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HC II
Havia um grande otimismo tecnológico nas classes medias altas das cidades europeias,
mas o lado solar não consegue apagar problemas, tensões, ansiedades e crises que
marcam o século XX desde o seu início.
A IGM não é um caso onde se consiga repartir culpas e encontrar culpados, é mais
complexa, mais trincada. É mais Seculo XIX do que século XX
O século XX começa com medo, com um sistema de alianças defensivas que não eram
do conhecimento de terceiros
Tríplice Aliança (1882) → dois parceiros clássicos e um relutante que acaba por sair.
Alemanha, Império Austro-húngaro e Itália. Bismarck percebeu que 1871 era o fim de
um capítulo e não o fim da historia, porque sabia que a frança NÃO iria aceitar a
derrota de 1871, portanto esta aliança é defensiva face à França.
A tríplice aliança expressava as ansiedades de paz de 1871, mas surge outra aliança, a
Aliança Franco-Russa (1892), sendo também ela de natureza defensiva e secreta, com
termos secretos, onde se promete ajuda mútua face à Alemanha e à Austro-Hungria.
Martim Ghira Campos
A Inglaterra sai vitoriosa das invasões napoleónicas, com 40mil efetivos conseguiu
governar um império de 2 milhões de súbditos, e viveu anos de prosperidade. Para a
Inglaterra, estes anos foram de isolamento glorioso, devido à sua ilha, ao seu poder
naval (mantinha aberta as linhas de comércio), marcando um séc. XIX glorioso para
Inglaterra
Two Power Standard → a Inglaterra sabia que tinha de ter uma frota naval mais forte
do que as outras duas (França e Rússia)
As relações entre Londres e Berlim ficam mais tensas. A Inglaterra sabia que não podia
continuar no isolamento e em 1909 faz uma aliança com o Japão.
O que vai definir o definitivo fim do isolamento inglês, acontece com a criação da
Entente Cordiale assinada em 1904, assinada entre a França e a Inglaterra. Uma
aliança defensiva e secreta, entendida pela Alemanha como o início de uma posição
agressiva da França com apoio inglês, com o objetivo de recuperar o perdido com a
guerra Franco-Prussiana
Se a Inglaterra estava claramente ao lado da França, aos olhos do kaiser, não havia
motivo para a Alemanha ficar quieta no plano intrnacional, principalmente em
Marrocos. Porque é que a França tinha livre arbítrio no domínio de Marrocos e a
Alemanha não? Vai então disputar esse domínio sob a capa da independência de
Marrocos
Com uma visita a Marrocos, o kaiser mostra-se solidário com um reino de Marrocos
independente, que levou a uma Conferência em Espanha para discutir a
independência de Marrocos com um recuo da França. No entanto, a Inglaterra e a
França defendem a posição francesa em Marrocos
Martim Ghira Campos
Em 1907 a Grã-Bretanha, depois de firmar um tratado com a França, faz o mesmo com
a Rússia, havendo um alargamento da Entente Cordiale, tornando-se na Tríplice
Aliança
Em 1908 acontece uma revolução na Turquia que vai enfraquecer o Império otomano,
sendo uma revolução que teve sucesso imediato e que procurava um modo de
governamento ocidental para a Turquia
A Sérvia sabia que não podia enfrentar diretamente a Austro-Hungria, e pede ajuda ao
seu aliado na região, a Rússia.
Segunda Crise Marroquina → 1911 estala uma revolta contra o sultão Abdal(?), sendo
que a França envia tropas para defesa do sultão, que gera uma resposta Alemã que
envia tropas para o porto de Agadir. Este confronto foi temperado e evitado
temporariamente com cedências parte a parte. A França concede territórios do Congo
francês à Alemanha, e a Alemanha reconhece o domínio francês em Marrocos e
promete não se intrometer em assuntos franceses futuros em Africa.
A Rússia sente-se humilhada na crise dos Balcãs, desta vez foi a Alemanha que se
sentiu humilhada, pois o kaiser foi acusado de não ter entrado em confronto direto
com a França, como uma posição de medo
Martim Ghira Campos
É a partir de 1911 que o investimento na indústria de guerra faz parte dos principais
objetivos da Inglaterra
A última crise anterior a 1914 dá-se nos Balcãs. Em 1913 a Sérvia saiu vitoriosa das
guerras Balcânicas, guerras independentistas contra o Imperio Otomano, destacando-
se como principal potência dos Balcãs.
A Sérvia exige então ao Imperio Austro-húngaro a devolução da Bósnia. Perante esta
situação, dá-se um atentado que na altura foi visto apenas como mais um atentado,
que em nada ia interferir com a política internacional
Os acordos defensivos e secretos, como não são conhecidos, a natureza dos tratados
não é conhecida, logo não se sabe que o ataque a uma parte suscita a defesa por parte
dos aliados. O ataque a um, desconhece a defesa dos aliados
Muitos intelectuais achavam que a Guerra era a única maneira de dissipar as tensões
entre as várias potências. Era impossível prever o grau de intensidade e de perdas da
guerra
O que leva uma civilização que conhecia a paz há anos a caminhar para o caos e para o
clima bélico intenso → Uma mistura de otimismo de que a guerra podia ser
purificadora e um fatalismo que achava que era necessária uma guerra
O século XIX foi particularmente traumático para Portugal, devido à invasão francesa e
a todas as ideias a ela associadas que entraram em Portugal. Estas invasões tiveram
como principais consequências, a destruição e ocupação do país.
Martim Ghira Campos
Com as invasões francesas, a corte exila-se no Brasil e com a ausência do Rei, dominam
as ideias liberais e promulga-se uma Constituição, forçando o Rei a voltar. A
independência do Brasil é também um caso peculiar, pois é a primeira vez que um
príncipe declara um Estado independente da metrópole, sendo que Portugal se viu
mais uma vez reduzido à margem oriental.
Com a independência do Brasil, Portugal perde uma receita enorme. Em 1826 Portugal
passa a ter uma Carta Constitucional dada por D. Pedro, que reforça o poder da Coroa
O período após a guerra civil continua a ter momentos de confronto entre diversas
fações
O objetivo era que Portugal atingisse níveis competitivos a nível europeu face a outros
Estados. Este período reconhece alguma estabilidade
Nesta altura 75% da população é analfabeta, o PIB per capita é muito baixo e a
esperança media de vida são 40 anos, logo o que faz as eleições rodar é o Rei.
Os reis do final da dinastia de Bragança, são reis por temperamento liberais. Nesta
família de Bragança não existia uma vontade totalitária.
O rei D.Carlos é visto como um traidor, um fraco. Passou a imagem de um rei que não
defende os interesses nacionais, pouco patriota e que defende os ideais ingleses.
Aliada à crise política que deriva da desagregação dos partidos, surge uma crise
económica e financeira e mais tarde uma crise agrícola e moral.
D.Carlos nomeia em 1906 João Franco. Um ano depois desiste de governar de uma
maneira mais calma e moderada, e governa em ditadura sem Parlamento
Chega 1908 com a ideia de que era a última hipótese de salvar o regime. No entanto a
família real chega de Vila Viçosa e o rei é assassinado no Terreiro do Paço. É um
elemento definidor do que acontecerá a seguir, pois mataram o Rei e o príncipe
herdeiro
Este é um período belicoso no que toca a líderes políticos, pois era comum serem
assassinados
D.Manuel apanha este fim trágico. Há uma tentativa de reestruturação dos partidos,
mas não é feita grande coisa porque só durou 2 anos
O republicanismo não é uma ideia do século XX. O republicanismo português traz uma
série de promessas e uma convicção de que essas promessas são alcançáveis,
principalmente com o auxílio da ciência. O nosso republicanismo tem, do ponto de
vista teórico, uma ideia de refundador da “alma” nacional
O homem republicano aparece como o homem virtuoso. Havia a ideia de que a ciência
está do lado deste novo regime.
O republicanismo português tem uma ideia de os homens todos como um só, e tem
uma matriz do federalismo. Os republicanos viam com bons olhos uma federação
ibérica, querendo que o Estado fosse uma federação interna
Quais são os apoios, a base popular deste partido? O partido nasce na década de 70 e
é um partido que consegue afirmar-se numa franja social em que os partidos
tradicionais tinham dificuldade em fazê-lo.
