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PRIMEIRA CRISE

“Cada uma dessas fases de expansão caracteriza-se por um modelo particular de acumulação; um tipo de indústria motriz; um quadro específico que define as modalidades da concorrência e o estatuto da empresa; a certa etapa da expansão geográfica do sistema capitalista; a uma organização particular da especialização internacional neste quadro; a uma distribuição das funções de seu centro e de sua periferia; e, finalmente, a certo equilíbrio (ou desequilíbrio) entre os
diferentes estados-nações centrais. Todo esse conjunto define o tipo de aliança de classes que corresponde ao modelo de acumulação e, através disso, o quadro da luta de classes e da vida política, além do modelo de produção da burguesia, complemento necessário ao modelo da reprodução do capital (AMIN, 1977, p. 6).”

A CRISE NA SEGUNDA EXPANSÃO CAPITALISTA


Conforme Amin (1977) a crise se instaura através da acentuação de processos de enfrentamentos entre classes, marcada pela Comuna de Paris, e só será vencida através da superação do laissez faire dos anos 50-70 – único período de verdadeiro liberalismo capitalista, da constituição dos monopólios e da expansão do imperialismo. A primeira fase de expansão se caracterizara pela concorrência fácil feita pela nova indústria no antigo artesanato e a segunda por um modelo
de concorrência atomística entre numerosas empresas de porte modesto, incapazes de modificar, isoladamente, as condições do mercado. A Partir daí a concorrência se fará entre monopólios em condições de, pelas suas decisões unilaterais, de moldar o mercado; a individualização dos produtos através das marcas e a publicidade reduzem, além disso, a concorrência pelos preços. A eletricidade abre novas possibilidades à modernização da indústria, e a navegação
marítima dá ao mercado uma dimensão mundial.
Nessa fase, a situação internacional se definiria pelo equilíbrio relativo das quatro grandes potências – Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra e França - às quais se juntaram quatro potências retardatárias ou jovens: a Itália, o Japão, a Rússia e a Áustria-Hungria.
Porém, segundo Amin (1977), o modo capitalista só assume sua forma definitiva quando seu centro de gravidade se desloca para a nova indústria, submetendo à agricultura a sua dominação. Porém, só após a Primeira Guerra Mundial, a agricultura viria a passar por uma segunda onda de modernização, renovando e aprofundando suas formas de dominação por meio do capital industrial. Entretanto, a periferia do sistema mundial continua limitada à especialização agrícola,
seu atraso e sua dependência têm como causa a dominação do modo de produção capitalista sobre formas da vida rural de origem pré-capitalista.
A guerra de 1870-1871 entre a França e Alemanha, assim como previa Bismarck, foi fundamental para consolidar a unidade alemã. A “ameaça francesa” era o que poderia fazer com que os Estados do sul da Alemanha entrassem para a Confederação alemã.

O IMPERIALISMO E A GUERRA
O denominado imperialismo aparece quando as possibilidades do desenvolvimento capitalista chegam ao esgotamento, fruto do fim da primeira revolução industrial na Europa e na América do Norte, quando a crise impõe nova extensão geográfica para o domínio do capitalismo.  Para alguns autores, a época imperialista pode ser subdividida em dois períodos: de 1880 a 1945, e pós-1945.Entretanto, para o Direito Internacional
teve especial importância os últimos anos do século XIX.

“O último quartel do século XIX apresentou uma característica das mais importantes para o estudo das relações internacionais, que foi o imperialismo e o colonialismo. As suas causas foram múltiplas: colocação de capitais, fatores demográficos, motivos estratégicos, saturação do consumo europeu e na Alemanha se falava mesmo da vitalidade do Estado. Era também  o desejo de abandonar o status de grande potência européia

para se transformar em grande potência mundial [...] porque só os impérios se importariam no futuro. Assim a dominação é consagrada pelo ato Geral de Berlim (1885) ao estabelecer a aquisição do território pela ocupação efetiva. O colonialismo é consagrado além da ocupação pelo sistema de protetorado, mandatos e tratados desiguais (ALBUQUERQUE MELLO, 2001, p. 153, grifo do autor).”

O CAPITAL FINANCEIRO

Uma das características do modo de produção capitalista é justamente a de separar a propriedade do capital de sua aplicação à produção. Por isso ocorre a separação do capital monetário do capital produtivo, e assim separa-se o capital financeiro, que vive apenas dos rendimentos do capital monetário, do empresário e de todos que participam de maneira direta da gestão do capital.
A exportação de capitais repercute-se no desenvolvimento do capitalismo nos países em que são investidos, acelerando-o extraordinariamente. Se, em consequência disso, a referida exportação poderia, até certo ponto, ocasionar a paralisação do desenvolvimento nos países exportadores, isso só poderia ter lugar em troca da extensão e do aprofundamento maior do desenvolvimento do capitalismo em todo o mundo.

CAPITAL FINANCEIRO E OS MONOPÓLIOS


Ressalta-se o fato de o capitalismo financeiro ter criado a época dos monopólios, que trazem sempre consigo o princípio monopolista: a utilização das relações para as transações proveitosas substituindo a concorrência no mercado aberto.
Trata-se de uma época peculiar da política colonial mundial que se encontra intimamente relacionada à fase moderna de desenvolvimento do capitalismo – a do capital financeiro. Por isso, faz-se necessária uma mais detida abordagem dos dados concretos, de modo a proporcionar um delineamento mais preciso, não apenas relativo à diferença  existente entre esta época e as anteriores, como também relativo à situação atual. Em primeiro lugar, surgem
duas questões concretas: verifica-se a acentuação da política colonial, a exacerbação da luta pelas colônias, de maneira precisa, da época do capital financeiro? Como se encontra repartido o mundo, na atualidade, sob este ponto de vista?  O capitalismo monopolista era estágio novo, para além do capitalismo competitivo, no qual o capital financeiro  passou a ser o capital constituído pela aliança entre as grandes empresas e o capital bancário, que dominava a economia e o
Estado.

A AMÉRICA CENTRAL E A SUA IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA PARA EXPANSÃO DOS ESTADOS UNIDOS
A anexação da Califórnia no ano de 1848 e a descoberta de ouro naquela região transformaram a América Central, com destaque para a Nicarágua e para a província colombiana do Panamá, em rota para a passagem de garimpeiros que tinham como destino as áreas de mineração. Aqueles que desejassem chegar até as regiões auríferas eram obrigados a fazer longa viagem desde Nova York, na costa atlântica ao Leste, até São Francisco, na Califórnia no extremo Oeste.
Não por outras razões, pouco a pouco a América Central passou a constituir-se em grandioso complexo de interesses norte-americanos em inalterável expansão. No ano de 1855, um fato mudaria definitivamente o ritmo dessa relação expansionista americana, a inauguração da estrada de ferro da Panamá Railroad, através do Istmo, depois de ter obtido a concessão da Nova Granada em 1848 (posteriormente denominada Colômbia, em 1863). A estrada de ferro abriria
passagem para a futura aquisição da Zona do Canal em 1903.

A INTERVENÇÃO HUMANITÁRIA
Na divisão de tarefas, enquanto Mahan forneceu o suporte teórico-estratégico, ficou para Herbert Croly a tarefa de traçar as justificativas intervencionistas dando-lhes roupagem humanitária.
Assim, em 1909, surge o livro de Croly, “The Promise of American Life”, influenciando outro presidente norte-americano e principal fator da intervenção, Woodrow Wilson.
Em 1895, quando do conflito anglo-venezuelano sobre os limites da Guiana Britânica, o presidente Cleveland enuncia o que seria a sua fórmula do monroismo (Doutrina Monroe) reforçado: nenhuma questão que fosse de interesse do continente americano poderia ser decidida na ausência dos Estados Unidos.
Porém a manifestação mais categórica do imperialismo norte-americano no final do século XIX foi a guerra contra a Espanha. A partir de um conflito entre a Espanha e a população da Ilha de Cuba, uma de suas últimas possessões comerciais, os Estados Unidos acabaram por entrar em guerra com a Espanha.
“Em dois meses, os americanos destruíram as duas frotas espanholas, uma nas Filipinas, outra nas Antilhas, e obrigaram a Espanha a pedir o armistício. Pelo tratado de Paris, assinado a 12 de  agosto de 1898, a Espanha entregou aos Estados Unidos as Filipinas e Porto Rico e reconheceu a independência de Cuba, que na realidade se tornou um protetorado americano. Pouco depois, os Estados Unidos anexavam as ilhas do
Havaí e o arquipélago de Samoa, deixando bem clara a sua vontade de expansão no Pacífico. Com esta vitória sobre uma nação do velho continente, os Estados Unidos fizeram uma espetacular entrada na cena internacional (MILZA, 1995, p. 131).”

O PODERIO ECONÔMICO
A situação de inferioridade na qual os Estados Unidos se encontravam em relação às economias europeias desde o término da guerra civil, compreendida entre os anos de 1861 e 1865, se alteraria extraordinariamente.
Entre os anos de 1870 e 1900, a população  norte-americana aumentara quase em 100%. A produção mineral apresenta incremento extraordinário e os produtos agrícolas haviam duplicado suas safras; da mesma maneira, eram impressionantes os novos poços de petróleo descobertos em Oklahoma e na Pensilvânia. Assim, os Estados Unidos tornaram-se um país detentor de riquezas superiores às de qualquer outro em separado, e capacitado
para sua exploração. Em 1998, noventa por cento da produção nacional eram consumidas internamente e os valores das exportações chegavam ao exagero de um bilhão de dólares em 1898.
Assim, os EUA ao longo de cerca de meio século, haviam se tornado a maior potência econômica do mundo: o crescimento da riqueza norte-americana passou de 7 bilhões de dólares em 1850 para 30 bilhões de dólares em 1870, para 83 bilhões de dólares em 1900, e atingiu em 1912 a cifra espetacular para a época de 186,3 bilhões de dólares. No mesmo período, a riqueza do Reino Unido era de U$79,3 bilhões, da Alemanha de U$77,8 bilhões e da França de U$57,1
bilhões.

A EXPANSÃO JAPONESA
Em 17 de abril de 1895, terminou a guerra entre Japão e China; o armistício tem como resultado a assinatura do Tratado de Shimonoseki, no qual a China reconheceu a “independência” da Coréia, que na realidade significava a condição suserana do Japão. Além do mais, a China fica obrigada a entregar Formosa ao Japão, bem como as ilhas Pescadores, a península de Liao-Tung e Port-Arthur. Como parte do Tratado, a China foi ainda obrigada
a pagar, num prazo de sete anos, indenização de guerra no valor de 200 milhões de “taétis” ao Japão, período no qual o Japão ficaria de posse da base de Wei-hai-wei, como garantia de cumprimento da indenização. Por fim, a China foi também obrigada a conceder vantagens comerciais ao Estado japonês.
Entretanto, em 25 de abril de 1895, as potências da Alemanha, Rússia e França, receosos que o tratado entre Japão e China pudesse contribuir para o fortalecimento do imperialismo japonês no continente Asiático, e como isso pudesse influenciar seus interesses no continente, fizeram diligência comum junto ao governo do Japão, para que o mesmo renunciasse às suas conquistas na Ásia. Pressionado pelas três potências, na Convenção de
Pequim em 8 de novembro de 1895, o Japão restituiu os territórios conquistados, ficando apenas com a península de Lia-tung como indenização de guerra. No final desse processo restaria profundo ressentimento do Japão em relação às potências europeias, em particular em relação à Rússia.
Vez que a indústria japonesa não pode escoar sua produção no mercado europeu ou no mercado americano, devido à má qualidade de seus produtos, fruto da falta de operários e de técnicos qualificados, os industriais japoneses foram obrigados a conquistar os mercados asiáticos, sobretudo, o mercado chinês, porém, com a condição prévia de afastar os concorrentes europeus e americanos que  tinham suas redes de venda densamente inseridas na Ásia Oriental.

A CONQUISTA DE MERCADOS INDUSTRIAIS


A conquista de mercados para seus produtos industriais e de reserva de matérias-primas passou a ser questão capital para o jovem império japonês. Para as pretensões japonesas a Coréia e a Manchúria eram perfeitas, vez que se encaixavam exatamente nas necessidades nipônicas, só que para tanto o império japonês teria que desalojar os russos, que têm aumentado sua influência na região desde 1895.
Em 13 de janeiro de 1904, fazendo uso de sua superioridade militar, o Japão exige que a Rússia reconhecesse definitivamente a integridade da Manchúria, e em cinco de fevereiro, devido ao silêncio russo, o governo do Japão decidiu romper relações diplomáticas com a Rússia.
No dia oito de fevereiro de 1904, sem declarar previamente a guerra contra os russos, a frota japonesa investiu contra a esquadra de Port-Arthur, afundando três encouraçados russos. 
Assim, em fevereiro de 1904, iniciava-se a guerra entre o Japão e a Rússia. 

Depois de várias batalhas, os japoneses triunfaram. Apesar de não existirem mais empecilhos ao triunfo dos japoneses, o governo do Japão não desejava prosseguir com as hostilidades na Manchúria. Ao final da guerra, o esforço tinha afetado as finanças japonesas. A paz foi assinada em Portsmouth, nos Estados Unidos, a 05 de setembro de 1905.
Como parte do acordo de paz, a Rússia entregaria ao Japão a parte meridional da ilha de Sacalina, o Liau-tung com Port-Arthur, que passaria a ser a partir de então base japonesa bem como o Japão passaria a gozar dos direitos sobre os caminhos de ferro do sul da Manchúria; a Rússia concederia a Tóquio toda liberdade de ação na Coréia, até a efetivação da anexação, o que aconteceu em 1910.
A vitória na guerra com a Rússia significou para o Japão o início de um processo expansionista extraordinário.  

As vitórias conseguidas pelo imperialismo japonês incomodariam os competidores do ocidente, principalmente os Estados Unidos, vez que os interesses norte-americanos encontravam-se ameaçados pela concorrência nipônica, no Extremo Oriente e no Pacífico.

No período que antecedeu à Primeira Guerra Mundial de 1914, o poderio militar japonês não pararia de crescer e de se qualificar cada vez mais. Como se não bastasse, o Japão conseguira ampliar sua influência, em parte, aos mercados do Extremo Oriente.

A RÚSSIA, A GUERRA COM O JAPÃO E A REVOLUÇÃO DE 1905

Segundo Serge (1993), às vésperas  de 1905, a concentração de terras na Rússia era absurda; enquanto dez milhões de famílias camponesas possuíam 73 milhões de  déciatines, 27.000 proprietários fundiários, dos quais 18.000 nobres, dispunham de 62 milhões de  déciatínes, e um terço aproximadamente desse incomensurável domí nio pertencia a não mais que 699 riquíssimos senhores, os quais se constituíam no mais seguro sustentáculo da autocracia, que detinha em
seu poder as melhores terras. Desde 1861, a porção dos camponeses tinha sido dividida com o objetivo de tornar o antigo servo o mais dependente possível do senhor. Com a chegada do ano de 1900, os preços dos cereais subiram no mercado mundial. Desejosos por lucros, os proprietários rurais elevaram o preço das terras e dos arrendamentos em até duas vezes. Ao passo que a população rural havia aumentado, a porção de terras dos camponeses que em 1861 tinha
em média pouco mais de cinco hectares de terra per capita masculina, caíra em média para menos de 2,5 em 1900. Esta situação fez crescer em muito o número (cerca de uma dezena de milhões) de desocupados na zona rural. Assim, os anos 1895-1898, 1901 representaram anos de fome para os camponeses, e de exportação de cereais para a aristocracia.

Por outro lado, a indústria russa, apesar de ter sido criada tardiamente, iria desenvolver-se de maneira pujante em condições muito peculiares. Apesar das fontes de mão-de-obra serem ilimitadas, a mão-de-obra qualificada era muito rara nos primeiros anos do século XX. Em compensação, o nível de concentração da indústria russa atingia, sob a influência do capital estrangeiro,  um grau ainda mais elevado que o da indústria alemã. Este capitalismo, de estrutura moderna,
encontrava-se obstruído por instituições retardatárias que estavam ali há mais de um século antes do capitalismo chegar em solo russo.

Toda essa situação fez crescer, em muito, o descontentamento da pequena burguesia. Os agricultores abastados viam os proprietários fundiários como obstáculo a seus projetos. Os comerciantes, os artífices, e, sobretudo, os intelectuais, eram intensamente prejudicados em seus interesses, ultrajados em sua dignidade, pelo regime de castas e pelas arbitrarie dades burocráticas. Entre todas as classes sociais da Rússia, apenas uma escassa minoria composta pelos grandes
proprietários de terras, pela nobreza rica, da corte, e por parte da alta burguesia, não sentiam necessidade de grandes mudanças, no início do século XX.

Em 1902, se multiplicaram-se agitações no campo russo, com fuzilamento de populações de aldeias inteiras. A grandiosa greve de amplos setores de massas de Rostov, à margem do Don, mostrou a força do operariado russo. Em 1903, uma greve de grande magnitude atingiu e abarcou o sul do país. 

Foi em meio a toda uma situação de crise interna que a guerra com o Japão iniciou- se em 1904. Assim, como já dito anteriormente, a guerra significava para a Rússia a concretização da políti ca de expansão territorial do Tzar, que voltava seus olhos para a Manchúria, além do domínio de  Port-Arthur, que deveria abrir a China ao comércio russo, o desejo de Nicolau II de aumentar a fortuna dos  Romanov, na Coréia e, por fim, o desejo do Tzar de consolidar a aristocracia por
meio de uma vitória militar.
Em janeiro de 1905, depois de já transcorrido um ano inteiro de reveres russos no conflito com o Japão (a guerra se iniciara em fevereiro de 1904), a situação explodiu de vez, internamente.

Foi o próprio Pope Gapone, um homem das autoridades do Estado Russo infiltrado no movimento operário russo, que organizou e redigiu a petição dos operários de Petersburgo que fora aprovada por dezenas de milhares de proletários, destinada ao Tzar Nicolau II. No documento pedia-se: jornada de 8 horas; reconhecimento, por parte das autoridades e do Estado, dos direitos dos operários e; uma constituição (responsabilidade dos minis tros perante a nação, separação
entre a Igreja e o Estado, liberdades democráticas). Porém, o que ocorreu foi um verdadeiro massacre, que deixou às claras quais eram as reais margens de concessão do regime.

