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“ECO JOGO”: UMA OPÇÃO AOS LETRAMENTOS RELACIONADOS

À DISCIPLINA DE CIÊNCIAS

MUNHOZ, Elzira Maria Bagatin1 - UNIVILLE

SILVEIRA, Milena dos Santos 2 - SEC/JOINVILLE-SC

LEALDINO, Carla Aparecida 3 - UNIVILLE

MARTINS, Ivana 4 - UNIVILLE

MICHEL, Jonatan 5 - UNIVILLE

Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas


Agência Financiadora: PIBID/CAPES

Resumo

As condições ambientais globais sugerem a necessidade de cidadãos mais ecológicos, que


conservem e preservem os recursos naturais. Esta cidadania planetária pode ser formada
também no ambiente escolar, com o auxílio de práticas pedagógicas pautadas nos princípios
da Educação Ambiental como sustentação de ações de leitura e constituição de repertorio
científico. Baseado em diagnóstico de práticas leitoras relacionadas à disciplina de ciências,
realizado pelos bolsistas PIBID/UNIVILLE na escola de ensino fundamental parceira, este
estudo teve por objetivo construir e analisar a aplicação de um jogo didático como apoio aos
letramentos relacionados à disciplina de Ciências. Seus objetivos específicos foram discutir a
reutilização de materiais pedagógicos na confecção de jogos didáticos e promover a reflexão
sobre as oportunidades de letramento na disciplina de ciências, entre os acadêmicos bolsistas
do Subprojeto de Ciências Biológicas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à
Docência – PIBID/UNIVILLE. Após diagnóstico, os bolsistas confeccionaram um eco jogo

1
Doutora em Educação: Psicologia da Educação pela PUCSP. Professora Titular nos departamentos de Ciências
Biológicas e Pedagogia da Universidade da Região de Joinville/UNIVILLE-SC. Coordenadora do Subprojeto de
Ciências Biológicas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID/UNIVILLE. E-mail:
elzira.b@univille.br
2
Professora de Ciências Naturais da Rede Municipal de Ensino de Joinville/SC. Professora Supervisora do
Subprojeto de Ciências Biológicas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência –
PIBID/UNIVILLE. Mestranda em Saúde e Meio Ambiente pela UNIVILLE. E-mail: biomilena@gmail.com
3
Acadêmica do curso de Ciências Biológicas da UNIVILLE. Bolsista do Subprojeto de Ciências Biológicas do
Programa PIBID/UNIVILLE. E-mail: karla_lealdino@hotmail.com
4
Acadêmica do curso de Ciências Biológicas da UNIVILLE. Bolsista do Subprojeto de Ciências Biológicas do
Programa PIBID/UNIVILLE. E-mail: ivanam.biologia@gmail.com
5
Acadêmico do curso de Ciências Biológicas da UNIVILLE. Bolsista do Subprojeto de Ciências Biológicas do
Programa PIBID/UNIVILLE. E-mail: michel.jonatan81@hotmail.com
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da memória, reutilizando caixas de alimentos (como base para as cartas) e livros didáticos
descartados, para fazer as cartas do jogo. Os pares de jogo continham uma carta com recortes
de fotos, desenhos ou micrografias e outra carta com recortes de textos apresentando
conceituações ou caracterizações alusivas às figuras representadas em seus pares. As
informações, referentes ao conteúdo Seres Vivos foram recortadas de diversos livros de
Ciências descartados pelas escolas da Secretaria de Educação do município. A aplicação do
eco jogo foi realizada pelos bolsistas que o criaram, em oficinas realizadas com os estudantes.
Verificou-se a viabilidade de construção de um jogo didático a partir da reutilização de
materiais pedagógicos, numa linguagem a que os alunos estão habituados. Os estudantes
apresentaram respostas pertinentes aos conteúdos abordados, mas recomenda-se o uso do eco-
jogo a no máximo seis estudantes a cada partida.

Palavras-chave: Jogo didático. Educação Ambiental. Letramento. Ensino de Ciências.


PIBID.