O crescimento de notoriedade do partido não representa um aumento de
representação política, mantendo-se um partido com poucos deputados. Era difícil um
partido que contrariava o regime afirmar-se dentro do mesmo.
O regime é imposto um pouco contra a lógica militar, não havendo uma destruição do
outro lado, há sim um encolhimento, um deixar passar.
A fratura originaria acerca do que o regime devia ser, faz com que dentro do partido
republicano comecem a existir tensões.
O partido em 1911 tinha 229 dos 234 deputados do Parlamento
Tudo vai desembocar num golpe de estado liderado por Sidónio Pais. Sidónio Pais
(republicano) centra o poder em si, há um regresso da ordem e da disciplina. Há uma
liderança carismática, mudando a situação interna e a nível europeu
Martim Ghira Campos
Com o fim do Sidonismo os monárquicos percebem que voltaram ao ponto zero. Paiva
Couceiro tenta uma restauração de novo, mas não consegue romper os limites estritos
do Norte de Portugal, não havendo nenhum movimento que queira verdadeiramente
a restauração da monarquia. Paiva Couceiro volta a sair do país, volta mais tarde e vai
ser um critico de Salazar
Revolução Russa
Vamos tentar compreender como é possível que aquilo que Marx defendia e aplicava
em países industriais, aconteceu num país que estava longe de ser industrialmente
desenvolvido. Na sua teoria da historia que definia como cientifica, ele procurava
mostrar um socialismo científico em comparação com o socialismo meramente
utópico – Marx afirmava que a história da humanidade se baseava numa luta de
classes e que o século XIX representava a última etapa entre o proletariado e a
burguesia, sendo que uma luta iria precipitar uma crise e levaria à falência, sendo
perante esta destruição do capitalismo que se iria construir uma sociedade socialista.
Quando olhamos para a Rússia no início do século XX, temos muita dificuldade em
encontrar um país que se assemelhasse a algo do género:
• A revolução industrial não se fizera sentir da mesma forma como, por exemplo,
em Inglaterra, França ou Holanda
Apesar de tudo, o czar Nicolau II, contra a sua vontade, tentou diminuir algumas
desigualdades e deu algumas aparências de democratização. Em 1905 foi forçado a
aceitar a existência de um Parlamento, a Duma, embora com um papel bastante
limitado, sendo que a representatividade que lá se apresentava era totalmente selete,
sendo permitido a Nicolau II dissolve-la
Martim Ghira Campos
Apesar dos vários períodos de fome que o país enfrentava, o czar ainda recebia algum
apoio do campesinato e as Forças Armadas eram leais ao czar, portanto, apesar da
falta de industrialização, o czar acreditou que era possível continuar a governar sem
mudanças significativas (uma espécie de ilusão em regimes que são incapazes de se
reformular)
Neste caso, evitar reformas é o caminho mais imediato para se ter uma revolução,
sendo exatamente isso que aconteceu. Existiam 3 grupos de oposição:
• Revolucionários socialistas
Talvez a Rússia não fosse o melhor palco para uma revolução socialista de larga
escala, porém os revolucionários socialistas tinham uma visão ligeiramente
distinta, porque admitiam que a força poderia não estar no proletariado, mas
que devido ao tecido económico da Rússia, o campesinato seria o proletariado
em países como a Rússia
• Social-democratas
• Sofreu perdas desastrosas que abalaram uma nação inteira, uma vez que era
um exército quantitativamente preparado (6 milhões de soldados), mas
Martim Ghira Campos
• Devido aos desastres consecutivos nas batalhas, em 1915 o czar toma a decisão
arrojada e desastrosa de se nomear a si mesmo Comando Efetivo das Forças
Armadas. No século XVIII este ato não seria excecional, mas no século XX o
nível de especialização militar já era muito diferente, sendo que o czar não era
a melhor opção para as Forças Armadas, para não falar no facto de que todas
as consequências seriam diretamente associadas a ele
O czar vai ser obrigado a abdicar, colchoando o ponto final na dinastia que
durava há três séculos.
A tarefa não era fácil, porque a Rússia era um país destroçado, em que as ordens
centrais do poder politico eram questionadas diretamente pelos sovietes, sendo neste
contexto que em Abril de 1917 Lenine regressa do exílio para uma primeira tentativa
de conquistar o poder, mas o governo provisório resiste às investidas bolcheviques e
Kerensky consegue evitar a queda do governo provisório, ordenando a prisão dos
principais líderes bolcheviques. Lenine volta para o exílio na Finlândia, mas já com a
ideia de que a oportunidade bolchevique estava perto.
Com Lenine vamos ter um regime ditatorial com o objetivo de proteger a rua
revolução, tendo técnicas próprias:
A Rússia vai ser um país de regime com partido único, partido esse que estava
preparado para a longa Guerra Civil que se iria revelar tão traumática como a IGM,
com a agravante de que desta vez era dentro de portas.
Em 1922 Lenine sai vitorioso dessa guerra civil e em 1924 nasce formalmente a URSS
Com a morte de Lenine em 1924, tratou-se de saber quem seria o seu sucessor e ao
que tudo indica o seu desejo era Trotsky, devido à sua estratégia, inteligência e
coragem, enquanto que Estaline queria gerir o status quo sem a preocupação com o
internacionalismo.
Martim Ghira Campos
Ao longo da década de XX, Estaline vai começar com as purgas e com o afastamento
dos bolcheviques. A partir de 1934 começa um período de purgas que obedeciam ao
mesmo padrão → denuncia de alguém que se preparava para um golpe de estado e o
fim era a sua execução. Essas purgas eram maioritariamente acompanhadas por
julgamentos públicos e quase todos os bolcheviques acabavam por ser presos ou
executados
28 de Maio de 1926
Não foi bem isso que aconteceu, muito pelo contrário, assim como a monarquia não
teve muitos apoiantes, também a 1ª República termina sem grande apoio
Por um lado, temos o almirante Cabeçadas que era republicano maçom e tinha
participado no 5 de outubro. Numa primeira fase é ele que aparece como o chefe
deste movimento, talvez por estar em lisboa facilitava ser um interlocutor mais
imediato com o poder
Mendes Cabeçadas era quem estava na frente e diz a Bernardino Machado para
demitir o governo, de maneira a nomear pessoas certas para a defesa da pátria e para
as funções
Na primeira fase há uma tensão entre Mendes Cabeçadas e Gomes da Costa. Ambos
integraram o primeiro governo liderado por Mendes Cabeçadas, mas em Julho a tropa
em Sacavém diz que Mendes Cabeçadas era demasiado conotado com o Antigo
Regime e que não é suficientemente envolvido nesta revolução nacional para assumir
o controlo do movimento, deixando o lugar para Gomes da Costa
O general Carmona era o menos bélico dos três, de estado maior, secretaria, mas teve
um fator da carreira que o permitiu ter grandes apoios → passou por quase todos os
serviços do exército, portanto conhecia grande parte das lideranças militares
Também Carmona apoiou Sidónio Pais e no julgamento à noite sangrenta, ele foi o
promotor de justiça, alguém que procurou castigar os excessos da República
Martim Ghira Campos
Foi fugazmente Ministro dos Negócios Estrangeiros e nesse período consegue ver a
ditadura reconhecida internacionalmente e acaba por ascender à liderança do governo
e durante um tempo acumular essa liderança com a chefia do Estado
Temos três homens e três tendências cujo principal objetivo era negativo, derrubar o
Estado
A ditadura não solucionou tudo de um momento para outro e podia ter acabado como
todos os outros governos. Houve inúmeras tentativas de golpes de estado à esquerda
e à direita, houve instabilidade, houve confrontos. Há um regime que continua a
deteriorar-se
Nesta altura surge uma outra visão defendida por um professor universitário de Viseu,
sendo que escreveu críticas ás políticas que iam ser seguidas. Foi convidado para
ministro das Finanças em 1926, mas como não lhe deram total poder para fazer o que
queria, ficou apenas duas semanas → Salazar
Salazar na tomada de posse em 1927 → “(...) que o país estude, represente, reclame,
discuta, mas que obedeça quando se chegar à altura de mandar”
Tinha uma visão clara do que queria fazer com as finanças e com a economia
portuguesa
Salazar quer direito de veto relativamente as riquezas dos ministérios, quer controlo
das finanças e das despesas, quer mais impostos. No fundo quer impor a austeridade
Martim Ghira Campos
ao pais e que o pais com a sua própria força (dobrado sobre si próprio), encontre as
soluções económicas e financeiras para sair do problema, sem contrair empréstimos
externos
Salazar tinha uma aversão ao parlamentarismo (apesar de ter sido deputado), sendo
que o regime que ele queria para Portugal não seria um regime herdeiro da 1ª
República
Este primeiro período é um período em que o papel de Carmona como árbitro é muito
importante, sendo ele quem muitas vezes segura Salazar.
