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1 INTRODUÇÃO
Os problemas ambientais são evidentes neste século e, constantemente, são noticiados
em diferentes meios de comunicação social como forma de dar conhecimento sobre a
problemática à sociedade. Da mesma forma, diversos estudos ressaltam a urgência de reorientar
ou reestabelecer a conexão entre a humanidade e o meio ambiente como forma de responder a
tal problemática. Entretanto, apesar das informações, das pesquisas científicas e das ações em
relação a necessidade de preservação e de proteção da natureza, a degradação ambiental já
instaurada e a falta de uma ação cívica consciente, continuam afetando a vida social e as
condições de manutenção da vida no planeta.
Neste contexto, é importante reconhecer que a formação de professores é um elemento
essencial para introduzir a Educação Ambiental nas escolas. Por isso, tratou-se analisar a
relação entre a formação de professores e a Educação Ambiental que se apresentam nas
pesquisas de doutorado realizadas no Brasil, tendo em vista que a dimensão ambiental é um
componente essencial para a formação docente. De antemão, vale esclarecer que se entende que
a melhoria da condição ambiental do planeta demanda respostas sociais a tal problemática. Para
a construção destas alternativas, tanto a formação inicial, quanto a formação continuada de
professores, tem um impacto reconhecido na formação da cidadania e nos processos de
socialização que ocorrem no contexto escolar.
Nesta perspectiva, toma-se como ponto de partida a compreensão de que no período de
profissionalização docente, os professores precisam compreender a Educação Ambiental como
um processo ‘por meio do qual o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimento, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de
uso comum do povo, essencial à sua qualidade de vida e sua sustentabilidade’ (BRASIL, 1999).
Mais do que isso, como nas palavras de Sauvé (1999, 2003), a educação ambiental é uma
dimensão fundamental e ineludível da educação contemporânea; uma complexa dimensão da
educação global; está estreitamente ligada a outras dimensões da educação contemporânea que
são parte da esfera da alteridade, como a paz, direitos humanos, relações interculturais, etc.,
com a qual comparte um mesmo marco ético (responsabilidade, cuidado, solidariedade).
Os estudos desenvolvidos por Álvarez-García, Sureda-Negre e Comas-Forgas 2015, ressaltam
o papel inegável dos professores para a inserção da Educação Ambiental nas escolas, bem como
qualificam sua atuação como uma ferramenta para educar ambientalmente a cidadania. Destacam que
para a promoção de uma educação escolar eficaz, é necessário investir na formação adequada dos
professores, na ampliação de suas competências profissionais para conduzir e reorientar o currículo em
relação a Educação Ambiental. Corroboram com as afirmativas dos autores as orientações da UNESCO/
PNUMA, que já na década de 1990, apontavam que a formação dos professores seria a ‘prioridade das
prioridades’ para inserir a Educação Ambiental no contexto escolar. Outros eventos internacionais se
somam a essa preocupação e destacam a necessidade de repensar as ações curriculares com base na
instrumentalização teórica e metodológica dos professores para promover a sustentabilidade ambiental
(UNESCO, 1997; NAÇÕES UNIDAS (ONU), 1992). Para isso, conforme aponta a Declaração de Bonn
(UNESCO, 2009), seria necessário esforços direcionados para reorientar o currículo e a formação inicial
e continuada dos professores.
Esse entendimento faz parte de um conjunto de premissas que sustentam o ideário de
construção de sociedades mais sustentáveis e precisa ser constituir como forma de repensar a
formação desta e das próximas gerações. Para que isso venha acontecer, é necessário promover
processos efetivos de Educação Ambiental a partir de pressupostos críticos, democráticos,
participativos e emancipatórios, voltados a construção de diferentes racionalidades, ou de uma
racionalidade ambiental (LEFF, 1998, 2004).
Por reverberação e consequência, esta ação depende de forma dialética da formação
acadêmica e profissional que os professores têm acesso e dos valores que foram construídos ao
longo de sua história de vida (GOODSON, 2004; NÓVOA, 1992; TARDIF, 2001; BUTT,
RAYMOND e YAMAGISHI, 2004; CAMPOS, 2017), em forte interação com suas
experiências e práticas pedagógicas. Esses aspectos são reconhecidos por documentos oficiais
no Brasil, como a Lei n 9.795/99, que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental
(PNEA), e que aponta, no seu artigo 9°, que a Educação Ambiental deve estar presente em todos
os níveis e modalidades de educação e ensino, inclusive no ensino superior (BRASIL, 1999).
De acordo com Campos (2015), com base nas orientações internacionais e realidade
política e social, no âmbito do sistema educativo nacional brasileiro, o Ministério da Educação
elaborou um documento orientador conhecido como Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs/97). O objetivo desse documento foi oferecer orientações e apoio para que os professores
pudessem readaptar o currículo escolar, incluindo os temas transversais na construção de
projetos pedagógicos autônomos e inovadores. Em 2012, com a aprovação das Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental, o sistema de ensino foi impactado por uma
demanda normativa que fortaleceu a presença da Educação Ambiental em todos os níveis de
ensino, tornando ainda mais evidente a necessidade de uma ação das escolas, centros de
educação infantil e instituições de ensino superior na implementação de ações de Educação
Ambiental.
Neste contexto, a Resolução n° 2, de 15 de junho de 2012 estabeleceu as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental (DCNEA) e atribuiu as escolas de todos os
níveis e modalidade de ensino, o desafio de promover a inserção da Educação Ambiental no
currículo escolar (BRASIL, 2012). Tal mudança trouxe demandas também para as instituições
responsáveis pela formação docente, afinal, há necessidade de formar profissionais para a atuar
na Educação Básica que estejam comprometidos com as questões ambientais e que
compreendam a relação entre a sociedade e o meio ambiente de forma crítica e, ao mesmo
tempo, propositiva de ações que emergem no contexto da cultura e das práticas escolarizadas.
Reconhecendo a importância da Educação Ambiental para a sociedade, esta pesquisa
objetivou mapear, identificar e analisar as pesquisas desenvolvidas nas teses que enfatizam a
inserção da Educação Ambiental nos processos de formação de professores, com vistas a
melhor compreender o que essas teses têm revelado sobre a temática. Num recorte temporal
definido entre os anos de 1997 e 2017, no banco de dados da Biblioteca Digital Brasileira de
Teses e Dissertações (BDTD)1 do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia
(IBICT), realizou-se uma pesquisa do tipo Estado da Arte.
Para atingir o objetivo proposto, foi feito o levantamento das teses registradas na BDTD
e que atendessem aos parâmetros definidos para a busca. Para tanto, esta investigação utilizou
a abordagem qualitativa do tipo Estado da Arte, tendo como objeto de estudo a formação de
professores e a relação com a Educação Ambiental. Na pesquisa do tipo estado da Arte, ‘[...]
como o volume de produção pode ser grande, é usual, além de se estabelecer o campo de
pesquisa e o tema pesquisado, definir um período de pesquisa, e estabelecer uma determinada
fonte de dados’ (VOSGERAU e ROMANOWSKI, 2014, p. 171). Para analisar os dados
coletados, empregou-se a técnica de Análise de Conteúdo na perspectiva de Bardin (2011), que
se constitui em um conjunto de técnicas utilizadas na análise de dados qualitativos.
1
O IBICT desenvolveu e coordena a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), que integra os
sistemas de informação de teses e dissertações existentes nas instituições de ensino e pesquisa do Brasil, e também
estimula o registro e a publicação de teses e dissertações em meio eletrônico. A BDTD, em parceria com as
instituições brasileiras de ensino e pesquisa, possibilita que a comunidade brasileira publique e difunda suas teses
e dissertações produzidas no País e no exterior, dando maior visibilidade à produção científica brasileira.
2 MÉTODO E DISCUSSÃO DOS DADOS
Esta pesquisa adotou a abordagem qualitativa, do tipo Estado da Arte, configurada como
uma investigação, frequentemente adotada por pesquisadores de diferentes campos do
conhecimento, especialmente, na área da Educação, para melhor compreender o contexto em
que se insere um objeto ou um fenômeno. No caso do contexto brasileiro, o campo de pesquisa
da Educação Ambiental ainda é relativamente recente, ou, conforme aponta Arias-Ortega
(2013), é um campo teórico cuja a produção emerge de uma prática social dinâmica,
influenciada por inovações tecnológicas, culturais, políticas, ecológicas, entre outras, portanto,
um campo que está em constante construção e reconstrução, assumindo novos contornos e
ampliando suas intersecções com diferentes áreas de conhecimento.
Neste campo de alta dinamicidade, a pesquisa do tipo estado da arte permitiu um estudo
amplo, mas ao mesmo tento ajudou a resguardar as especificidades sobre a formação de
professores e a Educação Ambiental como temáticas centrais a serem analisadas. Este tipo de
pesquisa possibilitou a compreensão dos estudos sobre o tema e suas repercussões, assim como,
permitiu identificar e dimensionar os avanços e as lacunas do campo de pesquisa, conforme
apontam os estudos de Vosgerau e Romanowski (2014).
Os resultados desse tipo de pesquisa podem ser utilizados com diferentes objetivos e
aplicadas em pesquisas de diferentes tipos para compreender melhor a relação entre temas e
identificar sua incidência em diferentes momentos e contextos. No caso da pesquisa ora
apresentada, a educação e meio ambiente tomam relevo para a análise dos processos formativos
de novos professores. Neste formato de pesquisa, é possível interpretar os fenômenos
educacionais na sua essência, com maior profundidade e clareza, uma vez que o método
possibilita o estabelecimento de uma interpretação empírica e detalhada acerca do fenômeno,
auxiliando no entendimento e extração de variáveis acerca do objeto de estudo (WEBSTER e
WATSON, 2002; VOSGERAU e ROMANOWSKI, 2014).
A fim de identificar as teses voltadas à temática da pesquisa, foi realizada uma coleta
de dados online no Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) na
Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) para o mapeamento e à
identificação de teses na base de dados mencionada. O procedimento aconteceu na plataforma
digital da BDTD, utilizando-se da opção de busca avançada, recurso de filtragem
disponibilizado pela própria plataforma, com a inserção das palavras-chave: “formação de
professores” e “Educação Ambiental”. Especificou-se o recorte temporal para busca no período
compreendido entre os anos de 1997 a 2017 (vinte anos). A escolha do ano de 1997 para iniciar
a busca está relacionada à apresentação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) neste
ano pelo Ministério da Educação brasileiro. Tal documento teve como um de seus objetivos a
inserção de temas transversais no currículo das escolas, configurando-se com um marco para a
institucionalização da Educação Ambiental a partir do trabalho com o tema transversal “meio
ambiente”.
A plataforma da BDTD, ao receber as palavras-chave e o período de produção, mostrou
7.738 pesquisas realizadas em nível de mestrado e doutorado (Acadêmico e Profissional), esse
processo foi realizado no dia 15 de fevereiro de 2018. Diante deste resultado, procedeu-se uma
segunda etapa de busca. Foi feita uma análise criteriosa quanto ao conteúdo abordado a fim de
se identificar e separar apenas as teses para compor o corpus de análise, caso efetivamente
abordassem o tema focado. Neste momento, foram descartadas todas as pesquisas de mestrado
ou pesquisas de doutorado que não se relacionassem especificamente ao tema de busca, mesmo
apresentando as palavras-chave indicadas.
A partir desse processo de leitura foi composto o corpus de análise da pesquisa. Neste
conjunto, foram consideradas 62 teses que tratam especificamente de formação de professores
e da Educação Ambiental. A grande maioria das pesquisas que ficaram fora do corpus de análise
eram restritas a utilização de uma das palavras-chave associada a outros temas que não
apresentam relação com a investigação, como exemplo, Práticas Pedagógicas na Educação
Ambiental ou Educação Ambiental na escola.
A fim de analisar os dados, foram lidas as 62 teses. Posteriormente, direcionou-se o foco
para partes específicas, como a introdução, para averiguar o objeto da pesquisa, os teóricos que
dão sustentação à análise, metodologia utilizada e as considerações finais. Ao analisar a etapa
das conclusões em cada uma das pesquisas, se buscou compreender se os autores faziam uma
retomada do processo de investigação para responder ao seu problema de pesquisa, reunindo
os principais resultados para dar esclarecimentos finais. E, como a ciência é aberta a falhas e a
verificações, nessa parte do trabalho, geralmente, também foi possível identificar os pontos
fortes e as debilidades do estudo, bem como, as suas projeções.
A técnica de Análise de Conteúdo (AC) foi realizada nas considerações finais das teses
que compõe o corpus desta investigação. Este procedimento é descrito por Flick (2013, p. 134)
como um processo que tem por objetivo ‘[...] classificar o conteúdo dos textos alocando as
declarações, sentenças ou palavras em um sistema de categorias’. Na perspectiva de Bardin
(2011), a AC é composta por um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza
procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens. De acordo
com a autora, o objetivo de toda análise de conteúdo é o de assinalar e classificar de maneira
exaustiva e objetiva todas as unidades de sentido existentes no texto, além de permitir que
sobressaiam do documento suas grandes linhas e suas principais regularidades. As fases deste
processo, são apontadas por ela como: pré-análise, exploração do material e tratamento dos
resultados.
a) Pré-análise: tem por objetivo a organização. Esta fase apresenta a leitura “flutuante”,
a escolha dos documentos, a formulação das hipóteses e dos objetivos, a referenciação dos
índices e a elaboração de indicadores e a preparação do material. No caso desta pesquisa, o
primeiro contado foi com as 62 teses selecionadas para compor o corpus de análise de dados.
b) Exploração do material: segundo Bardin (2011, p. 131), esta fase pode ser
compreendida como ‘a fase de análise propriamente dita, não é mais do que a aplicação
sistemática das decisões tomadas. Quer se trate de procedimentos aplicados manualmente ou
de operações efetuadas por computador’. Neste momento da pesquisa, os elementos textuais
das teses analisadas foram codificados e organizados em categorias especificas, de acordo com
os objetivos previstos.
b.1. Codificação: é a organização sistemática que se realiza para posteriormente
classificar e categorizar os códigos criados, conforme aponta Bardin (2011, p. 14), trata-se de:
[...] uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto
por diferenciação e, em seguida, por reagrupamentos segundo o gênero
(analogia), com os critérios previamente definidos. As categorias são rubricas
ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos (unidades de registro, no
caso da análise de conteúdo) sob um título genérico, agrupamento esse
efetuado em razão das características comuns destes elementos.
Ou seja, nesta fase, se buscou identificar as categorias que emergiam com maior
frequência ao longo dos textos e indicar critérios para sua classificação.
b.2. Categorização: é um processo que permite que os códigos sejam agrupados,
segregados ou reagrupados com o objetivo de consolidar um significado. Na visão de Bardin
(2011), uma boa categorização apresenta qualidades como: a exclusão mútua, a
homogeneidade, a pertinência, a objetividade e a fidelidade e a produtividade. Nesta fase de
tratamento dos resultados, ‘[...] os resultados brutos são tratados de maneira a serem
significativos e válidos’ [...] e o pesquisador ‘[...] tendo à sua disposição resultados
significativos e fiéis, pode então propor inferências e adiantar interpretações a propósito dos
objetivos previsto ou que digam respeito a outras descobertas inesperadas’ (BARDIN 2011, p.
131).
c) Tratamento dos dados: nesta etapa da pesquisa, os códigos com maior incidência e
semelhança foram submetidos a quatro procedimentos adicionais, por meio da Análise de
Conteúdo (BARDIN, 2011), a saber: leitura detalhada dos resultados encontrados; análise
reflexiva, por parte dos pesquisadores, dos resultados das considerações finais das pesquisas;
identificação e criação dos grupos de categorias de convergência, para fins de consolidação de
um significado e criação de categorias de significados, realizada com apoio do software Atlas
Ti.
O software foi utilizado porque as teses apresentavam grandes quantidades de dados e,
segundo Gibbs (2009), este é um trabalho ideal para este tipo de ferramenta, pois proporcionam
formas estruturadas e bem delimitadas de análise. Segundo Lage (2011, p. 200) ‘[...] os
softwares de apoio à análise de dados em pesquisas qualitativas surgiram no cenário acadêmico
em torno de 1980, e desde então têm sido utilizados nas pesquisas, em especial no Estados
Unidos e na Europa’.
Nessa perspectiva de utilização do software Atlas Ti para análise de dados, Lage (2011,
p. 208) destaca que ‘[...] estas ferramentas computacionais tendem a ser especialmente úteis
quando se tem uma pesquisa qualitativa com grande volume de dados ou quando é necessário
cruzar informações a partir dos atributos dos sujeitos’. Contudo, Gibbs (2009) ressalta que da
mesma forma que um software de texto não escreve textos totalmente coerentes, o uso de
softwares pode tornar a análise mais fácil e precisa, entretanto, nunca irá realizar a leitura, a
conexão e a reflexão dos dados, assim como sua ligação com o objeto de estudo.
Adotou-se a Análise de Conteúdos como estratégia para compreensão dos dados por
considera-la adequada para fornecer indicadores úteis aos objetivos definidos, uma vez que
permite interpretar e dar sentido aos resultados. No caso desta pesquisa, a busca por entender
os estudos que relacionam a Educação Ambiental a formação de professores permitiu identificar
a presença de categorias que já haviam sido indicadas à priori, mas também o desvelamento de
outras que emergiram ao longo do processo. As categorias que foram criadas passaram a
constituir-se como indicadores para compreender a sua incidência nos resultados encontrados
nas teses.
Quadro 02 - Alguns fragmentos das teses que se referem ao código Educação Ambiental Crítica
CATEGORIAS TESE
‘Ao analisar as contribuições dos professores na formação continuada, Tese nº 60 (T60)
ressaltamos que, em um sentido particular à concepção educacional da escola,
pode-se considerar como crítica, todas as concepções pedagógicas divergentes a
prática educativa tradicional realizada na EA’.
‘Ao analisar os trabalhos desenvolvidos durante a especialização ficou evidente Tese nº 55 (T55)
que na Educação Ambiental crítica trabalha-se com uma visão sistêmica do meio
ambiente, compreendendo a sua totalidade complexa’.
‘Foi o observado que os professores realizam práticas da EA durante o processo Tese nº 14 (T14)
de ensino de forma descontextualizada com a problemática ambiental da
comunidade. Não trabalham dentro de uma abordagem de educação ambiental
crítica que possa ensinar os alunos a refletirem sobre os problemas ambientais da
comunidade na busca por solução e terem comportamento e atitude que favoreça o
meio ambiente dentro e fora da escola’.
‘O “professor F” durante o seu processo de ensino, contextualiza a educação Tese nº 07 (T07)
ambiental de forma crítica, relacionada à ação do homem sobre a natureza, que,
por sua vez, está imbricada na própria concepção que o homem tem de si e da
natureza, e das suas ações’.
Fonte: Quadro construído a partir dos dados coletados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa teve o objetivo de mapear, identificar e analisar as pesquisas
desenvolvidas nas teses de doutorado que tratam da Educação Ambiental nos processos de
formação de professores para atuar no contexto escolar. A partir dos resultados obtidos,
acredita-se na possibilidade de contribuir para que os profissionais da educação possam melhor
compreender a forma como se edifica parte de sua identidade profissional, com vistas a se
repensar futuras formações, orientadas pelas características e implicações que emergem da
relação entre a sociedade e o meio ambiente.
Ao reconhecer a importância social da formação de professores, também se anunciam
novos desafios para as instituições responsáveis por preparar estes profissionais para atuar em
diferentes contextos educacionais. Para que essas ações formativas se efetivem de forma
coerente com a realidade, é preciso que seja realizado um planejamento de ações pautadas na
conjuntura empírica das escolas e alinhadas ao que as pesquisas têm apontado, assim como, na
proposição de políticas públicas educacionais alinhadas com o ideário ambientalista e
comprometidas a construção de sociedades mais sustentáveis.
Os resultados deste estudo sobre o Estado da Arte das teses que tratam da inserção da
Educação Ambiental no contexto de formação dos professores no Brasil nos ajudam a
compreender algumas tendências sobre as propostas formativas que estão em andamento e que
foram pesquisadas. Sabemos que os resultados deste estudo são limitados pelos enfoques dados
por cada pesquisador e pela riqueza dos documentos que foram encontrados nas bases de dados,
ou seja, a pesquisa se limitou às 62 teses que cumpriam os requisitos de busca. Sem dúvida,
existem outras pesquisas que não foram desenvolvidas como teses de doutorado que poderiam
agregar outros elementos para a análise dos dados, no entanto, pelas características da pesquisa,
não foram incluídas no corpus de dados para a análise de conteúdo.
De acordo com os resultados desta pesquisa, a frequência de ocorrência dos termos
Trabalho Multidisciplinar e Educação Ambiental Crítica nos leva a afirmar que, essas
características metodológicas e teóricas, possuem relevância nos processos de formação dos
professores, provavelmente devido a evidências cada vez mais claras de uma crise ambiental e
dos movimentos sociais que decorrem desta problemática. À luz da análise de conteúdo
realizada, vimos que a Educação Ambiental está presente nas discussões institucionais sobre a
formação de professores desde o início dos anos 70, mas se intensificou a partir dos anos 90 e
2000.
