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Vandenéia Bourckhardt
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Conforme destaca Marini (2000, p. 75), “se o início da industrialização data há mais de cem anos e
esteve inclusive na raiz do processo político, que vitorioso em 1930, permitiu a sua aceleração, e se a
atividade fabril ganha impulso na década de 1920, não é possível negar que é a partir da revolução
de 1930 que a industrialização se afirma no país e empreende a mudança global da velha
sociedade.”
decisivo para essa transição, pois, reduzida a capacidade de importação, a demanda por
produtos manufaturados teve que ser suprida pela produção interna. A exportação dos bens
primários - naquele momento o café - também foi abalada pela falta de mercado comprador
europeu. (MARINI, 2000, p. 75).
É importante ressaltar conforme Marini (2000), a relação inicialmente de
complementaridade, entre as oligarquias agrárias e a burguesia industrial emergente. Foi
sob a estrutura do sistema agrário que se criaram as condições favoráveis para impulsionar
a acumulação de capital exigidas pela industrialização nas décadas de 1930 a 1950. Tem-se
que “a agricultura de exportação foi a própria base sobre a qual se desenvolveu o
capitalismo industrial brasileiro” (Idem, p.79). Mas, a partir da década de 1950 conforme a
indústria foi se desenvolvendo, o setor agrário tornou-se insuficiente para atender a
expansão urbana.
Com isso, o ingresso de grupos estrangeiros no país foi acentuado. Sobretudo, a
partir do programa de desenvolvimento econômico do governo de Juscelino Kubitschek
(1956-1960), renunciando-se à política nacionalista do segundo governo de Getúlio Vargas
(1951-1954). Em sua maioria os investimentos estrangeiros foram destinados às atividades
de infra-estrutura e à indústria leve e pesada, aproveitando-se das facilidades alfandegárias
e estímulos fiscais.
No campo, considerando que a estrutura agrária brasileira caracteriza-se pela
absurda concentração de terras e permite que toda a riqueza produzida seja apropriada por
uma minoria de grandes proprietários, a introdução de tecnologias significou o agravamento
das condições de vida do campesinato. Além disso, aumentam os problemas nas cidades,
onde a crescente exploração do trabalhador levou à organização dos movimentos operários
urbanos, na década de 1960. (MARINI, 2000, p. 20-22). Segundo o autor, esses limites
internos postos pela estrutura agrária juntamente com a queda dos preços de exportação
em nível mundial, passaram a configurar uma crise na economia brasileira.
Nessa conjuntura foram fracassadas as tentativas da burguesia brasileira impor
sua política de classe que moveu os governos de Jânio Quadros e João Goulart. A idéia de
“política externa independente”, baseada nos princípios de autodeterminação e não
intervenção, fez generalizar as tensões internas para o setor externo da economia e criou as
condições objetivas para o Golpe Militar de 1964. (MARINI, 2000, p. 57).
O primeiro governo militar, do Presidente Castelo Branco, mostrou-se aberto à
interferência internacional e dos EUA em particular, adotando a doutrina da Escola Superior
de Guerra, chamada de “barganha leal” voltada à “interdependência continental”, cujo
pressuposto considerava que “por sua própria posição geográfica, o Brasil não pode
escapar à influência norte-americana”. (Idem, p. 59).
Percebe-se como o golpe de 1964 colocou o país novamente numa relação de
adequação entre os interesses nacionais e a política de hegemonia dos EUA, cuja influência
no rumo dos acontecimentos ao longo da Ditadura foi considerada tão importante ao ponto
de a elite militar enfocar os problemas brasileiros na perspectiva dos interesses estratégicos
americanos.
Considera-se importante ressaltar que após este marco na história brasileira,
cada vez mais a atuação internacional vem se fazendo presente na definição do
desenvolvimento nacional. Sobretudo a partir da década de 1990, com a realização do
Consenso de Washington, em 1993, foram definidas as principais medidas de ajuste dos
países ao mundo globalizado3.