O fato de ter sido o Padre Gaspone, que tinha sido membro e dirigente da associação zubatovista, aquele que organizou o movimento grevista para ir de encontro às tropas do Tzar, levantou suspeitas sobre sua participação na tragédia:  
Os jornais estrangeiros assinalam, do mesmo modo que nossos correspondentes, que a polícia deixou intencionalmente que o movimento grevista adquirisse um desenvolvimento amplo e sem entraves, porque o governo em  geral (e o duque Vladimir, em particular) desejava provocar uma represália sangrenta nas condições mais favoráveis para ele. Os correspondentes estrangeiros assinalam inclusive que, considerada esta circunstancia, necessariamente teria que
beneficiar ao governo de modo especial a enérgica participação que tiveram no movimento os partidários de Zubatov.
O governo tinha, portanto, as mãos livres e seu jogo era absolutamente seguro: à manifestação calculava, acorreriam  os operários mais pacíficos, os menos  organizados e menos conscientes; a nossas tropas nada lhes custaria esmagá-los, e com isso se daria uma boa lição ao proletariado; o pretexto seria excelente para abater a tiros os que se encontrassem na rua; a vitória do partido reacionário da Corte sobre  os liberais seria completa; e depois disso viriam as mais
ferozes represálias.
Se internamente a situação da crise agravava-se, no exterior não era diferente. Os exércitos do tzar foram derrotados em todos os combates, em Yalu, em Mukden e em Port Authur, e ainda perderam toda sua frota naval na batalha de Tsu-Shima (maio de 1905). A cada fracasso, restava clara a fragilidade militar da autocracia, o que levou a graves repercussões, tanto no interior do país quanto no próprio palco de operações. Essas  derrotas humilhantes eram fruto, sobretudo,
do desmazelo administrativo, da incapacidade dos dirigentes russos, e, por fim, da situação conturbada em que vivia o país, o que fez com que as melhores tropas permanecessem em solo russo. 
Assim, em 5 de setembro de 1905, a guerra terminou com a paz de Portsmouth, com um custo final de 1.3 milhão de rublos, dos quais, 1.2 milhão de rublos haviam sido conseguidos pelo Tzar Nicolau no estrangeiro, sobretudo, na Bolsa de Paris.
A derrota para o Japão encerrou o avanço russo na Manchúria, impôs um golpe violento no regime do Tzar, além de diminuir sensivelmente o potencial bélico russo. Vez que a derrota para o Japão conformou uma barreira para sua expansão na Manchúria e na Coréia o Czar teve que concentrar toda a sua atenção nas questões européias.
Porém, com a concessão, o Tzar não tinha nenhuma pretensão de abandonar o poder na Rússia, seu intuito era não mais que ganhar tempo, para “por a casa em ordem”. Isso ficou claro na forma apressada com a qual o czar encerrou a guerra contra o Japão para liberar forças militares de que precisava a fim de fazer com que a ordem no país voltasse ao que era anteriormente.

O SÉCULO XX ATÉ A PRIMEIRA GRANDE GUERRA

O século XX não começou muito bem na Europa, cujo clima era de enorme tensão e rivalidade entre as grandes potências. O início do século dava-se em meio à guerra. Na virada do século XIX para o século XX, aumentavam, progressivamente, nos jornais, as notícias da guerra dos ingleses contra os sul-africanos - os Boers - bem como sobre a guerra das grandes potências capitalistas contra os chineses, a chamada guerra dos boxers.
Em busca de novos mercados para a venda de seus produtos, os países industrializados europeus entravam em choque entre si pela conquista de colônias na África e Ásia.
Durante o período compreendido entre 1890 e 1907, as rivalidades se intensificam entre as grandes potências, não mais concentradas na Europa propriamente dita, mas assumindo caráter mundial;  os processos de disputa de influência ficaram cada vez mais ferozes na África e no Extremo Oriente. Foi este o período de crescimento dos nacionalismos.
Muitos fatores colaboraram para essa situação conflituosa, entre os quais se destacam:
▪ Em razão da concorrência econômica, cada país industrializado buscava dificultar a expansão dos países rivais; esse conflito teve seu ponto mais elevado na disputa entre Inglaterra e Alemanha.
▪ O aparecimento de movimentos nacionalistas em várias regiões da Europa, que almejavam agrupar-se em uma mesma organização política (Estado) povos com raízes culturais semelhantes. O desenvolvimento do nacionalismo exaltado estimulava a vontade de expansão territorial. São exemplos desses movimentos nacionalistas: o  Pan-eslavismo, que ansiava pela união de todos os povos eslavos da Europa oriental e tinha a Rússia como líder. O  Pan-germanismo, que buscava a
expansão alemã por meio dos territórios ocupados pelos povos germânicos da Europa Central e era liderado pela Alemanha. E ainda o revanchismo francês, que pretendia desforrar a derrota sofrida para a Alemanha em 1870 e recuperar os territórios da Alsácia-Lorena, cedidos aos alemães.

O agravamento da situação conflituosa suscitou o que se chamou “paz armada”. A possibilidade de guerra entre as potências tornava-se cada vez mais eminente, fazendo que as principais potências se encarregassem de intensificar a produção de armas e fortalecer seus exércitos.

A POLÍTICA DAS ALIANÇAS E A CORRIDA PARA A GUERRA


O clima de tensão internacional fez com que grandes potências subscrevessem tratados de aliança com o objetivo de aumentarem suas forças para enfrentar as potências rivais. Após várias negociações e tratados bilaterais, em 1907, passaram a existir dois blocos distintos na Europa: a Tríplice Aliança: composta por Alemanha, Áustria e Itália e a Tríplice Entente: composta por Inglaterra, França e Rússia.
Enquanto aguça-se o abatimento da Tríplice Aliança, assistia-se, no lado oposto, ao reforço da aliança.
A partir do ano de 1907, as nações europeias encontravam-se divididas em dois blocos antagônicos, no interior de cada um dos agrupamentos as rivalidades apresentavam-se abrandadas, porém, eram acirradas entre os dois campos, tanto da França, em relação ao Reich, como entre a Alemanha e a Inglaterra em se tratando de armamentos navais, além da Áustria-Hungria e a Rússia, em função da supremacia nos Bálcãs. Essa situação provocou crises cada vez mais fortes
que ameaçaram por várias vezes a paz no continente europeu: crise na Bósnia em 1908-1909, a segunda crise marroquina em 1911, as guerras dos Bálcãs de 1912-1913 e, por último, o conflito austro-sérvio de 1914 que desencadearia a Primeira Guerra Mundial.

A composição original de cada bloco da Tríplice Aliança e da Tríplice Entente sofreu alterações, conforme os interesses imediatos dos países; alguns países trocaram de lado, como a Itália em 1915. As tensões entre os dois blocos antagônicos foram se tornando cada vez mais insuportáveis, a ponto de qualquer incidente servir como estopim de guerra.

CONSUMO IMPRODUTIVO, ARMAS E MILITARISMO

Esses sinais eram apenas o prenúncio de que se iniciaria com o século XX o momento das guerras inter-imperialistas entre as grandes potências capitalistas.
Rosa Luxemburg (1983) é pioneira na abordagem do papel  crucial do consumo improdutivo no desenvolvimento da acumulação e crises do capital.  Um estudo importante acerca dos aspectos econômicos, políticos e militares e, desta forma, profundamente ligados à guerra dos países imperialistas, foi feito por Rosa Luxemburg em 1912, a partir da abordagem em relação ao papel crucial do consumo improdutivo no desenvolvimento da
acumulação e crises do capital.
Para Luxemburg (1983), o estudo do aumento da produção e de consumo de mercadorias de luxo e de armamentos é fundamental para o entendimento do papel do Estado e do imperialismo na regulação das crises globais do capitalismo moderno. Dentro da perspectiva colocada por Luxemburg (1983), as despesas improdutivas criadas no regime capitalista para o consumo de bens de luxo e de armamentos não se destinam a uma imprecisa
demanda de mercadorias em geral, quer dizer, de simples valores de uso.
Para Luxemburg (1983), o problema da demanda  pelo lucroassume então seu verdadeiro lugar. Na teoria e na prática, resume-se a um problema do Estado, um problema político, a uma corrida para se descobrir alguma forma de consumo improdutivo que tenha o poder de esterilizar partes maiores da mais-valia produzida.  O militarismo tem ainda outra função importante. De um ponto de vista puramente econômico, ele é para o capital um meio
privilegiado de realizar a mais-valia; em outras palavras, é um campo de acumulação.
Luxemburg (1983) nos propõe como exercício teórico imaginar-se por um momento, que todo o dinheiro, extorquido dos trabalhadores sob forma de impostos indiretos e que faz diminuir seu consumo, seja empregado para pagar os funcionários do Estado e para o provimento das forças armadas.
Segundo Luxemburg (1983), do ponto de vista da reprodução social, tudo se passa como se a mais-valia relativa fosse acrescida de certa soma, que também se atribui ao consumo da classe capitalista e de seus elementos parasitários. Dessa maneira, a  exploração da classe operária pelo engenho dos impostos indiretos, que têm como função a sustentação do aparelho de Estado.
Pode-se, então, presumir que caso a população não aguentasseem seu maior contingente, os custos da manutenção dos funcionários do Estado e do exército, teriam os grandes proprietáriosque suportá-los em sua somatória.
Assim, os grandes bilionários  teriam que destinar parte dos seus altos lucros à manutenção desses órgãos da dominação de classe, fazendo isso à custa do próprio consumo que teriam de limitar proporcionalmente.  O que não é de seu desejo, muito pelo contrário, o que ocorre na realidade é a transferência da maior parte dos gastos destinados ao sustento de seu séquito para os trabalhadores (e aos representantes da produção simples de
mercadorias: camponeses e artesãos) o que permite aos grandes empresários deixar livre, parte maior dos lucros para a capitalização. Mas, no momento, não se cria de modo algum a possibilidade dessa capitalização, isto é, não se  cria nenhum mercado novo que permita utilizar  esse lucro liberado, produzindo e rendendo novas mercadorias. A questão muda de aspecto se os recursos concentrados nas mãos do Estado, pelo sistema de impostos, são utilizados na produção
de engenhos de guerra. Em decorrência do sistema de impostos indiretos e tarifas aduaneiras, os gastos do militarismo são principalmente suportados pelos trabalhadores, classes médias e pelo campesinato.
Luxemburg (1983) esclarece que a questão crucial é que o capitalismo precisa desenvolver a produção de algum tipo de valor de uso do qual o consumo impeça seu retorno para o campo produtivo, algum valor de uso que o consumo faça desaparecer na própria circulação do capital. Esses remédios contra a superprodução são precisamente aqueles valores de uso que não podem ser empregados como meios de produção, nem como meios de
reprodução da força de trabalho. As modernas formas de consumo improdutivo individuais (de bens de luxo) como também estatais (de armamentos) foram as que mostraram ser, historicamente, as mais apropriadas para exercer esse papel. E, assim, desvenda-se, também, a origem do Estado nomeadamente, da forma particular da acumulação capitalista no mercado mundial.
Se um elevado grau de liberdade e de acumulação de capital leva às crises mais devastadoras para o sistema uma dose exagerada  ou períodos muito prolongados de regulação e de esterilização dos meios de produção, podem levar àquilo que o economista da acumulação do capital, David Ricardo, chamava de “Estado estacionário”. Um abafamento muito prolongado do fogo da acumulação, de sua  taxa de acumulação, pode levar a sociedade capitalista a uma crise de
estagnação e inanição muito mais perigosa para as classes dominantes, que aquela que o regulacionismo estatal promete evitar.

Esse pêndulo do capital comanda as oscilações de períodos mais ou menos prolongados dos desdobramentos concretos do mercado mundial e do Estado capitalista, vale dizer, do espaço social e das condições políticas em que a lei do valor se manifesta em toda sua plenitude.

A experiência do tempo de guerra ensina em que elevada medida o militarismo, mediante exclusão e interdição da circulação de pensamentos, mediante o impedimento da difusão de notícias, consegue deter o efeito de concepções e ações individuais, bem como a influência de processos que, em si mesmos, estimulariam as massas da maneira mais intensa.

A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL E O IMPERIALISMO 1914-1918

Em 1914 terminaria um período de apogeu, conquanto breve, do imperialismo (1880 a 1914), e o capitalismo logo conheceria umade suas épocas mais estagnadas - o entre guerras: o militarismo e a guerra colocaram-se como única solução. A humanidade então presenciaria sua Primeira Grande Guerra e, vinte e um anos depois de seu término, a Segunda Grande Guerra Mundial.
Para Mandel (1989), não é de se admirar que tenha restado à Alemanha o papel de questionar o status quo. Foi justamente este, o país que assumiu a liderança industrial da Europa, o que lhe dava condições de contestar, pelo poder das armas, a partilha colonial favorável à Inglaterra e França.
A Primeira Grande Guerra mundial tem em sua “causa” imediata o assassinato do Arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austríaco, e de sua esposa, a Condessa Sofia Chotek, na cidade de Sarajevo, em 28 de junho de 1914, pelo estudante Gavrilo Princip que pertencia à sociedade sérvia Unidade e Morte (Mão Negra), organização que lutava pela coalizão dos sérvios, contra os turcos e os austríacos, e  que contava com o apoio do
governo sérvio, este, por sua vez, ligado à Rússia.

Porém, o assassinato de Ferdinando e Sofia só pode ser entendido como o motivo detonante da Primeira Grande Guerra Mundial, não fosse o clima conflituoso da situação internacional na época, a morte de Francisco Ferdinando não teria levado as grandes potências entrarem em conflito. Mas as circunstâncias históricas foram suficientes para provocar a reação militar. Em 28 de julho de 1914, a Áustria declara guerra à Servia, e um dia depois,
em 29 de julho, em apoio à Sérvia, a Rússia mobilizou suas tropas militares contra a Áustria e a Alemanha. Logo em seguida, no dia 1º de agosto, foi a vez da Alemanha entrar no conflito, declarando guerra à Rússia e, posteriormente, à França. Com o objetivo de atingir a França, os exércitos austríacos e alemães invadiram a Bélgica (neutra). Em 5 de agosto, chega o momento da Inglaterra fazer-se presente no conflito, declarando guerra à Alemanha.
As relações internacionais conflituosas explodem em conflito bélico, e a Europa se arma. Cerca de vinte e cinco anos depois, em seu trabalho de 1939, Carr (2001) buscou analisar a importância da guerra nas relações internacionais
Fruto do conflito, os aliados não-europeus dos países envolvidos são arrastados para um conflito que envolveu diretamente 65 milhões de pessoas, ocasionou a perda de mais de oito milhões de soldados e deixou mais de 25 milhões de feridos. Com a Primeira Grande Guerra Mundial, a humanidade conheceria, pela primeira vez, as catastróficas realizações que a época imperialista, caracterizada pelo advento de guerras e revoluções, reservara
para os povos.
A partir do implemento imperialista em larga escala, a competição não era eliminada, mas continuava principalmente entre um número relativamente pequeno de firmas gigantes, aptas a controlar grandes partes da economia nacional e internacional. O capitalismo monopolista, neste sentido, era intrínseco à rivalidade  Inter imperialista, revelando-se, primariamente, sob forma de luta pelos mercados globais. A resultante divisão  do mundo em
esferas imperiais e o esforço que isto acarretou conduziu diretamente à Primeira Grande Guerra Mundial.

Na verdade, a Primeira Grande Guerra Mundial pode ser caracterizada como sendo a guerra do imperialismo plenamente desenvolvido, que demonstra, mais que qualquer outra anterior a ela, que a guerra não é apenas uma questão de forças armadas, mas sim de todo o sistema de Estado, de  toda a vida econômica, bem como do conjunto da população, de cujo caráter e capacidade de trabalho depende, em grande medida, a organização
militar.
A rivalidade econômica, sob a bandeira do militarismo, é acompanhada pelo roubo e a destruição, os quais violam os princípios mais elementares da confusão produzida por divisões nacionais e de Estado como também contraria a ordem econômica, a qual se transformou em um caos de desorganização. A guerra de 1914 é a mais colossal ocorrida até então na história, de um sistema econômico destruído por suas próprias contradições.
Se em alguns momentos a guerra tivesse sido defensiva, com a expansão colonial deixou de sê-la, de ambos os lados. A Grã-Bretanha se apodera de colônias da África, de Bagdá, de Jerusalém. A Alemanha ocupa a Sérvia, a Bélgica, a Polônia, a Lituânia, a Romênia e se apodera das ilhas de Moonsund. Isto não é guerra defensiva. É uma guerra par partilha do mundo (SERGE, 1993, p. 170).”
Tal como a vida econômica transformou-se em uma função do militarismo, também o Estado se converteu em máquina construída, até nos detalhes, muito mais “aperfeiçoada”, poderosa e intrincada que aquela espartana. A Primeira Grande Guerra Mundial transformou a frágil máquina do início do século XX em temível máquina de guerra.
Passados cinco anos, os países em guerra construíram cerca de 176.000 aeroplanos, algo surpreendente se comparado ao período entre 1903 e agosto de 1914, no qual a produção mundial total não superou muito mais que 10.000 unidades.
No transcurso da guerra, o aeroplano militar transformou-se para se adaptar às exigências impostas pelo conflito militar. Em 1918, os aviões de caça já voavam a 6.000m de altura, atingiam 200 km/h e eram equipados com duas metralhadoras; por outro lado, os bombardeiros conseguiam transportar até 1.500 Kg de bombas, a 140 km/h e a 4.500 m de altura, contando com um raio de ação de mais de 500 km. Com a Primeira Grande Guerra
Mundial, os aviões se transformaram em verdadeiras máquinas de guerra.
Tanto o material humano, como o material destinado à execução da guerra, não constitui, em contraste com o passado, uma grandeza fixa, determinada, mas um produto social que,continuadamente, se renova, completando-se e modificando-se segundo as respectivas necessidades de volume e de tipo. A vida econômica abastece as forças armadas.
Entre os anos 1914 e 1915, ocorre intensa movimentação dos exércitos beligerantes. Depois de rápida ofensiva das forças militares alemãs em território francês, em setembro de 1914, o exército francês organiza a contraofensiva e detém, na Batalha do Marme, o avanço alemão sobre Paris.
     No caso da Rússia, a Primeira Grande Guerra representou importante elemento no curso dos acontecimentos de sua Revolução. A Primeira Grande Guerra (1914-1918) fortaleceu o movimento operário russo para a Revolução. A campanha desastrosa dos exércitos do Czar na guerra, na qual os combatentes lutavam em condições  de abandono, deu clara mostra que aquela não era uma guerra de nações, e sim de classes dominantes com objetivos imperialistas. As
deserções se avolumaram, infligindo um grande golpe no braço armado do czarismo.

