Você está na página 1de 8

**Dependência Externa e Suscetibilidade a Crises no Brasil**

1. Introdução

- Dependência externa do Brasil

- Vulnerabilidade a crises e fatores externos

A economia brasileira, ao longo de sua história, tem sido caracterizada por uma forte dependência
externa, o que a torna mais vulnerável a crises e fatores externos. Essa dependência se manifesta em
diversos aspectos, como na exportação de commodities, na importação de bens de capital e
tecnologia, e no endividamento externo. A suscetibilidade do Brasil a crises e fatores externos pode
ser observada em diferentes momentos históricos, desde a época colonial até os dias atuais.

Neste trabalho, analisaremos a relação entre a dependência externa do Brasil e sua vulnerabilidade a
crises e fatores externos. Para isso, discutiremos exemplos de eventos que afetaram a economia
brasileira, como a crise do petróleo nos anos 1970, a crise da dívida externa nos anos 1980 e a crise
financeira asiática nos anos 1990. Além disso, abordaremos a suscetibilidade a crises na época
colonial brasileira, quando a economia era baseada na exportação de commodities como açúcar, ouro
e café.

Para embasar nossa análise, recorreremos às contribuições teóricas de Celso Furtado e da Comissão
Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), que ajudaram a entender a formação econômica
do Brasil e a elaborar políticas de desenvolvimento na região. Por fim, discutiremos os desafios
enfrentados pelo país para superar essa dependência externa e promover um desenvolvimento mais
autônomo e sustentável.

Referências bibliográficas

1. Furtado, C. (2007). Formação econômica do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras.

2. Furtado, C. (1964). Desenvolvimento e subdesenvolvimento. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura.

3. Bielschowsky, R. (2009). Pensamento econômico brasileiro: o ciclo ideológico do


desenvolvimentismo. Rio de Janeiro: Contraponto/BNDES.

4. CEPAL. (2018). Panorama Social da América Latina. Santiago: Naciones Unidas.

Notícias de época e atuais

1. [Crise do petróleo: como foram as duas grandes crises e suas


consequências](https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/10/151012_crise_petroleo_40_ano
s_ms)
2. [A crise da dívida externa dos anos 80 e o
Brasil](https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/08/15/A-crise-da-d%C3%ADvida-externa-dos-
anos-80-e-o-Brasil)

3. [Crise financeira asiática: 20 anos depois](https://www.dw.com/pt-br/crise-financeira-asi


%C3%A1tica-20-anos-depois/a-39555632)

4. [A dependência externa do Brasil e a vulnerabilidade a crises


internacionais](https://www.cartacapital.com.br/economia/a-dependencia-externa-do-brasil-e-a-
vulnerabilidade-a-crises-internacionais/)

2. **Exemplos de eventos que afetaram a economia brasileira**

- Crise do petróleo nos anos 1970

A crise do petróleo ocorreu em dois momentos, em 1973 e 1979, quando os países membros da
OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) decidiram aumentar significativamente os
preços do petróleo. Essa decisão teve um impacto direto na economia brasileira, que dependia
fortemente das importações de petróleo para suprir suas necessidades energéticas.

Celso Furtado, em sua obra "Desenvolvimento e subdesenvolvimento" (1964), já alertava sobre a


vulnerabilidade do Brasil às flutuações nos preços das commodities e a necessidade de diversificar a
matriz energética do país. A crise do petróleo evidenciou essa fragilidade e levou a um aumento nos
custos de importação, inflação e desaceleração do crescimento econômico.

Caio Prado Jr., em "Formação do Brasil Contemporâneo" (1942), também discute a dependência
externa do Brasil e como ela afeta a economia nacional. Embora sua análise se concentre no período
colonial, as implicações de sua argumentação podem ser aplicadas ao contexto da crise do petróleo.

Notícia da época: O dia em que o preço do petróleo quadruplicou

Reflexos nos dias de hoje: A crise do petróleo levou o Brasil a investir em fontes alternativas de
energia, como o etanol e a energia hidrelétrica. Atualmente, o país possui uma matriz energética mais
diversificada, mas ainda enfrenta desafios relacionados à dependência de combustíveis fósseis e à
sustentabilidade ambiental.

- Crise da dívida externa nos anos 1980

A crise da dívida externa teve início em 1982, quando o México declarou moratória e outros países
latino-americanos, incluindo o Brasil, enfrentaram dificuldades para pagar suas dívidas externas.
Durante os anos 1970, o Brasil havia contraído empréstimos internacionais para financiar seu
desenvolvimento, mas a combinação de altas taxas de juros e a desvalorização da moeda tornou o
pagamento dessas dívidas insustentável.