No Brasil, as mudanças passaram a ser empreendidas principalmente ao longo
do governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), sob o discurso da Reforma do
Estado, cuja direção é ditada pelos organismos financeiros internacionais (Fundo Monetário
Internacional, Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento). Entre as
medidas adotadas destaca-se a venda do patrimônio público através da privatização e
desnacionalização4. Como afirma Behring (2003, p. 228-229), coloca-se o país cada vez
mais à mercê do mercado externo, com pouca margem de manobra na definição de políticas
e estratégias reforçando a dependência histórica brasileira.
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Entre as medidas destacam-se o corte nos gastos públicos, sobretudo, com benefícios sociais,
incentivo ao processo de privatizações, adoção de políticas para expansão do poder de mercado
garantindo a lucratividade dos investimentos, desregulamentação trabalhista, ampliando o mercado
informal, entre outros. (COSTA, 2006, p. 154).
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Estudos de Aloysio Biondi (1999 e 2000) são interessantes porque demonstram o significado dos
processos de privatização no Brasil. O autor revela o quanto o discurso favorável à privatização é
falacioso. Houve sim, a entrega de grandes parcelas do patrimônio público ao capital estrangeiro,
cujos investimentos além de não se basearem em produtos brasileiros, remetem os lucros para o
exterior, ou seja, aumentam ainda mais a situação desfavorável da balança comercial. (BEHRING,
2007, p. 152-153).
Diante da relação de dependência que se estabeleceu entre o desenvolvimento
do capitalismo no Brasil (e também dos demais países da América Latina) e os interesses
de expansão econômica dos países capitalistas centrais, têm-se a configuração de formas
de dominação externa sendo que estas se expressam em diversos setores da sociedade.
Um dos aspectos que nos chama a atenção no desenvolvimento do Brasil é a
forma como este modelo de produção capitalista dependente vem se apropriando
destrutivamente dos recursos naturais e qual tem sido o posicionamento dos governos
brasileiros em relação a isso.
De acordo com Sánches (2000), o país teve uma inserção tardia no debate
ambiental mundial e em condições muito peculiares. Até o final da década de 1970 o Brasil
se mostrou contrário ao efetivo reconhecimento e enfrentamento dos problemas ambientais.
Se em nível internacional essa discussão se intensificou com a Conferência de Estocolmo,
em 1972, aqui ela era afastada devido ao auge do modelo desenvolvimentista.
A mesma autora afirma que na década de 1930, durante o governo de Getúlio
Vargas, iniciaram-se algumas ações isoladas sem a coordenação de um órgão gestor e sem
caráter de uma política efetiva, voltadas para a proteção, conservação e uso dos recursos
naturais.
No entanto, os Códigos e Decretos promulgados permaneciam muito restritos.
Tratava-se de regulamentar apenas aquilo que não viesse a interferir na política de
substituição do modelo agrário-exportador pelo urbano-industrial onde “[...] a presença ativa
do Estado como planejador, produtor de insumos e fornecedor de infra-estrutura básica [...]
dava ‘boas vindas’ às indústrias poluidoras, como forma de atrair grandes investimentos do
capital internacional”. (SÁNCHES, 2000, p.68).
Com o incentivo ainda maior dado ao processo de industrialização na década de
1950 e ao longo dos anos 1960, visando à substituição de importações, houve a abertura do
país para a entrada de empresas estrangeiras guiadas pela promessa de bons lucros
resultantes da exploração humana e, por que não dizer, do potencial natural aqui existente.
As indústrias que foram instaladas, sobretudo, no setor siderúrgico, metalúrgico,
empresas de geração de energia elétrica, estavam baseadas na exploração dos recursos
naturais considerados inesgotáveis e já não encontravam espaços em países onde
avançava a “consciência ambiental”. O Brasil, no entanto, as recebia de “braços abertos”,
uma vez que interessava o crescimento econômico do país:
[...] a ausência de leis, normas ou regras de organização do espaço de constituição
da política ambiental brasileira, aliada à desvalorização da mão-de-obra nacional no
mercado de trabalho mundial, constituíam-se trunfos com os quais o Brasil
posiciona-se na geopolítica internacional. [...] Institucionalizar ou dar respostas
oficiais [...] pela a melhoria da qualidade ambiental significava [...] abdicar do poder
de barganha na ordem econômica internacional. (FERREIRA, 1998, p. 84).