Após a derrota alemã em Marme, nenhum dos lados beligerantes conseguiu impor vitórias significativas sobre o inimigo. O equilíbrio de forças passou a ser a realidade nas frentes de combate.
Por fim, em 11 de novembro de 1918, a Alemanha assinou o armistício em condições bastante desvantajosas.

O ENTREGUERRAS-AS CONSEQUÊNCIAS POLÍTICAS E ECONÔMICAS DA PRIMEIRA GRANDE GUERRA MUNDIAL

Após a rendição da Alemanha, entre os anos de 1919 e 1920, realizou-se no Palácio de Versalhes, na França, uma série de conferências com a partição de 27 nações vencedoras. Sob a liderança da Inglaterra e da França essas nações estabeleceram um conjunto de decisões conhecido como Tratado de Versalhes, estabelecendo duras condições à Alemanha.
Depois de quatro anos de guerra atroz, as coisas estavam consideravelmente mudadas. A hegemonia  europeia sofreu rude golpe. Os principais atores da cena internacional foram duramente atingidos, de forma duradoura, pela sangria demográfica e pela destruição de parte de seu potencial industrial. A dominação política e o magistério intelectual que exerciam sobre as populações  de outras partes do globo sofreram grande abalo. Apesar disso,
é ainda entre eles que iriam-se desenrolar, nas duas décadas seguintes ao primeiro conflito mundial, os principais acontecimentos da história do mundo.

O TRATADO DE VERSALHES

Com o fim da Primeira Grande Guerra Mundial, as potências vencedoras buscam reorganizar a Europa segundo seus interesses.
“Em 1918, a Europa apresenta um aspecto contraditório. Aparentemente, o Direito triunfa sobre a força e o modelo democrático parece estender-se a grande parte do continente, enquanto se assiste à derrocada dos regimes autocráticos” (Milza, 1995, p. 7).
Para as nações que, vitoriosas no conflito contra a Alemanha e a Austro-Hungria, aspiraram que a nova ordem internacional tivesse caráter definitivo,  o que só poderia ocorrer se fossem apagadas as causas das rivalidades que levaram aos confrontos entre os países e entre as populações que originaram o mais brutal conflito bélico da história. Para isso, seria necessário indicar de maneira clara os “culpados” pelo processo que originara a guerra.
Por outro lado, para os vencedores, era primordial a criação de um novo sistema internacional. A nova situação deveria, segundo os vencedores da guerra, basear-se em:

“[...] Nas noções de equidade, do Direito dos povos à autodeterminação e de solidariedade internacional,  ideias e mitos que revelam do vasto corpus ideológico que as classes dirigentes herdaram da filosofia das luzes e do rescaldo da  revolução atlântica. Com a sociedade das nações, cujo projeto ganha força no primeiro semestre de 1919, e à qual os promotores da nova ordem internacional confiam a missão de manter a paz

no respeito pelos direitos e pela soberania de cada Estado, estes princípios e estas ideias parecem triunfar definitivamente sobre as forças do mal que levaram ao conflito bélico (Milza, 1995, p. 8, grifo do autor).”

Porém, segundo Milza (1995), esta imagem mítica da nova Europa não condizia muito com a realidade do velho mundo do pós-guerra, pois se, para o autor, é correto dizer que sob os escombros dos velhos impérios e das sociedades arcaicas da Europa pré-industrial surgem instituições e práticas democráticas, isso não duraria muito tempo.

Entretanto, a partir do final da guerra, a Grã-Bretanha e a França, mais que nunca, foram obrigadas a conviver com a jovem potência norte-americana que cumpriu um papel decisivo para que  a guerra tivesse o resultado apresentado.
Apesar de todo o trauma sofrido, a Primeira Grande Guerra Mundial trouxe prosperidade para alguns. Desde o período final do século XIX, os Estados Unidos foram expandindo sua produção industrial e ampliando seu campo de ação econômica em diferentes partes do globo terrestre. Com a eclosão da Primeira Grande Guerra Mundial na Europa, o país alcançou significativo crescimento agrícola e industrial.
Durante o transcurso da guerra, mantendo-se, a princípio, numa posição de neutralidade, os norte-americanos forneciam seus produtos aos países envolvidos no conflito bélico. Enquanto as potências europeias estavam envolvidas em seu esforço de guerra, os Estados Unidos aproveitavam para tomar e abastecer outros mercados mundiais, na Ásia e na América Latina.
Com o fim da Primeira Grande Guerra Mundial, inicia-se então o período que favoreceria algumas nações no plano internacional. Entre elas encontravam-se o Reino Unido e a França, donos de vastos impérios coloniais, bem como  a União Soviética, rica em recursos naturais e em acelerado processo de desenvolvimento. Porém, entre todas as nações, foi aos Estados Unidos que se abriram as maiores possibilidades com o fim da Primeira
Grande Guerra Mundial, uma vez que a Europa se encontrava abalada pela mesma. Para euforia norte-americana, a Europa, ao final do conflito, tornar-se-ia um grande mercado dependente de suas exportações.
Possuindo aproximadamente a metade de todo o ouro que circulava nos mercados financeiros do mundo, os Estados Unidos saíram da Primeira Grande Guerra Mundial como credores da Europa arrasada, projetando-se como grande potência mundial. É bom lembrar que a intervenção dos EUA ao lado da Entente mostrouser decisiva para que se consolidasse a derrota dos exércitos alemães.

A AMÉRICA LATINA- A HEGEMONIA NORTE AMERICANA

A América Latina, até 1914, tinha sido local privilegiado para as influências européias; no Brasil não foi diferente, em que pese a presença norte-americana no país já ser notada no século XIX. Também, é fato que a influência da Inglaterra tinha claramente dominado a área latino-americana, tanto do ponto de vista econômico e financeiro, como do ponto de vista cultural.
“O aparecimento dos navios a vapor no Atlântico Sul deu um novo impulso ao comércio de longas distâncias e em particular veio favorecer as relações comerciais entre o Brasil, de um lado, e a Europa e os Estados Unidos, de outro lado” (Silva, 1985, p. 29).”
Na verdade, apenas a América Central escapava ao domínio europeu, uma vez que, nos últimos anos do século XIX, os interesses americanos tinham ultrapassado os da Grã-Bretanha, da França e da Espanha. A Primeira Grande Guerra Mundial decretou o fim do domínio europeu na América Latina, o que obrigou os europeus a repatriar em seu capital e  porém fim em suas participações financeiras em empresas sul-americanas. Por outro lado,
o movimento dos Estados Unidos ocorreu em sentido contrário: aproveitaram o espaço que se abriu para investirem maciçamente na região.

AS REPARAÇÕES

Segundo o art. 231 do Tratado de Versalhes: “[...] a Alemanha e os seus aliados são responsáveis por todas as perdas e danos sofridos pelos governos aliados e pelos seus associados, bem como pelos cidadãos desses países em consequência da guerra”.

A Alemanha viu-se obrigada a pagar a título de reparações de guerra, cujo valor se elevaria a 132 bilhões de marcos – ouro, que deveriam ser pagos em 30 anuidades. Porém, as medidas punitivas não terminaram, mas começaram por aí, já que o Reich deveria fazer imediatamente devoluções extremamente humilhantes.

Com o término da guerra, a França buscou colocar em prática seu plano econômico centrado na questão siderúrgica, que tinha por objetivo tirar da Alemanha quase 50% de seu potencial energético. Assim, segundo o Tratado, a Alemanha ficava obrigada a ceder à França as minas do Sarre. Os Estados favorecidos pelas reparações – França, Itália e Bélgica – receberam do  Reich expressivas quantidades de carvão e de coque. O Tratado de Versalhes extraiu da economia
alemã quase 80% de suas fontes de minério de ferro.

O que é claro no Tratado, independente das ideologias, é que o interesse dos altos funcionários e dos políticos que o conceberam garantia a transferência de poder da Alemanha para a França, para que esta se tornasse o pólo industrial europeu, suporte às suas alianças. “É uma atitude do imperialismo político, concebido nos círculos do poder e que o gabinete do ministério dos negócios estrangeiros faz tudo para pôr em prática” (Milza, 1995, p. 22).

Podemos definir o Tratado de Versalhes como o Tratado que obrigava a Alemanha, entre outras coisas, a:  devolver a região da Alsácia-Lorena à França; cessão da Alta Silésia, da Prússia Ocidental, de Poznan, de Memel, de Hiucin, à Polônia, e Eufen e Malmédy à Bélgica; proceder à cessão da região industrial do Sarre à recém-criada Sociedade das Nações e a converter  Dantrig (atual Gdansk) em cidade livre; entregar as colônias em
regime de mandato à França, Grã-Bretanha, Bélgica, África do Sul, Austrália, Nova Zelândia e Japão; passar a grande maioria de seus navios mercantes à França, Inglaterra e  Bélgica; pagar uma enorme indenização em dinheiro aos países vencedores da guerra; reduzir drasticamente o poderio militar de seus exércitos, limitar seus efetivos a 100.000 homens; ficar proibida de fabricar armamentos, acabar com o Estado-Maior, tornar-se impedida de possuir aviação militar,
e; ter, por um período de 15 anos, o Reno ocupado pelas forças aliadas.
Essa condenação provocou, em pouco tempo, intensa reação das forças políticas organizadas no país, criando entre os alemães profundo ressentimento em relação aos ex-inimigos, vez que os alemães consideravam injustas, revanchistas e humilhantes as condições do Tratado. O desejo alemão de mudar essas condições seria mais tarde uma das importantes causas da Segunda Grande Guerra Mundial (1939 – 1945).
Porém, o Tratado de Versalhes não foi o único do pós-guerra. Vários outros tratados, assinados entre os países participantes do conflito, tiveram como resultado o desmembramento do Império Austro-húngaro, o que possibilitou o surgimento de novos países, tais como a Tchecoslováquia, a Hungria, a Polônia e a Iugoslávia.

AS CONFERÊNCIAS DE PAZ

Além do Tratado de Versalhes, após o término da Primeira Grande Guerra Mundial, várias conversações de paz foram feitas, entre as quais salientam-se as seguintes: a formação da Liga das Nações, o Tratado de Saint-Germain-en-Laye, o Tratado de Neuilly, o Tratado de Trianon, o Tratado de Sèvres, o Tratado Ítalo-iugoslavo, o Tratado de Brest-Litovski e o Pacto Briand-Kellogg.
Tratado de Saint-Germain-en-Laye: em 10 de setembro de 1919, este tratado foi assinado entre os Aliados e a Áustria, confirmando o desmembramento da antiga monarquia dos Habsburgos, que ficou restrita às regiões em que se falava o idioma alemão. A Itália ficou com o Tirol, a Ístria e o Trieste, assim como algumas ilhas dálmatas, parte da Carníola e da Coríntia, e a Polônia com a Galícia.
Tratado de Neuilly: assinado em 27 de novembro de 1919, no qual a Bulgária distinguia o novo Estado da Yugoslávia e cedia à Grécia a região da Trácia.
Tratado de Trianon: assinado em 4 de junho de 1920, este Tratado obrigava a Hungria a reduzir seu exército para 35.000 homens e a ceder território à Iugoslávia, Checoslováquia e Romênia.
Tratado de Sèvres: assinado em 10 de agosto de 1920, o Tratado obrigava a Turquia a abdicar de grandes extensões de território em favor da Grécia; conferisse autonomia ao Curdistão, independência à Armênia e cedesse vastas parcelas de território em favor do Egito, da Síria, da Arábia e da Palestina.
Tratado Ítalo-iugoslavo: assinado em novembro de 1920 a Dalmácia passava a pertencer à Iugoslávia e Fiume transformava-se em Estado livre.
Tratado de Lausanne: em 24 de julho de 1923 assinado entre a Turquia e os Aliados, veio substituir o Tratado de Sèvres, eliminando as capitulações e regulamentando o tráfego de navios nos Estreitos.
Tratado de Brest-Litovski: assinado em 3 de março de 1918 entre a Alemanha e a Rússia, este tratado teve o papel de por fim à participação russa na Primeira Grande Guerra Mundial.
Pacto Briand-Kellog: em 1928 é firmado este pacto, que marca decisivamente a ilegalidade do uso da força pelos Estados.

A FORMAÇÃO DA LIGA NAS NAÇÕES

Do ponto de vista ideológico, os dirigentes da coligação vitoriosa da Primeira Grande Guerra Mundial afirmavam a crença na possibilidade de se aplicarem os ideais democráticos ao conjunto da sociedade internacional. O corolário dessa doutrina repousa na  ideia que, por meio de uma organização internacional, pode-seafiançar a paz e a felicidade da humanidade. A proposta era reunir nessa organização todos os Estados que concordassem em
fazer imperar as regras do direito internacional sobre o apreço da realpolitick, submetendo eventuais diferenças ao arbítrio da organização internacional. A renúncia do uso da força na defesa de seus intentos era ponto basilar para os Estados da organização.
Assim, a Conferência de Paz de Versalhes aprovou, em 28 de abril de 1919, a criação da Liga das Nações, atendendo proposta do presidente dos Estados Unidos,  Woodrow Wilson.
Com sede em Genebra, na Suíça, a Liga das Nações inicia suas atividades em janeiro de 1920. Seus fundadores elencam como principal encargo da Sociedade, a promoção da cooperação entre as nações, funcionando como mediadora em caso de conflitos internacionais, com o propósito de preservar a paz mundial.
Inicialmente, fizeram parte da Sociedade das Nações os Estados aliados signatários do Tratado de Versalhes e mais por treze países, neutros durante a guerra, mas que haviam aderido ao Pacto, a saber: África do Sul, Argentina, Austrália, Bélgica, Bolívia, Brasil, Canadá, Tchecoslováquia,  Chile, China, Colômbia, Cuba, Dinamarca, Espanha, França, Grã-Bretanha, Grécia, Guatemala, Haiti, Honduras, Índia, Irã, Itália, Iugoslávia, Japão, Libéria,
Nicarágua, Noruega, Nova Zelândia, Países Baixos, Panamá, Paraguai, Peru, Polônia, Portugal, Romênia, El Salvador, Sião, Suécia, Suíça, Uruguai e Venezuela.
As potências vencidas, entre elas a Alemanha, foram excluídas de antemão. De acordo com o Pacto, qualquer Estado que gozasse de soberania internacional e concordasse com as obrigações resultantes de sua adesão, podia ser aceito por votação da  Assembleia Geral, desde que obtivesse na votação, maioria de dois terços. Assim, como qualquer país podia se retirar da Sociedade das Nações, desde que cumprisse aviso de dois anos;  em
caso de votação unânime do Conselho e da Assembleia, os Estados-membros poderiam ser excluídos da organização.
O Conselho deveria compreender cinco membros permanentes, mas teve sua composição reduzida a quatro. Apesar do papel determinante do presidente norte-americano (Wilson) na criação da Organização, o Senado norte-americano recusou-se a ratificar o Tratado e os Estados Unidos retiraram-se de Genebra. Somaram-se então a esses quatro, os membros não-permanentes eleitos em alternância (número que passaria para seis em 1922 e para nove em 1926).
O Secretariado era composto pelo Secretário-Geral, com atribuições fundamentalmente administrativas: convocação do Conselho a pedido de um Estado-membro, elaboração da ordem de trabalhos da Assembleia e direção das publicações da SDN (Sociedade das Nações). Seu primeiro Secretário-Geral, o britânico Éric Drummond exerceria esta função por treze anos.
Somados a seus três organismos principais (Assembleia, Conselho e Secretariado), existem numerosos organismos subsidiários, alguns de caráter político (Comissão Permanente Consultiva para questões militares), outros meramente “técnicos” (Cooperação Intelectual, Questões Sociais, Escravatura, Lepra, Ópio). Por fim, entre os organismos ligados à Sociedade das Nações, encontram-se a Organização Mundial do Trabalho e o Tribunal
Permanente de Justiça Internacional.
A criação da Sociedade das Nações, em seu início, transformaria o instituto da guerra, tornando-o matéria de debate público por excelência.
Porém, um dos problemas referentes à Sociedade das Nações, era o fato de os membros caracterizarem, em 1927, o estado de guerra mais pelas intenções dos Estados que pela natureza de suas ações.
Assim, afirma Huck (1996), que:

“A guerra começava oficialmente pela formalização do estado de guerra. A conveniência política do momento poderia determinar que batalhas e conflitos armados seguissem sendo travados, mas somente com a admissão formal do estado de guerra é que conseqüências jurídicas seriam imputadas para o conflito” (HUCK, 1996, p. 69).

Para Huck (1996), os construtores do Pacto da Sociedade das Nações nunca se propuseram a elaborar documento de impacto jurídico, mas procuravam sim:

“[…] equacionar a paz, com a mesma dificuldade que se havia combatido a guerra, com uma preocupação essencial de natureza política. Ademais, mesmo a função política do Pacto não se pode considerar exitosa, pois não se conseguiu dar à Sociedade das Nações uma vocação universal, uma vez que Estados Unidos e União Soviética, já duas potências maiores, dela não faziam parte como membros”  (HUCK, 1996, p.  73).

Mas, na verdade, a Liga das Nações estava intimamente ligada à Nova Ordem Mundial derivada da Primeira Grande Guerra Mundial.

SEGUE O AVANÇO NORTE AMERICANO NA AMÉRICA LATINA

Ao mesmo tempo em que está se dando o estabelecimento da nova ordem jurídico-política mundial, a partir da Sociedade das Nações, segue o desenvolvimento da corrida norte-americana na disputa mundial intensificada durante a Primeira Grande Guerra Mundial.