Em resumo, as teses analisadas apontam para o papel inegável dos professores para a
inserção da Educação Ambiental nas escolas, e reforçam a necessidade de qualificação dos
processos de formação destes profissionais a partir de uma visão crítica da realidade e de uma
ação multidisciplinar, integradora de conhecimentos e visões de mundo. Ao fortalecer a
formação dos professores, por consequência também são criadas melhores condições para a
formação escolar e para cidadania de maneira mais ampla. Assim, pensar a formação de
professores sob novas perspectivas, denota não apenas um posicionamento ideológico, mas um
compromisso com a vida do planeta a partir da formulação de respostas sociais à crise
ambiental.
REFERÊNCIAS
1 INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, a emergência climática (EC2) 3 tem ocupado posição de destaque nos
mais diversos setores da sociedade devido a sua gravidade e urgência. Em 2015, durante a COP-
21 foi constituído o Acordo de Paris, um importante documento com a finalidade de subsidiar
as partes no que se refere às medidas a serem adotadas para limitar o aquecimento global em
1,5ºC. No ano de 2021, foi publicado o sexto relatório do Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas (IPCC), que fortalece a evidência da natureza antropogênica da mudança
do clima e prevê impactos consideráveis para o planeta que vão desde a elevação do nível do
mar, aumento do número e intensidade de eventos climáticos extremos, até dificuldades para a
manutenção da biodiversidade e do comprometimento da produção de alimentos no mundo todo
(IPCC, 2021).
Como se percebe, a comunidade científica tem se dedicado a sistematizar informações
relativas ao estado de EC atual. No entanto, os governos andam na contramão do que aponta a
ciência, conforme foi possível observar na última conferência do clima em Glasgow na Escócia
(COP-26). Diante do vasto repertório de conhecimentos científicos construídos sobre o tema
nas últimas décadas e, com maior ênfase nos últimos anos, esperava-se que os governos se
comprometessem com medidas mais drásticas, rápidas e efetivas para conter as emissões de
gases de efeito estufa, além de ações mais assertivas para que as nações pudessem adaptar as
consequências dos fenômenos oriundos da mudança do clima, inclusive uma maior cooperação
de países do norte aos países do sul global, já que esses últimos são os mais impactados pelos
problemas. Mas o que se percebe é que os compromissos políticos relacionados às pautas
2
Durante o texto utilizaremos também a sigla EC para nos referirmos ao termo “emergência climática”. A
utilização se faz para garantir fluência à leitura.
3
De acordo com Grandisoli et al. (2021), os conceitos de Crise Climática e de Emergência Climática são termos
que demandam de urgência e mobilização na busca por soluções e transformações do estado de degradação
socioambiental em que nos inserimos no contemporâneo, sobretudo as causas e consequências da mudança do
clima global. Para tanto, o contexto de Emergência Climática requer que discussões relativas à justiça climática,
a equidade, a atuação dos jovens, as migrações em massa em todo o mundo, a produção e consumo capitalista e
outras questões sejam problematizadas, o que por óbvio potencializa a complexidade dos fatos e, por conseguinte,
as respostas ante aos problemas.
ambientais e climáticas se mantêm reféns dos interesses econômicos, o Brasil é um importante
exemplo disso.
Ao mesmo tempo, fica em evidência que o fenômeno da EC tem se tornado um dos
principais problemas que ameaçam a sobrevivência dos seres vivos no planeta, sobretudo as
minorias marginalizadas historicamente em nossa sociedade. Sendo assim, tal problemática não
poderia passar despercebida pelos educadores ambientais, tendo em vista que a Educação
Ambiental (EA)4, enquanto dimensão da educação, tem potencial para contribuir com a
formação crítica dos sujeitos, visando a compreensão e atuação ante aos problemas
socioambientais que pululam em nossa sociedade contemporânea (BRASIL, 2012).
Autoras como Iared (2017) e autores como García-Venusia e Meira-Cartea (2019),
consideram que no contexto educativo brasileiro, a produção científica sobre a mudança
climática ainda se mostra incipiente. Como exemplo, poderíamos citar os trabalhos
desenvolvidos por Jacobi et al. (2011), Lima (2013), Reis e Silva (2016), Lima e Layrargues
(2014) e outros. Além da lacuna acadêmica sobre o tema, outro desafio percebido se refere ao
modo como a temática tem sido abordada nos espaços educativos como universidades e escolas.
Quando abordado, o assunto tem se pautado predominantemente nos conhecimentos científicos
sobre o sistema climático (IARED, 2017; MOSER; TORALES-CAMPOS, 2021). Mas isso,
não é uma característica exclusiva dos currículos brasileiros, conforme demonstram pesquisas
realizadas no âmbito do projeto “RESCLIMA: respostas educativas à mudança climática” que
investigam as representações sociais da população ante ao fenômeno em países como Espanha,
Portugal, México, Brasil e outros (GONZÁLEZ-GAUDIANO; MEIRA-CARTEA;
GUTIÉRREZ-PÉREZ, 2020; BELLO-BENAVIDES; MEIRA-CARTEA; GONZÁLEZ-
GAUDIANO, 2017; ESCOZ-ROLDAN; GUTIÉRREZ-PÉREZ; MEIRA-CARTEA, 2020;
BELLO-BENAVIDES et al., 2021).
Notoriamente, a abordagem hegemônica sobre o assunto se aproxima muito dos
pressupostos de uma macrotendência conservadora5 de Educação Ambiental, que de forma
característica fragmenta e cerceia a complexidade das questões ambientais em uma única
dimensão, geralmente, a natural. Essa vertente marca o surgimento do campo e tem sido
bastante representativa na maioria das práticas educativas que se preocupam com os problemas
ambientais (LAYRARGUES; LIMA, 2014; GONZÁLEZ-GAUDIANO; MEIRA-CARTEA,
2020). Desse modo, o processo educativo tem sido norteado por aquilo que Morin (2000)
4
Durante o texto utilizaremos também a sigla EA para nos referirmos ao termo “Educação Ambiental”. A
utilização se faz para garantir fluência à leitura.
5
Sobre as macrotendências de Educação Ambiental recomendamos ao leitor o artigo de Layrargues e Lima (2014).
denomina de paradigma simplificador do conhecimento, pelo qual diante da complexidade do
fenômeno ambiental, os conhecimentos são fragmentados em partes para serem estudados. Essa
objetivação unicamente cartesiana do conhecimento reduz os saberes e inviabiliza que os
sujeitos consigam compreender toda a complexidade que envolve a realidade estudada e de
como estes assuntos podem influenciar nosso contexto.
Nessa tessitura, esta pesquisa teve as seguintes questões norteadoras: Qual o estado de
conhecimento sobre as pesquisas em Educação Ambiental no Brasil que se dedicaram em
compreender a emergência climática nas últimas décadas? Quais os principais desafios e
perspectivas para o campo? Para responder a essas interrogantes, este estudo qualitativo se
configura como uma pesquisa bibliográfica, realizada a partir de materiais já publicados (artigos
científicos publicados em bases de dados) como fontes secundárias de informação (GIL, 2012).
Esta pesquisa se enquadra na modalidade de estado do conhecimento, pois busca
identificar e analisar com viés crítico o conhecimento produzido em determinado campo de
pesquisa (ARAÚJO; FERST; VILELA, 2021), que neste caso, é representado pelo
conhecimento produzido sobre a emergência climática/mudança climática no contexto da
Educação Ambiental brasileira em três bases de dados. Desse modo, nos apropriamos da
pesquisa do tipo estado do conhecimento na intenção de compreender os desafios e as
perspectivas relacionadas ao conhecimento já produzido sobre o tema (ROMANOWSKI; ENS,
2006).
Para tanto, utilizamos as bases de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO),
Red de Revistas Científicas de América Latina y el Caribe, España y Portugal (Redalyc) e
Diretório de Revistas Eletrônicas de Acesso Livre (DOAJ), que disponibilizam em suas
plataformas na internet um relevante acervo relativo à produção científica brasileira. O acesso
aos bancos de dados ocorreu por via CAFeCapes, através do portal de periódicos da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Para realização desta
investigação, selecionamos os artigos publicados entre os anos de 2000 e 2021 que continham
em seus títulos, resumos ou palavras-chaves os termos “Aquecimento Global”, “Mudança
Climática”, “Crise Climática” ou “Emergência Climática” associados com o termo “Educação
Ambiental”.
No primeiro momento, apresentamos uma breve caracterização dos estudos encontrados
e que compuseram o corpus de análise da pesquisa. No segundo, tecemos uma interpretação
hermenêutica na intenção de evidenciar os principais desafios e perspectivas que emergiram a
partir da leitura e conhecimento de mundo dos pesquisadores a respeito do fenômeno
investigado.
2 CARACTERIZAÇÃO DOS ESTUDOS
Inspirados nas palavras dos autores mencionados, este tópico tem a intenção de
apresentar ao leitor algumas das perspectivas atribuídas ao campo da Educação Ambiental e,
que ao nosso olhar, se fazem necessárias para a abordagem da EC em contextos educativos.
Autores como Lins e Lisoviski (2010) e Jacobi et al. (2011) citam a necessidade de se
potencializar o processo de formação inicial e continuada de professores no que tange ao
desenvolvimento de subsídios teóricos e práticos compatíveis com a interdisciplinaridade e
transdisciplinaridade que demanda o contexto de emergência climática. Para Jacobi et al.
(2011), ações deste cunho podem contribuir para que professores possam planejar de modo
mais efetivo os caminhos pedagógicos adequados à construção de saberes e atitudes ante ao
problema, desde a educação infantil até a educação superior. Nessa direção, são pontuadas
iniciativas impulsionadas pelo Plano Nacional de Mudanças Climáticas como o Projeto Escolas
Sustentáveis (CGEA-MEC) que foi um importante exemplo de inserção da discussão sobre a
problemática na sociedade.
Na intenção de transversalizar a questão climática no currículo escolar, Jacobi et al.
(2011, p. 145-146) apresentam alguns pontos a serem considerados pelos processos de
formação inicial e continuada e pelas práticas sociais. Os autores consideram como necessário
ao campo da Educação Ambiental em interface com a mudança climática em nosso país:
● expandir o número de ações educativas, em nível local e regional, a
partir das ações propostas nas Conferências e do Plano Nacional;
● produzir, ampliar e disseminar materiais didáticos adequados, cursos
de formação docente e debates sobre questões pedagógicas, principalmente
em relação ao que se pretende ensinar e aprender com relação à problemática;
● adaptar e desenvolver programas educativos que incluam temas da
diversidade regional, como o caso do Brasil, e sobre o modo de vida urbano e
sua lógica de insustentabilidade;
● criar espaços educadores de educação formal e informal para que a
educação, em diferentes estágios, contribua para o pensamento crítico e a
habilidade para resolução de problemas em direção à meta da construção de
sociedades sustentáveis e para fazer frente às mudanças climáticas;
● implementar políticas públicas efetivas e integradas de meio ambiente,
Educação Ambiental e educação;
● estabelecer acordos internacionais e apoio e recursos a programas de
mitigação e adaptação ao aquecimento global, de acordo com as realidades e
vulnerabilidades a que as populações estão expostas;
● desenvolver parcerias efetivas na elaboração de programas e projetos
com governos, universidades, redes e movimentos sociais, para manter e
fortalecer a mobilização social e a disseminação de informações sobre as
mudanças do clima;
● desenvolver algumas práticas individuais e coletivas de enfrentamento
e mitigação dos efeitos das mudanças.
Jacobi (2014) considera uma práxis educativa que seja engajada e política, ou seja, capaz
de abrir espaço para o fortalecimento de eixos interdisciplinares que teçam uma nova cultura
climática, desde uma perspectiva sistêmica e complexa. Uma tarefa desafiadora, mas que do
ponto de vista de uma aprendizagem social ativa, poderá ampliar a constituição de identidades
individuais e coletivas dos sujeitos em espaços sociais e de debates sobre a emergência
climática, em especial, por meio de caminhos interdisciplinares orientados para a
sustentabilidade e pautados em laços de cooperação e de confiança. Nesse sentido, o autor
aponta que a ênfase na abordagem da complexidade do problema se constitui como uma
importante ferramenta na busca por novas alternativas de construção de conhecimento, além de
promover uma inflexão na estrutura hegemônica de educação que gera uma abordagem
tradicional do fenômeno.
Nessa ótica, trata-se, portanto, de instigar por meio de práticas pautadas na
complexidade a compreensão do conhecimento pertinente sobre os problemas e a perspectiva
de se construir uma postura cooperativa dos sujeitos em relação aos problemas que emergem
da relação entre a sociedade e o ambiente, favorecendo assim a expansão de novas
mentalidades, saberes e atitudes (JACOBI, 2014).
Acredita-se que quando pautadas nos pressupostos de criticidade (GUIMARÃES, 2004;
LOUREIRO, 2018), reflexividade (BECK, 2010) e complexidade (MORIN, 2000), a Educação
Ambiental contribui sobremaneira com a formação do que Carvalho e Watanabe (2019)
denominam de indivíduos contemporâneos, os quais seriam subsidiados por habilidades e
competências essenciais para compreender e atuar ante as necessidades que emergem na
atualidade, visando transformar a realidade em que estão inseridos. Dessa forma, a educação
estaria contribuindo para que as práticas educativas superassem cada vez mais os modelos
pautados num paradigma simplificador de mundo - como por exemplo os desafios elencados
neste trabalho, para dar lugar a uma práxis ambiental voltada para a justiça e equidade social
planetária.
Sabe-se que iniciativas com esses direcionamentos não se revelam tarefas fáceis de
serem concretizadas nos espaços educativos como escolas e universidades, sobretudo em
detrimento da abordagem disciplinar presente nos currículos que norteiam a aprendizagem dos
estudantes. Conforme destacam Lima e Torres (2021), sem a constituição de um espaço
adequado a questão ambiental no currículo, a educação tem poucas chances de avançar sobre o
tema. Diante disso, autores como González-Gaudiano, Meira-Cartea e Gutiérrez-Pérez (2020,
p. 860, grifo nosso) sinalizam a importância de se construir uma nova matriz de orientação
curricular, a fim de subsidiar a abordagem da emergência climática perpassando por três eixos
essenciais: o social, o científico e o político.
Para os autores, ao considerar uma nova postura educativa que perpasse por essa tripla
hélice, a educação estaria comprometida em educar para a complexidade do contexto de
emergência climática atual, vislumbrando novos cenários, mais rápidos e efetivos de
transformação planetária. Para tanto, Lima e Torres (2021) complementam que seria pertinente
internalizar as questões socioambientais que emergem na contemporaneidade e tratá-las em sua
complexidade, desde uma perspectiva que considere toda a sua essencialidade, historicidade,
origem e dimensionalidades.
Nesse viés, problemas oriundos do avanço do modelo capitalista como a própria
emergência climática e outros problemas interconectados como as desigualdades sociais e
injustiças climáticas, crise da perda da biodiversidade, ataques aos povos tradicionais,
mudanças na matriz energética dos países e riscos pandêmicos, são tópicos em potencial para
serem problematizados sob uma perspectiva crítica e complexa da Educação Ambiental, desde
que respeitadas as faixas etárias e dimensão psicopedagógica dos estudantes para que possam
compreender e assimilar da melhor forma o conhecimento construído (LIMA; TORRES, 2021).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1 INTRODUÇÃO
6
Informações disponíveis no portal: http://www.portalanpedsul.com.br/
7
Informações disponíveis no portal: https://www.furb.br/web/5469/anped-sul/apresentacao
Encontro de Pesquisa em Educação Ambiental - EPEA8, e da constituição de redes de
articulação entre os pesquisadores como a Rede Paranaense de Educação Ambiental – REA-
PR9 e a Rede Sul Brasileira de Educação Ambiental - REASUL10.
Não foi possível estimar a data de criação do eixo nos documentos consultados. No
entanto, ao analisar o histórico dos eventos da Anped-Sul, foi identificada alterações entre o
período de 2006 e 2008, com a realização do VI Seminário da Anped-Sul realizado em Santa
Maria/ RS e posteriormente o VII Seminário na Universidade do Vale do Itajaí/ SC. Nesse
último evento, uma das alterações na organização do evento foi a ampliação de 14 para 19 eixos
temáticos, sendo a Educação Ambiental, o Eixo 17. Destaca-se ainda nesse processo, a presença
de relevantes pesquisadores do campo da EA na Universidade do Vale do Itajaí nesse processo
de consolidação da EA como eixo temático, como os professores José Erno Taglieber
(TAGLIEBER, 2003) e Antônio Guerra, que na época mobilizaram a Rede Sul Brasileira de
Educação Ambiental - REASUL.
8
O primeiro EPEA ocorreu em 2001 na UNESP Rio Claro. Informações disponíveis em: http://www.epea.tmp.br/
9
A Rede Paranaense de Educação Ambiental foi organizada em 2003. Informações disponíveis em:
http://www.comscientia-nimad.ufpr.br/2006/01/artigos/sintese_da_rea-parana.pdf
10
A REASul foi criada em julho de 2002, pelo projeto Tecendo Redes de Educação Ambiental na Região Sul
(Convênio com o Fundo Nacional do Meio Ambiente FNMA).
de pesquisadores, que revelam repertórios comuns e sentidos compartilhados nos discursos em
EA (TRISTÃO, CARVALHO, 2009).
Na sequência apresentamos o estudo sobre os discursos e repertórios expressos nas
publicações das pesquisas sobre EA do coletivo de pesquisadores que integraram as últimas
edições do Eixo 17 da ANPEd-Sul.
3 CAMINHOS METODOLÓGICOS
A primeira etapa desse percurso consistiu no acesso aos trabalhos publicados, ou seja,
buscamos compreender quando, como e quais dados tínhamos disponíveis para efetuar nossa
revisão. Ao navegarmos no site da ANPEd, mais especificamente nos anais das reuniões
regionais, percebemos que somente estavam publicadas as regionais de 2016 adiante. Em
contato com a secretaria executiva da ANPEd para nos informarmos sobre outras possibilidades
de acesso aos anais anteriores, fomos informadas que as regionais foram incorporadas a ANPEd
Nacional a partir de 2016 e que dados anteriores a esta data não estavam disponibilizados no
site. Caso quiséssemos ter acesso, poderíamos contactar as instituições que sediaram cada
edição regional, uma vez que ficavam encarregadas da hospedagem dos dados.
No processo de busca, encontramos materiais bibliográficos recentes que apresentavam
o histórico dos eventos, redes e pesquisas mobilizadas por pesquisadores na região Sul, os quais
foram referência para redação do tópico anterior, A constituição e a relevância do Eixo 17 na
ANPEd-Sul. Diante disso, optamos por trabalhar com os dados disponíveis no site da ANPEd
Nacional e, assim, os elencamos:
1-) 11ª Reunião Regional da ANPEd-Sul, realizada em Curitiba - Paraná na
Universidade Federal do Paraná entre 24/07/2016 e 27/07/201611.
2-) 12ª Reunião Regional da ANPEd-Sul, realizada em Porto Alegre- Rio Grande do
Sul na Universidade Federal do Rio Grande do Sul entre os dias 23/07/2018 e 26/07/201812.
3-) 13ª Reunião Regional da ANPEd-Sul, prevista para ser realizada em Blumenau -
Santa Catarina na Universidade Regional de Blumenau. Todavia, devido a pandemia causada
pelo vírus Sars-CoV-2, foi realizado de maneira virtual entre os dias 22/03/2021 e 24/03/202113.
Pautadas na análise de conteúdo de Bardin (2010), a revisão ocorreu entre outubro e
dezembro de 2021 e envolveu um processo de leitura e releitura dos materiais com a finalidade
11
Os trabalhos podem ser acessados em: http://www.anpedsul2016.ufpr.br/trabalhos-completos-eixo-17-
educacao-ambiental/
12
Os trabalhos podem ser acessados em: http://anais.anped.org.br/regionais/p/sul2018/trabalhos
13
Os trabalhos podem ser acessados em: http://anais.anped.org.br/regionais/p/sul2020/trabalhos
de categorizar os resumos e trabalhos completos a partir de unidades de significado. Dessa
maneira, este estudo analisou os trabalhos buscando levantar os seguintes parâmetros de
análise:
- Número de trabalhos publicados por ano.
- Universidades envolvidas.
- Localização estadual dessas universidades.
- Contexto de desenvolvimento do trabalho.
- Temas de pesquisa.
- Grupos/ participantes de interesse da pesquisa.
