changes in eating habits of riverine
communities in Japurá river, Amazonas, Brazil

SANTOS, Jessica Poliane Gomes¹; NEVES, Eliane de Oliveira²; BARBOSA,


Claudia dos Santos³; AVILA, Julia Vieira da Cunha4; STEWARD, Angela May5
1234 Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, 5 Núcleo de Ciências Agrárias e
Desenvolvimento Rural (NCADR) da Universidade Federal do Pará;
1 jessica@mamiraua.org.br; 2 eliane.neves@mamiraua.org.br; 3 claudia@mamiraua.org.br; 4
julia.avila@mamiraua.org.br; 5 angelamay@ufpa.br

Resumo: As comunidades ribeirinhas da várzea amazônica são conhecidas pela


adaptação aos períodos de cheia e seca dos rios e afluentes. Condicionando-as a
modificarem as maneiras de obter seus alimentos, seja por meio da agricultura e
pesca; e por troca ou compra de mercadorias de regatões e mercados da cidade.
Percebe-se modificação no consumo de alimentos por estas comunidades devido a
outros fatores, como alteração no acesso à renda e por urbanização dos hábitos
alimentares. Este estudo de caso apresenta levantamento realizado, por meio de
ferramenta de diagnóstico, em 03 comunidades do Rio Japurá, nos limites das
Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, no Amazonas, entre
dezembro de 2016 e fevereiro de 2017, ilustrando uma mudança geracional no hábito
alimentar. Unindo à análise dos dados e de bibliografias relacionadas,
problematizamos as possíveis influências: desde a sazonalidade ambiental até as
novas relações de produção e apropriação em seus territórios.

Palavras-chave: Segurança Alimentar; Agrotóxicos; Unidade de Conservação;


Amazônia.

Abstract: Riverine communities of the Amazonian floodplain are known for their ability
to adapt to the dramatic seasonal changes characterized by flood and drought periods
of rivers and their tributaries. These stark changes propel riverine residents to modify
their ways of obtaining food, whether in agriculture or fishing, or by trading or
purchasing of goods from middlemen or city markets. We observed a change in the
consumption of food by residents, due to various factors, such as access to income
programs and the urbanization of eating habits. This paper presents surveys carried
out through a diagnostic tool in 03 communities located in the Mamirauá and Amanã
Sustainable Development Reserves between December 2016 and February 2017,
illustrating elements of generational change in food habits. Combining data analysis
and related bibliographic review, we problematize the possible influences, from the
Environmental seasonality to the new relations of production and appropriation in their
territories.
Keywords: Food Safety; Pesticides; Conservation Areas; Amazon.

Introdução

Nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (RDSM) e Amanã


(RDSA), no interior do Amazonas, a economia doméstica (LIMA & PERALTA,
2016) de comunidades ribeirinhas, moradoras e usuárias dessas UCs, é
caracterizada por atividades diversas (agricultura, pecuária, extrativismo, caça
e pesca), essenciais à reprodução socioeconômica, subsistência e segurança
alimentar (LIMA et al., 2012; IDSM, 2014; PEREIRA et al., 2015). Atividades
que foram adaptadas à dinâmica das várzeas amazônicas caracterizadas por
grandes secas e/ou cheias (AYRES, 2006).

Tem se observado que fatores outros, como alterações hidroclimáticas


(STEWARD et al., 2015), acesso a programas de transferência de renda (LIMA
& PERALTA, 2016), processos de industrialização/internacionalização da
agricultura com inserção de novas tecnologias como mecanização e o uso de
agrotóxicos (BOMBARDI, 2011; OLIVEIRA, 2009), têm influenciado mudanças
na adaptação produtiva, modos de cultivo e de consumo dessas comunidades.

Este estudo de caso visa discutir as mudanças alimentares de 03 comunidades


ribeirinhas dessas RDSs, localizadas no rio Japurá, nos municípios de Uarini
(AM) e Maraã (AM). Analisamos esta questão a partir, de dados coletados por
meio de ferramenta de Diagnóstico Rural Participativo (DRP) (VERDEJO,
2006) e de revisão bibliográfica relacionada, dimensionando as possíveis
influências desta transição.

A motivação de realizar o levantamento foi a possibilidade de trabalhar com


hortas comunitárias e/ou escolares e viveiros educativos nessas comunidades
(NEVES et al., 2015). Como possível alternativa aos problemas relatados em
oficinas realizadas, em 2016, quanto à merenda escolar, boas práticas
agrícolas e segurança alimentar.
Metodologia
O levantamento foi feito em 03 oficinas, uma em cada comunidade, com a
participação de 16 comunitários da São Raimundo do Jarauá (RDSM), 15 da
Nova Betânia e 19 do Manacabi (RDSA), num total de 50 participantes.

Cada oficina consistiu na aplicação de um Diagrama Histórico (FIGURA 1) com


os moradores (agricultores, professores, crianças, mulheres) (FIGURA 2),
levantando alimentos mais consumidos no tempo dos avós, dos pais e atual.

Perguntou-se também, alternativas para recuperar/cultivar, podendo atender as


demandas relacionadas à merenda escolar (TABELA 1); e questões sobre as
práticas agrícolas (uso de agrotóxicos, armazenar sementes, adubação, etc.).

Resultados e discussões
Nas três comunidades houve mudanças nos hábitos alimentares e os fatores
condicionantes se assemelham. Identificou-se, por exemplo, que a criação das
UCs condicionou mudanças no manejo da fauna. O consumo de peixe-boi e
quelônios modificou no tempo, atualmente há regras para caça e iniciativas de
conservação. Na TABELA 1 estão relacionados os alimentos levantados nas
três oficinas.

Quanto ao tempo atual, os alimentos citados evidenciam sua aquisição nas


sedes municipais. A compra destes produtos está associada, em parte, com a
renda conseguida através de benefícios sociais. Quanto às práticas agrícolas,
os comunitários disseram que não cultivam muitos alimentos que eram
consumidos nos tempos passados, sendo muitos deles comprados atualmente.
Melancia, milho, mandioca, macaxeira são os cultivos mais comuns e há
consumo de alguns frutos da floresta, como açaí, buriti e abiu.

Na comunidade Nova Betânia relatou-se que os antigos se alimentavam muito


mais da comida local, fato que lhes conferia maior disposição. Atualmente, há
mais consumo de produtos industrializados e das feiras da cidade. Houve
relatos de uso de veneno em plantios da comunidade, com casos de
intoxicação em crianças e adultos. Porém, técnicas naturais são utilizadas para
controle de pragas, como o chá de tabaco.

Na comunidade S. R. do Jarauá falou-se em dificuldades pela cheia mais


intensa. E, por macacos, maracanãs e camaleões se alimentarem em suas
plantações. Também percebem que hoje compram mais do que plantam.
Também compram sementes, que no tempo dos pais guardavam. Atualmente
aplicam veneno em plantios, apesar de não relatarem acidentes. Para espantar
pragas, também utilizam métodos naturais, como colocar a melancia em cima
da casca de munguba. Sobre fazer uma horta coletiva, acreditam que não vai
dar certo, porque perderam o espírito de comunidade. Como alternativa,
preferem fazer canteiro por família, apesar de considerarem interessante ter
uma horta para a escola.

Na comunidade Manacabi houve falas no mesmo sentido, apontando que hoje


há um consumo significativo de produtos industrializados. Podendo ser causa
do baixo crescimento das crianças e até raquitismo. Nesse sentido, foi
encaminhado um plano de ação para o trabalho com uma horta escolar na
comunidade, no ano de 2017.

Conclusões
O fato dessas comunidades estarem em condição de acesso fácil às cidades
de Tefé, Maraã e Alvarães, aumenta a ida aos mercados urbanos, e, portanto,
a compra de alimentos industrializados. Parte dos comunitários tem uma
segunda moradia nestas cidades, como opção no período de cheia, o que
motiva uma maior permanência no urbano.

Além disso, verificamos que os comunitários carecem de informações sobre as


consequências do consumo de alimentos industrializados e uso de agrotóxicos,
bem como da segurança alimentar conferida pela alimentação tradicional.
Nesse sentido, ações que valorizem, motivem e resgatem práticas tradicionais
se tornam relevantes.

Há priorização das atividades relacionadas à pesca, por ser a maior fonte de


renda destas famílias. E parte dos comunitários tem acesso a salários, por
meio da prestação de serviços às prefeituras municipais; e por meio dos
programas de transferência de renda (Bolsa Família, Bolsa Floresta, Seguro
Defeso).

Estes fatores podem ser indicativos de trabalhos que priorizem o


aprofundamento das questões trazidas. Apontando necessidades de
avaliarmos as ações institucionais referentes.

Agradecimentos
Agradecemos às comunidades Nova Betânia, S. Raimundo do Jarauá e
Manacabi pela oportunidade do levantamento.

FIGURA 1 e 2. Aplicando diagrama histórico na Com. Nova Betânia. Autora: SANTOS, J. P. G. Data:
07/12/2016.
TABELA 1. Relação de alimentos consumidos ao longo dos tempos.

LINHA DO TEMPO CALENDÁRIO*


No tempo CHEIA SECA
COM. No tempo dos pais No tempo atual
dos avós (N-A) (M-O)
buriti
açaí cenoura camu-
Abacaxi macaxeira alface. cheiro- banana camu
NOVA BETÂNIA

açaí mandioca açaí matrinxã Alho verde feijão cebolinha


banana melancia caju maxixe banana conservas jerimum cheiro
buriti peixe-boi curimatá melancia berinjela cubiu mamão verde
caju piquiá jaraqui pacu buriti laranja maxixe chicória
castanha tambaqui macaxeira sardinha caju maçã melancia couve
cubiu uxi mamão tucunaré calabresa salsicha melão pimenta
jerimum cebola de tomate milho puruí
cabeça uva tomatinho
regional
abacaxi couve
abacate
abacate mamão abiu laranja
abiu mandioca
abacaxi mandioca alface maçã
SÃO RAIMUNDO DO

açaí matrinxã
abiu manga alho melancia
banana maxixe
banana melancia banana milho de
camu- melancia
JARAUÁ

buriti milho berinjela pipoca


camu milho Não fizeram
caju peixe-boi buriti militos
cebolinha pacu o calendário
castanha piquiá caju ovo de
cheiro- pimenta
cubiu pupunha calabresa galinha
verde piranha
cupuaçu tambaqui cenoura salsicha
jerimum piranha
feijão tartaruga cheiro- uva
macaxeira tucunaré
macaxeira verde
mamão
chicória
açaí abacate bolacha
guariba cubiu
bacaba açaí calabresa macaxeira
macaxeira ingá
MANACABI

bodó banana cará maxixe cheiro-verde


milho macaxeira
cebola bicho de curimatá militos couve maxixe
mutum manga
palha casco enlatado pão tomate milho
piranha milho
farinha bodó frango peixe-boi
tartaruga peixe-boi
feijão caparari ingá salsicha
tracajá tambaqui

* Cheia: novembro a abril; Seca: maio a outubro

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SILVA, Aline Wanessa Pinheiro da Silva1; COSTA, Janael Barbosa2; DO CARMO,


Taiane Novaes3; PIMENTEL, Gilvana Kelly Barros4; CONCEIÇÃO, Emilyn Costa5
1 Universidade Federal do Pará, awpsbio@gmail.com; 2 Universidade do Estado do Pará,
jnlbiologia@hotmail.com; 3 Universidade Federal do Pará, taiane.biologia@gmail.com; 4
Universidade do Estado do Pará, gilkelly@ymail.com; 5 Universidade Federal do Rio de
Janeiro, emilyncosta@gmail.com.

Resumo

A educação ambiental tem sido o centro de muitas discussões devido seu caráter
transversal assim o Projeto Trilhando o Conhecimento teve como meta conciliar a
vivência dos educandos com temas relacionados à conservação ambiental, partindo
de sua realidade como forma de inseri-lo em um contexto em que ele possa perceber
a importância de suas ações, tornando-se agente promotor de mudanças em sua
comunidade. A questão ambiental direcionada foi à conservação dos manguezais,
ecossistema costeiro rico em fauna e flora, que estaria sendo degradado na
localidade, para isso utilizamos o caranguejo, como personagem facilitador para o
entendimento das abordagens tratadas, tendo como metodologia a ludicidade onde os
alunos expuseram seus conhecimentos prévios através de desenhos e de forma
dialogada. Constatou-se por parte dos alunos relatos sobre suas mudanças de hábitos
a partir da prática, visto que agora seriam conhecedores das consequências de suas
ações para com o ambiente. Em suma resgatar os valores culturais dos alunos
contextualizando-os com os saberes científicos trabalhados em sala é um mecanismo
valido para promover a interdisciplinaridade, introduzindo o ensino a partir das
experiências dos alunos.
Palavras-chave: conservação; mangue, caranguejo.

Abstract

Environmental education has been the center of much discussion because of its
transversal so Treading Knowledge Project was aimed at reconciling the experience of
students with issues related to environmental conservation, from its reality as a way to
insert it in a context where it can realize the importance of their actions, becoming a
promoter of change in their community. The environmental issue was directed to the
conservation of mangroves, coastal ecosystem rich in fauna and flora, that would be
degraded in the locality, for this we used the Crab as a character facilitator for
understanding the approaches treated, with the playfulness methodology where
students exposed their previous knowledge through drawings and dialogue form. It was
found by the student’s stories about their changing habits from practice, since they
would now be knowledgeable of the consequences of their actions towards the
environment. In short rescue the cultural values of students contextualizing them with
scientific knowledge worked in the classroom is a valid mechanism to promote
interdisciplinary, introducing the teaching from the students' experiences.
Keywords: conservation; mangrove; crab.

Introdução

Na complexa rede de interações ecológicas temos o ecossistema costeiro, uma


faixa de transição entre os ambientes terrestre e marinho, característicos de
regiões tropicais e subtropicais, sujeito ao regime de marés, o qual inclui os
manguezais que representam 8% de toda a linha de costa do planeta e um
quarto da linha de costa da zona tropical (181.077 km2) (SCHAEFFER-
NOVELLI, 1995).

Para isso por meio do projeto Trilhando o Conhecimento desenvolvido na


Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental Olímpio Carmo de Araújo –
OCA Santarém Novo/Pará, visando à conservação do ambiente local,
buscando, despertar e desenvolver o comprometimento de coordenadores,
professores e alunos com a natureza, pois ao mostrar os benefícios da
conservação do ecossistema manguezal, os alunos possam vivenciar
conhecimentos relacionados à ecologia, cultura e sociedade.

Adquirindo conhecimento sobre conservação do meio ambiente em sala de


aula se torna possível a partir de uma prática educativa do professor em
aproximar o cotidiano do aluno à ciência, com o objetivo de estimular este no
sentido de refletir que o mundo que o cerca está interligado, e de extrema
importância para o desenvolvimento da aprendizagem significativa deste aluno,
para Ausubel (1960) todo o conhecimento que o aluno constrói através de suas
experiências relacionam-se com os conhecimentos adquiridos em sala de aula.

Segundo Currie (1998), “a escola precisa conhecer melhor as diferentes


culturas que formam sua comunidade”. Tendo como base a ideia da autora,
pode-se inferir que o ambiente escolar se encontra repleto de diversidade e a
partir da experiência do dia-a-dia nesses espaços, podemos relacionar o
universo cultural com conhecimento empírico, de forma lúdica, a fim de
aproximar o estudante da ciência.

A proposta possibilita o aluno desenvolver a capacidade de refletir e encontrar


soluções para os problemas ambientais, aprendendo e ampliando seus
próprios conhecimentos.

Metodologia

O Projeto desenvolvido na Escola Municipal de Ensino Fundamental Olimpio


Carmo de Araújo, fundada no ano de 1970, teve sua construção efetivada em
1972 sob a administração do Sr. Wilson Luís de Oliveira, atualmente a escola
possui 305 alunos distribuídos nas séries de Educação Infantil ao 9º ano, com
quadro docente de 15 professores, a localizar-se na vila Jutaizinho, no
município de Santarém Novo/Pará, pertencente à mesorregião Bragantina.

Participaram da pesquisa 40 alunos, compreendendo as séries de 5º ao 9º ano


do ensino fundamental. Pautadas na análise de dados na abordagem
qualitativa, segundo Appolinário (2009) “tem por finalidade básica a busca de
significado em materiais textuais, individual ou coletivamente”, sendo assim
avaliados através dos desenhos e textos solicitados como parte da
metodologia.

A referida instituição foi selecionada devido às práticas relacionadas à


Educação Ambiental serem consideradas incipientes, e o município
representante na produção e comercialização do caranguejo, o qual
anualmente é realizado um festival na cidade (Festival do Caranguejo),
direcionou-se a prática ambiental para a conservação do ecossistema –
mangue, assim como sua importância econômica, social e cultural.
Para a obtenção de dados do referido estudo optou-se pela observação
sistemática onde os participantes foram monitorados a fim de se detectar de
que forma as atividades estarão contribuindo para a mudança de concepção
referente às questões ambientais. Sendo este, portanto um estudo qualitativo
por meio de desenhos feitos pelos próprios alunos, “capaz de incorporar a
questão do significado e da intencionalidade como inerente aos atos, às
relações e às estruturas sociais, tanto no seu advento quanto na sua
transformação, como construções humanas” (Minayo, 1992).

Fora criada uma trilha por onde os alunos caminharam interagiram com
personagens de uma história fictícia com um enredo falando sobre
conscientização ambiental e proteção do caranguejo no período de reprodução,
posteriormente à trilha, realizou-se a socialização do processo de ensino-
aprendizado através de "picnic", oferecidos como alimentos algumas opções
culinárias utilizando o caranguejo e vegetais regionais, enfatizando suas
propriedades biológicas, sua importância nutritiva, bem como a importância
econômica para a comunidade local.

Resultados e discussões

A partir da análise, observou-se que o projeto auxiliou no processo de


desenvolvimento do aluno quanto à construção de seu conhecimento, pois
antes da aplicação foi constatado que os alunos possuíam saberes relacionado
à atividade, no entanto se encontravam dispersos sem relação contextualizada
entre um e outro, o projeto possibilitou a socialização de seus saberes de forma
crítica, retirando-os de sua condição passiva, promovendo ação reflexiva
tornando-os tomadores de decisões para as situações que lhes eram
supostamente impostas, como por exemplo, que ações poderiam ser
realizadas para a conservação do mangue, de que forma os coletores de
crustáceos poderiam contribuir para a não escassez de recursos.

Figua 1. Produção do discente quando questionado sobre a importância do mangue

O mais interessante durante a aplicação do projeto foi que os próprios alunos


se incluíram categoria de agentes poluidores do ambiente e consequentemente
em sua localidade do mangue, relatando fatos como descarte do lixo em locais
inadequados, uso excessivo de recursos (o mais citado entre eles foi à água),
diante disso houve um momento de comprometimento para a mudança de
hábitos, visto que agora afirmaram ser conscientes das consequências da
escassez desses elementos não somente para a natureza mais para sua
própria manutenção de vida quantos indivíduos de um ecossistema, dessa
forma contribuíram para a melhoria da comunidade escolar, apropriando-se de
suas vivências como mecanismo para “modificação” sua realidade local.

Conclusões

Através de debates, diálogos e desenhos, percebeu-se o levantamento de


concepções posteriores, das (re)significâncias adquiridas ao longo do processo
desenvolvido. Por meio dos desenhos evidenciou-se uma mudança de postura
pontual. As práticas desenvolvidas tiveram como ponto de partida o
conhecimento dos alunos e partir deles foram introduzidas às temáticas
ambientais de conservação e as biológicas com a ecologia. O fato de
utilizarmos o caranguejo como protagonista da prática facilitou a compreensão
dos assuntos por ser um elemento presente em seu dia a dia.

Referências bibliográficas:

APPOLINÁRIO, Fabio. Metodologia da ciência: filosofia e prática da pesquisa. 1


ed. Cengage Learning: São Paulo, 2009.

AUSUBEL, D. F. Psicologia Educacional, 1980.

CURRIE, Karen. Meio Ambiente: Interdisciplinaridade na prática. Campinas:


Papirus, 1998.

MINAYO, M. C. S. (Org.). Pesquisa social: teoria, metodo e criatividade. 20. ed.Petropolis:


Vozes, 2002.

SCHAEFFER-NOVELLI, Y. Manguezal ecossistema entre a Terra e o Mar. São


Paulo: Caribbean Ecological Research, 1995.
História, memória e breve abordagem sobre trajetórias femininas num
quilombo paraense
History, memory, and briefly about female trajectories in a quilombo paraense
SILVA, Emanuele Nazare da
Universidade Federal do Pará (Campus Bragança), E-mail:
emanuelesilv@gmail.com
Grupo de trabalho: G3 – Diversidade sexual e de gênero em contexto rural

Resumo
O presente trabalho tem por finalidade fazer uma breve abordagem sobre algumas
trajetórias femininas na Comunidade quilombola Itaboca, Cacoal e Quatro bocas,
localizada no município de Inhangapi, Pará. Através de narrativas orais e pesquisa de
campo, conhecemos os papéis de algumas mulheres e como eles se entrecruzam com
a trajetória histórica e cultural da realidade da comunidade, desde o seu surgimento
até a atualidade..

Palavras-chaves: Mulheres quilombolas; Genêro; Saberes tradicionais.

Abstract: The present work aims to make a brief approach on some female
trajectories in the quilombola community Itaboca, Cacoal and Quatro bocas, located in
the municipality of Inhangapi, para. Through oral narratives and field research, we
know the roles of some women and how they intercross with the historical trajectory of
the reality of the community.

Keywords: Quilombola Women; Equity; Traditional knowledge.

Introdução
O poder feminino como destaca Pinto (2012) fazia parte dos alicerces
quilombolas desde o surgimento dos primeiros quilombos, onde a presença
dessas mulheres era tanto armada quanto administrativa. A mesma ainda
ressalta que na região amazônica, pesquisas comprovaram que as mulheres
desempenharam funções de coragem e força, derrubando o ideal de “sexo
frágil” e “ser indefeso”. Inseridas nessa mesma realidade, as mulheres de
Itaboca, Cacoal e Quatro bocas delinearam um caminho de resistência e
afirmação desde a criação do quilombo, quando a proprietária do até então
Sitio “Menino Jesus”, a senhora de nome Ana Maria da Silva decidiu voltar para
Portugal deixando encarregada de cuidar das suas terras, a escrava Imbinha
Gusmão, e dessa liderança até os dias atuais, o sobrenome Gusmão fez parte
de decisões e atitudes importantes tomadas dentro de Itaboca, Cacoal e
Quatro Bocas. Descendente direta de Imbinha, Francisca Gusmão nunca foi
líder no papel, mas seja no processo que levou a abertura da estrada para o
quilombo, nas primeiras instalações de energia elétrica e conquista da titulação
definitiva de seu território, ela se fazia presente e foi uma das maiores
articuladoras. Estendendo-se as outras mulheres da família, os saberes
tradicionais que são compartilhados de mãos em mãos femininas, podem
conotar mais uma vez a importante participação destas, quando apesar da
vulnerabilidade nos contextos de direitos, políticas públicas, etc, a mulher
desempenha papel significativo de sustentação aos seus, como sublinha Souza
e Araújo (2014).

Metodologia
Primeiramente utilizou-se uma vasta bibliografia para compreender os
meandros das relações propostas pelo trabalho, já que diálogos
interdisciplinares entre História e Antropologia se faziam necessários. Estes
estudos envolveram: escravidão negra no Pará (Salles, 1971), comunidades
quilombolas e saberes tradicionais (Acevedo e Castro, 1998), ações afirmativas
de mulheres negras rurais (Pinto, 2011), História oral (Prins, 1992 ; Portelli,
1997; Thompson; 1998), Etnicidade (Almeida, 2008), Memória (Pollak, 1992),
História da sexualidade (Stearns, 2010) e Identidade de Gênero (Butler, 2003).
Distante 91 km de Belém, no município de Inhangapi está localizada a
comunidade quilombola Itaboca, Cacoal e Quatro bocas. Para chegar até a
comunidade quilombola são necessários 17 km de viagem, onde esta situa-se
na zona rural de Inhangapi, já partindo da cidade de Castanhal. Tal
deslocamento pode ser feito através de via terrestre. Os primeiros contatos
com a comunidade aconteceram desde novembro de 2013, permanecendo um
diálogo e visitações frequentes a mesma. Isto facilita o acesso a comunidade
para a realização de pesquisa de campo, na qual, para a tessitura desta
pesquisa, foi realizada uma visitação em março de 2017.
Os dados recolhidos através das falas dos sujeitos, observação e diário de
campo, propiciaram um cruzamento de análises entre os referenciais teóricos e
a oralidade, para entender de quais formas os sujeitos da comunidade
quilombola enxergam as mulheres, em específico, algumas descentes da
família Gusmão. Juntamente com essas análises, foi também utilizado registros
fotográficos para compor uma sequência etnográfica demonstrando a
participação de mulheres e seus familiares numa atividade de “torra” de farinha,
o que é muito comum entre as populações tradicionais, detonando o caráter da
coletividade entre estes grupos. Tudo isto foi necessário para compreender a
realidade da comunidade quilombola, a partir de uma perspectiva
interdisciplinar.

Resultados e discussões
Com as visitações feitas a comunidade quilombola Itaboca, Cacoal e Quatro
bocas desde 2013, se notou a intrínseca relação entre territorialidade,
identidade e saberes tradicionais, e sua importância para a construção do
sentimento de pertencimento, que seria o atrelamento desses aspectos citados.
Entende-se como saberes tradicionais o uso e manejo de recursos naturais,
segundo Silva (2010), onde a ação antrópica desses sujeitos contribui
positivamente na manutenção e preservação do ecossistema que os cerca. O
uso e manejo dos recursos naturais fazem parte do dia-a-dia da comunidade
quilombola Itaboca, Cacoal e Quatro bocas, e as mulheres sempre estão
envolvidas do desenvolvimento de afazeres dentro do seu território, visto que
“o território é o fundamento do trabalho, o lugar da residência, das trocas
materiais e espirituais e do exercício da vida” (SANTOS, Milton, 2007). As
atividades foram acompanhadas a partir da vivência com a comunidade,
começam desde as primeiras horas do dia, quando se faz a colheita da
mandioca, ou do açaí, ou da castanha-do-pará. De modo coletivo à medida que
expressam o que viram ou vivenciaram, transmitem um conhecimento e
reelaboram novos saberes, contribuindo para a perpetuação da história de um
povo. (SANTOS, Maria José, 2012).
Peter Stearns (2010) ao historicizar a sexualidade humana, consegue levantar
discussões acerca das mudanças que ocorreram na forma de encarar as
práticas sexuais, substancialmente, a sexualidade feminina. Foi quando as
sociedades passaram da condição de grupos caçadores e coletores para
grupos que se fixaram e aderiram à agricultura, que a importância da mulher e
sua atuação, sofreram consideráveis mudanças. Precisamos tocar nessa
questão para compreender o quanto essas mudanças afetaram o papel da
mulher, e o que ficou determinado, e implicitamente imposto à condição
feminina: a subordinação. Ditando os modos ou papéis que eram naturalizados
à mulher, passou a ser cobrado desta o pudor sexual, o matrimônio e a
maternidade, apesar das realidades heterogêneas nas sociedades e grupos. E
isso implicou um severo controle sobre as realidades femininas. Faz-se
necessário ressaltar a diferença temporal para que não sejamos anacrônicos,
no entanto, estes preceitos que foram impostos as mulheres deixaram
resquícios que até atualmente são motivos de debates, cobranças ou
reivindicações, principalmente quando falamos nas questões envolvendo o
Gênero. Portanto, a relevância de observar e produzir sobre os processos de
empoderamento (Sardenberg, 2006) e representatividade étnica dessas
mulheres, dando ênfase para se discutir sobre as realidades dos territórios
quilombolas paraenses e como se deu o papel feminino em cada um deles, é
de suma importância, já que

Na microrregião de Cametá ou região do Tocantins, no Pará – norte


da Amazônia, emergem evidências de que a mulher negra
desempenhou com força, coragem e desenvoltura o destino de
quilombolas. Assumindo, entre outras tarefas, a própria chefia de
quilombos e posteriormente de suas comunidades remanescentes.
(PINTO, 2012)

Destacamos novamente na em Itaboca, Cacoal e Quatro bocas, a importância


da atuação das femininas nessa questão, pois quando nas atividades são
envolvidos os seus filhos, netos, bisnetos, entre outros, a tradição deste grupo
vai sendo mantida, e os laços de etnicidade perpetuados. A vivência feminina
dentro da comunidade implica diretamente no tratamento dos recursos quando
destinados a agricultura familiar, a lavoura, e essas atividades comumente têm
pouco impacto no território onde vivem, pois apesar de serem grupos
extrativistas, mantém a coletividade como ideal para os rendimentos
alimentares e monetários das produções. Não somente nesse aspecto da
agricultura, na rotina das mulheres com o trato das plantas medicinais, a
narração de histórias, a mobilização pelo ordenamento territorial contribui na
preservação e continuidade de sua trajetória histórica e cultural, pois

Essa transmissão de experiências das mulheres quilombolas por


meio da oralidade é a maneira de ensinar e de aprender. À medida
que expressam o que viram ou vivenciaram, transmitem um
conhecimento e reelaboram novos saberes, contribuindo para a
perpetuação da história de um povo. (SANTOS, 2012, p. 3)

Conclusões
Ao destacarmos a atuação feminina em qualquer âmbito social estamos
fazendo uma discussão que durante muito tempo foi indiferente e não teve
reconhecimento. Ainda que não fosse proposital, a própria historiografia
contribuiu para que a trajetória de atuação das mulheres dentro do quilombo
fosse tida como ínfima ou mesmo inexistente. A história “Oficial” cristalizou o
estereótipo de quilombo na figura de Palmares, e ajudou também a construir
heróis nacionais majoritariamente masculinos, sendo o representante destes
indivíduos em específico, Zumbi. Sabemos da importância de se discutir a
valorização da mulher e sua representatividade na sociedade sob diversos
aspectos, sejam sociais, culturais, políticos e históricos. Como a historiadora
Joan Scott (1992) ressalta, “parece não haver mais dúvida de que a história
das mulheres é uma prática estabelecida em muitas partes do mundo”. Se a
ausência na historiografia relegou às essas mulheres o reconhecimento as
suas lutas e ações, atualmente muito tem se debatido, construído e
desconstruído sobre elas. A partir de uma proposta feita por uma série de
historiadores, sendo os principais Lucien Febvre e March Bloch quando tiveram
a iniciativa de fundar em 1929 a revista Annales, o que mais tarde ocasionou
uma mudança significativa nos métodos de analisar e produzir a historiografia,
esses historiadores se interessavam por toda e qualquer atividade humana
como salienta Burke (1992).

Nesse debate podemos destacar o papel da mulher quilombola. As mulheres


de sobrenome Gusmão em Itaboca, Cacoal e Quatro bocas já carregam o
legado histórico do seu sobrenome e sua descendência. No seu dia-a-dia as
atividades que a olhos despercebidos podem parecer comuns ou normais,
estão carregadas de uma simbologia e são de fundamental relevância para seu
ideário de etnicidade. Com os saberes tradicionais podemos discutir sobre as
especificidades das formas de viver, de tratamento com a natureza e
construção do sentimento de pertencimento e identidade étnica. De fato não
podemos deixar de reconhecer o quanto a atuação dessas mulheres dentro da
comunidade quilombola é relevante. Unindo com seriedade, os diálogos
científicos e acadêmicos aos que vêm do quilombo, destaca-se a importância
do desenvolvimento de diferentes pesquisas referentes a esses grupos,
proporcionando ressaltar e divulgar análises mais próximas de suas trajetórias.
Assim, objetivando somar e contribuir no aprofundamento das discussões e
arguições dentro e fora do meio acadêmico, sobre essas figuras femininas,
sobre seus papéis para a manutenção e perpetuação do sentimento de
pertencimento, tão fundamentais para a construção da identidade étnica dos
sujeitos que fazem parte da realidade do quilombo na contemporaneidade.

Referências bibliográficas
BURKE, Peter. A escrita da História: Novas perspectivas. São Paulo: Editora
da Universidade Paulista, 1992.
BUTLER, Judith P. Problemas de gênero: feminismo e subversão da
identidade. Tradução: Renato Aguiar – Rio de Janeiro: Civilização brasileira,
2003.
PINTO, Benedita Celeste de Moraes. História, memória e poder feminino em
povoados amazônicos. In: XI Encontro Nacional de História oral: memória,
democracia e justiça, 2012, Rio de Janeiro – Brasil. Anais eletrônicos do XI
Encontro Nacional de História Oral: Memória, Democracia e Justiça. Rio de
Janeiro: Associação Brasileira de História Oral, 2012. V. 1. P. 1-10.
SANTOS, Maria José dos. Mulheres quilombolas: memória é acervo de
nossa história. Cadernos Imbondeiro. João Pessoa, v.2, n.1, 2012. Disponível
em: <http://periodicos.ufpb.br/index.php/ci/article/view/14142/8768> Acessado
em: 21/04/2017.
SANTOS, Milton. O dinheiro e o território. In: SANTOS, Milton; BECKER,
Bertha. Território, territórios. Ensaios sobre o ordenamento territorial. 3 ed, Rio
de Janeiro: Lamparina Editora, p. 13-21
SARDENBERG, Cecilia. Conceituando Empoderamento de Mulheres na
Perspectiva Feminista. I Seminário Internacional: Trilhas do Empoderamento
de Mulheres – Projeto TEMPO. 2006.
SCOTT, Joan W. História das mulheres. In: BURKE, Peter(org.). A escrita da
História: Novas perspectivas. São Paulo: Editora da Universidade Paulista,
1992.
SILVA, José Bittencourt da. Elementos para a construção do sentido e o
significado do conceito de população tradicional e sua importância para o
século XXI. PRACS: Revista Eletrônica de Humanidades do Curso de Ciências
Sociais da UNIFAP, v. 1, p. 83-92, 2010.
SOUZA, Patricia Borba de. ARAÚJO, Klarilene Andrielly. A mulher
quilombola: da invisibilidade à necessidade por novas perspectivas
sociais e econômicas.
STEARNS, Peter N. História da sexualidade. São Paulo: Contexto, 2010.
Relações de gênero nas ilhas de Belém: o caso da comunidade ilha da
Várzea, Belém, Pará.
Gender relations in Belém’s island: the case of the Community Island of
várzea, Belém, Pará.
1; 2 3; 4
VIEIRA, Igor VARELA, Alessandra ; TEIXEIRA, Gabriel ARAUJO, Jhon ;
5 6
SOUZA, Francisco ; ALMEIDA, Ruth .

1 Universidade Federal Rural da Amazônia, cristianigor67@gmail.com; 2 Universidade Federal


Rural da Amazônia alessvarelasouza@gmail.com; 3 Universidade Federal Rural da Amazônia,
itogabriel21@gmail.com; 4 Universidade Federal Rural da Amazônia,
jhon.anderson.araujo@gmail.com; 5 Universidade Federal Rural da Amazônia,
franciscosouzacr33@gmail.com; 6 Universidade Federal Rural da Amazônia,
ruth.almeida@ufra.edu.br.

Resumo
O trabalho analisa as relações de gênero no meio rural e sua divisão social do
trabalho, destacando-se a atuação da mulher na população ribeirinha dentro da
comunidade da Ilha da Várzea. Para isso foram aplicados vinte questionários a
mulheres com questões socioeconômicas como idade, renda, economia, relações de
trabalho, gênero e produção, a fim obter dados e traçar o perfil das mulheres na
comunidade. A partir dos resultados obtidos, destacam-se como principais atividades,
as agrícolas, a extração do açaí e cacau, que são culturas de extrema importância
econômica. É possível afirmar que a mulher desempenha papel fundamental na
atuação do campo por participar de forma predominante em relação aos homens, nos
serviços domésticos e na educação dos filhos cerca de 85% das entrevistadas
afirmaram que elas são as responsáveis e 45% os homens. Contudo, a mesma
desconhece sua importância no que diz respeito a sua participação no processo de
composição da renda familiar, considerando-se muitas vezes como “ajudante”. E
devido as suas diversas atividades exercidas no meio, esta acaba sendo reconhecida
apenas pelas atividades domésticas.

Palavras-chave: Importância da mulher; Divisão de trabalho; Participação


socioeconômica; Renda Familiar.

Abstract

The paper analyzes the gender relations in rural areas and the social division of labor,
highlighting the role of women in the riparian population within the community of Ilha da
Várzea. Women were questioned on twenty topics on socioeconomic issues, like age,
income, economy, work relations, gender, and production, to obtain data so we can
profile women in the community. According to the results obtained, agriculture, and
extractivism of açaí and cocoa – which are crops with extreme economic importance –,
stand out as the main economic activities. It may be stated that women play a
fundamental role in field activities, as they participate predominantly in domestic
services and in the education of children, in comparison with men. About 85% of
women stated that they are responsible for it as compared to only 45% of men.
However, women do not know their importance regarding their participation in familiar
income composition, as they often consider themselves as "helpers". Due to their
diverse activities carried out in the community, they end up being recognized only by
their domestic activities

Keywords: Importance of women; Division of labor; Socioeconomic participation;


Family income.

Introdução

O trabalho exercido pelas mulheres agricultoras vai muito além da divisão do


alimento, este perpassa por afazeres domésticos, captação de água, preparo
do alimento, cuidados com os filhos. Essa concepção de divisão sexual do
trabalho tem bases culturais, ou seja, construiu-se basicamente que o homem
tem a função de provedor, e cabem à mulher as obrigações maternas e
domésticas (PANZUTTI, 2006).

Nessa divisão sexual, a prática das mulheres rurais se apresenta de forma


diferenciada, justamente porque também participam do espaço da produção.
Apesar disso, o trabalho na roça se funde ao doméstico, considerado não-
trabalho, e acaba sendo visto como extensão das atribuições de mãe, de
esposa e dona-de-casa que não são compartilhadas com os homens, que tem
a função de colocar o alimento na mesa (FISCHER, 2010).

Essa relação que não necessariamente passa pelo dinheiro, muitas vezes é
reconhecida por elas mesmas como “ajuda” e não como um trabalho. Neste
contexto, este trabalho visa avaliar a importância da mulher na comunidade
denominada Ilha da Várzea observada a partir das relações de gênero,
principalmente no aspecto da divisão social do trabalho.
Metodologia

A metodologia aplicada foi com base no estudo monográfico idealizado por Le


Play, tal método foi escolhido devido suas características que propiciam
análises particulares como, orçamento familiar, características de profissões e
custo de vida, além de avaliar um conjunto de atividades de um grupo particular
como cooperativas e comunidades (MARCONI E LAKATOS, 2003).

O trabalho foi realizado na comunidade Ilha da Várzea, situada às margens do


rio Igarapé do Aurá, sendo este um afluente da baía do Guajará no município
de Belém-PA. A aplicação dos questionários foi realizada no mês de abril de
2017, onde foram entrevistadas 20 famílias. A comunidade ribeirinha possui
cerca de 83 famílias as quais sobrevivem principalmente de atividades
extrativistas e agrícolas. Tendo como único meio de transporte o fluvial. Para
obtenção dos dados foi elaborado um questionário no qual estavam
compreendidas questões socioeconômicas, de gênero e de produção,
necessários para traçar o perfil daquela comunidade.

FIGURA 1: Mapa da comunidade da Ilha da Várzea das regiões visitadas.

Resultados e discussões
Nota-se que nas atividades agrícolas e de pesca, os homens tiveram uma
maior atuação, cerca de 40% e 20%, respectivamente, em relação às
mulheres. Nas atividades domésticas é possível observar uma realidade
inversa, onde há um predomínio do gênero feminino, sendo 40% superior aos
homens (Figura 2).

FIGURA 2: Tabela de divisão de tarefas por gênero na comunidade da Ilha da Várzea.

Segundo Pastório e Roesler (2014, p.12) “no cotidiano das mulheres rurais há
uma clara distinção entre os limites do lar e do trabalho, entre atividades
domésticas e as tarefas agrícolas, entre as responsabilidades na educação dos
filhos e da vida comunitária”. A agricultora rural M.L.S. mostra claramente a
ideia que os homens da comunidade manifestam, “Meu pai sempre diz, vou
varrer casa pra quê se tenho filha mulher”? Essa fala segundo a autora Melo
(2002) mostra que a concepção de que a mulher não faz parte do processo de
trabalho da agricultura familiar está muitas vezes internalizada nas mentes dos
homens, bem como das próprias mulheres.

A divisão do trabalho é bem marcante na comunidade. Porém, no período de


safra das culturas de maior importância para a comunidade como o açaí e o
cacau, a mulher faz parte do processo de extração dos frutos, sendo ela
responsável pelo processo de debulha do açaí e a extração da amêndoa do
cacau. Contudo, mesmo atuando de forma ativa nesses processos de
capitação de renda, quando questionada sobre quem desempenha o papel de
chefe de família, metade dos entrevistados afirmaram que o homem na
condição de pai desempenha esse papel (Figura 3).