Introdução

Ainda que as atividades do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência


(PIBID) não priorizem a pesquisa enquanto objetivo principal, as ações empreendidas pelo
grupo de bolsistas vinculado ao Subprojeto de Ciências Biológicas do PIBID/UNIVILLE
levaram à elaboração e aplicação do eco-jogo da memória “Os Seres Vivos” em resposta às
atividades de observação e diagnóstico dos estudantes de ensino fundamental na escola
parceira do projeto. A observação e diagnóstico de práticas leitoras na disciplina de ciências
foram tomados como base para a construção de hipóteses de ensino por parte da equipe
envolvida, formada pela coordenadora (na universidade), pela professora supervisora (na
escola) e pelos acadêmicos bolsistas.
Do diagnóstico empreendido, emergiram as impressões dos bolsistas a respeito das
dificuldades de leitura apresentadas pelos estudantes de sextos e sétimos anos, relacionados à
fluência, pronúncia ou compreensão dos termos científicos. A opção de enfrentamento à
situação foi a utilização de estratégias lúdicas que priorizassem a leitura e compreensão dos
conceitos relacionados aos Seres Vivos. Após a escolha de Jogos Didáticos como recursos de
estimulação ao estudo e leitura dos conteúdos, a opção de utilização de materiais descartados
na sua construção foi consensual, como forma de manifestar na reutilização de materiais o
respeito ao consumo de recursos naturais. A opção pelo uso de livros didáticos descartados
como fonte das informações conceituais e ilustrações foi também premeditada, por serem
estes familiares aos estudantes, que iriam reconhecer em sua estrutura e apresentação, os
conceitos e representações esquemáticas dos conteúdos já estudados anteriormente.
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As questões ambientais contemporâneas estão cada vez mais presentes nas escolas.
Dependendo do modo como esses temas são tratados no ambiente escolar, eles podem
contribuir para a formação de cidadãos capazes de compreender os processos ecológicos, nos
quais estão inseridos e sobre os quais exercem ação direta e/ou indireta. Nesse sentido,
cidadãos ambientalmente conscientes podem promover ações individuais e coletivas, para a
conservação e preservação dos recursos naturais.
Morales e Knechtel (2010, p.213) explicam que

[...] a universidade, como centro de ciência, deve considerar a responsabilidade


social e acadêmica como caminhos relevantes na construção e reconstrução de um
conhecimento que contemple a complexidade do real e as dimensões socioambiental
e sociocultural, ampliando a visão de mundo dos profissionais.

Daí a importância de se ter nos ambientes escolares, profissionais com perspectiva


socioambiental, que tratem a realidade em diferentes dimensões, e apliquem às suas práticas
diferentes componentes que reflitam o cuidado com os recursos naturais.
Em se tratando do ensino de ciências, a constituição de repertório científico alusivo
aos múltiplos e diversos conteúdos que compõem o currículo escolar demandam dos
estudantes o domínio de habilidades de uso da leitura e da escrita. A esse respeito, Krasilchik
(2004, p. 11), refere-se ao termo “Alfabetização Biológica”, ao designar os processos de
construção dos conhecimentos necessários ao convívio dos indivíduos nas sociedades
contemporâneas, admitindo que a formação biológica contribua para que cada indivíduo seja
capaz de compreender e aprofundar as explicações dos processos e conceitos biológicos e o
interesse pelo mundo dos seres vivos. Autores como Soares (2004a) tem trazido a discussão
sobre as práticas de aquisição da cultura através de práticas de letramento, entendido como “o
resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e a escrever, ou como o estado ou condição
que adquire um grupo social ou individuo como consequência de ter se apropriado da escrita”
(SOARES, 2004a, p. 18). Nesse sentido, Colaço e Fischer (2012, p. 219) explicam que “as
práticas de letramento envolvem valores, atitudes, sentimentos e relações sociais”.
Este estudo foi realizado no âmbito das práticas do Subprojeto de Ciências Biológicas
do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID da Universidade da
Região de Joinville – UNIVILLE/SC. Baseado em diagnóstico de práticas leitoras dos
estudantes do ensino fundamental de uma das escolas parceiras do PIBID/UNIVILLE, teve
por objetivo construir e analisar a aplicação de um jogo didático como apoio aos letramentos
relacionados à disciplina de Ciências. Seus objetivos específicos foram discutir a reutilização
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de materiais pedagógicos na confecção de jogos didáticos e promover a reflexão sobre as


oportunidades de letramento na disciplina de ciências, entre os acadêmicos bolsistas do
Subprojeto de Ciências Biológicas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à
Docência – PIBID/UNIVILLE.