Algumas informações extraídas desse processo de revisão foram formuladas a priori,
por exemplo, número de trabalhos publicados em cada ano, universidades envolvidas e sua
localização. Os outros parâmetros foram delineados a posteriori em um processo de leitura
flutuante dos materiais. Portanto, tanto os parâmetros de análise (contexto de desenvolvimento
do trabalho, temas de pesquisa e grupos/ participantes de interesse da pesquisa), bem como as
categorias dentro de cada um, emergiram durante o processo de revisão. No Quadro 01,
elencamos os parâmetros e suas respectivas categorias:
Quadro 1 - Parâmetros e categorias de análise da revisão dos trabalhos publicados na ANPEd-Sul (2016-2021)
Parâmetros Categorias de análise
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tabela 1 - Número de artigos por universidade de origem em anais do Eixo 17 da ANPEd-Sul (2016-2021)
Universidades 2016 2018 2021
FURG 12 6 5
Unisul 1 0 0
PUCPR 1 1 0
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-Rio-Grandense 1 0 0
Universidade Tuiuti do Paraná 1 1 1
UFPR 2 1 1
UFRGS 1 0 0
Universidade Luterana do Brasil 1 1 0
Universidade do Planalto Catarinense 1 0 0
UTFPR 1 0 0
UNILASALLE 0 1 0
Universidade Federal do Pampa 0 1 0
UNESC 0 0 1
UNINTER 0 0 1
Fonte: Elaborado pelo autoras
Tabela 2 - Número de apontamentos dos contextos encontrados nos trabalhos publicados em anais do Eixo 17 da
ANPEd-Sul (2016-2021)
Contextos 2016 2018 2021
EA em escolas 10 2 3
EA em UCs 3 1 0
EA em museus 1 0 0
EA no Ensino Superior 2 2 0
Revistas, reportagens, jogos 3 3 1
EA com grupos tradicionais e/ou 2 0 1
movimentos sociais
EA em instituição de 0 0 1
acolhimento
Fonte: Elaborado pelo autoras
Quanto aos temas de pesquisa, identificamos uma ampla distribuição entre as categorias
analisadas ao longo das edições (TABELA 3). Em algumas edições, como a de 2016, observa-
se uma predominância de trabalhos que tratam de fundamentos teóricos e metodológicos da EA
e das análises de dispositivos de sustentabilidade.
Tabela 3 - Número de apontamentos dos temas de pesquisa encontradas nos trabalhos publicados em anais do
Eixo 17 da ANPEd-Sul (2016-2021)
Temas de pesquisa 2016 2018 2021
Fundamentos teóricos e/ou metodológicos em EA 5 4 1
Ambientalização curricular 3 2 0
Políticas públicas em EA 1 1 1
Justiça Ambiental 3 0 0
Ecofeminismo 0 1 2
EA e Ensino em Ciências 1 0 0
Estado da Arte/ pesquisa bibliográfica 3 0 2
Percepção ambiental/ Concepção de EA/ Representações de ambiente 4 2 2
Formação de professores/ educadores 0 1 4
EA e Artes 1 0 1
Análise de dispositivo da EA ou sustentabilidade 6 2 0
Uso de Tecnologias da Informação e Comunicação 1 0 0
Avaliação em EA 1 0 0
Fonte: Elaborado pelo autoras
Essas diversidades de linhas de pesquisa já são apontadas por outros trabalhos como
Farias, Carvalho e Borges (2018) e Tristão e Carvalho (2009). Como bem salienta Carvalho
(2020):
Esses resultados indicam que as características da EA como subárea da educação
seguem as tendências da grande área da educação, no Brasil. Assim, podemos afirmar
que a pesquisa em EA, com suas especificidades, é parte orgânica e traz em si as
marcas histórico-sociais atinentes ao desenvolvimento da pesquisa em educação e do
sistema de Pós-Graduação no Brasil (p. 43).
Tabela 4 - Número de apontamentos dos grupos/ participantes de interesse da pesquisa encontrados nos trabalhos
publicados em anais do Eixo 17 da ANPEd-Sul (2016-2021)
Grupos/ participantes de interesse da pesquisa 2016 2018 2021
Crianças 4 2 2
Mulheres 0 1 2
Jovens/ adolescentes 1 0 0
Comunidades tradicionais (pescadores tradicionais/artesanais, quilombolas, 2 0 0
extrativistas)
Pessoas com deficiência 1 0 0
Professores/ Gestores de escola 3 1 2
Comunidade universitária 1 1 0
Educadores/ assistentes sociais 0 1 1
Educadores ambientais 0 0 1
Fonte: Elaborado pelo autoras
Gráfico 3- Número de apontamentos dos temas de pesquisa dos grupos de pesquisa participantes do evento
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nosso objetivo neste trabalho foi apresentar uma revisão das produções do Eixo 17
(Educação Ambiental) nos Encontros Regionais da ANPEd-Sul. Tendo em vista a falta de
registro histórico sobre a criação do Eixo 17, do relativo pouco tempo de existência do mesmo
e da falta de acesso aos anais de anos anteriores a 2016, compreendemos que este capítulo se
configura como uma importante contribuição ao traçar um primeiro panorama da produção
científica em educação ambiental na ANPEd-Sul, o qual se constitui como um espaço
representativo para discussões, constituição de um coletivo de pesquisadores da Região Sul e
militância do campo.
Retomando o conceito de geo-epistemologia, a compreensão da configuração do campo
de pesquisa da educação ambiental na Região Sul justifica e legitima a criação de um Eixo
específico na ANPEd-Sul. Produções específicas emergem a partir de pesquisadores e
programas de pós-graduação que se localizam nessa região, demonstrando o quanto a Região
Sul é um polo de referência para a educação ambiental no Brasil.
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THIEMANN, Flávia Torreão; CARVALHO, Luiz Marcelo; OLIVEIRA, Haydée Torres
Environmental education research in Brazil. Environmental Education Research, v. 24, n.
10, p. 1441-1446, 2018.
ECOPEDAGOGIA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: ENTRE A ESSÊNCIA E A
REALIDADE
Ivo Dickmann
Ana Maria de Oliveira Pereira
Taiane Aparecida Ribeiro Nepomuceno
Terezinha Corrêa Lindino
1 INTRODUÇÃO
Este texto traz uma breve análise de artigos publicados em periódicos de língua
portuguesa sobre a Ecopedagogia, suas abordagens e reflexões acerca do foco das pesquisas
dos últimos 20 anos, da relação entre ser humano e natureza na perspectiva ecopedagógica.
Cremos que os leitores deste capítulo terão uma introdução à Ecopedagogia e de suas
aproximações e distanciamentos com a Educação Ambiental.
Nesse sentido, o objetivo principal deste capítulo é demonstrar como os pesquisadores
brasileiros têm se apropriado da Ecopedagogia em relação com a Educação Ambiental,
analisando o seu avanço em produção de temáticas relacionadas à Ecopedagogia ou a
consolidação de novos autores de referência.
A busca foi realizada tomando os anos 2000-2021 como referência, no Google
Acadêmico e no ResearchGate, buscando artigos que continham a palavra Ecopedagogia em
seu título e fossem ligados à Educação. Ela resultou uma amostra final de quatorze artigos
científicos que foram organizados e analisados em sua contribuição para a Ecopedagogia. Como
toda busca, é possível que algo possa ter ficado de fora, mas acreditamos que esses artigos já
constituem um conjunto de referência para se iniciar pesquisas em Ecopedagogia.
Para alcançarmos essa meta, dividimos o texto em três partes: a primeira que apresenta
em linhas gerais o que é a Ecopedagogia e sua problematização atual - inclusive a expansão da
temática socioambiental que estamos produzindo - mostrando que já há, embora de forma
inicial, uma reinvenção da Ecopedagogia; a segunda é a apresentação sistemática dos artigos
pesquisados e suas abordagens da Ecopedagogia e, por fim, uma síntese analítico-crítica dos
limites e potenciais da produção científica sobre o tema, apontando possíveis novas
investigações.
3 PEDAGOGIA DA SISTEMATIZAÇÃO
A Educação Ambiental, como componente obrigatório e processo institucionalizado
pela Lei no 9795/99, no Brasil, já demonstrou claros sinais de esgotamento. Isso não significa
dizer que o Brasil retrocedeu neste quesito, mas que apesar de ter avançado no debate teórico
em comparação a outros países, mostra-se estagnado em aspectos práticos, como se estivesse
em um movimento contínuo e repetitivo, sem resultados evidentes.
Nesse sentido, a Ecopedagogia emerge como uma base de princípios e valores da/para
a vida cotidiana, na busca de superação do imediatismo e falsa impressão de convivência
harmônica, cuja se assinala por uma sociedade egoísta, do julgamento, do cancelamento e do
auto interesse. Certamente, a crise ambiental na qual passamos pode ser interpretada como uma
crise da razão, do conhecimento, da falta de sentido e da insustentabilidade (CAPRA, 2006).
O próprio conceito de Ecopedagogia externaliza um processo educativo voltado para a
casa comum, o planeta. Embora o conceito esteja correto, a noção ofertada a ele é incompleta,
especialmente do ponto de vista da práxis humana capitalista, a qual influencia os modos de
ser, pensar e agir.
E, justamente nessa perspectiva, os valores ecopedagógicos se voltam como um forte
compromisso de ressignificação de ser no planeta. Quanto a isso, cabe esclarecer que ser é mais
que uma condição, do que um dever.
Consiste, pois, nas diferentes identidades e características intrínsecas, construídas ao
longo da vida, as quais são influenciadas pelo mundo que nos cerca. Isso remete ao conceito de
cidadania planetária, o qual consiste em um desafio extremamente complexo. Este conceito,
utilizado por Gadotti para “[...] expressar um conjunto de princípios, valores, atitudes e
comportamentos que demonstram uma nova percepção da Terra como uma única comunidade”
(GADOTTI, 2005, p. 5), vai além da própria capacidade de compreender tudo que está ao nosso
campo de visão.
É um conjunto de ideais que envolve inicialmente o próprio sujeito, em seu contexto
interior e peculiar, do ato cotidiano de romper diariamente ciclos viciosos e degradantes ao
meio ambiente; capaz de transformar sentidos de compreensão partidários, filosóficos e acerca
do capitalismo destrutivo. Porém, antes de adentrar a perspectiva de cidadania planetária, é
preciso reconsiderar qual a conjuntura atual de cidadania que a sociedade incorpora, pois,
obviamente, antes da cidadania planetária, é preciso fortalecer a dimensão de cidadania em si.
E, acredita-se, além disso, este conceito precisa ser ressignificado, visto que o conceito
de cidadania oferta o sentido de direito e dever, ou seja, tudo que podemos fazer e os tipos de
obrigações, não porque ofertamos significado às ações, mas pelo fato de sermos punidos
(financeiramente) por esta ou aquela ação.
Ao considerar a Ecopedagogia como saída para pensar o ambiente e superar o modelo
capitalista de cidadania, ela possibilita a inserção de práticas ambientais ressignificadas, em
relação ao território de vivência e identidade dos praticantes. Defendemos aqui que não é
necessário criar novas teorias; mas, sim, novas práticas que se opõem à lógica mecanicista,
estática e ideológica da atual Educação Ambiental. Nesse contexto, mais do que compreender
a magnitude das ações em uma escala maior, “[…] é saber o que fazer, como fazer e quando
fazer” (GUTIÉRREZ; PRADO, 2013, p. 125).
Para a análise proposta, foram analisados 14 textos científicos, publicados em língua
portuguesa, em um recorte temporal de 2000 a 2021, conforme o Quadro 1.
REFLEXÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Terra e cultura da sustentabilidade. Revista Lusófona de
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA COMO INOVAÇÃO EDUCACIONAL: UMA
CONTRIBUIÇÃO AO DEBATE
José Bittencourt da Silva
Philippe Pomier Layrargues
1 INTRODUÇÃO
A inovação é uma realidade peculiar à vida moderna. Este é sem dúvida o sentido mais
trivial que se pode observar quanto ao uso cotidiano da palavra inovação. De fato, ao se tomar
como referência separadamente este termo, muito provavelmente seu significado estará
associado à ideia comum de novidade ou atualidade, quase sempre relacionada às novas
tecnologias. Coligado a esse senso comum que coloca a inovação como criação de coisas novas,
tem-se também uma certa consciência coletiva que associa este significado de inovação a uma
suposta capacidade individual que certas pessoas possuem de inventar artefatos mais funcionais
para a vida econômica das sociedades atuais.
Há também uma visão mais refinada desse senso comum que associa o termo inovação
com empreendedorismo e inventividade voltados à produção de mercadorias capazes de
realização no mercado consumidor. Neste caso, inovação relaciona-se a novas mercadorias,
desejáveis e com potencial de compra pelos consumidores. O relógio de pulso seria um exemplo
clássico nesse sentido. Foi uma novidade, moderna e desejada, a qual despertou (e ainda
desperta) a vontade de consumo das pessoas. Todavia, o relógio de pulso com telefone acoplado
não poderia ser caracterizado como inovador. Ele foi uma novidade, com certa funcionalidade,
mas não despertou o desejo dos consumidores.
A contribuição dos dicionários físicos e virtuais para essa percepção usual de inovação
como coisa nova tem sido marcante. O dicionário online de português apresenta o verbete
inovação como sinônimo de novidade, aquilo que é novo, o que apareceu recentemente
(INOVAÇÃO, 2018). A hegemônica ideia de inovação como coisa nova, como novidade,
atualidade pode ser historicamente associada à própria modernidade (BERMAN, 1986),
enquanto resultado do movimento cultural europeu ocidental de racionalização das múltiplas
esferas da vida social (WEBER, 2005). Neste cenário, a ideologia positivista do progresso
associou umbilicalmente a ideia de inovação com desenvolvimento, incremento produtivo e até
mesmo evolução e aperfeiçoamento moral (TEIXEIRA, 2010).
Por outro lado, esse conceito pode também ser associado à modernização, enquanto
processo peculiar ao modo capitalista de produção. A esse respeito Marx e Engels (1998, p. 10-
11) já apontavam que “A burguesia não pode existir sem revolucionar continuamente os
instrumentos de produção, portanto as relações de produção e, assim, o conjunto das relações
sociais”. De fato, no modo capitalista de produção o discurso da inovação, enquanto atualidade
que se autorrenova, pode ser percebido como uma ideologia dominante, a qual possui uma
materialidade existencial peculiar ao sistema como um todo.
Nestes termos, inovar seria criar novas tecnologias, insumos, processos e etc., capazes
de revolucionar o que ficou estável no âmbito da produção durante um certo tempo,
potencializando o trabalho enquanto componente das forças produtivas, objetivando o
desenvolvimento econômico de uma empresa.
A mola que impulsiona o desenvolvimento capitalista é a concorrência entre
os capitais privados pelo domínio dos mercados em que atuam. Nessa luta, a
superioridade técnica é um dos elementos determinantes da competitividade.
Por isso, as empresas capitalistas investem muito em P&D [pesquisa e
desenvolvimento]. Embora, ao fazerem isso, as empresas visem apenas ao
lucro, elas acabam possibilitando persistente avanço do conhecimento
científico. Por consequência, o desenvolvimento, entendido como processo de
fomento de novas forças produtivas [inovação], é cada vez mais intenso [...]
(SINGER, 2004, p. 10).
Em tempos de neoliberalismo a ideia de inovação passa a ser essencial à disputa
burguesa pelos mercados. Ao pesquisar a questão da produção científica no Brasil no contexto
neoliberal, Oliveira (2014, p. 2) percebeu que este debate não pode prescindir da categoria
inovação, tida como conceito-chave das políticas científicas neoliberais. Não apenas no Brasil,
mas em todo o mundo globalizado, a valorização conceitual da ideia de inovação é tomada
como essencial para o desenvolvimento econômico – para a competitividade das empresas, o
crescimento do PIB, a geração de empregos, etc. Na competição entre os países, só pode “se dá
bem” aqueles que lideram processos inovadores nas diferentes esferas da vida material.
A ideologia neoliberal associa a inovação à ideia de incremento produtivo, aumento da
capacidade de transformação da natureza em mercadorias e, portanto, a criação de riqueza. Por
isso a efetiva realização da inovação nas formações sociais capitalistas é fundamental, tanto no
âmbito do consumo (território de realização das mercadorias), mas fundamentalmente no
contexto do processo produtivo como condição sine qua non para a sobrevivência das empresas
no contexto concorrencial entre os capitais.
É evidente que o prestígio social, o poderio político e econômico das classes dominantes
condiciona o conjunto simbólico da subjetividade coletiva como um todo (ideias, pensamentos
e valores). Gramsci diria que é a dominação burguesa pela hegemonia, condição indispensável
à manutenção das relações de classe (GRAMSCI, 2002). Aliás, a esse respeito Marx e Engels
(1998) apontaram de maneira conclusiva que as ideias dominantes em dada época são as ideias
dominantes das classes dominantes. “Que outra coisa prova a história das ideias senão que a
produção intelectual se reconfigura com a produção material? As ideias dominantes de uma
época foram sempre tão somente as ideias da classe dominante”.
No processo de socialização dos indivíduos na formação social capitalista, a visão de
mundo das classes dominantes é hegemonizada por meio de seus aparelhos, estes edificam em
cada pessoa individual um conjunto de ideias que servem para guiar seus pensamentos e ações,
os quais aparecem fenomenicamente como subjetividade própria de cada um, que na verdade
representa um posicionamento de classe, no caso das classes dominantes (ALTHUSSER,
1980). Como se observa, o conceito hegemônico de inovação, que hoje está presente no senso
comum brasileiro, configura-se também como um componente importante do discurso
ideológico das classes dirigentes na sociedade burguesa neoliberal da atualidade.
Se na esfera econômica capitalista há, em certa medida, um consenso quanto ao
significado de inovação relacionado à novidade, processo produtivo, produção, mercado,
consumo etc., no campo educacional não é possível dizer a mesma coisa. De fato, observa-se
que existe uma polissemia quanto ao sentido desta palavra quando associada aos processos que
se estabelecem no contexto da educação escolar (NOGARO; BATTESTIN, 2016; TAVARES,
2019). Então, o que se pode entender conceitualmente por inovação quando se relaciona esta
palavra com os processos formativos escolares?
Marx e Engels deixam um mote importante para se pensar a questão da inovação em
sua interface com o campo da educação escolar, ou seja, é imperativo pensar a escola e
sociedade de modo relacional e indissociável. Assim, para que se analise criticamente a
categoria inovação no âmbito educacional, olhando para as escolas ou os sistemas de ensino,
faz-se necessário pensar a inovação escolar em sua interface com a sociedade na qual ela está
inserida, bem como as contradições internas e estruturais a sua existência.
Academicamente, a trajetória de construção do sentido da ideia de inovação educacional
apresenta conflitualidades e tensões que refletem o próprio movimento de sua construção como
categoria científica, a qual depende invariavelmente do ponto de vista sociopolítico e
acadêmico-científico do sujeito cognoscente. O esforço teórico para se construir essa categoria
de análise de maneira estável e consensual, esbarra nessa disputa constante pelo seu sentido e
significado. É possível então firmar que a compreensão daquilo que se entende por inovação
educacional, dependerá do referencial teórico tomado pelo pesquisador, assim como por sua
posição política e ideológica.
Antes de tudo, faz-se mister destacar que o conceito de inovação associado à educação
escolar tem suas bases na moderna ideologia do progresso e em sua forma contemporânea,
expressa no desenvolvimentismo norte americano do pós-II Guerra Mundial (SILVA;
BATISTA, 2016). Para Teixeira (2010, p. 15) a ideia de inovação educacional liga-se
historicamente ao mundo da produção e da Administração nos anos de 1950/60, o qual esteve
impregnado da concepção progressivista de que os avanços da ciência e da tecnologia
“determinariam o desenvolvimento econômico, social, cultural e educacional”. Em certa
medida, essa visão progressivista e desenvolvimentista que associa a inovação educacional ao
avanço da técnica ainda está presente de maneira indelével nos dias atuais.
É a perspectiva liberal ou neoliberal que vem associando atualmente a inovação
educacional aos processos tecnológicos, que coloca essa categoria como fator essencial para o
desenvolvimento econômico e, por extensão, ao bem-estar das pessoas em sociedade. Os
autores que seguem essa linha de raciocínio negligenciam as bases estruturais de uma sociedade
baseada em interesses antagônicos de classe, com desigual apropriação do conhecimento
científico, tecnológico (LYOTARD, 1986), bem como da riqueza socialmente produzida, tanto
no âmbito nacional, quanto em escala global.
Poder-se-ia iniciar respondendo à pergunta levantada anteriormente, a partir da própria
etimologia da palavra em latim (innovatione), que seria equivalente à mudança ou alteração de
uma realidade, ou seja, uma coisa que não apenas é nova, mas fundamentalmente que não se
parece com o anteriormente estabelecido como habitual. Nesta perspectiva etimológica, a
inovação relaciona-se, essencialmente, à noção de rompimento paradigmático, isto é, não seria
tão-somente uma mudança de determinada ideia, método, produto ou processo, mas uma
alteração profunda de certas situações naturalizadas. A partir desta visão, pode-se afirmar que
a inovação educacional se configura como uma radical transformação de ideia, método, produto
ou processo de maneira nova e absolutamente diferente daquilo que se tinha como normal.
No entendimento de Cardoso (2007, p. 2) a inovação educacional não se trata de uma
mudança que ocorre subitamente, ela tem um caráter intencional, afastando do seu campo “[...]
as mudanças produzidas pela evolução ‘natural’ do sistema. A inovação é, pois, uma mudança
deliberada e conscientemente assumida, visando uma melhoria da ação educativa”. Esse
pressuposto da mudança intencional como basilar na ideia de inovação educacional está
presente em muitos textos levantados na pesquisa bibliográfica on line. Nogaro e Battestin
(2016), Costa (2008), Cardoso (2007), Messina (2001) também apontaram essa característica
da inovação no contexto escolar.