A área de expansão dos Estados Unidos aumentou substancialmente. Apesar de ainda a maior parte dos investimentos norte-americanos serem destinados à Cuba e ao México, com respectivamente 26% e 16% dos investimentos, os Estados da América do Sul passam a ser fundamentais para os Estados Unidos, representando 44,7%  do total dos investimentos norte-americanos, em especial a Argentina, o Brasil e a Venezuela. Segundo Milza
(1995), o investimento de capital concentra-se substancialmente nas grandes plantações de bananas, de cana-de-açúcar e de cacau, na zona das Caraíbas, nas minas de ouro e de prata da Nicarágua, da Costa Rica e de El Salvador, nas jazidas de petróleo venezuelanas e guatemaltecas, nas indústrias extrativas peruanas de cobre e estanho,  chilenas e bolivianas, no ferroviário dos diferentes países do continente e, em geral, nos bancos e nas companhias de seguros.
Ao domínio financeiro, junta-se a progressão comercial igualmente espetacular. A superioridade econômica dos EUA evidencia-se cada vez mais.
Na verdade, ao espetacular crescimento industrial da ex-colônia da Inglaterra, soma-se uma posição cada vez mais favorável na disputa Inter imperialista que, cada vez mais, passa a pesar em seu favor, muito em função do declínio do poder da Inglaterra e França. 
O balanço da vitoriosa Inglaterra depois da guerra resultou, em última instância deficitário: independência crescente dos domínios, movimentos coloniais em favor da libertação, perda da hegemonia naval, diminuição da importância de sua armada pelo grande desenvolvimento da aviação [...] Entretanto, a Inglaterra logo teve que convencer-se de que sua força econômica era insuficiente para combater com o colossal de além-mar, seu acordo  com os Estados Unidos sobre a
igualdade naval significou sua renúncia formal à hegemonia naval, que na atualidade perdem. Seu trânsito do livre comércio para as  tarifas aduaneiras foi a admissão franca da derrota da indústria no mercado mundial.
Cada vez mais os Estados Unidos vão abandonando sua política de isolamento, o que começa a refletir-se em suas forças militares. Sua renúncia à política do esplêndido afastamento traz como consequência a introdução do serviço militar obrigatório.
Tal como a Inglaterra, a França também se caracterizaria, ainda que em menor grau, por um desajustamento similar entre seu poderio econômico e sua posição no mundo. Na realidade, a hegemonia francesa da Europa tinha seu fundamento em uma conjuntura circunstancial cunhada pelo aniquilamento da Alemanha e pelas estipulações artificiais do Tratado de Versalhes.  Sua quantidade de habitantes e suas bases econômicas eram muito reduzidas para assentar sobre
elas sua economia. Quando se dissipou o encantamento da Vitória, mostrou-se a relação de forças real. França demonstrou ser muito mais frágil do que acreditavam tanto seus amigos, quanto seus inimigos. Ao buscar proteção, se transformou, essencialmente, no último dos domínios  conquistados pela Grã-Bretanha” 

DA DENOMINAÇÃO ECONÔMICA À TUTELA POLÍTICA

Segundo Milza (1995), os Estados Unidos não se restringiram a investir agressivamente na economia  dos diversos Estados latino-americanos, mas também, emprestaram-lhes dinheiro, a partir de empréstimos negociados pelos bancos, todavia controlados pelo Departamento de Estado do Tesouro norte-americano. Os Estados  Unidos colocaram em posição privilegiada para poder fazer pressão sobre os governos da América Latina. A
“diplomacia do dólar” impôs-se como influência norte-americana na política externa dos países em dívida para satisfação de seus próprios interesses.

Fruto da política expansionista norte-americana, o Mar das Caraíbas se tornaria, durante o  período entre as guerras, o próprio “lago americano”. Cuba, tida pelo governo norte-americano como um quase protetorado, foi ocupada até 1925; a presença militar norte-americana no Haiti duraria de 1915 a 1934. Em 1916, os norte-americanos interviram na República Dominicana para reprimir as agitações que punham em perigo os investimentos
estrangeiros, fazendo com que a administração do país ficasse sob total controle do Departamento de Estado norte-americano, só terminando a ocupação em 1924, após subir ao poder um governo que Washington avaliava ser apto a assegurar a ordem e cumprir as obrigações financeiras com os credores.

Na Nicarágua, as tropas norte-americanas se fizeram presentes, desde 1911. O país também quase se transformou em protetorado dos Estados Unidos. Em 1923, o governo de Washington expressou seu intento de sair do país após a realização de “eleições livres” que conferiram o poder a um governo avaliado como capaz de cumprir com suas obrigações. Pouco tempo após a vitória dos conservadores, simpáticos a Washington, ocorreu um
golpe de Estado que levaria a uma nova intervenção armada dos Estados Unidos:

“Daqui resultam o aparecimento de uma guerrilha nacionalista, dirigida desde 1922 por  Augusto César Sandino, e um braço de ferro entre os Americanos, que  apoiam o Presidente eleito Adolfo Diaz, e o México, que apoia o rival, o antigo vice-presidente liberal Sacasa. Na  sequência de um inquérito conduzido pelo enviado do Presidente  Coolidge, o coronel Stimson, futuro secretário de Estado, é decidido aumentar o auxilio dos Estados Unidos à

Nicarágua e fornecer quadros à policia local. Depois disto, os soldados americanos retiram-se do país. Em 1934 Anastazio Somoza, com a ajuda da guarda nacional, instaura uma ditadura feroz” (Milza, 1995, p.  110).
Como se não bastasse, em 1921, os Estados Unidos também procederiam a uma intervenção armada em El Salvador, seguida de ocupação militar.

A CRISE NA ITÁLIA E O FASCISMO

Ao termino da Primeira grande Guerra Mundial, a Itália vivia uma situação contraditória: sua condição era a de vitoriosa, porém, nutria desconfortante sentimento de humilhação, fruto do pouco que lhe coubera da partilha dos despojos da guerra. 

Assim como os partidários do nacionalismo, a burguesia também deixou de apoiar a democracia liberal italiana .

MUSSOLINI- O “HOMEM CERTO”

Era preciso um líder que, diante dos sentimentos de frustração e insegurança que pairavam sobre as massas italianas, pudesse ser identificado com a esperança de melhoria dos amplos setores de massa, bem como  representar os desejos da burguesia em evitar o ‘‘pior de todos os pesadelos” - a possibilidade das  aspirações reivindicatórias evoluírem para uma via de contestação do próprio sistema ca pitalista. A procura terminou, e em 1922 Benito Mussolini, ex-jornalista e
ex-esquerdista, apresentava-se para cumprir aquele papel.
Os fascistas, apesar de não serem então muito numerosos, constituíam um agrupamento tenaz, organizado e fanaticamente disposto à ação. 

Em sua trajetória ditatorial, Benito Mussolini contou com a ajuda da burguesia industrial e financeira italiana, sobretudo, porque ele expressava a segurança da contenção das reivindicações populares e do comunismo, mesmo que para isso fosse preciso afetar os clássicos escrúpulos e princípios liberais. Aos olhos da população, mas, principalmente, da pequena burguesia, o fascista aparecia como o líder que ocasionou a “paz social”, garantiu os empregos e pôs ordem na
“tradicional desorganização italiana”. 
Cronologicamente, foi depois de 1925 que o regime fascista de Mussolini impôs-se totalmente. A oposição liberal e, sobretudo, de esquerda foram esmagadas por meio de prisão, tortura, exílio e morte. A maior parcela da burguesia, na Itália, aceitou a posição de nulidade política em troca da manutenção da dominação social que lhe era permitida por sua condição de classe. 

“Mantendo o sistema, Mussolini podia pavonear-se à vontade no exercício do poder. Da mesma forma, a alta hierarquia do Vaticano terminou, em nome do anticomunismo, pactuando com o Estado fascista. Pelo Tra tado de Latrão, firmado em 1929, o Vaticano foi reconhecido como Estado independente e privilegiado dentro da Itália. O rei embora pudesse teoricamente demitir Mussolini - e o Grande Conselho Fascista foram meros elementos decorativos num sistema em que

tudo se concentrou num poder personalista que só funcionava através da retórica e da arbitrariedade, do carisma pessoal e da inconsciência coletiva” (LOPEZ, 1987, p.  43).
Para impor-se, o regime fascista utilizou-se de um estilo que se baseava na defesa da força, da vontade, do fanatismo irracional e do impulso instintivo da massa. Suas finalidades: eram a de combater a “apatia” e os “vícios” da democracia liberal burguesa e cultuar a guerra como elemento de purificação do mundo. 

O SURGIMENTO DO NAZISMO EM SOLO ALEMÃO

A Alemanha emergiu da Primeira Grande Guerra Mundial numa situação traumática. A burguesia apavorou-se diante da ameaça de um levante proletário, liderado por grupos radicais de esquerda. Então, em 1918, os espartaquistas puseram-se frente do processo revolucionário, que se iniciou em solo alemão em 1918.

Para muitos era difícil entender como a Alemanha, quenão sofrera ocupação e bombardeios, fora militar mente derrotada, e a França que sofrera ambas as situações, tinha vencido a guerra.  “[...] a ideologia militarista sofrera um rude golpe e a perplexidade resultante de uma der rota mal explicada e mal assimilada terminou auxiliando o surgimento da lenda de que o invencível exército germânico não fora, na verdade, batido, e sim  apunhalado pelas costas. Mais tarde Hitler
acrescentaria: pelos judeus e comunistas” (LOPEZ, 1987, p.  52, grifo do autor).
Segundo Lopez (1987), em texto já citado, a República de  Weimar teve um início especialmente difícil. Na verdade, ela sofria do mal congênito de ser um regime iniciado sob o signo da derrota e da frustração nacional. Além de nunca ter conseguido apoio militar consistente, a República de  Weimar chegou ao extremo de ter um presidente marechal com simpatias monarquistas ( Hindenburg). A pequena burguesia tampouco identificou no novo regime as possibilidades de
garantia de segurança econômica e, além disso, a grande burguesia viu a República de Weimar sob o ângulo de um governo fraco, de políticos profissionais empenhados muito mais em debates parlamentares que capazes de constituir um forte sistema que mantivesse os trabalhadores controlados, para, assim, ser garantir-se a tranqüilidade dos grandes negócios.
Adolf Hitler era um pequeno burguês austríaco de nascimento, ex-pintor fracassado, ex-combatente ferido na Primeira Grande Guerra Mundial que entrou como o sócio número sete num certo Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, o qual, na verdade, não reunia em seu interior trabalhadores e tampouco era socialista, mas utilizava-se de tal denominação pela força que tais termos tinham ganhado durante a época revolucionária.
Hitler, ao entrar para o Partido Nacional Socialista (Partido Nazista), começa a moldá-lo de acordo com suas idéias e, aproveitando-se do descrédito da República de Weimar, passa a esperar o momento certo para dar o golpe.
Em 1923, parecia haver chegado o momento de Hitler. A França ocupara a região industrial do Ruhr com o objetivo de coagir a Alemanha a saldar suas dívidas de guerra, impostas pelo Tratado de Versalhes. Como resposta, os operários do Ruhr iniciaram uma greve geral. A República, em apoio, fez emissões em massa, provocando gigan tesca inflação, fruto decorrente da brutal desvalorização do mar co, que chegou a ser cotado em milhões e bilhões por dólar. O aumento
da pobreza e a enorme insegurança criaram uma atmosfera de pânico no seio da pequena burguesia, acarretando os níveis mais baixos de prestígio da República de Weimar.
Aproveitando a oportunidade, Hitler partiu para o golpe armado, o “putsch” de Munique, mas que, por sua vez, terminou em fracasso. 

OS ANOS TRINTA: TEMPOS DIFÍCEIS

No período anterior à Grande Depressão dos anos trinta e da Segunda Grande Guerra Mundial, a atividade reguladora do Estado sobre as grandes corporações deu-se, principalmente, por meio de impostos, tarifas e uma legislação especial para definir funções, direitos e responsabilidades, como as leis  antitrust, para desalentar práticas monopolistas e oligopólicas (desde 1914, entrara em vigor, para tais propósitos, a Federal Trade Comission).
O Federal Reserve Board, também criado no ano de 1914, incidia sobre as taxas de interesses e nos mercados de dinheiro, e consequentemente impactava o meio ambiente financeiro. Durante a era do new deal, criou-se legislação reguladora das atividades empresariais, que incidiram nas opções disponíveis para a administração na área de transporte, comunicações e de serviços como água, eletricidade e telefonia.
A interferência do Estado sobre a economia norte-americana aumentou durante os anos trinta e quarenta, ainda que tenham sido mantidas poucas limitações à capacidade dos grandes produtores e comerciantes atacadistas para coordenar os fluxos de mercadorias e determinar destinações de recursos. O impacto do Estado e de seus instrumentos de regulação na área bélico-industrial foi profundo e amplo em áreas que abrangiam a produção
de cosméticos, maquinaria, produtos químicos, petróleo, produtos metálicos, aviação, instrumentos, equipamentos de comunicação, componentes eletrônicos, construção naval, máquinas, ferramentas, semicondutores, indústria aeroespacial, automobilísticas, tanques, tratores, geradores e materiais de construção.
A fase de grande euforia e prosperidade dos Estados Unidos durou até 1929 - ano em que a economia do país foi abalada por grande crise econômica, de repercussão mundial.

A CRISE NOS EUA

Apesar de, muito antes de outubro de 1929, já existirem sinais de crise na Europa, com reflexos na Bolsa alemã em 1927, e na Bolsa suíça em 1928, na França e na Grã-Bretanha em princípios de 1929, não é possível desconhecer as responsabilidades norte-americanas no desdobramento da crise global de 1929.
Na América do Norte, no fim de 1928, já se podiam perceber os perigos do abuso do crédito à criação e à especulação praticada na Bolsa.
Os títulos mobiliários não podiam ser mantidos em alta, indefinidamente vez que a rentabilidade das ações se dava mais lentamente que o preço da compra, aqueles acionistas que buscavam com as ações um ganho regular, e não arriscado, vendiam os títulos, levando o mercado de ações a um fenômeno de queda acelerado por leve redução no volume dos negócios.  A partir de fevereiro-março de 1929, na Europa, a produção industrial
registrava ligeira baixa. Porém, a crise ficaria mais nítida, em se tratando do velho continente, pela falência do consórcio londrino Hatry (cabines Photomaton, máquinas de moedas), que dera origem a grande agitação nas bolsas estrangeiras.
Os primeiros sintomas do mal-estar da Bolsa começaram a surgir no princípio de setembro de 1929. A partir de 22 de outubro, as ordens de venda ampliaram-se bruscamente ocorrendo a catástrofe. As  consequências foram avassaladoras, 12 milhões de ações foram jogadas no mercado, mas não havia quem as comprassem. As cotações caíram vertiginosamente e todos queriam livrar-se dos títulos, antes que fosse tarde demais.
Os bancos que investiram o dinheiro dos clientes em ações foram à falência. Os devedores, que esperavam usar os lucros da alta da Bolsa para sanar suas dívidas, ficaram sem ter como pagá-las. Os credores, que possuíam papéis como garantia, não  conseguiam colocá-los, contribuindo ainda mais para a falência dos devedores.
Todo o sistema em que se assentava o crescimento acelerado da economia norte-americana desmoronava-se. Os bancos passaram a restringir créditos e a escassez de dinheiro paralisou  a produção e o consumo. Três meses depois do crash de WaIl Street, a produção de automóveis baixou para metade, provocando queda nas indústrias de peças, de petróleo, de borracha. Os preços industriais baixaram 30% no decorrer de três anos, enquanto
os do setor agrícola tiveram uma quebra de 70%. Em 1933, o Produto Nacional Bruto (PNB) dos Estados Unidos era apenas metade do que era em 1929 e havia 17 milhões de desempregados.
A crise de 29 mostrou como uma economia voltada para o lucro fácil e imediato, facilmente também passa por caminhos anárquicos, tornando-se, por conseguinte, vulnerável a crises. Em poucos anos, a economia ruiu: sucederam-se as falências e o desemprego. Os desempregados chegaram a doze milhões e só as falências bancárias atingiram 5.000. Foi então que, para salvar o capitalismo de si  próprio, o governo do presidente Franklin
Delano Roosevelt (1933-45) pôs em prática um vasto programa de reformas conhecido como New DeaI. O objetivo das medidas de tal programa era o de submeter o capitalismo norte-americano a uma série de controles para evitar a repetição de especulações e crises.

A CRISE NA EUROPA

As relações entre as economias norte-americana e europeiafariam com que a catástrofe contagiasse o velho mundo, este aindasofrendo as  sequelas da guerra. A retração do comércio mundial atingiu fundamentalmente o Reino Unido e a Alemanha, cujas economias encontravam-se muito abertas às trocas. Mas o que de fato iria aumentar o ritmo do processo de alastramento da crise foi principalmente, a restrição ao crédito internacional, que
teve seu volume reduzido à metade entre 1931 e 1932 e a retirada massiva dos capitais norte-americanos investidos na Europa.
Assim, os países europeus foram, um a um, sendo atingidos pela crise. Os primeiros e mais intensamente atingidos foram os países germânicos, vez que são os que eram se beneficiavam dos créditos americanos. A Áustria e Alemanha, então, passaram a fazer parte da rota das falências. Na Alemanha, como reflexo da crise, a produção de carvão despencou de 160 para 100 milhões de toneladas, a de ferro de 16 para 5,7 milhões de toneladas
e, em 1932, o país contava com seis milhões de desempregados.

Entre todos os países industrializados da Europa, a França é a nação iria ser atingida mais tarde pela crise, e isto se daria, fundamentalmente, por sua riqueza agrícola, que lhe proporcionava uma dose mais elevada de autonomia econômica em relação aos outros  países do velho mundo, pelo fato de seu parque industrial ser menos desenvolvido e menos concentrado que o de seus parceiros europeus, pela importância não tão forte dos
investimentos estrangeiros e pela solidez do franco Poincaré.

A CRISE FORA DA EUROPA

Na Europa Central e Oriental, devido ao fato de serem suas economias fundamentalmente rurais, os países sofreram com a queda nos preços agrícolas e com o cancelamento dos créditos a curto prazo.
Fora do continente europeu, a redução do preço das matérias-primas e dos produtos agrícolas atingiu frontalmente os países cujo equilíbrio precário estava ligado essencialmente à exportação dos produtos de base. No Canadá, entre  1929 e 1932, o lucro dos agricultores caiu pela metade. Países como a Austrália, Nova Zelândia, Índia, África do Sul e Argentina apresentavam problemas parecidos com a quebra da cotação do trigo, da carne, da lã
e do algodão. O mesmo acontecia na Argentina. No Brasil, a queda do preço mundial do café levou à ruína os plantadores e ao desemprego os trabalhadores agrícolas ao desemprego.
No Japão, a derrocada dos preços da seda bruta em 50%, e do arroz no ano de 1930, arruinaria o campesinato. Por outro lado, as exportações japonesas sofreram com o boicote feito pela China aos produtos japoneses, pelo desenvolvimento da indústria têxtil chinesa, pela alta das tarifas indianas no ano de 1931 e, principalmente, pelos direitos discriminatórios que cerca de quarenta países resolveram aplicar aos produtos nipônicos.