Furtado, em "Formação econômica do Brasil" (2007), analisa a relação entre o endividamento


externo e a dependência do país em relação ao capital estrangeiro. Ele argumenta que essa
dependência limita o desenvolvimento econômico e torna o país mais vulnerável a crises financeiras
internacionais.
Notícia da época: Dívida externa: Brasil pede socorro ao FMI

Reflexos nos dias de hoje: A crise da dívida externa resultou em uma década perdida em termos de
crescimento econômico e levou à implementação de políticas de ajuste fiscal e liberalização
econômica. Embora o Brasil tenha reduzido sua dívida externa nas últimas décadas, a experiência dos
anos 1980 serve como um lembrete dos riscos associados ao endividamento excessivo.

- Crise financeira asiática nos anos 1990

A crise financeira asiática começou em 1997, quando a Tailândia desvalorizou sua moeda, o baht,
desencadeando uma série de crises cambiais e financeiras na região. Essa crise afetou as exportações
brasileiras para a Ásia e contribuiu para a desvalorização do real em 1999.

Em "Desenvolvimento e subdesenvolvimento" (1964), Furtado destaca a importância das relações


comerciais internacionais para o desenvolvimento econômico e como a dependência de mercados
externos pode aumentar a vulnerabilidade a crises. A crise financeira asiática ilustra esse ponto,
mostrando como eventos em outras partes do mundo podem ter impactos significativos na economia
brasileira.

Reflexos nos dias de hoje: A crise financeira asiática levou a uma maior conscientização sobre os
riscos associados à globalização e à interdependência econômica. Desde então, o Brasil tem buscado
diversificar seus parceiros comerciais e fortalecer suas reservas internacionais para se proteger contra
crises externas. Além disso, a crise asiática também contribuiu para a adoção do regime de câmbio
flutuante no Brasil em 1999, permitindo que a taxa de câmbio absorvesse choques externos e
aumentasse a resiliência da economia às flutuações internacionais.

Em síntese, as três crises mencionadas – a crise do petróleo nos anos 1970, a crise da dívida externa
nos anos 1980 e a crise financeira asiática nos anos 1990 – demonstram a vulnerabilidade da
economia brasileira a eventos e fatores externos, decorrente de sua dependência externa. As obras
de Celso Furtado e Caio Prado Jr. fornecem uma base teórica sólida para compreender essa relação e
suas implicações para o desenvolvimento econômico do país.

As notícias da época ilustram o impacto dessas crises na economia brasileira e como elas afetaram a
vida das pessoas e as políticas governamentais. Os reflexos dessas crises nos dias de hoje podem ser
observados nas medidas adotadas pelo Brasil para enfrentar os desafios impostos pela globalização e
interdependência econômica, bem como na busca por um desenvolvimento mais autônomo e
sustentável.

3. Suscetibilidade a crises na época colonial brasileira

A economia colonial brasileira apresentava características que a tornavam suscetível a crises,


principalmente devido à sua dependência de commodities, mão de obra escrava e falta de
diversificação econômica. Esses fatores limitavam o desenvolvimento do país e aumentavam sua
vulnerabilidade a eventos externos e internos.
Economia baseada na exportação de commodities (açúcar, ouro, café)

Durante o período colonial, a economia brasileira estava fortemente baseada na exportação de


commodities, como açúcar, ouro e café. Essa dependência de produtos primários tornava o país
vulnerável às flutuações nos preços internacionais dessas commodities e às mudanças na demanda
dos mercados consumidores, principalmente na Europa.

Por exemplo, a queda nos preços do açúcar no século XVII, devido à concorrência com as colônias
açucareiras do Caribe, afetou negativamente a economia brasileira. Da mesma forma, a descoberta
de novas minas de ouro no século XVIII levou a uma corrida pelo metal precioso, mas também a uma
eventual exaustão das reservas auríferas e a uma crise econômica. No século XIX, a economia voltou-
se para a produção de café, mas novamente enfrentou desafios relacionados à volatilidade dos
preços e à concorrência internacional.

Dependência de mão de obra escrava

A economia colonial brasileira dependia fortemente da mão de obra escrava, principalmente de


africanos escravizados. Essa dependência gerava instabilidade social e política, além de limitar o
desenvolvimento de um mercado interno e a diversificação econômica. A abolição da escravidão em
1888 representou um marco importante na história do Brasil, mas também trouxe desafios para a
adaptação da economia a um novo modelo de trabalho e produção.

