GEOGRAFIA COM HEITOR SALVADOR 1
Taxa de Crescimento do PIB entre 2006 e
AMÉRICA LATINA E
CARIBE: POLÍTICA,
CRISES
Brasil, México e Argentina são as maiores, mais
industrializadas e diversificadas economias da
América Latina, por isso vamos analisá-las com mais
profundidade neste capítulo. No entanto, outros
países da região estão se industrializando também,
como Colômbia, Chile e Peru.
Um ponto importante no início da industrialização
do Brasil, Argentina e México foi o Estado,
que passou a investir em indústrias de bens
intermediários (mineração e siderurgia, petrolífera e
petroquímica etc.) e em infraestrutura (transportes,
telecomunicações, energia elétrica etc.). Na América
Latina, os maiores símbolos desse modelo foram as
estatais petrolíferas: Petrobras (fundada em 1954),
Pemex (Petróleos Mexicanos, 1934) e a argentina YPF
(Yacimientos Petrolíferos Fiscales, 1922). Em 2017,
continuavam controladas total ou parcialmente pelo
Estado e eram as maiores empresas nos respectivos
países. A Petrobras era a primeira colocada da
América Latina na lista Fortune Global 500 2017 e 75ª
do mundo.
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2016.
Fonte: THE WORLD BANK. World Development Indicators 2017. Washington, D.C., 2018.
Disponível em: <http://wdi.worldbank.org/tables>. Acesso em: 7 maio 2018. Ed. Ática.
Anos 1980
No pós-Segunda Guerra, o crescimento econômico
de Brasil, México e Argentina foi bastante elevado,
estendendo-se até o início dos anos 1980.
O desenvolvimento desses países foi, em grande
parte, financiado por empréstimos estrangeiros, que,
a partir dos anos 1970, ficaram mais disponíveis no
mercado financeiro internacional. Isso aconteceu
porque, nessa época, os países exportadores de
petróleo e capitalistas ganharam muito dinheiro com
a elevação do preço do barril.
Entre 1974 e 1981, os países da Organização dos
Países Exportadores de Petróleo (Opep) acumularam
em torno de 360 bilhões de dólares, e cerca de
metade desses recursos foi depositada em bancos de
países desenvolvidos. A grande oferta de dinheiro no
mercado financeiro fez as taxas de juros internacionais
caírem após 1973, atingindo o ponto mais baixo entre
1975 e 1977. Esses países passaram a investir esse
excedente financeiro nos países em desenvolvimento
e subdesenvolvidos, realizando empréstimos ou
através de investimentos diretos.
A partir dessa época, os países em desenvolvimento,
sobretudo os latino-americanos, endividaram-se
pesadamente. Por exemplo, segundo o Banco Central,
o Brasil tinha uma dívida externa de 8 bilhões de
dólares em 1971, que saltou para 25 bilhões em 1975
O primeiro sinal do endividamento foi dado em 1982,
quando o México decretou moratória de sua dívida
externa. Daquele momento em diante, aprofundou-
se nesses três países a política do “exporta é o
que importa”, visando a obtenção de moeda forte,
sobretudo dólares para pagamento do juros da dívida;
Ao mesmo tempo, os governos mantinham uma
política de contenção de importação de produtos
industrializados. Tal medida provocou o sucateamento
dos parques produtivos, dada a dificuldade de
comprar máquinas e equipamentos necessários à
modernização. A crise da dívida atingiu os países em
geral, mas, em particular, os Latino-Americanos, os
mais endividados;
Assim, para esses países, os anos 1980 ficaram
conhecidos como a “Década perdida”: suas economias
sofreram com baixo crescimento e elevada inflação.
1. Atração de investimentos diretos estrangeiros;
2. Privatização de empresas estatais;
3. Desregulamentação da economia;
4. Proteção a direitos autorais.
A inflação foi reduzida após medidas de controle dos gas-
tos públicos, da privatização de empresas estatais e da
abertura econômica para produtos e capitais estrangeiros.
Entretanto, as crises continuaram ocorrendo, agora no
contexto da globalização financeira. Com os avanços
tecnológicos na informática e nas telecomunicações, am-
pliaram-se as possibilidades de investimentos no merca-
do mundial, principalmente em ações, títulos da dívida
pública e moedas estrangeiras. Além do mercado acioná-
rio, que cresceu de forma significativa, uma das moda-
lidades de investimento especulativo mais difundida na
atual globalização é a compra e venda de títulos da dívida
pública. A emissão desses títulos pelos governos é uma
forma de os investidores emprestarem dinheiro a juros
ao Estado ao comprar os bônus da dívida pública.