Figura 3: Chefia familiar.

Esta realidade pode ser explicada por razões culturais, prevalecendo à ideia de
que o chefe de família é o “homem da casa”. Tal fato também foi relatado pelo
Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada (IPEA) que afirma em seu estudo
que “ser homem” é a terceira razão mais citada, o fato de “ser mulher” é o
menos referido pelas entrevistadas para a definição da chefia do domicílio”.

As produções científicas têm revelado as múltiplas relações sociais desiguais


entre homens e mulheres. Apesar disso, é necessário ainda ampliar e
aprofundar o tema, principalmente no âmbito rural em que a questão é menos
abordada, quando comparada ao espaço urbano.

Conclusões
Diante disso, foi possível identificar que apesar da mulher desempenhar várias
funções dentro da comunidade inclusive a participação econômica efetiva, esta
acaba sendo reconhecida apenas por suas atividades domésticas. Deixando
claro quão forte é sua invisibilidade na participação da composição da renda
familiar.

Referências bibliográficas
FISCHER, Izaura. Relações de gênero na agricultura no acampamento de Sem
Terra do Engenho Prado. In: SCOTT, Parry; CORDEIRO, Rosineide (Orgs.).
Agricultura Familiar e Gênero: Práticas, Movimentos e Políticas Públicas.
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Soberania alimentar: multifuncionalidade e pluriatividade na dinâmica de
produção de chocolate orgânico artesanal na comunidade da Ilha do
Combu (PA)
Food sovereignty: multifunctionality and pluriactivity in the dynamics of artisanal
organic chocolate production in the community of Combú Island (PA)
PIMENTEL, Brenda1; SILVA, Danielly2; ALVES, Ellem3; CAMPOS, Ingrid4;
BOTELHO, Matheus5; SILVA, Wallasi6; ALMEIDA, Ruth7
1 UFRA, brendasantospimentel@gmail.com; 2 UFRA, danysales88@gmail.com; 3 UFRA,
suaneellen@gmail.com; 4 UFRA, ingrid_campos90@hotmail.com; 5 UFRA,
math.botelho@hotmail.com; 6 UFRA, wallasiwashinghton@outlook.com; 7 UFRA,
ruth.almeida@ufra.edu.br

Resumo

Considerando a emergência das múltiplas funções para o rural e a agricultura, surge


os conceitos de multifuncionalidade e pluriatividade, que são os objetos deste estudo,
uma vez que a dinâmica do espaço geográfico vem tornando-se cada vez mais
complexa e mutável. Neste contexto, destaca-se a família Quaresma que reside na
Ilha do Combu (PA), mais conhecida por sua produção e venda de chocolates
orgânicos artesanais e também reconhecida pelos seus cultivos agrícolas, que servem
para a venda de exportações, subsistência da família e o uso do potencial produtivo do
cacau como fonte de matéria-prima para a produção de chocolates orgânicos. Para
este estudo foi utilizado como ferramenta de pesquisa o levantamento de campo por
meio de entrevistas semiestruturadas e aplicação de questionário socioeconômico,
procurando conhecer a realidade da família nos aspectos sociais, ambientais e
econômicos. Por meio dessa pesquisa, foi possível traçar uma perspectiva a respeito
da realidade da família que concilia produções de cultivos orgânicos, criação de
suínos, fabricação do chocolate, tour turísticos e emprego alternativo, respeitando a
sustentabilidade e cultura da região. A pesquisa obteve como resultados a observação
que os conceitos de pluriatividade e multifuncionalidade estrutural dos agricultores
familiares são uma realidade, e nesse sentido aumenta as alternativas e soluções para
suas diversas dificuldades. Portanto, conclui-se que ao se procurar alternativas de
geração de renda, o agricultor pode encontrar a satisfação pessoal e complementação
de renda esperada.

Palavras-chave: Cacau; Subsistência; Sustentabilidade; Alternativas.

Abstract

Considering the emergence of the multiple functions for rural and agriculture, the
concepts of multifunctionality and pluriactivity arise, which are the objects of this study,
since the dynamics of geographic space has become increasingly complex and
changeable. In this context, the Quaresma family residing on the Island of Combú (PA),
better known for its production and sale of organic handmade chocolates and also
recognized for its agricultural crops, are used to sell exports, family subsistence and
the use of the productive potential of cocoa as a source of raw material for the
production of organic chocolates. For this study was used as a research tool the field
survey through semi-structured interviews and application of socioeconomic
questionnaire, seeking to know the reality of the family in social, environmental and
economic aspects. Through this research, it was possible to draw a perspective on the
reality of the family that reconciles production of organic crops, pig breeding, chocolate
making, tourist tour and alternative employment, respecting the sustainability and
culture of the region. The research obtained as a result the observation that the
concepts of pluriactivity and structural multifunctionality of family farmers are a reality,
and in this sense increases the alternatives and solutions to their various difficulties.
Therefore, it is concluded that when looking for alternative income generation, the
farmer can find personal satisfaction and income supplementation expected.

Keywords: Cocoa; Subsistence; Sustainability; Alternatives.

Introdução

No contexto rural, a Soberania Alimentar está interligada aos conceitos de


pluriatividade e multifuncionalismo nas comunidades do campo, devido à
emergência de múltiplas funções para o rural e a agricultura, ocasionando a
diminuição da fome e pobreza nas populações rurais, devido às oportunidades
de empregos e obtenção de renda trazida para o campo, uma vez que o
pequeno e médio agricultor não terá somente a sua obtenção de renda por
meio da agricultura.

De acordo com Candiotto (2009), o fenômeno da pluriatividade no espaço rural


brasileiro ocorreu a partir do inicio da década de 1990, pois além da
emergência da maior diversidade das atividades agropecuárias, são
adicionadas novas atividades não agrícolas, como indústrias, condomínios
residenciais, áreas de lazer e turismo. Esse contexto do rural contemporâneo
vem diversificando as ocupações e a renda da população rural, e levando a
implicações socioeconômicas, com maiores oportunidades de renda para as
comunidades rurais.
No contexto rural, o conceito de multifuncionalidade busca traduzir as múltiplas
funções que as comunidades rurais podem exercer, devido ao crescimento das
atividades não agrícolas no meio rural, e das ocupações da população rural
nessas atividades, seja na cidade ou no campo, ocasionando mudanças nas
diversas unidades de produção e vidas familiares, inevitavelmente modificando
a dinâmica do espaço rural, por meio de novas atividades produtivas e
econômicas, relações sociais e de trabalho e da circulação de pessoas e
mercadorias em áreas consideradas rurais (CANDIOTTO, 2009).

Este presente trabalho possui como objetivos: Relacionar os conceitos de


multifuncionalidade e pluriatividade com o principio da Soberania Alimentar, no
contexto da produção de chocolates orgânicos na Ilha do Combu (PA);
entender a dinâmica de produção de chocolates orgânicos da família agrícola
na ilha e expor a realidade da família agrícola produtora de chocolates
orgânicos.

Metodologia
Tendo em vista os aspectos socioeconômicos e ambientais da Ilha do Combu
(PA), a metodologia adotada para a análise e exposição do diagnóstico rural
sobre pluriatividade e multifuncionalidade existente na propriedade da
produtora rural Dona Nena (família Quaresma), foi com base em metodologias
com enfoque participativo e sistêmico utilizados pela sociologia e extensão
rural. Para este estudo foi utilizado como ferramenta da pesquisa o
levantamento de campo através de entrevistas semiestruturadas e aplicação de
questionário socioeconômico, procurando conhecer a realidade da família nos
aspectos sociais, ambientais e econômicos. A propriedade escolhida para o
estudo foi aquela que se enquadrava em estabelecimento de agricultura
familiar onde se aplicava os conceitos de pluriatividade e multifuncionalidade.
O trabalho de campo foi realizado durante aproximadamente um mês por meio
de visitas agendadas na unidade de pesquisa possibilitando a realização das
entrevistas. Seguindo a metodologia, foi aplicado questionário a fim de analisar
com mais detalhes a realidade da produtora rural e de sua família

Resultados e discussões
A aplicabilidade dessa associação dos conceitos de multifuncionalidade e
pluriatividade foi claramente observada na propriedade da família Quaresma,
localizada na Ilha do Combu (PA), que produz chocolates orgânicos artesanais
a partir do cacau proveniente da própria plantação e de propriedades vizinhas.
A comercialização do chocolate adveio de raízes culturais por meio da prática
entre familiares, e apesar do cacau ser a cultura mais rentável, devido a
produção do chocolate, outros cultivos não foram abandonados como o da
banana, pupunha e açaí e, também a criação de suínos para consumo próprio.
Por praticar a proteção do meio ambiente, geração de empregos, gestão dos
recursos naturais, como solo, biodiversidade, a propriedade exerce a
multifuncionalidade; e, por praticar atividades não agrícolas, como a
industrialização do cacau e o turismo, exerce a pluriatividade.

A família em questão é a única que desenvolve a produção do chocolate


orgânico com autorização do Ministério da Agricultura na ilha. A princípio, o
chocolate era produzido apenas com o cacau da propriedade e a medida que a
demanda aumentou, a chefe da família, Dona Nena, passou a comprar o cacau
produzido por famílias vizinhas. Atualmente ela compra de quatro famílias e
emprega informalmente seis pessoas no processo de fabricação do chocolate.
Para chegar a fórmula que utiliza hoje, a família recebeu ajuda de técnicos e
especialistas. A comercialização começou em 2006 e passou a ser
amplamente reconhecido a partir de 2011. O processo de fabricação é
composto por etapas que vão do processo de retirada das amêndoas, usadas
na fabricação de todos os produtos; separação do excesso de suco,
aproveitado na fabricação de licor; caixa de fermentação, secagem ao sol e ida
ao forno, servem para possibilitar o descasque feito manualmente; e, por fim do
preparo das sementes, ocorre a trituração das sementes com o auxílio de uma
máquina própria; a partir desse ponto começa a produção do chocolate em si.
A família produz de 60 a 70Kg por mês de chocolates orgânicos artesanais.

A família é composta por Izete Quaresma (Dona Nena), Patricia Quaresma e


Viviane Quaresma. Antes da comercialização dos chocolates orgânicos, a
venda dos cultivos presentes na propriedade era a principal fonte de renda
familiar. Atualmente, a agregação de valor ao cacau verde, como se chama o
cacau recém-colhido, possibilitou um expressivo aumento na renda da família,
na autonomia e conforto de vida.

As práticas turísticas exercidas pela família Quaresma enquadram-se no


conceito de que o turismo rural, em sua diversidade de enfoques e de
modalidades, acaba por converter-se numa espécie de bandeira por meio da
qual muitos produtores reivindicam ampliar sua fonte de legitimidade (ANJOS,
CALDAS, 2013), pelo fato de que o crescimento do turismo implicou em um
aumento do ufanismo pela ilha e do brilho nos olhos de quem prefere mudar
seu estilo de produção do que mudar-se de lá.

Conclusões
Portanto, a característica de pluriatividade e multifuncionalidade estrutural dos
agricultores familiares é uma realidade, e nesse sentido aumenta as
alternativas buscadas para solucionar dificuldades existentes. Há regiões da
Ilha do Combu (PA) onde foi observado grande desenvolvimento econômico
devido ao turismo e oferecem assim, inúmeras oportunidades atraentes
possibilitando famílias como a Quaresma, praticantes de atividade não
agrícolas, continuar na agricultura e vivenciar ocupações sustentáveis e
valorizadas. Entretanto, apesar do auxílio constante de técnicos e
especialistas, mais iniciativas públicas de orientação devem ser tomadas para
permitir que famílias com a de Dona Nena pratiquem esses conceitos
possibilitando a melhor relação entre os aspectos econômicos, sociais e
ambientais.

Referências bibliográficas

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<http://www.sober.org.br/palestra/2/1031.pdf>. Acesso em: 30 mar. 2017.
Diversificar por que e para quem? Reflexões sobre introdução da piscicultura
por famílias agroextrativista no Marajó - Pará.

Diversify why and for whom? Reflections on the introduction of fish farming by
agroextractivist families in Marajó - Pará.

CARVALHO, João Paulo Leão de1; SILVA, Luis Mauro Santos2

1 Agrônomo na Secretaria Municipal de Produção e Abastecimento de Curralinho -


SEPADES, jpmarajo@gmail.com ; 2 UFPA/NCADR, NEA Ajuri e Programa de Pós-
graduação do PDTSA/UNIFESSPA, lmsilva2012@gmail.com

Resumo

Este trabalho tem como objetivo apresentar a experiência de piscicultura em


reservatórios adaptados em áreas de várzeas no Município de Curralinho, Marajó,
Pará. Aparentemente, tal estratégia se deve muito a baixa capacidade local de
suprimento das necessidades proteicas via atividades de pesca artesanal e caça.
Nesse cenário, a piscicultura vem se destacando como uma alternativa local. A
estruturação dessa atividade produtiva exige maior capacidade de investimentos
financeiros e mão-de-obra, além de certa dependência técnico-científica e domínio
técnico. Com base nessas observações questiona-se: há evidente crise no
extrativismo amazônico? As alternativas produtivas adotadas podem ser consideradas
agroecológicas? Pretende-se iniciar uma reflexão em torno do tema.

Palavras-chave: Extrativismo; Agroecologia; Produção Familiar.

Abstract: This work aims to present the experience of fish farming (fish farming) in
adapted reservoirs in floodplain areas in the municipality of Curralinho, Marajó, Pará.
Faced with the local limited acquisition of food through extractivism, fish farming is
highlighted as a strategy for safety Families. The structuring of this productive system
requires greater capacity for financial investments and manpower, besides a certain
technical-scientific dependency, however, the families involved in fish farming manage
agroecosystems according to the local environment. Based on these observations, we
asked: is there an evident crisis in Amazonian extractivism? Can the productive
systems adopted be called agroecological? We intend, initially, to reflect on these
issues.

Keywords: Extractivism; Agroecology; Family Production.

Introdução

Quando falamos de Amazônia e populações amazônicas, o extrativismo


(coleta, apanha, catação e extração) surge sempre no imaginário da sociedade.
Essa lógica milenar de relação com a natureza, porém, encontra cada vez
menos abrigo nos contextos socioambientais desse bioma. E esse
distanciamento entre humanos e natureza vem se dando, inexoravelmente, aos
longos dos últimos séculos.

Alguns autores alimentam um debate, no mínimo, provocador em torno do


desaparecimento do Extrativismo. Homma (1993), dentro de uma ótica clássica
da economia ambiental, aponta o fim do extrativismo, principalmente diante de
uma inevitável “força do mercado” que impulsiona exponencialmente o grau de
exploração de “recursos naturais” e, nesse sentido, condena essa lógica a uma
iminente “tragédia dos comuns” (HARDIN, 1968). Em síntese, tem-se o
extrativismo como fase prematura e primitiva de relação dependente com o
natural e, por ser assim, está fadada ao desaparecimento ou, no máximo,
restrita a atividades planejadas e artificializadas com propósitos comerciais.

Desviando do caminho determinista da tese anterior, Rêgo (2005) reforça a


ideia de que o extrativismo, por ser uma invenção social, evolui e se
transforma, ao longo do tempo, motivada pela pressão humana sobre a
capacidade natural de prover alimentação e outras utilidades para a sociedade
amazônida. E nessa perspectiva conceitual, o Neoextrativismo materializa dois
princípios fundamentais da perspectiva agroecológica atual, ou seja: a) traz a
ideia de co-evolução (PLOEG, 2008; TOLEDO & BARREIRA-BASSOLS, 2015);
b) para uma compreensão conceitual de neoxtrativismo, tornando-se inevitável
uma abordagem multidimensional e não somente uma ótica econômica ou
tecnológica. Reforçando essa ideia, Vieira da Silva e Miguel (2014) consideram
ainda que essas atividades, agora “agroextrativista”, conferem uma maior
capacidade de regulação desses agroecossistemas e, portanto, maior
perenidade no tempo.

De maneira inicial, o objetivo aqui é o de perceber a operacionalização


conceitual apontada acima, através da introdução da criação de peixes
(piscicultura) no Município de Curralinho, Ilha de Marajó. Em outras palavras,
parte-se de um contexto secularmente de extrativismo vegetal e animal, mas
que vem enfrentando dificuldades em garantir alimentação por meio do
extrativismo de alimentos, por conta de escassez no meio natural (POTIGUAR;
COSTA, 2015). Neste sentido, a atividade de piscicultura tem surgido como
uma alternativa viável. As famílias estão adaptando sistemas de criação em
áreas de várzeas, por vezes escavando o solo para a construção dos
reservatórios, bem como recriando canais naturais existentes (igarapés).

Metodologia

Este trabalho é um estudo embasado em observações diretas nos últimos anos


e em visitas técnicas recentes da Secretaria Municipal de Produção,
Abastecimentos, Pesca, Aquicultura e Desenvolvimento Sustentável de
Curralinho (SEPADES) junto as famílias que estão desenvolvendo piscicultura.
Foram realizadas visitas a 10 projetos de piscicultura, entre os meses de
janeiro a março de 2017.

Resultados e discussões

O Marajó é formado por inúmeras ilhas, constituindo assim o maior


conjunto de ilhas fluviomarinho do planeta Terra. Apesar de toda a riqueza
ambiental - comportando área de proteção ambiental, reserva extrativista,
reserva de desenvolvimento sustentável, projetos de assentamento - apresenta
baixo desenvolvimento humano (0,519) (ATLAS BRASIL, 2013). É constituído
por dezesseis municípios distribuídos em 10,4 milhões de hectares. Parte deste
espaço é o município de Curralinho, que está localizado ao centro-sul da Ilha,
com população estimada em 32.248 habitantes e área de 317.725 hectares.
Mais de 60% da extensão municipal está inserido em projetos de assentamento
extrativista e reserva extrativista, com cerca de 2.500 famílias inseridas.

A piscicultura adaptada em áreas de várzeas é um sistema produtivo


que está sendo praticado no Município desde 2011, quando cinco famílias
conseguiram estruturar reservatórios para criação do tambaqui (Colossoma
macropomum). Essas famílias foram contempladas por financiamento
(R$18.000,00) através da linha PRONAF AF. Apenas esses valores não foram
suficientes para cobrir os custos dos reservatórios e primeiro ciclo produtivo.
Outras tentativas de criar peixes já haviam sido experimentadas por essas
famílias ainda na década de 1990, porém a falta de conhecimento técnico-
científico não possibilitou o avanço. Estes agroecossistemas familiares
apresentam a atividade de extrativismo, cultivo anual de mandioca e ainda a
criação de pequenos animais. No entanto, algumas ações já apontam como
distanciamento do extrativismo, como por exemplo, o manejo sistemático de
açaí, realizando-se controle do espaçamento entre touceiras e de plantas por
touceira (CARVALHO; SILVA, 2015). Após a consolidação dessas cinco
experiências, diversas famílias apresentaram interesse pela atividade. Com
isso, o Poder Público Municipal, em 2014, além de ofertar assistência técnica,
adquiriu cinco motores-bomba para auxiliar na escavação e limpeza dos
reservatórios, iniciando a estruturação de mais vinte e dois projetos de
piscicultura. Porém, esses equipamentos não puderam atender toda a
demanda de projetos iniciados. Assim, utilizou-se a metodologia de formar
grupos de trabalho, com objetivo de trocar mão de obra, e, então, potencializar
o uso dos equipamentos. Atualmente estão no cadastro da Secretaria seis (06)
grupos de trabalho e vinte e seis (26) projetos, dos quais dezesseis (16) já
estão em produção e o restante em fase de conclusão. Desses, apenas as
cinco famílias mencionadas anteriormente receberam financiamento por meio
de linha de crédito.
A maior parte das famílias que demonstram interesse pela piscicultura
desenvolvem extrativismo para obtenção de alimentos e/ou comercialização.
As circunstâncias, segundo essas famílias, que tem levado a opção pela
criação é que, através do extrativismo, já não se pode garantir alimentação e,
mesmo com custos na produção de criação de peixes, materializam a ideia de
que vivemos um fenômeno de novo extrativismo (RÊGO, 2005), talvez menos
autônomo por parte da natureza e, consequentemente, mais dependente de
intervenções técnicas.

A procura por sistemas produtivos menos dependentes do meio natural


nos leva a pensar que essas famílias podem estar desenvolvendo práticas
agroecológicas, no sentido de desenvolverem uma base ecológica de produção
(CAPORAL; COSTABEBER, 2004). De fato, observa-se que há forte capital
ecológico (PLOEG, 2008), ou seja, natureza viva, como elemento central nas
práticas das famílias que optam pela piscicultura. Desta forma, temos
observados duas formas de funcionamento nessas lógicas familiar de produção
(Figura 01).

Figura 01 – Funcionamento de lógicas de produção familiar,


Curralinho (PA).
Fonte: Carvalho e Silva (2015).
Conclusões

Hipoteticamente, indicamos que o extrativismo continua como elemento central


na prática de famílias amazônicas que não apresentam capacidade de
investimentos financeiros. E, em alguns casos, que tem o extrativismo como
elemento secundário, o tem como regulador dos agroecossistemas familiares.
Em síntese, a hipótese poderia ser de que “a maioria das famílias que
introduziram piscicultura como atividade não está praticando um sistema
agroecológico, pois inclui elementos externos”. Porém, é fundamental atentar
que não existem sistemas agroecológicos “puros”, ou seja, evoluindo sem
contradições a serem resolvidas e superadas ao longo de sua existência e,
aqui se tem o principio da diversidade como mantenedora de uma alta
resiliência e, portanto, mais sustentável. Portanto, o extrativismo (ou
Neoextrativismo) se mantém importante, estratégico e é elemento fundamental
de sistemas agroecológicos amazônicos.

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Sistemas de produção em meios naturais diferentes- Um estudo a partir
da Bacia do Aricurá- Cametá- Pará
Production systems in different natural environments- A study from the Aricurá
basin- Cametá- Pará
DO AMARAL, Ana1; MARTINS, Paulo2; MAGALHÃES, Sonia3
1UFPA, anaagro4@gmail.com; 2 UFPA, pfsm@ufpa.br; 3 UFPA, smag@ufpa.br

Resumo

Este trabalho enfocará o sistema de produção considerado como uma combinação


dos recursos disponíveis, no tempo e no espaço, com a finalidade de obtenção de
produções vegetais e animais. Para estudar as relações internas do estabelecimento
agrícola a sua complexidade é necessário abordá-lo como um sistema, considerando
o conjunto, e ao mesmo tempo as partes almejadas, o que pode ser feito através do
conceito de sistema família- estabelecimento. Desse modo, este trabalho abordará as
relações entre a utilização do meio natural de várzea estuarina, os sistemas de
produção considerando a pressão causada especialmente pelo aumento da produção
do fruto açaí e como esse fator vem afetando o sistema de produção. O objetivo do
trabalho é explicar a relação da disponibilidade de áreas de várzeas no
estabelecimento agrícola, constituindo o principal elemento de regulação técnico-
econômica do estabelecimento. Desse modo a abordagem geral do trabalho será na
abordagem sistêmica, considerando a interação e relação dos elementos estudados: o
estabelecimento agrícola, o sistema de produção, mais especificamente o subsistema
de cultivo da espécie do açaí relacionado ao meio biofísico. Com base nessa
abordagem sistêmica, o trabalho terá como procedimentos metodológicos a etapa
previa e as etapas realizadas em campo e por fim a sistematização e discussão dos
dados apresentados. Como resultados preliminares podemos perceber as diferenças
entre os sistemas de produção no local da pesquisa, por ser tratar de duas
comunidades com meios naturais diferentes uma comunidade possui somente o
ecossistema de várzea e a outra possui o ecossistema de terra firme associada à
várzea. Tendo como fatores relevantes para a composição dos sistemas de produção
das comunidades estudadas as condições do meio natural e também do mercado
local.

Palavras-chave: agricultura familiar; estabelecimento agrícola; ecossistema de


várzea.

Abstract:

This work will focus on the production system considered as a combination of available
resources, in time and space, for the purpose of obtaining plant and animal production.
In order to study the internal relations of the agricultural establishment to its complexity
it is necessary to approach it as a system, considering the whole, and at the same time
the desired parts, which can be done through the concept of family-establishment
system. Thus, this work will address the relationships between the use of the natural
environment of estuarine floodplain, the production systems considering the pressure
caused especially by the increase of the production of the acai fruit and how this factor
has affected the production system. The objective of this work is to explain the relation
of the availability of floodplain areas in the agricultural establishment, constituting the
main element of technical and economic regulation of the establishment. In this way
the general approach of the work will be in the systemic approach, considering the
interaction and relation of the studied elements: the agricultural establishment, the
production system, more specifically the subsystem of cultivation of the açaí species
related to the biophysical environment. Based on this systemic approach, the work will
have as methodological procedures the previous stage and the steps performed in the
field and finally the systematization and discussion of the presented data. As
preliminary results, we can perceive the differences between the production systems at
the research site, since it deals with two communities with different natural resources.
One community has only the várzea ecosystem and the other has the terra firme
ecosystem associated to the várzea. Having as relevant factors for the composition of
the production systems of the studied communities the conditions of the natural
environment and also of the local market.

Keywords: family farming; Agricultural establishment; Ecosystem of várzea.

Introdução

As várzeas da Amazônia vêm sendo utilizadas desde a pré-história com


evidências de importantes instalações humanas, utilizando esses ambientes e
retirando dele sua alimentação (ADAMS; MURRIETA; SANCHES, 2005). Se
por um lado os recursos naturais podem determinar as suas possibilidades de
uso, por outro a diversidade de uso, a depender das condições específicas das
populações, determinará os usos que se configuram como de maior ou menor
possibilidade de manutenção da produção com implicações na qualidade do
ambiente e na reprodução dessas populações. As formas tradicionais de uso
das várzeas da Amazônia Oriental são ligadas a uma economia baseada
principalmente na pesca e no extrativismo vegetal, sobretudo do açaí (Euterpe
oleracea Mart.), que são compatíveis com a manutenção dos recursos naturais.

Como argumentam Souza; Souza & Carrieri (1994), a identificação das práticas
que são comuns a certa coletividade permite agrupar e classificar os sistemas
de produção em uma dinâmica e racionalidade similar, e também evidencia as
diversidades existentes que surgem como diferentes modos de utilização
agrícola em um mesmo meio natural. O objetivo da pesquisa é analisar a
influência da disponibilidade de área de várzea, nas atividades produtivas e
qual a relação dessa disponibilidade de área de várzea implicam no sistema-
família- estabelecimento.

Metodologia
A Bacia do rio Aricurá está localizada ao sul da cidade de Cametá , esta bacia
apresenta uma complexa malha hidrográfica e se destaca pala diversidade
quanto ao ecossistema, além de várzea, também há presença de terra firme
condicionando a cobertura vegetal e, consequentemente, a forma como o meio
é explorado (SILVA- JUNIOR, 2016). Na Bacia do Aricurá existem duas
comunidades rurais, a comunidade do Ajó a esquerda da bacia, onde se
encontram áreas de várzea associada à terra firme. Já na porção direita da
Bacia deslocando-se em direção ao rio Tocantins, encontra se a comunidade
do Rio Aricurá (banhada pelo Rio Aricurá e tributários), com áreas somente de
várzea (várzea alta e várzea baixa).

Como já foi mencionado o método utilizado na pesquisa será nos princípios da


abordagem sistêmica em que o estabelecimento agrícola é visto como uma
unidade complexa, administrada pela família, abrangendo o sistema de
produção. E ainda como a família toma suas decisões tentando combinar da
melhor forma possível os recursos disponíveis que dependem, entre outros, da
condição do meio ambiente (SCHMITZ, 2005). Os procedimentos
metodológicos então serão compostos pela etapa prévia e por etapas que
serão realizadas em campo e por fim a etapa de sistematização e discussão
dos resultados, com o auxilio de ferramentas como a observação participante
(MANN, 1970), a análise da paisagem (VERDEJO, 2010) e entrevistas diretivas
e não diretivas (BRUMER et. al., 2008). Como a pesquisa está em andamento,
estamos na etapa de campo. No pré- campo foram feitos os primeiros contatos
com os agricultores e as entrevistas históricas; no primeiro campo, foram feitas
doze entrevistas estruturas com as famílias com perguntas sobre a composição
familiar, gestão do estabelecimento, sistemas de produção e a renda das
famílias.

Resultados e discussões
Como resultados já obtidos percebemos que o meio natural, assim como o
mercado são elementos diretos que influenciam a composição dos sistemas de
produção adotados pelas duas comunidades (tabela 1). Sendo a comunidade
do Rio Aricurá composta pelo ecossistema de várzea em que suas atividades
produtivas são: o extrativismo do açaí, a pesca, a piscicultura e criação de
pequenos animais para consumo da família, no entanto a maioria dos
entrevistados vendem mais o açaí por ter mais compradores certos na feira da
cidade conforme os entrevistados. Já a comunidade do Ajó composta por terra
firme associada à várzea tem uma maior diversificação das atividades
produtivas sendo elas: produção de farinha, extrativismo do açaí, piscicultura,
produção de hortaliças, frutíferas e criação de pequenos animais para consumo
e para venda produtos como o próprio açaí, o peixe e as hortaliças que
também são vendidos na feira de Cametá .
TABELA 1: Atividades Produtivas das comunidades Aricurá e Ajó (consumo e venda).
Comunidade Entrevistado Atividades produtivas (consumo) Atividades
produtivas
(venda)
Aricurá 1 Açaí, pesca e camarão Açaí
Aricurá 2 Açaí e pesca Açaí
Aricurá 3 Açaí e galinha Açaí
Aricurá 4 Açaí, pato, galinha e pesca Açaí
Aricurá 5 Açaí, pesca, pato e galinha Açaí e aves
Aricurá 6 Açaí, horta, pesca, piscicultura e Açaí, pupunha e
frutíferas peixe
Aricurá 7 Açaí, pesca, galinha, porco e Açaí e peixe
frutíferas
Ajó 8 Açaí, hortaliças, piscicultura e Açaí, hortaliças e
frutíferas peixe
Ajó 9 Açaí, piscicultura e frutíferas Açaí e peixe
Ajó 10 Açaí, mandioca, frutíferas, Não vende
galinha e porco
Ajó 11 açaí, farinha, piscicultura, Açaí, hortaliças e
hortaliças, frutíferas e aves peixe
Fonte: Dados de pesquisa de campo, 2017.

Conclusões
Entendendo o meio natural como dinâmico, que sofre constantes alterações
pode-se verificar nitidamente nas comunidades que utilizam as várzeas, a
existência de um campesinato que tem tentado adaptar-se às condições
impostas pelo meio aonde vivem através da busca de saídas alternativas de
sobrevivência com o uso de estratégias produtivas e tecnológicas complexas,
envolvendo sistemas de cultivo, manejo, criação, extrativismo e pesca
artesanal (COSTA, 2009). Tendo como fatores relevantes para a escolha dos
sistemas de produção adotados pelos agricultores das comunidades estudadas
o meio natural, o que pode ser percebido na comunidade do Ajó (terra firme
associada à várzea) que tem um sistema de produção mais diversificado e
também a influencia do mercado local.

Referências bibliográficas:

ADAMS, C.; MURRIETA, R. S. S.; SANCHES, R. A. Agricultura e alimentação em


populações ribeirinhas das várzeas do Amazonas: novas perspectivas. Ambient. soc.
2005, v..8, n.1, p. 65-86.

BRUMER, A et. al. A elaboração de projeto de pesquisa em ciências sociais. In:


GUAZZELLI, C. A.; PINTO, C.R. J. B. (Org). Ciências humanas: pesquisa e método.
Porto Alegre: UFRGS, 2008. p. 125- 147.

COSTA, G. S. Reprodução social do campesinato na região das ilhas em Cametá. In:


MOUTINHO, Paulo; PINTO, Regina Pahim. Ambiente complexo, propostas e
perspectivas socioambientais. In: Justiça e Desenvolvimento. Contexto, 2009.

MANN, P H. Métodos de investigação sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1970.

SCHMITZ, H. Abordagem sistêmica e agricultura familiar. In: MOTA, Dalva Maria


da; SCHMITZ, Heribert; VASCONCELLOS, HeleniraEllery M.. Agricultura familiar e
abordagem sistêmica. Aracaju, Se: Sociedade Brasileira de Sistemas de Produção,
2005. p. 19-52.

SILVA-JUNIOR, W. A. da. A várzea está para peixe: Viabilidade socioeconômica


da piscicultura praticada na Bacia do Aricurá, Cametá, Pará. Dissertação
apresentada no Programa de Agriculturas Amazônicas. Universidade Federal do Pará.
2016.

SOUZA, S. Z; SOUZA, M; CARRIERI, A. A pesquisa em sistemas de produção: uma


revisão. Agricultura em São Paulo, São Paulo, v. 41, p. 127-139, 1994.

VERDEJO, M. E. Diagnóstico rural participativo: guia prático DRP. Revisão e


adaptação de Décio Cotrim e Ladjane Ramos. Brasília: MDA/secretária da Agricultura
Familiar, 2010, 62p.
A criação de frango caipirão no assentamento abril vermelho: uma
alternativa para agricultura familiar?
The creation of chicken caipirão in the red April settlement: an alternative to
family farming?
FERREIRA, Rafael Peniche 1; FERREIRA, Laura Angélica2

¹ Mestrando da Universidade Federal do Pará , penichenator@gmail.com ; ² Doutora


da Universidade Federal do Pará, laurangelicaferr@hotmail.com

Resumo

O presente trabalho caracterizou a criação do frango caipirão (label rouge), analisou a


dinâmica socioeconômica das seis (6) famílias que criam nesse sistema e verificou se
o crescimento acelerado dessa atividade tem influenciado nas práticas e na rotina das
famílias do assentamento Abril Vermelho do Município de Santa Barbara do Pará.
Essa caraterização contribuiu para o debate em torno da intensificação das
transformações gradativas dos sistemas de criações animais tradicionais para
sistemas de criações “modernos” na Amazônia. Além, da contribuição para a
discussão dos temas relacionado com soberania e segurança alimentar.

Palavras-chave: Soberania Alimentar; Alternativas produtivas; agricultura familiar.

Abstract: The present work characterized the creation of the label rouge chicken,
analyzed the socioeconomic dynamics of the six families that created in this system
and verified if the accelerated growth of this activity has influenced the practices and
the routine of the families of the Abril Vermelho Municipality of Santa Barbara do Pará.
This characterization contributed to the debate about the intensification of the gradual
transformations of the systems of traditional animal creations to systems of "modern"
creations in the Amazon. In addition, the contribution to the discussion of issues related
to sovereignty and food security

Keywords: Food Sovereignty; Productive alternatives; family farming.

Introdução

Historicamente, as criações de aves, ditas caipiras são praticadas em


unidades agrícolas familiares, e se caracterizam pela sua forma de exploração
extensiva ou semiextensiva. Neste modo de criação, não há instalações modernas,
nem a adoção de práticas de manejo que favoreçam eficientemente o desempenho
zootécnico dos animais. Em contrapartida, as aves encontram-se livres, o que do
ponto de vista de seu bem estar é desejável, ao mesmo tempo em que colabora na
conservação do meio ambiente, ao interagir com o mesmo (ALTIERI, 2002).
No entanto, o modelo de Agricultura industrial tem contribuído para destruir e
fragilizar os ecossistemas, provocando consequentemente uma redução na
agrobiodiversidade e na base alimentar humana (TEUBAL, 2008). Essas
consequências refletiram sobre o debate da soberania e segurança alimentar.

Conforme Stédile e Carvalho (2012), o conceito de soberania alimentar traz


uma dimensão política mais ampla do que a segurança alimentar, pois esta parte do
princípio de que “para ser soberano e o ator principal do seu próprio destino, o povo
deve ter condições, recursos e apoio necessários para produzir seus próprios
alimentos”. Segundo os referidos autores, já no início do século XX José Martí advertia
o povo latino-americano a respeito da necessidade da produção dos alimentos para
não cair na dependência do capital externo. Para o mesmo, “um povo que não
consegue produzir o seu próprio alimento é um povo escravo. Escravo por que
depende de outro país ou indivíduo que ofereça subsídios para sua sobrevivência”
(Stédile e Carvalho 2012, p. 715).

Ao discutir o conceito de soberania alimentar, este trabalho destaca a


produção e utilização do frango caipirão (label rouge – pescoço pelado) como uma
grande alternativa produtiva para os agricultores do assentamento Abril Vermelha.
Sendo dessa forma protagonistas no que diz respeito a escolher o quê produzir, onde
e como produzir seu próprio alimento.

Portanto, buscamos caracterizar a criação do frango caipirão (label rouge),


analisar a dinâmica socioeconômica das seis (6) famílias que criam nesse sistema e
verificar se o crescimento acelerado dessa atividade tem influenciado nas práticas e
na rotina das famílias do assentamento Abril Vermelho do Município de Santa Barbara
do Pará.

Metodologia

- Construção Metodológica

O projeto do assentamento Abril Vermelho, do município Santa Bárbara, lócus de


pesquisa deste estudo, é resultado de lutas sociais agrárias na Amazônia, lideradas
pelo Movimento Social dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. É um assentamento que
data de 2004, período da ocupação, mas com sua criação oficial em 2009. Uma área
que foi explorada com a cultura do dendê pela antiga empresa chamada Denpasa,
com alguns setores reflorestados com paricá e sistema consorciado de culturas
diversas. Possui uma área de 6.803,1493 ha equivalentes a sete (7) módulos Fiscais
do Município. A fração Mínima de parcelamento – 2,00 ha e máxima de 20 ha. De
acordo com a planta cadastral da área, o número de famílias beneficiadas é de
aproximadamente 400 famílias.
Para desenvolver essa pesquisa foram utilizados dados quantitativos do relatório
de pesquisa do diagnóstico agrosocioambiental (Peniche et al., 2015) do curso de
Pós-graduação em agriculturas amazônicas realizado por meio curso de
Especialização em Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agroambiental da
Amazônia – DAZ – Modalidade Residência Agrária , que faz parte do Núcleo de
Ciências Agrárias e Desenvolvimento Rural, da Universidade Federal do Pará. Neste
estudo participaram 40 famílias do assentamento Abril vermelho o que representou
10% do total de famílias assentadas. Do conjunto das 40 famílias seis (6) criam frango
caipirão, que é o principal objeto de estudo desse trabalho.

Resultados e discussões

As seis (6) famílias que criam frango caipirão (Label Rouge) no assentamento
abril vermelho estão no assentamento desde a época de sua criação. São famílias
pouco numerosas, geralmente com casal e filhos ainda pequenos, representando forte
restrição de mão de obra. Isto pode ser um dos elementos explicativos da adoção da
criação do frango caipirão, já que essa atividade não necessita de muito esforço físico
e nem de tempo. O maior esforço físico está na reposição de água nos bebedouros e
ração nos comedouros diariamente, o que poderia ser realizado por uma criança
acima de 10 anos.

A fonte de renda extra lote das famílias apresenta um comportamento


semelhante ao verificado para a totalidade dos agricultores. No geral têm bolsa
família, aposentadoria e venda de frutíferas. A única diferença que chama atenção é o
rápido crescimento na produção dos frangos, contribuindo de forma significante no
rendimento final dessas famílias.

No que diz respeito à criação do frango caipirão diferentemente das aves criadas
soltas e de genética não específica, os animais para criação do caipirão são oriundos
de raças desenvolvidas para se desenvolverem em sistemas mais extensivos de
criação, a fim de colocar no mercado uma carne diferenciada, mais resistente, mais
próxima do frango caipira tradicional. São animais que devem ser adquiridos pelas
famílias no mercado, e depois de criados e consumidos e/ou vendidos, realizam sua
renovação com nova aquisição de pintainhos no mercado, que tem proporcionado
certa dependência do mercado principalmente no que se refere à compra de insumos
e no valor de venda do produto final.

Conforme os dados analisados 33,33% compram algum material para fazer a


“cama” que serve para facilitar o manejo e a higienização do ambiente. Apenas 16,7%
compram vacina, visto que a maioria dos pintos já vem vacinadas. Isto é um dos
fatores que diferencia o sistema tradicional de criação de ave caipira na agricultura
familiar. É bom reforçar que, por serem mais “modernos”, eles tem mais chances de
ficarem doentes, portanto, há grandes gastos com medicamentos – vale lembrar que
na criação de galinha caipira o resultado, apesar ter um processo mais demorado do
que o frango caipirão e as demais aves, a qualidade final faz a diferença.
Assim, algumas famílias têm criações pequenas, com mínimo de 20 animais, e
outras possuem planteis bem maiores chegando a 600 animais. Boa parte desses
animais vive presa e dependem do mercado, é possível verificar que 100% dos
agricultores mencionados na pesquisa dependem do mercado externo para compra de
pintos para renovar o plantel e ração para alimentar as aves, tornando cada vez mais
o agricultor familiar dependente do mercado.