O PROBLEMA DOS NACIONALISMOS ECONÔMICOS


A crise reforçou os nacionalismos econômicos. Os países adotaram métodos empíricos buscando proteger o interesse imediato dos produtores e comerciantes nacionais e a forma mais usual passou a ser o aumento das tarifas alfandegárias.

“Nos Estados Unidos, enquanto a Conferência econômica mundial tinha preconizado uma descida alfandegária geral, a Câmara dos Representantes e o Senado aprovam, em maio de 1929 e Março de 1930, respectivamente. uma tarifa ultra protecionista (a tarifa Hawley-Smoot), que aumenta em 40% a taxa média dos direitos de alfândega”(Milza, 1995, p.  122).
Na França, além das barreiras alfandegárias, um conjunto de dificuldades é imposto aos importadores de produtos estrangeiro. Nos quinze anos transcorridos desde então o mundo imperialista não aprendeu nada nem ouviu nada. Suas contradições internas se agudizaram. A crise atual revela uma terrível desintegração social da civilização capitalista, com sinais  evidentes que cresce a ferida. As classes dominantes se debatem em meio a esta
situação desesperadora. Suas dificuldades financeiras e seu temor do povo as obrigam a buscar uma solução nos acordos de limitação de armamentos. Por outro lado, ao elevar cada vez mais as tarifas alfandegárias e incrementar as restrições à importação, os governos seguem contraindo o mercado mundial, aprofundando a crise, agudizando os antagonismos nacionais e preparando novas guerras.
Até a Grã-Bretanha, a pátria do livre mercado, abraçaria medidas protetoras. Em 1931 e, em fevereiro de 1932, e em 1931 adotaria uma taxa geral de 10%  ad valorem sobre todas as importações, com exceção das matérias-primas essenciais, ou seja, do algodão, da lã em bruto e da borracha, além de criar, em relação ao trigo, ao chá e à carne, um sistema preferencial para os países da  Commonwealth, que em contrapartida, se
comprometeram a diminuir suas tarifas sobre os produtos ingleses.
O controle das trocas e as desvalorizações sucessivas, cujo objetivo era o de facilitar as exportações, constituíram outro aspecto deste retorno generalizado ao protecionismo, movimento que começa com a Inglaterra em setembro de 1931.

Nos próximos anos, o método da desvalorização se generalizaria, até que, em abril de 1933, seria vez do dólar afastar-se do padrão-ouro. A contradição entre as forças produtivas e os limites do Estado Nacional assumiu sua forma mais aguçada e insuportável na Europa, o velho berço do capitalismo com seu labirinto de fronteiras e tarifas aduaneiras, seus exércitos desgastados e suas monstruosas dívidas nacionais; a Europa de Versalhes é
uma fonte constante de perigos militares e de provocações de guerra. E agora ela já não pode unificar a burguesia, a mesma classe que a consumiu e debilitou. Para consegui-lo são necessários outros meios e outras forças.
Na Europa, vários países decidiriam pela desvalorização de suas moedas: a Estônia, em junho de 1933; a Tchecoslováquia, em fevereiro de 1934; a Itália, em março de 1933; a Áustria, em abril de 1933; a Bélgica, o Luxemburgo e a Romênia, em 1935; a França, os Países Baixos, a Suíça, a Letônia, em 1936.

A ASCENSÃO DE HITLER AO PODER NA ALEMANHA

A humilhação sofrida pela Alemanha com o Tratado de Versalhes contribuiu para o fortalecimento do nacional-socialismo alemão e para  a ascensão de Hitler ao poder.  Porém, na verdade, foi a crise econômica de 1929 que abriu as possibilidades para o sucesso nazista.  A crise evidenciou o quanto o capitalismo alemão se encontrava sem condições para en frentar situações adversas. A Alemanha havia sido privada das colônias, inexistiam reservas-ouro e, ainda, o país era
dependente de empréstimos americanos.
Finalmente, para os combates de rua, visando intimidar os partidos adversários, Hitler contou com as tropas de assalto, que há muito começara por organizar, conhecidas como SA. 
Por fim, em 1933, o presidente Hindenburg foi obrigado a nomear Hitler para ocupar o cargo de primeiro-ministro da República. Pouco tempo depois, o Palácio do Reichstagincendiou-se. Segundo grande número de historiadores, tal fato teria sido provavelmente obra dos próprios nazistas. Uma vez, porém, atribuindo-o aos comunistas, Hitler aproveitou-se do pretexto para tomar o poder e impor a ditadura. 

Em 1934, já há muito tempo, ficaria clara a forma pela qual Hitler buscava ascender ao poder na Alemanha. O método utilizado pelo nacional-socialismo para tomar o poder era o da violência. O crescimento das contradições políticas no país e, antes de tudo, a agitação de puro banditismo dos fascistas faz, inevitavelmente, com que, quanto mais os fascistas se aproximem da maioria, mais a atmosfera se torne incandescente e mais largamente se
desenvolvam os conflitos e as batalhas.
O ataque às organizações dos trabalhadores e a eliminação das dissensões internas se faziam no nazismo a partir da institucionalização da violência. 
Dando prosseguimento à sua escalada em direção ao poder total, em junho de 1934, acatando os termos de um acordo  feito com o exército, Hitler assassinou as lideranças da  SA, no episódio que ficou conhecido como a “Noite dos Longos Punhais”. Esta ação tinha importância destacada: em primeiro lugar porque o exército queria ter o monopólio da força arma da nacional; em segundo, pelo fato que Hitler não podia aceitar o desafio dos chefes da SA que lhe contestavam a
hegemonia no Estado alemão, e; por fim, pelo fato de que a SA era, sobretudo, composta por pequenos burgueses que tinham acreditado na fraseologia “revolucionária” dos tempos de fortalecimento do nazismo, e naturalmente exigiam que Hitler cumprisse o prometido e exterminasse os “plutocratas e capitalistas”, ou seja, cobravam o que Hitler certamente não poderia admitir.
Assim, em janeiro de 1933, o novo chanceler do Reich chegou ao poder com o propósito de restabelecer a potência militar alemã e efetivar a revisão das fronteiras orientais.
Hitler lutaria contra a divisão do mundo estabelecida após a Primeira Grande Guerra Mundial, quando os  mercados mundiais foram divididos entre França, Reino Unido, Bélgica, Holanda, Itália, Japão e Estados Unidos. A política alemã era clara em se tratando dos interesses de Hitler, que não eram  outros senões: o ferro e o carvão da Sibéria; o petróleo do Cáucaso e da România; o trigo da Ucrânia e, sobretudo, o reordenamento do mundo
colonial.
No contexto mundial, ocorre a liquidação dos últimos restos de estabilidade nas relações internacionais e leva até seus limites máximos todo conflito entre os estados. Ocorre nesse momento umcrescimento dos armamentos em uma escala nunca alcançada até então. Tudo isto conduz à uma nova guerra entre as potencias industriais imperialista. O fascismo é seu artífice e organizador mais consequente.

O “PACTO DOS QUATRO”


Hitler inicia seu poder com cautela, para não causar alarme aos apoios internos, fundamentalmente ao Estado-Maior e aos meios conservadores que rejeitavam previamente qualquer ação imponderada, mas, sobretudo, para não causar temor entre os parceiros internacionais. Mantendo-se à frente dos negócios estrangeiros, Hitler, em março de 1933, aceita participar do acordo diplomático arquitetado por Mussolini com o propósito de denotar aparência de que desejasse
“manter a paz”, porém, concomitantemente, admitia possível revisão negociada dos tratados.
Este acordo trouxe muitas vantagens para a Alemanha e a Itália, vez que lhes permitiu seguir modificações pontuais ao status quo, ao mesmo tempo que preservava o futuro, pois concedia-lhes tempo para se prepararem para a guerra.
As relações entre Alemanha e Itália tornaram-se cada vez mais fortes, ao mesmo tempo que a situação de conflito se intensificava. Aumentando ainda mais a instabilidade, o Japão pretendeu dominar a Ásia; a Itália ocuparia com tropas a Albânia e a Abissínia (Etiópia), a qual foi reconhecida pelo Reich em julho de 1936; aAlemanha militarizaria a Renânia em 1936, e em 1938 anexaria a Áustria.
Dois fatos precipitaram a aproximação entre as duas ditaduras europeias. Em primeiro lugar, a visita de Frank Hans, ministro sem pasta do governo nazista, a Roma, em setembro de 1936. Frank, em entrevista com Mussolini e seu genro Ciano, responsável pela diplomacia fascista e, à época, muito simpático à aliança militar com a Alemanha de Hitler, fez com que fizessem uma verdadeira divisão da Europa, reconhecendo Hitler as ambições
hegemônicas da Itália no Mediterrâneo em troca do não-investimento italiano na região danubiana. O outro acontecimento diplomático que aproximaria os dois governos seria a viagem de Ciano a Berlim em outubro de 1936, e seu encontro com Hitler.

A Alemanha multiplicaria suas iniciativas para estreitar laços entre as duas ditaduras e para dar ao  “Eixo” um conteúdo real. Durante todo o ano de 1937, sucederam-se as visitas de dirigentes do III  Reich à capital italiana. Em setembro, seria Mussolini quem iria à Alemanha em visita oficial. O  Duce italiano ficaria então deslumbrado com o poderio industrial do Reich, com uma ordem quase militar estabelecida, além das enormes paradas militares
que foram organizadas em sua homenagem. No dia 28 de setembro de 1937, no estádio olímpico de Berlim, Mussolini proferiu, perante 800.000 pessoas, a célebre frase: “Quando o fascismo tem um amigo, acompanha-o até ao fim”.
Apesar de os regimes políticos semelhantes terem favorecido a aproximação entre a Itália e a Alemanha, o que mais as aproximava era o limitado espaço territorial que dispunham e a acirrada competição pelos mercados internacionais.
A tensão entre a Alemanha, as potências européias e os Estados Unidos agravou-se ainda mais, dada a recuperação fantástica da capacidade produtiva alemã e sua limitação para expansão mundial.

A recuperação da Alemanha baseada em sua tecnologia de ponta e sua capacidade de organização era inevitável. Aconteceu antes do imaginado, em grande parte graças ao apoio da Inglaterra à Alemanha, contra a URSS, às pretensões excessivas da França e, mais indiretamente dos Estados Unidos.  
Cada vez mais o poderio alemão dava provas da força contida que, a qualquer momento, poderia fazer valer seu papel de grande potência hegemônica européia e, a partir daí, lutar pela posição de liderança mundial.
Capacitada com uma tecnologia mais moderna, maisflexível e de maior capacidade produtiva, a Alemanha começou outra vez a competir com a Inglaterra em mercados muito importantes, especialmente do Sudeste Europeu e da América Latina. No século XIX a concorrência entre os países capitalistas se desenvolvia  em um mercado mundial em expansão. Naquele momento, em contrapartida, o espaço econômico da luta diminuiu de tal maneira
que as potencias industriais imperialistas passam cada vez mais à arrancar uns dos outros os pedaços do mercado mundial.
Em 1938, na Conferência de Munique, com a presença das quatro potências: França, Alemanha, Itália e Inglaterra, Hitler consegue a cessão dos Sudetos, região da Tchecoslováquia.  
Tal como em 1914, a iniciativa de efetivação de uma redivisão do mundo estava naturalmente destinada à Alemanha. 
O governo inglês, que foi pego desprevenido, tentou primeiro comprar a possibilidade de permanecer fora da guerra com concessões a expensas dos demais (Áustria, Tchecoslováquia). Porém esta política poderia  durar pouco. A amizade com a Grã-Bretanha foi para Hitler somente uma breve fase. Londres já lhe havia concedido mais do que ele tinha calculado receber. O acordo de  Munich, com o qual Chamberlain esperava selar uma grande
amizade com a Alemanha, serviu, ao contrário para apressar a ruptura. Hitler já não podia conseguir mais nada de Londres; a expansão ulterior da Alemanha golpearia vitalmente a Grã-Bretanha. E assim foi como a nova era da paz, proclamada por Chamberlainem outubro de 1938, conduziu em poucos meses a mais terrível de todas as guerras.
Se há um lugar onde a relação poderio militar e econômico aparecem nitidamente ligados  é no sistema colonial. Até a Segunda Grande Guerra Mundial, o sistema colonial impôs formas “clássicas” à divisão internacional do trabalho. As colônias forneciam os produtos da “economia de comércio” (produtos agrícolas “tropicais” fornecidos pelos países  de além-mar): o capital europeu era investido na economia e nos setores “terciários” ligados a esta valorização (bancos e
comércio, ferrovias e portos, dívida pública) e os centros desenvolvidos forneciam produtos manufaturados de consumo.

O MUNDO SE AQUECE…A GUERRA SE APROXIMA


A guerra foi um produto da contradição entre as forças produtivas e as fronteiras nacionais. E a paz de Versalhes, que terminou com a guerra, agravou ainda mais esta contradição.  
Mandel (1989) mostra que, apesar de vários autores terem afirmado sobre o fato da Segunda Grande Guerra Mundial ter sido uma conseqüência lógica e inevitável da Primeira Grande Guerra Mundial, não é possível reduzir-se a iminência da Segunda Grande Guerra Mundial ao vínculo entre as cláusulas antigermânicas do Tratado de Versalhes e, em particular, à política irresponsável de reparações, na qual, particularmente, insistia a burguesia francesa.
Embora as condições do acordo de paz que colocaram fim à Primeira Grande Guerra Mundial, seguramente, tenham contribuído para exacerbar os conflitos políticos, militares e, nomeadamente, econômicos, que dominaram o cenário mundial durante as décadas de 1920 e de 1930, e abriram passagem para a Segunda Grande Guerra Mundial, essas mesmas condições não criaram esses problemas.
Isto se evidencia claramente na análise do relacionamento característico que se desenvolveu entre a China, o Japão e os Estados Unidos, que levaria finalmente à Guerra do Pacífico. No ano de 1900, o Japão e os Estados Unidos cooperaram na repressão à Rebelião dos  boxers na China. Cinco anos depois, o tratado de paz russo-japonês foi assinado, em 1905 sob os auspícios dos EUA. Na Primeira Grande Guerra Mundial, o Japão participou como aliado dos Estados
Unidos, da Grã-Bretanha e da França, potências que também tinham interesses econômicos no Extremo Oriente. O fato é que o império japonês não recebeu tratamento inadequado pela Conferência de Paz de Paris, tampouco pelo Acordo Naval de Washington de 1922.

Mandel (1989) relata, na já citada obra, que os casos mais violentos e homicidas de agressão imperialista são resultados, antes de expressões de fraqueza relativa, que de força. Nesse sentido, a conquista imperialista do mundo não é apenas, e tampouco principalmente, uma ofensiva para ocupar extensos terri tórios em caráter permanente sob a utilização de milhões de soldados. De maneira oposta, o que fez mover a Segunda Grande Guerra Mundial foi o imperativo de os
Estados capitalistas mais importantes dominarem economicamente continentes inteiros a partir de investimento de capital, acordos preferenciais de comércio, controle monetário e hegemonia política. Com a guerra pretendia-se subordinar tanto o mundo subdesenvolvido, quanto os Estados industriais, não importando se eram inimigos ou aliados às prioridades de acumulação de capital de uma potência hegemônica.

Nem mesmo os alemães acreditavam apenas no poder da força bruta e tanto é assim que na Europa ocupada, até mesmo o exército nazista tinha preocupação ao lidar com as burguesias francesas, belgas, holandesas ou dinamarquesas, relações que em nada se assemelhavam com a forma pela qual tratavam o povo judeu, os poloneses ou soviéticos, não obstante as circunstâncias extraordinárias do desenrolar da guerra.
Na verdade, a aliança do Japão com a Alemanha só poderia ser provisória, dada a fragilidade e ineficiência que foram suas marcas durante todo o conflito, e vez que se baseava em trégua provisória a um inimigo futuro.   Da mesma forma que Hitler compreendia o significado da guerra eminente, ao declarar que a luta pela hegemonia mundial só poderia ser decidida para a Eu ropa, a partir do domínio do espaço russo, ele entendia claramente que a idéia de política mundial
para a Alemanha seria burlesca enquanto não dominasse o continente europeu.
Da mesma forma, o imperialismo norte-americano tinha consciência do poder da guerra para seu “destino” de tornar-se líder mundial.

Pelo lado britânico, não cessavam seus interesses na África Oriental. Os britânicos avançavam sobre o império colonial italiano. Da mesma forma que a liquidação dos enclaves franceses no Oriente Próximo faziam atiçar os desejos ingleses, que além de pressionarem o Irã, preparavam-se para invadir os Bálcãs, com o nítido intento de buscar a partir da Grécia avançar em direção à criação de Estados britânicos dependentes na Europa Oriental, em substituição aos satélites
franceses que haviam passado a existir em 1918. Os britânicos não pouparam esforços no intuito de estabelecerem uma política de poder na América Latina, sobretudo, estimulando secretamente o governo Perón contra o imperialismo dos Estados Unidos, o que provava que, apesar das condições de força cada vez mais limitadas, a Inglaterra ainda sonhava com a hegemonia mundial.
Segundo Mandel (1989), sob o imperialismo, até mesmo a busca de áreas de influência regionais supõe disposição para lutar em escala mundial. É o que vai se mostrar nas preocupações de Hitler, em novembro de 1940, em apossar-se das ilhas Canárias e do Cabo Verde, dos Açores e da África Ocidental, dada sua importância estratégica perante os EUA.

Da mesma forma, Roosevelt, em 1940, estava convicto que, caso a Inglaterra caísse, uma guerra catastrófica se colocaria como inevitável para os Estados Unidos, vez que a Alemanha atacaria o hemisfério ocidental, assim como o Japão iria  ao ataque no Pacífico.

O significado da Segunda Grande Guerra Mundial, assim como o da Primeira, só pode ser entendido dentro da situação do impulso imperialista para a dominação mundial. A Segunda Grande Guerra Mundial caracteriza-se pelo fato de ser a prova final de força entre Estados imperialistas rivais.