Há uma diarquia entre Salazar e Carmona. Carmona é quem faz com que o exército se
mantenha leal e do lado do regime, impedindo revoltas. Salazar respeitava muito
Carmona, pois era quem dependia menos dele
Este regime que se vai institucionalizando não rompe com os símbolos anteriores
(bandeira, hino). Há um republicanismo conservador que vai fazendo o seu caminho
O Estado Novo (como se passa a chamar o regime a partir de 1933) que tem Salazar
como presidente do conselho de ministros e carmona na presidência da República,
assenta numa constituição que tem influências lusitanas, da doutrina social da igreja,
do corporativismo italiano, da constituição de Weimar (influencia importante porque
era considerada o presidencialismo do chanceler, acontecendo que o regime assentou
no presidencialismo do presidente do conselho de ministros)
É criado um movimento que na prática seria um partido único, mas que tem nos seus
estatutos de que expressamente não é um partido, havendo uma rejeição do
partidarismo e, portanto, a ação política tinha que se subordinar à ação governativa e
ao bem comum (esta ideia de bem comum é tirada da doutrina social da igreja)
Era um regime que procurava a vida habitual. A perseguição política não era
direcionada ao povo (a toda a gente) com o objetivo de instaurar um clima de terror
ao estilo bolchevique ou nazi, mas aqueles que estavam prontos a derrubar o regime e
que tinham essa ambição
A diarquia inicial entre Salazar e Carmona acaba por redundar num presidencialismo
de chanceler, á medida que Salazar vai concentrando mais poder, sendo a fonte e a
chave do ponto de equilíbrio do regime
Parte dos conservadores republicanos transitam para este regime, sendo que os
conselheiros de Salazar tinham sido políticos na 1ª República. Não há um corte como
se deu entre a Monarquia Constitucional e a 1ª República, por exemplo, os oficiais que
fazem o 28 de Maio eram na sua maioria republicanos
O regime promoveu o turismo, defendeu a agricultura (Salazar tinha uma visão rural
do país, colocando-a em primeiro lugar, sem nunca abandonar a industria), a paz social
que lhe permitiu a expansão económica, sempre tendo como prioridade o equilíbrio
orçamental (primeiro o equilíbrio de orçamento e depois o fomento económico)
Apesar de ser um jurista ligado à economia, Salazar é um pragmático que tem por base
o equilíbrio financeiro e o fomento económico (ambos os conceitos têm por base
privilegiar as capacidades internas do país – ideia de nacionalismo económico, de
salvaguardar a independência e identidade do país)
Este regime não era um regime liberal nem apostado em abrir as portas a todos os
investimentos, pelo contrário, havia um condicionamento industrial.
Para quem viveu os anos da 1ª República, havia uma diferença abissal no modo de
vida, ao perceber que há uma outra estabilidade e ordem.
As pessoas, saídas da 1ª República, veem que existe uma nova estabilidade, mas com
um novo custo
Salazar nega o totalitarismo como via, defende que o estado não deve ser totalitário,
no entanto, a repressão existe, existe tortura, prisões, violência, mas com uma
diferença de grau (não a torna melhor por causa desta diferença de grau, mas o
impacto na população é diferente)
Na fase inicial este regime goza de um amplo apoio, um sinal desse apoio é por
exemplo o Cristo Rei, assinalando a gratidão de Portugal não ter entrado na IIGM,
mantendo-se fora do conflito enquanto a Europa estava toda em guerra.
Martim Ghira Campos
O regime vai-se tornando cada vez menos um Estado Novo e cada vez mais um
salazarismo, precisamente pelo seu tipo peculiar de autoritarismo, pelas suas
diferenças do autoritarismo puro, não deixando, no entanto, de o ser
É um regime que se afirma internacionalmente, que não interveio nas guerras e que
consegue uma estabilidade relativa. Esta estabilidade também é feita à custa de um
desnível da qualidade de vida entre as zonas rurais e as zonas urbanas.
A censura prévia das liberdades cívicas fazia parte do dia-a-dia, havendo uma ideia de
sobrepor interesses de fações ao interesse nacional - “Saúde e fraternidade” da 1ª
República, foi substituído para “a bem da nação”, mostrando o foco no nacionalismo e
na especificidade portuguesa
Havia a ideia de que Portugal deverá encontrar em si, dentro de si e dobrado sobre si,
a solução para os seus problemas, havendo uma prioridade nacional. Esta visão choca
com realidades como o investimento estrangeiro.
Salazar foi indispensável e fez o seu trabalho de uma maneira diferente das que eram
normais na época. Salazar tem influências de fascismo italiano, e apesar das
parecenças formais do regime com outros autoritarismos, havia grandes distinções,
sendo que o regime de Salazar se estruturava de maneira diferente
A IGM representou a maior carnificina militar que a humanidade tinha conhecido até
então. Ainda não presenciamos a catástrofe da IIGM, onde vai haver um número
enorme de mortes de civis. Na IGM os civis foram razoavelmente poupados, o
contingente militar na frente de guerra é que não foram poupados.
A IGM destruiu toda uma geração, dizimou jovens, consumiu uma geração
Martim Ghira Campos
Na IGM, a Alemanha perdeu a guerra de uma forma clara, mas a população alemã não
sentiu isso, porque entre 14-18, não houve nenhum soldado inimigo que tenha
entrado no território alemão
O território alemão ficou intacto, por isso os soldados alemães, ao regressar da frente
de batalha depois de assinar o armistício, foram recebidos como heróis.
A Alemanha foi atraiçoada pelas suas elites políticas, elites estas da altura da república
de Weimar que eram de esquerda alemã
A Alemanha estava perdida, devido ao colapso dos seus principais aliados (Império
Austro-húngaro e Império Otomano), ia, portanto, render-se numa questão de poucos
dias. Faltava saber se ia capitular-se dentro ou fora das suas fronteiras
À medida que a derrota se torna clara, surgem os motins de soldados alemães que se
recusam a combater pelo kaiser, as perdas humanas sobem a pique nos últimos meses
de guerra, o governo de Weimar chega a conclusão que não é possível continuar a
combater, pois isso significaria:
• Quer a Grã-Bretanha quer a frança achavam que havia riscos numa invasão
terrestre da Alemanha. Havia dois problemas → os aliados lutavam desde
1914, ao contrário dos americanos que entraram apenas em 1917, por isso
para as opiniões públicas da França e da Grã-Bretanha, continuar na guerra
significava um preço material e humano muito alto. Em segundo lugar, quando
se assinasse um armistício mais tarde, as clausulas do acordo seriam mais
vantajosas aos EUA e não aos aliados
1- Evacuar todos os territórios que tinham ocupado desde 1870 (incluindo alsácia-
lorena)
2- Era necessário instalar bases militares do lado alemão do rio reno. O raciocínio
de Foch era: se a Alemanha não cumprisse com o que estava dito no armistício,
estaria facilitada a invasão terrestre do território alemão.