Falta de diversificação econômica

A economia colonial brasileira era caracterizada pela falta de diversificação econômica,


concentrando-se na produção e exportação de commodities. Essa estrutura econômica limitava o
desenvolvimento de setores industriais e de serviços, bem como a criação de empregos e a geração
de renda. Além disso, a dependência de importações de bens manufaturados e tecnologia reforçava a
posição subordinada do Brasil nas relações comerciais internacionais.

Em resumo, a suscetibilidade a crises na época colonial brasileira estava relacionada à dependência


de commodities, mão de obra escrava e falta de diversificação econômica. Esses fatores limitavam o
desenvolvimento do país e aumentavam sua vulnerabilidade a eventos externos e internos. A
superação dessas limitações tem sido um desafio contínuo para o Brasil ao longo de sua história, e
compreender esse contexto colonial é fundamental para entender as raízes da dependência externa e
da suscetibilidade a crises na economia brasileira.

4. Contribuições de Celso Furtado e CEPAL

Celso Furtado e a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) desempenharam um
papel fundamental na análise da formação econômica do Brasil, no entendimento da dependência
externa e suscetibilidade a crises e na formulação de políticas de desenvolvimento na América Latina.
Suas contribuições ajudaram a moldar o pensamento econômico e as estratégias de desenvolvimento
na região.

Análise da formação econômica do Brasil


Celso Furtado, em sua obra "Formação econômica do Brasil" (2007), oferece uma análise abrangente
da evolução histórica da economia brasileira, desde o período colonial até o século XX. Ele destaca a
importância das relações entre a metrópole e a colônia, a dependência de commodities e a mão de
obra escrava, bem como a falta de diversificação econômica. Essa análise permite compreender as
raízes da dependência externa e da suscetibilidade a crises na economia brasileira.

Furtado, C. (2007). Formação econômica do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras.

Entendimento da dependência externa e suscetibilidade a crises

Furtado também aborda a questão da dependência externa e sua relação com a suscetibilidade a
crises em suas obras, como "Desenvolvimento e subdesenvolvimento" (1964) e "A economia latino-
americana" (1976). Ele argumenta que a dependência de capital estrangeiro, tecnologia e mercados
externos limita o desenvolvimento econômico e aumenta a vulnerabilidade a crises financeiras e
comerciais internacionais.

Furtado, C. (1964). Desenvolvimento e subdesenvolvimento. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura.


Furtado, C. (1976). A economia latino-americana. São Paulo: Editora Nacional.

A CEPAL, por sua vez, tem sido uma importante fonte de análises e propostas de políticas para
enfrentar os desafios do desenvolvimento na América Latina. Seu enfoque estruturalista e a teoria da
substituição de importações influenciaram o pensamento econômico na região e contribuíram para o
entendimento da dependência externa e da suscetibilidade a crises.

Formulação de políticas de desenvolvimento na América Latina

Tanto Furtado quanto a CEPAL tiveram um impacto significativo na formulação de políticas de


desenvolvimento na América Latina. As ideias de Furtado sobre o planejamento econômico e a
necessidade de diversificar a economia e promover a industrialização foram incorporadas às políticas
governamentais no Brasil e em outros países da região.

A CEPAL, como órgão das Nações Unidas, tem desempenhado um papel ativo na elaboração de
propostas de políticas e na prestação de assistência técnica aos governos latino-americanos. Suas
recomendações têm abordado questões como a promoção do desenvolvimento industrial, a redução
da desigualdade e a proteção ambiental.

Reflexos no Brasil nos dias de hoje

As contribuições de Celso Furtado e da CEPAL continuam relevantes para o Brasil nos dias de hoje. A
necessidade de diversificar a economia, reduzir a dependência externa e enfrentar os desafios do
desenvolvimento sustentável são temas centrais na agenda política e econômica do país. Além disso,
as lições aprendidas com as crises do passado e a experiência histórica da formação econômica do
Brasil fornecem insights valiosos para a formulação de estratégias de desenvolvimento mais
resilientes e inclusivas.
5. Explicação da dependência externa na história do país

No capítulo 1, Furtado discute a formação econômica do Brasil no contexto da expansão marítima


europeia e a busca por novas rotas comerciais e fontes de riqueza. Ele destaca como a colonização
portuguesa estabeleceu uma relação de dependência com a metrópole, baseada na exportação de
produtos primários e na importação de bens manufaturados:

"A expansão comercial europeia é o fator dinâmico que determina a ocupação das terras brasileiras e
condiciona as linhas fundamentais de sua evolução econômica." (Furtado, 2007, p. 25)

Essa relação de dependência se perpetuou ao longo da história do Brasil, manifestando-se na


exportação de commodities como açúcar, ouro e café, e na dependência de capital estrangeiro e
tecnologia.