Revisão de Literatura

As relações sociais que se estabelecem na escola, na família, no trabalho ou na


comunidade possibilitam que o indivíduo tenha uma percepção crítica de si e da sociedade,
podendo, assim, entender sua posição e inserção social, construindo a base de respeitabilidade
para com o próximo (LOUREIRO, 2011). Nesse sentido, Baldin e Hoffmann (2012, p.88)
destacam que “a escola é um local privilegiado para aprendizagens onde é possível adquirir,
valores e promover atitudes e comportamentos pró-ambientais”.
A legislação educacional brasileira atribui ao professor o dever de cuidar da
aprendizagem de seus alunos, bem como tratar das questões ambientais por meio da
transversalidade de temas. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB
(BRASIL, 1996), estabelece em seu Art. 13 que uma das atribuições dos docentes é “zelar
pela aprendizagem dos alunos”. A este processo educativo, devem-se incluir os princípios da
“educação ambiental de forma integrada aos conteúdos obrigatórios”, conforme o Art.26
parágrafo 7º. Já o Art.32 prevê que ao final do ensino fundamental, os alunos tenham
desenvolvido a “capacidade de aprender, tendo o pleno domínio da leitura, da escrita e do
cálculo”, além da “compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da
tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade”, entre outros atributos.
Nesta direção, o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID),
fomentado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) do
Ministério da Educação (MEC), oportuniza aos acadêmicos dos cursos de licenciatura o
contato com instituições de Educação Básica. O PIBID está sendo desenvolvido em diferentes
instituições de ensino superior no país, entre eles a Universidade da Região de Joinville –
UNIVILLE, que mantém subprojetos nas áreas da Pedagogia, Sociologia, Educação Física,
História, Letras e Ciências Biológicas.
A proposta do Subprojeto de Ciências Biológicas consiste no planejamento e
desenvolvimento de atividades pedagógicas de transposição de conceitos cotidianos em
conceitos científicos, por meio de ações de apoio aos letramentos relacionados à disciplina de
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ciências, em duas instituições da Rede Municipal de Ensino em Joinville (SC),


compreendendo as séries finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano).
De acordo com Soares (2004, p. 90)

pode-se dizer que a inserção no mundo da escrita se dá por meio da aquisição de


uma tecnologia – a isso se chama alfabetização, e por meio do desenvolvimento de
competências (habilidades, conhecimentos, atitudes) de uso efetivo dessa tecnologia
em práticas sociais que envolvem a língua escrita – a isso se chama letramento.

O PIBID é um importante programa que permite os futuros docentes conhecerem o


contexto escolar e refletir sobre ele. Colaço e Fischer (2012, p.220) explicam que “essa
passagem do ser aluno para o ser professor poderá revelar medos, inseguranças, receios,
aprendizagens, que precisam ser vencidos na realização das práticas pedagógicas de
letramento”.
Nesse sentido, Colaço e Fischer (2012, p. 232) destacam que as ações do projeto do
PIBID, tanto na Universidade como na escola de Educação Básica “priorizam a inserção dos
professores em formação em práticas pedagógicas de letramento, reforçando que a forma de
se tornar professor, passa pela prática docente.”
Dias e André (2009, p. 88) lembram que é importante “desenvolver, no futuro
professor, a reflexão, a imaginação, a criatividade, o espírito ético, o sentido estético e lúdico,
a iniciativa, a autodisciplina, a organização e a dedicação para que o estudante no futuro
possa, por si, procurar informações, ser autônomo e criativo”.
Segundo Krasilchik (2004), os conteúdos relacionados à biologia podem se constituir
em componentes relevantes e merecedores de atenção dos estudantes, ou ser uma das
disciplinas mais insignificantes e pouco atraentes, dependendo do que for ensinado e de como
isso for feito. Para a autora, estudos indicam diferentes tipos de relação dos estudantes com os
conteúdos. Nesse sentido, um envolvimento superficial ou comprometido com o estudo por
parte do aluno pode depender, além da relação que mantém com o professor, também da
metodologia ou estratégia de ensino utilizada.
Vasconcellos (1994) chama a atenção para a importância da mediação docente na
seleção, preparo e organização das atividades e ações necessárias para levar os estudantes ao
desenvolvimento de processos de mobilização, construção e elaboração da síntese do
conhecimento. Neste sentido, as estratégias didáticas situam-se como importantes ferramentas
de trabalho docente.
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Para Anastasiou e Alves (2003), o professor deve aceitar o desafio de superar a