Anos 1990
A década de 1990 se caracterizou pela crise financeira e
a adoção de medidas econômicas de austeridade fiscal
para estabilização das economias dos países latino-
americanos. Essas medidas ficaram popularmente
conhecidas como Consenso de Washington.
O Consenso de Washington é um conjunto de grandes
medidas, que se compõe de dez regras básicas,
formuladas durante uma reunião, em novembro de
1989, por economistas de instituições financeiras Protestos contra a privatização da água tomaram as ruas de diversas cidades da
Bolívia em 2000. O evento ficou conhecido como Guerra da Água. Fonte: Centro de
situadas em Washington D.C., como o FMI, o Banco Estudios Internacionales del Mayab https://ceim.com.mx/blog-guerra-del-agua-
Mundial e o Departamento do Tesouro dos Estados cochabamba-bolivia/

Unidos. Nesse encontro, realizou-se uma série de

recomendações visando ao desenvolvimento e à
ampliação do neoliberalismo nos países da América
Latina como solução para os problemas econômicos.
Regras básicas do Consenso de Washington:
1. Disciplina fiscal;
2. Reordenamento nas prioridades dos gastos
públicos;
3. Reforma tributária;
4. Liberalização do setor financeiro;
5. Manutenção de taxas de câmbio competitivas; Forte repressão policial aos protestos contra privatização da água em
Cochabamba, Bolívia. Fonte: Centro de Estudios Internacionales del Mayab
6. Liberalização comercial; https://ceim.com.mx/blog-guerra-del-agua-cochabamba-bolivia/

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Argentinos protestam contra as sucessivas crises econômicas, moratória
e empobrecimento. Buenos Aires, 2001. Fonte: https://elpais.com/
internacional/2016/12/13/argentina/1481655800_716012.html
Ainda no contexto econômico do fim do século XX,
surge a proposta da Área de Livre Comércio das
Américas (ALCA).
A ascensão de Chávez em 1998, assim como de Nestor
Kirchner em 2003, na Argentina; Fernando Lugo em
2008, no Paraguai; Rafael Correa em 2007, no Equador;
Evo Morales em 2006, na Bolívia; Daniel Ortega em
2007, na Nicarágua; Tabaré Vásquez em 2005, no
Uruguai; e Lula em 2003, no Brasil; veio sustentada por
uma base social que já se organizava em movimentos
populares. Algo fundamental para que, em apenas
quatro anos, naufragasse a proposta da ALCA.
Fonte: Folha de São Paulo https://www1.folha.uol.com.br/folha/galeria/charge/p_
charge200104_01.shtml
Anos 2000 – Século XXI
A crise financeira iniciada nos Estados Unidos em
2008 se espalhou para diversos países em 2009,
atingindo mais fortemente os desenvolvidos, mas
também teve consequências nos países emergentes.O
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México foi um dos países emergentes mais atingidos
por essa nova crise financeira, em razão de sua forte
dependência econômica dos Estados Unidos. Desde
a criação do Tratado Norte-Americano de Livre-
Comércio (Nafta, em inglês), em 1994, cresceu a
participação do mercado americano nas exportações
mexicanas, atingindo cerca de 80%. Com a crise, os
déficits comerciais do México, que já vinham se
acumulando, aumentaram significativamente.
O Brasil foi um dos países da América Latina menos
atingidos pela crise de 2008/2009, em razão dos
saldos comerciais favoráveis e do grande acúmulo de
reservas internacionais ao longo dos anos 2000. Pela
primeira vez, em uma crise financeira mundial, não
houve fuga maciça de capitais do Brasil.
Entre 2003 e 2012, a região cresceu em média 4% ao
ano, apesar da crise financeira internacional de 2008-
2009. Em certa medida, o crescimento nesses anos foi
favorecido pelo aumento do comércio mundial, bem
como dos preços das matérias primas que exportava,
especialmente das Commodities.
Crise política e econômica volta no
cenário latino-americano
Brasil: Protesto em 2013, crise econômica e deposição
de Dilma Rousseff em 2016.
Paraguai: Deposição de Fernando Lugo no Paraguai
(2012) e suspenção temporária da participação do
Paraguai no Mercosul.
Bolívia: tentativa de deposição na Bolívia de Evo
Morales (2008 e consumado em 2019).
Venezuela: desestabilização e confronto contra
a Venezuela (2002, 2017) e bloqueio econômico.
Suspensão da Venezuela no Mercosul.
Guatemala, Honduras, Nicarágua e El Salvador: Crise
econômica, aumento significativo da violência e fuga
da população para os EUA em busca de melhores
condições de vida.
Cuba: Endurecimento do bloqueio econômico
e estagnação econômica com a crise de 2008.
Estagnação que dura até 2014.
Haiti: Quedas de presidentes no Haiti (1991, 2004,
2021), terremoto de 2010 e agravamento de uma crise
humanitária.
Chile: Revoltas estudantis contra o ensino privado
iniciadas em 2011. Protestos por mudanças no
sistema de aposentadoria 2017. Protesto por uma
nova constituição que garanta direitos essenciais,
especialmente para povos originários (povos
indígenas), mulheres, estudantes e aposentados. OBS:
O Chile mantém a constituição do período do governo
militar de Augusto Pinochet.
Argentina: Em 2020, declara moratória da dívida
externa por 3 anos.
O que é moratória? Disposição legal que prevê a
suspensão dos pagamentos devidos a credores
internacionais, quando um país se encontra em
circunstâncias excepcionais, como guerra, grande
calamidade, grave crise econômica etc.

Caravana de imigrantes da América Central rumo aos EUA. Fonte:

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-45947234

Texto Complementar:
A Água: O Mundo todo está Desprivatizando.
Outras Palavras. https://outraspalavras.
net/outrasmidias/agua-o-mundo-todo-esta-
desprivatizando/

Dicas de Documentário:
Milton Santos: O mundo global visto do lado de cá
https://youtu.be/-UUB5DW_mnM
Privatizações: a distopia do capital
https://youtu.be/xJPCKjT0XXk
A Revolução não será televisionada
https://youtu.be/FppdfwqmImE

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