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INTRODUÇÃO
Essa pesquisa é uma proposta sobre uma nova abordagem de ensino que possa
servir de orientação a professores, principalmente os de Química, na realização de
práticas pedagógicas que busquem a inter-relação entre os saberes populares e os
saberes formais ensinados na escola. A utilização da realidade da comunidade escolar,
partindo do que se conhece para se chegar a novos horizontes, valendo-se da interação
social, da reflexão e da construção dos saberes pode proporcionar aos alunos a
utilização do aprendizado escolar em instrumento de acesso à cidadania. Uma vez que
se conhece a sua realidade com os olhos da ciência, ele pode utilizá-la para melhorar sua
vida e de sua comunidade.
O saber popular e o ensino de ciências
Na busca por mudanças no ensino de ciências autores como Chassot e Lopes
(1999) discutem a valorização dos saberes populares no âmbito escolar. Entende-se que
é função da escola valorizar o saber popular, o saber local, próprio da comunidade onde
está inserida não como algo inusitado ou folclórico, ou ainda para que sirva,
simplesmente de ponte para a aquisição do saber acadêmico, mas, principalmente,
porque ao se valorizar os saberes populares de um determinado grupo social, no
ambiente escolar, está se considerando a existência de uma diversidade cultural.
(PRIGOL, 2008).
Quanto aos saberes populares, é possível afirmar que são fruto
da produção de significados das camadas populares da
sociedade, ou seja, as classes dominadas do ponto de vista
econômico e cultural. As práticas sociais cotidianas, a
necessidade de desenvolver mecanismos de luta pela
sobrevivência, os processos de resistência constituem um
conjunto de práticas formadoras de diferentes saberes
(LOPES, 1999, p 150).
Para Oliveira (2015), desde que o homem se reconheceu como parte integrante
do mundo, despertou o interesse por compreender a realidade que o circunda. A partir
de então, ao longo da história o homem constrói um conjunto de saberes que expressam
uma compreensão da realidade. Essa forma de compreensão da realidade é construída
de maneira espontânea, acumulativa e fragmentária, formada a partir de uma série de
opiniões, hábitos e formas de pensamentos dos quais os indivíduos se servem no
cotidiano, para entender o mundo circundante e orientar a sua própria existência.
Formação Docente - RBPFP, v. , n. ,p.... 20... ISSN 2176-4360
DOI Prefixo: 10.31639
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Páginas pares – Título do Artigo Autêntica
Para Silva et al. (2016), tanto o saber popular quanto o saber científico, podem
contribuir para se entender o mundo em que vivemos e o porquê de as coisas
acontecerem. Então, não devemos menosprezar os saberes populares, mas sim a partir
da introdução do conhecimento científico tornar esses saberes mais sistemáticos,
capazes de fazer ligação entre natureza e cultura, científico e popular, presente e
passado. E esta conexão só ocorrerá quando não mais houver superioridade de um saber
sobre o outro.
Carvalho (2011) afirma que o ensino de ciências precisa ir além do trabalho com
conceitos e ideias científicas. Ensinar ciências consiste em envolver o estudante em uma
cultura científica, condição dada pelo professor e pela escola:
METODOLOGIA DA PESQUISA
A pesquisa apresenta uma abordagem qualitativa, que para Denzin e Lincoln
(2006), é considerada como oportunidade para diagnosticar e contribuir, em sua
totalidade e efetivamente, as dificuldades do processo de ensino-aprendizagem.
Dificuldades essas, muito comuns no processo ensino- aprendizagem de Química, em
especial em turmas de 9º ano. Ainda de acordo com a pesquisa qualitativa, consideram-
se, os diferentes pontos de vista dos participantes. Apresenta-se como possibilidade de
compreender de forma mais detalhada os significados e as situações. Parte da noção da
construção social das realidades em estudo, está interessada nas perspectivas dos
participantes, em suas práticas do dia a dia e em seu conhecimento cotidiano relativo à
questão em estudo (FLICK, 2009).