Conclusões

Concluímos que o sistema de frango caipirão apresenta algumas semelhanças


com o frango caipira no que diz respeito à rusticidade de sua criação, além, de trazer
um alto grau de aproveitamento como na criação da galinha caipira – "Dela tudo se
aproveita". As penas são utilizadas para a confecção de bijuterias ou peças de
artesanatos. O esterco é utilizado em hortas como adubo orgânico.

Percebemos também que esta atividade tem uma inserção com forte cunho
econômico, o que nos indica ser uma alternativa para as famílias do Assentamento
Abril Vermelho, pois além de ser uma fonte de alimento e de renda, sua introdução
nos sistema se compatibiliza com as outras atividades desenvolvidas. Vimos que para
os cultivos, todos têm a finalidade de venda, nos indicando que a família aproveita a
mão de obra disponível na própria familiar e aproveita o mercado local, sua
proximidade com a cidade, para escoar sua produção diretamente ao consumidor.
Assim, se por um lado a atividade se ajusta às outras atividades desenvolvidas pelas
famílias e ainda colabora financeiramente de forma positiva na renda, por outro, pelo
fato de depender de insumos externos, impõe uma dependência do mercado,
infringindo na autonomia do sistema para esta atividade. Do ponto de vista da
sustentabilidade, tanto os insumos como a perda da autonomia são elementos
constrangedores.

FIGURA 01: Mapa de localização do assentamento “Abril Vermelho”.


Fonte: Pesquisa de Campo UFPA-DAZ, 2015.

FIGURA 02: Formas de Comercialização do Frango Caipirão


Fonte: Pesquisa de Campo UFPA-DAZ, 2015.

Referências bibliográficas:

STÉDILE, J. P. Los golpistas mostraron a qué vinieron. In GENTILI, P; MARÍA, V.


S; TROTTA, N. (Organizadores). Golpe en Brasil: genealogía de una farsa. Buenos
Aires: CLACSO; Buenos Aires: Fundación Octubre; Buenos Aires: UMET, Universidad
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TEUBAL, M. O campesinato frente à expansão dos agronegócios na América


Latina. In PAULINO, E. & FABRINI, J. E. (organizadores). Campesinato e territórios
em disputa. São Paulo: Expressão Popular, 2008.

ALTIERI, M. A. Agroecologia: bases científicas para uma agricultura sustentável.


Guaíba: Editora Agropecuária, 2002a: 592.
O desafio da agricultura familiar frente à expansão da monocultura do dendê no
município de Tailândia-Pará

The challenge of family agriculture front of the expansion of the palm oil monoculture in
the municipality of Tailândia-Pará.

SILVA, José A. L. da1; SANTOS, Jorge S. dos2


1 Universidade Federal do Pará (UFPA), augustolopes10@yahoo.com.br; 2
Universidade Federal do Pará (UFPA), salesjorge10@gmail.com

Resumo

O avanço do cultivo do dendê cresce de forma significativa no Brasil, pela sua


relevância econômica e aplicabilidade industrial em diversos setores, como no setor de
combustíveis e de alimentos, por exemplo. No Pará, municípios como Tailândia
ganham destaque por apresentarem grandes extensões territoriais destinadas a esse
tipo de monocultura, porém outras questões surgem nesse cenário, como a agricultura
familiar e a sua tentativa de sobrevivência e inclusão neste meio. Para o
esclarecimento de tais questões, foi realizada uma pesquisa de cunho bibliográfico e o
registro de relatos de experiências a partir da convivência com produtores da
agricultura familiar do município de Tailândia- Pará. Constata-se que muito ainda deve
ser feito para a inserção completa dessas famílias no meio produtivo, para que não
sejam vítimas do isolamento ou sufocadas por produções de larga escala da
monocultura do dendê na região.

Palavras-chave: Produção; Cultivo; Expansão; Incentivo.

Abstract

The advance of oil palm cultivation grows significantly in Brazil, by your economic
relevance and applicability in various industrial sectors, such as in the field of fuel and
food, for example. In Pará, municipalities like Thailand are highlighted by large
territorial extensions aimed at this type of monoculture, however other issues arise in
this scenario, as the family farm and your attempt at survival and inclusion in this
medium. For the clarification of such questions was conducted a search of
bibliographical nature and reports of experiences of living with family agriculture
producers in the municipality of Thailand-Stop. Notes that much must still be done to
complete insertion of these families in the Middle, so that they are not victims of
isolation or suffocated by large-scale productions of palm oil monoculture in the region.

Keywords: Production; Cultivation; Expansion; Incentive.

Introdução
Apesar do grande destaque dado a agricultura familiar no Brasil, bem como os
incentivos implementados pelo governo para manter e auxiliar a mesma na
busca por uma produção de subsistência de qualidade e de forma diversa,
muitos desafios surgem ao longo do caminho, vários desses abalam
significativamente as estruturas agrícolas familiares, justamente por estarem
disfarçadas e não serem facilmente identificáveis, tendo como conseqüências
impactos em longo prazo. O incentivo a cultura do dendê no nordeste
paraense, município de Tailândia, reflete bem esta situação, quando
procuramos investigar as conseqüências e impactos que vem abalando a
agricultura familiar presente no município.

Metodologia

Para a realização deste trabalho foram feitas, além de uma pesquisa de cunho
bibliográfico, registros de relatos das experiências com produtores da
agricultura familiar que estão atrelados a produção de dendê no nordeste
paraense, cidade Tailândia-Pará. Tais experiências se dão ao longo convívio
de três anos de trabalho onde o consumo, a busca e a troca de materiais para
a manutenção de áreas cultivadas com o dendê se mostraram intensas e
geraram grandes discussões.

Resultados e discussões

Elaeis guineensis é o nome cientifico do dendê, fruto do dendezeiro, uma


palmeira de proporções medianas, que pode chegar a quinze metros de altura,
segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária- Embrapa.
Tal fruto possui hoje grande importância econômica no Brasil, tendo em vista
sua grande aplicabilidade que passa pela produção de biocombustível até a
produção de alimentos, como margarinas e gorduras vegetais, por exemplo.

Figura 01: Dendê

Com clima favorável e grande área territorial a ser explorado, o Brasil tornou-se
hoje referência na produção de óleo de dendê no cenário mundial. Regiões
como as do estado da Bahia e do Pará, possuem tais características e por isso
receberam grandes incentivos para a produção, como o Programa Nacional de
Produção e Uso de Biodiesel (PNPB), que segundo Brasil (2011) tem como
objetivo fazer do biodiesel a matiz energética do Brasil, visando o
desenvolvimento social e regional.

No nordeste paraense encontramos um grande contexto histórico de incentivos


relacionados à expansão da monocultura do dendê, isso fica claro quando
analisamos grandes investimentos como o lançamento do Zoneamento Agro
ecológico do Dendê e do Programa de Produção de Palma de Óleo (GLASS
2013). O município de Tailândia, por exemplo, é ainda hoje um dos grandes
responsáveis pela produção em larga escala de óleo extraído do dendê, bem
como por abrigar grandes áreas territoriais plantadas com a palmeira.

Porém, com a expansão da monocultura do dendê, outra realidade entra em


questão, a agricultura familiar, tendo em vista que grandes desafios são
impostos nos dias atuais para proteção desse meio de produção quase que de
subsistência em muitas regiões. Desta forma, adotar políticas, não unicamente
de incentivo ao plantio e produção do dendê, mas também de inclusão dessas
famílias no meio produtivo, se faz mais do que necessário.

A ocupação gradativa do município de Tailândia, para plantação das áreas


produtivas, foi um processo lento, pois se tratam de anos de espera até que se
possa partir para a extração do fruto e posteriormente do óleo de palma, de
forma industrial. Em quanto isso, áreas que antes recebiam outros manejos,
ficam quase que exclusivas para a esse tipo de monocultura. Dificultando de
forma clara a vida e sobrevivência de famílias por meio da produção agrícola
tradicional, como cultivo de hortaliças e extrativismo, por exemplo.

Incluir tais famílias, que antes trabalhavam com a agricultura familiar, no


processo de produção, sem fazer com que elas percam a essência do trabalho
e do cultivo, tem sido o enorme desafio das grandes empresas de produção de
óleo de palma, que ocupam os espaços territoriais em Tailândia- Pará.
Construir esquemas lógicos, onde a atenção esteja voltada principalmente para
o agricultor familiar, tem se tornado hoje a chave para uma produção de
qualidade.

Figura 02: Agricultor familiar no manejo do dendê

Conclusões
Tendo em vista a expansão rápida e crescente do cultivo do dendê na região
nordeste paraense no município de Tailândia, percebe-se que muito ainda deve
ser realizado em favor dos pequenos agricultores familiares que necessitam ter
suas praticas protegidas e mais assistidas pelos programas públicos e privados
de incentivo. O isolamento de tais famílias e até mesmo a desapropriação de
terras para a plantação do dendê é algo que vem sendo gradativamente
combatido, pois a sociedade, de forma geral, percebe aos poucos a
importância da produção agrícola familiar para consolidação de um sistema
agrícola diversificado e aberto as produções de subsistências.

Referências bibliográficas:

BRASIL. Ministério de Minas e Energia. Programa Nacional de Produção e Uso do


Biodiesel. Disponível em:<
http://www.mme.gov.br/programas/biodiesel/menu/biodiesel/pnpb.html>Acesso em:
24/05/2017.

GLASS, V. Expansão do Dendê na Amazônia. São Paulo: Repórter Brasil, 2013.


Produção agrícola camponesa na comunidade de João Coelho, Santo Antônio
do Taua: elementos associativos a sustentabilidade produtiva

Peasant agricultural production in the João Coelho community, Santo Antônio do Taua:
associative elements to productive sustainability

NASCIMENTO, Antônio Arthur Cruz1; GOMES, Carlos Valério Aguiar2

1 NAEA/UFPA, aarthurcdn@hotmail.com; 2 NCADR/UFPA, valeriogomes@ufpa.br

Resumo

Sendo parte de uma pesquisa maior que procura analisar a tese de estabilização por
meio da complexificação como percurso teórico para compreender a dinâmica agraria
da produção camponesa em áreas de ocupação mais consolidada na Amazônia, o
presente trabalho busca analisar esta dinâmica na comunidade de João Coelho, no
município de Santo Antônio do Tauá, nordeste paraense como um caminho
associativo entre técnicas agrícolas familiares e sustentabilidade. Por meio de visitas a
campo e mobilização de elementos teóricos pertinentes como territorialidade
camponesa, sustentabilidade e dinâmica agraria, chegou-se a horizontes conclusivos
de que a pressão contra áreas verdes na comunidade por parte de camponeses em
busca cíclica de novas áreas e nula, e que há a permanência de técnicas que
otimizam a produção por área.

Palavras-chave: produção camponesa; sustentabilidade; agricultura.

Abstract:

Being part of a larger research that seeks to analyze the stabilization thesis through the
complexification as a theoretical path to understand the agrarian dynamics of peasant
production in areas of more consolidated occupation in the Amazon, the present work
seeks to analyze this dynamics in the community of João Coelho, Municipality of Santo
Antônio do Tauá, northeastern Pará as an associative path between familiar
agricultural techniques and sustainability. Through field visits and the mobilization of
pertinent theoretical elements such as peasant territoriality, sustainability and agrarian
dynamics, we arrived at conclusive horizons that the pressure against peasants in the
community for cyclical search of new areas is zero, and That there is the permanence
of techniques that optimize production by area.

Keywords: Peasant production; sustainability; agriculture.

Introdução

A comunidade que requer os esforços teóricos deste estudo fica no


município de Santo Antônio do Taua, nordeste paraense, João Coelho. Uma
das regiões mais proeminentes na atividade hortifrutifera do município. A
predominância de estabelecimentos camponeses na extensão da Travessa
João Coelho se deve as iniciativas de colonização agrícola empreitadas pelo
Estado no século XX e muitas das famílias que hoje produzem na área,
produzem nos lotes agrícolas doados na época. Atualmente, esta compõe-se
de quase 40 famílias produzindo em seus estabelecimentos ou vendendo a
mão de obra em estabelecimentos que hora ou outra em função das colheitas e
dos valores de mercado nas feiras.

A agricultura camponesa é proeminente na trajetória socioeconômica e


espacial da comunidade. Tratando-se de campesinato, estamos em
convergência com Hobsbawn (1998) quanto ao equívoco conceitual de uma
generalização, afinal ao de “falar em campesinato, nos referimos a um modo de
vida especifico” (Hébette, 2009) e que, na nossa perspectiva, insere-se
simultaneamente tanto na sua trajetória como no contexto atual, socialmente,
culturalmente, economicamente, politicamente e produtivamente. No que tange
a abordagens que verificam a viabilidade socioambiental da agricultura familiar,
há dois pressupostos básicos, para Hurtienne (1999, p. 80-82) estes se
edificam na tese do “ciclo de fronteira” e na “estabilização relativa por meio da
complexificação”.

A primeira credita insustentabilidade à agricultura familiar por identificar


nesta uma dinâmica produtiva e de uso da terra que pressupõe o avanço
constante contra coberturas vegetais primárias e secundárias como vetor
básico de produtividade, um caráter notadamente nômade através do sistema
derrubada e queima. Em análise metodológica desta perspectiva, Hurtienne
(2005, p. 36) identifica que na nuance ecológica, a insustentabilidade da
agricultura familiar itinerante apresentaria evidências ainda na falta de manejo
adequado contra processo de lixiviação, invasão de pragas e infertilidade
razoável do solo, além de economicamente agregar altos custos a produção
em função da falta de infraestrutura, acesso precário a mercados além da falta
de acesso a crédito e assistência técnica. Portanto, o caráter “empírico” e
“arcaico” (PENTEADO, 1967, p. 470) da agricultura familiar nas frentes de
fronteira conferiria a esta o fardo de dizimar manchas vegetais no território e
viabilizar posteiormente a inserção de empreendimentos agrícolas
tecnologicamente e economicamente aptos a desenvolver a região nas áreas
“abandonadas” (áreas assim, já desmatadas) pelos agricultores familiares.

Outra perspectiva de leitura da dinâmica agrária na Amazônia nos levam


a entender a realidade socioprodutiva da agricultura camponesa tauaense
dentro da tese de autores como Costa et al. (2000) defendem de “estabilização
relativa por meio da complexificação”, demostrando que em áreas de
colonização mais pretérita (como no nordeste paraense), a agricultura
camponesa, através da combinação de agricultura perene, temporária e
criação de pequenos animais promoveu uma diversificação de seus sistemas
produtivos resultando na superação da agricultura itinerante, diminuindo
significativamente, portanto, a pressão sobre áreas de floresta primária e/ou
secundária, por exemplo, considerado este, um indicador genérico de
sustentabilidade ecológica produtiva. Este percurso teórico se presta a
compreender esta dinamica principalmente em áreas de colonização mais
antiga.

No bojo de uma generalização dos processos territoriais no campo e dos


impactos ambientais da agricultura familiar, o enfoque do ciclo de fronteira
identifica uma hipótese (admitida muitas vezes como regra) que empiricamente
é nula em sua dimensão proposta. Partindo de um uso irracional do solo pelo
agricultor, este estaria condicionado a vender seu estabelecimento a outros
proprietários mais capitalizados que, diferentemente dele, teriam a disposição
recursos econômicos necessários a correção do solo. Esta trajetória conduziria
ora a busca por novas fronteiras ora pela proletarização no campo. Observa-
se, todavia, esta tendência apenas em “certos períodos de crise dos sistemas
de produção “ (HURTIENNE, 2005, p. 53) e não como mecanismo básico de
reprodução econômica em estabelecimentos familiares. Nas conversas em
campo percebe-se uma tendência contrária, alicerçada na permanência no
campo e na hereditariedade da propriedade familiar em comunidades nascidas
de estratégias de colonização agrícola do século passado.

Assim, é imprescindível considerar que as dinâmicas agrárias não se


especializam de maneira cristalizada no decorrer do tempo, ou se materializam
de forma unânime desde sua gênese. Afinal, as estratégias de colonização do
Nordeste paraense validaram em certa medida as leituras que identificavam
uma tendência de expansão fronteiriça da territorialização camponesa desde a
região Bragantina até a Guajarina, o que indicou que a prevalência de manejo
inadequado de recursos florestais e hídricos foram fundamentais para o quadro
de desflorestamento da região, ao passo, que a permanência deste
campesinato e sua expressividade agroprodutiva na região indica tendências e
padrões diferenciados de uso da terra em função dos processos de
diversificação produtiva e funcional da economia doméstica destes
camponeses, se desdobrando a acessos e vias infraestruturais temporalmente
diferenciadas a mercados.

Metodologia

Os utensílios metodológicos que viabilizam esta pesquisa se pautam em


visitas e estadias a campo, além de apreensão de referencial teórico que
elucide categorias relacionadas a produtividade camponesa, sustentabilidade e
modo de vida camponês.
Resultados e discussões

As visitas a campo em estabelecimentos familiares, por exemplo, na


comunidade João Coelho tem indicado a prevalência de técnicas de
preservação e manejo com recursos hídricos, como os igarapés aliados a baixo
emprego de utensílios químicos nos plantios de hortaliças além de índice
próximo a zero do uso de máquinas como tratores e máquinas de grande porte
em grande parte das propriedades visitadas na contrapartida de elevado
emprego de mão de obra, em consonância ainda com o que autores como
Costa (2001) considera como produção familiar rural camponesa, esta
portanto, assentada no núcleo produtivo familiar, desde a intensidade do uso
do trabalho como na definição das prioridades reprodutivas, em contraponto,
portanto, a racionalidade de ciclo de fronteira genericamente e geralmente
atribuída a agricultura camponesa amazônica. Observa-se que a prevalência
de técnicas como pousio e aproveitamento de vestígios vegetais como
estratégias de otimização de uso de área agricultável, além da permanência de
cobertura vegetal em grande parte das propriedades, tanto para preservação
de áreas com ervas com uso medicinal, como áreas verdes ciliares a cursos
hídricos.

Conclusões

A pesquisa tem apontado que as práticas agrícolas realizadas


historicamente na comunidade de João Coelho confirmam a tese de
estabilização por meio da complexificação em contrapartida a racionalidade
degradante do ciclo de fronteira como tendência homogênea. Este indicativo
pressupõe que indicadores de sustentabilidade econômica, ecológica e social
são manejados com mais eficiência dentro da agricultura camponesa do que
em outros modelos agrícolas materializados no município, como o agronegócio
do dendê. Defende-se que a compreensão mais afinada dos modos de
produção camponesa e sua relação com a sustentabilidade se apresenta como
um caminho promissor no forjamento de modelos teóricos e metodológicos
mais atualizados para assim, servirem em um plano posterior, de fundamentos
para políticas públicas de desenvolvimento rural e sustentável mais eficazes e
efetivas.

Referências bibliográficas:

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Nordeste Paraense: o caso de Capitão Poço. Belém: NAEA-UFPA, 2000. 272 p

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Campesinato, agronegócio e território – limites da coetaneidade

Peasantry, agribusiness and territory - limits of coetaneity

AQUINO JUNIOR, Paulo Olivio Correa de4

NAEA (UFPA), paulocorrea.sj@gmail.com

Resumo

A expansão do agronegócio do dendê na região tem sido acompanhada por


pesquisadores sob diversas óticas: os que defendem o monocultivo e a parceria como
promotores do desenvolvimento local e microrregional (discurso principalmente de
pesquisadores da EMBRAPA e outros órgãos vinculados ao Estado e empresas); as
que partem do ponto de vista dos danos ambientais e sociais, com a integração e
eliminação do campesinato neste processo (NAHUM & BASTOS, 2014) e as que se
preocupam em compreender dialeticamente este processo combinado e contraditório
de destruição e recriação campesina (MACEDO e SOUSA, 2015). Este escrito objetiva
compreender este processo a partir da ótica camponesa, após levantamento na
comunidade de Santo Antônio do Cravo, em Acará (PA).

Palavras-chave: Campesinato; Território; Desenvolvimento; Coetaneidade

Abstract: The expansion of palm oil agribusiness in the region has been accompanied
by researchers from different perspectives: those who advocate monoculture and
partnership as promoters of local and micro-regional development (mainly speech by
researchers from EMBRAPA and other agencies linked to the State and companies);
Those that depart from the point of view of environmental and social damages, with the
integration and elimination of the peasantry in this process (NAHUM & BASTOS, 2014)
And those who are concerned to dialectically understand this combined and
contradictory process of peasant destruction and re-creation (MACEDO e SOUSA,
2015). This paper aims to understand this process from the perspective of peasants,
after surveying the community of Santo Antônio do Cravo, Acará (PA).

Keywords: peasantry; territory; development; coetaneity

Introdução

A territorialização do agronegócio do dendê no município de Acará (PA),


especificamente em suas comunidades, arremete à consideração das
territorialidades ali presentes, notadamente das famílias que têm sua vida

4
Mestrando em Desenvolvimento Sustentável pelo PPGDTU – NAEA/UFPA.
voltada para a agricultura da mandioca, açaí, pimenta e muitos outros gêneros
que abastecem suas mesas e os mercados da microrregião de Tomé-Açu,
como também do nordeste paraense e mesmo da Região Metropolitana de
Belém. Coloca-se em pauta, assim, muito mais do que o local e mesmo o
desenvolvimento regional: os agrocombustíveis se inserem nas discussões em
torno da soberania ou segurança alimentar e da mundialização da agricultura
brasileira (OLIVEIRA, 2014:28), do desenvolvimento sustentável e da economia
verde (BECKER, 2010; FATHEUER, 2014; AQUINO JUNIOR, 2016,), da
produção de energia renovável no bojo da chamada transição energética e
descabornização da economia (PORTO-GONÇALVES, 2008), do
aproveitamento das potencialidades ecológicas-econômicas aludidas pelo
Macrozoneamento Econômico-Ecológico para a Amazônia (BRASIL, 2010), no
contexto do combate ao aquecimento global evocado por diversos setores.

Na relação que se estabelece entre comunidades e empresa há elementos de


interação, como o sistema de parceria na produção e a contratação de pessoal.
No caso da comunidade de Santo Antônio do Cravo , localizada a 2 km da PA-
252, a chegada da Biopalma, em meados de 2012, é associada ao fato de
finalmente terem tido acesso a energia elétrica e melhoras na qualidade do
ramal que dá acesso à comunidade. Temos neste ponto exatamente o que a
geógrafa inglesa Doreen Massey denomina coetaneidade: um devir coetâneo
no espaço mediado pela política – em sentido amplo -, o encontro de “histórias-
até-agora” diversas que se articulam (MASSEY, 2013:15;267). Este encontro
não é apenas entre sujeitos ou grupos distintos, mas também entre diferentes
objetos e ações: o lugar-território transforma ambas as
realidades/territorialidades que se encontram, dialeticamente, modificando o
valor das técnicas que chegam e das preexistentes (SANTOS, 2014:65).
Contudo, levando adiante as afirmativas dos autores acima: a necessidade de
abertura do futuro (Massey) e a acomodação entre os objetos e ações que se
encontram (Milton Santos) têm seu limite na materialidade da terra-território,
posto que o território é “efeito material da luta de classes travada pela
sociedade na produção de sua existência” (OLIVEIRA, 2003:40). Estas
existências não se diferenciam somente pelo seu “ser” imediato, mas
compreendem diferentes projetos de futuro e racionalidades; tanto a agricultura
familiar quanto o agronegócio têm sua base na terra, na materialidade que não
exclui o simbólico, mas é condição sine qua non da existência destes modos de
relação entre homens e natureza. O território, ao abarcar a terra (matéria) e a
cultura (simbolização) não é apreendido/utilizado da mesma forma pelo
campesinato e pela empresa: para esta, o território é a base material e
condição da produção; nele ocorre o plantio, colheita e processamento dos
cachos; nele é instalada a planta industrial. Para o campesinato o território é
principalmente espaço de vida onde se realiza a existência humana
(FERNANDES, 2006:28-29).

Comunidade de Santo Antônio do Cravo

A comunidade de Santo Antônio do Cravo revela em seu nome a origem das


famílias que primeiro se instalaram ali: Cravo é o nome de uma comunidade do
município de Bujaru. Dali partiram as primeiras dez famílias que viriam a formar
em Acará uma nova comunidade, trazendo seu modo de vida e em busca de
terras disponíveis para poderem se manter cultivando e vivendo no campo.

Foi a cerca de 50 anos que eles migraram, famílias extensas: ainda hoje há
uma consideração mútua de parentes na comunidade e em nossos campos
(realizados no segundo semestre de 2015), foi recorrente a referência afetiva a
outros membros da comunidade. O senhor Leonel “Bebé”, que estava no grupo
que migrou nos anos 1960, conta que

Eu sou nascido em Bujaru, mas vim pra cá com


cinco anos. Eu moro aqui há cinquenta anos e
nunca larguei aqui e num largo. Trabalha aqui na
terra só eu e a mulher. Eu tenho aqui nos fundo
açaí, os meus neto tão aprendendo. Eu fui criando
na agricultura: com 12 ano já carregava mandioca
na costa, cortava arroz, fazia tudo com minha mãe.
Pra mim num o melhor lugar do mundo que tem é
aqui. São 25 hectare de terra.

Com a chegada das famílias, foi aberto um ramal chamado de “ramal do Cravo”
por conta da origem dos migrantes. As famílias traziam seus saberes no trato
da terra, herdado de gerações passadas, mas não só isso: traziam também a
religiosidade. Foi assim que se formou o nome atual da comunidade: Santo
Antônio do Cravo.

A chegada da empresa

Santo Antônio do Cravo, que tem seu núcleo de povoamento principal no ramal
do Cravo, está a dois quilômetros da PA-252. Este núcleo fica a cerca de 4 Km
do rio Acará-Mirin. Foram nas margens do rio que a Biopalma iniciou a
construção de sua planta industrial, em 2012. Com esta presença nova, a vida
da comunidade começou a mudar. O primeiro passo foi o mercado de terras;
segundo os relatos, num primeiro momento ficou claro este mercado estava
aquecido. Dona Raimunda, em entrevista, nos contou que

Aqui da (igreja assembleia) Monte Carmelo pra cá


não, mas pra lá [no sentido do rio] tudo vendero [...]
Agora já acabaro o dinheiro e tão passando miséria
porque de certeza o dinheiro num dá pra passar
muito (Seu João).Ainda tem mais ainda, que as
pessoa que tinha sua terra não venderam, deram. E
hoje tá servindo de peão lá dentro.
O progresso nutrido pelo discurso foi mostrando logo sua face para os
moradores da comunidade, como nos relatou o senhor Leonel Bebé

Tá trazendo progresso sim, pra eles lá. Tá trazendo


progresso e complicação aqui, vou lhe dizer porquê:
alta velocidade aqui, não respeita limite de trânsito
aqui, essas carreta que passa aí, num tem
fiscalização, num tem lombada e outra coisa, a
poluição, amigo, essa poeira aí tá poluindo tudo
aqui, a minha casa se ver dentro faz vergonha.

A instalação da empresa com sua planta industrial e suas palmas teve como
consequência imediata a crescente circulação de veículos pesados no ramal de
piçarra, levando a uma das observações mais recorrentes em nossas
entrevistas em campo: a poeira, ou para utilizar linguagem mais comum na
geografia, material em suspensão. O trânsito diário, segundo as entrevistas, é
de cerca de 40 ônibus, não sendo muito diferente quanto aos caminhões
transportando peças e equipamentos para a construção da empresa e óleo de
palma processado na parte já em funcionamento. Os ônibus começam a
transitar por volta das 4 da manhã e retornam no final da tarde, em torno de 17
horas. Os caminhões são mais variados no horário, podendo o próprio campo
comprovar a quantidade de poeira que compõe a paisagem do ramal. Em
entrevista, seu Leonel Bebé disse que “Agora o que tem que fazer: tem que
respeitar, colocar lombada e pelo menos se não for asfaltar, colocar um carro-
pipa pra ficar molhando, porque eles tem condição, essa empresa é poderosa,
né? A Vale?”.

Relações campesinato-agronegócio pós instalação da empresa


Evidente que o material em suspensão não fica restrito ao ramal: os cultivos,
notadamente pimenta e açaí, que ficam próximos à via, foram afetados. A
formação de espessas camadas sobre as folhas atrapalha o processo de
fotossíntese, diminuindo a produção. Quando inicia o inverno amazônico, a
situação não melhora muito: “Quando chega agora esse tempo é poeira e
quando chega o inverno é lama... mulher trabalha numa comunidade ali, tem
que ir de bota, então nós sofre em dois tempos” (Leonel Bebé - entrevista em
22 de novembro).

Cerca de 30 famílias vivem atualmente na comunidade. Cultivam pimenta,


cacau, açaí, mandioca, mamão, Bacabi, entre outras árvores frutíferas.
Também é comum a criação de galinhas, e em alguns lotes, cabeças de gado.
Segundo nos contou a senhora Joana (21 de novembro de 2015), algumas
famílias criavam suínos. Ela abandonou a criação por conta dos lotes não
serem cercados, e como avizinhava com o dendenzal, fora advertida por um
funcionário que se um porco de sua propriedade estragasse um pé de dendê,
seria multada em 12 mil reais. Atualmente, com árvores frutíferas em seu lote,
dona Joana vive basicamente do comércio de farinha de mandioca e derivados
como o tucupi, que como pude notar também faz parte da produção da dona
Joelma. Um de seus filhos trabalhou na empresa, mas após cerca de 4 anos
preferiu deixar o emprego e voltou a trabalhar com a família. Seu irmão vendeu
seu lote, segundo ela de 250x1000 m, por 25 mil reais, que foram divididos
entre a família, de 8 pessoas.

Conclusões

É a partir das considerações feitas pelos moradores da comunidade de Santo


Antônio do Cravo que o “desenvolvimento pra eles lá” citado nas entrevistas vai
ganhando corpo. Ao mesmo tempo, delineia de onde vêm realmente as
necessidades que motivam a expansão do agronegócio do dendê. Diferente da
incessante busca por lucro e algo como o desenvolvimento para a região,
localidade ou outro termo o campesinato reafirma a opção pelo trabalho que
alimenta a si e abastece diariamente as mesas de tantos brasileiros. As
diferentes necessidades e a desigual ação do Estado colocam em disputa os
territórios e o futuro do agronegócio e do campesinato. Enquanto alguns
teimam em permanecer na terra, ponderações como a de Josué Almeida
surgem para o campesinato de Santo Antônio do Cravo:

Quem sofre é quem não vendeu a terra pras


empresas... Ela trouxe benefício, mas... não dá pra
plantar nada. Ela num ponto ajudou muito mas no
outro destruiu [...] lá eles tamparo o igarapé e
dissero “só podemos cavar um poço pra você”. [Se
tiver reclamação] por exemplo tu vai no começo do
verão, vão te mandar pra outro, depois pra outro...
Até chegar no último chegou o inverno.

O desenvolvimento e a sustentabilidade manifestos nos discursos da empresa


apoiada pelo Estado e interessada em expandir ainda mais seu cultivo e sua
influência (pela energia elétrica e mercado de carbono) encontra na fala da
dona Raimunda a definitiva resposta: “nós que se dissemo pobre, porque dão
esse apelido, não tem jeito, mas nós somos rico”. O auto reconhecimento
coloca em xeque a ideia de levar desenvolvimento e melhorar a vida das
populações locais com o agronegócio do dendê: vê-se que são territórios e
projetos distintos, e o campesinato vai cada vez mais tendo claro isto.

Referências bibliográficas:
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e futuro em disputa. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
Licenciatura Plena em Geografia) — Instituto Federal de Educação, Ciência e
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Tecnologia Social: Um Estudo de Caso na Associação Mutirão, no Município de
Igarapé Miri, Estado do Pará

Social Technology: A Case Study at the Mutirão Association, in the Municipality of


Igarapé Miri, State of Pará

ROSARIO, Ligia Paula Cabral do 1; CARVALHO, Ângelo Rodrigues de2 ;DOS-


SANTOS, João Paulo3;LIMA, Fabricio Nilo da Silva 4;REIS, Adebaro Alves dos5

1 IFPA-Campus Castanhal, ligia.agronomia@yahoo.com; 2 IFPA-Campus Castanhal,


angeloeafcpa@yahoo.com.br; 3 UFPA-Campus Castanhal,
santosjp12@yahoo.com.br;4 IFPA-Campus Breves,fabricio_nilo@hotmail.com.br;5
IFPA-Campus Castanhal,adebaroreis@yahoo.com.br

Resumo

O trabalho objetiva analisar a importância da ação das tecnologias sociais na


agricultura familiar no Território do Baixo Tocantins, Pará. Foi aplicado um questionário
semiestruturado com perguntas abertas e fechadas para não restringir as informações
dos entrevistados pertencentes a organização social que atuam diretamente no
território. As questões abordadas são sobre o processo produtivo, as alternativas de
manejo sustentável para a principal cultura na região tocantina o açaí (Euterpe
oleracea Mart.) e práticas de uma agricultura sustentável como o Saf’s ou quintais
agroflorestais. Destaca-se a diversidade de tecnologias sociais que contribuem para
as capacitações, formações e implantações de projetos pilotos na sede da Associação
Mutirão para o fortalecimento da agricultura familiar ribeirinha.

Palavras-chave: Agricultura familiar; Baixo Tocantins; Ribeirinho; Várzea.

Abstract: The objective of this work is to analyze the importance of social technologies
in family farming in the Lower Tocantins Territory, Pará. A semi-structured
questionnaire with open and closed questions was applied in order not to restrict the
information of the interviewees belonging to social organization tatu act directly in the
territory. The issues addressed are about the productive process, the alternatives of
sustainable management for the main culture in the Tocantina region the açaí (Euterpe
oleracea Mart.) And práticos of a sustainable agriculture like the Saf's or backyards
agroforestry. It is worth mentioning the diversity of social technologies that contribute to
the training, training and implementation of pilot projects at the headquarters of the
Mutirão Association for the strengthening of family-owned riverside agriculture.

Keywords: Family farming; Low Tocantins; Ribeirinho; Várzea.


Introdução

Conforme expressa Gomes (2011) a palavra tecnologia tem origem no grego


“technos” que significa profissão e “logos” que significa saber, estudo,
conhecimento. Todavia, o termo Tecnologia Social (TS) recentemente novo e
consistir vastamente na discussão no meio acadêmico, político e pela
sociedade civil organizada. A partir do emprego das tecnologias sociais, os
agricultores apresentam demandas e necessidades sociais referentes às
questões econômicas, ambientais e educacionais atribuem as suas
experiências ou práticas aos conhecimentos repassados pelos seus
antepassados no dia a dia no campo.

Para Novaes (2010) as Tecnologias Sociais adequam e viabilizar


economicamente as organizações sociais como cooperativas populares,
assentados da reforma agraria e a agricultura familiar. Devido suas
características serem adaptadas aos produtores familiares, de não gerarem o
controle capitalista e de incentivar o potencial e a criatividade dos agricultores
familiares.

Assim, o associativismo pode ser compreendido, segundo Ricciardi e Lemos


(2000), como uma ferramenta de luta dos pequenos produtores, adaptando a
estabilidade na terra, elevação do nível de renda e de participação como
cidadãos. Uma associação não é somente uma organização de pessoas com
objetivos comuns para proporcionar uma melhor reprodução econômica de
seus sócios

Na região do Baixo Tocantins essas técnicas são empregadas através dos


cursos de capacitações e formações realizados no centro de formação Roberto
Remígio sobre o manejo de açaizais e a retirada do palmito correto a partir da
seleção das touceiras mais vigorosas para aumento da produção, o manejo
dos quintais agroflorestais e também do sistema agroflorestal presente na área
de várzea do município.

Os associados são caracterizados como agricultores familiares presentes nas


diversas ilhas desenvolvendo diversas atividades produtivas neste local.
Objetiva-se tecer reflexões a respeito das tecnologias sociais adotadas através
de práticas alternativas da agricultura familiar por meio da Associação Mutirão.

Metodologia

O Município de Igarapé Miri localiza-se na mesorregião do nordeste paraense,


território do Baixo Tocantins, a 78 km da capital do Estado (IBGE, 2001). Os
procedimentos da pesquisa foi qualitativa e quantitativa com a utilização de
métodos e técnicas que envolverão a realização de pesquisa de campo,
observação participante, realização de entrevista, aplicação de questionário
semiestruturado e análise de conteúdo.

Foi aplicado um Diagnóstico Rural Participativo DRP que consistiu de um


questionário com perguntas abertas e fechadas para que não limite se as
informações declaradas pelos entrevistados, sobre as problemáticas
ambientais e seus impactos para o meio ambiente e a sociedade local e como
as tecnologias sociais vem contribuindo para a melhoria de condição vida. A
pesquisa de campo foi realizada no período de julho de 2016 à agosto de 2016.
Também ocorreu coleta de dados foi através de visitas in locus nas áreas dos
agricultores familiares ribeirinhos. As técnicas empregadas, neste estudo,
foram: caminhada transversal, aplicação de questionário, realização de
entrevistas abertas, conversas informais, diário de campo e observação
participativa.
Resultados e discussões

O projeto Mutirão e consequentemente a Associação Mutirão foi idealizado


para desenvolver processo e produtos para suprir as necessidades dos
agricultores familiares ribeirinhos, após o fim do declínio do ciclo da cana de
açúcar e dos engenhos do município, a partir do início da década 90, como
estratégia de recuperação das áreas degradadas, geração de trabalho e renda
no território, a partir da introdução de sistemas produtivos diversificados com o
uso de técnicas de manejo sustentável dos recursos naturais, baseados nas
tecnologias sociais desenvolvidas através das dificuldades apresentadas.

As tecnologias sociais são disseminadas nas comunidades ribeirinhas dos


sócios e não sócios da Associação Mutirão por meio de capacitações (cursos,
oficinas, encontros, palestras, visitas de bases, feiras, fóruns e seminários)
realizadas pela associação em parceria com instituições de ensino, pesquisa e
extensão como a Universidade Federal do Pará, Instituto Federal do Pará por
meio da Incubadora Tecnológica de Desenvolvimento e Inovação de
Cooperativas e Empreendimentos Solidários (INCUBITEC) e do Núcleo de
Educação em Agroecologia (NEA).

Através das tecnologias sociais aplicadas pelos agricultores são as soluções


práticas, que são aplicáveis para solucionar algum tipo de problema social. O
manejo das áreas dos açaizais nas áreas de várzeas, a diversificação de
frutíferas entre os açaizais contribuindo para o surgimento dos quintais
agroflorestais e sistemas agroflorestais, assim como para o manejo da criação
de viveiros escavados de peixes na região. Juntas elas conseguem atender em
minimizar a falta de assistência técnica para produção.

As experiências produtivas são consideradas tecnologias sociais pelos


agricultores familiares ribeirinhos como processos, métodos ou técnicas criadas
pela interação da ciência com o saber tradicional que são replicadas e
disseminadas nas unidades produtivas familiares para solucionar o problema
social, econômico e ambiental do desemprego, renda e reflorestamento com
baixo custo e de fácil aplicabilidade, por meio do manejo das áreas dos
açaizais nas áreas de várzeas, a diversificação de frutíferas entre os açaizais
contribuindo para o surgimento dos quintais agroflorestais e sistemas
agroflorestais, assim como para o manejo da criação de animais.

Para Cruz (2015) o sistema agroflorestal é uma alternativa agroecológica de


produção sustentável para os agricultores familiares da área de várzea do
município de Igarapé Miri, sobretudo quando refere se ao manejo florestal, à
diversidade de produtos e à geração de renda. O SAF e compreendido como
tecnologia social para aceleram a produção e a sustentabilidade dos atores
sociais na sua localidade.

Conclusões

Buscou-se apresentar a importância da TS, aliada a ações sociais coletivas da


Associação Mutirão, enquanto instrumento para solucionar complexos
problemas sociais, econômicos e ambientais. Em particular, abordou-se a
Tecnologia Social associada à agricultura familiar através das atividades
diversificada de produção e uma estratégia para promover seu
desenvolvimento econômico e social agregando valor aos produtos produzidos
na várzea de Igarapé Miri.

Referências bibliográficas:

CRUZ, N. C. C. da. Transição do Monocultivo do Açaí (Euterpe oleraceae


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Breves notas sobre a identificação dos remanescentes de quilombo do
Arapemã residentes no Maicá

Identification of remnants of quilombo of the Arapemã residents in the Maicá: brief


notes

CAMILO NORONHA, EVANDERSON¹; DE SOUSA FARIAS RIBEIRO, JÚLIA²


¹Universidade Federal do Oeste do Pará, evandersonnoronha@gmail.com;
²Universidade Federal do Oeste do Pará, juliafarias963@gmail.com.