Nesta direção Ferretti (1995) conceitua inovação como mudança ou alteração
significativa de um objeto (que pode ser uma instituição, um método, uma técnica, um material
etc.) de maneira projetada, mas sempre com uma perspectiva de avanço qualitativo de uma
situação qualquer, para outra absolutamente nova e superior ao que se tinha anteriormente. Para
esse autor, inovar seria a realização de uma ação planejada que muda radicalmente uma
realidade dada para outra inédita e significativamente mais elevada.
O conceito de Goldberg (1995, p. 204) constitui-se como uma ideia-síntese de inovação
educacional. A autora afirma que inovar no contexto da educação escolar deve ser entendido
como um “[...] processo planejado e científico de desenvolver e implementar no sistema
educacional uma mudança, cujas possibilidades de ocorrer com frequência são poucas, mas
cujos efeitos representam um real aperfeiçoamento para o sistema”. As perguntas que surgem
“naturalmente” dessa definição são as seguintes: o que deve ser mudado (transformação
significativa) de maneira planejada? Que tipo de melhoria ou desenvolvimento qualitativo
deveria ser desejado e efetivado? E finalmente, essa inovação de processos e produtos
beneficiaria a quem?
Acredita-se que o texto de Saviani (1995) “A Filosofia da Educação e o problema da
inovação em educação”, levanta elementos seminais para responder a essas indagações e ajuda
significativamente para o entendimento da categoria em discussão. Ele aponta que existem
basicamente quatro grandes concepções filosóficas acerca da inovação educacional: 1.
Concepção “humanista” tradicional; 2. Concepção “humanista” moderna; 3. Concepção
analítica; e 4. Concepção dialética. É a partir dessa tipologia que Saviani (1995) discutirá a
questão da inovação no campo educacional escolar.
A Concepção “Humanista” Tradicional negligencia completamente a ideia de inovação,
porque parte do pressuposto de que os seres humanos possuem uma essência imutável, cabendo
à educação escolar aprimorar essa essencialidade peculiar a cada um dos indivíduos em
sociedade. Em que pese não haver conectividade com o tema, diz Saviani, esta concepção ajuda
a esclarecer que toda inovação se opõe ou nega àquilo que é tradicional.
Para a Concepção “Humanista” Moderna, ao contrário da Concepção “Humanista”
Tradicional, a existência (a vida prática) precede a essência supostamente imutável, ou seja,
não há uma essência interior a priori nas pessoas que precisaria ser aperfeiçoada. O que há é a
incompletude, processualidade de um ser humano inacabado. Neste contexto, pode-se dizer que
inovar no âmbito escolar seria a sublevação das premissas e práticas da Concepção Tradicional
de educação.
Saviani faz um cotejamento entre as duas concepções indicando que a Humanista
Moderna, ao fazer a crítica à Concepção Tradicional, constitui-se em uma inovação na medida
em que “[...] ao invés de se centrar no educador, no intelecto, no conhecimento, centra-se no
educando, na vida, na atividade (ação). Ao invés de seguir uma ordem lógica, segue uma ordem
predominantemente psicológica. Ao invés de subordinar os meios (métodos) aos fins
(objetivos: o homem adulto e o domínio cognitivo do conteúdo cultural disponível), subordina
os fins aos meios” (SAVIANI, 1995, p. 19).
Avançando um pouco mais em sua discussão sobre inovação educacional na perspectiva
filosófica, Saviani chega à abordagem Analítica, mostrando que ela se refere basicamente à
lógica da linguagem educacional, retirando do fulcro de seu debate a questão do homem e sua
formação existencial ou essencial. Precisamente, seu objeto de discussão não é propriamente o
ser humano, mas sim o significado das palavras em seu contexto linguístico. “De acordo com
essa concepção, para se determinar o significado de “inovação” será necessário analisar o
contexto (linguístico) em que ela é utilizada. Não há, pois, critérios predeterminados”
(SAVIANI, 1995, p. 20).
Por fim, tem-se a Concepção Dialética de Filosofia da Educação, a qual retoma o debate
sobre o homem, colocando-o como o resultado de múltiplas determinações sociais
historicamente dadas, buscando superar a ideia essencialista da imutabilidade de sua existência.
Neste particular, os espaços educacionais escolares, enquanto ambiente que contribui com a
edificação da humanidade nos indivíduos, também são percebidos a partir das determinações
histórico-sociais, o que lhes confere certa transitoriedade, movimento e dinamismo. “A
concepção dialética aponta, pois, para um sentido radical de inovação, isto é, inovar significa
mudar as raízes, as bases” (SAVIANI, 1995, p. 21).
Com a Dialética a inovação no campo educacional escolar alcança um status sinonímico
de transformação estrutural de certa ordem estabelecida, ou seja, não é uma simples mudança
ou reformulação conjuntural daquilo que está posto como normal e aceitável. Ela passa a ser
entendida como mudança disruptiva, profunda, uma revolução ou mesmo uma sublevação
daqueles aspectos que se apresentam como fixos, estereotipados, naturalizados, que fazem parte
do establishment, do status quo vigente na sociedade e na escola.
Para que a inovação não se restrinja ao nível conjuntural dos processos escolares, isto é,
de maneira alienada da prática social e, por conseguinte, incapaz de contribuir com a superação
dos problemas essenciais da coletividade e da própria instituição de ensino, a concepção
dialética propõe que, “[...] inovar, em sentido próprio, será colocar a educação a serviço de
novas finalidades, vale dizer, a serviço da mudança estrutural da sociedade” (SAVIANI, 1995,
p. 26). Por exemplo, tem-se atualmente o movimento de Educação do Campo no Brasil. Seus
princípios, práticas e finalidades podem ser perfeitamente compreendidos como uma inovação
educacional na perspectiva dialética, na medida em que sua proposta pedagógica apresenta
rupturas radicais com as formas atuais de escolarização calcadas na disciplinaridade positivista,
separação entre t’eoria e prática, no conteudismo da educação bancária tão criticada por Paulo
Freire (2004) e no isolamento institucional que separa a escola da sociedade como um todo.
Para além dessas mudanças pedagógico-educacionais escolares e levando em
consideração o ideário de omnilateralidade de Frigotto (2012), seus objetivos gerais almejam a
construção de uma nova sociedade, articulando o percurso formativo dos alunos com a prática
social dos movimentos sociais. Como afirma Caldart (2012, p. 264) em relação à Educação do
Campo:
Suas práticas reconhecem e buscam trabalhar com a riqueza social e humana
da diversidade de seus sujeitos: formas de trabalho, raízes e produções
culturais, formas de luta, de resistência, de organização, de compreensão
política, de modo de vida. Mas seu percurso assume a tensão de reafirmar, no
diverso que é patrimônio da humanidade que se almeja a unidade no confronto
principal e na identidade de classe que objetiva superar, no campo e na cidade,
as relações sociais capitalistas.
Pode-se depreender então que, no âmbito educacional escolar, a categoria inovação é
sinônimo de mudança, transformação da essência organizacional e social. Todavia, o que deve
ser mudado, seu grau de profundidade e alcance dependerá da concepção filosófica de educação
que se toma como referência. De fato, dependendo do referencial tomado, essa mudança
inovadora pode ficar ao nível conjuntural, promovendo mudanças naquilo que está posto como
rotineiro no contexto intramuros da escola, ou poderá apresentar transformações dos elementos
essenciais à existência das instituições, inclusos aí a escola e a formação social na qual ela está
inserida.
Por outro lado, as ideias e práticas que procuram adequações, continuidades e
acomodações no sentido da manutenção do status quo vigente são consideradas conservadoras.
Gestores, professores e outros sujeitos educacionais não inovam quando se submetem
hodiernamente a práticas cotidianas que lhes são supostamente íntimas, tidas de per si como
necessárias à habitualidade institucional. A burocratização excessiva das relações que se
estabelecem no contexto escolar ou o afastamento dos processos escolares da prática social são
exemplos de condutas não inovadoras.
Pode-se afirmar que não há inovação de qualquer espécie quando os sujeitos
educacionais se deixam levar pelas práticas cartorialistas, patrimonialistas, burocráticas e
hierarquizantes dos processos institucionais escolares. Precisamente, quando os sujeitos
educacionais se acomodam ancorados nos tradicionais métodos e técnicas de ensino e avaliação
da aprendizagem, quando o modelo de gestão dos processos pedagógicos e patrimoniais não se
democratiza, quando a hierarquia se instala estratificando as relações e sufocando a inclusão de
processos administrativos horizontais, não existe transformação inovadora real.
Finalmente, faz-se mister ressaltar que inovar é inexoravelmente difícil, arriscado e
trabalhoso. Pelas próprias caraterísticas internas aos ambientes institucionais escolares, é
importante entender que não existe risco zero quando o assunto é inovação. Toda concretização
de um processo inovador, quer seja em nível conjuntural, quer em nível estrutural, os seus
resultados são sempre acompanhados de conflitualidades, tenções e reações contrárias, isto é,
sempre haverá pessoas que tenderão a permanecer na normalidade das regras estabelecidas
formal ou tacitamente, contrárias a subversão da ordem.
Todos os seres vivos estabelecem relações com o meio ambiente em seu devir
existencial. Isso é inexorável à sobrevivência, mas o impacto dessa relação define-se pelo modo
como cada espécie se coloca, sistemicamente, frente aos processos naturais, ou como querem
os biólogos, nos seus nichos ecológicos. Os seres humanos não estão fora dessa realidade.
Todavia, o caráter de sua interface com os ecossistemas naturais está relacionado, diretamente,
com o modo de produção, consumo e reprodução das condições de produção peculiares a cada
formação social historicamente edificada.
Tome-se como exemplo a realidade amazônica. As teorias da presença humana neste
espaço (BALÉE, 1989; POSEY, 1997; ROUÉ, 1997) apontam que, antes da chegada dos
europeus, as pessoas que habitaram a Amazônia foram essenciais à flora e fauna local. O
manejo indígena do meio ambiente, de forma consciente ou inconsciente, teria produzido maior
biodiversidade do que se a floresta fosse, de fato, virgem. Para Posey (1997, p. 349) o modo de
vida indígena foi essencial para exuberância da floresta amazônica. Muitas paisagens ditas
prístinas, diz o autor, são na realidade “[...] paisagens culturais, criadas pelos seres humanos ou
modificadas pela atividade humana”.
Segundo Balée (1989) os balatais (Manilkara Bidentada), castanhais (Bertholletia
excelsa) e tantas outras espécies endêmicas em partes específicas da floresta tropical úmida,
resultaram do manejo indígena. De fato, muito daquilo que se pensava ser floresta pura ou
intocada é, na verdade, produto de uma interação centenária, e até milenar entre populações
indígenas e ecossistemas locais. A interferência desses povos sobre o meio ambiente melhorou
os solos,14 diversificou a flora e fauna em espaços variados da Amazônia Brasileira e alhures
em países vizinhos.
Por isso, afirma-se que os gravíssimos problemas ambientais e sociais na Amazônia
contemporânea não derivam do modo de vida indígena ou de qualquer outra população
tradicional local. Muito ao contrário, esses “problemas” são fenômenos derivados de processos
socioeconômicos ligados ao projeto civilizatório europeu-ocidental, infligido às populações
humanas pré-existentes e aos demais seres vivos estabelecidos, ecologicamente, nos múltiplos
ecossistemas peculiares a este bioma.
Precisamente, o desmatamento e as queimadas, a perda de biodiversidade em quantidade
e qualidade imensuráveis, a degradação dos solos e dos recursos hídricos, a desterritorialização
e proletarização de populações locais, o êxodo rural com a formação de bolsões de miséria e o
inchaço de núcleos urbanos contemporâneos à realidade Amazônica, são expressões
fenomênicas (KOSIK, 1976) imanentes do modo de produção, consumo e reprodução
existencial peculiares à formação social capitalista, ou mais precisamente, ao seu processo de
desenvolvimento desigual e combinado.
Essa realidade social e ambiental, que foi se estabelecendo historicamente na Amazônia,
têm contribuído negativamente para a desordem sistêmica natural em escala global. A chamada
crise ambiental planetária é uma realidade inquestionável. Indubitavelmente, existe hoje uma
desestruturação ecossistêmica planetária, que se expressa, fundamentalmente, no aquecimento
global e nas mudanças climáticas (MAGULIS, 2020), as quais têm como resultado ondas de
calor extrema, maior volume das chuvas com frequentes inundações, derretimento do gelo
polar, mudanças na salinidade e acidez das águas oceânicas e muito mais.
Ao discutir as “questões ambientais” no contexto histórico da sociedade capitalista,
Foladori vai mostrar que a espécie humana, diferentemente das demais espécies, não estabelece
relação com meio abiótico e com o resto das espécies vivas na forma de bloco, em massa,
univocamente, mas sim por grupos e classes sociais, e de maneira desigual.
[...]. Para a espécie humana, então, o ambiente não é só a interrelação com o meio
abiótico e o resto dos seres vivos, como acontece com as outras espécies vivas.
Existem ambientes diferentes para cada classe social, constituídos em primeiro lugar
pelas restrições impostas pelas outras classes sociais da mesma espécie humana; só a
14
As manchas de terra preta, terra roxa de grande fertilidade e encontradas em muitos locais na Amazônia, foram
produzidas por povos indígenas a partir de práticas cotidianas de reprodução de suas vidas material e espiritual.
partir destes condicionantes é que se estabelecem os relacionamentos com os outros
seres vivos e o material abiótico (FOLADORI, 1999, p. 31).
Portanto, essa “crise ambiental” contemporânea não deriva de fatores naturais e suas
causas devem ser buscadas em processos sociais, políticos e econômicos próprios da formação
social capitalista. Isso é atestado, consensualmente, por pesquisadores de diferentes áreas do
conhecimento, assim como por pensadores ligados a matrizes teórico-ideológicas variadas. Para
Marques (2018), por exemplo, esse “problema” não é resultante da dinâmica existencial da
própria ecologia planetária, mas sim derivado de processos antrópicos ou, mais precisamente,
de um tipo de sociedade historicamente construída, a qual foi se estabelecendo globalmente
desde o século XVI, até chegar ao atual estágio de desenvolvimento vivenciado no terceiro
milênio.
Em que pese haver um certo consenso quanto às causas sociais dos atuais “problemas e
dilemas ambientais”, é importante ressaltar que as explicações teóricas do modo como a
sociedade vem estabelecendo sua relação nefasta com a natureza, bem como as estratégias
práticas para a sua resolução ou mitigação, não são uníssonas. Muito ao contrário. Uma mesma
temática, abordada pelos defensores da relação causal sociedade-natureza-problemas
ambientais, poderá suscitar calorosos debates no âmbito acadêmico-científico e em outros
campos sociais. As conflitualidades e disputas existentes são reflexo das diferenças de
abordagem, do referencial teórico adotado e da postura político-ideológica dos múltiplos
sujeitos enredados neste processo.
No contexto da construção do campo educacional ambiental são patentes as
conflitualidades e discordâncias, mas isso não quer dizer que tais embates são
contraproducentes ou ruins para o próprio campo. Como mostram Loureiro e Layrargues (2013,
p. 55), esse encontro de ideias divergentes fortalece e legitima a EA “nas institucionalidades
acadêmicas, nas políticas públicas e nos movimentos sociais que buscam a garantia de direitos,
a afirmação das diferenças, a superação das desigualdades de classe e a construção de outro
patamar societário”.
Bourdieu (1983) apresenta uma teoria para se entender os diferentes campos sociais. Ele
parte do princípio de que, no atual estágio desenvolvimento do sistema capitalista, existem
lugares socioespaciais próprios, com formatações peculiares, relativamente autônomos e com
uma lógica específica de funcionamento em relação ao todo social. Esses “micromundos” são
edificados historicamente e abrigam instituições, agentes, grupos, representações, regras,
habitus e os capitais que são disputados internamente. Em que pese haver um todo orgânico, os
campos não são internamente harmônicos, apresentando disputas e conflitualidades que
expressão interesses divergentes entre os agentes dominantes (hegemônicos) que direcionam a
dinâmica interna do campo, frente aos dominados que buscam a sublevação da ordem
estabelecida. Os primeiros tendem a ortodoxia e os segundos à heterodoxia.
Mannheim (1982) faz uma discussão conceitual entre ideologia e utopia. Todas as ideias
que tendem a legitimação da ordem estabelecida são ideológicas. Por outro lado, as ideias que
contribuem para a transformação do status quo vigente são colocadas por este autor como
utópicas. Por extensão, pode-se dizer que nos múltiplos campos sociais aqueles que dominam
o campo o fazem de maneira ideológica, enquanto os dominados movimentam seus
pensamentos por meio das utopias.
O campo da Educação Ambiental apresenta capitais simbólicos em disputa entre as
instituições, agentes, grupos, classes sociais que se ligam às correntes teóricas e
epistemológicas que integram o campo. Neste contexto, pode-se dizer que há uma hegemonia
simbólica e material (LIMA, 2005) por parte de algumas dessas correntes que, direta ou
indiretamente, ditam os objetivos, normas e valores orientadores dos múltiplos sujeitos
enredados neste campo. Todavia, também existem correntes teóricas e epistemológicas que se
movimentam contrariamente à ordem estabelecida pelos dominantes, com objetivos disruptivos
em relação à ordem do dizer e fazer sobre os processos educacionais ambientais no âmbito
formal ou não formal15 da educação.
Em meados da década de 1990, Sorrentino (1995) identificou em sua tese de
doutoramento pelo menos quatro correntes de Educação Ambiental (Conservacionista; ao Ar
Livre; Gestão Ambiental e; Economia Ecológica). Sauvé (2005, p. 18) faz uma cartografia das
principais correntes da EA que a autora chamou de longa tradição, a saber:
[...] a corrente naturalista; a corrente conservacionista/recursista; a corrente resolutiva;
a corrente sistêmica; a corrente científica; a corrente humanista; a corrente
moral/ética. Entre as correntes mais recentes: a corrente holística; a corrente
biorregionalista; a corrente práxica; a corrente crítica; a corrente feminista; a corrente
etnográfica; a corrente da eco-educação; a corrente da sustentabilidade
15
Para efeito deste artigo, partir-se-á das colocações didáticas de Leonardi (1997) que identifica a educação ambiental
formal aquela que é desenvolvida no contexto das atividades da escola básica pública ou privada. A modalidade não
formal é desenvolvida em ambientes não escolares como, por exemplo, sindicatos, ONGs, secretarias de governo etc.
fundamental conhecer os princípios e fundamentos ecológicos que organizam a Vida.
Alguns têm forte expectativa no autoconhecimento individual e na capacidade de
mudança do próprio comportamento em relação à natureza, outros estão seguros que
é preciso articular o problema ambiental com suas dimensões sociais e políticas, entre
outras possibilidades (LAYRARGUES; LIMA, 2014, p. 28).
O que se observa é que o viés conservacionista está historicamente ligado aos processos
que deram início à construção do campo da Educação Ambiental (LAYRARGUES; LIMA,
2014; LOUREIRO; LAYRARGUES, 2013), mas também muito próximo do chamado mito
moderno da natureza intocada, proposto por Diegues (1996). Dentre outras coisas, esse mito se
baseia em uma concepção ambiental em que, existiriam espaços territoriais na terra, com beleza
cênica e paisagística que precisariam ser protegidos da presença humana. Tal presença seria,
inexoravelmente, nefasta aos ecossistemas naturais, particularmente naqueles espaços ainda
supostamente não antropizados. Diegues aponta que esta concepção é típica das classes medias
urbanas europeias e norte-americanas, as quais olham para o meio ambiente como uma
realidade apartada da sociedade e que deve ser mantida intacta para ser contemplada e admirada
em sua beleza selvagem.
Pode-se resumidamente colocar a macrotendência conservacionista como uma visão
biologizante do meio ambiente afastando-se dos processos sociais. Por outro lado, a EA
pragmática constitui-se em uma sofisticação dessa visão conservadora comportamentalista e
individualista, ligando-se aos aspectos relacionados às mudanças tecnológicas e econômicas e
buscando conscientizar as pessoas para que tenham práticas ecologicamente corretas, ou seja,
consumindo produtos certificados, utilizando energia limpa, reaproveitando a água, tudo dentro
da perspectiva do chamado consumo consciente. Na prática esta macrotendência tem o apelo
da chamada indústria cultural16 (televisão, rádio, revistas, jornais escritos, camisetas, outdoors
etc.) e se configura como um paradigma hegemônico no campo da EA na atualidade.
16
Para Horkheimer e Adorno (1997) a arte na sociedade capitalista tornou-se uma mercadoria como outra qualquer.
Impulsionada pela racionalidade pragmática própria da lógica do mercado, a chamada indústria cultural lança
sobre as massas uma enxurrada de informações ideológicas (mantenedoras do status quo capitalista), as quais
corroem sua capacidade crítica, formatando uma certa percepção alienada e alienante dos trabalhadores,
fomentando o individualismo e facilitando os processo de dominação, principalmente de classe.