A IMINÊNCIA DA GUERRA E A SOCIEDADE DAS NAÇÕES


Mais uma vez um grande conflito mundial bate às portas do planeta. O que prevaleceria nas relações entre os Estados seriam suas disputas por ampliação de lucros e das taxas de lucros de suas respectivas classes  dirigentes. A Segunda Grande Guerra Mundial iria logo por fim ao período aberto após a Primeira Grande Guerra Mundial, não se esquecendo de decretar a morte da Sociedade das Nações. Do ponto de vista jurídico, a Liga das Nações mostrou-se impotente
para cumprir seu papel de garantidora da paz mundial. A face mais conhecida de sua política foi o que se chamou de “política de apaziguamento”. Na tentativa de isolar os soviéticos, a Liga acabou sendo conivente com o militarismo fascista e com as ações beligerantes do nazi-fascismo que desrespeitavam constantemente o “nada neutro” Tratado de Versalhes, colaborando, assim, para a eclosão da guerra . 
Gonçalves da Silva (1998) dirá que muitas foram as causas do fracasso da Sociedade das Nações: 

“Registre-se que a falta de uma ordem jurídica internacional revestida de caráter de supremacia sobre todos os Estados, as cláusulas draconianas impostas às nações derrotadas na Primeira Grande Guerra (particularmente aquelas comidas no Tratado do Versalhes, de 1919), a negativa do Congresso dos EUA em incorporar o país à Sociedade e a saída da Alema nha e da Itália dessa organização estão entre as principais causas”  (SILVA, 1998,

p. 34).

A SEGUNDA GRANDE GUERRA MUNDIAL 1939-1945

Do ponto de vista cronológico, a Segunda Grande Guerra Mundial tem início em 10 de setembro de 1939 com a invasão da Polônia pela Alemanha, posteriormente à assinatura do pacto de não-agressão assinado entre a Alemanha e a URSS.  

“O Pacto germano-soviético, assinado em 23 de agosto de 1939, marcou a falência da diplomacia dos aliados, que desde a capitulação de Munique, tentavam aliar-se à URSS, porém pagando o preço mínimo e sem grande convicção. Hitler ficou surpreso ao saber que apesar do Pacto, que sacrificava a Polônia, a Inglaterra assegurava a esta a garantia de suas fronteiras. Assim, o pacto continha o estopim da guerra, pois a Inglaterra manteve a

palavra e a França a seguiu” (FERRO, 1995, p.  51).


           Com o avançar do ano de 1939, cada vez mais a Alemanha de Hitler tomou para si a responsabilidade sobre o desenrolar dos acontecimentos no cenário mundial:

“Foi uma determinada potência imperialista - a Alemanha - e um setor determinado da classe dirigente alemã, aqueles grupos mais diretamente ligados à produção de armamentos e mais responsáveis por colaborar com Hitler na criação do terceiro Reich, que deflagraram deliberadamente aquela guerra” (MANDEL, 1989, p.  21).

Na verdade, praticamente desde que se tornou Primeiro Ministro, Adolf Hitler iniciou seu programa de promoção docrescimento imediato da indústria alemã, há muito tempo vivendo sob grave crise, com o claro objetivo de aumentar seus lucros (tanto em quantidade, quanto em relação às taxas de lucro) e de preparar a Alemanha para, em um prazo máximo de dez anos, deflagrar uma guerra com a URSS a fim de construir um império na Europa Oriental similar ao império
indiano inglês. 
Na madrugada de 1º de setembro de 1939, o exército alemão entrou na Polônia. Dois dias mais tarde, o Reino Unido e a França declararam guerra à Alemanha. Pela segunda vez, num quarto de século, a Europa mergulhou num conflito que iria provocar seu declínio. Assim terminava o período denominado “entre as duas guerras”.
Hitler tentou acabar com a guerra depois da conquista da Polônia. Para isso, a condição seria o reconhecimento pela Inglaterra do status quo internacional existente naquele momento, em outras palavras, que a Inglaterra reconhecesse a anexação da Polônia e da Tchecoslováquia, apesar de Stalin ter dado seu apoio diplomático a essa manobra. Em que pese o fato do governante alemão saber que era pouco provável que a Inglaterra aceitasse tal capitulação política.
Do lado da Inglaterra, o imperialismo britânico empenhava-se no intuito de evitar, a longo prazo, que uma potência hostil viesse a dominar completamente o continente europeu, pois temia corretamente o fato de que tal dominação pudesse ser não mais que um interlúdio antes de uma investida global do imperialismo alemão contra o império britânico como tal. 
Depois de derrotar a França, em junho de 1940, Hitler tentou mais uma vez evitar uma guerra de âmbito mundial. Porém, a essa altura, isso já não era obviamente possível. Porém, para a Inglaterra, não fazia o menor sentido na defesa de seus interesses a existência de uma Europa dominada pela Alemanha, ainda mais com a ausência  naquele momento de um exército francês independente. Tal situação era desconfortável para a Inglaterra como potência mundial, sem falar
no perigo que corria de ser devastadamilitarmente, podendo ser até mesmo ocupada em um prazo de poucos anos. 

Para Mandel (1989), em relação à URSS, Hitler, de maneira semelhante ao que fez na França, resolveu  muito deliberadamente desencadear um ataque ao país soviético, fazendo com isso expandir a guerra, geográfica e militarmente, decisão essa que já estava tomada desde ju lho de 1940. Por mais que outras potências influenciassem e facilitassem essas decisões  mediante suas ações e reações à expansão da guerra, tratara-se de uma decisão alemã. De maneira distinta
da Primeira Grande Guerra Mundial, quando todas as principais potências se viram mais ou menos mergulhadas numa guerra mundial, sem saber o que, realmente, estavam fazendo, na Segunda Grande Guerra Mundial, a responsabilidade do imperialismo alemão em sua deflagração e ampliação foi determinante.                 
A compreensão da alternativa escolhida pelo imperialismo alemão sob forma de uma agressão aberta e em larga escala só pode se dar a partir do entendimento da profunda crise econômica, social, política e moral que se abateu sobre a sociedade burguesa alemã a partir de 1914. É importante lembrar que a guinada favorável processada na economia alemã, organizada pe lo gabinete dirigido por nazistas, desde o começo dirigia-se em favor da indústria pesada de máquinas-
ferramentas e da construção de estradas.

A corrida para um rearmamento total, levado a cabo pelo governo nazista, além de ser uma irresponsabilidade diplomática e militar, constituía-se também em uma insensatez perante a própria economia alemã. Assim, em 1938-1939, a economia alemã viu-se em meio a uma séria crise financeira. Segundo Mandel (1989), a Alemanha contava com um enorme déficit orçamentário: os gastos públicos que em 1938-1939 situavam-se na casa de 55 bilhões de marcos (e que em
1939-1940 viriam a ser de 63 bilhões) eram “compensados” por receitas de impostos e tarifas de apenas 18 bilhões, em 1938-1939 e de 25 bilhões, em 1939-1940.
Por outro lado, o crescente derrotismo da clas se dominante francesa era fator de estímulo à caminhada de Hitler em direção a uma nova guerra mundial, mas,  sobretudo, devido à realidade material e aos interesses sociais específicos.  A França gozava da predominância político-militar no continente europeu no final da Primeira Grande Guerra Mundial, porém esse  status de modo algum tinha correspondência com o real equilíbrio econômico de forças naquele continente,
muito menos em relação ao mundo. Nem o capital francês, tampouco a indústria nacional francesa, possuíam as condições necessárias à manutenção de exércitos na Europa que pudessem arrasar qualquer ensaio alemão em direção à recuperação da superioridade no continente europeu. 
E ainda, grandes setores da classe dominante francesa encontravam-se aterrorizados com a potencialidade de força dos operários franceses, que tinham mostrado seu poder na greve geral de junho de 1936. A eliminação do “perigo comunista’’ tornou-se uma obsessão de vários membros da classe dominante francesa, o que tinha primazia ante qualquer projeto internacional.  
Em relação à Inglaterra, durante o período de 1929 e 1938, suas políticas foram adversas à hegemonia francesa na Europa. Porém, jamais implicaram qualquer concordância da troca por uma hegemonia de Berlim.

No outro extremo do globo, o imperialismo japonês tinha como prioridade o empenho pela conquista paulatina da China, de olho em sua próxima “presa”, o sudeste asiático.
Por seu turno, o imperialismo norte-americano tinha como certo um conflito, a longo prazo, com o Japão pela hegemonia da região do Pacífico e da Ásia Oriental, incluindo-se aí a China. Sob essa situação, seria grande estupidez dos EUA consentirem que um inimigo futuro materializasse primeiro essas  conquistas extraordinárias que lhe permitissem até mesmo quadruplicar sua força industrial, financeira e militar; o que levou o governo Roosevelt a iniciar a política de
embargo informal de matérias-primas essenciais para o Japão, ao mesmo tempo que aumentou sua ajuda à China de  Chiang Kai-Shek. Assim, ao Japão restava decidir entre retirar-se da China, ou prosseguir em direção a um confronto com os Estados Unidos. De maneira deliberada, o Japão  optou pelo confronto, ocupando a Indochina, a 23 de julho de 1941, com o auxílio da França de  Vichy. Em resposta, o governo de Roosevelt tornou oficial o bloqueio dos Estados
Unidos.
O caminho trilhado pelo Japão era determinado, sobretudo, por enorme necessidade econômica. Durante os anos de paz, o Japão importava 66% de seu petróleo dos Estados Unidos; os suprimentos de coque, necessários para abastecer suas siderúrgicas (dez mi Ihões de toneladas), eram importados da China, e, ainda, vinha do exterior  toda a bauxita de que necessitava para a industria de aviões, todo o níquel utilizado em seu programa de armamentos, 66% do cobre
utilizado em solo japonês, a totalidade de seu estanho e de sua borracha e quase todos os sais industriais. Potencialmente, o conjunto desses bens podia ser provido pelas Índias Orientais Holandesas, pela Indochina, pela Malaia, as Filipinas ou a China.
Em seu início, a guerra na Europa e a guerra no Extremo Oriente davam a aparência de serem distintas e independentes entre si. Porém, a simples precipitação das primeiras vitórias alemãs nazistas foi forçoso para que os dois conflitos se interligassem. O argumento derradeiro foi dado pelo governo Roosevelt, que depois de julho de 1941, passaram a não fornecer ao Japão as matérias-primas necessárias para a continuidade da guerra contra a China.
Entretanto, o Japão esperava que seus êxitos iniciais associados aos da Alemanha sua aliada, influíssem para que os Estados Unidos procurassem uma paz negociada que pudesse garantir ao Japão esfera de influência estável e segura no leste e no sul da Ásia. A questão é que Roosevelt não tinha a mínima disposição para reconhecer uma situação que pudesse levar à hegemonia japonesa na Ásia.

Tendo as investidas da Alemanha e do Japão, para além de suas fronteiras nacionais, como a primeira e segunda causa imediatas da Segunda Grande Guerra Mundial, respectivamente, a terceira causa imediata seria a resolução do imperialismo norte-americano de se comprometer decididamente com o replanejamento da ordem política internacional. Essa decisão do governo dos EUA foi fruto da modificação global que a economia norte-americana sofreu após 1929.
Roosevelt tinha necessidade de manejar a situação com um cuidado maior que Hitler, ou  que os chefes militares de Tóquio, pois a democracia ainda preponderava em solo norte-americano, vez que sua população não podia ser forçada a ir à guerra, mas sim, ter que ser convencida a entrar na guerra, pois tal como ocorria nos países mais importantes, a expectativa da guerra, por motivos óbvios, não animava muito a população. A partir da agressão japonesa a  Pearl Harbor,
tudo se tornou mais simples para Roosevelt. Entretanto, o intento de interferir com toda a força no conflito não foi escolha pessoal do presidente, mas sim uma escolha da classe dominante norte-americana, tão premeditada quanto a opção pela guerra das classes dirigentes da Alemanha e do Japão.
A catastrófica incompreensão de Stalin em relação às intenções do Führer alemão e da situação política européia é o que estava por trás do total despreparo do Exército Vermelho em 1941. Stalin acreditava que a URSS estava convencida de que, caso se comportasse de “maneira correta”, não seria agredida pelo imperialismo alemão. O Pacto Hitler-Stalin de agosto de 1939 dava mostras de ser mais uma orientação estratégica do governo soviético que uma ação tática:      

“Contudo, o pacto Hitler-Stalin continha um protocolo secreto que, mesmo antes que aquela inva são tivesse iniciado, implementava uma quarta subdivisão da Polô nia. Com isso, Stalin dava o sinal verde para a agressão de Hitler, livrando temporariamente o Terceiro  Reich do pesadelo de uma guerra prolongada em duas frentes. A historiografia russa continua a negar esse fato — mantendo-se muda a respeito do protocolo secre to de 27 de agosto de

1939. Do mesmo modo, lança um véu sobre a oposição formal de Stalin à sobrevivência de qualquer tipo de Estado polonês. As conseqüências dessa cínica realpolitik sobre a atitude do povo polonês para com a URSS permanecem calamitosas até hoje. Ela foi certamente uma causa concomitante da deflagração da Segunda Grande Guerra.” (MANDEL, 1989, p.  33-34).

A Segunda Grande Guerra Mundial mostrou mais uma vez o que já tinha sido notado com a Primeira Grande Guerra Mundial - a nítida e intrínseca relação entre as guerras imperialistas, a economia e a política. E seus términos iriam demonstrar essas relações com o caráter político-jurídico da nova ordem criada.

“As guerras mundiais são resultado da tendência geral do imperialismo ao expansionismo agressivo. Mas elas possuem também uma  causa mais especifica. Resultam da atuação da lei do desenvolvimento desigual, isto é, da contradição entre a tendência do equilí brio industrial-financeiro das forças imperialistas a sofrer modifica ções periódicas (mediante a súbita ascensão de determinadas classes burguesas anteriormente retardadas em seu

desenvolvimento) e a tendência de divisão do mundo em esferas de influência a se manter inalterada por um período mais longo. Esta última divisão reflete-se na preparação militar-naval, nas alianças internacionais e nos sistemas comerciais, alfandegários e monetários preferenciais, que se alteram muito mais lentamente do que a correlação de forças industrial-financeiras em seu interior.”(MANDEL, 1989, p.  49).

Mandel (1989), citando Hilman (1952) irá mostrar qual a participação das respectivas grandes potências no produto industrial mundial às portas da Segunda Grande Guerra Mundial, destacando a crise econômica que se abateu sob a economia mundial.
É claro que no caso da Segunda Grande Guerra Mundial, a Alemanha preparou no tempo seu sistema militar-industrial, sobretudo no que se referir ao armazenamento de matérias-primas essenciais para o conflito. Para isso, uma combinação de  fatores contribuiu, entre os quais: as exportações soviéticas depois do pacto  Molotov-Ribbentrop, que abriu espaço para a Alemanha, inclusive, durante o período 1940-41, principalmente de petróleo, algodão e minério de ferro; a
substituição por matérias-primas químicas (principalmente petróleo e borracha sintéticos), em geral extraídas do carvão, das matérias-primas naturais, as quais poderiam sofrer escassez caso a guerra se prolongasse e, por fim, a conquista e ocupação militar de territórios ricos em produtos que a Alemanha não tinha como produzir, nem como comprar.  
Na guerra de conquista, a Alemanha estabeleceu nos países ocupados o “sistema de compensação” nas maiores fábricas da França, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Noruega e, mesmo, já bem mais tarde, nas fábricas italianas.  Sob esse sistema de conquista, as fábricas trabalhavam permanentemente para alimentar a indústria de guerra alemã, ao passo que, cada vez mais, os países ocupados recebiam menos o ‘‘valor real” pelos produtos que forneciam às forças do  Führer.
Porém, esse tratamento se diferenciava a depender do país e dos interesses alemães sobre eles, como no caso da Tchecoslováquia, Iugoslávia, Polônia e nos territórios ocupados da União Soviética, na maioria dos casos, o que ocorreu foi a apropriação direta do parque industrial. 
Tal como a Alemanha, o exército japonês também se preocupava com a conquista de guerra, ou pela guerra de conquista. Assim, em 1941-1942, o Japão levou à frente uma ofensiva militar com o único propósito de tomar o petróleo e a bauxita da Indonésia, a borracha e o estanho da Malásia, e o arroz da Indochina e da Birmânia. Seu objetivo era o de constituir uma reserva ampla e estável de matérias-primas demandadas para uma guerra longa contra a China, os EUA e a
Grã-Bretanha.

O INÍCIO DO FIM
Em 1943, as invasões da Sicília (junho) e da Itália (julho) determinaram a queda de Mussolini e de seu desgastado regime. Após ter sido destituído no mesmo mês de julho pelo rei  Victor Emanuel III, o antigo dirigente dos “Camisas Negras” foi preso e o  novo governo do Marechal Badoglio acabou por aceitar a paz imposta pelos aliados, nos termos da denominada “Fórmula de Casablanca”, o mesmo que uma rendição incondicional. Com a queda  do elo mais fraco do bloco
fascista, surge a ameaça de um cerco inimigo pelo debilitado flanco sul.
Hitler cometeria o mesmo erro de Napoleão em Estalingrado, ou seja, a utilização de uma estratégia limitada em um espaço ilimitado. No desejo incontido de conquistar tudo de uma só vez, ele tornou o “ front” exageradamente amplo, ocasionando intermináveis problemas de abastecimento. Ao passo que os russos, após o susto inicial da invasão, começaram a se preparar, deslocando seu potencial industrial para áreas impossíveis de serem atingidas pelos alemães (os Urais
e a Sibéria), desenvolvendo novas armas de combate (tanques T-34), utilizarando racionalmente os materiais enviados pelos aliados e ainda colocaram no campo de batalha todo o seu material humano.
Após a derrota em Moscou, Hitler manter seus exércitos durante o inverno em solo soviético, com o objetivo de reiniciar a batalha na primavera, e seguiu com o envio de tropas para a URSS. Porém, os exércitos soviéticos tiveram tempo de se fortalecer com armas e efetivo militar, chegando em 1942 a mobilizar onze milhões de homens.
Hitler, então, concentrou seus esforços para tomar Estalingrado e atingir o petróleo do Cáucaso. Apesar de o exército nazista ter atingido e ocupado 70% da cidade, ao final das batalhas o VI Exército do Marechal Von Paukus, rendeu-se diante da supremacia inimiga, em fevereiro de 1943.