exposição tradicional como a única forma de explicitar os conteúdos e ser um verdadeiro
estrategista, no sentido de estudar, selecionar, organizar e propor as melhores ferramentas
facilitadoras para que os estudantes se apropriem do conhecimento. Para as autoras, a
aprendizagem exige a compreensão e apreensão do conteúdo pelo estudante, e é essencial a
construção de um conjunto relacional, de um sistema no qual o novo conhecimento
apreendido pelo aluno amplie ou modifique o sistema inicial, a cada novo contato. Para as
autoras, para se dar conta deste enredamento, a seleção de estratégias que superem a simples
memorização podem auxiliar o estudante a refletir ativamente sobre os conteúdos de ensino
ou sobre as circunstâncias em que eles sejam apresentados.
Nesse sentido, Pedroso (2009) afirma serem as atividades lúdicas, em especial os
jogos didáticos, alternativas viáveis e interessantes para, entre outras coisas, aprimorar as
relações entre professores – estudantes – conhecimento.
Assim, Cunha (2012, p.94) explica que “um jogo pode ser considerado educativo
quando mantém um equilíbrio entre duas funções: a lúdica e a educativa”. Podendo a função
lúdica estar relacionada à diversão e a função educativa à apreensão de conhecimentos. Esses
conhecimentos podem estar relacionados a outras dimensões para além dos conteúdos em
estudo, incluindo os valores subjetivos atrelados às práticas exercidas pelos docentes.
Ao discutir as relações entre o processo de apreensão e o tipo de conteúdo trabalhado,
Zabala (1998) refere-se aos conteúdos factuais, identificados na reprodução literal de fatos e
acontecimentos; conteúdos procedimentais, relacionados à reflexão sobre o conjunto de ações
ordenadas que permeiam os processos pedagógicos e aos conteúdos atitudinais, que englobam
os valores, atitudes e normas, verificados por sua aceitação e interiorização. Para a autora, a
aprendizagem de conceitos, sustentada na convergência entre os procedimentos, as atitudes e
os fatos possibilita a elaboração e construção pessoal, através das interpretações e
transferências para novas situações.
Neste contexto ampliado de apreensão de conhecimentos, entende-se que existem
diferentes formas de incluir a temática ambiental nas práticas pedagógicas e o uso de jogos
didáticos pode ser uma alternativa para trabalhar as questões do letramento no ensino de
Ciências Naturais. Para Kishimoto (2012, p. 41) a utilização de jogos pode ampliar “a
construção do conhecimento, introduzindo as propriedades do lúdico, do prazer, da
capacidade de iniciação e ação ativa e motivadora”.
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Para Grübel e Bez (2006, p. 3) “o jogo pode ser um ótimo recurso didático ou
estratégia de ensino para os educadores e também ser um rico instrumento para a construção
do conhecimento”. Dentre as muitas possibilidades, Cunha (2012, p.95) esclarece que os
jogos de memória ou de quebra-cabeça “são educativos, pois a partir deles, as crianças
desenvolvem habilidades como concentração, organização, manipulação, cooperação, dentre
outras”. Para Soares (2004b), as informações podem ser apresentadas aos estudantes através
de diferentes veículos portadores, sendo importante que o docente tenha ciência disto e se
preocupe em diversificar as formas de apresentação das informações escritas aos seus alunos.
A esse respeito, Krasilchik (2004) destaca que a escolha da modalidade didática vai
depender do conteúdo e dos objetivos selecionados, da classe a que se destina, do tempo e dos
recursos disponíveis, assim como dos valores e convicções do professor. No caso do uso de
jogos didáticos, Cunha (2012, p.97) adverte que “é importante que o professor intervenha na
ação do jogo no momento em que ocorre algum erro, pois é nesse momento que o estudante
tem a oportunidade de refletir sobre o assunto em questão e progrida na sua formação”.
O processo educativo não é neutro, e Lima (2011, p.126), ao discorrer sobre o desafio
da pedagogia crítica em oposição às práticas transmissivas, lembra que “a educação é uma
construção social repleta de subjetividades, de escolhas valorativas e de vontades políticas”.
Assim também a opção por determinadas estratégias de ensino pelo professor podem
transmitir em seu desenrolar, informações a respeito do posicionamento social deste professor
quanto a questões sociais emergentes, como a questão ambiental.