A EA Crítica, emancipatória pode ser caracterizada como um paradigma emergente e
contra-hegemônico, que busca discutir as chamadas “questões ambientais” como um fenômeno
derivado de processos que se desdobram historicamente e que tem no sistema social,
econômico, cultural e político capitalista suas bases explicativas. Portanto, o problema não
reside no uso que se faz da natureza, afinal isso é inexorável na medida em que é imperativo
atender às necessidades básicas da vida humana. Contudo, o que precisa ser discutido e
superado é a velocidade e intensificação das transformações atuais da natureza pautadas nos
interesses das classes e elites dominantes na formação social capitalista contemporânea. Como
afirma Foladori, “[…] uma vez surgidas as sociedades de classes, a dominação e a exploração
de uma classe sobre outras se traduzem simultaneamente, num comportamento de exploração
e dominação da natureza.” (FOLADORI, 2001, p. 108). A seguir apresenta-se um quadro-
síntese das três macrotendências da EA.
QUADRO 1: AS TRÊS MACROTENDÊNCIAS POLÍTICO-PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
TENDÊNCIAS POLÍTICO-PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL: VISÕES SOCIAIS DE MUNDO
Educação Ambiental Conservacionista Educação Ambiental Pragmática Educação Ambiental Crítica/Emancipatória
■ Macrotendência histórica que inaugura os ■ Macrotendência hegemônica da EA na atualidade; ■ Macrotendência da EA contra hegemônica;
debates acerca da EA; ■ Temas principais: a questão do lixo doméstico, ■ Temas principais: cidadania, democracia,
■ Temas principais: biodiversidade, poluição do ar, uso da água, resíduos sólidos e participação, emancipação, conflito, justiça ambiental,
ecoturismo, unidades de conservação, orgânicos, consumo das pessoas etc. estratificação social, mudança social etc.
preservação de ecossistemas e biomas ■ Princípios educativos: os problemas ambientais ■ Princípios educativos: a crise ambiental
específicos etc. são passíveis de correção, desde que os indivíduos contemporânea não expressa problemas da natureza,
■ Princípios educativos: os problemas sejam educados, estimulados e motivados a mas problemas que se manifestam na natureza a partir
ambientais são passíveis de correção, desde que desenvolverem condutas sustentáveis, tanto no do modo capitalista de produção e consumo. Por isso a
sejam introjetados em cada indivíduo particular âmbito do mercado com o consumo consciente, como necessidade de articulação do “problema ambiental”
o conhecimento ambiental necessário a uma no descarte sustentável dos resíduos produzidos com as dimensões sociais, políticas, ideológicas e
ética ecológico-preservacionista para a conduta cotidianamente nos múltiplos espaços públicos ou econômicas da formação social capitalista em seu devir
cotidiana do ser humano. privados. histórico.
■ Posição acadêmico-científica: Predomínio ■ Posição acadêmico-científica: o desenvolvimento ■ Posição acadêmico-científica: a ciência e a
das ciências naturais em detrimento das ciências sustentável poderá ser implementado a partir da tecnologia são condicionadas por processos sociais,
humanas e sociais, com maior ênfase ao campo ciência e da tecnologia criadoras de novos padrões políticos e econômicos próprios da formação social
ambiental e menor importância ao educacional; produtivos e ecologicamente corretos, colocando o capitalista, cindida pela luta de classes e pelos interesses
■ Ação educativa: conscientização e crescimento econômico dos países em bases dos grupos.
sensibilização ecológica a partir de práticas sustentáveis. ■ Ação educativa: abordagem pedagógica que
educativas que promovam o contato das pessoas ■ Ação educativa: Conscientização dos indivíduos problematize sociologicamente as interfaces entre
com a natureza de maneira afetiva a partir do quanto ao seu comportamento cotidiano, no sentido sociedade e natureza, incorporando ao debate as
lema “conhecer para amar, amar para de uma prática ecologicamente correta, baseada na posições de classe e as diferentes responsabilidades dos
preservar”. O contato com a natureza, a lógica do “cada um fazer a sua parte”. A coleta agentes sociais enredados na crise. Os procedimentos
realização de caminhadas nas trilhas das seletiva do lixo, reciclagem e reuso dos resíduos educacionais ambientais devem vincular suas práticas
unidades de conservação são práticas muito sólidos, uso racional da água são algumas ações educativas às lutas democráticas e aos ideais de
comuns da ação educativa conservacionista. educativas pragmáticas muito comuns no âmbito emancipação humana na busca pela transformação
escolar. social.
Fonte: Construído pelo autor a partir de Layrargues e Lima (2014).
4 METODOLOGIA: O ITINERÁRIO DA PESQUISA
Como se observa no quadro 1, a seguir, o total de produtos selecionados para análise foi
de 19 textos, entre artigos científicos e trabalhos monográficos de conclusão de curso em nível
de mestrado e doutorado. Essa seleção tomou como base duas categorias científicas de análise
previamente estabelecidas, a saber: “Inovação Educacional” e “Educação Ambiental”,
apresentadas teoricamente acima. A grande maioria dos produtos sugeridos pelo Portal CAPES
associou o termo inovação a outras áreas do conhecimento, assim como a termos que não
condiziam com os objetivos e referencial teórico desta pesquisa, o que restringiu a seleção dos
trabalhos para a composição da amostra, em que pese o grande volume dos trabalhos (universo
geral) indicados pelo próprio Portal (2.358).
Quadro 1: Universo geral apresentado pelo Portal de Periódicos CAPES e amostra da pesquisa
TERMOS DE BUSCA NO UNIVERSO AMOSTRA/PRODUTOS
PORTAL GERAL/PRODUTOS SELECIONADOS
APARENTES NO PORTAL
EDUCAÇÃO AMBIENTAL 798 06 produtos
INOVADORA
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E 1.155 11 produtos
INOVAÇÃO
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E 405 2 produtos
INOVAÇÃO EDUCACIONAL
TOTAIS 2.358 19 produtos
Fonte: Quadro construído a partir do Portal de Periódicos CAPES (2021)
Crítica
Conservacionista
11%
26%
63%
Pragmática
Por outro lado, é possível dizer que esses números expostos acima no Gráfico 1 são
reveladores da rejeição, ou mesmo resistência por parte de muitos autores ligados à
macrotendência Crítica da EA brasileira em relação ao uso do conceito de inovação (ou
inovação educacional) como ferramenta teórica relevante para seus escritos. Pode-se dizer que
tal resistência ocorra em virtude da estreita relação da palavra inovação com as ideologias
legitimadoras das relações sociais de produção e reprodução do capital na formação social
capitalista.
Quadro 2: Macrotendência conservacionista
Ord. TÍTULOS RESUMOS
1 INOVAÇÃO EM A Educação Ambiental, voltada para conscientização dos indivíduos,
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: contribui para a solução dos problemas ambientais atuais por meio da
UM ESTUDO DE CASO mudança de mentalidade e de posturas. A Trilha dos Sentidos,
SOBRE A TRILHA DOS desenvolvida pelo Parque Estadual Mata do Limoeiro, foi criada
SENTIDOS DO PARQUE como uma estratégia para as atividades de Educação Ambiental, como
ESTADUAL MATA DO forma de despertar a importância da natureza e da conservação do
LIMOEIRO meio ambiente. Com os olhos vendados e os pés descalços, o visitante
entra na trilha, guiado por uma corda e descobre uma nova forma de
perceber a floresta, estimulado pelos canais sensoriais, redescobrindo
a natureza. Este texto descreve como o projeto reitera o uso das
Unidades de Conservação como território de atividades práticas no
contexto da educação, oferecendo recursos que propiciam atividades
e o contato direto com o meio ambiente.
2 TRILHAS A prática da educação ambiental é potencializadora de saberes e
FENOMENOLÓGICAS NO fazeres em diversos espaços de convivência. O Tratado de Educação
INSTITUTO TERRA, Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global
AIMORÉS-MG: TECENDO tem como um dos princípios o pensamento crítico e inovador em
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E qualquer tempo e lugar. Este texto tem como objetivo apresentar
EDUCAÇÃO POPULAR experiências de educação ambiental e educação popular vivenciada
PELO VIÉS DA no Instituto Terra, localizado em Aimorés (MG), envolvendo a
TRANSDISCIPLINARIDADE comunidade local da área visitada e integrantes da Roda Biocêntrica
– Prainha – Vila Velha/ES. Pelo viés da transdisciplinaridade,
destaca-se a importância da realização das trilhas fenomenológicas
nessa Unidade de Conservação (UC), expressando uma educação
ambiental aprendente, coletiva e transformadora, que envolve o
cuidado consigo, com o outro e com o mundo.
3 O texto apresenta uma experiência de Educação Ambiental em nove
INOVAÇÕES escolas da rede pública municipal de Salvador-Bahia, Brasil,
EDUCACIONAIS: UMA desenvolvida mais intensivamente durante os anos de 1994 a 1997 e
EXPERIÊNCIA DE coordenada pela ong, Centro de Educação Ambiental São
EDUCAÇÃO Bartolomeu-CEASB, em convênio com a Prefeitura Municipal e
AMBIENTAL associações do bairro. Tratada como uma questão ética, a Educação
NO PARQUE SÃO Ambiental tem como objeto pedagógico a relação que os indivíduos
BARTOLOMEU – mantêm com seu entorno buscando discutir qual o lugar que o ser
SALVADOR-BAHIA / humano deve ocupar na Natureza. A partir disso, joga importante
BRASIL papel o lugar onde se inserem as escolas, o Parque Metropolitano de
Pirajá, que caracteriza-se como um sítio étnico e histórico da cidade
de Salvador-Bahia. Metodologicamente esta proposta segue as linhas
gerais da pesquisa-ação, tem como eixo central o interesse dos
estudantes e busca recuperar o sentido criativo do trabalho do(a)
professor(a), no processo de construção coletiva de um currículo
interdisciplinar. Essa experiência traz uma contribuição à integração
do sujeito fragmentado pelo individualismo da Ilustração, pois
articula ação e reflexão, incorpora a noção do cidadão gestor do seu
lugar, da dependência existente entre as esferas pública e privada, e,
com a redescoberta dos lugares, revincula o ser humano com a
Natureza, construindo um novo sistema de valores e crenças. O
cidadão toma como seu o lugar onde vive.
4 VIVER JUNTOS EM NOSSA O artigo apresenta um ensaio sobre o desafio ético e político da
TERRA: DESAFIOS educação ambiental em relação ao nosso mundo fragmentado, em
CONTEMPORÂNEOS DA busca de sentido e pertencimento. As seguintes perguntas orientam a
EDUCAÇÃO AMBIENTAL discussão: Como a educação ambiental pode contribuir na construção
de nossas identidades pessoais e coletivas e melhorar assim nossa
relação com o mundo? Como ela pode favorecer o compromisso com
a resolução de problemas socioecológicos e a inovação ecossocial
para a transformação de nossas sociedades? Nesse sentido, como ela
pode inspirar a ação ecocidadã, baseada na democracia participativa,
na justiça e na equidade ambientais? Finalmente, como pode estimular
a vigilância e a crítica social com vistas a influenciar as políticas
públicas relacionadas com os assuntos socioecológicos, incluindo as
políticas no campo da educação?
5 PROPOSTA DE INOVAÇÕES A aplicabilidade de trilhas perceptivas, bem como de dinâmicas e
METODOLÓGICAS PARA vivências que trabalham com o lúdico, são metodologias eficazes para
APLICABILIDADE o ensino holístico, que visa a uma aprendizagem com significado para
EFETIVA DA EDUCAÇÃO a vida. A conexão entre corpo, mente e espírito nas práticas educativas
AMBIENTAL NA é o que tem permitido uma (re)ligação do sujeito consigo mesmo, com
FORMAÇÃO DO CIDADÃO os que estão próximos e com o meio ambiente, o que tem dado um
CONSCIENTE E DO novo significado para a existência do homem e desenvolvido uma
maior sensibilidade para as questões ambientais. Os problemas
CONHECIMENTO ambientais, sociais e econômicos vivenciados atualmente requerem
HOLÍSTICO que a sociedade reavalie valores e reabilite atitudes para atingir uma
relação harmônica entre homem e meio ambiente. Para isso, é preciso
que a Educação ambiental seja praticada incisivamente de forma a se
repensar as metodologias educativas pelo viés de técnicas que
valorizem a percepção, os sentidos, a corporeidade. A formação
holística do indivíduo só poderá se traduzir em realidade quando
corpo, mente e espírito estiverem integrados na aprendizagem que
traduzirá significados para a vida ao desenvolver as habilidades e
competências da totalidade humana.
Fonte: Quadro construído a partir do Portal de Periódicos CAPES (2021)
Antes de tudo, uma breve ressalva se faz necessária neste momento. Qualquer análise
qualitativa traz consigo valorações que indicam posturas políticas e visões sociais de mundo
determinadas por parte do analista. Por isso, as inferências e críticas realizadas neste artigo não
tiveram a intenção simplista de apontar falhas ou indicar o demérito de certos textos em relação
a outros. Todo texto publicado traz em si mesmo seu mérito enquanto objetivação do esforço,
inspiração e transpiração de seus autores. Mas, é claro que, enquanto texto teórico no campo
acadêmico- científico, todos trabalhos escritos estarão sujeitos a análises críticas por parte de
seus leitores, inclusive este. Todavia, tais críticas não são para aqueles que os escrevem, mas
para seu produto final colocado neste campo para ser discutido, aceito, negado, acolhido ou
recusado, mas dentro da lógica racional peculiar ao campo científico.
Nos textos conservacionistas (Quadro 2) aborda-se o conceito de “Inovação” a partir de
um tripé argumentativo, a saber: Educação Ambiental, natureza e formação ética, ainda que
esta última não seja muito claramente aprofundada. Em geral esses trabalhos expõem e analisam
resultados de projetos de EA que denotam a importância de práticas escolares formativas em
contato com áreas protegidas, unidades de conservação e demais espaços do meio ambiente
para interagir com a paisagem, o ar livre, os outros animais, plantas etc.
Este texto descreve como o projeto reitera o uso das Unidades de Conservação como
território de atividades práticas no contexto da educação, oferecendo recursos que
propiciam atividades e o contato direto com o meio ambiente (OLIVEIRA,
CARVALHO, OLIVEIRA JÚNIOR E MOREIRA, 2021, p. 429).
Esse foi um projeto pioneiro em Educação Ambiental que desenvolveu nos jovens um
maior conhecimento do meio ambiente e resultou, entre outras coisas, em um
programa sistemático de visitação Parque São Bartolomeu, até então inexistente
(MELLO, 2000, p. 9).
É no meio ambiente que se forja nossa identidade, nossas relações de alteridade, nossa
relação com o mundo como seres da natureza, vivendo entre os vivos. Para além de
uma educação “com o objetivo de, na, em, para ou pelo” meio ambiente, o objeto da
educação ambiental é essencialmente nossa relação com o meio ambiente (SAUVÉ,
2016, p. 292).
Vale ressaltar que o texto de Sauvé (2016) apresenta uma complexificação maior quanto
ao tratamento da questão ambiental em sua relação com a sociedade, o que provocou uma certa
dificuldade inicial em incluir este artigo no rol das macrotendências da EA Brasileira. De fato,
a consideração deste trabalho como conservacionista só foi possível pela percepção do seu
silêncio em relação a formação social capitalista e as relações de poder e dominação que se
estabelecem a partir de seu modo de produção dominante. Como já discutido acima, são estas
relações de classe que determinam as formas históricas de organização do trabalho na
contemporaneidade em sua relação com o meio ambiente, metabolizando os recursos naturais
em mercadorias e o consequente acumulo de riqueza pelo capital. Ao negligenciar este aspecto
e supervalorizar a dimensão valorativa e abstrata das pessoas no trato com o meio ambiente, o
texto acaba associando suas análises e proposições ao sentimentalismo conservacionista de
construção uma nova sensibilidade humana para com a natureza (LAYRARGUES; LIMA,
2014).
Nos textos pragmáticos (Quadro 3) aborda-se o conceito de “Inovação” em sua relação
com a EA a partir de análises ambientalistas e com proposições educativas de atividades
práticas comportamentalistas. Questões como lixo e reciclagem, água e seu uso racional, vida
cotidiana sustentável, eficiência ecológica, consumo consciente são temas muito frequentes que
se ligam ao conceito maior de sustentabilidade do meio ambiente, trazendo a ideia de inovação
educacional para um patamar contingencial, supervalorizando os aspectos fenomênicos (efeitos
do problema) em detrimento de suas causas estruturais, preterindo a necessária crítica à
sociedade capitalista de maneira mais aguda ante ao capitaloceno (CUNHA, 2019, p. 48)
baseado no tripé “mercadoria, valor, trabalho abstrato”.
Vale fazer uma ressalva ao texto 13 (Quadro 3). Como observado em seu resumo, este
produto apresenta uma abordagem, aparentemente, inovadora da EA na perspectiva dialética
de inovação educacional (SAVIANI, 1995). Sua ideia central é a de que os agentes de combate
a endemias (ACEs) do município de Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, não estariam sendo
tão eficazes nos trabalhos de conscientização da população local quanto à prevenção e controle
de vetores de doenças como a Dengue Zika e Chikungunya. Por isso esses agentes deveriam se
requalificar no que tange à concepção de EA e, consequentemente, implementar novos métodos
de intervenção. Assim, as autoras propõem uma ação prática de reeducação desses agentes com
base na perspectiva da EA crítica, “alicerçada na construção de valores sociais a partir do
conhecimento popular e científico, que contribuam para a reflexão e consequentemente para a
adoção de hábitos ecologicamente sustentáveis” (ROSA; BRAIDO; CAPORLINGUA, 2020,
p. 120).
Na verdade, a EA Crítica não se associa à proposta de construção de hábitos
ecologicamente sustentáveis, a qual está associada ao ideário formativo de construção do sujeito
ecológico (CARVALHO, 2004), mas sim na perspectiva de tornar visível o caráter ingênuo e
ideológico das macrotendências conservacionista e pragmática, com a finalidade de edificação
de um sujeito ecopolítico (LAYRARGUES, 2020). Daí que a EA Crítica propõe uma interface
com as organizações e movimentos sociais, com as lutas dos povos e comunidades tradicionais,
a valorização da ancestralidade afro-indígena, enfim, com todos aqueles excluídos no campo e
nas cidades brasileiras (LOUREIRO; LAYRARGUES, 2013), distanciando-se do discurso
metafisico e comportamentalista de construção de hábitos ecologicamente sustentáveis, o qual
se configura como um discurso naturalista e conservador.
De modo geral, todos os textos da amostra discutem os “problemas ambientais”
contemporâneos em sua relação causal com a sociedade, inclusive os trabalhos ligados à
macrotendência conservacionista que, historicamente, têm feito uma abordagem
eminentemente ecologista, com foco excessivo nos problemas ecossistêmicos, manifestos na
própria natureza. Obviamente que o enfoque causal e as alternativas prático-educacionais
propostas dependerão de cada abordagem, assim como da sua relação com as macrotendências
da EA brasileira, determinantes para o entendimento analítico do modo como essa relação
sociedade – natureza é abordado nos produtos selecionados, inclusive para se entender a
categoria “Inovação Educacional” em sua relação com a “Educação Ambiental”.
Há expressões da linguagem acadêmica no campo da EA que são características de cada
macrotendência. Como demonstrado no Quadro 1, existe realmente um léxico peculiar
manifesto nos textos conservacionistas (contato com a natureza, unidades de conservação,
conscientização, sensibilização, recursos naturais, biodiversidade etc.), ou pragmático
(sustentabilidade, mudança de comportamento, ética, consumo consciente e outros). Em que
pese haver essa filiação textual, percebeu-se o uso comum de termos como “educação crítica”,
“formação crítica”, “ensino-aprendizagem crítico”, “pensamento crítico” e tantos outros, os
quais deslocados de seu contexto poderia gerar nos leitores a ideia de que todos os trabalhos
são inovadores em suas análises e proposições pedagógicas no âmbito da EA.
De fato, ao se tomar como referência o conceito de Inovação Educacional de Ferretti
(1995), bem como a perspectiva dialética proposta por Saviani (1995), que aponta seu caráter
disruptivo, pode-se observar nos dados da pesquisa que pouquíssimos textos podem ser
considerados inovadores. Por exemplo, quase todos os textos do Quadro 2 apresentam a
inovação no campo da EA com base em práticas educativas que levem as pessoas a se
sensibilizarem, amorosamente, em relação à natureza. Nesta perspectiva, propõe-se que os
problemas ambientais somente serão resolvidos ou mitigados a partir de uma nova postura ética
em relação a todos os seres vivos, existencialmente valiosos e com os mesmos direitos de
continuarem existindo como espécie, como se lê a seguir.
Portanto, as relações de cuidado e amorosidade potencializam o
desenvolvimento físico, comportamental, psíquico, social e espiritual do
indivíduo, e esses aprendizados configuram-se no educar, que evidencia a
harmonia, o respeito e o bem-estar humano em congruência com a natureza
(LODI, 2014, p. 201).
A ideia da necessidade de construção de uma nova racionalidade ética, com valores e
condutas ambientalmente corretas (OLIVEIRA, CARVALHO, OLIVEIRA JÚNIOR E
MOREIRA, 2021; MELLO, 2000; SAUVÉ, 2016; JOSUÉ, 2011) aparece nesses textos de
maneira estruturante, em que o contato com a natureza é colocado como prática educativa
ambiental basilar para tal edificação ética, como se observa no texto de Oliveira, Carvalho,
Oliveira, Oliveira Júnior e Moreira (2021, p. 430)
Assim, a Educação Ambiental possibilita a construção de ideias, valores e atitudes
que são potenciais multiplicadores da mudança de comportamento das pessoas e é
ferramenta de formação ética, por meio da sensibilização e visões diferenciadas sobre
a natureza [...]. Tal processo é amparado pelos mecanismos de ensino-aprendizagem,
por meio do qual a interações possibilita a sensibilização como ferramenta educativa.