5. CONCLUSÃO
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Um exemplo bastante contundente da prevalência da “promessa de tornar o Brasil uma grande
potência”, mas também de “uma das maiores manifestações ambientalistas já registradas no país” foi
durante a construção da Usina Hidrelétrica de Foz do Iguaçu, na fronteira do Brasil com o Paraguai.
Após o fechamento das comportas, em 1982, seu reservatório fez desaparecer o Parque Nacional de
Sete Quedas, criado em 1961. Como forma de lamento o Movimento dos Atingidos por Barragens
(MAB) organizou o movimento “Adeus Sete Quedas” que reuniu milhares de pessoas de todo o país
proporcionando a certeza de que “a opinião pública está atenta à questão ecológica” (URBAN, 2001,
p.97-98).
A partir do objetivo proposto de relacionar a dependência do modelo de
desenvolvimento latino-americano, em especial o brasileiro, com a apropriação destrutiva do
meio ambiente, têm-se alguns elementos que merecem destaque.
Primeiro, desde sua colonização os países latino-americanos foram dominados
de forma a impossibilitar a criação de uma base autônoma para o desenvolvimento nacional,
reforçando-se sempre a influência dos interesses externos em prol do capitalismo central.
Segundo, em particular no caso brasileiro a dependência pode ser localizada na
estrutura agrária, cuja concentração de terras permite o acúmulo de riquezas nas mãos de
um número reduzido de grandes proprietários. Esta estrutura, voltada à exportação,
constituiu a base do processo de industrialização do país e de sua efetiva inserção no
mercado competitivo internacional e as implicações daí decorrentes.
Se com o modelo agro-exportador a dependência se expressava na necessidade
de produzir aqueles produtos demandados para satisfazer o mercado internacional, com o
processo de industrialização houve a entrada direta de capitais externos, através de
incentivos à instalação de grandes empresas estrangeiras e investimentos nos setores
responsáveis por garantir a infra-estrutura necessária à expansão capitalista. Em ambos os
casos se agravaram as condições de vida da população em geral, tanto no campo como no
meio urbano. Mas, as respostas às crescentes demandas permaneceram atreladas aos
interesses econômicos internacionais sob o comando dos organismos financeiros.
O terceiro elemento refere-se ao posicionamento brasileiro diante da apropriação
destrutiva dos recursos naturais em meio ao processo de expansão do capitalismo
dependente. Tem-se que a preocupação com os problemas ambientais não foi uma das
prioridades no país no início de sua expansão industrial. Embora houvesse algumas
iniciativas isoladas, estas permaneciam restritas e subordinadas ao desenvolvimento
econômico. Somente quando a adoção de critérios ambientais se faz necessária para
manter as relações internacionais o Brasil passa a discutir uma política ambiental.
Mas o caráter dependente desse modelo econômico reforça as privatizações e
desnacionalizações de setores considerados estratégicos para o grande capital, por
exemplo, a venda para grupos estrangeiros de grandes empresas cuja atividade central está
na exploração de recursos naturais ou tem seus impactos diretos nas condições ambientais.
Em síntese, a condição de economia dependente e o modo de produção
capitalista, deixa suas marcas sobre o meio ambiente de modo geral. Basta pensarmos na
perda da fertilidade do solo acentuada ao longo da economia agro-exportadora, no
desmatamento realizado para desenvolver a pecuária intensiva, nos impactos ambientais
causados pela construção de usinas hidrelétricas como fonte de energia, nos problemas
oriundos da expansão industrial nas cidades como o aumento da poluição, problemas de
saneamento básico, de destinação de resíduos sólidos, entre outros.
Recentemente, ganham relevância debates sobre os rumos a que pode levar a
produção de biocombustíveis como o etanol, bem como, acerca das interferências dos
Estados Unidos e Europa na proteção da Amazônia. Cabe refletir sobre quais são os reais
objetivos desses interesses. Indicativos apontam para mais uma estratégia de dominação do
grande capital internacional...
6. REFERÊNCIAS
______. Política Social no capitalismo tardio. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2007.