Foi aplicado um questionário, como método de coleta de dados, que foi
preenchido pelos participantes da pesquisa sem necessidade de identificação. O método
qualitativo lida com o universo dos significados, motivos, aspirações, crenças, valores e
das atitudes a fim de entender o conjunto de fenômenos humanos (MINAYO, 2008). A
pesquisa foi desenvolvida com alunos de um colégio municipal, da zona rural situado
em um povoado chamado Marimbondo na cidade de Lafaiete Coutinho – BA. A
população do estudo constituiu-se de 40 estudantes do 9º ano, turno matutino.
A ideia central para o desenvolvimento desta pesquisa foi: Analisar a
importância do uso do conhecimento popular no processo de aprendizagem de conceitos
químicos. A seguir apresentamos as questões utilizadas no questionário:
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao serem questionados sobre “O que você entende por saber popular?”, 62,50%
dos alunos responderam que são aqueles pertencentes ao senso comum e conhecimentos
passados de geração em geração, 25% responderam que são frases ou expressões
populares e 12,50% responderam ser algo relacionados a chás e remédios naturais que
os avós fazem (Figura 1). Para Zanotto (2015) Os saberes populares brotam de
observações feitas ao longo de gerações, não obstante, para determinados grupos, se
prestam coerentes e fazem sentido, nutrindo vivo “conhecimento” e, desta forma,
preservam a história, costumes e tradições locais.
Figura 1. SABER POPULAR
O saber popular pode ser confundido com o senso comum, mas Chassot (2011)
os diferencia. Para o autor, enquanto o senso comum dissemina-se em todo tecido
social, os saberes populares estão associados às práticas cotidianas das classes
destituídas de capital cultural e econômico. Desta forma, o saber popular aponta para a
especificidade e para a diversidade.
Cerca de 87,50% dos alunos ao serem questionados sobre quais saberes
populares conhece na sua cultura responderam sobre os chás medicinais e 12,50%
falaram da pecuária (Figura 2). É comum associar o conhecimento local à sua forte e
permanente ligação com a natureza, o conhecimento gerado, ao longo de sua história e
com o ambiente natural ajuda a superar os desafios da vida cotidiana. Segundo Silva et
al, (2017), o Brasil é considerado um país privilegiado com abundância de plantas
biomédicas. Sua biodiversidade é considerada uma das mais ricas do mundo devido às
inúmeras espécies vegetais com potencial medicinal.
Questionados sobre “Quais saberes mais relevantes chegou a você através dos
seus pais?” (Figura 4), 50% dos alunos responderam saberes utilizados no trabalho,
vale ressaltar que os alunos são criados em uma cultura em que estudam pela manhã e
trabalham com os pais a tarde. Segundo Lopes (1993), o conhecimento popular é fruto
da produção de significados das camadas populares da sociedade, isto é, a classe
dominante da sociedade em perspectivas econômicas e culturais, prática social diária e
necessidades de desenvolver mecanismos de luta pela sobrevivência, os processos de
resistência constitui um conjunto de práticas discursivas que formam diferentes tipos de
conhecimento. Cerca de 25% dos alunos falaram sobre fazer xaropes caseiros, de acordo
com Vasconcelos, et, al (2011), uma das práticas mais antigas é a utilização de plantas
medicinais, que são empregadas para tratamento de enfermidades humanas. Através do
conhecimento popular foi descoberto muito do que se sabe hoje em dia sobre o
tratamento de plantas. Os outros 25% dos alunos responderam que a pecuária e as
plantações são os saberes recebidos através dos pais.