Resumo: Este trabalho tem como escopo tecer uma análise crítica a respeito do
relatório antropológico de identificação de remanescentes de quilombo da comunidade
Arapemã, residentes no bairro Maicá, no município de Santarém (PA). Para tanto
foram realizadas análises bibliográficas e documentais com fito de esboçar a
relevância do debate a respeito dos mecanismos utilizados pelos comunitários para se
autoafirmarem como remanescentes de quilombo perante as instituições jurídicas e a
sociedade em geral. Analisam-se ainda os processos pelos quais estes sujeitos obtêm
o devido reconhecimento de sua identidade étnica, enfatizando as dificuldades no que
tange aos preconceitos ainda vivenciados pelos quilombolas. Como resultado,
observa-se que diante das dificuldades surgidas na aplicação das disposições
concernentes ao reconhecimento de grupos etnicamente diferenciados aos casos
concretos, a autoatribuição torna-se a principal estratégia para garantir o
reconhecimento da identidade étnica frente ao Estado em casos nos quais a
etnicidade encontra-se atrelada à questões territoriais.

Palavras-chave: Territorialidade; Identidade quilombola; Autoafirmação.

Abstract: The purpose of this summary is to provide a critical analysis of the


anthropological report on the identification of quilombo remnants of the Arapemã
community, residents of the Maicá district, in the municipality of Santarém (PA). For
this, bibliographical and documentary analyzes were carried out in order to sketch the
relevance of the debate about the mechanisms used and the community to assert
themselves as a collective not only before the legal institutes, but also before the
society in general. It is also analyzed how the processes by which these subjects pass
until obtaining the due recognition of their collective identity, emphasizing the
difficulties, especially with regard to the prejudices still related to this traditional group.
As a result, it is observed that in view of the difficulty that the Brazilian legal system has
to apply in the practical case what the legislation regarding the recognition of
differentiated ethnic groups provides, self-attribution becomes the main strategy to
guarantee the recognition of the collective identity before The State in cases in which
ethnicity is intrinsically tied to the territorial issue

Keywords:Territorialidade; Quilombo identity; Self-affirmation,

Introdução
As comunidades remanescentes de quilombos fazem parte do
patrimônio cultural da nação, nos termos do artigo 216 da Constituição Federal
(CF) de 1988, por retratar e conservar, em seus modos de vida, a cultura afro-
brasileira, incorporada ao cotidiano brasileiro através dos povos africanos
trazidos ao que hoje chamamos de Brasil para serem escravizados.

Deste modo, tais comunidades devem ser protegidas pelo Estado,


conforme o artigo 215, §1º, da CF de 1988, no qual está expresso que o
Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-
brasileiras, além de outros grupos participantes do processo civilizatório
nacional. Entretanto, observa-se que somente após mais de duas décadas da
promulgação da Carta Magna de 1988 o Brasil começa a dar os primeiros
passos para a observância e concretização aos direitos fundamentais das
comunidades quilombolas, garantindo às futuras gerações a sua sobrevivência
e reprodução histórica, física, social, econômica, política, espiritual e cultural.
Com isso, muitas comunidades quilombolas estão a mercê do reconhecimento
do Estado, e não somente desse último, como também de certos setores da
sociedade, o que torna a via para a efetivação dos seus direitos ainda mais
difícil e tortuosa.

Metodologia

As metodologias utilizadas foram análises bibliográfica e documental,


traçando um paralelo entre a matéria jurídica e conceitos antropológicos com o
fito de argumentar com os dois lados presentes no tema abordado: o Estado,
através de sua normatividade e o procedimento administrativo de regularização
(identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação) de terras
ocupadas por remanescentes de quilombos, e a comunidade quilombola do
Arapemã, por intermédio do procedimento de tradução feito pela Antropologia,
no que tange a afirmação da sua identidade étnica. Utilizamos como suporte
teórico o relatório etnográfico produzido pela antropóloga Patrícia Portela
Nunes, sob a coordenação de Eliane Cantarino O’Dwyer, necessário para
compreender os mecanismos de autoafirmação da identidade quilombola dos
remanescentes do quilombo de Arapemã residentes no Maicá, em Santarém
(PA).

Resultados e discussões

O processo histórico de formação social, econômica, política e cultural


do Brasil baseou-se na opressão, exclusão e invisibilização de grupos
marginalizados e considerados inferiores por colonizadores europeus. Não
obstante, com o advento da CF de 1988, vislumbrou-se uma oportunidade para
o reconhecimento de direitos fundamentais, isto é, direitos à igualdade, à
liberdade e à cidadania, os quais são considerados emancipatórios e
necessários para uma vida com dignidade.

A necessidade de equilibrar relações históricas marcadas pela


desigualdade e opressão permeia o cotidiano de comunidade e povos
etnicamente diferenciados, tais como os remanescentes de quilombos e
indígenas, de modo que não se conceba seus direitos como privilégios, mas
como uma forma de assegurar o usufruto da sua cidadania, que no dizer de
Arendt (2010), é o direito a ter direitos, e pressupõe a igualdade, a liberdade e
a própria existência e dignidade humanas. Tendo isso em vista, a CF de 1988,
reconhece o direito a propriedade definitiva das terras ocupadas pelos
remanescentes de quilombos e determina ao Estado a obrigação de expedir os
respectivos títulos de propriedade coletiva e pró indiviso.

Entendemos que o supramencionado artigo mostra-se um mecanismo


fundamental de reparação e proteção do patrimônio cultural representado pelas
comunidades remanescentes de quilombos no Brasil, transformando grupos
até então silenciados por sofisticados mecanismos de violência simbólica em
sujeitos de direito.

O caso dos moradores do bairro Pérola do Maicá exprime a necessidade


de resguardar o direito à moradia e à propriedade, os quais estavam
ameaçados desde que a empresa Grannel Armazéns Gerais LTDA moveu uma
Ação de Usucapião contra João da Silva Marques Pinto, proprietário de uma
área de 2.052.688,00 m², que inclui, além de Pérola do Maicá, os bairros Jutaí,
Área Verde, Maicá e Uruará. Resta claro, que, mesmo diante de um direito
consagrado constitucionalmente em 1988, muitos povos e comunidades
étnicas veem-se confrontadas e ameaçadas pela voracidade fomentada pelo
crescimento econômico imposto pela territorialização do capital na Amazônia.
No caso da comunidade étnica que estabeleceu-se no bairro Pérola do Maicá,
as problemáticas não surgiram pelo fato de residirem na zona urbana, mas por
conta da insurgência de uma pretensão territorial, que envolve interesses de
outras instâncias de poder, aí incluídos os vários interesses privados, políticos
partidários, da Associação de Moradores, levando a uma disputa pelo controle
do bairro.

O bairro de Pérola do Maicá surgiu por diferentes processos de


deslocamento de famílias que, em fins da década de 1980, decidiram deixar
suas comunidades de origem e viver na cidade. As primeiras famílias que
chegaram à localidade são originárias da comunidade de Arapemã
(reconhecida como remanescente de quilombo em 2004, nos termos do artigo
68 do ADCT). Segundo relatos dos moradores do bairro, obtidos por Nunes
(2011), o município de Santarém concedeu em 1988 sessenta e três “lotes” de
terra para famílias provenientes da comunidade do Arapemã, conforme a fala
do então Presidente da Associação de Moradores. Desde então até o
ajuizamento da ação de usucapião, os moradores do bairro não haviam se
confrontado com qualquer tipo de conflito que colocasse em questão o direito
de moradia do grupo local. Por tais razões, criaram a Associação de Moradores
Remanescentes de Quilombo do Arapemã Residentes no Maicá (AMRQARM)
em 2006 e a reivindicar a área referente ao bairro de Pérola do Maicá como
território do conjunto de famílias que migraram em fins da década de 1980 e
início dos anos noventa para a cidade de Santarém.

Nesse sentido, no decorrer do processo de embate pelo controle do


espaço, cada grupo social elabora estratégias e ações que espraiam-se em
uma esfera de disputa, buscando, assim, afirmar a legitimidade de seus
interesses e seus projetos de intervenção no espaço pretendido, implicando no
exercício efetivo do poder de ordenar o território, visto que esse não se
restringe a uma noção geográfica, mas denota uma noção jurídico-politico, que
expressa um tipo de poder exercido sobre o espaço (FOUCAULT, 2006).
Devemos considerar, ainda, as formulações teóricas de Weber, inscritas em
sua teoria da ação, sobre a constituição dos grupos humanos, na qual
concebe-se a comunidade política como uma forma de organização que
recorre à etnicidade para dinamizar a ação política: trata-se de tomá-la como
um princípio de ação. Além disso, para Weber (2004), para conceituarmos um
grupo étnico é imprescindível a história como elemento heurístico, isto é,
mesmo considerando a crença subjetiva como elemento pertinente para a
compreensão da formação dos grupos étnico, a lembrança de uma migração
real é importante, uma vez que sustenta inclusive a persistência de “hábitos” e
“costumes comuns” referentes às comunidades de origem.

Conclusões

Tendo em vista a etnicidade ser o fenômeno de marcação de uma


fronteira social, (BARTH, 1998) fenômeno típico de uma sociedade complexa,
os indivíduos dentre essas sociedades transitam por diferentes culturas. Tais
sujeitos multidentitários usam a caracterização que lhe convém ou que melhor
adeque-se às situações de seu cotidiano (POUTIGNAT; STREIFF-FENART,
1998). Logo, a etnicidade não está necessariamente atrelada à questão da
territorialidade.

Ainda assim, nos cenários que envolvem remanescentes de quilombo, a


etnicidade está constantemente cumulada à questões territoriais. De sorte que
percebe-se, como no caso dos remanescentes de quilombo do Arapemã
residentes no Maicá, que a autoatribuição é uma estratégia utilizada por
diversas comunidades negras, envolvidas no processo de escravização, para
defenderem seu direito à moradia e torna-se um instrumento de resistência na
luta por seus territórios.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARENDT, H. A condição humana. 11 ed. Rio de Janeiro: Forense


Universitária, 2010.

BARTH, F. Grupos étnicos e suas fronteiras. In: POUTIGNAT, Philippe e


STREIFF-FENART, Jocelyne. Teorias da Etnicidade seguido de grupos
étnicos e suas fronteiras de Fredrik Barth. São Paulo: Fundação Editora da
UNESP, 1998.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do


Brasil. Brasília, DF: Senado, 2010.

O’DWYER, E. C.; NUNES, P. P. Relatório Antropológico de Identificação


Remanescentes de Quilombo do Arapemã residentes no Maicá. Santarém:
Projeto de Pesquisa de Identificação e Delimitação das Comunidades
Quilombolas no Oeste do Pará, 2011.
POUTIGNAT, P.; STREIFF-FENART, J. Teorias da Etnicidade seguido de
grupos étnicos e suas fronteiras de Fredrik Barth. São Paulo: Fundação Editora
da UNESP, 1998.

WEBER, M. A ética protestante e o “espírito” do capitalismo. São Paulo:


Cia das Letras, 2004.
Terra em Transe na Terra de Gentes: mudanças legais no uso da terra,
sua conservação e preservação e no acesso e repartição da
biodiversidade
Land in Trance in the Land of Peoples: legal transformations in land use,
conservation, and in the access and benefit sharing of biodiversity
VECCHIONE GONÇALVES, Marcela5; MONTEIRO, Igor6; LEAL, Erica7

Resumo

As ameaças de apropriação dos conhecimentos tradicionais associados refletem um


modo de agir sistemático do capital sobre a natureza e os povos que a constroem e
constituem. As recentes alterações legislativas – Código Florestal, Lei de Acesso a
Biodiversidade – e projetos de lei, aliadas às ações governamentais de desmonte de
órgãos de regularização fundiária e responsáveis pela formulação e execução de
políticas para povos e comunidades tradicionais apontam para um conjunto de ações
que demonstram um tipo de violação sistemática exercida pelo poder público. Tais
ações, argumentamos, conformam um ângulo de entendimento e legibilidade pela
parte do Estado sobre os povos da floresta (Scott 1992) e que vivem na e da terra,
bem como dos territórios por eles ocupados e manejados. A legibilidade que o Estado
faz dos povos e comunidades tradicionais acabam por traduzir seus modos de vida
como impasses ao modelo de desenvolvimento executado e legitimado pelo próprio
Estado. Este ensaio busca refletir sobre o significado das mudanças de regimes,
legislações e políticas no que tange `a biodiversidade e `as terras coletivas, bem como
sua conservação e gestão, com o objetivo de subsidiar de forma didática e resumida
posteriores e eventuais movimentos de reação dos povos e comunidades tradicionais
no esforço de compreensão da conjuntura, mas, também, da estrutura que envolve
esses processos. Partiremos de análise documental e situacional (Li 2014), atentando
para as relações de poder presentes nas práticas legislativas que abrangem e
alimentam as mudanças de relação do uso da terra e de apropriação da
biodiversidade.

Palavras-chave: Terras; Território; Biodiversidade; Conservação; Legislação.

Abstract:

Threats of appropriation of associated traditional knowledge are the reflexion of a


systemic mode of operation capitalism exerts over nature and the peoples that build
and constitutes it. Recent alterations in legislation - such as the Forest Code and the
Biodiversity Law - allied to law projects, when connected to governmental acts leading
to the deconstruction of departments in charge of land tenure or of making policy to
traditional peoples, actually show us a scenario of systemic violation by the State. We

5
Núcleo de Altos Estudos Amazônicos NAEA-UFPA, marcela.vecchione@gmail.com
6
Núcleo de Altos Estudos Amazônicos NAEA-UFPA, igorapmonteiro@gmail.com
7
Faculdade de Direito - Instituto de Ciências Jurídicas ICJ-UFPA, ericawet@hotmail.com
argue such actions are part of a process of putting forest peoples and people living in
the land and from the land in a specific angle of understanding and legibility practiced
by the State (Scott 1992) which translates them and their ways of living as obstacles to
the development exercised and planned by the very State. This essay aims at looking
at the meaning of changes in legislation, regimes and policies related to biodiversity
and environmental regulation involving both conservation and management. The
objective is to provide social movements and traditional peoples with a pedagogical
analysis for their efforts and mobilizations to understand these changes in a
conjunctural manner. We also aim at discussing structural trends that bound these
processes. For that, we are going to make documental and situational analysis (Li
2014), by being attentive to the power relations informing the legislative changes,
which are those informing the changes in relation to land use and land use change as
well as those related to biodiversity appropriation.

Keywords: Land; Territory; Biodiversity; Conservation, Legislation.

Introdução

A velocidade que mudanças relativas a direitos territoriais, direito `a terra e o


acesso a políticas públicas que operacionalizam a própria função social da
terra tem adquirido nos últimos dez anos no Brasil foi impressionante. Desde a
aprovação do Novo Código Florestal, e de sua regulamentação pela Lei 12.651
de 25/05/2012, é possível observar mudança nas formas instituídas e legais no
estatuto da proteção ambiental e da biodiversidade. Primeiro, pode se observar
este movimento na aderência a critérios mais permissivos no que toca a limites
de proteção, que se relacionam - textualmente, inclusive - `as possibilidades de
intensificação do uso da natureza na forma de seus recursos e biomas, aliado a
suas relativas importâncias econômicas, claramente ligando os limites de
exploração não apenas `a importância estratégica em termos de proteção da
biodiversidade e ameaça aos biomas, mas garantindo a permanência dos
espaços econômicos e produtivos já consolidados e em expansão e em
justaposição aos mesmos biomas8. Segundo, também é possível detectar uma

8
Este e o caso do Cerrado, que mesmo que seja um dos maiores hotspots de biodiversidade
do mundo e estando sob grande ameaça com perdas de áreas por hectares relativas
superiores a da Amazônia, teve sua área de Reserva Legal (RL) restrita a 30% das
propriedades. Da mesma maneira, no bioma Amazônia, ainda que a RL seja de 80%, para as
mudança de lógica na atuação da fiscalização e do monitoramento ambiental
de maneira mais ampla, e da conservação da biodiversidade de forma mais
especifica, que é a transposição da lógica da precaução, presente no Artigo
225 da Constituição Federal - na qual se incluem de maneira difusa os próprios
direitos territoriais - para uma lógica compensatória.

Esta lógica que ora é mediada por contratos, ora por políticas públicas de
regularização ou de repartição voltadas a parcerias e esquemas público
privados, que colocam os mesmos contratos como objeto central de sua
articulação, bem como da geração dos resultados para a proteção ambiental9,
acabam por deixar em segundo plano a agência e a participação dos sujeitos
coletivos e políticos que se manifestam e atuam em suas diversas formas de
cuidado e manejo da biodiversidade por meio de seu conhecimento tradicional.
Este conhecimento se ilustra nas mesmas atuações coletivas de uso, vivencia
e trabalho com e na terra, que acaba por manter os mesmos biomas e a
biodiversidade presente neles em um movimento ativo que gera como
resultado a diversidade de espécies baseada na diversidade de seus usos
(Santilli, 2013) que refletem as transformações cotidianas e coletivas em lidar
com as espécies - as vezes até criando variedades delas - advindas das
diversas formas de se viver na terra, o que chamamos de sociobiodiversidade.

Com o Código Florestal, que acreditamos inaugurar essa transição de


conteúdo legal e institucional que, depois, irá se refletir na Lei 13.123, vemos
que as ameaças de apropriação dos conhecimentos tradicionais associados,
bem como dos territórios onde os mesmos são praticados, aumentam. Isso
vem a refletir um modo de agir sistemático do capital sobre a natureza e os

áreas consideradas como consolidadas vale o Decreto 7029/2009, onde aplicou-se moratória
de três anos aos crimes ambientais ultrapassando a margem de desmatamento. Após, estes
três anos e aprovado o código, em 2012, anistiando definitivamente todos os desmatamentos
até 2008, criando a figura do desmatamento legal e do ilegal.
9
Para exemplificação de abertura legal a estes processos de conservação regulados por
contrato e baseados em resultados na forma de orientação para formulação de políticas
públicas, inclusive estaduais, ver Artigo 41 do Código Florestal (Lei 12.651/2012).
povos que a constroem e constituem, já que seus modelos são, na maior parte
das vezes, incompatíveis com as formas diversas de cuidar e ocupar a terra
dos povos e comunidades tradicionais. Esse modo de apropriação pode se
modificar, adquirir novas institucionalidades na forma de novas leis, ou avançar
nas fronteiras da organização social das comunidades e povos tradicionais por
meio de linguagens diferenciadas como co-gestão, governança comunitária,
pagamentos por serviços ambientais, protocolos comunitários e tantos outros
(Leroy, 2016; Packer, 2015; Escobar 2015).

Percebemos, assim, que mesmo com supostos avanços na forma de


tratamento e de conciliação da conservação da natureza com o crescimento
econômico, o como caminham e se articulam as legislações mais recentes
sobre governança de terras, regularização fundiária, regularidade ambiental e
repartição dos benefícios da biodiversidade refletem que o Estado continua
lendo ou entendendo os povos e comunidades tradicionais, no sentido
empregado por James Scott (1998), como entraves `aquelas que são
consideradas ações importantes para o seu desenvolvimento e,
consequentemente, para a construção de sua identidade política, bem como da
legitimação de sua agência (actorness). Ainda que saibamos das clivagens
existentes dentro do aparato estatal, o fato de seu poder legislativo, executivo
e, em algumas unidades federativas, judiciário, hoje estar dominados pelo setor
ligado ao agronegócio, trazem ainda outra camada a esta agência, e suas
respectivas formas de legibilidade, que se reflete em um conjunto de
legislações e atos administrativos que configuram em violação sistemática de
direitos territoriais e sobre os conhecimentos tradicionais associados. Assim,
partindo à análise da mesma agência via legislações e atos administrativos,
buscamos a) melhor identificar, configurar e articular com a situação política
contemporânea o que possa ser esta agência publica conectada ao um setor
privado em suas várias formas de limitar a forma de viver e estar na terra dos
povos e comunidades tradicionais a partir da b) verificação de como estas
articulações buscam governar a conduta sobre esses grupos na forma das
políticas e leis a eles direcionadas (Li, 2014).

Metodologia

Como apontado, este trabalho reflete a preocupação dos pesquisadores


envolvidos no grupo de pesquisa ReExisterra - Povos Indígenas e Povos e
Comunidades Tradicionais na Amazônia e Resistências na Terra (CNPq),
acerca da governança da terra e da sociobiodiversidade. O objetivo neste
momento inicial de estruturação do grupo e o de organizar nesta pesquisa
coletiva as legislações e atos, e as mudanças ocorridas, nestes que nos
permitirão avançar no projeto com os itens de reflexão qualitativa a) e b)
apontados na seção anterior. Sendo assim, neste resumo expandido
apresentaremos dois Quadros, sendo um comparativo, que reflete o atual
estágio do levantamento e da reflexão.

Seguindo a antropóloga e geógrafa Tania Li (2007; 2014), bem como a


antropóloga Anna Tsing (2005), partimos de uma análise situacional sobre a
conjuntura de mudanças e a estrutura sistemática de violação de direitos
territoriais, relacionando-as entre si e com o período em que surgiram, a fim de
embasar a mesma análise no contexto de fricção (Tsing, 2005) e capilaridade e
variedade de relações de poder (Li, 2007) que se refletiram e se refletem nas
mudanças institucionais, mas também na forma de eventos repressivos diretos
(caso dos Gamela no Maranhão), ou de violência institucional (caso da
aprovação da Lei 13.123 e do Fundo Nacional de Repartição de Benefícios ou
do Decreto 9010, de reestruturação da FUNAI) - para compreender os
significados destes processos para as vidas dos povos da floresta.

Dessa forma, mais especificamente, começamos pela avaliação do


comportamento do Poder Público brasileiro, olhando para as propostas e
mudanças nas políticas ambiental e fundiária e como as mesmas apareciam e
a que grupos de poder se relacionavam, aliada à análise documental da
legislação recente, mais precisamente o Código Florestal (Lei n°. 12.651/12) e
Lei de Acesso a Biodiversidade (Lei n°. 13.123/15). Neste contexto,
começamos a formular as tabelas para nos ajudar enquanto instrumento
metodológico didático na análise situacional e, posteriormente, para a
publicização dos dados organizados. A pesquisa não explorou casos
específicos para a análise, embora aponte questões especificas nas
legislações segundo a) conflitos que ja tenham sido gerados ou acirrados a
partir das mesmas ou b) expressão de preocupação por parte de movimentos
sociais, povos e comunidades tradicionais e organizações governamentais.
Esta preocupação com relação aos mesmos aparatos foi demonstrada em
aproximadamente 30 eventos, frequentados desde 2012, unindo diversos
grupos sociais - entre os quais representantes de povos e comunidades
tradicionais - e acadêmicos, incluindo a reunião do GT Biodiversidade da
Associação Nacional de Agroecologia (ANA), em 2016, em antecedência à
COP 13, e em posteridade avaliativa da promulgação da Lei 13.123/2015.

Resultados e discussões

Código Florestal, Regularização e Recomposição Ambiental


Os resultados são apresentados no Quadro 1.

Acesso à Biodiversidade

A regulamentação do acesso à biodiversidade no Brasil esteve durante


dezesseis longos anos sob o regime da Medida Provisória n°. 2.186/2016, uma
norma editada às pressas pelo Poder Executivo para suprir demandas urgentes
à época, principalmente da Confederação Nacional das Industrias. Fato que
impossibilitou diálogo com setores interessados da sociedade e,
principalmente, os detentores e guardiões dos recursos genéticos e dos
conhecimentos tradicionais a eles associados.

Em 2015, foi promulgada a Lei n° 13.123 – regulamentada por meio do Decreto


N. 8.772/2016 - que regula dispositivos da Constituição Federal (Art. 225, §1°,
II e §4°) da Convenção da Diversidade Biológica (CDB) quanto ao Acesso e
Repartição de Benefícios (ABS) e em relação ao acesso ao conhecimento
tradicional associado e patrimônio genético. A lei estabelece sistema de
cadastro para manter controle sobre pesquisas e repartição de benefícios
diretamente com a comunidade acessada ou por meio do Fundo Nacional para
a Repartição de Benefícios (FNBR).

Ocorre que esse novo regime repetiu erros do antigo e agravou outros, como
pode se ver no Quadro 2.

Conclusões

O trabalho de levantamento ainda está em sua primeira etapa e


esperamos juntar às reflexões sobre as duas legislações iniciais, Código
Florestal e Lei de Acesso `a Biodiversidade, as Medidas Provisórias e os
Decretos que acreditamos igualmente reforçar a relação de propriedade,
individualização e alienação da terra e de seus bens comuns. Também
acreditamos que o Código Florestal e a Lei de Acesso à Biodiversidade, que
nem em seu título menciona proteção e os povos que a geram, sendo agentes
deste resultado, imprimem um regime proprietário sobre os bens comuns
(Packer, 2015), reforçando uma racionalidade jurídica e política que se
interpõem `as diversas formas de se viver na e da terra e de usa-la e produzir
nela, segundo estas várias formas de se viver. Está em disputa, assim, não só
a terra e o território, mas as diversas formas de usa-la, bem como as diversas
formas de territorializar este uso, que fazem os povos e comunidades
tradicionais encontrarem atualmente no discurso da regularidade ambiental um
grande impasse para sua sobrevivência na própria terra.

Referências bibliográficas:

ESCOBAR, Arturo. Sentipensar con la Tierra: nuevas lecturas sobre desarollo,


território y diferencia. Medellin: Ediciones UNAULA, 2014.
LEROY, Jean Pierre. Mercado ou Bens Comuns. Rio de Janeiro: FASE, 2016.
LI, Tania M. Land’s End Capitalist Relations on an Indigenous Frontier. Durham: Duke
University Press, 2014.
____. The Will to Improve Governmentality, Development and the Practice of Politics.
Durham: Duke University Press, 2007.
PACKER, Larissa A. Novo Código Florestal e Pagamentos por Serviços
Ambientais Regimes Proprietários sobre os Bens Comuns. Curitiba: Juruá Editora,
2015.
SANTILLI, Juliana. Socioambientalismo e Novos Direitos: Proteção Jurídica `a
Diversidade Biológica e Cultural. Brasilia: Editora Mil Folhas/ IEB, 2013.
SCOTT, James. Seeing Like a State. New Haven: Yale University Press, 1998.
TSING, Anna. Friction: an Ethnography of Global Connections. Princeton: Princeton
University Press, 2005.
Quadro 1. Comparativo entre as versões do Código Florestal Brasileiro (Antigo e Novo), de acordo com temas relacionados com a
Regularização e Recomposição Ambiental, e as principais críticas associadas.

TEMAS Lei 4.771/1965 (Antigo Lei n° 12.651/2012 (Novo Código Florestal) PRINCIPAIS CRÍTICAS
Código Florestal)

Supressão da Vegetação Exige autorização do Em outras atividades, em áreas de preservação


Com a supressão da vegetação nativa sendo
Nativa e Áreas de Executivo Federal para permanente, poderão ser permitidas pelos monitorada, em ultima instancia, pelo CAR, que
Preservação Permanente supressão de vegetação estados, por meio de Programas de e autodeclaratorio, nao se sabe ao certo e
nativa em APP e para Regularização Ambiental (PRA), se não qualitativamente o quanto de biodiversidade e
situações onde for estiverem em áreas de risco. de pode estar sendo suprimida nestas ações.
necessária a execução de Da mesma maneira, com as sobreposições, a
obras, planos, atividades. Admite-se recomposição com exóticas, tais supressão pode estar ocorrendo em áreas parte
como eucalipto e pinus. do território integral de povos e comunidades
tradicionais.

Reserva Legal Os cálculos de reserva Os cálculos de Reserva legal admitem soma Para os proprietários de áreas consolidadas por
legal não incluem as áreas com as Áreas de Reserva Permanente, desde desmatamento na anistia, pode implicar em
de reserva permanente. que esteja preservada ou em recomposição e mais pressão sobre territórios de povos e
Para o registro das não implique mais desmatamento. comunidades tradicionais, bem como de
Reservas legais, a assentados que estejam no entorno,
averbação se realizará na transferindo a obrigatoriedade da homologação
inscrição de matrícula do Fim da exigência de averbação da Reserva do passivo para estas áreas, que tambem
imóvel rural no cartório de Legal em cartório, porém deverá ser registrada perderam em biodiversidade.
imóveis competente no Cadastro Nacional Ambiental Rural.

Decreto 7-29/09 prevê Isenta os proprietários rurais das multas e


sanções para o produtor demais sanções previstas na lei em vigor por
que não tiver reserva legal utilização irregular, até 22 de julho de 2008, de
averbada no registro de áreas protegidas.
imóveis até 11 de junho de
2011.
Quadro 1. Continuação.

TEMAS Lei 4.771/1965 (Antigo Lei n° 12.651/2012 (Novo Código Florestal) PRINCIPAIS CRÍTICAS
Código Florestal)

Recomposição e Faz se necessária a Quem desmatou antes de a reserva legal ter Perda de biodiversidade
Regeneração recomposição, percentual aumentado( a partir de 2000) não Inserção de novas formas de cultivo em
regeneração e precisará recompor além do exigido na época. territórios de povos e comunidades tradicionais,
compensação de áreas Alem disso, admite-se recomposição áreas por exemplo, com palma africana (dendê).
desmatadas. consolidadas com exoticas.

Pagamento por Serviços Inexistente na legislação Matéria presente no capitulo 10 do Código Novo
Ambientais anterior e que marca a entrada da agenda positiva na Institui-se a mediação por contrato das relações
resolução de irregularidades ambientais na com os povos e comunidades tradicionais.
legislação brasileira com o mecanismo de cortar
e comercializar (cap and trade), mas também Pode haver restrição de uso de determinadas
com o reconhecimento de outros mecanismos áreas tidas como importantes e fundamentais
que trazem para o campo jurídico o poluidor que para a reprodução social dos povos e
pode pagar para continuar poluindo e do comunidades tradicionais envolvidos, bem como
conservador que pode receber por conservar, de sua agrobiodiversidade.
sob pena de punição se não cumpre com os
contratos relativos a conservação.

Cadastro Ambiental Rural Não havia este instituto no Instituído pelo Decreto 7830/2012 e normatizado Com a MP 707/2015, de ampliação dos prazos
Código antigo, sendo pela IN 2/2014, o CAR que ja existia desde para se completar os cadastros, renovados
sempre necessárias as 2009, nos estados do Para e do Mato Grosso, novamente em maio de 2016, grandes
averbações das áreas de torna-se obrigatório para todo o pais. A partir de produtores e empresas do agronegócio
reserva legal em cartório. sua regulamentacao, o CAR toma o lugar da ganharam tempo para registrar e, ao mesmo
averbação da RL, tornando possível o tempo, consolidar mais áreas, muitas vezes
monitoramento via satélite das áreas sobrepostas a de povos e comunidades
registradas, mas, tambem, possibilitando a partir tradicionais.
do registro dos vários itens sujeitos a proteção, Sendo o CAR autodeclaratorio, ja um perigo
a resolução do passivo por meio do instituto das muito grande de se acirrarem os conflitos por
Cotas de Reserva Ambiental. terra, causados, via de regra, por grandes
produtores.
Quadro 1. Conclusão.

TEMAS Lei 4.771/1965 (Antigo Lei n° 12.651/2012 (Novo Código Florestal) PRINCIPAIS CRÍTICAS
Código Florestal)

Cota de Reserva Instituto jurídico e Mecanismo financeiro que viabiliza a A transformação da conservação em titulo que e
Ambiental financeiro inexistente na regularização da área de reserva legal ou da comprado por quem precisa se regularizar
legislação antiga. APP em propriedades pela compensação. A ambientalmente, acaba que a) transfere a
compra de cotas pode ser parte da inserção em titularidade sobre a preservação da área
um Programa de Regularização Ambiental. conservada para quem degrada, mas no entanto
b) transfere a responsabilidade de manter o
ativo e evitar qualquer passivo para quem
repassa a mesma titularidade. A precaução,
assim, fica em xeque e pode gerar injustiça
ambiental sobre quem fica com o ônus da
preservação, sem muitas vezes ter os meios
para garantir fiscalização e manutenção.

Programa de Não existente na A regularização de áreas não consolidadas gera Pode incluir recomposição com exóticas e
Regularização Ambiental legislação anterior, onde o a obrigação de aderência ao PRA, que será prejudicar a sociobiodiversidade dada a
mecanismo de punição do monitorado pelo órgão ambiental estadual, que amplitude de ações aceitas.
desmatamento se coordenara e fiscalizara a política. Um programa pode incluir o plantio por
restringia ao comando e reflorestamento de áreas que sejam
controle por fiscalização e equivalentes aquelas fora das ja consideradas
aplicação de multas aos consolidadas por tela ou por eucalipto.
infratores O nao seguimento ao previsto e delimitado no
plano pode gerar suspensão de credito rural e
do Licenciamento Ambiental Rural (LAR), um
risco grande para pequenos produtores da
agricultura familiar e povos e comunidades
tradicionais.
Quadro 2. Comparativo entre instrumentos legais a respeito do Acesso à Biodiversidade, de acordo com temas selecionados, e as
principais críticas associadas.
TEMAS Medida Provisória n°. 2.186/2016. Lei n° 13.123 PRINCIPAIS CRÍTICAS

Acesso ao Conhecimento Não havia menção a conhecimentos de Art. 9°, §3° autoriza o acessante a não Violação à Convenção 169 da
Tradicional de origem não origem não identificáveis, já que todo realização de consentimento prévio Organização Internacional do Trabalho
identificável acesso ao CTA era condicionado à quando o conhecimento for de origem (OIT), Protocolo de Nagoya e CDB.
anuência dos detentores e autorização não identificável. Qualificar o acesso a conhecimentos
do Conselho de Gestão do Patrimônio ditos não identificáveis pode também
Genético CGEN (Art. 11) facilitar acesso a territórios tradicionais
vários para prospecção, bem como a
Autorização do CGEN Art. 11 definia que caberia ao CGEN a Art. 13 define as exceções em que o A forma como o CGEN esta hoje
(Conselho de Gestão do responsabilidade de autorizar o acesso CGEN precisará emitir autorização para conformado, sem ainda ter o
Patrimônio Genético) ao conhecimento tradicional ou ao o acesso. funcionamento de outro órgão que
patrimônio genético. poderia equilibrar seu poder, a saber, o
Conselho Nacional de Povos e
Comunidades Tradicionais (CNPCT),
pode refletir um balanço de interesses
desfavorável aos povos e comunidades
tradicionais.

SisGen (Sistema Nacional Art. 11, IV, b, condiciona o acesso ao O sistema é auto-declaratório pelo A autodeclaração favorece diretamente o
de Gestão do Patrimônio conhecimento tradicional associado à acessante, sendo que neste ato indicará interessado no uso de conhecimento
Genético e do autorização do CGEN e anuência prévia a origem do patrimônio genético ou tradicional, que pode identifica-lo como
Conhecimento Tradicional dos detentores. conhecimento tradicional associado, sem origem, por exemplo. Neste sentido,
Associado) utilização, modalidade de repartição de o ônus da comprovação e da denuncia
benefícios e (art. 22 e 23 do Decreto ficaria ao povo e comunidade que e se
8.772) detectasse o mau uso. Coloca-nos
automaticamente na posição de
Obs: Ainda não está em funcionamento negociadores.
Quadro 2. Conclusão.
Repartição de Benefícios Art. 24 e 25 definem as hipóteses de Sistema de isenções - Art. 17, §5°. Pode incentivar a apropriação indevida
repartição de benefícios e as dos conhecimentos tradicionais
modalidades da repartição. Repartição de Benefícios não justa e associados e a reprodução das injustiças
equitativa – Art. 20 e 21 com relação ao acesso e uso dos seus
recursos, bem como de seus territórios.
A lei, em última instância com base neste
estatuto, não protege os detentores do
conhecimento e, sim, cria oportunidades
facilitadas de acesso aos interessados
no produto do conhecimento tradicional
associado.
Análise socioeconômica das catadoras do caranguejo uçá (Ucides
cordatus) na reserva extrativista marinha de Maracanã, Pará.

Socioeconomic analysis of catch ugá cocktail (Ucides cordatus) in the extractive


reserve marinha de Maracanã, Pará.

NOGUEIRA, Amanda1; ALMEIDA, Ruth2; MEIRELES, Cyntia3

(1) UFRA, e-mail: amandanogueira26@hotmail.com; (2) UFRA, E-mail:


ruth.almeida@ufra.edu.br; (3) UFRA, E-mail: cyntiamei@hotmail.com.

Resumo: O presente estudo teve como objetivo analisar o perfil socioeconômico e


produtivo das catadoras de caranguejo-uçá, da Reserva Extrativista no município de
Maracanã - Pa. Os dados foram obtidos através de visitas a campo e aplicação de
questionários, com conversas informais e acompanhamento. Quanto aos resultados,
constatou-se que os catadores entrevistados são do sexo feminino, com a idade média
de aproximadamente de 38 anos e com 22 anos de trabalho. Além disso, foi
constatado que os usuários não sabiam o que era, ou se sabiam, não conseguiam
explicar a concepção de uma Resex. Com isso, as catadores de caranguejo
necessitam da atuação do poder público na geração de ações socioambientais a fim
de manter a atividade e a preservação dos recursos biológicos, na geração de
emprego, renda e melhoria da qualidade de vida da população.

Palavras-chave: Catadores de caranguejo-uçá; Perfil socioeconômico; Produtivo.

Abstract: The present study had the objective of analyzing the socioeconomic and
productive profile of the crab - uçá collectors from the Extractive Reserve in Maracanã -
Pa. Data were obtained through field visits and questionnaires, with informal
conversations and follow - up. Regarding the results, it was verified that the
interviewers were women, with a mean age of approximately 38 years and with 22
years of work. In addition, it was found that users did not know what it was, or if they
knew, could not explain the design of a Resex. With this, crab scavengers need the
performance of public power in the generation of socio-environmental actions in order
to maintain the activity and the preservation of biological resources, in the generation of
employment, income and improvement of the quality of life of the population.

Keywords: Catchers of crab-uçá; Socioeconomic profile; Productive.

Introdução
O caranguejo-uçá (Ucides cordatus), além de ser um dos componentes mais
característicos do ecossistema manguezal no Brasil, assume uma notável
importância sócio-econômica. Trata-se de um recurso pesqueiro abundante, de
grande aceitação comercial e que contribui para a geração de emprego, renda
e subsistência em comunidades pesqueiras (SOUTO, 2007). A cata do
caranguejo-uçá se constitui num dos mais importantes componentes da
economia dos municípios da região do Nordeste Paraense, na qual é uma das
atividades mais antigas de extrativismo nos manguezais, sendo ainda praticada
por muitas comunidades tradicionais litorâneas que vivem de sua
comercialização (IBAMA, 1994, apud, FREITAS, 2011).

O município de Maracanã está entre as áreas de maior produção paraense de


caranguejo, a principal atividade do setor pesqueiro, mostrou que a maioria do
contingente de pescadores (51,2%) pescam peixes, seguido de pescadores de
caranguejo (35,8%) e os que praticam as duas atividades de pesca
(peixe/caranguejo - 12,2%). (Socioeconômico do Centro Nacional de
Desenvolvimento Sustentado das Populações Tradicionais – CNPT, 2000).

Diante disso, os manguezais são considerados áreas sob pressão pelo


constante aumento da exploração de seus recursos naturais e as Unidades de
Conservação (UC) aparecem como uma estratégia que visa minimizar este
impacto (MENEZES; MEHLIG, 2009).

Dessa forma, este estudo tem como objetivo analisar o perfil socioeconômico e
produtivo das catadoras de caranguejo-uçá, diante da Reserva Extrativista
(RESEX) no município de Maracanã, no Pará.

Metodologia
Área de Estudo
O presente estudo ocorreu no Município de Maracanã, na Mesorregião
Nordeste Paraense e na Microrregião do Salgado, a 170 quilômetros da capital
paraense, na área de mais de 30 mil hectares de abrangência. Neste município
encontra-se a Reserva Extrativista Marinha de Maracanã, que por sua vez é
constituída por 91 comunidades de ribeirinhos, 9 polos, 27 entidades que se
encontraram representadas no Conselho Deliberativo da RESEX, e habitam
mais 1500 famílias que vivem e sobrevivem de peixes e crustáceos explorados
na área e no entorno dos manguezais. (Figura 1).

Figura 1. Mapa da Reserva Extrativista Marinha de Maracanã

Fonte: MMA/IBAMA/CNPT

Coleta de dados
Para a coleta de dados, a metodologia foi baseada em uma pesquisa de
campo, através da aplicação de 35 questionários, com conversas informais e
acompanhamento, com a finalidade de obter informações em relação com a
atividade extrativista, assim como o seu entendimento e percepção sobre as
coletas serem dentro de uma Resex.