Os textos apontam para uma suposta alternativa sem mudança social estrutural e,
portanto, deixando a inovação (mudança radical, das essências) em um plano bem distante. De
fato, os trabalhos selecionados e lidos não discutem o necessário enfrentamento ao sistema
expansivo de produção de mercadorias, o qual além de ser alienante, ideológico, superficial é
nefasto ao meio ambiente. Há realmente uma ausência de alternativas inovadoras de atuação
política necessária ao enfrentamento dos “problemas ambientais” advindos da formação social
capitalista, como por exemplo as práticas comunitárias dos movimentos sociais, dos grupos
étnico-raciais que se baseiam na produção coletiva, no cuidado como valor universal,
indispensáveis à humanidade e aos processos de resiliência dos ecossistemas naturais.
Em sua grande maioria, os textos trazem em seu conteúdo manifesto a necessidade de
inovação, postura crítica e uma visão relacional ampliada da EA em âmbito formal e não-formal
quanto à crise ambiental contemporânea. Como se observa exemplificado a seguir, existem
duas linhas de pensamento bem definidas nesta direção, a saber: uma com perspectiva
metafísica, abstrata e generalista e outra apresentando uma percepção mais pontual,
fragmentada e individualista.
[...] O desafio é, pois, o de formular uma educação ambiental que seja crítica e
inovadora, em dois níveis: formal e não formal. Assim a educação ambiental deve ser
acima de tudo um ato político voltado para a transformação social. O seu enfoque
deve buscar uma perspectiva holística de ação, que relaciona o homem, a natureza e
o universo, tendo em conta que os recursos naturais se esgotam e que o principal
responsável pela sua degradação é o homem (JACOBI, 2003, p. 196).
[...] Vale destacar que, apesar das muitas barreiras vivenciadas cotidianamente pela
dominância de um paradigma capitalista, é possível acreditar na sua transformação,
desde que se parta da mudança interior de cada um, agindo na realidade,
exteriorizando e contagiando os demais (JOSUÉ, 2011, p. 196).
Ao analisar mais profundamente o conteúdo desses trabalhos é possível observar que
eles tratam de uma Educação Ambiental reformista, conjuntural e pouco disruptiva do ponto de
vista dialético (SAVIANI, 1995). Com efeito, os textos da amostra não se ligam a uma EA que
apresente os efeitos deletérios ambientais advindos do agronegócio monocultor e voltado
unicamente ao mercado externo, a uma crítica contundente/consistente do desenvolvimento
capitalista sem ética humanista-ambiental, individualista, competitivo e violento, baseado no
acumulo de riqueza por uma minoria em detrimento da maioria, tudo isso sob o grande guarda-
chuva ideológico neoliberal, o qual se volta exclusivamente para a demonstração incessante de
indicadores do crescimento econômico, da necessidade de expansão produtiva, das disputas por
novos mercados e a implementação de novas tecnologias.
Pode-se mesmo dizer que os textos analisados acabam reforçando o pragmatismo
neoliberal da formação social capitalista, pois não demonstram a necessidade de construção de
sujeitos ecopolíticos (LAYRARGUES, 2020), capazes de denunciar, confrontar e buscar
subverter a ordem produtivista, consumista, imediatista e expansionista imanente à economia
capitalista e sua engrenagem destrutiva (BASCHET, 2021; FOLADORI, 1999; MARX;
ENGELS, 1998). Ou seja, uma EA verdadeiramente inovadora (FERRETTI, 1995; SAVIANI,
1995) seria capaz de apresentar os “problemas ambientais” em sua conexão com o processo
civilizatório capitalista europeu ocidental, violento, genocida, etnocida, homogeneizador dos
espaços, gerador de pobreza na riqueza, que teve seu início com a revolução comercial burguesa
a partir das chamadas grandes navegações do século XV.
O texto 1 do Quadro 4 foi o único trabalho caracterizado aqui como pertencente à
macrotendência Crítica da EA e, portanto, próximo da categoria de inovação educacional. Esse
texto aborda o processo de disciplinarização da EA em um município do estado do Rio de
Janeiro. É um trabalho baseado em pesquisa de campo, com entrevistas de sujeitos educacionais
e uso de uma considerável bibliografia de apoio, em que se destacam as ideias foucaultianas
acerca da análise de discurso. Os autores apontam que esse processo de construção de uma
disciplina de EA, com professor, carga horária e conteúdo independente das demais, na verdade,
apenas efetivou atividades de ensino – aprendizagem tradicionalmente implementadas a partir
de práticas pedagógicas de professores ligados às ciências naturais.
Assim, ainda que a disciplina escolar tenha surgido em Armação dos Búzios sendo
significada como uma inovação curricular e, portanto, como um mecanismo que
buscou promover, ao menos no âmbito da Educação Ambiental praticada nas escolas
da rede, uma mudança curricular, a própria disciplina acaba por se constituir, também,
em um dispositivo que promove estabilidade, em um processo no qual o discurso
biológico regula essa novidade. Afinal, as tradições curriculares das disciplinas
escolares Ciências e Biologia permaneceram fortemente presentes na nova disciplina
escolar, uma vez que a mesma foi assumida por uma professora dessa área, que passou
a veicular sentidos de Educação Ambiental que se apoiam fortemente nos seus
currículos. Nesse movimento, certos conteúdos e temáticas que já possuíam espaço-
tempo na grade curricular, ainda que tenham assumido outros enfoques e/ou objetivos,
permaneceram regulando a disciplina escolar Educação Ambiental, conquistando
ainda mais status e prestígio (SANTO; FERREIRA, 2015, p. 160).
O texto finaliza suas análises mostrando que as disputas pelo conteúdo curricular da
nova disciplina privilegiaram as tradicionais formas de fazer da EA na escola básica, ou seja,
uma disciplina que superdimensiona conteúdos ligados à Ecologia, ao estudo da biosfera, dos
componentes bióticos e abióticos dos ecossistemas, em detrimento dos conteúdos peculiares à
EA Crítica. Enfim, essa mudança no campo educacional ambiental municipal foi uma novidade
para a rede de ensino local, mas conservadora do ponto de vista da prática pedagógica, ficando
muito longe de ser uma inovação propriamente dita, como concluem os autores.
CONCLUSÃO
1 INTRODUÇÃO
Discutir Educação Ambiental (EA) não é uma tarefa tão simples. Para iniciar essa
discussão, recorreu-se a obra denominada “Identidades da Educação Ambiental Brasileira”,
uma publicação do Ministério do Meio Ambiente, no ano de 2004. O intuito foi, a partir da
leitura dos autores que participaram deste ensaio, entender um pouco do conceito de EA, bem
como das suas diferentes denominações e classificações por eles apresentadas. Porém não é o
objetivo aqui discorrer sobre cada uma das correntes de EA apresentadas na obra, mas depois
da leitura das mesmas optar por aquela que houver maior identificação e que esteja de acordo
com a prática pedagógica discutida na presente pesquisa.
Um dos autores que participaram da referida obra citada anteriormente, foi Philippe
Layrargues, para quem a educação ambiental é um campo derivado da junção de dois termos:
primeiro o substantivo “educação”, que é o campo maior e que garante a essência do termo e
o segundo é um adjetivo, “ambiental”, que vai caracterizar o contexto da prática educativa,
portanto, a junção de um substantivo e um adjetivo vai classificar o que se convencionou
chamar de “educação ambiental”, o nome que foi dado as práticas educativas relacionadas à
questão ambiental (LAYRARGUES, 2004, p. 7).
A utilização do termo “educação ambiental”, permite o reconhecimento de uma
identidade própria, diante de uma Educação que anteriormente não era ambiental (sustentável)
mas que num dado momento precisou chegar à sustentabilidade, explica Layrargues (2004, p.
7). Em sentido muito próximo, o termo “educação ambiental” para Carvalho (2004, p. 15), é
efeito de uma adjetivação quando o atributo ambiental é aplicado ao substantivo educação.
O atributo “ambiental” na tradição da Educação Ambiental brasileira e latino americana
não é empregado para especificar um tipo de educação, mas se constitui em elemento
estruturante que demarca um campo político de valores e práticas, mobilizando atores sociais
comprometidos com a prática político-pedagógica transformadora e emancipatória capaz de
promover a ética e a cidadania ambiental” (BRASIL, 2012).
O fato é que a EA no Brasil, não é uniforme, mas “abarca diversas classificações e
denominações” (LAYRARGUES, 2004, p. 7), o que em determinado momento levou
pesquisadores, da área a (re)significar os sentidos e a identidade do fazer educativo ambiental.
O autor explica que houve momentos que se discutiu as características da EA formal, informal
ou não-formal, enquanto que em outros se discutiam as modalidades de EA, como a
conservacionista, ao ar livre e ecológica. A discussão sobre diferentes nomenclaturas para a
EA, foi vista nos GTs ANPED, nas pesquisas de Portugal e Santos (2007) e em Oliveira (2011).
Porém, percebeu-se que estes trabalhos são baseados e citam a obra “Identidades da Educação
Ambiental Brasileira” (BRASIL, 2004), bem como nos autores que dela participaram como
Layrargues, Carvalho e Guimarães.
É interessante notar que no Brasil, estudiosos, pesquisadores e professores, têm
dedicado esforços e contribuído significativamente para o amadurecimento teórico no campo
da EA, devido ao diálogo e as muitas ideias que surgem no mesmo. Este fato confere ao Brasil
um papel de “protagonista” (LAYRARGUES, 2004, p. 8) no debate. Porém o autor é enfático
ao afirmar que a EA brasileira é um “campo em disputa” (LAYRARGUES; LIMA, 2014, p. 3).
Por isto, os autores citados explicam que se for observado o processo histórico da EA brasileira,
houve um primeiro momento onde a busca era por uma definição universal comum a todos os
envolvidos nessa práxis educativa. No segundo momento, ocorreu o abandono dessa ideia de
definição universal, dada a “percepção crescente da diversidade de visões e pluralidade de
atores que dividiam o mesmo universo de atividades e saberes” (LAYRARGUES; LIMA, 2014,
p. 5).
Esses dois momentos demonstram que ao longo do tempo a EA brasileira foi ampliando
sua multiplicidade dentro do campo, o que levou consequentemente a novos esforços teóricos
e políticos, ou seja,
A multiplicidade de propostas conceituais revelava essa diversidade interna, que na
fase fundacional da Educação Ambiental ainda não podia ser percebida, apenas na
fase de consolidação do campo pôde ser compreendida. Ou seja, não mudou o objeto,
em si já diferenciado, mudaram e refinaram-se os olhares sobre ele (LAYRARGUES;
LIMA, 2014, p. 5).
Interessante notar também que os problemas advindos da chamada crise ambiental, da
destruição da natureza, dos “problemas do meio ambiente”, influenciou que a EA no Brasil
tenha herdado do campo ambiental a parte mais significativa de sua identidade e as suas
realizações históricas. A aproximação teórica e prática com o campo educativo só veio a partir
da década de 1990, quando por exemplo, as vésperas da Rio-92, o Ministério da Educação
instituiu um Grupo de Trabalho permanente, chamado de COEA (Coordenadoria de Educação
Ambiental), cuja a missão do GT seria elaborar uma proposta de atuação na área da EA formal
(LAYRARGUES; LIMA, 2014, p. 6).
Cabe ressaltar que a Educação Ambiental é um campo permeado por controvérsias
importantes (SILVA, 2009), que para entender melhor o seu processo de constituição, é
necessário fazer uma diferenciação entre a educação geral e a ambiental,
A primeira marca, ou seja, do adjetivo ambiental na educação se alicerça na própria
construção da identidade do campo em questão. Rejeitar essa adjetivação é tentar
retirar a especificidade das ações que explicitam o ambiental nas práticas educativas.
A adoção da adjetivação de Educação Ambiental coloca, portanto, a identidade desse
campo. Essa identidade se dá em sua especificidade diante da educação em geral e o
legitima. Como afirmamos, não se pode falar de Educação Ambiental como algo
uníssono. Trata-se, por essência, de um campo em construção e diverso (SILVA,
2009, p. 3).
Pelo exposto percebe-se que não existe uma única forma de descrever a EA, mas dentro
do chamado campo, existem pluralidades onde há conflitos densos e importantes que vão
contribuir para o amadurecimento teórico no campo em questão. Mauro Guimarães é um dos
autores cuja produção teórica visa esclarecer porque EA é considerada um campo onde
diferentes concepções disputam a hegemonia dentro do mesmo, como explica
Situo a ideia de “campo em disputa” no embate pela hegemonia, em que o “campo
ambiental”, em sua posição majoritária, situa-se no movimento contra hegemônico
antagoniza aos paradigmas dominantes da sociedade moderna. Os paradigmas estão
imbricados, na e pela visão de mundo hegemônica das elites, que se estabelecem pelas
relações de poder, as dinâmicas dominantes da sociedade (GUIMARÃES, 2007, p.).
Como foi visto, uma elite dominante, uma minoria, é quem impõe um paradigma a ser
seguido pela maioria, mas na sociedade de classes emerge um movimento contra hegemônico
que vai pressionar e disputar a hegemonia no grupo. Daí surgem diferentes correntes, que no
caso da EA vão travar verdadeiros embates para conquistar a hegemonia dentro do campo da
EA.
Carvalho (2004, p. 15) alerta que para o melhor enfrentamento da “babel” das múltiplas
educações ambientais é preciso passar pela abertura de um espaço que comtemple o diálogo
entre as diferentes abordagens, ou seja, embora haja diferentes práticas de EA categorizadas de
diferentes maneiras como popular, crítica, política, comunitária, formal, não formal, para o
desenvolvimento sustentável, conservacionista, socioambiental, ao ar livre para solução de
problemas, etc., é necessário além do diálogo, a participação nas discussões e o consenso.
Para exemplificar as pluralidades que permeiam a educação ambiental, Silva (2009) cita
Sauvé (2005) que identificou e descreveu ao menos 15 correntes de EA, que resumidamente
são classificadas em tradicionais e recentes. As tradicionais estão divididas em naturalista,
conservacionista/recursista, resolutiva, sistêmica, científica, humanista, moral/ética. As
recentes são: holística, biorregionalista, práxica, crítica, feminista, etnográfica, da ecoeducação
e da sustentabilidade (SILVA, 2009, p. 4).
A publicação do MMA demonstra por meio dos autores que participam da obra que a
EA tem várias denominações como Alfabetização Ecológica, Educação Ambiental Crítica,
Transformadora ou Emancipatória, Educação no Processo de Gestão Ambiental (CARVALHO,
2004, p. 8). A autora comenta que a diversidade de nomenclaturas, aponta a necessidade de se
discutir e ressignificar os diferentes posicionamentos em relação à EA brasileira dada as
expressões que surgiram como a Ecopedagogia, EA Crítica, entre outras.
Mauro Guimarães (2004) é um dos defensores da EA crítica em contraposição a EA
conservadora que é aquela que se alicerça na visão de mundo que fragmenta a realidade,
simplificando e reduzindo-a, perdendo a riqueza e a diversidade da relação, por isso, é centrada
na parte, o que gera uma prática pedagógica objetivada no indivíduo (na parte) e na
transformação de seu comportamento (educação individualista e comportamentalista). Porém,
a realidade é complexa, vai além da soma das partes como totalidade, não pode ser vista numa
perspectiva simplista e reduzida.
A EA conservadora não contempla a perspectiva da educação enquanto realização no
movimento de transformação do indivíduo inserido num processo coletivo de mudança da
realidade socioambiental como uma totalidade dialética em sua complexidade. Não
compreende que a educação é relação e se dá no processo e não, simplesmente, no sucesso da
mudança comportamental de um indivíduo, como explica Guimarães (2004, p. 27).
Desta forma a Educação Ambiental Conservadora tende, refletindo os paradigmas da
sociedade moderna, a privilegiar ou promover o aspecto cognitivo do processo
pedagógico, acreditando que transmitindo o conhecimento correto fará com que o
indivíduo compreenda a problemática ambiental e que isso vá transformar seu
comportamento e a sociedade.
O Brasil possui uma área de 8.514.877 Km2 (IBGE, 2002), conferindo-lhe status de
país continental. Algumas de suas unidades federativas chegam a ser iguais ou maiores que
muitos Estados Nacionais Europeus. Essa grande extensão territorial dá ao Brasil uma
peculiaridade notável: é um país com terras em ambos os hemisférios, com diversidade
climatobotânica e geomorfológica considerável. Isso faz com que seus biomas17 sejam variados
e ricos, atribuindo-lhes uma importância estratégica fundamental em tempos de bioengenharia,
biocosmética, biojóias etc. em função de sua rica diversidade biogenética e sociocultural.
As UCs são regidas pela Lei Federal nº 9.985/2000, a qual criou também o Sistema
Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), integrando a Política Nacional de Meio
Ambiente, instituída pela Lei Federal nº 6.938/1981. Institucionalmente, as UCs criadas pelo
poder executivo nacional, estadual ou municipal fazem parte das estratégicas de Estado para
preserva/conservar a biodiversidade brasileira, assim como garantir o seu uso sustentável pelos
povos e comunidades tradicionais que habitam essas áreas protegidas. Ressaltamos que é o
SNUC que direciona a organização e a gestão das UCs no Brasil, inclusive regulamentando
suas diversas categorias e seus objetivos de conservação, como se observa no quadro a seguir.
Em que pese haver críticas, é possível dizer que a criação do SNUC coroa,
juridicamente, todo um processo histórico de busca por uma segurança jurídica no Brasil no
que concerne às áreas protegidas, uma vez que esta Lei sistematiza normas para criação,
manutenção e uso dos recursos naturais no território demarcado como UC, sejam elas de Uso
Sustentável ou de Proteção Integral18. Em linhas gerais o SNUC é, por assim dizer, a
“constituição” das UC brasileiras. A partir desta “carta magna” o Estado, em seus níveis federal,
estadual ou municipal, poderá propor leis e institucionalizar suas próprias UCs.
Em seu Art. 2o, inciso I do SNUC, o Estado Nacional Brasileira reconhece e conceitua
Unidade de Conservação como,
[...] espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais,
com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público,
com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de
administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção (BRASIL, 2000,
Art. 2º).
Há sistematizado no SNUC duas modalidades UC, a saber: as de Uso Sustentável e as
de Proteção Integral (BRASIL, 2000). Naquelas os recursos naturais somente poderão ser
utilizados com base em plano de manejo, construído pela própria população residente no local,
ou seja, de maneira participativa e com o auxílio os órgãos governamentais competentes. Nestas
(Proteção Integral), os recursos naturais devem ser preservados, sendo admitido seu uso apenas
de modo indireto, ou seja, através de atividades educacionais, científicas e recreativas ou de
lazer. De fato, do ponto de vista legal este tipo de Unidade tem como objetivo a preservação de
17
Área geográfica extensa que correspondem às principais formações vegetais naturais.
18
Um pouco mais a frente será esclarecido o que são as UC de uso sustentável e de proteção integral.
ecossistemas locais, com atividades de baixa ou nenhuma impactação ambiental. Vejam-se a
segui Quadros 1 e 2 especificando cada categoria de UC, com seus respectivos objetivos.
Quadro 1- Unidades de Uso Sustentável
Área extensa, com certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos,
bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e
Área de Proteção o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a
Ambiental (APA) diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a
sustentabilidade do uso dos recursos naturais. É constituída por terras públicas ou
privadas
É uma área em geral de pequena extensão, com pouca ou nenhuma ocupação
Área de Relevante humana, com características naturais extraordinárias ou que abriga exemplares raros
Interesse Ecológico da biota regional. Objetiva manter os ecossistemas naturais de importância regional
(ARIE) ou local e regular o uso admissível dessas áreas, de modo a compatibilizá-lo com os
objetivos de conservação da natureza. É constituída por terras públicas ou privadas.
É uma área com cobertura florestal de espécies predominantemente nativas e tem
Floresta Nacional como objetivo básico o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa
(FLONA) científica, com ênfase em métodos para exploração sustentável de florestas nativas.
É de posse e domínio públicos
É uma área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência
baseia-se no extrativismo e, complementariamente, na agricultura de subsistência e
Reserva Extrativista na criação de animais de pequeno porte, e tem como objetivos básicos proteger os
(RESEX) meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o Uso Sustentável dos
recursos naturais da unidade. É de domínio público com seu uso concedido às
populações extrativistas tradicionais.
É uma área natural com populações animais de espécies nativas, terrestres ou
aquáticas, residentes ou migratórias, adequadas para estudos técnico-científicos
Reserva de Fauna
sobre manejo econômico sustentável de recursos faunísticos. É de posse e domínio
públicos.