3- Deixar o terreno e entregar os equipamentos de guerra com os quais estava a
combater
4- Relacionado com a corrida ao armamento pré 1914 que despertou nas outras
nações o desejo de participar também na corrida ao armamento (Dilema de
Segurança). As armas devem servir para garantir a segurança interna e não
para guerrear em conflitos como a guerra de 1914
5- Ideia de que a autodeterminação dos povos era a pedra de toque das novas
relações internacionais, significando o estabelecimento do novo sistema de
mandatos (ideia de que as potências (principalmente França e Grã-Bretanha)
devem ajudar os vários territórios que se emanciparam dos grandes impérios
que desapareceram com a IGM, para conseguirem desenvolver os seus
governos e caminhar por si só). Wilson defende o fim do sistema colonialista
Martim Ghira Campos
que tinha vigorado, sendo que a França e Grã-Bretanha viram aqui uma ameaça
à estabilidade dos seus impérios
6- Era preciso que a Rússia fosse tratada como uma aberração no concerto das
nações, uma nação fora do processo, devido ao seu passado. Cordão sanitário
para a Rússia, mas os territórios não podem ser devolvidos a Rússia, seriam
entregues a uma futura liga das nações para novos povos
13- A Polónia devia ter acesso ao mar, mas isso era um corredor que rasgava o
território alemão. Hitler vai ver aqui um apoio teórico. A Polónia vai ter muito
mais do que aquilo que os peace makers desejavam, anexando território que
não lhe foi atribuído pelo Tratado de Versalhes e vai criar muitas inimizades
O tratado é assinado em Versalhes na sala dos espelhos porque tinha sido lá que os
franceses tinham assinado a rendição depois da guerra de 1871. A delegação alemã
ficou no hotel onde a delegação francesa ficou quando foi assinar a rendição. Isto
prova que os povos não esquecem o passado, o ódio.
Martim Ghira Campos
O que se tornou o objeto de discussão, polémica, e que vai ter uma importância
decisiva na história da europa e da Alemanha → Tratado de Versalhes
1) Perda dos territórios coloniais fora do continente europeu. Uma das causas da
guerra está nas corridas coloniais (disputas de Marrocos, etc). A Alemanha
perde os territórios coloniais fora da europa (Africa), ficando sob domínio dos
aliados ate que conseguissem suportar-se sozinhos.
2) Devolução da Alsácia-Lorena
Isto tudo significa que 13% do território alemão deixa de pertencer à Alemanha
Grande parte vai ser recuperado por Hitler assim que chegar ao poder, quebrando as
imposições de Versalhes
Martim Ghira Campos
Em termos militares?
5) Proibição de submarinos
6) Renânia desmilitarizada
Em termos Financeiros?
• O Sarre ficou sob soberania alemã, mas a França tinha o direito da exploração
do carvão, mesmo que esta região fosse administrada pela Liga das Nações.
Os alemães achavam que Versalhes não era um tratado de paz, eram imposições dos
aliados à Alemanha. A Alemanha e os aliados tinham de reconhecer a culpa da
Alemanha pelo começo da guerra, algo intolerável para a Alemanha do ponto de vista
da honra da nação. Para os alemães, 1914 não era pintado como pintavam os aliados,
para eles a Rússia é que apoiou a Sérvia ao que levou a uma resposta alemã para
apoiar o Império Austro-Húngaro. Existe uma parte de verdade nesta afirmação da
Alemanha → a guerra começou com um assassinato em território Austro-Húngaro e a
Martim Ghira Campos
declaração de guerra partiu de um aliado alemão, e os termos que são impostos aos
territórios que da desintegração do império Austro-Húngaro também são muito
danosos
O tratado de Versalhes não sinaliza apenas a Alemanha, mas também os seus aliados,
sendo que com os mesmos, os tratados assinados, também vão ser punitivos
A Alemanha esquecia-se de um ponto, por muito violentos que os termos sejam, são
menos punitivos que os tratados que a Alemanha impôs à França em 1871 e à União
Soviética (tirou à Rússia, a Polonia, Ucrânia, Bielorrússia. A Rússia perdeu 1/3 da sua
terra fértil, metade da sua capacidade industrial e 90% da sua capacidade de produção
de carvão com o tratado de Brest-Litovsk) → Ponto de defesa dos aliados
Esta assinatura vai valer muito pouco e iremos ver como o Tratado de Versalhes se
começa a desfazer logo a partir de 1919
Como é que a Alemanha foi conduzida a uma ditadura que acabou por arrasar com a
Europa?
Grã-Bretanha → a população achava que o tratado de Versalhes tinha sido justo, mas
não suficientemente punitivo/duro. Se o grande problema era continuar a ser a
potência naval dominante na europa, agora estava ainda mais direcionada para isso,
ainda por cima a indústria alemã estava a produzir para a Grã-Bretanha.
• Havia 2 problemas:
o O caderno de encargos que a Alemanha tinha de pagar significava que a
Grã-Bretanha perdia um dos seus principais parceiros comerciais
Caminho preferencial dado por Keynes → cancelamento das dividas entre os diversos
participantes (Aliados, Alemanha), de modo a que as engrenagens económicas
mundiais voltassem ao normal. Com a reconstrução económica da Europa, todos
saíam a ganhar, não só a nível económico, mas também a nível político e social, a
Alemanha por exemplo deixava de alimentar os extremismos de esquerda e direita
que eram o dia-a-dia da república de Weimar
Isto não aconteceu e leva à demissão de Keynes ainda durante a conferência de Paz,
porque acha que o seu papel é meramente decorativo.
O general Ferdinand Foch entendia que a Alemanha tinha sido humilhada para
lá do limite e que o Tratado de Versalhes seria humanamente impossível de
monitorizar (saber se os termos eram respeitados). Na opinião dele, mesmo
que os Aliados percebessem que os termos não estavam a ser respeitados pela
Alemanha, o que iriam fazer? Uma nova guerra?
Havia um bloco a favor do tratado, mas havia dois blocos do senado contra a
participação dos EUA na liga das nações:
A Alemanha foi apunhalada nas costas pelos Criminosos de Novembro (aqueles que
assinaram o armistício em novembro de 1918 e que abriram caminho à assinatura do
tratado de Versalhes)
Face a isto surge uma ameaça direta de guerra contra os Aliados, não se
verificando a capacidade da Liga das Nações para diminuir o conflito, nem uma
resposta por parte dos Aliados
Lausanne → A Turquia pode recrutar os efetivos que entender para garantir a sua
segurança, volta a ter a total autoridade dos dois estreitos, o território da Grécia volta
todo para a Turquia embora a Grécia possa manter algumas partes pouco
significativas, os aliados têm de sair do território turco não podendo haver nenhuma
base aliada.
Em 1923 vê-se a incapacidade da liga das nações e dos aliados de cumprir o que fica
estipulado. O mundo percebeu que era possível alterar tratados sem nenhuma
consequência. O Tratado de Sèvres, ao ser rasgado pelas próprias potências que o
Martim Ghira Campos
Para além disso, a Polónia é um caso importante, porque no tratado de Versalhes, para
compensar a Polónia, desenha-se um corredor polaco que divide a Alemanha em duas
partes (para esta ter acesso ao mar), significando que uma parte da Alemanha era
governada por polacos e que a Alemanha não estava unida (a Alemanha via-se
obrigada a lutar em duas frentes porque este corredor polaco dividia o país em duas
partes)
A partir de 1919 a Polónia leva a cabo ações de captura de território que pertencia à
Rússia bolchevique, até que em 1920, a Rússia e a Polonia estão em guerra.
Mais uma vez a liga das nações não estava presente, sendo que se fez um envio de
tropas aliadas para a Polónia sob o mando francês com a ideia de repelir as forças
russas, conquistar território e só depois assinar um tratado.
Acaba por ser o Tratado de Riga (1921) → significa que mais uma vez ninguém ligava a
liga das nações, violava a ideia de Wilson contra a anexação de territórios, significa que
a Polónia se tornou um território maior mas a partir de 1920/21 a Polónia sabe que
tem dois inimigos brutais: Alemanha de Hitler que nunca vai perdoar o corredor polaco
e a URSS assim que terminassem a sua guerra civil. Quando Hitler e Estaline assinam o
Pacto Molotov-Ribbentrop em 1939, significava a divisão da Polónia entre a URSS e a
Alemanha, que não esqueciam de 1919/1920/1921
Desafios da república de Weimar → a nação alemã era uma nação de fome, que não
possuía os cuidados básicos de saúde proporcionado pela IIGM. As autoridades não
tinham muita autoridade em algumas cidades alemãs, que se denominavam sovietes.