Resultados e discussões
Um total de 35 catadoras foram entrevistadas no período de estudo. A idade
média de aproximadamente de 38 anos, quando comparados ao estudo
realizado no município de Marapanim-PA constatou que a média de idade era
de 40,2 anos, demonstrando, que os jovens desta localidade estão seguindo
outras profissões, muitas vezes, encorajados pelos próprios pais (FREITAS,
2008). Os que continuam exercendo essas atividades por não possuírem outra
opção.
Quando verificado os anos trabalhados nessa atividade extrativista, foi
constatada a média de 22 anos de trabalho. A média encontrada é superior ao
registrado por outros trabalhos desenvolvidos com catadores de caranguejo.
Borcem, Cordovil e Furtado Junior (2014) obtiveram em seu estudo uma média
de 16,57 anos. Dessa forma, identifica-se que houve um aumento no tempo de
experiência na atividade extrativista. Segundo Borcem, Cordovil e Furtado
Junior (2014), esse aumento está relacionada ao fato de buscarem como uma
alternativa de sustento.

Quanto à percepção e a compreensão sobre o que significa uma reserva


extrativista para os entrevistados observou-se que 25,7% não sabiam o
significado desta unidade de conservação. Outros 42,8% associaram a Resex
a uma associação onde fazem as suas reuniões quando convocados e ao
recebimento de fomentos e benefícios (moradia e bolsa verde). Os que
associaram o significado de Resex a questão ambiental, somaram 2,8%,
afirmando que a Resex representa os extrativistas e defende o meio ambiente,
e que é uma área pesqueira, ou uma área de reserva (referindo-se ao local de
guarda), e relacionando com sua atividade nas marés, entre outras. 74, 1% dos
extrativistas acham que uma necessidade de adaptação de suas atividades
dentro da RESEX, afirmando que deveria haver mais cursos e mais reuniões
para discutir sobre o uso do recurso caranguejo.

Resultados semelhantes foram encontrados por Rivera (2015) em uma análise


sobre a criação da reserva extrativista marinha de São João da Ponta - PA.
Quando os usuários foram questionados sobre qual sua concepção de Resex,
a resposta mais frequente foi de que não sabiam o que era, ou se sabiam, não
conseguiam explicar.

Conclusões
A atividade de catação do caranguejo continua sendo exercida pelas
catadoras, por não possuírem outra opção, buscam como uma alternativa de
sustento, declarando como motivos a falta de formação profissional e a cultura
da catação de caranguejo deixada de geração em geração. Em relação ao seu
entendimento sobre o significado de Reserva Extrativista, as informações a
respeito da gestão a deveriam ser mais difundidas com reuniões nas
comunidades, utilizando uma linguagem acessível, pois facilitaria a
conscientização da importância de preservar o ecossistema manguezal, que
constitui a base de sustentação da economia local e da vida dos moradores
daquelas comunidades.

Referências bibliográficas:

BORCEM, E. R.; CORDOVIL, A. R.; FURTADO JUNIOR, I. Aspectos socioeconômicos


da pesca do Caranguejo-uçá Ucides Cordatus em São João de Pirbas – Pará. Bol.
Téc. Cient. Cepnor, Belém, v. 14, n. 1, p. 47-53, 2014.
CNPT/MMA/IBAMA. Estudo socioeconômico e Laudo Biológico das Áreas de
Manguezal do Município de Maracanã/PA. Outubro/2000. 53p.
FREITAS, A. C.. Potencial extrativo do caranguejo-uçá ucides cordatus (linnaeus,
1763) e a associação dessa espécie com os bosques de mangue, na Reserva
Extrativista marinha de Maracanã, Maracanã – Pá. Universidade Federal do Pará,
Campus de Bragança – UFPA. Bragança-PA, 2011.
FREITAS, A. C. Depois que a maré lava o mangue: o esforço de pesca na captura
do caranguejo-uçá na Reserva Extrativista Marinha de Maracanã, município de
Maracanã – Pará. 50 f. Monografia (Bacharelado em Engenharia de Pesca) –
Universidade Federal Rural da Amazônia, Belém, 2008.
MENEZES, M. P. M.; MELIHG, U. 2009. Manguezais as florestas da Amazônia
Costeira, Rev. Ciência Hoje, 264 (44), out, 35-39 pp.
RIVERA, D.S.B. CONHECIMENTO TRADICIONAL COMO INSTRUMENTO PARA
CONSERVAÇÃO E MANEJO DO CARANGUEJO UÇÁ UCIDES CORDATUS
(LINNAEUS, 1763) NA RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA DE SÃO JOÃO DA
PONTA – PARÁ. 2015. 112 f. Tese (Mestrado em Gestão de Áreas Protegidas na
Amazônia) - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Manaus, 2015.
SOUTO, F. J. B.. Uma abordagem etnoecológica da pesca do caranguejo, Ucides
cordatus, Linnaeus, 1763 (Decapoda: Brachyura), no manguezal do Distrito de Acupe
(Santo Amaro-BA). Revista Biotemas, 20 (1), março de 2007.
Conselho gestor e sua atuação no espaço público: o caso da reserva
exrativista marinha de Maracanã, Pará.

Management board and its activities in the public area: the case of the
extractive reserve marinha de Maracanã, Pará.

ALMEIDA, Ruth Helena Cristo1; MORAES, Rodrigo Leal2; MARTINS, Alexandre


Barra3
(1) UFRA, e-mail: ruth.almeida@ufra.edu.br (2) ICMBIO, E-mail: rodrigo.moraes@icmbio.gov.br
(3) UFRA, E-mail: alexandre.barra@outlook.com

Resumo

O presente estudo teve como objetivo discutir o papel do Conselhor deliberativo da


Resex de Maracanã no chamado espaço público político a partir da formação do
conselho, avaliando sua equidade, as pautas existentes e a frequencia de participação
das instituições públicas e da sociedade civil nas reuniões ordinárias e extraordinárias.
Para isto, foram analisados documentos como Atas, Leis, além de portarias dos anos
de 2009 e 2014 de constituição e reformulação do Conselho Gestor deliberativo da
mesma. Como resultado, tem-se um espaço político representado em sua maoria pela
sociedade civil, sendo estas as mais frequentes nas reuniões, com pautas importantes
para serem deliberadas. Conclui-se que o conselho ainda atua de forma incipiente no
campo da esfera política.

Palavras-chave: Participação; Instituições; Campo Político.

Abstract: The purpose of this study was to discuss the role of the deliberative
councilor of the Maracanã Resex in the so-called public political space, starting with the
formation of the council, evaluating its equity, the existing guidelines and the frequent
participation of public institutions and civil society in regular meetings And
extraordinary. For this purpose, documents such as Minutes, Laws, as well as the 2009
and 2014 regulations for the constitution and reformulation of the deliberative
Management Council of the same were analyzed. As a result, there is a political space
represented in its majority by civil society, these being the most frequent ones in the
meetings, with important guidelines to be deliberated .. It is concluded that the council
still acts in an incipient way in the field of the political sphere.

Keywords: Participation; Institutions; Political Field.


.

Introdução

Segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) para a


Gestão de uma Unidade de Conservação (UC), faz-se necessário dois
importantes instrumentos legais, a saber: o Plano de Manejo e o Conselho
Gestor da Unidade. Este último, regulamentado pela instrução normativa n. 09
de 05 de dezembro de 2014, apresenta as normas e os procedimentos para
formação, implementação e modificação na composição de conselhos gestores
de UC Federais.

Um dos princípios ligados aos Conselhos é a legitimidade das representações


e a equidade de condições de participação dos distintos setores da sociedade
civil e do poder público, deliberando demandas ligadas a UC na chamada
esfera pública ou espaço público.

Dessa forma, este estudo tem como objetivo discutir o papel do Conselhor
gestor deliberativo no chamado espaço público político com base na formação
do conselho, avaliando sua equidade, as pautas existentes e a frequencia de
participação das instituições públicas e da sociedade civil nas reuniões
ordinárias e extraordinárias.

Metodologia
O presente trabalho foi de cunho bibliográfico e documental. Examinou atas
das reuniões ordinárias e extraordinárias da Resex Marinha de Maracanã entre
os anos de 2009 a 2013, além de portarias dos anos de 2009 e 2014 de
constituição e reformulação do Conselho Gestor deliberativo da mesma.
Avaliou ainda leis, como o SNUC.
Posteriormente foram elecandas as instiuições públicas e da sociedade civil
que fazem parte do conselho, num total de 27. Por último, foram selecionados
as principais pautas das reuniões ocorridas entre os anos de 2009 a 2013 e
quantificado a frequencia de participação dos conselheiros nas reuniões do
anos de 2011, em função do acesso as listas de assinatura das atas.

Resultados e discussões
Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)
até fevereiro de 2015 das 320 UC federais, 265 possuiam conselhos formados
(82,8%). Segundo o instituto a formação de uma conselho passa por três
principais momentos: identificação dos atores governamentais e da sociedade
civil que estejam de alguma forma relacionados com a UC, a senssibilização e
mobilização desses atores e a sua formação propriamente dita. A Reserva
extrativista Marinha de Maracanã, foi criada em 2002, via Decreto - s/n -
13/12/2002. A primeira formação do conselho gestor se deu no ano de 2009,
sendo composta por 27 organizações sendo 9 instituições públicas e 18
instituições da sociedade civil. No ano de 2014 foi realizada a reformulação do
conselho permanecendo o mesmo quantitativo de instituições, porém com
diferente composição (Quadro 1).

Quadro 1: Composição do conselho deliberativo da Resex Marinha de Maracanã, anos 2009 e


2014.
Instituições Públicas Instituições Sociedade Civil
Ano 2009
1 Instituto Chico Mendes de Conservação da Sindicato dos Pescadores Artesanais e Aquicultores de
Biodiversidade – ICMBio Maracanã – SIPAAM
2 Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural Conselho Nacional de Seringueiros – CNS
do Pará – EMATER
3 Marinha do Brasil / Capitania dos Portos da Igreja Católica / Diocese de Castanhal - Paróquia de São
Amazônia Oriental – CPAOR Miguel Arcanjo
4 Prefeitura Municipal de Maracanã Igreja Evangélica Adventista, como titular, e Igreja do
Evangelho Quadrangular
5 Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA Associação dos Usuários da Reserva Extrativista Marinha de
Chocoaré-Mato-Grosso - AUREM/C-MG
6 Universidade Federal do Pará – UFPA Colônia de Pescadores Z-07 de Maracanã-PA
7 Câmara Municipal de Maracanã-PA Movimento dos Pescadores do Pará – MOPEPA
8 Secretaria Estadual de Meio Ambiente – SEMA Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Maracanã
9 Museu Paraense Emílio Goeldi – MPEG Associação dos Usuários da Reserva Extrativista Marinha de
Maracanã-PA – AUREMAR
10 Polo Sede, 40 do Mocooca, São Roberto, Aricuru, Tatuteua,
Penha, Mota, São CristovÃo, Itamaraty.
Ano 2014
1 Instituto Chico Mendes de Conservação da Associação dos Usuários da Reserva Extrativista Marinha de
Biodiversidade – ICMBio Maracanã – AUREMAR
2 Universidade Federal do Pará – UFPA Associação dos Usuários da Reserva Extrativista Marinha
Chocoaré - Mato Grosso - AUREM/C-MG
3 Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA Conselho Nacional das Populações Extrativistas - CNS
4 Museu Paraense Emílio Goeldi – MPEG Conselho Pastoral dos Pescadores - CPP Norte
5 Secretaria de Estado de Meio Ambiente - SEMA/PA Colônia de Pescadores e Pescadoras Artesanais Z7 de
Maracanã/PA
6 Secretaria de Estado de Pesca e Aquicultura – Igreja Adventista da Promessa de Maracanã, sendo um titular
SEPAq e um suplente
7 Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural Movimento dos Pescadores do Estado do Pará - MOPEPA
do Estado do Pará - ESLOC Maracanã
8 Prefeitura Municipal de Maracanã Sindicato dos Pescadores Artesanais e Aquicultores de
Maracanã – SIPAAM
9 Câmara Municipal de Maracanã Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de
Maracanã

10 Polo Comunitário do Mota, 40 do Mocooca, Aricuru, Sede,


Itamaraty, Penha, São Cristovão, São Roberto, Tatuteua.
No artigo 5 da IN. N.09 de 2014 uma das competências específicas dos
conselhos deliberativos são: Acompanhar a elaboração e a implementação do
Acordo de Gestão, do Plano de Manejo Participativo e dos demais intrumentos
de gestão da UC. Além disso, teria a função de tratar e deliberar sobre temas
afetos às Reservas Extrarivistas e Reservas de Desenvimento Sustentável,
subsidiar a tomada de decisão do órgão gestor e apoiar as ações de
implementação da unidade, no que couber, ou seja, atuar, decidir na chamada
esfera pública.

Todavia, ao se falar em esfera pública, chama-se a atenção para um debate


tanto internacional como nacional sobre sua existência, suas características e
atores sociais envolvidos. Esse debate, muitas vezes, direciona-se para lados
totalmente opostos e ambíguos, como foi no Brasil que, segundo Costa (2002),
sempre foi tratado a partir da sua inexistência. Porém, será nesse espaço que
processará uma intermediação entre o Estado e os interesses e necessidades
da sociedade, chamada de necessidades do mundo da vida. A exemplo das
decisões a serem tomadas e que afetam diretamente as populações e a Resex,
destacam-se, no quadro 2 as pautas que foram deliberadas nas reuniçoes dos
anos de 2009 a 2013.

Quadro 2: Pautas entre os anos de 2009 a 2013, reuniões ordinárias e extraordinárias


Anos Principais pautas
2009 Discussão e fechamento do regimento interno do conselho deliberativo
Posse do Conselho Deliberativo
2010 Contrato de concessão de Direito Real de Uso (CCDRU)
2011 Reativação do conselho;
Definição de critérios para cadastramento de usuários da Resex;
Apresentação do Projeto Manguezais do Brasil;
Aprovação da revisão do Plano de Utilização e acordo de pesca;
Aprovação dos critérios para cadastramento de usuários da Resex
2012 Situação do Plano nacional de reforma agrária e PRONAF na Resex Maracanã;
Técnicas de transporte e comercialização do caranguejo em feiras de Belém;
Cadastramento dos usuários da Resex de Maracanã pelo ICMBio;
Discutir a renovação do conselho
Ferramentas de conservação da Resex;
Validação do cadastro de usuários do Pólo Mota
Habitações na praia da Marieta
2013 Apresentação da documentação dos novos conselheiros;
Apresentação das novas orientações sobre o levantamento de quem são os usuários da RESEX;
Criação do grupo de acompanhamento para a discussão do perfil dos beneficiarios da RESEX;
Criação do grupo de trabalho para discussão e criação da minuta do Acordo de Gestão (antigo Plano de
Uso), Lei orgânica do município, e acordo de pesca.
Para finalizar, avaliou-se a frequencia de participação das instiuições que
fazem parte do conselho, especificamente do ano de de 2011, em função de
acesso aos dados. Das três reuniões ocorridas no ano de 2011, as 27
instituições frequentaram de forma diferenciada. Instituições que foram a todas
as reuniões: Colônia dos pescadores Z-7, ICMBio, MOPEPA, UFPA, Pólo
Aricuru, Pólo Sede, Pólo Penha, Pólo Itamaraty, Pólo Tatuteua; 2 reuniões:
AUREMAR, Pólo Mota, Pólo São Roberto, SEMA, Prefeitura Municipal,
SIPAAM, STR; 1 reunião: AUREM, Câmara Municipal, Capitania dos Portos,
CNS, Igreja Católica, MPEG, Pólo 40 do Mocooca, Pólo São Cristovão;
Nenhuma reunião: UFRA e igreja evangélica.

Conclusões
O espaço público não deve constituir um mero palco de encenação política
(onde os atores sociais são apenas platéia), mas um lugar ambivalente da
topografia social, no qual, de um lado, as relações de poder são reproduzidas,
de outro, inovações sociais são legitimadas (COSTA, 2002). Neste sentido, o
conselho gestor da Resex de Maracanã passou com processos de criação e
reformulção de seu conselho, dificultando essa atuação plena na chamada
esfera política. Seu conselho é de maioria da sociedade civil, sendo estas as
mais frequentes nas reuniões, com pautas importantes para serem deliberadas.

Referências bibliográficas

BRASIL. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000; Decreto nº 4.340, de 22 de


agosto
de 2002. Sistema Nacional de Unidade de Conservação da Natureza – SNUC:
3. ed. aum. Brasília: MMA/SBF, 2003.52p.

COSTA, Sérgio. As cores de Ercília: Esfera Pública, democracia,


configurações pós-nacionais. Belo Horizonte, Minas Gerais: Editora UFMG,
2002.
A utilização do artesanato como forma de renda e cultura na região
amazônica

The use of handicrafts as a form of income and culture in the Amazon region
RODRIGUES, Mateus1; FERREIRA, Cleiton2; COSTA, Lukas3; OLIVEIRA, Pâmela4;
MARTINS, Cyntia5.
1 2
Universidade Federal Rural da Amazônia, mateuscim@hotmail.com; Universidade Federal
3 4
Rural da Amazônia; Universidade Federal Rural da Amazônia; Universidade Federal Rural
da Amazônia, cyntiamei@hotmail.com

Resumo

O Artesanato no estado do Pará tem forte influência na cultura regional e é uma


atividade com relevante importância sociocultural, pois demonstra representações do
homem no cotidiano. Isso também se evidencia na capital Belém, local onde se
efetivou a elaboração e pesquisa referentes a este trabalho. Tiveram-se como
métodos de pesquisa alguns locais de referência ao artesanato, com visitas e
aplicações de questionários quantitativo e qualitativo, como no Museu de Gemas do
Pará, no evento Feira do Artesanato Mundial (FAM) realizado no Hangar e na Feira de
Icoaraci, nos quais esses locais tiveram como base para compreender melhor o
processo de fabricação e venda da arte e de como isso tudo influencia na vida dos
artesãos e dos consumidores. O objetivo desse estudo foi realizar um levantamento do
perfil do produtor e do consumidor em um cenário voltado para a compra e venda das
artes. Assim, concluiu-se que o artesanato é de grande importância no âmbito cultural,
social e econômico.

Palavras-chave: Artesanato amazônico. Cultura. Renda artesanal. Produção


artesanal.

Abstract: The Craftwork in the state of Pará has strong influence in the regional
culture and is an activity with relevent sociocultural importance, because it shows the
man daily. This is also evident in Belém downtown, where the elaboration and research
from this task are effectively. For search methods some craftworks referent about some
places are used, with visits and qualitative and quantitative questionnaire applications,
like as Pará Gems museum, at the event worldwide craft market (FAM) accomplished
at Hangar and Icoaraci market, where theses places were used to understand better
the process of craft fabrication and sale and how all of theses influences craftsmen and
consumers lives. The study goal was make a profile survey of the producers and
consumers in a arts buy and sell scenario. So, it was concluded the craftwork has great
importance in cultural, social and economic ambit.

Keywords: Amazonian craftworks. Culture. Craftwork income. Craftwork production.

Introdução
O artesanato é um dos primeiros modos de expressar a arte, não consiste
apenas em um produto feito manualmente, mas também na transmissão e
representação cultural que o artista produz. Esta arte ajuda a conservar a
cultura regional, sendo uma referência para demonstrar as características,
como critérios socioeconômicos e culturais dessa comunidade.

A riqueza cultural se expressa em muitas e diferentes manifestações, algumas


delas de caráter inovador, seja porque são singulares, não aparecendo em
nenhuma outra região do país, seja porque assumem na região aspectos
peculiares, em consonância com as especificidades da tradição e dos hábitos
locais. O artesanato é um típico exemplo nessa direção (DINIZ & DINIZ, 2007).

O artesanato também é demonstrado através da arte realizada com argila,


onde se destaca o bairro do Paracuri localizado no distrito de Icoaraci em que
são trabalhadas várias técnicas de manuseio e ornamentação das peças.

No estado do Pará, na Região Metropolitana de Belém (RMB), encontra-se um


dos principais polos de artesanato em cerâmica da região norte, chamado
Icoaraci. A comunidade ceramista do distrito de Icoaraci abriga inúmeras
olarias onde a produção é fruto da tradição oral herdada de antigas civilizações
Marajoaras e Tapajônicas. No distrito e arredores existem grandes quantidades
e variedades de argilas em cores e texturas variegadas, o que provavelmente,
explica a milenar tradição da cerâmica local (COSTA & RODRIGUES, 2013).

Metodologia
O estudo foi conduzido e analisado dentre os principais aspectos dos
artesanatos regionais apresentados na Casa do Artesão, na Feira de Icoaraci e
no evento Feira do Artesanato Mundial (FAM) realizado no Hangar.
Nas pesquisas de campo, buscou-se fazer um levantamento a cerca do perfil
do produtor artesanal e do consumidor das artes, procurando analisar as
características das pessoas envolvidas com a atividade artesanal, seja em sua
fabricação como em sua comercialização. Deste modo, foram aplicados 78
questionários de natureza qualitativa e quantitativa, com 3 perguntas, sendo
realizados em feiras de artesanatos direcionadas ao consumidor. Outro
questionário foi aplicado com 5 perguntas voltados para o produtor, sendo
entrevistadas 64 artistas.

Resultados e discussões
Consumidor:
É importante traçar um perfil mostrando a idade do consumidor e em qual faixa
etária se evidencia um maior interesse pela compra de artesanato. Como
podemos ver no gráfico 1, o público que mais se interessa pelo consumo
dessas artes são pessoas entre 18 e 30 anos, também se percebe que
pessoas com idade inferior a 18 se mostram menos interessadas nos produtos
por conta da dependência financeira.

GRÁFICO 1. Idade dos consumidores.


30 24
16
8

Inferior a 18 a 30 30 a 45 Superior
18 anos anos anos a 45 anos

Foi feito uma caracterização física do consumidor levando em consideração


seu gênero sexual, e a partir disto, o levantamento concluiu que as pessoas do
sexo feminino, 48 mulheres, são as que mais compram produtos artesanais
comparadas ao gênero masculino, 30 homens.

Para o maior percentual dos entrevistados, o valor médio gasto por compra é
inferior a R$50, seguido por pessoas que gastam entre R$50 e R$100, pessoas
que desembolsam valores acima de R$100 são a minoria (Gráfico 2).

GRÁFICO 2. Valor gasto por compra em artesanato em relação ao consumidor.


35 29
14

Inferior a 50 50 a 100 Superior a 100


Produtor:
Sendo considerado um fator importante para uma caracterização do artista, foi
feito um levantamento de sua idade. Assim, foi exposta uma realidade cujo
produtor, em seu maior percentual, tem idade entre 30 a 45 anos, seguido de
uma proporção de artistas com idade superior a 45 e em menor escala com
idade entre 18 a 30 anos e nenhum inferior a 18 anos.

Quanto ao sexo, percebeu-se na presente pesquisa maior presença do gênero


feminino, resultando em 36 mulheres e 28 homens, diferenciando dos dados
obtidos no trabalho de Diniz & Diniz, 2007 no qual se teve maior percentual do
sexo masculino (53,3%).

O grau de escolaridade do artesão foi analisado e concluiu-se que o maior


percentual são pessoas com o ensino médio completo, concordando com a
pesquisa realizada pelo SEBRAE, 2013. Isto nega o paradigma adotado por
parte da sociedade que afirma que os artesãos são em sua maioria analfabeta,
no contexto destas pesquisas foi negado. (Gráfico 3).

GRÁFICO 3. Grau de escolaridade dos produtores.


30
14 14
6
0

Não possui Fundamental Médio Médio Superior


incompleto completo

A questão econômica foi abordada, e procurou-se fazer um levantamento


acerca do salário obtido pelo artesão, a maioria ganha entre 1 a 2 salários
mínimos, seguida pela porcentagem que ganha de 2 a 3 salários e também se
observou que um pequeno número de pessoas afirmou ganhar menos que 1
salário mínimo (Gráfico 4). De acordo com a pesquisa realizada pelo SEBRAE,
2013 maioria dos produtores possuem salários entre 1 a 3 salários mínimos,
confirmando dados.
GRÁFICO 4. Renda dos produtores.

26 24
12
2

Inferior a 1 Entre 1 e 2 Entre 2 e 3 Superior a 3

Em relação a tempo de serviço no meio artesanal, a grande maioria dos


entrevistados afirmou trabalhar com artesanato a mais de 10 anos. Na
pesquisa do SEBRAE, 2013, no qual obteve um percentual de 72% e
constatou-se um resultado equivalente a este trabalho.

Conclusões
Constatou-se durante a pesquisa de campo que há grande variedade de
artesanato no estado do Pará. Infinitas riquezas de técnicas que tornam o
artesanato paraense muito peculiar, contudo boa parte dos artistas considera a
arte pouco valorizada pelo mercado interno, e acredita que há deficiência por
parte dos incentivos governamentais, notou-se também que os turistas são o
público alvo dos artesãos e que deveria haver maior divulgação da arte, que
embora haja oficinas habilitadas para o ensino das técnicas artesanais.

Referências bibliográficas:
AMARAL, A.J.P. Artesanato quilombola: identidade e etnicidade na Amazônia.
Cadernos do CEOM – v. 23, n. 31, p. 62 - 71, 2010.

COSTA, J.H.B., Caracterização tecnológica da argila utilizada no processo produtivo


de cerâmica artesanal do distrito de Icoaraci, em Belém do Pará. XXV. In: Encontro
Nacional de Tratamento de Minérios e Metalurgia Extrativa – p. 233 - 240, 2013.

DINIZ, M.B.; DINIZ, M.J.T. Arranjo produtivo do artesanato na região metropolitana de


Belém: uma caracterização empírica. Novos Cadernos NAEA – v. 10, n. 2, p. 173 –
208, 2007.

DOMINGUES, Bruno Rodrigo Carvalho; BARROS, Flavio Bezerra. A produção


artesanal de brinquedo de miriti e suas transformações frente as exigências do
mercado. Cadernos de Agroecologia – v. 10, n. 3, 2015.

SEBRAE, 2013. Pesquisa O Artesão Brasileiro. p. 123.


Trabalho na realização de mutirão e festa de santo: um estudo no meio
rural do Nordeste do Pará.
Glaucia Macedo Sousa10
Resumo

O objetivo desse artigo foi descrever e analisar as particularidades do trabalho


na realização de um mutirão para realizar a Festa de Santa Ana em uma
comunidade rural no município de Mãe do Rio, Nordeste paraense. A
metodologia constou de revisão de literatura, entrevistas e observações. Os
principais resultados mostram que os trabalhos realizados para o mutirão
reeditam a divisão sexual do trabalho com mulheres e homens responsáveis
respectivamente por atividades ligadas as esfera privadas e públicas.

Palavras - chave: Trabalho, Mutirão, Festa de santo, Amazônia.

Introdução

De modo geral, no Brasil, os estudos sobre o mutirão no meio rural


tratam sobre o trabalho realizado no âmbito da produção agrícola
(CALDEIRAS, 1956; CANDIDO, 2001, SABOURIN, 2009). Mesmo no Pará, os
autores que tratam da temática tendem a seguir nessa direção. Esse é o caso
de Veiga e Albaladejo (2002) ao tratar do mutirão voltado para a ajuda de
agricultores em situação de doença, bem como de Andrade, Almeida, Kato e
Matos (2017) quando mencionam o mutirão realizado nas roças de farinha.

Embora não se negue que na esfera produtiva o mutirão envolve


elementos como a festa e as relações de compadrio e amizade entre os
envolvidos, resta, ainda, compreender o fenômeno no uso de outras dimensões
da vida. Diante disso, O objetivo desse artigo foi descrever e analisar as
particularidades do trabalho na realização de um mutirão para realizar a Festa
de Santa Ana em uma comunidade rural no município de Mãe do Rio, Nordeste
paraense.

10
Doutoranda em Sociologia e Antropologia; PPGSA/UFPA, Belém-PA. E-mail:
glauciarusso@ymail.com.
Acredito que a pesquisa tem como importância maior a descentralização
da relação entre a ideia de trabalho e a esfera econômica das relações de
produção. Há que se pensar no trabalho realizado pelo homem a ser motivado
por suas múltiplas necessidades de expressão cultural, religiosa e simbólica.

Metodologia

A metodologia constou de um estudo de caso realizado na Comunidade


Santa Ana do Piripindeua, localizada no assentamento de reforma agrária
Itabocal no Município de Mãe do Rio, Nordeste Paraense. Na localidade,
realizei observações e entrevistas com homens e mulheres que praticam a
agricultura de base familiar e participam de organizações denominadas de
Clube de Mães e Clube Agrícola.

É importante registrar que nessa pesquisa privilegiou-se um grupo de


agricultores que se destacam por uma religiosidade evidenciada pelas
manifestações de um catolicismo popular, expressa pela escolha e o culto a um
santo padroeiro muito antes da chegada da Igreja.

Resultados e discussões

Os principais resultados mostram que os agricultores realizam o trabalho


no mutirão para homenagear Santa Ana desde a década de 1930, período em
que a primeira moradora iniciou a devoção a santa por conta da cura de uma
doença. A partir de 1960, com a chegada oficial da Igreja Católica, o trabalho
passou a ser realizado por meio de organizações denominadas Clube de Mães
e Clube Agrícola.

O Clube de Mães Santa Ana do Piripindeua é composto pela presidente,


secretária, tesoureiras e sócias. A principal atividade das mulheres é a de
promover mutirões para a realização de eventos em datas comemorativas,
sendo a mais importante a Festa de Santa Ana, que ocorre uma vez por ano.
Durante os nove dias da festividade as integrantes do Clube trabalham
intensamente. Elas formam equipes para ornamentar os espaços, para se
ocupar com os cuidados com a imagem e, principalmente, para o preparo e
venda de alimentos.

As equipes formadas para a preparação de alimentos utilizam espaços


diversificados como a casa das sócias ou a cozinha da sede do Clube de
Mães, local onde tradicionalmente ocorre a matança e preparo de frangos
assados, bem como de um bolo de quatro metros a serem entregues para as
avós, haja vista Santa Ana ser a padroeira das avós.

O Clube Agrícola Santa Ana do Piripindeua é composto pela presidente,


secretário, tesoureiros e sócios. O objetivo principal dos sócios é realizar
mutirão voltado para trabalhos agrícolas em terrenos que pertenciam a essa
organização. O grupo cultiva produtos como feijão, milho e mandioca. Além
disso, desenvolvem a piscicultura – a criação de peixes em tanque foi
estimulada pela prefeitura e no ano de 2008 ganhou a parceria da EMBRAPA.
Eles costumam doar os produtos cultivados para o leilão da Festa da
Padroeira, alem de se envolverem por meio da doação de força de trabalho,
organizam instalações para a iluminação e equipamentos de sons.

Os homens do Clube também se envolvem em atividades como o de


preparo e entrega de ofícios solicitando a colaboração da prefeitura para a
melhoria das estradas, bem como para adquirir produtos a serem leiloados no
evento. Chama atenção o fato de as mulheres assumirem a função de
cuidados com a ornamentação da imagem peregrina, enquanto que aos
homens cabe conduzi-la publicamente pelas ruas onde ocorre o traslado.

Para a realização de todas essas atividades, tanto as mulheres quanto


os homens contam com a ajuda de crianças e adolescentes da localidade,
alunos da crisma e da primeira eucaristia. Além da ajuda, os mais jovens
colaboram vendendo cartelas de bingo e organizando brincadeiras como a
pescaria de objetos e a chamada “cadeia”, sendo um grupo organizado para
prender as pessoas em uma espécie de jaula. O preso só era solto mediante o
pagamento de uma fiança, quantia em dinheiro paga pelos amigos.

Conclusões

Diante do que foi dito até aqui, concluo que o trabalho por meio do
mutirão não se restringe apenas a esfera da produção agrícola tal como ocorre
com a farinhada. No caso em estudo, a dedicação de homens e mulheres são
para a realização da Festa da Padroeira, Santa Ana, eleita por ter a devoção
da primeira moradora. O que se quer chamar atenção é para o fato de que a
realização do trabalho por meio do mutirão não significa apenas a manutenção
de uma das formas de reprodução social das mais evidentes na literatura sobre
o campesinato e a agricultura familiar, o auxílio da mão de obra familiar nas
atividades de trabalho (CHAYANOV, 1981; WANDERLEY, 1997; MARTINS,
2003).

No entanto, os resultados mostram que mesmo em se tratando de


trabalho no mutirão fora da esfera da produção, os agricultores seguem uma
divisão de atividades pautada por sexo e idade, seguindo uma racionalidade de
modo a assegurar a realização das atividades (WITKOSKI, 2007) tanto no
presente quanto para as futuras gerações. Para isso, criam-se condições
favoráveis para a socialização dos mais jovens, seja por meio da ajuda aos
sócios dos Clubes, seja por meio da integração deles na organização de
atividades próprias, tal como as brincadeiras.

Referências Bibliográficas

ANDRADE, Josiele Pantoja de; ALMEIDA Ruth Helena Cristo; Kato, Osvaldo
Ryohei; MATOS Lucilda Maria Sousa de. Camponeses, espaços coletivos e
sociabilidades: apontamentos a partir de monte sião, uma comunidade
amazônica. In: Contribuciones a Las Ciencias Sociales. Marzo de 2017.
CALDEIRAS, Clovis. Mutirão: formas de ajuda mútua no meio rural. São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1956, 222 p.

CÂNDIDO, Antônio. Os parceiros do Rio Bonito: estudo sobre o caipira


paulista e a transformação dos seus meios de vida. São Paulo: Duas
Cidades. Ed. 34, 2001. 376 p.

CHAYANOV, Alexander V. Sobre a teoria dos sistemas econômicos não


capitalistas. In: GRAZIANO, da Silva José; STOLCKE, Verena. A questão
agrária. Tradução: Edgar Afonso Malagodi; Sandra Brizola; José Bonifácio da
S. Amaral Filho. São Paulo: Editora Brasiliense, 1981.

MARTINS, José de Souza. O sujeito oculto: ordem e transgressão na reforma


agrária. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2003, 238 p.

SABOURIN, Eric. Camponeses do Brasil: entre a troca mercantil e a


reciprocidade. Tradução: Leonardo Milani. Rio de JANEIRO: Garamond, 2009.

WANDERLEY, Maria de Nazareth Baudel. Raízes históricas do campesinato


brasileiro. In: TAVARES, E. D., MOTA, D. M.; IVO, W. M. P. M. (Eds.).
Encontro de pesquisa sobre a questão agrária nos tabuleiros costeiros de
Sergipe, 2, 1997, Aracaju - SE. Agricultura familiar em debate – Anais...
Aracaju: Embrapa - CPATC, 1997.

WITKOSKI, Antônio Carlos. Organização do trabalho da família camponesa. In:


Terras, flores e águas de trabalho: os camponeses amazônicos e as formas
de uso dos recursos naturais. Manaus: EDUA, 2007.
Contextualização de saberes técnicos da agricultura familiar na visão de
um professor de história

Contextualization of technical knowledge of family agriculture in the view of a history


teacher

MACHADO, Rômulo Ribeiro1; SERRA, Vilma de Jesus de Almeida2;; GOMES, Izaquiel


Mateus Macedo3; ESTEVES, Carlos Dinely4

1 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas, campus Maués,


romulo.machado@ifam.edu.br; 2 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Amazonas, campus Maués, vilma.serra@ifam.edu.br; 3 Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia do Amazonas, campus Maués, izaquiel.mateus@ifam.edu.br; 4 Secretaria de
Estado de Educação e Qualidade do Ensino do Estado do Amazonas,
vilma_serra_@hotmail.com

Resumo
Este estudo tem como objetivo descrever a experiência de um docente durante estágio
em empresa agrícola familiar. Neste estudo optou-se por uma abordagem qualitativa a
partir de um estudo bibliográfico e documental e de uma observação participante para
coleta de dados. O estágio se justifica por externar uma aquisição de saberes na área
agrícola e seus impactos na prática laboral docente. Concluiu-se que os trabalhos de
plantio, colheita e transporte de hortaliças vai além do que o senso comum propaga e
que é fundamental para melhorar a atuação profissional em escola técnica
profissionalizante.

Palavras-chave: Empresa familiar agrícola; Estágio; Professor.

Abstract
Este estudo tem como objetivo descrever a experiência de um docente durante estágio
em empresa agrícola familiar. Neste estudo optou-se por uma abordagem qualitativa a
partir de um estudo bibliográfico e documental e de uma observação participante para
coleta de dados. O estágio se justifica por externar uma aquisição de saberes na área
agrícola e seus impactos na prática laboral docente. Concluiu-se que os trabalhos de
plantio, colheita e transporte de hortaliças vai além do que o senso comum propaga e
que é fundamental para melhorar a atuação profissional em escola técnica
profissionalizante.

Keywords: Family business; Internship; Teacher.

Introdução
Este estudo tem como objetivo descrever a experiência adquirida como
professor de história, durante um estágio profissional numa empresa agrícola
familiar, localizada no município de Parintins/AM que trabalha na produção de
hortaliças. Este Estágio foi oportunizado pelo Programa de Pós-Graduação em
Educação Agrícola (PPGEA). Programa do Instituto de Agronomia da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (IA/UFRRJ). Durante o período
de 22 de junho a 03 de julho de 2015, com carga horária de 80 horas, nas
dependências da empresa M/S Nascimento Varejista, de nome fantasia A
Horta.

Esta experiência se justifica por contemplar o estágio e suas implicações na


prática educativa na disciplina de ciências humanas, considerando que a atual
licenciatura em História não nos habilita na docência para área de Educação
Profissional que possibilite a prática interdisciplinar de História e de Educação
Técnica Profissionalizante. Sobre isto, Paulo Freire afirma que: “A prática de
pensar a prática é a melhor maneira de aprender a pensar certo. O
pensamento que ilumina a prática é por ela iluminada tal como a prática que
ilumina o pensamento é por ele iluminado” (FREIRE, 1978, p. 68). Neste
estágio o professor pode interagir com o meio e as suas contradições, pois é
um espaço que as suas teorias são validadas ou refutadas, a partir das
peculiaridades de cada município, de cada grupo de trabalho o que
proporciona significativa aprendizagem profissional.

Metodologia
Na construção deste trabalho, optou-se por uma abordagem qualitativa
(MINAYO, 2001, p. 22) a partir de um estudo bibliográfico e documental. Mas,
que para coleta de dados optou-se por uma observação participante. Pois,
nessa condição o pesquisador “tornar-se um membro do grupo para se
aproximar o mais possível da ‘perspectiva dos participantes’” (LÜDKE E
ANDRÉ,1986, p. 28).

Resultados e discussões
O estágio profissional “promove a aquisição de um saber, de um saber fazer e
de um saber julgar as consequências das ações didáticas e pedagógicas
desenvolvidas no cotidiano profissional” (FREIRE, 2001, p. 2). Neste estágio foi
possível observar as bases da agroecologia trabalhada pelos donos e oito
funcionários. Fomos informados pelo dono que a empresa tem lucro líquido
mensal entre 6 e 8 mil reais. Percebe-se com isso, que as áreas rurais podem
gerar soluções, ofertar emprego e, consequentemente, melhorar a qualidade
de vida das pessoas e promover o desenvolvimento do município. Estes dados
estimulam a família a continuar no ramo e com expectativa de crescimento. O
maior problema da empresa era a falta de espaço para aumentar a produção.
Contudo, deram como solução: o aumento da área de plantio e construção de
novas estruturas para desenvolver a agricultura tradicional e/ou pela técnica
hidropônica.

Durante as observações, eu estava na posição de professor de história e


também de pesquisador na perspectiva de interagir e contextualizar os
aspectos observados com o conhecimento de minha formação acadêmica. O
que possibilitou visualizar a evolução das práticas de agricultura das
sociedades humanas até o momento atual. Por isso, este estágio se apresenta
como uma porta de mudança da prática laboral de professor. O estágio
profissional “promove a aquisição de um saber, de um saber fazer e de um
saber julgar as consequências das ações didáticas e pedagógicas
desenvolvidas no quotidiano profissional” (FREIRE, 2001, p. 2). Possibilitou
uma ampla visualização de todas as etapas do processo agrícola.

Esta experiência possibilitou socializar conhecimentos técnicos atrelados aos


conteúdos de história Instituto em que tralho, IFAM Campus Maués.
Contribuindo assim, para o seguimento agrícola da economia local. Percebeu-
se que a agricultura não só trabalha o solo, o plantio e o manejo da água, mas
também a noção de administração, de logística, de organização justa de ações
e de um cronograma trabalho para atender a demanda do município. Desta
forma o estágio profissional “cria condições para a realização de aprendizagens
que podem proporcionar a aquisição de saberes profissionais e mudanças,
quer nas estruturas conceptuais, quer nas concepções de ensino” (FREIRE,
2001, p. 2). Este estágio é indispensável para oportunizar aos discentes de
ciências humanas, em nosso caso, de história para uma melhor preparação
técnica e para vida em sociedade.