É uma área natural que abriga populações tradicionais, cuja existência baseia-se em
Reserva de sistemas sustentáveis de exploração dos recursos naturais, desenvolvidos ao longo
Desenvolvimento de gerações e adaptados às condições ecológicas locais e que desempenham um papel
Sustentável (RDS) fundamental na proteção da natureza e na manutenção da diversidade biológica. É de
domínio público.
Reserva Particular do É uma área privada, gravada com perpetuidade, com o objetivo de conservar a
Patrimônio Natural diversidade biológica.
(RPPN)
Fonte: elaborado a partir de Brasil (2000).
Após a identificação dos títulos dos produtos e autores, se fez necessário delimitar as
unidades de contextos (FRANCO, 2005) que delimitamos aqui como sendo: os “temas”,
“práticas” e “abordagens” das ações de Educação Ambiental em Unidades de Conservação,
para tanto, todos os produtos foram lidos e fichados na busca das referidas informações, cabe
destacar que os temas e as práticas estavam se apresentavam como conteúdos manifestos no
texto dos artigos, porém podemos caracterizar que as abordagens de EA na maioria dos artigos
são um “conteúdo latente (oculto)” (FRANCO, 2005). Diante disso, as abordagens apresentadas
no quadro a seguir foram caracterizadas de acordo com o olhar dos autores embasado no texto
“As macrotendências políticos-pedagógicas da EA brasileira” de Phillipe Layrargues e Gustavo
Lima (2014).
Quadro 5 - Identificação dos principais temas, práticas e abordagens
Principais temas, e das ações e abordagens em EA em unidades de conservação:
Produto 1: abordagem conservadora
Conservação do meio ambiente e dos recursos naturais; conscientização das atuais e novas gerações;
Práticas Temas
Relacionamento com o meio ambiente; construção de valores, habilidades e atitudes; atitudes individuais
e coletivas; conservação da natureza e qualidade de vida.
Visitas monitoradas: Bastidores do Zoo; Passeio Noturno; cadê o Lobo? Mata Atlântica: conhecer para
conservar; plantando o Futuro; resgatando nossa História, Visitas Monitoradas Técnicas (para cursos
Práticas
técnicos e faculdades), Visitas Monitoradas Especiais (para pessoas com deficiências). Apresentações
didáticas, cursos de formação de professoras/ es (Curso O Zoológico como instrumento de ensino e
Programa Zooescola). Clube para idosos (Clube Teteia); exposições temáticas e espaços educadores; Aula
Animal”; exposições interativas de experimentos; trilhas e experiências com microscópios; visitas
monitoradas, palestras sobre temas relacionados à ciência, tecnologia e meio ambiente.
Produto 3: abordagem conservadora
Interação do homem com a natureza; mudanças e transformações; impactos ao meio ambiente;
Práticas Temas
ambiente; preservação com o meio ambiente; exercício de uma cidadania ativa; sensibilização.
“Quinta no Parque”, Visitas Técnicas das Faculdades e Universidades, Parcerias com os Escoteiros do
Estado, Atendimento aos alunos de Graduação, Pós-graduação de Faculdades e Universidades; oficinas,
palestras e enquetes teatrais; oficinas; cursos; palestras e coleta seletiva; trabalhos com as trilhas referentes
aos resíduos sólidos.
Produto 5: abordagem conservadora
Cuidado de si o cuidado com a outridade; conservação da vida; ecoformação; relação direta e indireta com
a natureza; as relações entre homem/natureza; respeito; qualidade de vida; transformação, reconexão
Temas
homem/natureza; prender a conhecer, aprender a ser, aprender a conviver; ética ambiental, pela
transdisciplinaridade, pela amizade, pelo cuidado de si e pela compreensão humana; elementos – terra,
água, ar e fogo.
Práticas
Cinema ambiental; produção de imagens; curso de cinema ambiental-CUCA, realiza cursos para de
documentários produzidos de maneira colaborativa
ornamentais e exóticas.
Produto 8: abordagem conservadora e pragmática
Práticas Temas
Conservação da vida silvestre, importância da educação ambiental, caça de animais silvestres, sociedade
e biotecnologia, biodiversidade.
Fonte: elaborado pelos autores com base no Portal de periódicos da Capes-agosto/outubro de 2021.
Tendo em vista as leituras realizadas, alguns autores destacaram suas análises apontando
a vertente de EA que as ações se enquadravam, porém com base nos escritos de Layrargues e
Lima (2014) sobre as “Macrotendências de Educação Ambiental” foi possível classificar as
práticas em outras abordagens tendo em vista que as ações apresentadas apontam elementos
significativos para compreender o tipo de EA realizados nessas Unidades de Conservação.
As ações de EA desenvolvidas em UCs colocam em evidência os seguintes aspectos:
temas, as práticas realizadas e as abordagens de EA, sobre os quais a análise será realizada.
4.1 Os temas
Nesse trecho, fica claro a concepção que deve ser abordada nos temas das ações em EA,
reduzindo o debate essencial da crise socioambiental, às questões de cunho individual,
atitudinal e comportamentalista.
A seleção desses temas, culmina com práticas apolíticas, de caráter minimalista e sem
efeitos sob o fenômeno a ser questionado, pois sabe-se que tais temáticas possuem uma
ideologia, que sedimenta o status quo da abordagem conservadora da EA, não ultrapassando
assim a visão romantizada que foi engendrada para maquiar a realidade origem da crise
ambiental.
A partir da análise pudemos identificar expressões na qual em sua maioria é possível
perceber um discurso de culpabilização dos sujeitos, cabendo a estes a responsabilização pelos
danos ambientais. Com exceção de poucas expressões que citam uma visão crítica da Educação
Ambiental.
Nesse cenário destacam-se com muita recorrência as expressões: conscientização,
mudanças de comportamento, construção de valores, responsabilidade, exercício da cidadania,
transformação e reconexão. Todos esses elementos discursivos corroboram a prática de uma
Educação Ambiental para o adestramento, e possuem uma intencionalidade profunda que
carece ser discutida no âmbito da atual conjuntura ambiental.
Pêcheux & Fuchs (2010) afirmam que as formações sociais são passíveis de serem
caracterizadas pelas relações entre classes sociais, isso diz respeito a existência de posições
políticas e ideológicas, que não são o feito de indivíduos, mas que se organizam em formações
que mantêm entre si relações de antagonismo, de aliança ou de dominação.
Tais relações se expressam por meio dos discursos presentes nas temáticas dos produtos
analisados, são elementos fortes dentro de uma ideologia que tem objetivos efetivos dentro de
uma sociedade dividida em classes.
4.2 As práticas
As práticas das ações desenvolvidas nas UCs apresentadas nos artigos analisados, estão
diretamente relacionadas as abordagens classificadas nas macrotendências de EA, porém não
se pode pensar em um tipo de EA e realizar uma prática que vai de encontro com as concepções
presentes no contexto da abordagem selecionada.
Nesse sentido, para analisar as práticas presentes nos artigos estudados, recorremos a
Layrargues e Lima (2014, p. 28) falam que,
Na prática, isso significa que existem muitos caminhos possíveis de conceber
e de realizar os meios e os fins da Educação Ambiental. Dependendo desse
conjunto complexo de circunstâncias, alguns atores escolhem um determinado
caminho, outros escolhem um caminho diferente: uns acreditam ser
determinante o desenvolvimento da sensibilidade na relação com a natureza,
outros entendem que é fundamental conhecer os princípios ecológicos que
organizam a vida. Alguns têm forte expectativa no autoconhecimento
individual e na capacidade de mudança do próprio comportamento em relação
à natureza, outros estão seguros que é preciso contextualizar o problema
ambiental com suas dimensões sociais e políticas, entre outras possibilidades.
4.3 As abordagens
As abordagens identificadas na análise dos produtos dessa pesquisa, são em sua maioria
conservadoras seguida por duas experiências de abordagens pragmáticas e conservadoras no
mesmo contexto. A macrotendência conservacionista segundo Loureiro e Layrargues (2013, p.
65),
Relaciona-se com práticas educativas que proporcionam um contato íntimo
com a natureza, mas estão distanciadas das dinâmicas sociais e políticas, e de
seus respectivos conflitos de poder. Apoia-se nos princípios da ecologia, na
valorização da dimensão afetiva em relação à natureza e na mudança dos
comportamentos individuais em relação ao ambiente, mudança baseada na
constatação da necessidade de uma mudança cultural civilizatória que
relativize o antropocentrismo como paradigma dominante.
Essa abordagem possui um viés ideológico que permeia a moralização do sujeito frente
as questões ambientais, culpabilizando-o, e por meio de ações conscientização e sensibilização
e propiciam momentos de reconciliação entre o ser humano e o meio ambiente, conforme
podemos constar nas práticas apresentadas no Quadro 5. Nessa vertente, o sujeito não questiona
o que vem a ser o cerne da “crise ambiental” e nem a compreende como crise do modelo
societário hegemônico, as práticas abordam apenas o fenômeno, não ultrapassam a
superficialidade das questões ambientais, não buscam a essência da origem dessa crise.
A Macrotendência pragmática, de acordo com Layrargues e Lima (2014, p. 30),
compreende,
as correntes da Educação para o Desenvolvimento Sustentável e para o
Consumo Sustentável, é expressão do ambientalismo de resultados, do
pragmatismo contemporâneo e do ecologismo de mercado que decorrem da
hegemonia neoliberal instituída mundialmente desde a década de 1980 e no
contexto brasileiro desde o governo Collor de Mello nos anos 1990.
CONCLUSÃO
Os dados aqui apresentados reforçam que as ações de Educação Ambiental apresentam uma
forte inclinação para as abordagens conservadoras e pragmáticas, as quais têm estado hegemonicamente
no fazer pedagógico da escola básica, realidade que ficou patente à medida que os textos foram sendo
analisados. Essa presença paradigmática conservadora norteia também as práticas de EA que vêm sendo
implementadas nas Unidades de Conservação brasileiras, em detrimentos de práticas pedagógicas
ligadas à paradigmas críticos e libertários.
De fato, os temas presentes nas ações na maioria dos textos analisados mostram um
distanciamento abissal entre as vertentes conservadoras e/ou pragmáticas em relação a EA crítica. As
análises mostraram que a EA desenvolvida nas UCs enfatizam dimensões puramente valorativas,
moralizantes, com culpabilização e responsabilização de certos comportamentos dos sujeitos frente a
crise ambiental, deixando de lado as discussões mais aprofundadas acerca da crise societária capitalista
e suas ideologias legitimadoras de um sistema produtivo e de consumo existencialmente destrutivo dos
laços humanitários e dos sistemas naturais.
Essa análise se soma como mais um instrumento para contribuir com os estudos voltados para
o debate sobre a EA e suas práticas em Unidades de Conservação, e a ênfase na dimensão de uma
proposta crítica na luta pela mudança de paradigma no campo da EA instituídos nos espaços de proteção
e conservação da biodiversidade, questionando assim o aspecto fenomênico, biológico, simplista e
reducionista da crise ambiental.
Para tanto, é possível perceber por meio do estudo aqui apresentado a importância da EA Crítica
no intuito de possibilitar um detour necessário para a compreensão dos fenômenos ideologicamente e
hegemonicamente estabelecidos na sociedade capitalista. Assim, diante das experiências em EA no
contexto das Unidades de Conservação, analisadas nesse estudo do conhecimento mostram o quanto
precisamos caminhar rumo à uma EA de fato crítica, emancipadora, popular e transformadora.
Finalmente, cabe ressaltar a necessidade da ampliação dessa análise a partir de outros bancos de
dados, além do Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES), para que possamos acessar outros produtos e dar maior profundidade quanto às análises
acerca da presença de processos educativos ambientais no âmbito das UCs brasileiras.
REFERÊNCIAS
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institui a Política Nacional de EA e dá outras providências. Diário Oficial da República
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http://www.pesquisaemdebate.net/docs/pesquisaEmDebate_10/artigo_9.pdf. Acesso em: 28
out. 2019.
1 INTRODUÇÃO
Este texto se propõe a realizar um levantamento das produções acadêmicas que discutem
a Educação ambiental na perspectiva da transformação social, tendo como marco temporal o
período de 2019 a 2021, referente ao tempo da atual gestão do governo federal que é marcada
por retrocessos no campo ambiental. Dessa forma, através de uma pesquisa bibliográfica do
tipo estado do conhecimento, pretendeu-se mapear e analisar os caminhos que a EA, que se
enquadra numa vertente de compromisso com a criticidade e politização dos sujeitos, que está
dentro da macrotendência crítica, vem se apresentando no cenário brasileiro.
O Estado do conhecimento, de acordo com Morosini e Fernandes (2014, p. 155), “[...]
é identificação, registro, categorização que levem à reflexão e síntese sobre a produção
cientifica de uma determinada área, em um determinado espaço de tempo”. Todavia, além de
realizar as etapas mencionadas pelas autoras, esse tipo de pesquisa deve ser “uma revisão crítica
da literatura específica, com a identificação dos aspectos que têm sido valorizados e os
referenciais teóricos que vêm subsidiando as pesquisas nos últimos anos” (SILVA; SOUZA;
VASCONCELLOS, 2021, p. 4).
Para compor o corpus de análise deste trabalho escolheu-se realizar um levantamento
em apenas um meio, o Portal de Periódicos da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior), por entendermos ser um importante meio de divulgação de
produções científico-acadêmicas em nosso país. Assim, no mês de novembro de 2021, realizou-
se um levantamento a partir do descritor “educação ambiental”, utilizando-se como filtros os
seguintes itens: revisado por pares; idioma português, e: período de publicação entre 2019 e
2021. Foram encontrados um total de 325 produções, sendo 324 artigos científicos e 1 resenha.
A seleção dos produtos para compor o corpus de análise deste texto, foi realizada a partir
da leitura do título e resumo das produções encontradas, a fim de que fossem selecionadas as
produções que discutissem a Educação Ambiental a partir da perspectiva da macrotendência
crítica, considerando os estudos de Layrargues e Lima (2014). Com isso, foram selecionados
12 produtos que traziam em seu resumo elementos que apontavam para a compreensão da
educação ambiental nessa perspectiva, conforme quadro abaixo.
Quadro 1 - Lista dos produtos selecionados a partir da pesquisa realizada no Portal de periódicos da CAPES
Título Autores Ano Periódico
O amanhã da Educação Ambiental Vilmar Alves Pereira; 2021 Revista Thema
a relação Humanidade-Natureza no contexto Marcel Jardim Amaral
pós-COVID-19
Horta comunitária e educação ambiental no Gabriel Dreher Pacheco da 2021 Revista Eletrônica
Morro do Horácio (Florianópolis - SC): Silva; de Extensão –
saberes compartilhados na extensão Laura Cristina Pereira de Extensio
universitária Oliveira;
Marilia Carla de Mello
Gaia
Crítica à educação ambiental no ensino de Guilherme Pereira Cocato 2021 Geousp – Espaço e
geografia: discussão e propostas Tempo (Online)
pedagógicas
A educação ambiental crítica, a caminho Luciano Rodolfo de Moura 2019 Devir Educação
de uma ecologia integral Machado;
Os impeditivos da semiformação e da Nilo Agostini
indústria cultural
A importância do desenvolvimento da Édina de Fátima da Cruz 2019 Revista Tecnologia
educação ambiental emancipatória com Queiroz; Carlos Cesar e Sociedade
perspectiva nas tecnologias sociais: estudo Garcia Freitas; Priscila
de casos Caroza Frasson Costa
Educação ambiental e educação cts numa Rodrigo da Luz; Eliane 2020 Investigações em
perspectiva freireana: a necessária superação dos Santos Almeida; Ensino de Ciências
da contradição entre conservação e Rosiléia Oliveira de
desenvolvimento Almeida
Aspectos da educação ambiental crítica no Daniana Costa; 2019 Revista Brasileira
ensino fundamental por meio de atividades Edilson Pontarolo de Estudos
de modelagem matemática Pedagógicos
Educação ambiental na formação inicial Sirlene Donaiski Motin; 2019 Investigações em
docente: um mapeamento das pesquisas Raquel Maistrovicz Tomé ensino de ciências
brasileiras em teses e dissertações Gonçalves; Dircelia Maria
Soares de Oliveira
Cassins; Daniele Saheb
Estratégias Bio/Ecopolíticas na Educação Paula Corrêa Henning 2019 Revista Educação
Ambiental: a mídia e o aquecimento global Unisinos
Concepções de educação ambiental crítica Josiône de Oliveira 2021 Revista Práxis
de professores e da articuladora pedagógica Ramos; Educacinal
de uma escola municipal do interior da Silvana do Nascimento
Bahia Silva
Panorama da educação popular no Brasil e Rodrigo da Costa Caetano; 2021 Rev. Ed. Popular,
os movimentos sociais: inspirações Silvia Alicia Martínez;
freireanas e contribuições à práxis da Michelle Nascimento
Educação Ambiental Crítica Weissmann da Silva
Paulo Freire e a formação de educadores Ivo Dickmann; 2019 Revista Cocar
ambientais Sônia Maria Marchiorato
Carneiro
Fonte: Elaborado pela autora a partir de informações recolhidas no Portal de Periódicos da CAPES (2021)
Com isso, após a seleção dos artigos científicos para compor o corpus empírico de
análise, considerando o critério já evidenciado e a atual situação em que nosso país está
submetido, marcada pelo antiecologismo e caracterizada pelo desmonte ambiental, realiza-se a
leitura integral dos 12 produtos selecionados buscando identificar as discussões mais presentes
nesta área, a partir do recorte temporal proposto, e os referenciais teóricos que embasaram tais
produções. Assim, parte-se para a análise de cada produto selecionado.
Pereira e Amaral (2021, p. 274) relacionam o fenômeno da COVID-19 com as crises
ambientais contemporâneas, atrelas a racionalidade instrumental embutidas na necessidade de
dominação do homem perante a natureza, convergente com o modo de produção capitalista,
relacionadas a “emergência do Antropoceno e pauta fundamental das mudanças ou emergências
climáticas”.
Assim, os autores buscam possibilidades que a Educação Ambiental possam assumir
nesse contexto de mundo pós-COVID-19, considerando esses apontamentos como
fundamentais para a ampliação da consciência social e garantia de um futuro melhor, propondo
então: a adoção de posturas com perspectivas mais ontológicas na relação humanidade-
natureza; compromisso com os excluídos; a adoção do ecossocialismo de Michael Löwy, como
perspectiva socioambiental de alteração desse horizonte; opção por energias renováveis a partir
de movimentos que reforcem a percepção e conscientização sobre os danos do uso das energias
fósseis; aprender com os povos andinos o modo de ser e viver em profunda harmonia e
equilíbrio com a natureza; mudanças no horizonte das pesquisas em EA para uma redefinição
ontológica; redefinição dos projetos pedagógicos das escolas de modo que a EA assuma papel
importante para pensarmos a sociedade que queremos; a adoção de um compromisso político
com as mudanças climáticas, e; a adoção da Ecologia Cosmocena em contraposição ao
antropoceno.
Apesar se serem apontadas possibilidades convergentes com o pensamento da EA
crítica, considera-se ainda muito presente neste artigo discursos divergentes com essa
concepção. O debate parece não considerar que a sociedade, por estar dividida em classes, não
se relaciona com a natureza de maneira homogênea, havendo diferenças historicamente
constituídas. Há tendência em focar nos discursos de conscientização, como é perceptível nos
trechos: “(...)o desenvolvimento de atividades voltadas a processos de conscientização de que
o futuro da minha existência depende do futuro coletivo” e “EA Crítica assume um papel central
de protagonizar esse processo formativo conscientizado” (PEREIRA; AMARAL, 2021, p. 276
e 279).
A proposta de adoção do Ecossocialismo apresentada, se configura como uma forma de
organização social que supera a divisão social em classes, contudo o tema foi abordado neste
texto de forma superficial, precisando ser dada uma atenção maior, pois não fica claro como
esse sistema pode ser a melhor opção nessa conjuntura pós-pandêmica apresentada.
Silva, Oliveira e Gaia (2021) apresentam resultados de um projeto de extensão que
propunha a implantação de uma horta comunitária numa comunidade periférica do município
de Florianópolis – SC, relacionando os conceitos de agroecologia e permacultura. Os autores
destacam que as ações desenvolvidas se ancoram numa abordagem da EA crítica, baseados nos
autores Jacobi, Dickmann e Carneiro, e Pinto e Guimarães, e tiveram as ações desenvolvidas
entre os anos de 2018 e 2020.
A partir da leitura do texto fica evidenciado que durante o desenvolvimento do projeto
as atividades se focaram em ações que se configuram mais como assistencialistas, a partir da
distribuição de alimentos, roupas entre outros, e para resolver problemas de degradação
ambiental e sociais presentes na comunidade, num âmbito bem local sem fazer discussões que
permitissem uma compreensão mais ampla da situação ao qual os moradores dessa comunidade
estão submetidos. Foi relatado que o projeto teve que ser reajustado devido a ocorrência da
pandemia do COVID-19, porém acredita-se que, apesar de não se tratar do objetivo do projeto,
poderia ter sido aproveitada a situação para o devido debate envolvendo a pandemia como
consequência de problemas socioambientais evidenciados por Layrargues (2020a).