Procedimentos Metodológicos

O processo pedagógico no qual se enquadra o jogo didático proposto resultou da


seguinte sequencia de ações, por parte dos bolsistas do Subprojeto de Ciências Biológicas do
Programa PIBID/UNIVILLE, em uma das escolas parceiras do projeto: observação de aulas
de ciências; diagnóstico das práticas leitoras dos estudantes durante as aulas e atividades das
turmas de sextos e sétimos anos; discussão e reflexão e opção por estratégia de intervenção.
Após o diagnóstico do perfil das diferentes turmas, o grupo formado pelos bolsistas e a
professora supervisora decidiu, em conjunto com a coordenadora do subprojeto, pela
aplicação de estratégias lúdicas de fixação de conteúdos, em especial aqueles relacionados aos
Seres Vivos.
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O Jogo da Memória, com cartas pareadas apresentando imagens e conteúdos


relacionados à caracterização e/ou conceituação dos temas em estudo foi a opção do grupo,
por privilegiar a relação dos estudantes com a leitura e identificação de textos científicos e
suas representações em imagens e/ou figuras esquemáticas.
A etapa de confecção do jogo foi precedida de um pré-teste, realizado no grupo de
bolsistas e professora supervisora, como forma de vivenciar a dinâmica e entender sua lógica
de construção.
A aplicação do jogo foi realizada pelo grupo de bolsistas PIBID/UNIVILLE, em
turmas de sétimo ano, em oficinas realizadas durante o horário de aulas. Ao longo da
aplicação do jogo, parte dos bolsistas ficou encarregado de observar sua execução, anotando
suas impressões a respeito da aceitação, interação e eventuais dificuldades dos estudantes ao
longo do jogo. Estas anotações foram utilizadas posteriormente na etapa de discussão dos
resultados pedagógicos de sua aplicação.

Resultados

A elaboração do “Eco Jogo da Memória – Os Seres Vivos” foi realizada pela equipe
de bolsistas PIBID/UNIVILLE e a professora supervisora do grupo na escola parceira. Os
pares de cartas do jogo continham uma carta com recortes de fotos, desenhos ou micrografias
e outra carta com recortes de textos apresentando conceituações ou caracterizações alusivas às
figuras representadas em suas cartas pares. As informações, referentes ao conteúdo Seres
Vivos foram recortadas de diversos livros de Ciências descartados pelas escolas da Secretaria
de Educação do município, por apresentarem rasuras e recortes, ou por terem sido
substituídos em função de sua vigência, estipulada em três anos pelo Plano Nacional o Livro
Didático – PNLD.
Uma vez definida a estrutura geral do jogo, foi realizado entre o grupo de bolsistas e a
professora supervisora um pré-teste do “Eco Jogo da Memória – Os Seres Vivos”. Nesta
simulação, foram decididos os conjuntos de pares e a abrangência dos conteúdos a serem
representados no jogo. Após o pré-teste, iniciou-se a confecção do jogo.
As cartas foram feitas com recortes de aproximadamente 9 cm x 6 cm de diferentes
embalagens acartonadas de alimentos. A seleção das informações visuais e conceituais teve
como base as características gerais dos seres vivos. Por exemplo, um par de jogo apresentava
numa das cartas a seguinte descrição: “Têm o corpo coberto de penas. A função das penas é
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proteger o corpo contra perdas de água e de calor e auxiliar o voo.” Sua carta
correspondente trazia a foto de uma ave (um cardeal) na qual estava indicado o filo
“Cordados – Aves”. Os pares de cartas do protótipo do Eco Jogo da Memória – Os Seres
Vivos apresentam os Seres Vivos e seus respectivos Reinos, Filos e Classes.
A aplicação do eco jogo foi realizada pelos bolsistas que o criaram, em oficinas
realizadas com os estudantes de sétimo ano do ensino fundamental. Ao longo de sua
aplicação, parte dos bolsistas PIBID/UNIVILLE acompanhou seu desenvolvimento, anotando
suas impressões a respeito da desenvoltura, domínio do conteúdo, habilidade de leitura,
relação entre figuras e conceitos e eventuais dificuldades por parte dos estudantes.
Krasilchik (2004) lembra que é importante que os estudantes saibam não apenas ler e
escrever, mas também interpretar os conteúdos de ciências e biologia. A opção pelo jogo
didático como estratégia de revisão e estudo de conteúdos já trabalhados foi concebida na
perspectiva de contribuir com o que Soares (2004) identifica como sendo práticas de
letramento. A ideia do jogo surgiu da percepção das dificuldades dos estudantes na
apreensão do conteúdo, e foi desenvolvida como uma revisão permitindo ao professor das
turmas, que acompanhou todas as oficinas, verificar o aprendizado dos estudantes ao longo
da participação dos mesmos nas tarefas designadas pelo jogo.
O Eco Jogo da Memória proposto mostrou ser uma boa alternativa para trabalhar as
questões do letramento no ensino de Ciências, no que se refere ao estímulo à compreensão de
conceitos científicos e sua relação com imagens que exemplifiquem ou ilustrem estes
conceitos. Acredita-se que por ter sido confeccionado a partir de textos oriundos de livros
didáticos descartados, as cartas do jogo mantém a linguagem científica com a qual o aluno
está familiarizado e não linguagens afeitas a outros meios de comunicação, contribuindo para
a fixação dos conteúdos.
Em relação ao modo e dinâmica de jogo, com o relatório de observação de sua
aplicação, elaborado pelos bolsistas, chegou-se à conclusão que o protótipo do jogo proposto
apresentava muitas cartas, tornando-se cansativo, desestimulando os participantes. Por
envolver habilidades de relação entre conteúdos e imagens, além do componente subjetivo da
memória, concluiu-se que o resultado pedagógico do jogo seria ampliado com pequenas
alterações no seu modo de aplicação. A organização dos estudantes em grupos menores, com
no máximo seis integrantes, aliado à redução do número de pares de cartas em jogo, como por
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exemplo, formar diversos jogos de memória separando as cartas por temas, foram sugestões
do grupo de bolsistas, após a reflexão sobre os resultados de sua aplicação.
As práticas pedagógicas do PIBID são de grande importância para ampliar a visão dos
acadêmicos sobre a docência, oportunizando situações práticas de escolha e aplicação de
diferentes estratégias de ensino aprendizagem. Permitem também a reflexão e posicionamento
científico de seus protagonistas, numa perspectiva de docência sustentada na organização e
reflexão sobre as práticas docentes.