Conclusão
A Agricultura familiar é uma prática viável em qualquer sociedade. Ela propicia
trabalho, segurança e conexões entre o meio rural e urbano. Oportuniza aos
envolvidos adquirir saberes de diversas áreas do conhecimento. Dialoga com
sociedade de forma a proporcionar condições de desenvolver a região na qual
esta inserida. O estágio oportunizou ao estagiário/docente uma nova visão,
mais ampla de sua disciplina. Proporcionando-lhe uma fundamentação prática
para a sua base teórica sobre a agricultura familiar, articulando, de forma
dialética, o saber aprendido na academia com o conhecimento prático.

Nesse contexto, propiciou condições de se (re)pensar o saber acadêmico, o


que se conhece por agricultura familiar e atribuir um significado disto para o
discente do Curso Técnico Profissionalizante. Num sentido mais geral, é
preciso trazer o conhecimento para um ponto mais próximo dos alunos ao
socializar como se trabalham as cadeias produtivas agrícolas e o quanto elas
contribuem de forma positiva para a economia local. É fundamental sair do
lugar-comum e estar disposto a adentrar no novo. Nesse aspecto considero o
estágio nesta empresa familiar como relevante. Haja vista que, serve para
refletir sobre a teoria a partir de situações práticas. Permitindo assim, aprimorar
o olhar, a busca pelo novo e a motivação pela ampliação de conhecimento para
formação técnica dos alunos e no que podem contribuir o desenvolvimento da
sua região.

Referências bibliográficas
FREIRE, Ana Maria. Concepções Orientadoras do Processo de
Aprendizagem do Ensino nos Estágios Pedagógicos. Colóquio: Modelos e
Práticas de formação Inicial de Professores, Faculdade de Psicologia e de
Ciências da Educação, Universidade de Lisboa. Lisboa, Portugal, 2001.
Disponível em: <http://www.educ.fc.ul.pt/recentes/mpfip/pdfs/afreire.pdf.>.
Acesso em: 20 de out de 2015.

FREIRE, Paulo. Consciência e história: a práxis educativa de Paulo Freire


(antologia). São Paulo: Loyola. 1978.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas. Disponível em:


<http://www.cidades.ibge.gov.br/painel/painel.php?codmun=130340&search=|p
arintins&lang=>. Acesso em: 29 de out de 2015.

LÜDKE, Menga e ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens


qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.

MINAYO, M. C. S. (Org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Rio


de Janeiro: Vozes, 2001.
“Ele veio com o dendê”: Camponeses e uso de agrotóxicos no Estado do Pará,
um estudo a partir de São Vicente no município de Moju.

"He came with the oil palm": Peasants and use of agrochemicals in the State of
Pará, a study from São Vicente in the municipality of Moju.

PAES CHAVES, Genisson1; BARBOSA MAGALHÃES, Sônia2


1 Professor Ms. - Faculdade Metropolitana de Paragominas, paes.paesg@gmail.com; 2
Professora Dra. - Universidade Federal do Pará, smag@ufpa.br

Resumo
A partir de uma vila rural “integrada” ao monocultivo de dendezeiro do Grupo
Agropalma, localizada no município de Moju, no nordeste paraense, são analisadas
algumas das relações de trabalho que se corporificam no seio da aplicação de
agrotóxicos. Este texto é oriundo de um estudo de caso elaborado no âmbito da
dissertação de mestrado intitulada “Camponeses, agrotóxicos e agroindústria de
dendê no Estado do Pará: um estudo a partir de São Vicente”, defendida no ano de
2016, no Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas (NCADR/UFPA).
Os dados indicam que a aplicação de agrotóxicos é uma atividade exclusivamente
masculina, realizada por pessoas maiores de idades, sejam proprietárias de
dendezeiro e/ou apenas contratadas para esse fim. Indicam que a sociedade
camponesa em questão está, possivelmente passando por um risco (Douglas e
Wildavsky, 2012), um processo de envenenamento, o qual é sentido e manifestado no
corpo dos camponeses, sujeitos sociais que lidam direta e indiretamente com esses
produtos químicos.
Palavras-chave: Veneno; “integração”; dendezeiro; Sociedades Camponesas;
Amazônia.

Abstract:
From a rural village "integrated" to the monoculture of oil palm of the Agropalma Group,
located in the municipality of Moju, in the northeastern part of Paraense, some of the
labor relations that are embodied in the application of agrochemicals are analyzed.
This text comes from a case study elaborated within the scope of the master's thesis
entitled "Peasants, agrochemicals and oil palm industry in the State of Pará: a study
from São Vicente", defended in the year 2016, in the Post- Graduation in Amazonian
Agriculture (NCADR / UFPA). The data indicate that the application of agrochemicals is
an exclusively male activity, carried out by persons of greater age, who own oil palm
and / or only contracted for this purpose. They indicate that the peasant society in
question is possibly undergoing a risk (Douglas and Wildavsky, 2012), a process of
poisoning, which is felt and manifested in the body of peasants, social subjects who
deal directly and indirectly with these chemicals.
Keywords: Poison; "integration"; Oil palm; Peasant Societies; Amazon.

Introdução

A inserção da dendeicultura no cenário amazônico é uma das “agroestratégias”


da racionalidade capitalista que nos últimos anos vem impondo às sociedades
camponesas da região do Baixo Tocantins novos arranjos e estruturas que até
em um passado recente não faziam parte de seu universo sociocultural. A
utilização de agrotóxicos, por exemplo, não era uma realidade no cotidiano da
vila São Vicente, localizada no município de Moju, pois antes não se fazia o
uso deste produto químico no âmbito da citada vila. Conforme a narrativa de
um agricultor: “Ele veio com o dendê”. Sua expansão tem se acelerado em
tempos mais recentes, guardando correlação com o incentivo governamental à
agricultura de commodities. A partir de um estudo de caso, pautado no enfoque
antropológico, este trabalho tece algumas reflexões sobre as relações de
trabalho vivenciadas no âmbito da aplicação de agrotóxicos, o qual envolve
sujeitos sociais importantes para a compreensão da atividade em questão.

Metodologia

A Vila São Vicente, juntamente com as vilas Apeí, Arauaí, Curuperé, São
Benedito e Soledade, forma um complexo de vilas e comunidades rurais
“integradas” a agroindústria de dendezeiro do Grupo Agropalma – Pioneira no
plantio de dendezeiro, começou em 1983 e hoje conta com mais 45.000
hectares. São Vicente é uma vila formada por 56 famílias (LEAL, 2013), por
pessoas que trabalham na roça, mandioca e no dendezeiro. É formada por
indivíduos de vilas próximas e de municípios paraenses, tais como Moju,
Tailândia, Acará etc.; os grupos domésticos são formados por três a seis
membros. A vila é pequena e acompanha os contornos do ramal Parola,
construído em 1993. Seu acesso acontece por meio da PA – 150. Ao todo,
foram realizadas quatro idas a campo: a 1ª ocorreu em setembro de 2014; as
demais, em janeiro, março e outubro de 2015. No total, foram feitas 26
entrevistas semiestruturadas, além de algumas poucas conversas informais,
cerca de 10. As entrevistas e as conversas informais foram realizadas com
pessoas que variaram dos 20 aos 78 anos de idade e englobaram donos de
quadra de dendezeiros, membros da Associação local, não proprietários de
quadras, aposentados, dentre outros.

Resultados e discussões
A área de monocultivo de dendezeiro localmente é denominada por quadra de
dendê ou projeto de dendê e engloba 50 famílias. Desse total, 16 famílias
residem na vila São Vicente, as demais, nas vilas Soledade, Apeí e Arauaí.
Veneno ou química são duas palavras utilizadas para designar o Roundup.
Essa percepção é ilustrada a partir da seguinte narrativa: “o que eu entendo
por veneno é uma química forte que… mata!” (I., 35 anos, dona de quadra de
dendezeiro). Conforme Bombardi (2014) o roundup é um herdeiro do agente
laranja, um desfolhante químico, que foi utilizado durante a guerra do Vietnã,
local onde até hoje pessoas nascem com má formação devido à intensa
exposição provocada na época. Segundo Vieira (2015) o uso de agrotóxico,
assim como outros instrumentos e insumos, faz parte de uma das cláusulas
presentes e obrigatórias no contrato de “integração” do Grupo Agropalma SA
com a sociedade camponesa da vila São Vicente.

Na vila São Vicente, a aplicação de agrotóxicos é uma atividade


exclusivamente masculina, normalmente realizada por indivíduos maiores de
idade, mais especificamente por sujeitos de idades que variam entre 28 e 59
anos, o que diverge um pouco de Nova Paz, pois lá, como visto por Chaves e
Magalhães (2014), pessoas do sexo masculino e menores de idade, aplicam
agrotóxicos. Em São Vicente, pelo menos durante o período de campo, não se
presenciou nenhuma pessoa com menos de 18/16 anos de idade trabalhando
na aplicação de agrotóxico e também não foi relatado nada a respeito. Em São
Vicente, muitos desses trabalhadores são oriundos de outros municípios
paraenses, como Tailândia e São Domingos do Capim, outros vieram da região
nordeste do Brasil, principalmente do Estado do Ceará.

Nesse contexto de “integração”, a aplicação de agrotóxicos é realizada pelos


próprios proprietários de quadras – ou projetos – de dendezeiros ou por outros
membros da unidade familiar. Quem é proprietário de quadras de dendezeiro
geralmente realiza a aplicação apenas na própria quadra, outros, além de
aplicarem nas suas próprias quadras, também são solicitados para realizar o
processo de aplicação em outras. Em São Vicente não há nenhum morador
que trabalhe nas fazendas da Agropalma na aplicação de agrotóxicos, como
acontece na comunidade Nova Paz, conforme o estudo acima citado. Os
aplicadores de agrotóxicos, de modo geral, realizam outras atividades, além da
aplicação. Esta, na verdade, não é a atividade principal, mas sim, uma espécie
de complemento da renda, uma atividade que como dito anteriormente, não
fazia parte do modo de viver da maioria dos residentes na referida vila.

A aplicação não é, portanto, um tipo de trabalho especializado em São Vicente.


Dos indivíduos entrevistados e que trabalham nesse tipo de atividade, apenas
dois moradores trabalham aplicando veneno nas quadras de outros
proprietários de dendezeiro; os demais aplicam apenas nas suas quadras.
Quem é requerido para a aplicação de agrotóxico geralmente trabalha e recebe
por bomba aplicada. A aplicação se dá mediante o convite do proprietário e no
dia combinado o aplicador se dirige ao local e realiza a tarefa.

A aplicação pode ser realizada por apenas uma pessoa: o dono da quadra ou
uma pessoa contratada por esta. Por outro lado, esta pode ser auxiliada pela
esposa do dono do projeto ou por outro membro da família, como um irmão,
por exemplo. A mulher, por sua vez, é responsável em pegar água para colocar
na bomba de aplicação e posteriormente, lavar as vestimentas utilizadas por
seu marido durante a aplicação.

A aplicação consiste em: a) colocar água dentro da bomba e misturar com o


roundup. Essa mistura pode ser feita com um pedaço de pau ou pelas próprias
mãos do aplicador; b) colocar a bomba nas costas e andar por entre as linhas
de dendezeiro aplicando o veneno, fazendo um círculo ao redor da planta,
tendo o cuidado para não deixar o veneno cair na planta, pois ele “pode
queimá-la”; c) após aplicação, “tirar o grosso”, ou seja, os resquícios de veneno
mais visíveis no corpo, no igarapé, como também lavar a bomba no mesmo. As
vestimentas que os aplicadores utilizam durante a aplicação são roupas
comuns, do dia a dia, do trabalho na roça, como calça jeans e camisa manga
curta e de algodão; outras pessoas utilizam camisetas juntamente com
bermuda e no pé, sandálias. Das pessoas entrevistadas, apenas uma
confeccionava uma vestimenta para a aplicação. De maneira geral, esse era o
quadro de vestimenta para aplicar veneno, pois é somente depois de três,
quatro e cinco anos aplicando veneno que os agricultores vão ter o curso de
capacitação para lidar com o veneno. Após esse curso, alguns camponeses
passam a usar EPI (Equipamento de Proteção Individual), outros deixam de
trabalhar na atividade pelo risco (Douglas e Wildavsky, 2012) de se contaminar;
e outros continuam aplicando da maneira que julgam conveniente, de forma
diferente do que estabelece as normas oficiais de trabalho com os agrotóxicos.
Outros sujeitos sociais são: os técnicos da Agropalma, responsáveis por passar
informações ligadas aos tratos culturais da espécie; e outros agricultores e
agriculturas da comunidade, como de vilas circunvizinhas que compartilham
dicas sobre como manejar o veneno.

Conclusões

São Vicente compartilha a “época do veneno”, um processo vivenciado por


muitas outras sociedades amazônicas, que aos poucos, são “acariciadas” por
aquilo que é sentido, mas que não é visto, pois fica no ar e anda “como um de
nós”. É o veneno, um mal que não tem cor e que não deixa rastro, mas que
entra nos poros e se aloja dentro do corpo camponês.

Agradecimentos

Aos camponeses de São Vicente; à Professora Dra. Sônia B. Magalhães por


dar “a carne e os ossos” desse trabalho; aos membros da banca de
dissertação: Lourdes G. Furtado, Gutemberg Guerra, Delma P. Neves, Renata
Menasche e Dalva Mota; aos Professores, amigos e colegas do Núcleo de
Ciências Agrárias e Desenvolvimento Rural (NCADR/UFPA). E a CAPES pela
concessão da bolsa.

Referências bibliográficas:

BOMBARDI, L. M.. Agrotóxico é nova faceta da violência no campo. Jornal Brasil de


Fato. Disponível em:<http://www.brasildefato.com.br/content/agrot%C3%B3xico-
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CHAVES, G. P.; MAGALHÃES, S. B. O uso de agrotóxico na dendeicultura por
colonos da comunidade Nova Paz, município de Tailândia, Pará. Amazônia: Ci. &
Desenvolvimento, Belém, v. 10, n. 19, jul./dez. 2014.

DOUGLAS, M.; WILDAVSKY, A. Risco e cultura: um ensaio sobre a seleção de


riscos tecnológicos e ambientais. Rio de Janeiro: Elsevier; Campus, 2012.

LEAL, A. Avaliação do saneamento ambiental em comunidades rurais do município de


Moju, PA. 128f. Monografia (Graduação em Engenharia Ambiental e Sanitária) –
Universidade Federal do Pará: Belém, 2013.

VIEIRA, A. C. A “integração” camponesa ao monocultivo de dendê: subordinação e


transformação do campesinato amazônico.125 f. Dissertação (Mestrado em
Agriculturas Amazônicas). Universidade Federal do Pará. Belém, 2015.
Maracajó, colares (PA): produção e comercialização da farinha de
mandioca em uma comunidade camponesa.
Maracajó, collars (PA): production and marketing of cassava flour in a peasant
community.

MEDEIROS, Fabiano

UFPA, fabianomedeiross@yahoo.com.br

Resumo

O trabalho buscou apresentar como a comunidade de Maracajó, localizada no


município de Colares/PA, região do salgado paraense, através da produção de farinha
de mandioca vive cotidianamente o fato social total. A metodologia de pesquisa
baseou-se em abordagem quali-quantitativa a partir de levantamento bibliográfico e
pesquisas de campo – questionários socioeconômicos, entrevistas semiestruturadas,
conversas informais, anotações cotidianas em caderno de campo e recursos
fotográficos. O universo de pesquisa é composto por 150 famílias produtoras de
farinha. Em Maracajó é percebido um modelo de campesinato amazônico no qual
reciprocidade, parentesco, compadrio e casamento fazem-se presentes. Em tal
comunidade, a produção de farinha é destinada a subsistência e ao comércio,
comércio este que detém características próprias ao constituir um comércio invisível
da farinha entre indivíduos internos e externos a comunidade.

Palavras-chave: Campesinato; Reciprocidade; Parentesco; Fato Social Total.

Abstract:

The work sought to present how the community of Maracajó, located in the municipality
of Colares / PA, region of salado Paraense, through the production of cassava flour
daily live the total social fact. The research methodology was based on a qualitative-
quantitative approach based on bibliographical research and field surveys - socio-
economic questionnaires, semi-structured interviews, informal conversations, daily
annotations in field notes and photographic resources. The research universe is
composed of 150 families producing flour. In Maracajó is perceived a model of
Amazonian peasantry in which reciprocity, kinship, compadrio and marriage are
present. In such a community, the production of flour is destined for subsistence and
for commerce, a trade which has its own characteristics by constituting an invisible
trade in flour between individuals internal and external to the community.

Keywords: Peasinato; Reciprocity; Kinship; Total Social Fact.

Introdução

Este trabalho versa sobre a compreensão da temática camponesa


brasileira. Para tanto, aprofundou-se na literatura sobre o tema e com isso
elucida lacunas existentes no trabalho de campo e teórico a partir de uma
percepção amazônica. No entanto, não se distancia do cenário brasileiro,
compactuamos com as afirmações de Eric Sauborin sobre as comunidades
camponesas brasileiras que:

Existe também em função de um sentimento de pertencimento


a um grupo, de uma identidade coletiva e do compartilhamento
de saberes, práticas e, sobretudo, valores que a constituem.
Uma vez que a origem destas comunidades também é ligada à
religião, esta constitui muitas vezes um dos principais valores
simbólicos de referencia comum. Para os camponeses, por
definição, “a comunidade” é aquela que se reúne as “famílias
que rezam juntas” (SAUBORIN, 2009, p. 51).

Na particularidade amazônica, em uma breve contextualização das


discussões sobre a temática Camponesa na Amazônia, buscou-se trabalhar
um conceito específico de camponês, o amazônico, este já discutido por
Ravena-Cañete (2011) como sendo:

Um universo socialmente integrado ao conjunto da sociedade


brasileira e ao contexto atual das relações internacionais [...]
Porém, considero que este mundo rural mantém
particularidades históricas, sociais, culturais, e ecológicos o
recortam como uma realidade própria, da qual fazem parte,
inclusive, as próprias formas de inserção na sociedade que a
engloba (WANDERLEY, 1996 apud RAVENA-CAÑETE, 2011.
p 168).

Desse modo, a comunidade de Maracajó/PA apresenta particularidades


camponesas que se baseiam na agricultura familiar, com o predomínio da
produção e da comercialização de farinha de mandioca – Manihot Esculenta
Crantz (MURRIETA; SILVA, 2014). Nessa realidade, a farinha é percebida
enquanto um bem tão precioso que influencia as práticas e as relações
quotidianas da comunidade, elementos importantes para a continuidade do
modo de vida camponês amazônico em/de Maracajó. Dessa forma, afirmamos
que a reciprocidade entre os camponeses tem um papel articulador de relações
conforme afirmar Sauborin:

A Reciprocidade: Por reciprocidade, entendemos a dinâmica de


reprodução de prestações, geradora, de vinculo, social,
identificada por Mauss (1924).Temple (2003c) define a
reciprocidade como o redobramento de qualquer ação ou
prestação, que permite reconhecer o outro e participar de uma
comunidade humana. (SAUBORIN, 2009, p. 51).

Nesse contexto a farinha de mandioca se faz presente como elemento


articulador de campesinidade, assim como afirma Woortmann (1990, p. 13):

Prefiro então falar não de camponeses, mas de


campesinidade, entendida como uma qualidade presente em
maior ou menor grau em distintos grupos específicos. Se há
uma relação entre formas históricas de produção, e essa
qualidade, tal relação não é, contudo, mecânica.

Esta afirmação do autor é passível de ser assemelhada ao contexto de


Maracajó, que possui um modo de vida próprio, a partir da produção e da
comercialização da farinha que articula e influencia as relações socioculturais
tecidas na comunidade. Diante desta discussão, o presente trabalho tem como
problemática de investigação o seguinte questionamento: Em que medida
pode-se compreender a produção e comercialização de farinha de
mandioca na comunidade de Maracajó, Colares/PA como um fato social
total?

Metodologia
Para tanto, o percurso metodológico construído para possibilitar tal
investigação se efetivou sob uma abordagem quali-quantitativa a partir de
pesquisas bibliográficas – com o objetivo de delimitar o objeto de estudo,
construir embasamentos teóricos e contextualizar, sobretudo, os conceitos e as
categorias de análise trabalhadas – e pesquisas de campo – visando
compreender os fenômenos pesquisados na realidade e nas temporalidades
em que eles ocorrem (SEVERINO, 2007).
O trabalho de campo foi construído a partir de viagens com duração de
no máximo cinco dias, sendo estas iniciadas em dezembro de 2013 e
finalizadas fevereiro de 2016, ao todo foram feitas cinco viagens formais,
financiadas pelo projeto de pesquisa “Mercados Interculturais: práticas,
linguagens e identidades em contextos amazônicos”, projeto no qual atuei na
condição de bolsista de iniciação científica. Outras viagens nesse período
foram realizadas por conta própria e em oportunidades com a família, sendo
estas de imensa contribuição com o aprendizado e conhecimento das técnicas
de confecção da farinha do plantio até o produto final.

A partir da abordagem quanti-qualitativa buscou-se realizar um


levantamento socioeconômico da comunidade, assim como também
compreender como a comunidade de Maracajó, em Colares-PA, produz e
comercializa a farinha de mandioca. O trabalho foi construído com o uso de
método de amostragem do universo, usando uma amostra de 10% sobre o
mesmo, sendo que este totaliza 150 famílias que residem na comunidade. Os
dados socioeconômicos permitiram estabelecer e elencar os critérios a serem
utilizados para a escolha dos entrevistados.

Sobre a utilização de entrevistas semiestruturadas, elas foram realizadas


na busca por compreender melhor a relação das pessoas com o meio ambiente
que os circunda, bem como elencar as percepções que os moradores tinham
acerca das transformações no seu meio social e entender como se desenha e
redesenha os laços de parentesco nas (re)configurações da comunidade de
Maracajó. Ademais, foram feitos registros fotográficos e conversas informais,
enquanto ferramentas de pesquisas, tanto nas casas de farinha e nas
residências. Tais ferramentas contribuíram para a coleta de dados etnográficos
e com um olhar mais descritivo e elucidativo das vivencias camponesas na
comunidade de Maracajó. No universo da investigação, vale ressaltar que os
questionários e, sobretudo, as entrevistas deram ênfase nas percepções dos
jovens e adultos, na faixa etária de 24 a 78 anos.
Resultados e discussões
FARINHA DE MANDIOCA: UM FATO SOCIAL TOTAL MARACAJOENSE

Dando prosseguimento a este trabalho, elegemos o fato social total de


Marcel Mauss como um dos métodos de analise desde campo de pesquisa,
portanto apresentar o Dar, Receber e Retribuir e pensar em um sistema de
prestações totais como afirmar Mauss: “O sistema de prestações, de clã a clã –
aquele no qual os indivíduos e grupos trocam tudo entre si – constitui o mais
antigo sistema de economia e de direito que podemos constatar e conceber”.
Ele forma o fundo sobre o qual se destacou a moral da dádiva-troca (MAUSS,
2003 p. 299). Deste modo, apresentamos a relação de prestações totais na
comunidade de Maracajó que giram em torno da produção e comercialização
da farinha.

3.1.1 Reciprocidade

Neste trabalho buscamos explorar a reciprocidade em uma comunidade


camponesa a partir das discussões de Eric Sauborin, que nos apresenta um
desdobramento da teoria de Dominique Temple sobre reciprocidade e que nos
faz repensar nos fatores que levam as dádivas na comunidade de Maracajó e
as que separam das trocas com isso Sauborin mostra através da definição de
Temple e Chabal o que vamos chamar de reciprocidade e como isso se
diferencia de troca:

Reciprocidade seja considerada como o redobramento de uma


ação ou prestação, tais como, entre outros, a reprodução das
dádivas. Desta forma, faz distinção entre a troca e a
reciprocidade: “A operação de troca corresponde a uma
permutação de objetos, ao passo que a estrutura de
reciprocidade constitui uma relação reversível entre sujeitos”
(TEMPLE; CHABAL, 1995, p.12 apud SAUBORIN, 2009 p. 56).

Estas estruturas na comunidade são representadas por o mutirão de


roçar e capinar, pequenos empréstimos de farinha, vendas de farinha para fora
da comunidade, festa do santo padroeiro etc. Estes aspectos são colocados
em evidencia em um emaranhado maior de relações de reciprocidade diário em
Maracajó, Sauborin chama esse tipo de estrutura de reciprocidade como
binária que: correspondem ás relações de aliança (casamento, compadrio,
redes interpessoais etc.) que se estabelecem entre indivíduos, famílias e
grupos. A relação de reciprocidade binária simétrica (cara a cara) gera a
amizade. A relação de reciprocidade binária assimétrica traz o prestigio do
doador e a obrigação ou submissão do donatário (dádiva agonística, potlach)
(SAUBORIN, 2009, p. 59).

3.1.2 Parentesco

Falar de parentesco na comunidade de Maracajó e pensar em um


modelo organizador de trabalho, família, festas religiosas, acesso a terra e
dentre outros vínculos dentro das famílias maracajoenses, pois neste trabalho
usamos como referência Woortmann que afirma que em comunidades:

O parentesco seria então uma relação de filiação socialmente


reconhecida (o que inclui a relação de adoção). Duas pessoas
são parentes quando uma descende da outra, ou quando
ambas descende de um antepassado comum (RADCLIFFE-
BROWN, 1950, p. 19 apud WOORTMANN 1995, p. 69).

Neste caso a comunidade tem duas matrizes de descendência à família


Monteiro e a família Pereira, todos os camponeses da comunidade tem alguma
tipo de vinculo parental com esses fundadores da localidade e como
Woortmann apresenta a: a Descendência e sucessão consistem na
transmissão de direitos e deveres, e os sistemas mais coerentes seriam os
unilineares, onde os grupos de descendência detêm o domínio corporativo das
propriedades mais relevantes para a sociedade (WOORTMANN, 1995, p. 71).

Estas afirmações são de suma importância para realidade maracajoense


a partir que a mesma também usa o parentesco como regra de direito e
controle de suas terras, no caso da comunidade não e qualquer um que pode
morar na comunidade, mesmo através da compra de terras “atualmente” o
comprador passa por um aval do grupo este sendo de forma indireta, os novos
moradores pelo menos um tem que ter vinculo de parentesco com algum dos
troncos familiares da comunidade.

Relações de parentesco no Maracajó

Adentrar na organização da comunidade que é composta por 121


hectares conforme especificado na Receita Federal e registrado como Sitio são
José, nome que nenhum dos moradores reconhece. A organização territorial
local se ordena pelo parentesco, pois, cada família tem sua terra por ligação de
seus antepassados. Nesse sentido, vale exemplificar e explicar algumas
articulações de parentesco que findam na divisão de terras e acesso e uso das
mesmas, por exemplo: a família de dona Lica, João, Dalvina usam a parte de
terras conhecidas como “Açai”, os familiares Anália, Vidico e Sancha são
detentores do “centrão”, e as famílias de Albertino e Loló usam as terras do
“Souza”, onde hoje em dia é um local muito disputado na comunidade, pois, foi
pouco utilizado e com isso ainda é fértil com igarapés acessíveis, e com isso
traz certo conflito na comunidade, pois, hoje vários filhos e netos, fazem uso do
antepassado comum para terem um pedaço de “terra” e vão trazendo novas
famílias para a comunidade e reavivando os mutirões que andavam fora de
moda na comunidade, porque onde tem “parentela” mão de obra na roça não
falta.

4 O COMÉRCIO INVISÍVEL DA FARINHA

A comunidade de Maracajó tem um grande potencial de produção de


farinha, mesmo passando por períodos de escassez de chuva nos últimos
anos, prejudicando a maioria das famílias com a perda de muitos roçados a
comunidade sempre consegue arrumar meios que levem a sempre ter alguns
ou muitos alqueires para os filhos ou parentes na capital Belém/PA.
Apesar da comunidade de Maracajó não ter como finalidade principal o
comércio da farinha este ocorre em pequenas quantidades de maneira que
podemos chamar de “comércio invisível da farinha”, chamamos invisível a partir
que o mesmo ocorre em pequenas quantidades que só pode ser percebido
com um olhar bem cuidadoso, pois, os camponeses tem problema em assumir
que vende ou recebem algum ganho deste produto que vem da terra. Muito
semelhante com as afirmações de klaas woortamann em sua obra com parente
não se neguceia, onde uma moral toma conta das relações mercantis, na
comunidade de Maracajó estes negócios funcionam de uma maneira conforme
a figura abaixo.

Figura 1 – Ciclo do Comércio da Farinha

Com isso podemos observar que a farinha de mandioca sai da


comunidade, mas nunca volta em valores (dinheiro em espécie) sempre volta
em produtos, tudo começa na produção de farinha em algumas casas era
possível ver os filhos ou parentes presenteando com fornos novos as casas de
farinha, mas estes “presentes” não são todas as vezes como forma de
retribuição de gentilezas. Estes são pagamentos adiantados ou até mesmo
garantias futuras de alguns alqueires de farinha, mas isso está colocando de
forma de um produto maior.

Conclusões
No que concerne à comercialização da farinha, notou-se que é restrito a
alguns camponeses maracajoenses, geralmente filhos que moram em Icoaraci,
Distrito de Belém/PA, sendo estes nomeados neste trabalho de camponeses
urbanos, visto que reproduzem práticas e modo de vida campesina na
ambiência urbana, fato que pode contribuir para que eles dificilmente “percam”
sua identificação com os modos de vida do campo. Tal característica, portanto,
atrelada ao parentesco, é vista como critério para escolha de quem participará
do comércio invisível da farinha. Este comércio serve para captar recursos e
produtos de fora da comunidade e tem uma alta relevância na vida dos
maracajoenses por ajudar suprir, hoje em dia, anseios criados pela
modernidade (celulares, televisores de led, roupas da moda, motos, etc.).

A investigação revelou que a comunidade de Maracajó/PA, tem uma


produção e comercialização de farinha de mandioca que se entrelaça com o
modo de vida, o parentesco e a reciprocidade. Tal fato coloca em evidencia
uma importante característica de comunidades camponesas: o parentesco e a
reciprocidade enquanto articuladores de relações sociais, mercantis e não
mercantis dentro e fora da comunidade. E com isso afirmamos que o fato social
total faz parte da realidade da comunidade de Maracajó/PA, a partir da farinha
de mandioca que e o elemento aglutina os aspectos da reciprocidade, do
parentesco, da religiosidade, do trabalho, da afinidade, da honra, do respeito,
do compadrio, do casamento, etc.

Diante dos achados de campo depreende-se que se tem a possibilidade


de visualização, na produção e no comércio da farinha, de uma lógica
complexa de relações que se entrelaçam para decidir com quem “eu” me
relacionarei no mundo rural e/ou urbano, e com quais pares terei ajuda no
trabalho do roçado, na casa do forno e na venda. Este mundo rural, permeado
pela reciprocidade e pelo parentesco, vem conseguindo sobreviver e preservar
suas práticas de produção de farinha, mantendo um dos bens mais valiosos
para essas populações rurais: suas “terras”, nas mãos de seus filhos.

Referências bibliográficas

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Paulo: Hucitec, 1994.

MAUSS, M. 1974 [1923-24]. Ensaio sobre a dádiva. Forma e razão da troca


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MURRIETA, R. S. S; SILVA, H. A. Mandioca, a rainha do Brasil? Ascensão e
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RAVENA-CAÑETE, Voyner. Memória e herança da terra: a história de um


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Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Centro de Filosofia e Ciências
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______. Nova Redenção: uma ruralidade amazônica, Novos Cadernos


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SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho cientifico. 23°


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WOORTMANN, K. “Com parente não se neguceia”: o campesinato como


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WOORTTMANN, Ellen. Herdeiros, parentes e compadres. São Paulo-


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_______.; WOORTTMANN, K. O trabalho da terra: a lógica e a simbólica da


lavoura camponesa. Brasília: Universidade de Brasília, 1997.
Trabalho familiar em cultivo de dendê em Santa Maria, Tomé-Açu / Pará

Family work in oil palm cultivation in Santa Maria, Tomé-Açu / Pará

CAETANO, Márcia Coutinho1

1
Graduação em Pedagogia; Extensionista Rural - Técnico em aquicultura da Empresa de
Assistência Técnica e Extensão Rural do Pará – EMATER-PA. Belém/PA, Brasil. Email:
mcc.2010@hotmail.com;

Resumo

Neste trabalho, minha pretensão foi analisar as novas evidências do trabalho familiar
num contexto de incentivo à especialização para o cultivo de dendê. Trata-se da
comunidade rural denominada Santa Maria, situada no município de Tomé-Açu,
nordeste paraense, um dos pólos de produção de dendê (Elaeis guineensis Jacq.) no
estado do Pará. Este município abriga diferentes formas de agriculturas (familiar e
empresarial) e relações de trabalho, destacando-se no cenário estadual pela produção
de frutas, pimenta do reino (Piper nigrum L.), culturas alimentares e, recentemente,
dendê no escopo do Programa de Produção Sustentável de Palma de Óleo, a partir de
2010. A produção de dendê se dá por meio de monocultivo em estabelecimentos
empresariais e familiares sob a condição de integração (agricultura por contrato). As
principais conclusões mostram que o trabalho familiar passa por redefinições para
realizar o cultivo do dendê.

Palavras-Chave: organização do trabalho; grupos domésticos; divisão sexual do


trabalho; integrados.

Abstract:

In this paper, my intention was to analyze the new evidence of family work in a context
of incentive to the specialization for palm oil cultivation. This is the rural community
called Santa Maria, located in the municipality of Tomé-Açu, northeast of Paraíba, one
of the poles of oil palm (Elaeis guineensis Jacq.) In the state of Pará. This municipality
is home to different forms of agriculture (family and business ) And labor relations,
standing out in the state scenario for the production of fruits, pepper of the kingdom
(Piper nigrum L.), food crops and, recently, oil palm within the Sustainable Palm Oil
Production Program, as of 2010 . Palm oil production occurs through monoculture in
business and family establishments under the condition of integration (contract
farming). The main conclusions show that the family work goes through redefinitions to
realize the palm oil cultivation.

Key-words: organization of work; domestic groups, sexual division of labor; integrated.


Introdução

O município de Tomé-Açu/PA, um dos polos de produção de Palma de Óleo


que abriga uma diversidade de formas de agriculturas. Ali, camponeses
cultivam culturas alimentares de forma consorciada em SAF’s (Sistemas
Agroflorestais) e também o dendê, este último, por meio de contratos numa
relação doravante denominada de integração com a empresa BBB. Parto do
pressuposto de que a integração dos camponeses às empresas tem
influenciado significativamente na organização do trabalho familiar, assim
como, na forma de produzir. O objetivo desta pesquisa é analisar a
organização do trabalho dos camponeses que cultivam dendê por meio de
contratos de integração com a empresa Belém Bioenergia Brasil - BBB.

Metodologia
A pesquisa foi realizada na localidade rural Santa Maria no km 33 da PA 140,
sentido Concórdia do Pará – Tomé-Açu, situada no município de Tomé-Açu,
nordeste paraense. Um estudo de caso foi realizado com os 10 camponeses
que têm contrato de integração e residem na localidade. Os procedimentos
constaram de observações e entrevistas (entrevistas estruturadas e não
diretivas).

Resultados e discussões
Os grupos domésticos (GD) e seus sistemas de produção
Segundo relatos orais dos moradores, Santa Maria foi fundada nos anos 60. Na
sua origem, foi formada por 05 famílias advindas de municípios vizinhos e de
outros estados em busca de terras para ocupar e estabelecer seus modos de
vida. A comunidade passa por constantes transformações, sobretudo a datar
do lançamento em 2010 do Programa de Produção Sustentável de Palma de
Óleo no município de Tomé-Açu e da integração de 10 grupos domésticos
dessa comunidade à empresa BBB que implantaram 10 hectares de dendê no
sistema de integração. Em vista disso, influências significativas ocorreram no
modo de vida, na organização do trabalho familiar e na produção dos grupos
integrados. Dentre estes, cinco possuem de 3 a 4 membros, três de 5 a 7
membros e duas têm de 8 a 13 membros, sendo cinco do tipo nuclear (casal e
filhos biológicos), quatro extensas (convive o casal e seus filhos biológicos e
outros que possuem algum grau de parentesco) e um coordenado por avó
(sem interferências dos pais biológicos).

Os sistemas produtivos dos integrados


Para compreender a importância da produção agrícola para a família, utilizei a
abordagem de Heredia (1979), a qual explicita que “o cultivo dos produtos
agrícolas é fundamental para o consumo familiar mesmo quando este é
mediatizado através da venda” (HERÉDIA, 1979, p. 49).

As culturas plantadas que predominam nos 10 estabelecimentos dos grupos


domésticos, são o dendê e a mandioca, encontradas em todas as famílias. Mas
somente em três grupos cultivam apenas dendê e mandioca. Os outros
cultivam, além destas, outras espécies e também criam pequenos animais.

Assim, constatamos que apesar da inserção da cultura do dendê, os sistemas


produtivos dos camponeses integrados ainda são bastante diversificados,
tendo em vista que, anteriormente ao dendê, houve uma diminuição nas áreas
das culturas trabalhadas devido ao aumento na quantidade do trabalho que
requer esta cultura, mas nem por isso, deixaram de plantar, quer seja para o
consumo ou comercialização do que produzem.

A Divisão Sexual do Trabalho: Quem faz, O que faz, Quando e Onde faz?
Heredia (1979) analisa a organização do trabalho nas unidades produtivas
familiares por meio de uma divisão pautada em sexo, idade e tarefas. Garcia
Junior (1983, p. 59) diz que “são os membros da família que executam
predominantemente as atividades no lote, ou seja, local de moradia e/ou cultivo
agrícola das famílias rurais, a partir de uma divisão do trabalho em que nem
todos realizam “de tudo” na unidade de produção”. Este modelo corresponde
ao observado em Santa Maria para os cultivos tradicionais.
Entretanto, com o advento do dendê, os GDs precisaram se adequar a nova
forma de produzir por ser esta uma atividade sob protocolo por meio do
contrato de integração. O trabalho nos estabelecimentos pesquisados persiste
nos mesmos moldes para os cultivos tradicionais. Entretanto, ocorrem
exceções quando se trata do trabalho no dendê, com a necessidade frequente
de contratação de diarista para cumprir o necessário.

Na maioria das famílias de integrados na Comunidade Santa Maria, apenas


duas não contratam mão de obra, e os outros oito grupos domésticos fazem
uso da contratação de diarista para ajudar no período do coroamento e
adubação do dendê. Nos distintos GDs existe uma variação de 5h às 8h de
trabalho ao dia. Os trabalhos nos estabelecimentos pesquisados são realizados
da mesma maneira para as outras culturas (limpeza de área, plantio e colheita),
realizadas somente por membros dos grupos domésticos. O dendê é a
exceção nas culturas atualmente trabalhadas, pois os camponeses necessitam,
no período do coroamento e adubação do dendê, contratar ajudantes
temporários que trabalham de 5 a 8h/dia para cumprirem o estabelecido nos
contratos do dendê.

Os serviços domésticos são realizados na casa ou no seu entorno,


normalmente realizados pelas mulheres. Esses serviços consistem em:
preparar alimentação da família (café, almoço, merenda e jantar), fornecer
comida aos animais, limpar a casa (varrer, passar pano e arrumar), lavar
louças, lavar roupas, limpar o quintal e cuidar dos filhos. Apesar de todas essas
tarefas, elas ainda conseguem trabalhar com o marido na roça (plantio, colheita
e descasque para a preparação da farinha), no cultivo das frutíferas e até
mesmo no cultivo do dendê, sendo que neste último as mulheres atuam
apenas na adubação, por esta atividade não requerer maior esforço físico. Em
dois grupos domésticos, as mulheres, além da atividade doméstica, trabalham
empregadas em escolas, e em um outro, a mulher trabalha com o esposo em
todas as tarefas do dendê, o que é possível devido à contribuição da filha para
os trabalhos domésticos.
Conclusões
Constatei neste estudo que a relações de trabalho estão atreladas a
reprodução social das famílias, no que diz respeito ao trabalho no cultivo de
dendê, este proporcionou uma divisão sexual do trabalho nos grupos
domésticos de camponeses integrados, por ser esta uma atividade que requer
força física dos homens jovens da família e/ou contratando trabalhadores para
atuar nesta atividade, ficando as mulheres “teoricamente” com os serviços
domésticos, e nas roças de mandioca, além de cuidar dos filhos e em alguns
casos trabalhando empregada. Com isso, verifiquei que o trabalho familiar é
definido principalmente pela relação com a dendeicultura, de modo que as
principais conclusões mostram que o trabalho familiar passa por redefinições
para realizar o cultivo do dendê.