Cocato (2021) se propõe a discutir se as práticas de Educação Ambiental no ensino da
geografia questionam os problemas ambientais emergentes, a partir do método do materialismo
histórico e dialético. Para tanto, realizou a análise de livros didáticos do Ensino Médio, quanto
a forma de abordagem das questões socioambientais, chegando à conclusão de que a maioria
dos conteúdos abordam o assunto de forma insuficiente ou de forma conservadora. Com isso,
o autor ancorado na pedagogia histórico-crítica abordada pelas orientações metodológicas de
Gasparin, realiza proposições de atividades práticas para o ensino de geografia comprometidos
com a transformação socioambiental.
Machado e Agostini (2019) buscam a compreensão do conceito de ecologia integral
presente no documento Encíclia Laudato Sì, escrito pelo Papa Francisco, a partir das categorias
semiformação e indústria cultural presentes no pensamento de Adorno. Os autores, concluem
que a EA crítica, ancorada em Loureiro, pode ser o caminho para se chegar à ecologia integral,
tendo possibilidades de superar a alienação socioambiental.
Queiroz, Freitas e Costa (2019) propõe a relação entre a EA Emancipatória - EAE e as
Tecnologias Sociais - TS, pois ambas direcionam as práticas educativas com comprometimento
para a transformação social. Concluindo, a partir da análise de diversos conceitos envolvendo
essas categorias, que se pode fazer uma relação entre elas, “pois são fenômenos constituídos de
valores que se complementam e que visam uma conscientização e soluções para o bem comum,
ou seja, em benefício de uma comunidade” (QUEIROZ; FREITAS; COSTA, 2019, p. 141). Os
autores constatam essa relação a partir da análise de três projetos de TS que apresentam a
temática do meio ambiente.
Apesar dos autores apresentarem um discurso de que a implementação da EAE
relacionada a TS propõe a realização de práticas para a transformação social, fica evidenciado
no texto que a perspectiva de transformação social adotada vai mais no sentido de “formação
de cidadãos conscientes e comprometidos com seu papel na sociedade” (QUEIROZ; FREITAS;
COSTA, 2019, p. 147), indo de encontro a visão de contextualização e politização do debate
ambiental com vistas a mudanças estruturais.
Luz, Almeida e Almeida (2020) discutem a contribuição da EA e da Educação CTS
(Ciência, Tecnologia e Sociedade), no contexto da Educação em Ciências, a partir de uma
perspectiva freireana, constatando que elas assumem papel importante para a exposição da
contradição existente entre conservação ambiental e desenvolvimento socioeconômico
presentes na sociedade capitalista. Assim, os autores frisam que essa contradição não existirá
na organização de uma nova sociedade fundada sob valores humanizadores.
As contribuições desses autores vão ao encontro da perspectiva de mudanças nas
relações existentes, provocando uma real transformação da sociedade, imprescindível para uma
nova forma de relação entre sociedade e natureza, estando condizente com a EA crítica.
Costa e Pontarolo (2019) relatam uma pesquisa de campo desenvolvida à luz da teoria
crítica da EA, fundamentados nos pensamentos de Guimarães, Loureiro e Layrargues e Lima,
e se utilizando da disciplina da Matemática com a realização da técnica de modelagem
matemática, realizaram-se práticas de educação ambiental destinadas a alunos do 9º ano do
Ensino Fundamental, de uma escola pública do Estado de Santa Catarina. Ao final da pesquisa,
os autores percebem uma mudança na concepção de meio ambiente, de modo a sair de uma
visão naturalista para uma compreensão dos aspectos socioambientais, evidenciadas pela
comparação dos resultados da pesquisa obtidos pela análise dos questionários, dos grupos focais
e dos registros em diário de campo.
Para os autores “(...) é importante que o professor reflita sobre como tratar e inserir a
educação ambiental em uma perspectiva crítica na sua prática pedagógica, a fim de fomentar a
reflexão e a criticidade de seus educandos em relação aos problemas do ambiente” (COSTA;
PONTAROLO, 2019, p. 164-165) (grifo nosso). Contudo, compreende-se que os problemas
não são do ambiente, e sim que se apresentam na natureza provenientes da forma como a
sociedade capitalista se relaciona com o meio ambiente, ocasionando a crise socioambiental
contemporânea.
Motin et al (2019) realizam uma pesquisa bibliográfica de estado da arte para mapear as
pesquisas realizadas em nível de mestrado e doutorado, defendidas no Brasil no período de
2006 a 2016, que tratam sobre EA. Suas análises se concentraram em produções que focam o
nível superior, ficando evidenciado que em alguns cursos as
representações de EA estão ligadas a aspectos da natureza, como árvores, ar,
água e sua preservação, sendo, assim, tradicionais, naturalistas,
conservacionistas e preservacionistas; também há uma forte dicotomia nos
valores ambientais entre humanidade e meio ambiente; e a visão de natureza
antropocêntrica e da ética ambiental está limitada ao conceito de
sobrevivência (MOTIN et al, 2019, p. 91).
Estudos dessa natureza são de extrema importância, pois dão um panorama de como a
temática da EA está sendo conduzida no ensino superior, nível da base da formação dos
professores que atendem a Educação Básica. Ficando evidenciado, neste estudo, que ainda
predomina neste nível de ensino uma visão conservadora e pragmática condizente com as
práticas presentes na maioria das escolas de nosso país.
Henning (2019) ao analisar as estratégias bio/ecopolíticas presentes no discurso
midiático que abordam o tema do aquecimento global, utilizando como referencial Michel
Foucault, considerou para a composição do corpus de análise as reportagens dos jornais Folha
de São Paulo e El País, publicadas nos anos de 2016 e 2017. Seu estudo evidencia que a EA
abordada nesses meios de comunicação, apresentam um posicionamento alarmista, a fim de que
se possa mudar as ações públicas e privadas, com o intuito de mitigar os efeitos do aquecimento
global.
Entretanto, a autora propõe que é preciso encontrar formas de resistência a essas
estratégias, a fim de propor “Uma EA da problematização e da criação, pensando o pensamento
e apostando em fissuras nas grandes verdades que insistem em nos fazer rebanho” (HENNING,
2019, p. 379). Pensamento condizente com a abordagem aqui defendida, que é a EA crítica.
Ao analisar a concepção de professores sobre como a EA crítica é articulada numa
escola do Estado da Bahia, a partir da análise das entrevistas realizadas, Ramos e Silva (2021)
apontam que os sujeitos investigados desconhecem a temática e o planejamento de curso da
escola. Com isso, as autoras reforçam a necessidade de formação continuada para o
aprofundamento teórico e metodológico da EA crítica, e assim, contribuir para uma educação
transformadora e reflexiva.
Dickmann e Carneiro (2019) ao socializar uma pesquisa-ação com o intuito de realizar
formação continuada com educadores ambientais de uma escola pública do Estado de Santa
Catarina, a partir da perspectiva filosófica freireana, seus resultados indicam graduais mudanças
pedagógicas e a necessidade de maior diálogo entre os servidores do magistério para a
realização do planejamento integrando a EA.
Caetano, Martínez e Silva (2021) refletem sobre a intrínseca relação entre Educação
Popular – EP e movimentos sociais, sendo que essa reflexão pode trazer contribuições para o
campo da EA crítica. Os autores pensam a partir dos conceitos de EP e movimentos sociais,
focando as experiências do projeto de EA Territórios do Petróleo (TP): Royalties e Vigília
Cidadã na Bacia de Campos. Para os autores,
A ligação da EP com a Educação Ambiental Crítica se dá tanto pelo viés
freireano quanto pela projeção das práxis pedagógicas a partir da organização
das atividades educativas com metodologias participativas em prol da
transformação da sociedade e da emancipação dos sujeitos. Em ambas,
durante o processo de mediação da aprendizagem mútua, ainda que com a
participação da universidade, há politização do, ou no, debate com a(s)
comunidade(s) e aproximação para com os ideais dos movimentos sociais.
(CAETANO; MARTÍNEZ; SILVA, 2021, p. 142)
Assim, a EP alinhada aos movimentos sociais pode contribuir com a EA crítica ao ponto
de propiciar a militância e o ativismo social dos sujeitos, imprescindíveis para a contestação e
transformação da sociedade vigente, para superar a divisão social em classes.
Os estudos analisados nesta seção apresentam um recorte das produções na área da
Educação Ambiental, no último triênio, evidenciando os caminhos que estão sendo seguidos
pelas pesquisas em nosso país. A partir desta análise, pode-se afirmar que existe uma tendência
de as pesquisas propostas anunciarem a utilização da EA crítica, alinhada a um movimento que
desde os anos 1990, buscam uma alternativa frente a visão conservadora dominante neste
debate, pois “não bastava lutar por outra cultura na relação entre humano e natureza, sem
também lutar por uma nova sociedade” (LAYRARGUES; LIMA, 2014, p. 29).
Assim, o desenvolvimento dessas pesquisas se constitui como importante forma de
resistência frente as percepções despolitizadas da relação entre ser humano e a natureza, por
não considerar que essa relação se dá por classes sociais historicamente constituídas. Contudo,
percebemos que existem conceitos inerentes a macrotendência crítica da EA que precisam ser
mais bem compreendidos, no sentido de superar finalidades de conscientização e focar em
debates de transformação da sociedade, questionando a estrutura social em sua totalidade.
CONCLUSÃO
1 INTRODUÇÃO
A expressão política pública ganha espaço nos meios acadêmicos justamente por
representar a necessidade do entendimento da relação do Estado com a sociedade. Souza
(2006), em seus estudos, apresenta alguns modelos explicativos de formulação e análise de
políticas públicas em relação ao papel do governo na tomada de decisões que deve refletir na
vida de seus cidadãos. Um desses modelos é sistematizado por Theodor Lowi (1964; 1972)19,
19
LOWI, Theodor. American business, public policy, case studies and political theory. World Politics,
16 jul. 1964
que apresenta a mais conhecida tipologia sobre política pública. Para Lowi, a “política pública
faz a política”. Assim, segundo Souza (2006, p. 28), “com essa máxima Lowi quis dizer que
cada tipo de política pública vai encontrar diferentes formas de apoio e de rejeição e que
disputas em torno de sua decisão passam por arenas diferenciadas”. Por essa análise, Lowi
assevera que política pública pode assumir quatro formatos, a saber:
Cada formato descrito pelo autor aborda o papel do governo, principalmente no que se
refere ao financiamento de tais políticas, no entanto, é sabido que, nesse ponto, por causa do
poder de organização e pressão de determinados grupos dos estratos sociais, este fator fica a
cargo de ente estatal que delimita o orçamento geral, destinando qual formato de políticas
públicas serão desenvolvidas ou não.
É importante frisar que o Estado, enquanto um agente fundamental, sempre foi
essencial nas formulações e acontecimentos das Políticas Públicas. Barroso (2005) destaca que
é a partir dos anos 80 do século XX que a reforma e reestruturação do Estado passa a constituir
um tema central de debate político em vários países e em todos os continentes, tais debates
envolvem questões como a reestruturação do Estado e a criação de medidas políticas e
legislativas que devem ser direcionadas à administração pública em todos os seus setores, dentre
os quais a gestão da educação.
Dourado (2007) destaca que, no contexto nacional, a gestão da educação básica
perpassa por várias concepções e que nasce de várias proposições, relacionadas a cenários
complexos que se articulam aos sistemas de ensino. Para este autor, a concepção de educação,
nesse modelo, é entendida como “prática social, portanto constituinte das relações sociais mais
amplas, a partir de embates e processos em disputa que traduzem distintas concepções de
homem, mundo e sociedade” (DOURADO, 2007, p. 923).
______. Four systems of policy, politics and choice. Public Administration Review, v. 22, jul./aug.
1972
No que concerne às políticas públicas educacionais, é essencial descrever que a
educação no Brasil passa e passou por um projeto societário, marcado por tensões e
contradições que determinaram a organização do sistema educacional no país, caracterizando
as políticas educacionais em diferentes períodos. Assim, compreende-se que a concepção de
políticas públicas educacionais nasce dos anseios de grupos e movimentos que vão moldar o
conceito de educação.
Nesse contexto, Paulilo e Abdala (2010), ao realizarem um estudo sobre políticas
públicas no Brasil, consideram-nas perpassadas por um processo de relativização e
neutralização enquanto reforma educacional e anseios sociais, compreendendo seus diversos
sistemas. A partir de sua formulação, as políticas públicas educacionais passam pelo desafio da
operacionalização quanto a sua interpretação e aplicação das diretrizes normativas, o que
podemos entender como características de elaboração de diversas políticas públicas no país que,
como pontua Saviani (2008), tornam-se “letras mortas” por diversos fatores, inviabilizando sua
aplicabilidade em muitos casos.
Toma-se como base, assim, a definição de Azevedo (2003, p. 38) sobre política
pública, que seria “tudo o que um governo faz e deixa de fazer, com todos os impactos de suas
ações e de suas omissões”. Já no que se refere a políticas públicas educacionais, Oliveira (2010,
p. 94) complementa ao afirmar que “é tudo aquilo que um governo faz ou deixa de fazer em
educação [...] Isso quer dizer que políticas educacionais é um foco mais específico do
tratamento da educação, que em geral se aplica às questões escolares”, ou seja, estará voltada
para a educação escolar em seus aspectos pedagógicos, organizacionais, estruturais e
administrativos.
Sendo assim,
A política educacional diz respeito às decisões que o Poder Público, isto é, o Estado,
toma em relação à educação. Tratar, pois, dos limites e perspectivas da política
educacional brasileira implica examinar o alcance das medidas educacionais tomadas
pelo Estado brasileiro. (SAVIANI, 2008, p. 07).
Assim, entende-se por políticas públicas educacionais tudo que o Estado, enquanto
agente formador e transformador de um povo, faz ou deixa de fazer nos mais variados campos
do conhecimento na sociedade, dos quais destaca-se o campo da EA.
Ademais, políticas públicas educacionais estão voltadas também para as questões do
meio ambiente, ou, pelo menos, deveriam estar para que assim sejam formuladas as chamadas
políticas ambientais. Segundo Guimarães (2012, p. 16), “a Educação Ambiental é uma das
dimensões do processo educacional, no entanto, pode-se ter diferentes projetos educacionais
que refletem e são reflexos de diferentes visões sociais de mundo”. Assim, compreende-se que
a centralidade que a EA ocupa pelo debate em torno de formulações de políticas públicas
ambientais, na atual conjuntura, impõe novas formas de se pensar a temática.
Entender e compreender a proposta de EA centralizado em uma visão crítica “aponta
a dominação do Ser Humano e da Natureza, revelando as relações de poder na sociedade, em
um processo de politização das ações humanas voltadas para as transformações da sociedade
em direção ao equilíbrio socioambiental” (GUIMARÃES, 2012, p. 16). Dessa forma,
compreende-se que observar a EA inserida em seu processo histórico trata-se de uma tarefa
imprescindível para a construção de políticas públicas ambientais de qualidade.
Portanto, conseguir ampliar os limites e perspectivas da análise da EA para além de
uma visão liberal de mundo é um dos maiores desafios, pois, a problemática que circunda a
formulação de políticas públicas ambientais vai de encontro com intervenções externas que
tendem a formular padrões de orientações do planejamento no ensino, é como se sempre
estivéssemos em volta de um caráter conservador das práticas ambientais, uma vez que “o
caráter conservador compreende práticas que mantém o atual modelo de sociedade [...]”
(GUIMARÃES, 2012, p. 16).
20
“[...] a confusão conceitual da EA pode ser atribuída em parte, a ela estar sendo praticada por ambientalistas
incapacitados e pelo fato de os professores, inadvertidamente, estarem se valendo de livros inadequados”
(MORAIS, 1991 apud PEDRINI, 1997).
a evolução dos conceitos da EA a partir do que formularam autores e órgãos nacionais e
internacionais diversos, o que pode ser observado a partir do quadro a seguir:
Fonte: Construído pela autora a partir de Dias (2004, p. 98-100) e de Brasil (2019)
O quadro acima remete, de modo coerente, que esse panorama de denominações para
conceituar a Educação Ambiental foi sendo efetuado ao longo dos tempos, acompanhando a
evolução da sociedade e de seu modo de produção. Nota-se que a diversidade de classificação
a respeito da EA é tão vasta quanto seu modo de ser orientado para as práticas educativas.
A comparação dos conceitos ao longo da trajetória da EA, de forma proeminente,
enquadra-se nas macrotendências da Educação Ambiental brasileira, propondo uma reflexão
sobre a sua inserção nas instituições educativas, no entanto, é válido destacar que “foi a
compreensão da Educação Ambiental a partir de sua função social que propiciou o surgimento
de tipologias dualísticas, com categorias intrinsecamente binárias” (BRASIL, 2007, p. 17).
Na concepção de Layrargues e Lima (2014, p. 26-27):
Hoje fica claro que era impossível formular um conceito de Educação Ambiental
abrangente o suficiente para envolver o espectro inteiro do campo; mas fica claro
também que essas diferentes propostas conceituais nada mais eram do que a busca por
uma hegemonia interpretativa e política desse universo sócio-educativo. A
multiplicidade de propostas conceituais revelava essa diversidade interna, que na fase
fundacional da Educação Ambiental ainda não podia ser percebida, apenas na fase de
consolidação do campo pôde ser compreendida. Ou seja, não mudou o objeto, em si
já diferenciado, mudaram e refinaram-se os olhares sobre ele.
Essa crise ambiental nunca vista na história se deve à enormidade de nossos poderes
humanos, pois tudo o que fazemos tem efeitos colaterais e consequências não-
antecipadas, que tornam inadequadas as ferramentas éticas que herdamos do passado
diante dos poderes que possuímos atualmente. Um dos mais lúcidos filósofos
contemporâneos, Hans Jonas, descreveu, com uma simplicidade contundente, a crise
ética de profundas incertezas em que nós achamos: “nunca houve tanto poder ligado
com tão pouca orientação para seu uso. Precisamos mais de sabedoria quanto menos
cremos nela”.
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum
do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público: I - preservar
e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das
espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio
genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de
material genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais
e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão
permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na forma da lei,
para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa
degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará
publicidade; V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,
métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio
ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII - proteger a
fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função
ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade
(BRASIL, 1988, p. 46, grifo nosso).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nas últimas décadas, o campo da Educação Ambiental (EA) ficou em evidência nos
mais diversos conjuntos de práticas ambientais (como as práticas de reciclar, reutilizar e
reaproveitar – “3 Rs”), seja na criação de Legislações e Programas do Governo, visando a
implementação da EA. Nesse contexto, surgiram termos, como Desenvolvimento Sustentável
(DS), ou Alfabetização Ecológica (AE), utilizados por determinados grupos que detêm o poder
para firmar em muitos casos sua hegemonia e o discurso apregoado.
As questões voltadas para o meio ambiente vêm se materializando, tornando-se um
“problema” concreto que afeta o destino e o funcionamento de todos os ecossistemas no nosso
planeta, ademais, os processos de globalização e do sistema econômico adotado, o capitalista,
aceleram-se, intensificando os danos ao meio ambiente. Mediante esse cenário, tais
“problemas” têm ganhado destaque nas discussões de governos e da sociedade civil.
O percalço das mudanças que o planeta vem sofrendo, como: desmatamentos,
enchentes, efeito estufa, camada de ozônio, queimadas, extinção da biodiversidade, dentre
outras, ganham cada vez mais destaque por afetar não somente o planeta como também a
transformação da sociedade em escala mundial. Tais problemáticas fazem com que a sociedade
passe a buscar “conscientização ambiental sobre as consequências de suas ações e
comportamentos sobre a natureza” (VALERIO, 2014, p. 12). É válido destacar que nem todos
os seres humanos são responsáveis diretamente pelas formas de degradação do meio ambiente,
ocasionando os chamados “problemas ambientais”, pois “as distorções causadas pelos modelos
de desenvolvimentos adotados acabam por fazer emergir problemas sociais graves tais como a
pobreza, a fome, a miséria e que acabam por traduzir-se em violência, perceptíveis em todas as
camadas sociais” (TENERELLI, 2008, p. 103).
Nesse contexto, tanto a EA como o mundo vêm sofrendo alterações quanto aos seus
paradigmas, um desses modelos é de cunho econômico - que visa ao lucro exacerbado sem a
preocupação com a manutenção e a preservação do meio ambiente - o capitalismo, no último
século. Isto tornou-se fácil constatar devido à realidade que circunda a sociedade. No entanto,
essas mudanças, em muitos casos, são resultados de um modelo de economia adotado e visto
como insustentável, pois “no plano econômico, a adoção de modelos que respeitam o mercado
como seu soberano senhor tem sido alvo de diversas críticas em função dos problemas que esses
modelos causam” (TENERELLI, 2008, p. 104).
Ademais, a partir do momento que muitas sociedades se tornaram hegemônicas,
passaram a acumular muitas riquezas, retirando da natureza os recursos em sua volta sem a
preocupação de serem finitos, esse sistema adotado de forma linear praticamente extinguiu
alguns dos recursos que poderiam ser renovados (PEDRINI, 1997).
Portanto, EA pode ser entendida como um paradigma emergente e contra-hegemônico,
que busca discutir as chamadas “questões ambientais” como um fenômeno derivado de
processos que se desdobram historicamente e que têm no sistema social, econômico, cultural e
político capitalista suas bases explicativas.
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