Relação entre a economia colonial e a vulnerabilidade a crises

No capítulo 4, Furtado analisa a economia açucareira no Nordeste brasileiro e como a dependência


desse produto tornava a região vulnerável às flutuações nos preços internacionais e à concorrência
das colônias açucareiras do Caribe:

"O declínio da produção açucareira nordestina deve ser atribuído fundamentalmente à queda dos
preços do açúcar nos mercados europeus, resultante do aumento da oferta proporcionado pelas
Antilhas." (Furtado, 2007, p. 92)

Essa vulnerabilidade a crises também pode ser observada em outros períodos da história econômica
do Brasil, como na exploração do ouro no século XVIII e na produção de café no século XIX.

Ao longo do livro, Furtado enfatiza a importância de compreender a formação econômica do Brasil e


suas implicações para a dependência externa e a suscetibilidade a crises. Essa análise fornece insights
valiosos para a formulação de políticas de desenvolvimento e a busca por um crescimento econômico
mais autônomo e sustentável.

6. Desafios para superar a dependência externa

Para superar a dependência externa e promover um desenvolvimento mais autônomo e sustentável,


o Brasil enfrenta diversos desafios. Abordaremos dois tópicos principais: diversificação da economia e
promoção de um desenvolvimento mais autônomo e sustentável.

Diversificação da economia

A diversificação da economia é fundamental para reduzir a dependência do Brasil em relação às


exportações de commodities e ao capital estrangeiro. Isso envolve investir em setores produtivos com
maior valor agregado, como indústria, tecnologia e serviços, e estimular a inovação e o
empreendedorismo.

Bibliografia:

Bresser-Pereira, L. C. (2010). Globalização e competição: por que alguns países emergentes têm
sucesso e outros não. Rio de Janeiro: Elsevier.

Laplane, M., & Sarti, F. (1999). A política industrial no Brasil: uma análise dos avanços recentes e das
perspectivas futuras. Revista de Economia Política, 19(4), 46-68.

Promoção de um desenvolvimento mais autônomo e sustentável

O desenvolvimento autônomo e sustentável implica em buscar um crescimento econômico que seja


socialmente inclusivo e ambientalmente responsável. Isso requer políticas públicas voltadas para a
redução da desigualdade, a promoção da educação e saúde, e a proteção dos recursos naturais e do
meio ambiente.

Bibliografia:

Sachs, I. (2008). Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Garamond.

Veiga, J. E. (2010). Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro: Garamond.

Ao abordar esses desafios, o Brasil pode construir uma economia mais resiliente e menos vulnerável
a crises externas. A diversificação da economia e a promoção de um desenvolvimento mais
autônomo e sustentável são fundamentais para garantir um futuro próspero e equitativo para todos
os brasileiros.

7. Conclusão
Ao longo deste trabalho, analisamos a dependência externa do Brasil e sua relação com a
suscetibilidade a crises. Com base nas contribuições de Celso Furtado, Caio Prado Jr., e CEPAL, bem
como nos exemplos históricos e atuais, pudemos compreender como a economia brasileira tem sido
moldada por fatores externos e internos que afetam seu desenvolvimento e estabilidade.

No século XXI, é fundamental reconhecer a importância de compreender a dependência externa e


sua relação com a suscetibilidade a crises. A globalização e a interdependência econômica tornaram
os países mais vulneráveis a eventos externos, como crises financeiras, flutuações cambiais e
mudanças nos preços das commodities. O Brasil, com sua história de dependência externa, enfrenta
desafios particulares nesse contexto.

Para enfrentar esses desafios e promover um desenvolvimento econômico mais resiliente e


independente, o Brasil precisa buscar soluções que abordem as raízes dessa dependência e
fortaleçam sua capacidade de lidar com crises. Isso inclui diversificar a economia, investir em setores
produtivos com maior valor agregado, reduzir a desigualdade e promover a sustentabilidade
ambiental.

Além disso, é crucial aprender com as experiências passadas e aplicar essas lições na formulação de
políticas públicas e estratégias de desenvolvimento. Ao fazer isso, o Brasil pode construir uma
economia mais forte e resiliente, capaz de enfrentar os desafios do século XXI e garantir um futuro
próspero e equitativo para todos os brasileiros.

Você também pode gostar