Referências bibliográficas:

GARCIA JÚNIOR, A. Terra de trabalho: trabalho familiar de pequenos produtores. Rio


de Janeiro, Paz e Terra, 1983. p. 236.

HEREDIA, B. M. A. A Morada da vida: trabalho familiar de pequenos produtores do


Nordeste do Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
Relações de trabalho entre empreendimentos e comunidades nas ilhas
estuarinas amazônicas

Work relations between enterprises and communities in the Amazonian estuary


islands

DERGAN, João Marcelo Barbosa


UFPA, mdergan@ufpa.br

Resumo

As essências de sementes e raízes das ilhas estuarinas amazônicas foram usadas,


significadas e ressignificadas pelos comuns das ilhas e por empresas que fornecem
insumos para produção de biocosméticos ao mercado global na atualidade. As
essências de sementes e raízes de cumaru, priprioca, pracaxi, das ilhas de Cotijuba,
Paquetá, Combu, ilha Grande e ilha das Onças, que fazem parte do estuário
amazônico próximas a cidade de Belém-Pará-Brasil, tiveram usos e significados
muitas vezes opostos e contraditórios por empresas e pelos ilhéus ao longo da
história, ao mesmo tempo, eram utilizados nas diversas atividades como perfumes.
Perceber as permanências e mudanças dos usos das essências da flora estuarina das
ilhas, ao longo da modernidade, e a ressignificação de saberes e práticas pelos
populares e empresas/coorporações para produção de perfurmes para o mercado
global dá possibilidades de compreensão do discurso da sustentabilidade ambiental
nas práticas cotidianas na Amazônia.

Palavras Chaves: Trabalho, Amazônia, natureza

Abstract

The essences seeds and roots of the Amazon estuary islands were used, expressed
and re-signified by common of the islands and by companies that provide supplies for
biocosmetics the global market today. Essences seed and tonka bean roots, priprioca,
pracaxi, the islands of Cotijuba, Paquetá, Combu, isla Grande, isla Onças which are
part of the Amazon estuary near the city of Belém, Pará, Brazil, had many uses and
meanings often opposite and contradictory by companies and by the islanders
throughout history, at the same time, they were used in various activities such as
perfumes. Understand the continuities and changes in the uses of estuarine flora
essences of the islands along the modernity and the reframing of knowledge and
practices by popular and companies / coorporações for production perfurmes for the
global market gives us the possibilities of understanding the speech of environmental
sustainability in daily practices in the Amazon.

Key-Words: Work, Amazon, nature.

Introdução

Um longo processo de apropriação de saberes sobre a flora e as


essências vegetais das ilhas estuarinas na Amazônia foi se dando, com
continuidades, rupturas, descontinuidades, contradições, esquecimentos e
congruências, desde ‘as drogas do sertão’ e a colonização da região.

Na Amazônia, como um todo, espécies vegetais e sementes foram


manipuladas com observações de suas qualidades, em relações interativas de
vivências entre os habitantes da região e esses vegetais, desde tempos
arqueológicos no holoceno, que contribuiu para a própria formação da
paisagem.

A narrativa ambiental ressaltou a apropriação desses saberes por


comunidades das ilhas estuarinas e empresas de biocosméticos no final do XX
e início do XXI, com rupturas, continuidades, descontinuidades,
esquecimentos, lembranças e contradições no uso e comercialização no
mundo global das essências vegetais das ilhas estuarinas de Cotijuba,
Paquetá, Das Onças, Combu e Grande, com empresas como a Natura e a
Beraca, que trazem embutido nos produtos ‘o valor tradicional’ das
comunidades e a ‘sustentabilidade’ da produção.

Nessas apropriações a sustentabilidade ambiental ganha ‘um valor’


como discurso e como prática tanto pelas empresas como pelas comunidades
dos ilhéus, mesmo que inseridas nas contradições do mercado global atual.

A cidade de Belém foi observada, com as ilhas, que a cercam e


circundam relacionadas à coleta e à comercialização de sementes e raízes sob
a forma de ‘cheiros’ e de cores. Revelaram-se aspectos do discurso da
valorização e apropriação de saberes e conhecimentos sobre essas espécies
vegetais e a flora das ilhas, como as sementes de Açai- Euterpe Oleracea,
Andiroba- Carapa Guianenses, Ucuuba- Virola Surinamenses e as raízes de
Priprioca – Cyperus Articulatus, que foram inseridas na cadeia e
comercialização internacional, sob a forma de biocosméticos.

1- Etnografia dos trabalhos e dos cheiros:

Através da história oral, social do trabalho e da etnografia das práticas


dos ilhéus nas coletas e ‘preparo’ das sementes e raízes para fornecimento às
empresas de biocosméticos, compôs-se uma narrativa ambiental que cruzou
fontes orais e escritas, em que se revelaram os múltiplos saberes e interesses
sobre a flora estuarina das ilhas amazônicas e a manipulação e apropriação
desses saberes por ilhéus e empresas na produção de biocosméticos, como os
sabonetes e perfumes de priprioca, ao mercado e na busca da
sustentabilidade.

Cartas, doações de terras, relatórios e produção historiográfica, foram


‘viradas’ para o sentido dos usos e apropriações das espécies vegetais das
ilhas estuarinas, dadas nas relações de trabalho entre ilhéus e
empreendimentos organizados e criados para esses fins.

Na dominação do natural pelo cultural, ainda como opostos e duais,


escondiam-se e escamoteavam-se as utilizações e subjetividades envolvidas
nos usos, manipulações, coletas e plantios que eram dados a flora das ilhas
estuarinas pelos ilhéus, comuns, que foi possível reler e rever, ainda que
fossem considerados ‘caboclos que mal sabiam usar o natural’, em que, como
frisou Pádua (2005), o preço do atraso econômico se dava pela falta de uso
eficaz, considerado o viés economicista.

A valorização das espécies vegetais era frisada no mercado mundial,


mas os trabalhos realizados pelos ilhéus, ainda que importantes sob os
diversos aspectos, incluindo para o próprio conhecimento botânico naturalista,
não eram reveladas como um valor dentro desse mercado, mas ainda assim
modelavam e moldavam usos e signifcados para a flora das ilhas estuarinas.
2- Trabalhos e empreendimentos nas ilhas:

As espécies vegetais, sementes e raízes cheirosas das ilhas estuarinas


tiveram usos e significações imbricadamente feitas por ilhéus e
empreendimentos ao longo do tempo. As memórias, ressignificadas nas
lembranças dos ilhéus, puderam dar marcadores dos espaços e tempos nas
ilhas em que usos de sementes e raízes fizeram parte de um relacionamento
genealógico afetivo dos ilhéus no tempo presente.

Os ilhéus guardam e expressam preocupações com o ambiente das


ilhas em que vivem. Pode-se, através dos silêncios, falas, lembranças, como
uma espécia de diálogos qualitativos vivenciados na pesquisa, revelar o
complexo de relações que estabelecem entre as ilhas, os tipos de
organizações dos espaços nas ilhas dos antepassados, a importância do
movimento das águas do estuário insular na composição das sementes que
coletam nas ilhas em que vivem atualmente.

A cultura na natureza e a natureza na cultura deram possibilidades de


compreensão das lembranças dos ilhéus em relação aos antepassados
parentes, relacionadas aos usos e significações que as sementes e raízes e as
essências da flora das ilhas tiveram em suas vidas e trabalhos, como memória
que produz conhecimento no presente e que acionaram para realizar as suas
atividades na atualidade.

Foi preciso cruzar memórias significativas para os ilhéus, com estudos,


como Mourão (2007), Marin (2014), por exemplo, também com atas de
Associações Comerciais do Pará, regulamentos da Companhia Paraense de
Plantações de Borracha, boletins da Junta Commercial do Pará e da Alfandega
do Pará, anúncios de fábricas, notícia de jornal, para compor uma narrativa que
expressase as diversas atividades realizados pelos ilhéus, seus antepassados,
relacionadoas aos usos e coletas da flora, sementes e raízes, e
comercialização, através de empreendimentos que fabricaram produtos
acabados utilizando o trabalho dos ilhéus e as essências das sementes e
raízes das ilhas estuarinas.
3-Ilheús em Associações: trabalho e globalização

A construção de associações e centros comunitários nas ilhas ocorreu


principalmente a partir dos anos 1990, como forma de garantir direitos, sem
desconsiderar possibilidades de trabalhos, e, também, com preocupações em
manter a qualidade de vida e os ambientes. O direito a terra influencia
diretamente nos tipos de trabalhos que os ilhéus realizam.

Quando os ilhéus são donos dos terrenos em que vivem e não


trabalham diretamente para supostos donos de terras, realizam um cuidado no
cultivo de raízes e plantas, bem como no preparo dos produtos com as
essências vegetais, que se rleacionam mais diertamente com os aprendizados
dos antepasssados e com os ‘ritmos’ e subjetividades que imprimem as
naturezas.

Os tipos de raízes, as maneiras de acondicionar e os tipos de trabalhos


que realizam e consideram como ênfase principal das associações e centros
comunitários que construíram e organizaram têm relação com suas vidas e
suas ‘tradições’. Consideram importantes os trabalhos que possam gerar renda
e qualidade de vida, sem desqualificar o ambiente.

Considerações

Em função de problemas e contradições sobre o valor dos


conhecimentos tradicionais sobre os usos de sementes e raízes nas ilhas
estuarinas, que é considerado difuso, para confecção de perfumes cheirosos, a
Empresa Natura foi, que já havia feito acordos com a erveiras do Ver-O-Peso,
teve o cuidado com a maneira de aproximação com as comunidades das ilhas,
daí a entrada do Instituto Peabiru nesse processo.
O conhecimento tradicional associado ao recurso genético em questão é
difuso As noções de repartição, justiça, equidade e da natureza dos bens a
serem repartidos diferem entre os segmentos sociais,
Importa dizer que, mesmo sem querer fazer generalizações abruptas e
que possam apagar outros detalhes de outras realidades, há no processo de
construção histórica da sociedade global uma tentativa de naturalizar relações
sociais de poder, e de domesticação da natureza, construída na longa geração
do processo de modernidade, que nas ilhas estaurinas perto de Belém, as
comunidades significam e ressignificam suas tradições inseridas na
contradição do próprio comércio e mundo sustentável global na atualidade.

Referências Bibliográficas

MARIN, Rosa Elizabeth Acevedo (Org.). Povos e comunidades tradicionais.


Nova Cartografia social da Amazônia, Pará, 2014.

MOURÃO, Leila. História das cidades na Amazônia brasileira. Revista de


Estudos Amazônicos, Belém, v. 2, p. 29-43, 2007.

PADUA, José Augusto. Um sopro de destruição: pensamento político e crítica


ambiental no Brasil escravista, 1786-1888. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
O “POÉTICO” DAS CAUSAS POPULARES: Uma análise complementar
das poesias “Porque Estão Calados?” e “Concentração de Direitos”

THE "POETIC" OF POPULAR CAUSES: A complementary analysis of the


poems "Why are they silent?" And "Concentration of Rights"

SOUZA, Francisca Érica1

Universidade Estadual do Maranhão-UEMA,


universidadeestadualdomaranhao@gmail.com

RESUMO

Esta pesquisa dar visibilidade à literatura dos poetas e poetisas das causas populares.
Essas pessoas se destacam pela vida inteira dedicada aos movimentos populares, por
sua expressão poética onde descrevem sua vida e à vida de trabalhadores e
trabalhadoras que vivem às margens da sociedade, manchada pela desigualdade
social. O estudo pretende-se, a partir de pesquisa bibliográfica, analisar de forma
complementar, as poesias “Porque Estão Calados?” de Charles Trocate e
“Concentração de Direitos” Diva Lopes. Como metodologia foi feito um apanhado para
verificar produções a respeito do tema e assunto, mostrando que nos movimentos
populares por meio do poema é a descrição (movida por emoções em tons de revolta)
da realidade. Dessa forma, objetivasse verificar o poético nas causas populares,
evidenciando por que se faz necessária uma poesia engajada, voltada para a
resistência de uma população menos favorecida. Mas que acredita na possibilidade de
construir uma sociedade igualitária para todos (as).

PALAVRAS-CHAVE: Movimentos populares; Literatura engajada; Linguagem poética;


Poetas do povo;

ABSTRACT:

This research is to give visibility to the literature of poets and poetesses of popular
causes. These people stand out for a lifetime dedicated to the popular movements, in
poetic expression which describes his life and the lives of working men and women
who live on the margins of society, tainted by social inequality. The study aims to, from
literature, analyze complementarily, the poems "Why are Calados?" of Charles Trocate
and "Rights concentration" of Diva Lopes. The methodology was made an overview to
check productions on the subject and matter, showing that the popular movements
through the poem is the description (moved by emotions in revolt tones) of reality.
Thus, the objectives of the study check the poetic in popular causes, showing why an
engaged poetry is necessary, facing the resistance of a less favored population. But
who believes in the possibility of building an egalitarian society for all (as).

Keywords:

Popular movements; Engaged literature; Poetic language; Poets of the people.

INTRODUÇÃO

A poesia é a forma de expressão literária que nasceu


simultaneamente com a Música, Dança e o Teatro, em época que remonta à
Antiguidade histórica. Na Grécia antiga, alguns poetas declamavam seus
versos junto com a música, o que permitiu a poesia se reconstruir ao longo dos
anos e se renovar a partir de adaptações para o mundo atual. Os poetas
buscavam se recriar por meio da realidade, que se faz presente deixando seus
versos mais livres.
O ser poético traduz à sua realidade através dos sentimentos que
deixa fluir e envolver o cotidiano, transcende situações, armazena fatos e
conhecimentos distintos. No caso das poesias “Concentração de Direitos” de
Diva Lopes e “Porque Estão Calados?” de Charles Trocate, que serão
analisadas no presente trabalho, não há interligação entre elas no que diz
respeito à escrita, pois uma é de leitura mais densa e a outra uma leitura mais
leve. As poesias se completam por ter um mesmo objetivo: a luta pela
construção de um mundo novo, plantar ideias coletivamente que levam a ações
transformadoras com o propósito de viver e sair da mercê de uma sociedade
individualista em que os direitos são concentrados para poucos.
O meu interesse pelo tema é decorrente a minha aproximação com
movimentos populares, entre eles o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra - MST e Movimento pela Soberania Popular na Mineração - MAM. A luta
do povo camponês é retratada em forma de poesia por Charles Trocate e
Divina Lopes. Suas poesias não são “famosas”, porém são destaques nas
místicas feitas em encontros do MST, MAM e outros movimentos populares,
até mesmo nas escolas do campo, podendo apresentar descrições ideológicas
de conflitos que os próprios camponeses lidam com os latifundiários.
A análise das poesias alude ao descobrir poético dos conflitos
vividos por pessoas que buscam vidas melhores e não querem ver seus
direitos negados. Os principais livros utilizados nesta pesquisa é “Um Instante
de Transgressão” de Diva Lopes e “Bernardo Meus Poemas de Combate”, de
Charles Trocate. Os dois poemas trazem consigo uma literatura em que o povo
grita seus direitos e sonha com uma sociedade mais justa. Além desses livros,
as poesias que serão analisadas na presente pesquisa irão contribuir para o
desenvolvimento do trabalho. “O ser e o Tempo da Poesia” de Alfredo Bosi que
enfoca a Literatura e a cultura que transcende para todas as outras naturezas
da arte e procedimentos da cultura humana.
No caso das poesias “Concentração de Direitos” e “Porque Estão
Calados?” percebe-se a poesia mais do que uma arte. A linguagem poética é
voltada para questões sociais relatando circunstâncias que registra realidades
e experiências distintas com criticidade e alfabetismo social. O que proporciona
conhecimento do cenário político e dinamismo social.

METODOLOGIA
A pesquisa propõe fazer uma análise da poesia de Charles Trocate e
Diva Lopes. No início foi realizada pesquisa bibliográfica para verificar
produções a respeito do tema e assunto, fundamentando a pesquisa. A autora
Ida Regina C.Stumpf (2006) define como pesquisa bibliográfica:
Nesse contexto que a pesquisa bibliográfica estimula o pesquisador a
descobrir novas possibilidades para a sociedade, com o sentido, “ao proceder à
leitura, é importante ficar atento aos dados que venham reforçar, justificar ou
ilustrar as ideias e os posicionamentos que se quer apresentar coletando”,
(STUMPF, 2006, p. 60). A informação aprofundada é o que faz do pesquisador
ter familiaridade com o elemento de pesquisa em questão, permite-o ter
propriedade do conteúdo e autonomia para procurar outros rumos para sua
pesquisa.
Será utilizada para dar mais embasamento à pesquisa entrevistas com o
poeta e poetiza, a entrevista ajudará na compreensão das suas poesias. E por
fim, Travancas (2006) diz que a escritura é uma forma diferente do pesquisador
que consiste na preparação do texto para os seus pares, para a comunidade
acadêmica e ao qual muitas vezes o “nativo não terá acesso”.
A análise das poesias alude ao descobrir o poético dos conflitos
vividos por pessoas que buscam vidas melhores e não querem ver seus
direitos negados. Os livros “Um Instante de Transgressão” de Diva Lopes e
“Bernardo Meus Poemas de Combate” de Charles Trocate, traz consigo uma
literatura em que o povo grita seus direitos sonhando e exigindo uma
sociedade mais justa.
Podemos refletir a literatura como um “aparelho” da política, uma
ferramenta que emprega. Alguns autores durante a ditadura tiveram suas
produções literárias censuradas, denunciando as mazelas do regime militar.
Esses instrumentos de denúncia que lhes davam liberdade de expressão, esse
instrumento literário foram usados para difundir certas mensagens e chamar os
indivíduos a questionar o que era imposto naquele momento difícil do nosso
país.
Nascemos da burguesia e essa classe nos ensinou o valor de suas
conquistas: liberdades políticas, habeas corpus etc.; continuamos
burgueses por nossa cultura, nosso modo de vida e nosso público
atual. Mas, ao mesmo tempo, a situação histórica nos incita a nos
unirmos ao proletariado para construir uma sociedade sem classes.
Não há dúvida de que, no momento, o proletariado pouco se
preocupa com a liberdade de pensamento: tem outros problemas a
resolver. (SARTRE, 2004, p. 203).

Bosi (2000) fala dessa resistência do poeta e leitor em meio ao


mundo que estamos inseridos: “Essas formas estranhas pelas quais o poético
sobrevive em um meio hostil ou surdo, não constituem o ser da poesia, mas
apenas o seu modo historicamente possível de existir no interior do processo
capitalista”.
Portanto, o texto quanto objeto político nos movimentos populares
entra como expressão do sujeito com ele próprio, permite que ele se aproprie
de seu modo ativo na construção da ação coletiva, nesse sentido, o constitui
enquadrando em um contexto que propicia que suas criações, concretizadas
nas falas e escrita, porque o poeta comprometido conhece seus leitores, e
esses leitores reconhecem esses poetas por liberdade nos versos e no modo
de enxergar a vida, porque escrever é a forma de se libertar e desejar
liberdade, assim está todos adere à construção coletiva do bem comum, a arte
acaba sendo uma finalidade próprio e de todos para dinamizar e ajudar na
construção de ver o mundo com os olhos de quem almeja transformações.

CONCLUSÕES

A poesia de Charles Trocate, Diva Lopes e de tantos outros poetas


envolvido na luta permanente e insubmissa pela conquista de direitos que
foram renegados, vêm ocupando e sendo vozes de tantos outros trabalhadores
e trabalhadoras que plantam com urgência suas indignações. Aproximação dos
versos à realidade contemporânea é reflexivo na capacidade da superação do
ser humano quando resiste às encruzilhadas políticas.
Nesse contexto que o poeta vivo não se cala quando torna
consciente que sua poesia é arma e movedor de encantamento e que, por isso,
sobrevive ao chamado “desenvolvimento” que não é pra todos mas com arte,
consciência, recriam cotidianos com sentimento. Essa presença da linguagem
poética nas duas poesias reforça a ideia de que a literatura é motivo de
encantamento como teoria e refúgio, não apenas para o poeta, mas para o
próprio leitor quando o mesmo se identifica com esses escritos que denunciam
as condições humanas.
As poesias de Charles e Diva têm essa característica instigante que
entrelaçam caminhos reconhecendo as vontades de desestruturar aquilo que
foi estabelecido reconstruindo a importância humana do cuidado com as
pessoas e a natureza. Assim, as palavras se fazem presentes em diferentes
meios e diferem de outros poetas, que permitiam seus gritos apenas no papel.
Charles e Diva se apresentam como homem pós-moderno inserido em um
conjunto no qual haja mudanças que modificam a percepção indiferente diante
da realidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BOSI, Alfredo. O ser e o tempo da poesia. São Paulo, Companhia das letras
2000.

MASSAUD, A análise literária Ed: São Paulo: Pensamento. 2011.

SARTRE, Jean-Paul. O que é a literatura?Trad. Carlos Felipe Moisés. São


Paulo: Ática, 1993.
_____________TRAVANCAS, Isabel.Fazendo etnografia no mundo da
comunicação.

_____________STUMPF, Ida Regina C Pesquisa bibliográfica.


Corporiedades pós-colonial na região Periurbana de Belém.

Postcolonial corporations in the Peri-urban area of Belém.

Lima, Mayara; Rodrigues,Ismael2

1 Mestranda MAFDS mayalimaaa@gmailcom; 2 Movimento Social,


bboymael.ir@gmail.com

Grupo de Trabalho: GT 8 - Dança, teatro, música, literatura, poesia e artes visuais em


contexto rural e/ou etnicamente diferenciado.

Resumo

A pesquisa em arte e educação tinha como objetivo construir espaços de reflexão com
jovens e adolescentes da Região Periurbana de Belém, por meio, de oficinas de
Danças Pós-Coloniais regionais e latinas, onde foi construído espaços de lazer e
formação de base. Por meio, da pedagogia libertária foram debatidos temáticas sobre
o combate ao extermínio da juventude negra, direitos humanos, feminismo
periférico/negro, educação ambiental, identidades, entre outros foram discutidos com a
juventude do Quilombo Abacatal em Ananindeua e moradores do Rio Tucunduba em
Belém, efetivando um ano de trabalho de extensão com as comunidades.

Palavras-chave: Arte e Educação; Danças Periféricas; Pedagogia Libertária;


Juventude.

Abstract: The research in art and education had as objective to construct spaces of
reflection with young people and adolescents of the Periurban Region of Belém, by
means of workshops of Regional and Latin Post-Colonial Dances, where was
constructed spaces of leisure and basic formation. Through the libertarian pedagogy,
thematic debates on the fight against the extermination of black youth, human rights,
peripheral / black feminism, environmental education, identities, among others were
discussed with the youth of Quilombo Abacatal in Ananindeua and residents of the
Tucunduba River in Belém , Completing a year of extension work with the
communities.

Keywords: Art and Education; Peripheral Dances; Liberation Pedagogy; Youth.

Introdução

As atividades de extensão do projeto Corporiedades Pós-colonial foram


realizadas pelo Coletivo Cultural Feminismos Periféricos, e apoiado pelo
Programa de Extensão Luamim: Peças Interventivas da realidade da
Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal do Pará (UFPA), e a
ONG FASE. Onde oficinas de danças regionais e latinas foram oferecidas
gratuitamente para jovens e adolescentes do Rio Tucunduba no bairro do
Guamá em Belém, e para a juventude do Quilombo do Abacatal em
Ananindeua, com intuito de construir espaços de lazer e cultura que são
pouquíssimos encontrados nos bairros da Região Periurbana de Belém (RPB),
ao analisarmos a grande população de jovens nas cidades.
Além das oficinas de danças que eram o atrativo inicial para os jovens, outras
atividades foram propostas nos encontros, para construir espaços de formação
e reflexão sobre as nossas identidades híbridas amazônicas(GAGLIETTI &
BARBOSA, 2007).O corpo pós-colonial entendemos como o processo de
grosso modo que discute assuntos que surgiram das relações coloniais
(MAIA,2015), a dança é uma manifestação que é influenciada diretamente
pelas relações sociais, no caso as etnias regionais se percebe a prática da
expressão corporal como elemento marcante nas relações culturais.

A escolha dos ritmos usadas nas oficinas são todas de resultados sociais da
pós-colonização, seja as danças regionais do estado do Pará, até danças
criadas na América Latina pós- diáspora negra, e fricção com as populações
ameríndias. Valorizando nossa identidade plural. A arte e educação foi
utilizada como meio de facilitar ligação do movimento corporal com jovens e
adolescentes, aproximando diferentes linguagens, que possibilitou tratar de
assuntos complexos de maneira dinâmica/ lúdica, simbolizadas nas
performances, e o crescente interesse na juventude em ter posições críticas a
respeito dos processos sociais.

Metodologia
A metodologia principal a ser usada será o principio da arte/ educação que
segue a linha da pedagogia de viés libertário (LUENGO, 2000), onde se
propõem centros de estudos sociais e culturais em escolas operárias,
universidade popular, onde a ludicidade e criatividade sejam maneiras de
alcançar o empoderamento e criação de novas perspectivas para a realidade.

A prática das experiências pedagógicas fundadas no pensamento libertário


apresentam características de não centralidade hierárquica e trabalho coletivo,
os fios condutores que possibilitam identificar as características que orientam a
sua prática são: liberdade, antiautoritarismo, educação integral, autogestão,
autonomia do indivíduo, exemplo: crítica, compromisso e responsabilidade
social, antimilitarismo entre outros. Esses princípios foram praticados com
juventude, por meio, de nas rodas de conversas, , zines, músicas, poemas,
graffiti, que envolvam as temáticas propostas.

Resultados e discussões
Ao longo de quase de um ano e oficinas de danças pós-coloniais, no espaço do
Programa Luamim foram mais de 50 atividades oferecidas, abrangendo o
protagonismo de mais de 50 jovens de 12 a 22 anos do Rio Tucumduba que
fica no Guamá em Belém, vale ressaltar que o bairro é o mais populoso da
cidade tem cerca de 100 mil habitantes e dialogo com a juventude sobre
temáticas sociais e ambientais contribui para a formação crítica e educativa
que é de suma importância para enfrentamento de vulnerabilidades
socioeconômicas.
Figura (1)- Oficina de corporiedades Pós- Colonial no Programa Luamim

Fonte: Arquivo Pessoal, Mayara Lima, 2016.


No quilombo do Abacatal as oficinas são feitas periodicamente a ultima
totalizou mais de 50 jovens entre 10 a 18 anos, onde foram debatidos assuntos
do cotidiano da comunidade como racismo ambiental, fortalecimento da
identidade afro, direitos humanos. Essa ligação com uma área rural em
Ananindeua possibilitou ampliar a atuação do grupo, e trocando saberes
tradicionais com a juventude quilombola.
Figura (2)- Oficina de corporiedades Pós- Colonial com a Juventude do
Quilombo do Abacatal.

Fonte: Arquivo Pessoal, Mayara Lima, março


de 2017.
Conclusões
O trabalho de extensão corporiedades pós-colonial continua a ser executado
na UFPA, e em outros espaços da RPB, com dificuldades financeiras, mas o
alcance e a motivação da juventude faz com que sempre se renove afim de
criar estratégias para as desigualdades sociais que ocorrem.

Agradecimentos
Juventude do Quilombo do Abacatal e do Rio Tucumduba, ao programa de
extensão Luamim, ONG FASE

Referências bibliográficas:
GAGLIETTI, M. J. BARBOSA, Márcia Helena Saldanha. A questão da
Hibridação Cultural em Nestor Garcia Canclini. In: VII CONGRESSO DE
CIENCIAS DA COMUNICAÇÃO DA REGIÃO SUL, Editora da Universidade de
Passo Fundo. Passo Fundo (RS). Anais do VIII, 2007.

LUENGO, Josefa Martín [et. al.]. Pedagogia Libertária: Experiências Hoje. São
Paulo, Editora Imaginário, 2000.
MAIA, A. A. O Pós-colonial a partir de Stuart Hall, Ella Shohat e Chinua
Achebe. Sankofa (São Paulo), v. 8, p. 1-20, 2015.
A inserção do Agricultor Familiar no mercado através de políticas
públicas na comunidade quilombola Fortaleza dos Pretos, Cururupu-MA.

The insertion of the Family Farmer in the market through public policies in the
quilombola community Fortaleza dos Pretos, Cururupu-MA.

BORGES A.C¹, SILVA P.T², FIGUEIREDO G.N³, BAÍA V.


¹Universidade da Amazônia (UNAMA), andersonborges51@yahoo.com.br; ² Universidade da
Amazônia (UNAMA), Theliosantos18@hotmail.com; ³Universidade da Amazônia (UNAMA),
gabrielnabor2012@gmail.com; Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano pela
Universidade da Amazônia (UNAMA),vicenteeconomista@gmail.com.

Grupo de Trabalho: Economia Solidária e Associativismo

Resumo:

A presente pesquisa refere-se às políticas públicas voltadas para os agricultores


familiares na Comunidade Fortaleza dos Pretos, localizado no Município de Cururupu
no estado do Maranhão. Para a realização da atividade utilizou-se do estudo de caso,
com a prática de entrevistas, além de revisões bibliográficas sobre a temática
proposta. Analisou-se o funcionamento do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)
e Programa Nacional Alimentação Escolar (PNAE) e seus objetivos dos quais se
destacam: a inserção produtiva dos pequenos agricultores no mercado institucional e
local, desenvolvimento na renda e as questões ambientais.

Palavras-chave: Comercio; Produtor; Desenvolvimento

Abstract: The present research refers to public policies aimed at family farmers in the
Fortaleza dos Pretos Community, located in the municipality of Cururupu in the state of
Maranhão. For the accomplishment of the activity, the case study was used, with the
practice of interviews, besides bibliographical revisions on the proposed theme. The
activities of the Food Acquisition Program (PAA) and the National School Feeding
Program (PNAE) were analyzed and their objectives are: productive insertion of small
farmers in the institutional and local market, income development and environmental
issues.

Keywords: Trade; Producer; Development

Introdução

A agricultura familiar no Brasil possui uma representatividade muito


grande frente às questões de abastecimento familiar, ela é responsável pelo
alimento que chega à casa das pessoas, onde o pequeno agricultor é aquele
que possui uma relação íntima com a terra onde trabalha, mora e de lá retira
parte do alimento para a subsistência familiar e o excedente se volta para o
mercado. O papel que essa agricultura desempenha passou a ter o
investimento através das políticas, buscando o seu desenvolvimento,
fortalecimento no que tange a economia e as questões socioambientais.

Desta forma o PRONAF foi criado através do mercado institucional para


dar suporte à produção por meio de crédito, isso adveio por meio de pressão
do movimento sindical para ajudar o pequeno agricultor.

Para a comercialização e inserção do pequeno produtor no mercado foi


criado o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) que faz parte do Programa
Fome Zero, para acolher as populações que se encontram em condições de
insegurança alimentar cujo seu objetivo é agregar valor à produção (KRAG,
2013). Além disso, foi criado o PNAE (Programa Nacional de Alimentação
Escolar) uma política pública que articula a agriculta familiar e alimentação das
escolas para fortalecer e desenvolver a agricultura. Assim objetiva-se, por meio
dessas políticas públicas, analisar a inserção produtiva dos pequenos
agricultores e a funcionalidade dos PNAE e PAA na comunidade
remanescentes de quilombo Fortaleza dos Pretos, localizado no município de
Cururupu, no estado do Maranhão.

Metodologia
A área de estudo está situada no município de Cururupu, que se
encontra no norte do estado do Maranhão. Possuindo 32.652 habitantes,
detendo uma área de 1.093,062 de km² de acordo com (IBGE,2010). Assim a
presente pesquisa foi desenvolvida através do estudo de caso onde
compreende uma abordagem específica de coleta e análise de dados Yin
(2001). Além disso, foram feitas revisões bibliográficas sobre a temática
proposta. O artigo está estruturado primeiramente com uma introdução,
posteriormente é feita uma análise de como estão sendo implantadas essas
políticas públicas na comunidade de Fortaleza por meio do PNAE e PAA e sua
possível contribuição para a inserção dos pequenos agricultores para no
mercado.
Resultados e discussões
O Pronaf foi criado em 1996 onde financiava uma porcentagem de
dinheiro a juros baixos individuais ou coletivos para pequenos agricultores,
direcionado para a agricultura familiar e assentados de reforma agrária, com
objetivo de gerar renda SCHNEIDER (2004).

O PRONAF direciona o agricultor ao mercado, consequentemente dando


a ele alternativas de desenvolvimento. O agricultor para ser beneficiado com o
financiamento deve avaliar o quer desenvolver e procurar o Sindicato Rural ou
a EMATER (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural) para obtenção
da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), deste modo, o agricultor deve
procurar a ATER (Assistência Técnica e Extensão Rural) para elaboração do
Projeto Técnico de Financiamento. Após a aprovação o agricultor está apto
para participar do projeto.

Assim as 19 famílias de agricultores foram beneficiadas com o crédito na


comunidade de Fortaleza, aonde o dinheiro veio do Governo Federal por
intermédio de parcelas pelo cartão do Programa Bolsa Família, esse recurso
veio para o produtor comprar os materiais necessários para começar a produzir
de acordo com as opções disponíveis de produção. Desta forma o projeto se
dividiu em 4 modalidades na comunidade: atividade de hortaliças, suínos, aves
e roça.

Para escoar a produção dessa comunidade o PAA (Programa de


Aquisição de Alimentos) elaborado pelo Governo Federal em 2003, direcionado
para agricultura familiar, com o propósito de fortalecer o pequeno produtor e
auxiliar o combater a fome e a pobreza no Brasil foi implementado na
comunidade com vários outros objetivos:

[...] o PAA integra as demandas de acesso aos alimentos às necessidades de


mercado para os produtos da agricultura familiar. O Programa adquire os
produtos dos agricultores familiares (com dispensa de licitação) e repassa-os
aos programas públicos e organizações sociais que atendem pessoas com
dificuldade de acesso aos alimentos ou em situação de risco alimentar. Seu
objetivo é "garantir o acesso aos alimentos em quantidade, qualidade e
regularidade necessárias às populações em situação de insegurança
alimentar e nutricional e promover a inclusão social no campo por meio do
fortalecimento da agricultura familiar" (BRASIL, s/d.a). Como alude Schmitt
(2005), trata-se de um Programa que integra a política de segurança
alimentar e nutricional e a política agrícola. (GRISA, 2010, p. 3)

Portanto, sua finalidade de comercialização da produção para a


aquisição dos produtos dos pequenos agricultores é valorizar e agregar valor à
produção, desta forma acaba promovendo melhores condições de vida e
trabalho. Porém em Fortaleza dos pretos no início da implementação desse
projeto os produtos gerados pelos agricultores familiares eram fornecidos à
prefeitura da cidade de Cururupu, que era responsável por pagar o valor de
acordo com a produção gerada através do PAA e PNAE, eliminando a
presença do atravessador na cadeia de comercialização.

A prioridade era repassar a produção para as escolas cadastradas, bem


como da comunidade de Fortaleza e outras localidades como merenda escolar
dos alunos e diversos outros setores públicos. Entretanto, após três meses do
início do projeto, o dinheiro que deveria ser depositado para a conta do
produtor passou a atrasar. Desta forma os pequenos agricultores ficaram sem
ter retorno na sua produção ficando sem receber por cerca de seis meses,
problematizando com o objetivo do PAA que é agregar valor à produção do
agricultor. Mediante a isso, a relação entre a prefeitura e o produtor ficou
conflituosa e o projeto foi abandonado por partes deles que não viam retorno,
pois os mesmos necessitam desse dinheiro para continuar a produzir.

Mediante as constatações sobre os programas em Fortaleza dos Pretos,


os próprios agricultores acabam adotando outras estratégias de
comercialização para sobreviver como: a venda em vias públicas tanto na
própria localidade como no centro da cidade de Cururupu ou é escoada para as
feiras do município e para uma localidade próxima que é denominada de vila
de Aquiles Lisboa, onde os agricultores acabam ficando reféns dos
atravessadores que se aproveitam da vulnerabilidade em relação ao excedente
da produção do agricultor, impondo e comprando o produto a um preço baixo,
desvalorizando assim o trabalho do produtor. Isso acaba expondo as
problemáticas das políticas públicas no campo, não inserindo o pequeno
agricultor no mercado em detrimento da falta de continuidade em longo prazo
dos programas. E fazendo, portanto, com que o produtor fique desestimulado a
permanecer no campo e ao mesmo tempo não gerando o desenvolvimento
necessário que a classe necessita.

Conclusões
Através da presente pesquisa, verificou-se que as políticas públicas que
surgiram desde o início de 2003 no âmbito nacional apresentam lacunas, uma
vez que um dos principais objetivos é a valorização do pequeno agricultor e a
sua inserção no mercado. Isso se mostra presente quando os programas se
instalam na Comunidade de Fortaleza dos Pretos e não tem continuidade via
longo prazo como o caso do PAA e PNAE trazendo benefício e sendo regidos
de forma correta apenas no início. Mediante a presente pesquisa, buscamos
contribuir para melhorar o desenvolvimento no campo a com a inserção de
políticas públicas mais eficazes e longo prazo e que estimulam e possam
inserir o agricultor familiar no mercado institucional e local, melhorando sua
qualidade de vida e de sua família.

Referências bibliográficas:

FBB, Fundação Banco do Brasil. Estratégias de Acesso a Mercados para


Agricultura Familiar. Disponível em:
http://aao.org.br/aao/pdfs/publicacoes/cartilha-estrategia-de-acessoa-
mercados-para-a-agricultura-familiar-fundacao-banco-do-brasil.pdf. Acessado
em 15 de fev. 2014.

GRISA, Catia et al. O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) em


perspectiva: apontamentos e questões para o debate. Revista Eletrônica
Retratos de Assentamentos, v. 13, n. 1, p. 137-170, 2010.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. IBGE Cidades


@. Disponível em: http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?codmun=210370.
Acesso em: 10 abr 2016

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTÍCA. IBGE Censo


2010. Disponível em:
http://cidades.ibge.gov.br/xtras/temas.php?lang=&codmun=210370&idtema=14
9&search=maranhao|cururupu|producao-agricola-municipal-lavoura-temporaria-
2014. Acesso em: 12 abr. 2016.

KRAG, M.; Programas de fortalecimento à agricultura familiar PAA, PNAE,


DAP, PDA E PRA. 2013. Pesquisa Documental: UFRA.
A produção agroecológica de hortaliças na comunidade quilombola
Fortaleza dos Pretos, em Cururupu-MA
The agroecological production of vegetables in the quilombola community Fortaleza
dos Pretos, in Cururupu-MA.
BORGES A.C¹, SILVA P.T², FIGUEIREDO G.N³, BAÍA V.

¹Universidade da Amazônia (UNAMA), andersonborges51@yahoo.com.br; ² Universidade da


Amazônia (UNAMA), Theliosantos18@hotmail.com; ³Universidade da Amazônia (UNAMA),
gabrielnabor2012@gmail.com; Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano pela
Universidade da Amazônia (UNAMA),vicenteeconomista@gmail.com.

Resumo

A prática agroecológica é entendida como uma ciência no campo da complexidade,


emancipada e holística, no entanto mais apropriada com orientação teórica e prática
para a estratégica de desenvolvimento rural sustentável. Objetiva se com esta
pesquisa identificar os motivos que direcionam os pequenos produtores familiares a
aderirem à produção orgânica de hortaliças, bem como suas estratégias produtivas.
Para desenvolver a investigação utilizamos uma abordagem especifica por meio da
análise e coletas de dados além de revisões bibliográficas sobre a temática. Diante
disso constatou- se que a qualidade do produto, praticidade e os programas voltados
para a agricultura familiar foram responsáveis para a produção orgânica dos
agricultores.

Palavras-chave: Produção Sustentável; Agricultura familiar; Hortaliças.

Abstract: The agroecological practice is understood as a science in the field of


complexity, emancipated and holistic, but more appropriate with theoretical and
practical guidance for the sustainable rural development strategy. The objective of this
research is to identify the reasons that direct small family farmers to adhere to the
organic production of vegetables, as well as their productive strategies. To develop the
research we use a specific approach through analysis and data collection in addition to
bibliographic reviews on the subject. In view of this, it was verified that the quality of the
product, practicality and the programs directed to the family agriculture were
responsible for the organic production of the farmers.

Keywords: Sustainable Production; Family farming; Vegetables.

Introdução

A agricultura familiar surge no Brasil durante o século XIX com o


objetivo de abastecer os grandes cultivos urbanos que estavam surgindo. Mas
a sua inserção na economia nacional só se concretiza na década de noventa
por intermédio das mudanças econômicas, políticas e sociais que o espaço
mundial vinha sofrendo. (SAFOLDI,2010)
A sua representatividade se torna muito importante frente às questões
de abastecimento familiar, isso porque ela é responsável por abastecer o
mercado interno brasileiro com cerca de 70%. Isso possibilitou um olhar mais
atento do Estado, principalmente no que diz respeito à qualidade do produto,
tendo assim, portanto, incentivo do governo federal com programas voltados
para a agricultura familiar.