É por isto que Ebert toma a iniciativa de combater rebeliões de direita e esquerda.
À direita → o Golpe de Estado de Kapp, situação de 1920 que consistia em duas fases:
1- Kapp, com o apoio do Freikorps, tenta controlar a cidade de (?)
2- Controlar todo o território alemão para repudiar a república de Weimar e a
constituição
A ideia de Kapp era, assim que possível, restituir a monarquia, representando a parte
fiel ao kaiser.
Este golpe falha, mas é um aviso da extrema direita
Num espaço de três anos, havia imensa instabilidade política e social, com inúmeros
assassinatos políticos. Para juntar a este quadro, desde 1919 a Alemanha nunca mais
viveu em paz.
Em 1923 dá-se a salvação da Alemanha, que até então era nada, com um dos nomes
mais importantes da república de Weimar → Gustav Stresemann
Reinava Afonso XIII que resolve abandonar o país a 12 de Abril 1931 de modo a evitar
uma guerra sangrenta, sem ter abdicado formalmente.
Martim Ghira Campos
É criado um governo provisório que tem na frente Niceto Alcalá-Zamora, que tinha
uma visão conservadora da república, burguesa, assente nas classes médias e nos
intelectuais. Tentou que o conteúdo da nova república fosse moderado
Esta Espanha é uma Espanha atingida pela recessão mundial de 1929, com aumento
do desemprego, com episódios de fome, 45% da população vive da agricultura, os
preços agrícolas estão em queda e há constante violência nas zonas rurais
Em Mais há episódios de queima de conventos e igrejas. Apesar da tentativa do
presidente do governo provisório de o tornar um governo moderado, havia uma fação
jacobinizante, levando a uma reação de medo
Há uma luta entre moderados e radicais quanto ao modo como esta república vai ser
formatada
Apesar de todo o temor da direita face a este novo regime, há uma divisão inicial entre
dois campos:
• Os catastrofistas → achavam que o que era importante era acabar com este
novo regime e restaurar a antiga ordem. O movimento dos Carlistas,
equivalente espanhol ao Miguelismo, que defendiam outro ramo da dinastia de
Bourbon; a Renovação Espanhola que são os que defendem Afonso XIII; e
grupos fascizantes que olham para Itália e Alemanha e tiram inspiração (Junta
de ofensiva Nacional Sindicalista). Estes três movimentos fundem-se no
movimento Falange Espanhola, liderada por José António Primo de Rivera
Os catastrofistas querem derrubar o regime, porque achavam que nada do que viesse
era bom
Martim Ghira Campos
Da constituição resulta um sistema eleitoral que tinha tudo para dar asneira, porque
era natural baseado na república de Weimar, beneficiando brutalmente os partidos
mais votados. Acontecia que bastava uma maioria pequena de votos para que no
Parlamento a diferença de mandatos fosse enorme
Quer de um lado que do outro, a violência nas ruas, contra as igrejas e conventos,
contra partidos de esquerda, operários, nunca parou. Nunca houve uma completa
estabilidade deste regime.
A constituição é adotada a 9 de Novembro, era laica, democrática, liberal, mas com um
anticlericalismo muito acentuado
Há uma questão religiosa que a nova república quer diminuir drasticamente. Quer
diminuir o poder da Igreja Católica, nacionalizando os bens da mesma, dissolvendo
ordens como os Jesuítas, secularizando os cemitérios, implementando a lei do divórcio
Está criado um clima de hostilidade em relação á igreja católica e em relação aos
grandes proprietários
Há ainda a questão agrária do desemprego rural, uma questão sindical (os sindicatos
tinham pouco poder). Promulga-se uma lei de reforma agrária e persiste a reforma
militar de Manuel Azaña
Face ao caráter anticlerical do novo regime, o Papa faz uma condenação explicita do
espírito anticristão do regime espanhol → Não é que se deva defender a monarquia, o
que estava em causa era o ataque permanente que a Igreja sofria.
Este segundo biénio é considerado pela esquerda o biénio negro, porque tenta
retificar o biénio anterior. O partido mais votado não era quem constituía governo,
sendo convidado para liderar o governo o partido republicano radical, que apesar do
nome acabou por ser centrista e moderado.
Houve uma tentativa de parar algumas propostas progressistas do antigo biénio. A
ideia não é fazer tudo ao contrário, é sim dar margem à república para acolher a
direita acidentalista.
Partidos:
Dentro do PSOE há uma fação mais moderada e uma fação mais radical (fala muitas
vezes da ditadura do proletariado, fala muito de Lenine, aproxima-se de um
esquerdismo mais radical)
O PSOE vive numa tensão dentro de si, devido a estas duas fações
Este período mais tenso leva a eleições gerais em 1936, a esquerda concorre unida e
volta a ganhar. São eleições contestadas pela direita, pode ter havido fraude, mas não
havia mecanismos para verificar a veracidade das eleições
Manuel Azaña volta a ser PM. Assim que toma posse põe os generais mais
conservadores nas periferias, amnistia os revoltosos do Outubro Vermelho soltando
muitos presos, tendo como consequência um aumento do clima de preocupação.
A violência não para e aumenta a uma velocidade incrível, traduzindo-se nos debates
parlamentares. Havia “mortes, saque, destruição”
Já desde Março de 1936 que havia um conjunto de generais que conspiravam para
restaurar a ordem na república.
Temos um Movimento com Sanjurjo como líder, mas como se faz a guerra contra um
regime que tem as Forças Armadas (monopólio da violência)? Implica organização e
capacidade de insurreição de unidades militares
Participantes: Mola (cérebro da operação), Franco, Fanjul, Goded, José António Primo
da Rivera (preso e fuzilado)
Franco viaja para Marrocos, põe-se à frente do exército marroquino espanhol, mas
havia o problema de passar o exército para o sul de Espanha. A Marinha estava
maioritariamente do lado da república, por isso era preciso uma ajuda. A ajuda chegou
dos Alemães e dos Italianos
Sanjurjo apanha um avião de um amigo para chegar mais rápido e o avião cai
Durante a Guerra, Franco tem decisões estranhas, por exemplo, em 1936 Madrid
estava à mão de semear, mas Franco decide ir a Toledo porque havia um contingente
nacionalista cercado. Este atraso fez com que Franco tivesse mais tempo para
consolidar o seu poder pessoal
A república, face ao ataque a Madrid, muda a capital para Valência e depois para
Barcelona. Mais tarde acaba por reconhecer a derrota
Martim Ghira Campos
O exército vermelho perdeu a força, a guerra acaba e o novo regime tem o nome de El
Nuevo Estado
Na altura, o regime procurou dignificar o seu lado (ficar como o bom da fita), mas com
o tempo a historiografia é equilibrada
A Espanha democrática que há hoje em dia foi uma transição, uma vez que o regime
Franquista votou a sua dissolução, não sendo preciso uma revolução
b. Fez uma afirmação de que a Alemanha não seria mais um problema das
negociações no centro da Europa, ou seja, não perturbaria as relações
no seio da Europa
Plano Dawes:
Martim Ghira Campos
4) Por fim, o montante a pagar foi reduzido a 1/3 relativamente ao que tinha sido
determinado pelo Tratado de Versalhes.
Ciclo vicioso de pagamentos → este modelo funciona muito bem enquanto tudo
funciona muito bem. Basta um dos membros não ter capacidade de empréstimo para
que o ciclo colapse completamente, sendo que estão todos dependentes de todos.
Se uma economia entra em colapso, as outras consequentemente também vão
caminhar no mesmo caminho.
O ciclo de pagamentos assenta num pensamento otimista de que tudo vai correr bem.