Considerações Finais

A reutilização de materiais pedagógicos, incluindo livros didáticos descartados na


confecção de novos materiais de ensino como estratégia de sensibilização dos estudantes a
respeito do uso dos recursos naturais, pode ser uma alternativa viável de incorporação dos
princípios da educação ambiental em espaços escolares.
Aqueles que frequentam o ambiente escolar, já perceberam o desperdício em relação
ao descarte dos livros didáticos, que, seguindo a Política Nacional do Livro Didático, devem
ser substituídos a cada três anos. Concluído o período de vigência e independente de seu
estado de conservação, os livros didáticos têm sido descartados pelas Secretarias de
Educação, e são, geralmente, doados aos próprios alunos das escolas, que passam, eles
mesmos a questionar a respeito do uso das verbas públicas. A chegada de novos livros
didáticos nas escolas, tem gerado acúmulo destes materiais em algumas delas, além de
desperdício de dinheiro público, já que são poucos os livros descartados que apresentam um
péssimo estado de conservação, sendo estes os mais indicados para a reutilização. Os livros
em bom estado ainda poderiam estar sendo usados pelos alunos.
Cabe ressaltar que a utilização de livros didáticos descartados na confecção de jogos
educativos, aqui relatada, não deve ser vista como uma solução para a problemática de
desperdício destes recursos no ambiente escolar, mas como alternativa à incorporação de
posturas ecologicamente engajadas e socialmente justas, no contexto escolar.
Por fim, acredita-se que para os bolsistas do Subprojeto de Ciências Biológicas da
PIBID/UNIVILLE, participar ativamente das atividades escolares relacionadas à disciplina de
Ciências, realizando diagnóstico das situações cotidianas e sobre elas fazendo suas hipóteses
de ensino, foi extremamente positivo e motivador.
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A oportunidade de construir, numa perspectiva investigativa, materiais de ensino


alternativos às aulas expositivas, com a formulação de hipóteses, seleção e construção de
materiais e acompanhamento e reflexão sobre os resultados de sua aplicação, constitui-se em
experiência impar a estes acadêmicos.

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