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Resumo do texto: A primeira Globalização financeira e a I Guerra Mundial (MARICHAL, Nova

história das grandes crises financeiras, cap. 1)

O triunfo do capitalismo no fim do século XIX se deu devido a revolução financeira em grande
escala. Ocorre uma expansão bancária acompanhada pela criação formal de bolsas de capitais
e consolidação de mercados e créditos e seguros ao redor do mundo que consolidaram o
capitalismo. Porém, por conta de certa fragilidade no mercado devido a falta de estruturas
garantidoras de estabilidade, o mercado estava exposto a alta volatilidade devido a choques
externos, como especulações e pânicos no mercado financeiro.

Devido ao arcabouço teórico da época, o liberalismo clássico dominante, não existia a ideia de
emprestador de última instância para atenuar uma crise de liquidez bancária, assim tornando o
mercado financeiro suscetível a muitas crises e corridas bancárias. O padrão ouro dava
confiabilidade aos investidores de que a qualquer momento fosse possível resgatar suas
economias em ouro, mas devido às mesmas corridas bancárias o ouro emigrava do país
causando restrição monetária.

Em 1873 ocorre uma crise financeira mundial com início na Áustria e expansão para a Europa e
Estados Unidos. Devido a expansão e integração do capitalismo em escala internacional,
desequilíbrios financeiros eram transmitidos rapidamente em diversas regiões. De acordo com
historiadores, dois fatores estavam envolvidos para a eclosão da crise. Em primeiro lugar, a
queda dos preços dos produtos agrícolas e industriais em escala mundial, que acabou por
reduzir as taxas de rentabilidade de setores-chave da economia mundial. Em segundo lugar, o
ciclo de investimentos do setor ferroviário, na época o motor mais dinâmico do capitalismo,
estava debilitado devido a contração de crédito e declínio radical do investimento mundial,
gerando demissão de milhares de trabalhadores e cancelamentos de contratos. Em 1876 12
governos do Oriente médio e da América Latina deram calote de suas dívidas públicas. Nos
Estados Unidos não houve um colapso, mas ocorreu uma grave crive no mercado financeiro
que persistiu durante vários anos com altas taxas de desemprego.

Após a crise e a sua recuperação, as potências europeias e os Estados Unidos adotaram o


sistema padrão ouro que se baseava em três princípios: um tipo de câmbio fixo para a moeda,
a livre conversibilidade de moedas e títulos em ouro e liberdade para os fluxos internacionais
de ouro e de capitais. Isso gerava segurança para os investidores e intensificou os fluxos de
investimentos, que com a revolução bancária mundial e globalização financeira de 1880 a
1890, se passou a oferecer maiores níveis de capitais para investimentos estrangeiros,
principalmente dos países que adotassem o padrão-ouro. Ocorre assim uma expansão mundial
econômica liderada pelos EUA, com foco na mineração e na indústria, e na Europa, que passou
por uma renovação de sua industrialização com novas indústrias químicas, siderúrgicas e
elétricas.

Porém, somente a adoção do padrão-ouro não garantiu estabilidade para a economia mundial.
Em 1890-1891 ocorre uma a primeira crise dos mercados emergentes. Devido ao
fortalecimento de seu comércio exterior mais a capacidade de atrais imigrantes e capitais, a
América Latina experimentou uma rápida expansão econômica, mas experimentando devido a
isso a formação de bolhas financeiras. A primeira crise começa na Argentina, que havia se
tornado um dos maiores devedores do mundo com uma dívida externa de 80 milhões de libras
esterlinas. Esse alto empréstimo gerou uma política de expansão monetária que por fim
culminou na queda do valor do peso argentino e fuga de capitais (e de ouro) em 1889 e 1890.
Londres, que possuía grandes investimentos nos bônus argentinos, foi também impactada. O
Banco Baring Brothers, o mais prestigiado de Londres, deve te ser resgatado através de ações
estatais e privadas, causando uma curta e intensa crise financeira internacional. Outros países
também foram afetados, como o Brasil, que teve um colapso de sua moeda perdendo 40% do
seu valor frente a libra esterlina em 1 ano e meio e necessidades de estritas políticas
monetárias e fiscais, Portugal, que abandonou o padrão-ouro em 1891 e reduziu os serviços da
dívida externa, ficando impossibilitado de ter acesso a novos empréstimos internacionais, e
Espanha, que teve forte queda em seus bônus e evasão do estoque de ouro.

Em 1893 ocorre outra crise na América do Norte devido, novamente, à falta de liquidez.
Embora o pânico houvesse sido controlado anteriormente na crise de 1890 devido a
intervenções privadas, dessa vez essas intervenções não foram bem sucedidas. Ocorre o
colapso da bolsa de valores em 3 de maio, uma quebra generalizada de bancos, corrida aos
bancos, contração econômica e recessão, com o México também sendo contagiado pelo pânico
nos Estados Unidos.

Entre 1904 e 1914 ocorreu uma forte onda expansionista na economia mundial, com aumento
na produção agrícola, industrial, mineradora e expansão dos serviços financeiros. Países
avançados tiveram um crescimento médio anual do produto per capita de 1,6% nesse período,
enquanto os periféricos tiveram uma média de 1%. A construção de ferrovias continuou sendo
um dos setores mais dinâmicos e poderosos na economia global, com uma grande construção
de trilhos para ferrovias em todo o mundo.

Ocorre, porém, uma crise em 1907 nos Estados Unidos. Uma operação especulativa de venda
do cobre gerou uma queda acentuada de todos os valores das empresas do setor, tendo como
resultado uma corrida bancária. A associação de bancos comerciais interviu, mais uma vez, e
evitou quebras sistêmicas. Em 21 de outubro, o presidente de um dos bancos de primeira linha
renuncia devido a suspeitas de sua relação com especuladores de cobre, gerando uma
contração do mercado de papéis no curto prazo e pânico nos bancos. Novamente, ocorre uma
intervenção não apenas privada mas também governamental para evitar a quebra de bancos.
Ainda assim, ocorreu uma contração de crédito forte e assim redução de atividades de muitas
empresas e aumento do desemprego.

-- Parando nas Crises de 1914 e a criação do Federal Reserve Bank

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