No entanto, os dois Crashs da Bolsa de Nova Iorque vão colocar em causa este ciclo
perfeito, em que o dinheiro circula para contentamento de todos os participantes. O
que acontece a partir de 1929 é que os EUA desaparecem do ciclo, ou seja, com o sair
do grande financiador mundial, é evidente que as economias europeias (a começar
pela Alemã, Francesa e Britânica) vão também entrar em colapso.
Não há uma explicação uniforme para o que se passou, não se sabe quem é o
verdadeiro responsável, há várias opiniões acerca de Roosevelt, sendo que há quem
defenda que a IIGM é que salvou verdadeiramente a economia americana.
Martim Ghira Campos
Entre 1890 até à IGM, os EUA emergiram como a mais importante economia mundial,
devido ao papel que os EUA tiveram na 2ª Revolução Industrial, igual ao papel que a
Grã-Bretanha teve na 1ª.
Nesta 2ª Revolução não falamos de carvão, ferro, etc., falamos sim de grandes
desenvolvimentos na engenharia, no petróleo, nos químicos, na eletricidade, nos
produtos farmacêuticos, nas novas formas de comunicação (telégrafo, telefone, rádio).
A indústria americana era pojante, sendo que em 1890 a agricultura americana não
acompanhava os progressos da indústria. Verifica-se uma queda acentuada dos preços
agrícolas, uma limitação do crédito, uma grande dependência do caminho de ferro e
dos bancos, uma grande preocupação com a mão de obra barata causada pelas
grandes vagas de emigração que chegavam aos EUA.
Com a IGM, que foi uma espécie de tónico que acabou por levar à prosperidade da
economia americana, os EUA tornam-se a economia dominante no mundo. Nesta
altura (início da década de 20) os americanos passam a ter um padrão de vida
elevadíssimo. Havia um desejo de consumir, de conforto material e de acesso aos
novos produtos e novidades tecnológicas.
O que se passou? No final da década de 20, a compra de ações estava fora de controlo,
os preços tinham duplicado entre 1926 e 1929, sendo que o valor das ações cresceu
muito mais em relação ao que a economia valia efetivamente. Além disso, muitas
ações eram compradas com empréstimos que cobriam até 75% do seu valor. Comprar
e vender ações era um passatempo para todos, era uma prática corrente.
Em setembro dá-se uma queda abrupta do valor das ações, sendo um primeiro sinal,
mas não gerou grande pânico. No dia 24 de Outubro (Black Thursday) e a 29 de
Outubro (Black Tuesday), o valor das ações caiu em 26 mil milhões de dólares. Esta
derrocada financeira não tem uma explicação certa.
Do ponto de vista bancário, a grande depressão liquidou mais de 5500 bancos. Isto
explica-se pela incapacidade dos clientes de fazerem os seus pagamentos e da Europa
de honrar os seus compromissos bancários. As fontes tradicionais de rendimento dos
bancos (depósitos e concessão de empréstimos) também entram em colapso.
Martim Ghira Campos
Herbert Hoover foi muito importante na IGM e na forma comos os EUA acorreram às
situações de fome e miséria da população russa em 1917. Esteve à frente dos esforços
de recuperação económica e de salvamento nas grandes cheias do Mississípi. Se havia
alguém preparado para enfrentar as consequências de uma depressão, esse alguém
era Hoover. Atualmente, foi considerado incapaz de lidar com a depressão e deixou
termos de críticas como os Hoover Blankets ou a Hooverville.
Perante isto, quais foram as respostas a nível federal que foram encontradas para
estancar os efeitos da Grande Depressão:
3) (?)
Baviera. Foi a primeira aparição de Hitler, onde o mesmo foi preso e acusado de
traição, sendo assim que o golpe uma conotação importante na história da Europa e
da Alemanha.
O Mein Kampf funciona como uma espécie de blueprint onde as ideias centrais de
Hitler são expostas e estão já contidas.
Concessão rácica da humanidade → Afirma claramente que os Arianos são uma raça
superior e nesse sentido, qualquer política de Estado deve passar pela preservação da
pureza da raça. Na cabeça de Hitler, a diferença entre a colonização da América do
Norte e da América do Sul, está no facto de a América do Norte ter preservado os
emigrantes originários e a sua raça, evitando a mistura com a população nativa, não
corrompendo a sua raça. Isto é um aviso feito no Mein Kampf, acerca do que o partido
nazi iria fazer assim que chegasse ao poder, por exemplo através de um conjunto de
leis de Estado, onde se proíbe o casamento entre Arianos e não Arianos (sobretudo
Judeus).
Tem a ideia de que as raças impuras (principalmente Judeus) fazem de tudo para
minar os fundamentos raciais puros. Corrompe mulheres, meninas e até o sangue
através do casamento com arianos. Para ele a corrupção da raça ariana por parte das
raças impuras, não é meramente pessoal, é sim uma procura de obedecer a um plano
desenhado para conquistar e manipular a sociedade. Este património antissemita é
recuperado de documentos e ideologias já existentes, como por exemplo:
Até aqui há dois elementos presentes no Mein Kampf → afirmação da raça ariana
como superior e a demonização dos judeus
Para além desses, existe a definição do Estado racista → uma defesa da ditadura, como
forma de fortalecer a Alemanha depois das injustiças de 1919. Nesta defesa do Estado
Ditatorial, um dos elementos a destruir é, sem grande surpresa, o próprio Parlamento.
O Estado racista/ditatorial, não tem um corpo de representantes que possam resolver
através da maioria de votos. O que está aqui em causa é a destruição da democracia
representativa pelo estabelecimento de uma estrutura de poder vertical, na qual no
topo está o Führer e a quem todos devem a sua obediência.
Os inimigos da Alemanha não são apenas a França, os Judeus como corpo interior, são
também os Comunistas (para Hitler, judeus e comunistas é como se fossem entidades
indistinguíveis, quase a mesma coisa). Para ele, a Rússia Comunista é dominada por
Judeus, e os judeus com a sua mensagem internacionalista, mais cedo ou mais tarde
vão tentar fazer o mesmo com a Alemanha.
Por outro lado, afirma que a exiguidade do território alemão não pode continuar (é
provado que a fação nazi, uma vez no poder, não ia respeitar os pontos do Tratado de
Versalhes, pois defendem que a Alemanha não pode viver confinada a um espaço tão
exíguo).
Aquilo que é realmente importante depois do golpe falhado de 1923, não é apenas a
oportunidade que Hitler teve de por em “ordem” as suas ideias, mas é essencialmente
o facto de Hitler ter percebido que a chegada ao poder dar-se-á por via democrática.
Não valia a pena subverter o Estado e o caminho passava pela realização de eleições.
Até 1929 o partido nazi vai participar nas várias eleições, sendo que os resultados
obtidos são irrelevantes. Se o partido nazi se tivesse dissolvido em 1929, dificilmente a
Martim Ghira Campos
História tinha sido a que foi e as ideias de Hitler eram só um pequeno retrato de ideias,
lidas por curiosos.
O problema é que 1929 é o ano do grande Crash, sendo que a Grande Depressão tem
um efeito devastador na Alemanha. O Crash de Wallstreet rapidamente se alastra na
Europa, levando à queda do comércio mundial e aumento do desemprego, pelo que a
Alemanha é atingida duramente pela Grande Depressão. Em parte, pela fragilidade
económica que já era parte da República de Weimar, mas também porque começou a
ser exigido o pagamento dos empréstimos dos EUA desde 1924. Isto leva a que a
República de Weimar deixe de poder honrar os seus compromissos, levando a um
crescimento assustador do desemprego dentro da Alemanha e sobretudo ao
crescimento espetacular dos partidos extremistas do sistema (comunista e nacional-
socialista).
A diferença estava na composição dos eleitorados dos dois partidos → quem vota do
partido comunista é o proletariado, os nazis eram apoiados pelos pequenos
comerciantes, para os trabalhadores desempregados e pela elite intelectual alemã,
universidades, classe letrada. Hitler antes de conquistar o Estado, começa por
conquistar os estudantes.
O clima é então aproveitado pelo partido nazi e sobretudo aproveitado para iniciar um
conjunto de ações de terrorismo contra os potenciais adversários do partido nazi.
Surgem então as SA (camisas castanhas), uma milícia privada do partido nacional-
socialista, para ameaçar opositores políticos, cultivar uma atmosfera de caos.