O saldo resultante da batalha para os alemães foi de 250.000 mortos e 100.000 prisioneiros. Entre os soviéticos, os números oficiais davam conta de 632.253 mortos, em que pese alguns estudiosos falarem algo em torno de 1.300.000 e 1.500.000 (a população civil em janeiro de 1942 era de aproximadamente 2.280.000). Ao final do cerco: “Tinham morrido mais pessoas no bloqueio de Leninegrado do que em qualquer outra cidade moderna” (SALISBURY, 1969, p.  577).

No verão de 1943, Hitler ainda tentou com a “Operação Cidadela” dominar a região de Kursk. Apesar de ter-se utilizado de novos tanques e 500.000 homens, o resultado de novo foi novamente o fracasso.
Por volta de 1943 a Alemanha passou a recuar de todas as frentes de batalha, com as derrotas começando a se avolumarem, haja vista a derrota no Atlântico, os ataques aéreos aliados ao território alemão, que destruíram indústrias, ferrovias, portos e cidades.
Em 1944, o desembarque da Normandia significou para os alemães o que ocorrera em Leningrado em 1943. No chamado “Dia D”, dois milhões de soldados aliados desembarcaram nas praias da Normandia. Naquele ano, o III Reich começaria de fato a desmoronar. Em 20 de julho de 1944, Hitler sofreria em seu quartel-general um atentado à bomba, organizado por oficial da velha Escola Von Stauffenberg. Hitler apenas foi levemente ferido, e os autores da conspiração foram
julgados sumariamente, torturados, humilhados e executados com brutalidade.
Em fevereiro de 1945 os aliados ocidentais atacaram, violentamente, pelos ares, a Alemanha, onde morreram cerca de 145.000 pessoas. 
E, finalmente, em abril de 1945, a guerra chegou ao fim. Hitler refugiou-se, com seus auxiliares mais diretos, no “Bunker” da Chancelaria em Berlim, onde viveu seus últimos dias de vida. No dia 29 de abril, Hitler casou-se com sua amante Eva Braum , ambos se suicidando logo depois.

A BOMBA QUE ESMAGOU O JAPÃO

A Segunda Grande Guerra Mundial apresenta-se, nomeadamente, como uma guerra de armas mecânicas produzidas em série; foi a guer ra da esteira rolante, a guerra do fordismo militar. Porém, a capacidade das potências para a  produção em série de armas dependia diretamente dos recursos industriais gerais das potências beligerantes. E, justamente no tocante a isso, é que a Alemanha e o Japão foram nitidamente esmagados pela absoluta superioridade das
potencialidades industriais dos EUA.

Porém, todos os avanços tecnológicos empregados na Segunda Grande Guerra Mundial foram ínfimos se comparados ao emprego militar da energia atômica.

O PÓS SEGUNDA GUERRA MUNDIAL


A Segunda Grande Guerra Mundial impôs a necessidade de o homem rever a dinâmica de construção de uma sociedade capitalista ocidental.

“A ameaça do aniquilamento nos deixou ao relento. Pela primeira vez, desde a aparição do ser humano no planeta, paira o terror do  despejo compulsório. O século de Hiroshima e Nagasaki. É preciso descobrir por detrás das crises atuais, dos crimes e das guerras, um novo sentido para o futuro, já presente no  dia a dia, em sua riqueza e profundidade ignoradas. O grande obstáculo são as camadas do conhecimento excessivamente conceitual e

teórico.” (Diniz, 1995, p. 15, grifo do autor).

Como desastre humano e genocídio, a Segunda Grande Guerra Mundial foi o exemplo supremo. Segundo Silva:

“O fracasso da tentativa de instauração de um Tribunal Internacional foi somente um reflexo  de um outro de maior envergadura. Todas as tensões do pós-guerra e suas querelas mal resolvidas – pois na verdade houve mais um armistício do que verdadeiramente paz – levaram fatalmente à eclosão de uma Segunda Grande Guerra, cujas  consequências, em termos de mortes e destruição, atestaram em definitivo que o desenvolvimento tecnológico

poderia trazer também a catástrofe em seu bojo.” (Silva, 1998, p. 55).

A humanidade pagou um preço elevadíssimo pela Segunda Guerra Mundial. O custo social e econômico, embora seja possível de maneira plausível ser quantificado, é bastante difícil de ser qualificado. Além da destruição própria da guerra, foram “queimados” um trilhão e meio de dólares (ao valor de 1939) durante o conflito, do qual tomaram parte 72 países, mobilizando 110 milhões de soldados. O saldo de mortos atingiu a ordem de 55 milhões, 35 milhões foram mutilados

e 3 milhões desaparecidos. Em sua grande maioria, as vítimas eram civis.


À custa de milhões de vidas, o imperialismo e, sobretudo, os EUA souberam tirar proveito da maior catástrofe humana já ocorrida. “Durante a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos mais que dobraram a sua opulência, o seu aparelho produtivo e a sua renda anual, mantendo o monopólio da energia atômica”  (Deutscher, 1968, p. 177).
Com a Segunda Grande Guerra Mundial, os homens provaram de uma vez por todas o que eram capazes de fazer pela manutenção de seus interesses por mais mesquinhos, que fossem. As imagens dos horrores daqueles anos jamais abandonaram as mentes e corações do ser humano.
A partir daqui, as atenções se voltam para a “reconstrução” do mundo pós-Segunda Grande Guerra Mundial, e suas consequênciaspara o desenvolvimento dos conflitos bélicos.

Ao passo que a guerra foi se aproximando do seu final, os aliados ingleses, americanos e russos fizeram acordos com o objetivo de fixar algumas diretrizes para o pós-guerra.

Esses acordos viriam então estabelecer a Nova Ordem Mundial do pós-Segunda Grande Guerra Mundial. Nos anos imediatos, as chamadas “potências periféricas” -  EUA e URSS - dariam as cartas no novo mundo que surgia. “Mas finda a Segunda Guerra, após um curto período de calma, ocorre a novidade da divisão do mundo em duas áreas de influência: uma norte-americana e a outra soviética” (MAGALHÃES, 2000, p. 51). 

A ECONOMIA NO PÓS SEGUNDA GRANDE GUERRA MUNDIAL

Passada a Segunda Grande Guerra Mundial, inicia-se novo período de crescimento deslumbrante do capitalismo do centro, baseado na modernização em profundidade da Europa Ocidental (Mercado Comum), cujo desajuste em relação aos Estados Unidos se acentuara durante a guerra.
Ao mesmo tempo quebram-se as sujeições coloniais. No além-mar, a instalação mais ou menos sistemática de conjuntos industriais leves caracteriza esse período, a partir da política de “substituição de importações” (produção de produtos manufaturados anteriormente importados), e com o centro fornecendo, ademais, bens de capital que permitem a instalação de tais indústrias leves.  
Segunda Grande Guerra caracteriza-se, de fato, por ser a prova final de embate de forças entre Estados imperialistas rivais. 

Com o final da Segunda Grande Guerra Mundial, inicia-se a construção de um novo mundo, uma nova ordem, na verdade, uma Nova Ordem Mundial:

“O esmagamento dos imperialismos alemão, japonês e italiano; um enfraquecimento definitivo  de seus equivalentes francês e inglês; a decadência e ruína do colonialismo  direto’ de modo gera!; o surgimento do imperialismo norte-americano como potência hege mônica no mundo; o surgimento da URSS como potência mundial e seu domínio militar sobre a Europa oriental e central; a impetuo sa ascensão de movimentos de libertação nacional nas

colônias e semicolônias, cada vez mais entrelaçados com a revolução social, co mo na China; o ressurgimento do movimento operário organizado na Europa continental, com  alto nível de militância, especialmente no período de 1944-48; desenvolvimentos análogos no Japão e nos EUA, ainda que com nível mais baixo de consciência de classe; a deflagração da Guerra Fria, basicamente como um leste de força entre os Estados Unidos  e a União

Soviética e a conseqüente ideologia campista no seio de amplas camadas do movimento operário internacional — este foi o mundo que emergiu da Segunda Grande Guerra.” (MANDEL, 1989, p. 160, grifo do autor).

O resultado da guerra significou para a Alemanha a perda de seus territórios a leste da linha Oder-Neisse para a Polônia e parte da Prússia Oriental para a URSS.

Diante da crise grega do pós-guerra, setores do governo norte-americano, entre eles, o novo secretário de Estado, Marshall, começaram a relacionar o momento de crise com a possibilidade da extensão do poder soviético para a Europa Ocidental, à Ásia e ao Oriente Médio.  Fruto dessa situação, e na defesa dos interesses da classe dominante norte-americana, em 12 de março de 1946, o presidente Truman, em discurso feito
numa sessão conjunta do Congresso, solicitou 300 milhões de dólares para a Grécia e 100 milhões para a Turquia. Truman referia-se aos desdobramentos da realidade como uma luta global “entre modos de vida alternativos”. Para o presidente Truman os Estados Unidos deveriam apoiar o povo livre que estivesse resistindo às tentativas de “subjugação” por minorias em armas ou por pressões externas. 
Sem sombra de dúvida, os Estados Unidos foram o país mais beneficiado pela Segunda Grande Guerra Mundial; além de terem reativado, Também expandiram seu parque industrial. Uma das conseqüências disso foi a absorção de gigantesca massa de desempregados dos anos trinta, além de não terem sofrido danos materiais.
O conjunto das potências, incluindo  a URSS, ao sair da guerra, teve ajuda econômica e financeira dos Estados Unidos da América. O objetivo de todas elas era o de obter a ajuda mantendo sua independência e capacidade de decisão sobre suas próprias políticas, tal como entendiam suas classes e castas dominantes. A grande questão é que isso era justamente o que os EUA, em 1945, não estava pronto a lhes conferirem. 
A interrupção da ajuda direta norte-americana sob a forma de empréstimos e arrendamento (Lend and Lease) foi um duro golpe sentido por Churchill, De Gaulle e Stalin. Em função disso, a questão das reparações alemãs tornou-se ainda mais importante para a burocracia soviética. 

Diante da destruição das estruturas produtivas européias, de uma catastrófica situação econômica e financeira dos Estados Europeus e do aumento da simpatia das massas operárias da Europa pelo socialismo, o Secretário de Estado norte-americano General George Marshall proferiu em 5 de junho de 1947 o seu famoso “Discurso de Harvard”, no qual fez a promessa de auxiliar na recuperação  econômica dos Estados europeus, principalmente a partir do aumento de
empréstimos bilaterais. 

Com isso a libra recuperou sua convertibilidade anterior, logo tornando a perdê-la em decorrência de um novo depauperamento de divisas, deixando escancarada a completa gravidade da crise econômica pela qual passava a Europa. O governo dos EUA fixou o valor da ajuda para o período de 1948-1952 em 12,8 bilhões de dólares (para os 22 bilhões que a Europa necessitava) como forma de assegurar a correspondente cooperação entre os Estados europeus, que, em 16

de abril de 1948, assinaram a Convenção de Cooperação Econômica Européia, que criou a OECE. Era a primeira Organização européia do pós-guerra. Quadros (1995) irá dirá que: “[...] a primeira tarefa da nova Organização foi a de repartir pelos Estados da Europa Ocidental os 12,8 bilhões de dólares de donativos e empréstimos norte-americanos”  .

A partir do momento que os EUA se definiram contra a manutenção da Alemanha, Japão e Itália, num estado de prostração econômica, que começaram a atuar com o Plano Marshall e as reformas monetárias de 1948, tornou-se inevitável a instalação de uma segunda etapa da Guerra Fria.

No caso do Japão, este foi ocupado pelos EUA e o General Mac Arthur atuou como uma espécie de “vice-rei” na região. O militar norte-americano contava com uma autonomia de poder que só deixaria de ter durante a Guerra da Coréia.

Porém, por mais que o imperialismo norte-americano gozasse de absoluta superioridade militar e de hegemonia industrial-financeira, não era possível, até mesmo para ele, enfrentar todas as crises e conflitos do pós-guerra, na Coréia, na França, na Itália, na Indonésia, etc e, ao mesmo tempo, lançar-se a uma guerra aberta com a URSS. Naquela ocasião, a União Soviéti ca já aparecia no cenário mundial como a segunda potência militar do mundo, dispondo de um exército

experiente e com moral elevada por sentimentos de autoconfiança e vitória, frutos de sua batalha contra a Alemanha.
Uma vez derrotado o fascismo europeu, o exército soviético contava com um enorme prestígio junto à classe operária. Porém, o que mais apavorava os dirigentes norte-americanos era a ascensão da militância da classe operária no centro do capitalismo mundial, bem como a vitória da revolução na China, na Iugoslávia, na Grécia, Indochina e Indonésia.

Após ter consolidado o extermínio do movimento de independe e da revolução na Grécia, o imperialismo norte-americano passou a ter a Coréia como prioridade. Assim começava a nascer um padrão de intervenção norte-americano: mesmo que uma guerra final contra a União Soviética continuasse a existir nos arquivos de jogos de guerra e de preparativos para guerra dos chefes militares norte-americanos, a guerra contra os soviéticos não fez parte da pauta do pós-guerra.

Na verdade, Chomsky (1999), relata que, já durante a Segunda Grande Guerra Mundial, grupos de estudo do Departamento de Estado e do Conselho de Relações Exteriores desenvolveram planos para o mundo pós-guerra nos termos do que chamaram a “Grande Área”, com o objetivo que esta fosse subordinada às necessidades da economia norte-americana.

Faziam parte da “Grande Área” o Hemisfério Ocidental, a Europa, o Oriente, o antigo Império Britânico, então destruído, as extraordinárias fontes de energia do Oriente Médio, o resto do Terceiro Mundo e se possível, o mundo inteiro. Esses planos foram sendo executados à medida que as oportunidades permitiram.  
Tenderia essa época a terminar? Assim parece. Esgotam-se, nos países da periferia, as possibilidades de import-substitution, o que se traduz em sensível debilitação da industrialização e do crescimento. Nos países ocidentais do centro, as tensões deflacionárias semipermanentes que voltaram a surgir, como a crise internacional de liquidez, indicariam uma pausa.  Por certo, o sistema capitalista mundial pode superar tal situação; não existe crise catastrófica capaz de engendrar,

por si mesma, o fim apocalíptico do sistema. Sua busca de solução, por outro lado, segue em duas direções que, provavelmente, conformarão as modalidades do futuro da especialização internacional.

A ONU

Terminada a guerra, a nova situação mundial se constituiria, eentre outros componentes dessa nova realidade destaca-se o avanço por parte do imperialismo vencedor no estabelecimento da Nova Ordem Mundial.

Assim, após a Segunda guerra Mundial, surge uma nova ordem, ou um novo sistema de Estados desenhado pelos vencedores. Os pontos de partida foram estabelecidos nas Conferências de Teerã, Yalta - entre EUA, Inglaterra e URSS, (Conferência tida como o marco inicial da Guerra Fria, por fixar as zonas de ocupação da Alemanha, além de estabelecer as normas para a nova formulação da Europa); a Conferência de  Potsdam - que decidiu pelo desarmamento e as

indenizações a serem pagas pela Alemanha e sua divisão em zonas de ocupação aliada; e, finalmente, a Conferência de São Francisco no ano de 1945, na qual se deu a criação da ONU, em lugar da Liga das Nações.

Se em Teerã, em fins de 1943, não se tinha noção definitiva de como seria o final da guerra, de uma conferência para outra as coisas foram ficando mais conclusivas, sobretudo na Conferência de Potsdam, que ocorre com a guerra já findada na Europa.

Em primeiro lugar resolveu-se pela rendição incondicional da Alemanha. A partir daí, a Alemanha tornou-se um Estado ocupado pelos EUA, pela União Soviética, pela Inglaterra e, em seguida pela França, e dividida em quatro zonas de ocupação, assim como a capital Berlim, localizada na zona soviética.  
Uma população de cerca de 3 a 4 milhões de origem  alemã que habitava a Tchecoslováquia, os sudetos, foi deslocada, à força, para a Alemanha. A província da Silésia e outras regiões adjacentes, limítrofes da Polônia, a esta foi também anexada. A população alemã da Prússia Oriental, por sua vez, teve que  deslocar-se das províncias da Prússia para o ocidente alemão, dando lugar ao povoamento dessa região a uma
população polonesa. A Ucrânia se recompôs com a incorporação da sua parte ocidental que estava sob a soberania polonesa, e os Estados bálticos foram incorporados à URSS.

Vários remanejamentos foram feitos na própria Europa. E é claro que isso tinha de ser feito de comum acordo, pois de outra forma não seria possível, isto porque a Europa emergiu da guerra com todo o leste ocupado por tropas soviéticas, enquanto a parte ocidental fora ocupada – incluindo a Alemanha – por tropas anglo-americanas.

Essa nova organização coletava a experiência da Liga das Nações, inteiramente fracassada, que terminou desmoralizada dada sua impotência diante dos atos de agressão da Itália e da Alemanha.
A nova Organização que se constitui se intitula a responsável por promover a cooperação internacional e assegurar a paz mundial. Além de proibir  o uso da guerra em seu Art. 2.4: “Todos os membros deverão evitar, em suas relações internacionais, a ameaça ou o uso da força contra a integridade territorial ou a independência política de qualquer Estado, ou qualquer outra ação incompatível com os propósitos das Nações Unidas”.
Assim foi criada a Organização das Nações Unidas (ONU):
“Nós, os povos das nações unidas, resolvidos  a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra, que por duas vezes, no espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, assim como das nações grandes e pequenas, e a estabelecer condições sob as quais a justiça e  o
respeito às obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes do direito internacional possam ser mantidos, e a promover progresso social e melhores condições de vida dentro de uma liberdade mais ampla,  e para tais fins praticar a tolerância e viver em paz, uns com outros, como bons vizinhos, e unir as nossas forças para manter a paz e a segurança internacionais e a garantir, pela aceitação de princípios e a instituição de métodos, que a força armada não será usada a
não ser no interesse comum, a empregar um mecanismo internacional para promover o progresso econômico e social de todos os povos, resolvemos conjugar nossos esforços para a consecução desses objetivos.”