Atualmente é possível perceber uma mudança do modelo de produção


no campo pelos pequenos agricultores, onde os mesmos aderem a prática
agroecológica que é entendida como uma ciência no campo da complexidade,
emancipada e holística, no entanto mais apropriada com orientação teórica e
prática para a estratégica de desenvolvimento rural sustentável. Observa-se
que, além dos conhecimentos e saberes populares, são fundamentais os
conhecimentos científicos, os quais determinam com mais perfeição seus
princípios e filosofias.

A Agroecologia busca integrar os saberes históricos


dos agricultores com os conhecimentos de
diferentes ciências, permitindo, tanto a
compreensão, análise e crítica do atual modelo do
desenvolvimento e de agricultura, como o
estabelecimento de novas estratégias para o
desenvolvimento rural e novos desenhos de
agriculturas mais sustentáveis, desde uma
abordagem transdisciplinar, holística. (VIGLIZZO,
2001, p. 88).
Assim é possível compreender esse modelo que se pauta no respeito
aos recursos naturais. Conciliando conhecimento cientifico e tradicional. Desta
forma a presente pesquisa busca abordar a agricultura orgânica na
comunidade quilombola de Fortaleza dos Pretos que fica localizado no
município de Cururupu no estado do Maranhão. Objetiva se identificar os
motivos que direcionam os pequenos produtores familiares a aderirem à
produção orgânica de hortaliças, bem como suas estratégias produtivas.

Metodologia
A presente área de estudo está localizada no norte do estado do estado do
Maranhão no município de Cururupu, que este possui aproximadamente cerca de
32.000 habitantes, detendo uma área de 1.093,062 de km² de acordo com (IBGE,
2010). Na cidade a produção dos agricultores está voltada praticamente para a
subsistência, porém o excedente deles acaba se voltando para o mercado local.

Para desenvolver a pesquisa utilizamos uma abordagem especifica por meio


da análise e coletas de dados que se caracteriza como estudo de caso Yin (2001).
Mais adiante foram realizadas revisões bibliográficas sobre a temática aqui levantada,
além de investigação quantitativa por intermédio de aplicação de questionários para os
agricultores e acompanhamento durante as feiras promovidas pelo Sindicato dos
agricultores familiares do município. As entrevistas com os produtores de hortaliças
visam mostrar os motivos que direcionam eles a produzir alimentos orgânicos. Através
das perguntas abertas visamos entender essa transição que ocorre no traço do
modelo convencional de produção para uma pratica orgânica.

Resultados e discussões
Em entrevista realizada na comunidade quilombola Fortaleza dos Pretos
juntamente com os agricultores de hortaliças foi relatado a satisfação deles em
produzirem alimentos orgânicos, poder retirar o produto a qualquer momento
da sua propriedade é satisfatório. Segundo alguns relatos existem na
comunidade o PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar), o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e o PNAE (Programa
Nacional de Alimentação Escolar). Esses programas promovidos pelo Governo
Federal vieram da a eles subsídios para plantar, além da mudança no olhar
sobre a terra.

Muitos dos produtores nunca haviam plantado na vida, foi apenas por
mediação desses programas que eles passaram a executar essa atividade,
muitos deles especificamente as mulheres apenas cuidavam do lar enquanto
os seus maridos estavam na roça. Isso acabou transformando na função
executada pelos mesmos.
Desta forma os agricultores receberam um suporte para saber como
lidar com a terra por meio de um técnico que deu apoio na comunidade, além
de alguns produtores que lá residem e que possuem um conhecimento por
terem feito cursos técnicos pelo IFMA (Instituto Federal do Maranhão) voltado
para a agricultura. Os tipos de hortaliças mais produzidos são: cheiro verde,
quiabo, maxixe, vinagreira, cebolinha, tomate. Nas entrevistas realizadas com
os noves agricultores fica claro o sucesso da produção orgânica. Além do
reconhecimento que eles possuem por aderirem a esse modelo (gráfico 1).

Gráfico 1: Razões à adoção de produção de alimentos orgânicos. Fonte: Aplicado pelos


autores, 2017.
No gráfico mostra às razões a qual levaram os produtores da
comunidade quilombola a aderirem a prática agroecológica. Partindo desse
resultado podemos observar que, mais de 67% entraram pela junção de três
itens: a qualidade do produto, praticidade (sendo que ela se assemelha as
práticas já executadas pelos seus pais e avós os quais foram repassados para
sua geração), além dos programas voltados para a agricultura familiar. Apenas
22% foram pela satisfação que o produto final gera em qualidade e 11% veio
somente por conta da praticidade encontrada por eles.

Segundo a fala de um produtor que possui no quintal de sua casa uma


plantação de cheiro verde, quiabo e maxixe, é possível perceber a junção de
vários fatores que o fez ter o compromisso em continuar com essa prática.

É apesar, de... como eu te falei né (essa a qual a


moradora afirmou foi o programa do governo que
incentivou e apresentou a ela essas práticas)
mas a alimentação mais saudável você pode ir
no seu quintal rapidinho pegar tudo natural, sem
nenhum tipo de agrotóxicos, entendeu? Tudo
natural, i... a forma “mermo” de você manter sua
família, você ter uma segunda renda.
Informações prestadas por um agricultor
familiar em 03/02/2017.

Muitos desses agricultores relatam que seus produtos são reconhecidos


na cidade de Cururupu, principalmente durante a feira que é realizada pelo
Sindicato dos Agricultores do município uma vez por mês, onde a procura é tão
grande pelos consumidores que acabam sendo vendidos rapidamente,
demonstrando dessa forma o retorno que essa produção orgânica tem.

Conclusões
Diante da presente pesquisa podemos ver a dinâmica que a ciência
agroecológica trouxe à comunidade quilombola Fortaleza dos Pretos através da
junção dos saberes tradicionais da população local somando aos
conhecimentos científicos para uma produção saudável de alimentos. Os
motivos que despertaram a adoção das práticas sustentáveis na agricultura
foram a qualidade, praticidade e as políticas públicas voltadas para o campo.

Referências bibliográficas:
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTÍCA. IBGE Censo 2010.
Disponível em
http://cidades.ibge.gov.br/xtras/temas.php?lang=&codmun=210370&idtema=149 &
search =maranhao|cururupu|producao-agricola-municipal-lavoura-temporaria-2014>.
Acesso em: 12 mai. 2016.

SAVOLDI, Andréia; CUNHA, Luiz Alexandre. Uma abordagem sobre a agricultura


familiar, PRONAF e a modernização da agricultura no sudoeste do Paraná na
década de 1970. Revista Geografar, v. 5, n. 1, 2010.

VIGLIZZO, E. F. La trampa de Malthus: agricultura, competitividad y medio


ambiente en el siglo XXI. Buenos Aires: Universitaria de Buenos Aires, 2001.

YIN, Robert K. Estudo de Caso-: Planejamento e Métodos. Bookman editora, 2015.


A horizontalidade da questão agrária: reflexões a partir da experiência de
um grupo de consumo responsável.
The horizontality of the agraian matter: reflections from the experience of a
accountable consumption group.

SANTOS, Andrey1;
Membro do Grupo de Pesquisa: Territorialização Camponesa na Amazônia
(GPTECA)
Discente do Curso de Geografia – UEPA; E-mail:
andreyyhenrique@hotmail.com;

Resumo

Este trabalho está em processo, e nesta abordagem pretendemos realizar uma


compreensão de relações que se estabelecem na atuação do grupo para consumo
agroecológico (GRUCA), com o objetivo de identificar e inseri-lo este grupo como parte
da questão agrária em Belém-pa. Metodologicamente foi realizado revisão bibliográfica
e também foi desenvolvido pesquisas de campo nos locais de produção:
assentamento mártires de abril (mosqueiro-Pa), sítio velho roque (Marituba-Pa),
acampamento Jesus de Nazaré (santa Izabel-Pa) e feira de produtos orgânicos (Pará
orgânico) com entrevistas realizadas com consumidores, produtores e membros do
GRUCA. Como resultados preliminares, consideramos a participação do grupo na
questão agrária e como tensionador, no quesito de transformar a lógica alimentícia, na
luta camponesa a partir da agroecologia contra agricultura convencional.

Palavras-chave: GRUCA; Agroecologia; agricultura convencional.

Abstract:

This essay is in process, and with this academic work, we aim to achieve an
understanding of relationships that are established in the Group's performance for
Agroecology consumption (GRUCA), with the purpose to identify this group as part of
the agrarian issue in Belém. Methodologically, we conducted a literature review and
has also developed field research on production sites: Nesting Mártires of April
(Mosqueiro-Pa), site Velho Roque (Marituba-PA), camping Jesus of Nazareth (Santa
Izabel-PA) and Organic Products Fair (Pará Orgânico) with interviews with consumers,
producers and members of GRUCA. As preliminary results, we consider theoretically
grounded the group's participation in the agrarian issue and how to intend, in the
matter of transforming the food logic, the peasant struggle from the agroecology
against conventional agriculture.

Keywords: GRUCA; Agroecology; Conventional Agriculture.


Introdução

O Grupo para Consumo Agroecológico (GRUCA), é fruto do resultado da


Especialização de Noel Bastos Gonzaga, em Agricultura Familiar e
Desenvolvimento Agroambiental na Amazônia do Núcleo de Ciências Agrárias
e Desenvolvimento Rural – NCADR, da Universidade Federal do Pará. Antes
disso, o mesmo fazia parte de um grupo de consumo no Rio de Janeiro
chamada de Rede Ecológica. Daí que veio a ideia, junto com seu trabalho de
especialização de pensar na criação de um grupo para consumo.

O GRUCA é um grupo de consumo responsável que funciona através da


autogestão, economia solidária e com relações horizontais – sem hierarquias –
o grupo faz a compra coletiva diretamente de pequenos produtores com
produção agroecológica (ou em transição). Outra atividade a se salientar do
grupo, é que o mesmo promove visitas nos espaços onde coleta a produção.
Assim, promovendo um contato direto entre pequeno produtor e consumidor,
logo, estabelecendo uma relação de confiabilidade entre os envolvidos no
processo. grupo partiu para ação direta e entrou em efetividade no dia 1 de
Novembro de 2014. Foi um desafio por esse projeto em prática (e continua
sendo mantê-lo). O grupo colocou o nome de paneiros cabanos em
homenagem à Revolução da Cabanagem, ocorrida no Pará (1835- 1840).

Como ocorre o processo de pedido e retirada do paneiro? O consumidor


através de uma lista previa divulgada – de acordo com a demanda dos
camponeses – faz seu pedido através de redes sociais e encomenda seu
Paneiro Cabano. Atualmente os lugares de entrega se alternam entre
IACITATA (ponto de cultura alimentar), e na universidade Federal do Pará
(UFPa) no prédio de pós graduação do instituto de Geociências, que também
funciona o Núcleo de Ciências Agrárias e Desenvolvimento Rural – NCADR.

Tendo as entregas de Paneiros como algo concreto, o grupo através de


reuniões entrou em consenso que partiria para uma outra atividade, a das
entregas de paneiros em domicílios entrando esta em efetividade datando 2 de
Julho de 2016.
Metodologia

A Metodologia utilizada versou sobre fases, em quatro procedimentos


relacionados: a) Observação Participativa e envolvimento ativo, nos dias das
coletas nos lotes de produção, nas vivências agroecológicas, na formação dos
paneiros, nas reuniões do GRUCA, e nas entregas dos paneiros, seja à
domicilio ou nos locais fixos; b) Revisão Bibliográfica para levantamento de
documentos, em textos e sites, para interpretação da imaginação espacial
sobre a estrutura contida no GRUCA; c) Entrevistas com consumidores,
produtores e membros do GRUCA, para compreensão da geografia em ato,
vivida no cotidiano e suas repercussões no âmbito social. ; d) registro
imagético – em foto e audiovisual – para capturar não apenas as falas, mas o
gestual, a forma de se expressar e a singularidade da vida – principalmente
dos campesinos.

Resultados e discussões

A prática dos grupos de consumo responsável (GCRs), aos poucos estão


ganhando espaço no território nacional. Porém, datar as origens desse
movimento não é uma tarefa fácil. Certamente precisaria do auxílio da
historiografia para espacializar esse fenômeno. No entanto, podemos achar
indícios no que tange o assunto com o Instituto Kairós (2011), ONG localizada
em Minas Gerais (MG).

Já, a questão agrária, possui raízes profundas, e continua presente, por isso
que Martins (1999), relata que temos uma questão agrária administrada, pois, o
problema dessa questão, é estrutural. Pois ela nasceu, segundo Fernandes
(2011), da contradição estrutural do capitalismo que produz simultaneamente a
concentração da riqueza e a expansão da pobreza e da miséria. Essa
desigualdade é resultado de um conjunto de fatores políticos e econômicos.
Entendo que o GRUCA é um componente ativo da questão agrária, pois é um
grupo que desenvolve o seu trabalho com produtores da feira orgânica em
Belém – e em áreas de reforma agrária – Tudo isso em prol da valorização da
luta e da agricultura camponesa. O espaço agrário brasileiro tem passado po
expropriação do campesinato, conflitos fundiários, alastramento da fronteira
agrícola em todo o território – e com ela os agentes da morte da natureza –.

O GRUCA se une nesse processo, como componente de luta da Questão


Agrária na Amazônia, pois vai muito além da comercialização de produtos
agroecológicos/orgânicos. O grupo de consumo valoriza a agricultura
camponesa – consigo a soberania e a segurança alimentar – disseminando a
luta agroecológica, a luta contra o latifúndio e o agronegócio e a luta a favor da
reforma agrária. “Na verdade, a questão agrária engole a todos e a tudo, quem
sabe e quem não sabe, quem vê e quem não vê quem quer e quem não quer”
(MARTINS, 1994, p. 12-13). A questão agrária atinge a toda a sociedade civil,
direta ou indiretamente, certamente que ela está presente desde a formação
territorial do Brasil, em cada grito, suspiro de povos que moravam há milênios
de anos aqui. O que queremos resgatar, e de forma bem objetiva, é que a
questão agrária se faz presente no nosso dia a dia, e não adianta fecharmos os
olhos para tal situação.

Figura 1: Paneiros Cabanos sendo formados em dia de entrega no IACITATA.


Fonte: Trabalho de campo, 2016.

O Grupo Para Consumo Agroecológico é um componente importante da


questão agrária, transforma e tenciona pela sua articulação com os
consumidores e produtores, uma resistência contra o paradigma da agricultura
convencional, por meio da construção de uma perspectiva da valorização do
saber dos campesinos, a educação socioambiental sobre as formas de lidar
com a terra e a produção.
Essas experiências são formadas por pessoas que se organizam coletivamente
para incorporar ao ato da compra critérios éticos, políticos, sociais e
ambientais, constituindo-se numa alternativa de resistência às práticas
convencionais de produção, comercialização e consumo, com motivações que
transcendem a esfera individual.

Conclusões
O grupo promove as vivências agroecógicas que aproximam os consumidores
dos locais de produção como forma de conscientização das relações de
produção e consumo que necessita ser consciente contra essa hegemonia da
agricultura convencional que traz malefícios para à população. Tendo em vista
que o GRUCA não cobra certificação de nenhum produtor e nem fiscaliza os
mesmos, é uma relação de confiabilidade que foi construída. O objetivo é
valorizar a luta e a agricultura camponesa em todas as instâncias, e não ser
mais um obstáculo para esses sujeitos venderem seus produtos. Vale ressaltar
que um projeto futuro do GRUCA é fazer intervenções nas periferias de Belém,
em formato de feira livre, levando a luta agroecológica e alimento de qualidade
para diversas camadas sociais, tentando baratear o máximo esses produtos,
aproximando ainda mais forma esses na construção da agroecologia. Para
isso, o grupo precisa de mais pessoas ativas para colocar a diante seus
projetos, pois os membros atuais estão sobrecarregados com as tarefas do
grupo.

Referências bibliográficas:
FERNANDES, B. M. Questão agrária: conflitualidade e desenvolvimento territorial
rural. São Paulo slp, 2010, p. 57.

GONZAGA, N. B; ROCHA, A. C. O; GUTEMBERG, G. D. A. Grupo de Consumo


Responsável: Uma Experiência na Região Metropolitana de Belém do Pará. In: I
CONGRESSO NACIONAL DOS CURSOS DE RESIDÊNCIA AGRÁRIA:
UNIVERSIDADE, MOVIMENTOS SOCIAIS E PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO NO
CAMPO BRASILEIRO. 2015, Brasília, anais do evento.
MARCOS, V. De. “Novas (ou) velhas alternativas para o campo na Amazônia e a
questão agrária na atualidade”. MACEDO, Cátia; BRINGEL, Fabiano; SOUSA, Rafael;
SANTANA, Rosiete. (Orgs.). Os “ nós” da questão agrária na Amazônia. Belem-PA,
editora Açai, 2016. p. 9-26.

MARTINS, José de Souza. O poder do atraso. São Paulo: Hucitec, 1994.


Ações agroecológicas promotoras de conhecimentos e práticas
sustentáveis na região Nordeste Paraense
Agroecological actions promoting sustainable knowledge and practices in the
Northeast of Paraense
OLIVEIRA, Daiane Silva1; SOARES, Aparecida Hurtado2; NOBRE, Henderson
Gonçalves3
1 Estudante de Engenharia Florestal; 2 Engenheira Agrônoma; 3 Docente. Núcleo de
Agricultura Familiar e Agroecologia da Universidade Federal Rural da Amazônia, Campus de
Capitão Poço/PA. Endereço: Rod. PA 124, KM 0 – Bairro: Vila Nova – 68650-000; Email:
neaufracp@gmail.com

Resumo
Diante da realidade diversa da agricultura camponesa na região amazônica, é
necessário planejar sistemas de produção que sejam sustentáveis e adequados às
especificidades de cada local. Neste sentido, o NEA/UFRA/CCP, vem atuando na
região Nordeste Paraense com vista a construir de forma participativa Ciência e
Tecnologia adaptadas às necessidades da agricultura familiar local, utilizando-se de
princípios agroecológicos. Nessa perspectiva buscamos fazer uma análise e reflexão a
partir do ponto de vista discente sobre as ações vivenciadas no NEA/UFRA/CCP, por
meio de uma abordagem qualitativa. As ações realizadas pelo NEA junto aos
agricultores (as) familiares permitiram o desenvolvimento e socialização de técnicas de
manejo e produção sustentáveis, bem como a geração de conhecimento
agroecológico, contribuindo para a formação dos estudantes, técnicos, professores e
agricultores (as).

Palavras-chave: Sustentabilidade; Agroecologia; Agricultura Camponesa;


Metodologias Participativas; Sistemas de Produção.

Abstract: Given the diverse reality of peasant agriculture in the Amazon region, it is
necessary to plan production systems that are sustainable and adapted to the specifics
of each location. In this sense, the NEA / UFRA / CCP has been working in the
Northeast of Paraense to build a participatory Science and Technology adapted to the
needs of local family agriculture, using agroecological principles. From this perspective
we seek to make an analysis and reflection from the student point of view on the
actions experienced in the NEA / UFRA / CCP, through a qualitative approach. The
actions carried out by the NEA with family farmers allowed the development and
socialization of sustainable management and production techniques, as well as the
generation of agroecological knowledge, contributing to the training of students,
technicians, teachers and farmers.

Keywords: Sustainability; Agroecology; Peasant Agriculture; Participatory


Methodologies; Production Systems.

Introdução

De acordo com Sousa et. al (2013) o ensino nas ciências agrárias tem sido
historicamente marcado por um ensino com caraterísticas unicamente
tecnicista, homogeneizador e fragmentador, o qual foi potencializado por
modelos desenvolvimentistas fundamentados na Revolução Verde, que tem
como problemática a supervalorização do conhecimento técnico-científico,
hierarquizando o ensino, a pesquisa e a extensão, distanciando-se da
diversidade das realidades da agricultura familiar camponesa.

Diante disso, é notável a necessidade de se trabalhar o ensino, pesquisa e


extensão de maneira conjunta, de forma que as técnicas e tecnologias
desenvolvidas no meio científico possam se adequar as diferentes realidades e
que para, além disso, valorizem o saber e cultura local, de forma a promover o
desenvolvimento rural sustentável.

Neste sentido, a Agroecologia busca integrar os saberes históricos dos


agricultores com o conhecimento científico, levando ao entendimento e crítica
do atual modelo de desenvolvimento e agricultura, assim como, a formação de
novas estratégias de Desenvolvimento Rural e agricultura mais sustentável,
partindo de uma abordagem transdisciplinar e holística (CAPORAL, 2009).

Nessa perspectiva buscamos fazer uma análise e reflexão a partir do ponto de


vista discente sobre as ações vivenciadas no Núcleo de Estudos, Pesquisas e
Extensão em Agricultura Familiar e Agroecologia da Universidade Federal
Rural da Amazônia Campus Capitão Poço (NEA/UFRA-CCP).

Metodologia

Partindo de um dos princípios do NEA, que é a utilização de metodologias


participativas, foi possível a participação em reuniões, construção de Unidades
de Referencias (UR’s) em sistemas de produção agroecológicas, visitas
técnicas às unidades de produção familiares dos agricultores (as), da
organização da Feira da Agricultura Familiar e articulação dos Intercâmbios de
experiências.

Deste modo, o presente trabalho foi conduzido por meio da pesquisa


qualitativa, no qual se preocupa com o aprofundamento da compreensão e
explicação das dinâmicas das relações sociais nos aspectos que não podem
ser quantificados (SILVEIRA & CORDOVA, 2009). Utilizando como
instrumentos metodológicos a observação participante, diário de campo,
travessia e registros fotográficos durante o período de janeiro a junho de 2016.

Resultados e discussões

Foi possível acompanhar o desenvolvimento das Unidades Referências (UR’s),


no qual incluem-se o Sistemas Agroflorestal implantado na UFRA/CCP e os
Viveiros de Mudas construídos pelos agricultores com o apoio do
NEA/UFRA/CCP em Garrafão do Norte/PA, e observar que a construção e
desenvolvimento das UR’s vêm promovendo a capacitação de agricultores,
estudantes e técnicos no desenvolver e socialização de técnicas de manejos
sustentáveis dos sistemas de produção, assim como a geração de
conhecimentos teóricos e práticos com relação aos aspectos organizacionais e
de produção.

A promoção do diálogo junto aos agricultores possibilitou constatar novas


demandas por conhecimentos agroecológicos, a exemplo, no que se referem
ao manejo do viveiro de mudas (Figura 1), principalmente com relação aos
adubos alternativos, como manejo do minhocário, com fim do uso do húmus de
minhoca, e elaboração e aplicação do biofertilizante, e promover maiores
conhecimentos sobre estas tecnologias e técnicas empregadas.
Figura 1: Viveiros de mudas em Garrafão do Norte/PA. Fonte: Arquivos do
NEA/UFRA/CCP

As práticas agroecológicas proporcionadas pela condução dos sistemas de


produção têm contribuído para a qualificação e formação de profissionais
atuantes na área da agricultura familiar com ênfase em Agroecologia e para
formação de agricultores (as) experimentadores (as) destes sistemas de
produção agroecológicas.

A organização da Feira da Agricultura Familiar pelos agricultores (as) familiares


em parceria com o NEA no município de Capitão Poço/PA, além de
proporcionar o estímulo à comercialização de produtos agroecológicos torna-se
num meio de comunicação e compartilhamento de conhecimentos e cultura
entre produtor e consumidor.

Dentre as dificuldades que se apresentaram durante as ações do NEA podem-


se citar o acompanhamento às unidades demonstrativas de viveiro de mudas
devido à disponibilidade de pessoal e transporte. Esta limitação foi em parte
contornada com o apoio de instituições e organizações parceiras como a
Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (ADEPARÁ) e o Sindicato
dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Garrafão do Norte, que puderam
colaborar com o atendimento às comunidades. Além disso, dificuldades quanto
ao manejo das unidades demonstrativas na UFRA/CCP devido a carência de
mão de obra disponível, dentre os quais, motivados pelo descompasso dos
horários dos estudantes com as atividades de manejo, assim como da falta de
maior apoio da instituição.

Conclusões

O diálogo entre os diferentes saberes é de suma importância na etapa de


transição agroecológica, uma vez que são utilizadas tecnologias complexas
que requerem conhecimentos e observações sobre os mesmos, tal diálogo
promove maior confiança e participação entre os atores, na medida em que
conhecimentos e experiências vão sendo compartilhados. Esta mesma relação
dialógica promove o aperfeiçoamento e o melhor desenvolvimento da
tecnologia utilizada, na medida em que esta é adaptada conforme as
necessidades de cada localidade juntamente com a prática.

Experiências como essas são de suma importância para a formação de


profissionais das ciências agrárias ao promover a capacitação, sensibilização e
a reflexão dos estudantes sobre a diversidade, potencialidades e gargalos
enfrentados pela agricultura familiar, e como futuros profissionais a estarem
abertos a trabalhar e contribuir nas mais diferentes realidades vividas pela
agricultura familiar tanto na região amazônica como em todo Brasil.

Agradecimentos

Agradecemos ao CNPq/MDA pelo apoio financeiro, as organizações sociais,


instituições parceiras e a todos os agricultores e agricultoras familiares que se
propuseram a participar desse desafio de juntos construir conhecimentos
agroecológicos.

Referências bibliográficas:

SOUSA, R. da P.; COELHO, R. ; REIS, A. ; SILVA, F. S. ; AZEVEDO, H. P. ;


GOMES, R. Fortalecendo territórios de vida: agricultores familiares e
educadores unidos na construção da Agroecologia na Amazônia paraense.
Agriculturas, v. 10, n.3, p. 12-19. set. 2013.

CAPORAL, F.R. Agroecologia: uma nova ciência para apoiar a transição a


agriculturas mais sustentáveis. In: CAPORAL, F.R. (Org.); COSTABEBER, J. A.
(Org.); PAULUS, G. (Org.). Agroecologia: uma ciência do campo da
complexidade. 1.ed. Brasília: MDA/SAF, 2009. p. 9-64.
SILVEIRA, D.T; CÓRDOVA, F. P. A pesquisa científica. In: GERHARDT, T. E. ;
SILVEIRA, D. T. Métodos de pesquisa. Porto Alegre: Editora da UFRGS,
2009. p. 31-42.

VERDEJO, M. E. Diagnóstico Rural Participativo: Um guia prático. Brasília:


Ministério do Desenvolvimento Agrário / Secretaria de Agricultura Familiar,
2006.
Saúde da população negra: um comparativo da mortalidade infantil em
estados brasileiros do norte e nordeste

Black population health: a comparison of infant mortality in northern and


northeastern Brazilian states

QUEIROZ, Josiane Mendes de1; SANTOS, Maria Santana dos 2; OLIVEIRA, Samara
Barroso³, Luz, Rafaela Araújo da4; PORTELA, Rogeovandra Martins5

1Universidade Federal do Pará,josiane2017@hotmail.com; 2 Universidade Federal do Pará,


m.stana@hotmail.com;3 Universidade Federal do Pará, samarabarroso97@gmail.com;4
Universidade Federal do Pará, rafaela_araujoluz@hotmail.com; 5 Universidade Federal do
Pará, naninha_a19hotmail.com

Resumo

Este resumo discute a temática da saúde da população negra fazendo um


comparativo da mortalidade infantil existente nos estados brasileiros do norte e
nordeste. Especificamente Pará e Maranhão. Objetivando mostrar essa realidade
crítica vivenciada pela população negra amazônida, conseqüência, do contexto
histórico da colonização no Brasil. Dessa forma, este resumo visa abordar também
sobre a política nacional de saúde sobre a população negra, esta política visa a
equidade no atendimento a população negra, visto que essa parcela da população
apresenta uma vulnerabilidade econômica mais marcante dentro da sociedade
brasileira, muito em virtude do contexto histórico pelo qual o Brasil passou.

Palavras-chave: morticínio; infância; marcadores sociais;

Abstract:

This summary discusses the health issue of the black population comparing infant
mortality in the Brazilian states of the north and northeast. Specifically, Pará and
Maranhão. aiming to show this critical reality experienced by the black Amazon
population, a consequence of the historical context of colonization in Brazil. Thus, this
summary aims to address also the national health policy on the black population, this
policy aims at equity in the black population, since this part of the population presents a
more significant economic vulnerability within the Brazilian society, Of the historical
context through which Brazil has passed.

Keywords: slaughter; childhood; Social markers;

Introdução
Historicamente o desenvolvimento social e econômico do Brasil é marcado por
diversas desigualdades regionais, sociais e étnicos raciais, onde percebe-se
que esses marcadores sociais definem quem tem acesso a qualidade de vida e
a saúde. Nesse sentido refletiremos os efeitos do pouco ou não acesso as
políticas públicas, mais especificamente da população negra.

A temática abordada possibilita uma breve discussão sobre a saúde da


população negra e a mortalidade infantil, iniciando pelo conceito de saúde, que
de acordo com a OMS (1946), “saúde é um estado de completo bem-estar
físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou
enfermidade”. A saúde é um direito de todo o ser humano, porém, muitas vezes
lhe é negado, pois as políticas não são efetivadas da forma como deveriam ser.

Segundo Fio Cruz (2007) a realidade do Brasil na década de 80 era de


exclusão da maior parte dos brasileiros a saúde e só tinha direito os
trabalhadores que contribuíam para a Previdência. Logo após a reforma
sanitária que foi a organização de diversos profissionais e movimentos sociais
da área da saúde, como assim se expressa Paim (2017):

A reforma sanitária foi resultado de um movimento da sociedade civil


brasileira em defesa da democracia, dos direitos sociais e de um novo
sistema de saúde e um novo modelo de proteção social voltado a
saúde integral. (PAIM, p.17)

A partir desse período com a Constituição de 1988 a saúde passou a ser


pública, onde todos/as brasileiros/as obtiveram o direito de usufruir da saúde
de forma “integral”.

Dando uma maior ênfase na importância da saúde o documento HumanizaSUS


foi lançado em 2003, propondo colocar em prática os princípios do SUS,
através da inclusão das diferenças nos processos de gestão e de cuidado no
trato à saúde. Busca contribuir na melhoria do sistema com a humanização.
Visando um compromisso na defesa da vida, na inclusão dos profissionais de
saúde e usuários e na reafirmação da saúde como direito universal.

Em 2009 o Ministério da Saúde deu início a um processo de promoção da


equidade no que tange a saúde da população negra no Brasil, uma das
medidas foi à criação da Política Nacional de Saúde Integral da População
Negra, que tem por finalidade a promoção a saúde integral, e redução das
desigualdades sociais. E segundo Wernek (2016) assim se justifica a política
da saúde para a população negra:

Cabe reconhecer que, como campo de pesquisa, formulação e ação,


a saúde da população negra se justifica: pela participação expressiva
da população negra no conjunto da população brasileira; por sua
presença majoritária entre usuários do Sistema Único de Saúde; por
apresentarem os piores indicadores sociais e de saúde, verificáveis a
partir da desagregação de dados segundo raça/cor; pela necessidade
de consolidação do compromisso do sistema com a universalidade,
integralidade e equidade. (WERNEK, 2014 pag. 5).

Já Lopes e Wernek (2009) sinalizam que a política de saúde integral da


população negra será efetivada plenamente quando for amenizada as
disparidades sociais e raciais.

De acordo com Monteiro (2004) invisibilizar as questões étnicos-raciais dentro


da saúde é não reconhecer que o racismo existe na sociedade brasileira, neste
sentido o racismo ele exerce um papel preponderante na manutenção das
desigualdades. Mas há de se levar em consideração que a população negra
pelo seu lado biológico está mais propensa a algumas doenças tipo: anemia
falciforme, miomas, diabetes tipo II, hipertensão arterial e etc., no entanto não
podemos esquecer que esse determinante está atrelado as condições histórica,
econômica e psicossocial.

Neste sentido Monteiro e Maio (2004) relata que a política de saúde da


população negra é justificada pelas “evidências de que a discriminação racial
leva a situações mais perversas de vida e de morte”, esses dados são
evidenciados no cotidiano da vida dos negros e negras quando pelo racismo e
desigualdade lhes são negados os direitos mais básicos (saúde, moradia,
educação e a vida).

E quando nos reportamos às políticas de saúde que são direcionadas a


população negra, sabemos que são ações significativas e importantes na
garantia do acesso dessa parcela da sociedade a saúde, mas, percebemos
que essas políticas ainda precisam ser melhor executadas, pois cotidianamente
observamos os limites e desafios encontrados por esses usuários no Sistema
Único de saúde, quando nos deparamos com a precariedade do SUS, no
quesito relacionado a falta de gestores compromissados, desvio de recursos,
falta de materiais, servidores despreparados, negligência na prestação de
serviços, seletividade e discriminação no atendimento.

Todo esse contexto social e cultural tem um reflexo visibilizado nos marcadores
sociais quando nos assustamos com os altos índices de mortalidade infantil de
força acentuada em determinadas regiões brasileiras onde mostram o perfil das
crianças que mais morrem no Brasil, ou seja, essas crianças tem cor.

Segundo o IBGE o conceito da taxa de mortalidade infantil é definido como:

A frequência com que ocorrem os óbitos infantis (menores de um


ano) em uma população, em relação ao número de nascidos vivos
em determinado ano civil. Expressa-se para cada mil crianças
nascidas vivas. (IBGE, 1996, p.01).

Já a Organização das Nações Unidas (2000), define a mortalidade Infantil


como o indicador que melhor exprime as condições ambientais, econômicas e
sociais de um país ou uma região. Sendo assim é importante frisar que a taxa
de mortalidade infantil é um importante indicador que expressa visivelmente às
condições de vida de determinada população. Se há significativa taxa de
mortalidade infantil, significa que há má distribuição de renda, má gestão, não
acesso aos serviços básicos de atenção a saúde, e acentuando ainda mais as
desigualdades e exclusões desses indivíduos.

Metodologia

O caminho traçado para a compreensão da temática partiu primeiramente dos


questionamentos feitos a respeito de quem é essa criança que mal nasce e já
tem o direito a vida negado, sendo assim, procuramos nos sites oficiais
informações que nos desse suporte para fazer uma análise social dessa
realidade que ocorre em todo o Brasil, porém tem sua especificidade em cada
território e por falarmos especificamente de estados da região norte e nordeste,
queremos chamar atenção para as desigualdades sociais que se estruturam no
sistema capitalista.

O método é entendido por nós como o caminho para a captação do real, neste
sentido utilizamos o método marxista que nos concede a possibilidade de ir
além do abstrato (aparente), permitindo fazer uma análise critica da realidade.

Foram utilizados como instrumentos a pesquisa bibliográfica para a definição


de saúde, mortalidade infantil, racismo institucional e trouxemos também um
pouco do contexto histórico colocando elementos que nos deem parâmetros
para a discussão deste tema.

Resultados e discussões

Mesmo em pleno século XXI no Brasil ainda encontra-se visível às


disparidades regionais no quesito socioeconômico, pois dados apontam que a
mortalidade infantil ainda encontra-se bem acentuada nas regiões norte e
nordeste, esse fator deve-se também na desigualdade na distribuição dos
benefícios e concentração nos meios de produção. Fazendo com que haja
regiões mais desenvolvidas que outras, e obviamente maior concentração de
riqueza e pobreza, o que vem refletir no alto índice mortalidade infantil em
certas regiões.

Segundo dados do IBGE a alta taxa de mortalidade infantil no país vem caindo
significativamente. Em maio de 2017 ele apontou a média de mortalidade
infantil no Brasil que percebe o número de 35.619 mortes por ano. A região
Norte registra 4.611, sendo que o Pará se destaca com 2.109 óbitos, já a
região nordeste registra 11.215 mortes e o estado do Maranhão destaca-se por
apresentar o índice de mortalidade mais alto com 1.618 óbitos.

Essa realidade comparada há anos anteriores mostra que em 2000 tinha-se 30


mortes por mil nascidos e em 2015 esse número diminuiu pela metade. Esse
dado demostra que a mortalidade infantil no país foi reduzida, porém quando
falamos das variáveis como cor de pele percebe-se na afirmativa da
representante do Fundo das Nações Unidas para Infância - UNICEF Marrie -
Pierre Poirier que as crianças que vão a óbito no Brasil têm cor e classe.

Para reiterar o que foi dito nos dados do Relatório da UNICEF (2008) menciona
que crianças ricas e brancas menores de 1 ano tem maiores expectativa de
vida do que uma criança pobre, neste sentido filhos de mães pobres e negras
tem 40% de chances de serem levadas a óbitos comparadas as ricas. E nesta
estatística as crianças indígenas tem uma taxa de 48,5 por mil nascidos vivos
duas vezes maior que as brancas. Sendo assim quando se interpreta os dados
por locais, raça e classe mostra-se quem morre no Brasil e além do mais
explicita as desigualdades existentes de quem tem acesso ou não aos serviços
que dão condições a garantir a vida.

Segundo o mesmo Relatório da UNICEF encontra-se relatado outro ponto


desafiador que é a “redução da mortalidade nas primeiras semanas de vida da
criança, pois 51% das mortes ocorrem nas primeiras semanas de vida e 66%
antes de um mês”.

O Relatório Dinâmico (2014) que apresenta dados da mortalidade infantil de


1995 - 2014 no Maranhão, onde em 1995 se tinha 1.369 óbitos, a cada mil
nascidos vivos correspondendo a 24,3% óbitos e em 2014 se tinha um número
de 2.135 óbitos e 117.071 nascidos vivos, onde para cada mil nascidos vivos
correspondendo a 18,2 óbitos. Representando uma redução de 24,9% da
mortalidade. Esses dados representam uma significativa redução da
mortalidade infantil, pois numa meta de 100% atingiram 37,1%.

Já no Boletim da saúde no Pará (2015) esses dados também confirmam essa


taxa de redução, num comparativo do ano 2000 – 2014, observa-se no ano de
2000 um número de 24,89/1.00 nascidos vivos e em 2014 um número de
16,09/1.000 nascidos vivos.
E de acordo com o Boletim de Saúde no Pará (2015) dados coletados no ano
de 2000 a 2014 mostram o quadro das doenças que levam a mortalidade
Infantil no estado:

51% dos óbitos infantis no Pará foram explicados pelo grupo de


Algumas afecções originadas no período perinatal. Destaca-se que
essa causa tem uma grande contribuição no excesso de risco de
morte neonatal no estado, na maioria das vezes estando relacionada
a problemas: na assistência, voltados aos cuidados no pré-neonatal;
durante o trabalho de parto e ao recém-nascido. Portanto, pode ser
amenizada a partir de políticas públicas mais eficientes. O grupo de
mal formação congênita e deformidade e anomalias cromossômicas
é a segunda maior causa de óbitos infantis (13%).

A realidade no Estado do Maranhão relativo a mortalidade infantil não difere na


apresentada acima, pois segundo dados fornecidos por Silva(2005) vem
confirmar as estatísticas que refletem as disparidades sociais.

Segundo a UNICEF (2015) “A queda ou redução da mortalidade infantil se


associa a uma série de melhorias nas condições de vida e atenção a saúde da
criança”. Esses fatores vêm acompanhados de pontos importantes para o
desenvolvimento das crianças como acesso a educação, alimento,
saneamento, moradia, vacinação, acompanhados da redução da pobreza,
distribuição de renda, trabalho. Embora saibamos que se precisa investir em
politicas públicas para que não apenas se tenha a redução da mortalidade
infantil, mas, que essas crianças tenham o direito à vida com dignidade. Pois a
pobreza traz barreiras que precisam ser superadas. E a superação é através
da igualdade e da cidadania.

Conclusões

Ao termino de nossa discussão, concluímos reiterando que as regiões norte e


nordeste têm peculiaridades em comum, em se tratando das expressões da
questão social, mais especificamente na temática da pobreza e desigualdade
social, o que vem refletir na vida de nossas crianças, quando muito cedo já
experimentam os reflexos da exploração, exclusão, racismo tão presentes na
sociedade brasileira.

Sendo assim deixamos registrado dificuldades na pesquisa bibliográfica devido


as poucas produções acadêmicas que direcionam para este tema, isso reflete
pouca ênfase na promoção da igualdade racial, no âmbito social e também
acadêmico, pois ainda é demarcado a invisibilidade da presença e participação
da população negra na sociedade brasileira. E contudo acreditamos que a
superação dessa desigualdade que é uma construção histórica pode ser
desfeita coletivamente a medida o estado desempenhe seu papel e a que a
população faça parte dessa construção. E enfatizamos que as politicas
públicas ainda precisam sem ampliadas numa perspectiva da totalidade, onde
todos os cidadãos brasileiros tenham acesso integral a Saúde e com qualidade.

Referências bibliográficas
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