Perante este clima de caos, encontramos a ascensão do partido nazi, entre 1928 e
1933. Um pequeno partido torna-se o partido mais votado da Alemanha
Como é que se explica a subida de Hitler ao poder? Como é que se vai estender a
passadeira para que Hitler possa chegar a líder do governo?
A verdade é que de facto Hitler parecia limitado → os nazis não tinham maioria
parlamentar, só havia 3 membros do partido nazi no governo, o partido comunista era
uma força importante e expressiva.
Então como é que a partir de Janeiro de 1933, com todas estas condicionantes,
Hitler, num espaço de 18 meses, destrói a República de Weimar e se torna ditador da
Alemanha?
• Um dos acontecimentos que vai explicar essa espécie de fatalidade, dá-se logo
em Fevereiro de 1933, com o famoso incêndio do Reichstag. O Reichstag é o
edifício que alberga o Parlamento Alemão. Hitler responsabiliza o partido
comunista pelo incêndio e de terrorismo, convocando eleições para Março de
1933, porque entendia que num contexto de medo e de ameaça comunista,
era possível haver uma espécie de consagração democrática oficial do partido
nacional-socialista. Pretendia, com novas eleições, ter o partido nazi não
apenas como mais votado (pois já era), mas capaz de congregar a maioria do
parlamento. Para além disso, visava formar um Governo sem limitações
impostas pelo Presidente.
Há eleições, mas, mais uma vez, não é concedida uma maioria absoluta ao
partido nazi.
• Mas Hitler não fica por aqui. Vai imediatamente neutralizar os opositores
políticos, acabando por banir todos os partidos políticos, incluindo os partidos
que lhe possibilitaram a formação de uma maioria.
o Proíbe os sindicatos
Uma vez eliminada a oposição externa e interna, Hitler assume-se como senhor
absoluto da Alemanha e a Alemanha passa a ser um Estado Ditatorial, significando que
é um Estado submetido ao líder, em que existem campos de concentração para
opositores políticos sem julgamento prévio.
A partir de 1935 surgem as primeiras leis antissemitas na Alemanha, juntando-se ás
campanhas sistemáticas de identificação e de exclusão civil dos Judeus.
A partir de 1933 começa o Holocausto, por apesar de datar 1941, é em 1933 que
começa a definição de Holocausto. Não é apenas o que se fez nos campos de
extermínio, não é apenas o que se fez no contexto da IIGM, é aquilo que se começa
logo a fazer em 1933 e mais tarde em 1935 com Leis que excluem os judeus da vida
civil alemã.
Desde o início que o partido nazi tem uma atenção especial e letal para com os judeus,
algo que não era uma novidade para a extrema direita alemã nem para Hitler. O
problema é que quando atinge o poder, Hitler lança várias medidas, que começam por
ser de natureza legal, de modo a excluir a população judaica da Alemanha.
Para piorar esta situação, é preciso referenciar a Kristallnacht, conhecida como a Noite
dos Cristais, que foi essencialmente uma campanha de violência levada a cabo contra
os judeus, tomando como rastilho o facto de um jovem judeu ter assassinado um
oficial alemão na embaixada de Paris. Foi um assassinato motivado por razões de
natureza privada/familiar, porque este jovem tinha a família deportada para a
Alemanha. Como resposta, aproveitando o acontecimento, os nazis levam a cabo a
campanha de violência em toda a Alemanha, sendo a primeira campanha sistemática
de perseguição aos judeus, começando a encher os campos de concentração com
judeus. Os vidros partidos das lojas dos judeus faziam lembrar cristais, dando origem
ao nome da noite.
Para além disto, e do ponto de vista da construção da ditadura alemã, é evidente que a
ditadura se fazia com censura prévia, com controlo da educação com o papel
fundamental do Ministro Goebbles, uniformização cultural e perseguição de artistas.
Dito isto, como é que podemos explicar que Hitler, no espaço de 6 anos, se
transforma de líder da Alemanha em responsável pelo início da IIGM? Hoje, em 2020,
é fácil olhar para a forma gradual como Hitler foi rasgando os vários tratados
internacionais e desrespeitando fronteiras soberanas, como uma prova claríssima de
que Hitler pretendia expandir o seu Reich, podendo apenas conduzir a uma situação
militar. Na verdade, vivendo na década de 30 e tendo a sombra da IGM, havia uma
mistura de incredulidade de que as coisas podiam realmente desembocar num novo
conflito, mas ao mesmo tempo havia também uma resistência a que uma vez mais a
Europa pudesse lançar um novo conflito militar. Na década de 30 era mais difícil
perceber que o conflito estava mesmo para vir.
Este processo gradual, para quem tivesse tido o esforço de ler o Mein Kampf na
altura em que foi escrito (e poucos o fizeram), era claro o que Hitler desejava:
• Grandeza da Alemanha,
• Grandeza do povo ariano como poder político, cultural, rácico e militar
• Unir o povo germânico sob o seu comando
• Aumentar o território exíguo para Leste (aumentar o espaço vital, que
claramente ia gerar confronto com a comunidade internacional e com os
países a Leste da Alemanha)
Para que Hitler conseguisse realizar estas pretensões e levantar a Alemanha, era
preciso fazer algumas coisas:
É através disto que a Alemanha dá indícios de que não estava interessada em seguir
um caminho estabelecido pelo Tratado de Versalhes.
Martim Ghira Campos
Perante esta situação, em que a Alemanha se afasta da Liga das Nações e não aceita
os limites ao seu armamento e ao número de efetivos militares que podia ter,
porque motivo é que a Liga das Nações não fez nada? Porque havia uma série de
condicionalismos por parte dos países que pertenciam à Liga, que impediu uma
espécie de resposta comum e mais vigorosa:
1) A Alemanha era vista pela Grã-Bretanha como um país que tinha sido
fortemente punido no Tratado de Versalhes. A Grã-Bretanha era a favor do
aumento de efetivos para segurança da Alemanha, desde que a Alemanha se
permanecesse pacifica.
A partir de 1936 as coisas tomam outro contorno → Se até então havia dúvidas das
intenções de Hitler ao voltar a constituir um corpo militar poderoso, isso termina em
1936 quando as tropas germânicas vão marchar sob o território da Renânia, algo
evidentemente contra o Tratado de Versalhes, bem como a remilitarização dessa
região. Perante esta situação, a Liga das Nações devia ter atuado, pois já não
estávamos perante uma simples reorganização das forças armadas internas,
estávamos perante uma agressão claríssima a um território que não era alemão e que
não competia à Alemanha invadir e remilitarizar. A Liga não atuou e foi o primeiro
grande fracasso da mesma (só a URSS é que pediu na Liga uma resposta para impedir
Hitler)
Esta ocupação da Renânia fez Hitler entender que era possível rasgar o Tratado de
Versalhes, e se era possível faze-lo em matérias de natureza militar e ao ponto de não
respeitar a integridade territorial de territórios fora da alçada alemã, isso significava
que muito provavelmente era possível ir mais além. A ocupação da Renânia deu carta
branca para que Hitler pudesse pensar em ir mais além.
Hitler também se apercebeu da fraqueza militar das potências ocidentais, isto é, que a
Grã-Bretanha ou a França já não eram as potências que tinham saído da IGM, não só
pelas razões económicas, mas também pelo motivo de que tinha existido uma geração
Martim Ghira Campos
dizimada pela IGM e a memoria dos que ficaram, estando interessados em não repetir
a experiência.
De um lado, a Europa tinha alguém que não temia a guerra e até a cobiçava, do outro
tinha democracias liberais e pluralistas que não estavam dispostas a levar os seus
cidadãos para um novo conflito.