80%
60% 50%
40%
25% 25%
20%
0%
Trabalhar Fazer xaropes caseiros Pecuária e plantações
No questionário foi pedido para que os alunos citassem saberes populares que
eles utilizam no dia a dia e eles foram perguntados se conseguiam relacionar esses
saberes com a química (Figura 5), 50% dos alunos falaram que utilizam saberes popular
na cozinha, 25% dos alunos responderam que utilizavam na conservação dos alimentos
e 25% não souberam responder, no entanto, nenhum dos alunos conseguiram relacionar
suas atividades do cotidiano com a química. Para Gondin & Mól (2009), as escolas têm
repetidamente priorizado o conteúdo científico recomendado pelos livros didáticos
sobre o conhecimento, a experiência e o conhecimento alternativo dos alunos. Portanto,
o ensino de ciências se baseia principalmente em uma perspectiva disseminada, fora de
contexto, que fortalece a neutralidade da ciência e ignora a relação entre ciência,
tecnologia e sociedade.
Figura 5: SABERES POPULARES USADOS NO DIA A DIA
0%
Na questão seguinte, 75% dos alunos responderam que os saberes populares são
abordados em sala de aula, enquanto 25% afirmaram que não são (Figura 6), portanto
evidencia-se que é um tema presente na vida dos estudantes, Chassot (1995) defende o
resgate e a valorização de saberes populares, trazendo-os para as salas de aula como um
caminho que contempla essa necessidade do Ensino de Ciências para que o ensino deixe
de ser de forma sistematizada, matematizada e descontextualizada e passe a ser algo que
se relacione com a realidade do aluno. Para Carvalho (2011) o ensino de ciências
precisa ir além do trabalho com conceitos e ideias científicas. Ensinar ciências consiste
em envolver o estudante em uma cultura científica, condição dada pelo professor e pela
escola.
Apesar da resposta acima ter sido em maioria positiva os alunos afirmaram não
conseguir relacionar os conteúdos aprendido em sala de aula com o cotidiano (Figura 7),
para Zanotto (2015) é importante ressaltar que a valorização dos saberes populares e sua
aproximação da cientificidade contribuem para dar maior significado ao ensino da
Química. É importante que os saberes populares abordados em sala de aula sejam
discutidos de forma contextualizada de modo que os alunos consigam relacionar os
conteúdos com seu cotidiano, Lopes (1993), argumenta a favor de uma inter-relação
entre os saberes, de forma a contribuir para a construção do conhecimento escolar sem,
contudo, os descaracterizar.
É possível constatar que boa parte dos alunos não sabem o que é o conhecimento
científico (Figura 8), ao serem perguntados sobre o que eles entendiam por
conhecimento científico 37,5% responderam ser “coisa de médico”, já 37,50%
responderam “informação e o saber que parte do princípio das análises dos fatos reais e
cientificamente comprovado”, 25% disseram ser “coisa de ciências e de química”.
Figura 8: SABER CIENTÍFICO
80.00%
60.00%
25%
20.00%
0.00%
Saberes que são cientifi- Coisas de ciencias Saberes de médico
camente comprovados
80%
20%
0%
Sim Não
REFERÊNCIAS
ARCE, A.; SILVA, D. A. S. M. da; VAROTTO, M. Ensinando ciências na educação
infantil. Campinas: Alínea, 2011.
AVELAR, E. F. et al. A importância dos conhecimentos prévios do aluno para a
aprendizagem no ensino de química. Anais VI CONEDU... Campina Grande: Realize
Editora, 2019. Disponível em: <https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/58517>.
Acesso em: 24 de abril de 2022.
BAPTISTA, G. C. S. A contribuição da Etnobiologia para o ensino e a
aprendizagem de ciências: estudo de caso em uma escola pública do estado da
Bahia. 2007. 188f. Dissertação (Mestrado em Ensino, Filosofia e História das Ciências)
- Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2007.
BASTOS, S. N. D. Etnociências na sala de aula: uma possibilidade para
aprendizagem significativa. In Anais do II Congresso nacional de educação e II
Seminário Internacional de representações sociais, subjetividade e educação. Curitiba:
PUC, 2013.
Formação Docente - RBPFP, v. , n. ,p.... 20... ISSN 2176-4360
DOI Prefixo: 10.31639
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