A ONU, A PAZ E OS ATOS DE AGRESSÃO


A Organização das Nações Unidas (ONU) desde sua Carta confere ao Conselho de Segurança os poderes políticos de segurança internacional, o qual se encarregou da função de “guardião da paz”. 
“Art. 39. O Conselho de Segurança determinará a existência de qualquer ameaça à paz, ruptura da paz ou ato de agressão, e fará recomendações ou decidirá que medidas deverão ser tomadas de acordo com os Art.  41 e 42, a fim de manter ou restabelecer a paz e a segurança internacional. Art. 40. A fim de evitar que a situação se agrave, o Conselho de Segurança poderá antes  de fazer as recomendações ou decidir a respeito das medidas
preventivas no art. 39, convidar as partes interessadas que aceitem as medidas provisórias que lhe pareçam necessárias ou aconselháveis. Tais medidas provisórias não prejudicarão os direitos ou pretensões, nem a situação das partes interessadas, O Conselho de Segurança tomará devida nota do não cumprimento dessas medidas. Art. 41. O Conselho de Segurança decidirá sobre as medidas que, sem envolver o emprego de forças armadas, deverão ser tomadas para
tornar efetivas suas decisões, e poderá convidar os Membros das Nações Unidas a aplicarem tais medidas. Estas poderão incluir a interrupção completa ou parcial das relações econômicas, dos meios de comunicação ferroviários, marítimos, aéreos, postais,  telegráficos, radiofônicos, ou de outra qualquer espécie, e o rompimento das relações diplomáticas. Art. 42. No caso do Conselho de Segurança considerar que as medidas previstas no art. 41 seriam ou demonstraram
que são inadequadas, poderá levar a efeito,  por meio de forças aéreas, navais ou terrestres, a ação que julgar necessária para manter ou restabelecer a paz e a segurança internacional. Tal ação poderá compreender demonstrações, bloqueios e outras operações, por parte das forças aéreas, navais ou terrestres dos Membros das Nações Unidas. Art. 43. Todos os Membros das Nações Unidas, a fim de contribuir para a manutenção da paz e da segurança internacionais, se
comprometem a proporcionar ao Conselho de Segurança, a seu pedido e de conformidade com acordo  ou acordos especiais, forças armadas, assistência e facilidades, inclusive direitos de passagem, necessárias à manutenção da paz e da segurança internacionais. 1. Tal acordo ou tais acordos determinará o número e tipo das forças, seu grau de preparação e  sua localização geral, bem como a natureza das facilidades e da assistência a serem proporcionadas. 2. O acordo
ou os acordos será negociado o mais cedo possível, por iniciativa do Conselho de Segurança. Serão concluídos entre o Conselho de Segurança e Membros da Organização ou entre o Conselho de Segurança e grupos de Membros, e submetidos à ratificação pelos Estados signatários, de conformidade com seus processos constitucionais. Art. 44. Quando o Conselho de Segurança decidir o emprego de força, deverá,  antes de solicitar a um Membro nele não representado o
fornecimento de forças armadas em cumprimento das obrigações assumida em virtude do art. 3, convidar o referido Membro se este assim o desejar, a participar das decisões d Conselho de Segurança relativas ao emprego de contingentes das forças armadas do dito Membro. Art. 45. A fim de habilitar as Nações Unidas a tomarem medidas militares urgentes, os Membros das Nações Unidas deverão manter, imediatamente utilizáveis contingentes das forças aéreas nacionais
para a execução combinada de uma ação coercitiva internacional. A potência e o grau de preparação desses contingentes, bem como os planos de ação combinada serão determinados pelo Conselho de Segurança com a assistência da Comissão de Estado Maior, dentro dos limites estabelecidos no acordo ou acordos especiais a que se refere o art. 3. Art. 46. O Conselho de Segurança, com a assistência da Comissão de Estado Maior, fará planos para a aplicação das
forças armadas. Art. 47. Será estabelecida uma Comissão de Estado Maior destinada a orientar e assistir o Conselho de Segurança, em todas as questões relativas às exigências militares do mesmo Conselho, para a manutenção da paz e da segurança internacionais, utilização e comando das forças colocadas à sua disposição, regulamentação de armamentos e possível desarmamento. 1. A Comissão de Estado Maior será composta dos Chefes de Estado Maior, dos
Membros permanentes cio Conselho de Segurança ou de seus representantes. Todo Membro das Nações Unidas que não estiverpermanentemente representado na Comissão será, por esta, convidado a tomar parte nos seus trabalhos, sempre que a sua participação for necessária ao eficiente cumprimento das responsabilidades da Comissão. 2. A Comissão de Estado Maior será responsável,  sob a autoridade do Conselho de Segurança, pela direção estratégica de todas as
forças armadas postas à disposição do dito Conselho. As questões relativas ao comando dessas forças serão resolvidas ulteriormente. 3. A Comissão de Estado Maior com autorização  do Conselho de Segurança e depois de consultar os organismos regionais adequados poderá estabelecer subcomissões regionais. Art. 48. A ação necessária ao cumprimento das decisões do Conselho de Segurança para manutenção da paz e da segurança internacionais será levada a efeito
por todos os Membros das Nações Unidas ou por alguns deles, conforme seja determinado pelo Conselho de Segurança. 1. Essas decisões serão executadas pelos Membros das Nações Unidas diretamente, e, por seu intermédio nos organismos internacionais apropriados de que façam parte. Art. 49. Os Membros das Nações Unidas prestar-se-ão assistência mútua para a execução das medidas determinadas pelo Conselho de Segurança. Art. 50. No caso de serem
tomadas medidas preventivas ou coercitivas contra um Estado pelo Conselho de Segurança, qualquer outro Estado, Membro ou não das Nações Tinidas, que se sinta em presença de problemas especiais de natureza econômica, resultantes da execução daquelas medidas, terá o direito de consultar o Conselho de Segurança a respeito da solução de tais problemas. Art. 51. Nada na presente Carta prejudicará o direito inerente de legítima defesa individual ou coletiva, no caso
de ocorrer um ataque armado contra um Membro das Nações Unidas, até que o Conselho tenha tomado as medidas necessárias para a manutenção da paz e da segurança internacionais. As medidas tomadas pelos Membros no exercício desse direito de legítima defesa serão comunicadas imediatamente ao Conselho de Segurança e não deverão, de modo algum, atingir  a autoridade e a responsabilidade que a presente Carta atribui ao Conselho para levar a eleito, em
qualquer tempo, a ação que julgar necessária à manutenção ou ao restabelecimento da paz e da segurança internacionais. Art. 52. 1. Nada na presente Carta impede a existência de acordos ou de entidades regionais, destinadas a tratar dos assuntos relativos à manutenção da paz e da segurança internacionais que forem suscetíveis de uma ação regional, desde que tais acordos ou entidades regionais e suas atividades  sejam compatíveis com os Propósitos e Princípios das
Nações Tinidas. 2. Os membros das Nações Tinidas, que forem parte em tais acordos ou que constituírem tais entidades, empregarão todos os esforços para chegar a uma solução  pacífica das controvérsias locais por meios desses acordos e entidades regionais, antes de as submeter ao Conselho de Segurança. 3. O Conselho de Segurança estimulará o desenvolvimento da solução  pacífica de controvérsias locais mediante os referidos acordos ou entidades regionais,
por iniciativa dos Estados interessados ou a instâncias do próprio Conselho de Segurança. 4. Este Art. não prejudica de modo algum a aplicação dos  Art. 34 e 35. Art. 53. 1. O Conselho de Segurança utilizará, quando for o caso, tais acordos e entidades regionais para uma ação coercitiva sob a sua própria autoridade. Nenhuma ação coercitiva será, no entanto, levada a efeito de conformidade com acordos ou entidades regionais sem autorização do Conselho de Segurança,
com exceção das medidas contra um Estado Inimigo, como está definido no parágrafo 2 deste Art., que forem determinadas em  consequências do art. 107 ou em acordos regionais destinados a impedir a renovação de uma política agressiva por parte de qualquer desses Estados, até o momento em que a organização possa, a pedido dos Governos Interessados, ser incumbida de impedir toda nova agressão por parte de tal Estado. 2. O termo Estado inimigo, usado no
parágrafo 1º deste Art., aplica-se a qualquer Estado que, durante a Segunda Guerra Mundial, tal Inimigo de qualquer signatário da presente Carta. Art. 54. O Conselho de Segurança será sempre informado de toda ação compreendida ou projetada em conformidade com os acordos ou entidades regionais para a manutenção da paz e da segurança internacionais.
A formação da ONU encerrou por definitivo a situação de forças do entre guerras, tirando de vez da Europa a centralidade da política internacional.

Porém, em que pesem todas as declarações e cartas de intenções, a Organização das Nações Unidas organizou-se como entidade mundial das potências vencedoras e dos países a elas aderentes. Inicialmente não faziam parte dela a Alemanha e o Japão. 
A ONU passou a ser uma organização mundial funcionando num cenário no qual as duas potências nucleares emergentes da guerra - os EUA (embora já se constituíssem como potência militar desde a guerra) e a URSS - podiam negociar e divulgar seus pontos de vista a uma tribuna mundial e, de certo modo, testar certas ações de caráter estratégico mundial. Mas, além da ONU, as duas superpotências colaboraram em outras organizações que vieram a surgir.

Ao mesmo tempo, o caráter da bipolaridade deu-se pela formação dos dois blocos que se estabeleceram, cada um deles criando suas organizações de domínio, de estabelecimento de regras, de normatização da política internacional e da conduta de cada Estado. 

Enquanto potência hegemônica, os EUA cunharam, em particular, duas organizações de fundamental importância para o “novo mundo”: o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, ambos com sede em seu principal país financiador - os Estados Unidos. Os países do mundo capitalista do pós-guerra começaram a fazer parte do FMI e, depois, a própria Alemanha e o Japão a ele se associaram, à medida que superavam a situação de Estados vencidos e

assinavam os tratados de paz.

Malgrado, na Conferência de Bretton Woods, onde surgiu o FMI, o economista inglês John M. Keynes defendeu a criação de uma moeda mundial que não fosse de nenhuma nacionalidade, e não tivesse um lastro-ouro. Seu ponto de vista, no entanto, foi derrotado e o próprio Keynes teve que se conformar com a solução americana.    
O Banco Mundial, por sua vez, surgiu com o intuito de financiar projetos e auxiliar os países em dificuldades, dentro de princípios convenientes às potências capitalistas e, primeiramente, aos Estados Unidos.

Ainda como parte da “Nova Ordem Mundial criada após a Segunda Guerra Mundial” e dois anos depois do surgimento da Doutrina Truman (1947) é criada, em 1949, pelos Estados Unidos, a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que se constituiria então, como a expressão militar do princípio da Guerra Fria, ou seja, o princípio da contenção.  

“Concretizou-se a hegemonia americana na Europa Ocidental, ratificada em 1949 com a criação da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), permitindo a instalação ou permanência de bases militares americanas em pontos estratégicos da Europa.”  (SOARES, 2000, p. 155).

A OTAN, até a década de 1990, jamais tinha entrado em guerra, ou participado de qualquer conflito. As primeiras ações levadas a cabo em seu nome aconteceram no conflito da Iugoslávia, por meio de bombardeios aéreos. Porém, se as unidades da OTAN só vieram a participar de um confronto tardiamente, as potências pertencentes a esta organização internacional estiveram presentes em muitas guerras que delinearam o período da Guerra Fria, sobretudo os Estados
Unidos, a França e a Inglaterra.

Se do lado capitalista, dirigido pelos EUA, instituiu-se o referido sistema de organizações, do lado da União Soviética, também foi instituído um sistema de organizações. No denominado Pacto de Varsóvia reuniam-se as forças militares da União Soviética e dos países do Leste tutelados pela União Soviética. Fazia parte da Comissão para a Coordenação das Relações Econômicas (COMECOM) a União Soviética, os países do Leste europeu e Cuba. Malgrado ter sido esta

menos ativa que a Comunidade Econômica Européia (CEE), hoje, União Européia (UE), que constituiu vínculos econômicos muito mais intensos entre seus membros. 
Esses dois sistemas de organização sustentaram os dois blocos de países sem que houvesse guerras frontais entre eles. Porém, Gorender (1995) afirma não ter sido esse um período de estabilidade:

“Houve estabilidade do ponto de vista da Europa, que é uma visão eurocêntrica. Do mesmo modo se dizia que, após a guerra  franco-prussiana de 1870-1871, a Europa atravessara aproximadamente 40 anos de paz, e isto foi considerado como paz mundial. Sem dúvida, as duas únicas guerras mundiais conhecidas na história, mas, com relação ao sistema que surgiu da Segunda Guerra, é pertinente indagar de qual estabilidade se pode falar. A

península indochinesa, por exemplo, esteve assolada por uma guerra que durou dezenas de anos; alguns países da África precisaram se empenhar em guerras duríssimas para se livrar do jugo colonial, como  é o caso do Zaire, das colônias portuguesas e da própria África do Sul, com lutas internas contra o  apartheid, além de outras guerras que ensangüentaram o continente africano. Nesses casos, portanto, é difícil falar de

estabilidade.” (GORENDER, 1995, p. 436).

A estabilidade que ocorreu no centro do sistema não se reproduziu em sua periferia, que foi invariavelmente abalada por uma sucessão de guerras:

“Assiste-se nesse momento à violência norte-americana contra o Vietnã, Cuba, Granada, Nicarágua e quase todos os países latino-americanos, que receberam regimes autoritários impostos e financiados pelos Estados Unidos. A tortura, as perseguições e assassinatos praticados pelo Estado e por grupos paramilitares foram comuns no Chile, na Argentina, no Uruguai, no Brasil, em Honduras, em El Salvador. Do outro lado, o exército russo

impõe, à força, a política soviética na Hungria, na Tchecoslováquia, no Afeganistão.” (MAGALHÃES, 2000, p. 51). 

O que foi evitado no Afeganistão, na Coréia e no Vietnã foi o enfrentamento direto entre Rússia e Estados Unidos. Nos países em que um deles intervinha de maneira direta com suas forças, no caso, os Estados Unidos na Coréia e no Vietnã, e a União Soviética no Afeganistão, a outra superpotência não se intrometia; seu papel  era o de ajudar os inimigos do invasor, mas não entrar diretamente no conflito. Esse pacto ficou muito claro em alguns episódios clássicos, tal como
o ocorrido em 1956 quando tropas soviéticas sufocaram um levante em Budapeste (Hungria), e em 1968, quando a União Soviética, apoiada pelo Pacto de Varsóvia, invadiu a Tchecoslováquia e derrubou o governo do país; em ambas as situações, os rivais norte-americanos mantiveram-se afastados. Do lado da União Soviética, a mesma não tomou parte diretamente em dissidências e conflitos que ocorreram fora de sua “área de influência”.  

“A Segunda Guerra Mundial na verdade trouxe soluções, pelo menos por décadas. Os impressionantes problemas sociais e econômicos do capitalismo na Era da Catástrofe aparentemente sumiram. A  economia do mundo ocidental entrou em sua Era de Ouro; a democracia política ocidental, apoiada por uma extraordinária melhora na vida material, ficou estável; baniu-se a guerra para o Terceiro Mundo. Por outro lado, até mesmo a revolução

pareceu ter encontrado seu caminho para a frente. Os velhos impérios coloniais desapareceram ou logo estariam destinados a desaparecer. Um consórcio de Estados comunistas, organizado em torno da União Soviética, agora transformada em superpotência,  parecia disposto a competir na corrida pelo crescimento econômico  com o ocidente. Isso se revelou uma ilusão, mas só na década de 1960 essa ilusão começou a desvanecer-

se.”  (HOBSBAWM, 1995, p. 59).

No entanto, nem tudo andou como as superpotências queriam:

“[...] à revelia das superpotências, ocorreram desdobra mentos, lutas sociais que levaram à descolonização dos impérios constituídos ainda nos séculos XVIII e XIX, e que sobreviveram até a Segunda Guerra, bem como o estabelecimento de uma série de conquistas dos trabalhadores na Europa, mesmo na Europa Ocidental e a democratização em muitos países por força das lutas populares. Enfim, o sistema não pôde ser congelado, ao

contrário, foi minado por suas contradições internas, lutas sociais e desequilíbrios internacionais.”(GORENDER, 1995, p. 437).
A INTEGRAÇÃO EUROPEIA
Outro fenômeno do pós-guerra seria o processo de integração europeu:
“A divisão do mundo estimulou a integração da Europa, ainda que dividida de uma maneira muito distinta da tomada pelos propagandistas da ideia de Europa na época do entre guerras, ou inclusive por Churchill no ano de 1946. A integração se produz dentro de dois sistemas claramente delimitados entre si, os quais se definiam – de uma forma mais que superficial e se afirmando só meio a meio – como capitalista de um lado e socialista de outro,
ocidental ou oriental, livre ou não livre, democrático ou democrático popular, e cujos centros gravitacionais se encontram um pouco distantes do centro geográfico da Europa. Os processos de integração prosseguem com acelerações e estacionamentos, tanto no leste quanto no oeste; à guerra fria se sucedeu um período de distensão. Seja como for, a coexistência pacífica e permanente de ambas as partes da Europa continua sendo a meta ambicionada.”(BENZ; GRAM,
1996, p. 10-11, tradução nossa).
As grandes potências que saem fortalecidas da guerra - EUA e URSS - tinham o interesse em que se processasse a rápida estabilização do “velho mundo”. Por um lado, os EUA receavam entrar em crise de superprodução com o final da  guerra, sem os potentes sócios e mercados da Europa, por outro lado, a União Soviética não gostava da ideia de que os Estados europeus debilitados caíssem sob a dependência da potência dirigente, que eram
os EUA no campo econômico.
Os Estados Unidos trataram, por isso, de ajudar os europeus a superar suas dificuldades econômicas, mas sem de financiarem a guerra a partir de créditos e fornecimento de ajuda.
“A segunda guerra mundial não suporia, realmente, o fim da história  europeia, e sim o da história do  sistema de equilíbrio entre as potências  europeias surgido no Renascimento e que, apesar de todas as suas  modificações, basicamente havia voltado a impor, uma vez ou outra, em cada caso particular. Este sistema tinha rachado a partir do momento em que a crescente interdependência econômica e o desenvolvimento da técnica armamentista
questionaram a autonomia das até então grandes potências, ficando destruída depois da tentativa alemã de resolver o dilema cada vez maior de uma posição semi-hegemôica mediamente a conquista de uma posição de poder às custas das demais potências europeias; as tentativas de revitalizá-lo depois da guerra.” (BENZ; GRAM, 1996, p. 16, tradução nossa).

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