Se tinha resultado com a Renânia, porque não tentar anexar a Áustria, que era
também uma linha vermelha do Tratado de Versalhes. Qualquer violação desta linha
vermelha (proibição) deveria ter levado a comunidade internacional a ter uma atuação
de força imediata. A verdade é que não aconteceu e em 1938, Hitler vai anexar o
território Austríaco. O modo de atuação do partido nazi era o mesmo em vários
territórios europeus:
É um processo habitual, onde um poder exterior causa o caos interno para depois
poder vir restabelecer a ordem. Foi exatamente o que aconteceu na Áustria, onde as
tropas nazis vão restabelecer a ordem que elas próprias causaram, e para mostrar uma
capa de legalidade, realizam um plebiscito, para que os austríacos pudessem “decidir”
se pretendiam a anexação com a Alemanha. Como resultado, 99,75% concordaram
com a anexação, permitindo a Hitler mostrar à comunidade internacional que os seus
desígnios para a Áustria não eram mais do que fazer cumprir o desejo da população do
país.
O resultado da anexação austríaca foi mais uma vez a incompetência da Liga das
Nações e das grandes potências europeias, passando sem nenhuma censura.
Mais uma vez, com esta inoperância da comunidade internacional, Hitler teve um
triunfo brutal:
• Para além disso, mostrou aos seus generais que era perfeitamente possível
rasgar todos os artigos do Tratado de Versalhes sem nenhuma consequência
nociva para a Alemanha.
Porque é que havia uma resistência tão grande por parte das potências europeias em
confrontar a Alemanha?
Martim Ghira Campos
Este período que começa com a anexação da Áustria, é conhecido como o período do
Appeasement, ou seja, é o período do apaziguamento. Isto significa que as potências
ocidentais procuraram uma política de apaziguamento com Hitler.
• O medo da União Soviética de Estaline, que era vista como um perigo maior do
que Hitler.
Esta decisão de Hitler mostra à comunidade internacional, mais uma vez, as suas
pretensões, com ou sem legalidade.
Numa última ilusão e esperança, sai desta conferência com um “pedaço de papel”,
onde Hitler se compromete a optar pela negociação ao invés da força militar.
Com isto, Hitler ganha os Sudetas sem disparar uma bala e tem acesso aos recursos da
região, sendo que a Checoslováquia perde grande parte da sua indústria.
Tal como não se contentou com a Renânia e teve de partir para a Áustria, e
posteriormente para os Sudetas, Hitler vai também avançar sobre a Checoslováquia.
Apesar de isto não ser uma novidade, marca algo de novo na trajetória de Hitler, isto
porque, ao invadir a Checoslováquia, Hitler já não podia justificar a sua ação com o
interesse de proteção dos alemães, mostrando que a sua vontade era apenas poder.
Por outro lado, mostrou que não era de confiança de maneira alguma, ou seja, a
Alemanha era novamente um pária internacional.
Por fim, mostrou que se Hitler tinha avançado para a Áustria, Renânia, Sudetas e
Checoslováquia, a Polonia era uma questão de tempo.
A resposta de Hitler a este acordo, começa com um acordo com a União Soviética em
1939 → Pacto Molotov-Ribbentrop (Pacto de não agressão). Este tratado procurava
cumprir algo importante para as duas partes:
Martim Ghira Campos
2) Para a URSS, isto garantia o acesso à parte Leste da Polonia, ou seja, quer a
Alemanha quer a URSS podiam repartir o território polaco
Perante esta situação, o último passo acontece com a invasão da Polónia, algo que
sempre foi ambicionado por Hitler. Hitler queria começar por Danzigue que tinha 90%
da população alemã, entrando na visão unificadora de Hitler, sendo que o calculo dele
era precisamente esse: se a Grã-Bretanha e a França não tinham feito nada em relação
à Checoslováquia, mesmo tendo assinado um pacto de defesa da Polonia, de forma é
que poderiam justificar que os alemães que se situavam em território polaco, não
teriam direito a unificar-se com a Alemanha
Nada melhor do que olhar para uma vida que tenha sido destruída pelo Holocausto,
para perceber o impacto que teve nas vítimas, pois quando se olha para o geral, acaba
por se perder a verdadeira perceção.
Petr Ginz, um jovem checoslovaco, foi o autor do último grande diário sobre o
Holocausto.
Mas é sobretudo a partir de 1941, com o ataque à URSS, que é posta em marcha a
solução final, ou seja, a destruição dos judeus da Europa. Os judeus começaram por
ser executados quando as localizações eram invadidas, sendo que um dos massacres
mais conhecidos é o de Babi Yar em Kiev (30 a 35 mil judeus foram fuzilados em 2 dias)
Um dos motivos para encontrar outra forma de eliminação, devia-se não só pelo
desejo de apressar o genocídio contra o povo judaico, mas também porque a matança
à queima roupa de judeus estava a provocar problemas psicológicos nos militares
nazis.
Em 1942 quando é decidida a solução final, os nazis já tinham estabelecido na Polónia
6 centros de extermínio, sendo o mais conhecido Auschwitz-Bikernau.
O Holocausto está ligado à fundação do estado de Israel, sendo que dizer isto, não é
dizer que o Holocausto levou à criação do Estado de Israel, porque quando se fala do
Estado de Israel, falamos de uma ambição/projeto que não só é anterior à IIGM, como
inclusive é anterior à IGM. A ideia de um Estado para os Judeus, previsivelmente na
Palestina, mas não necessariamente, era um sonho antigo que foi tomando corpo em
finais do século XIX. O holocausto acaba por acelerar esse processo.
Os judeus da zona polaca (polónia russa), vão apesar de tudo, conhecer também uma
fase de relaxamento das políticas governamentais, algumas reformas importantes: os
judeus começam a poder frequentar a universidade (Moscovo), nasceram movimentos
intelectuais judaicos que começaram a ter temas importantes acerca do papel da
religião na sociedade. O lema sob o reinado do czar Alexandre II, passou a ser para os
judeus “sê um judeu em casa e um homem na rua”, isto é, era possível continuar com
Martim Ghira Campos
Esta abertura do czar Alexandre II vai chegar ao fim em 1881, quando um grupo de
revolucionários assassina o czar. Isto faz com que o reinado seguinte, de Alexandre III,
traga uma vaga de antissemitismo, onde os judeus são responsabilizados pelo crime,
sendo expulsos de Moscovo e transferidos para as periferias da cidade. São
estabelecidas quotas rigorosas no sistema de ensino e começa o Pogrom antijudaico,
que eram ataques à população judaica, levados a cabo por cidadãos normais, ainda
que com o encobrimento das autoridades czaristas.
Perante esta vaga de violência antissemítica, a partir de 1882, começa uma grande
vaga de emigração judaica para fora do império russo (principalmente para fora da
Polónia russa), sendo que essa vaga migratória abrange para todos os lugares possíveis
onde fosse possível tentar viver uma vida normal.
A partir de 1882 começam então a haver vagas de emigração para a Palestina, sendo
que as razões eram vastas: fugir às perseguições, motivação ideológica (sionistas), etc.
No entanto, quer por parte dos Sionistas, quer por parte dos trabalhadores, a ideia de
poder existir um estado soberano de Israel era mais fantasia do que realidade. Em
finais do século XIX, as condições demográficas eram esmagadoras para os Judeus,
pois na Palestina, pertencente ao Império Otomano, a maioria da população era
esmagadoramente muçulmana.
Esta situação transforma-se profundamente com Theodor Herzl, sendo a ele que se
devem os primeiros esforços verdadeiramente articulados para o estabelecimento de
um lar nacional judaico. Nasceu numa família judaica muito influente, afluente e muito
bem assimilada. Era correspondente em Paris de um jornal Austríaco, e nessa função
vai confrontar-se com um episodio que abalou a sociedade francesa em finais do
século XIX → Caso Dreyfus.
Caso Dreyfus → faz referência a um oficial judeu do exército francês, Dreyfus, que foi
preso em 1894 e foi acusado de vender informações secretas aos alemães. Como
falamos de 1894, falamos de um período particularmente sensível para a França que
Martim Ghira Campos
O que viria a impressionar Herzl, não foi o caso em si, mas sim o sentimento
antissemita que ele começou a ver na sociedade francesa. O que Herzl via nas ruas de
Paris era “morte aos judeus”, sendo perfeitamente comparável com o que acontecia
no Leste da Europa.
O efeito do caso Dreyfus abalou a França e foi profundíssimo não só em França, mas
no Mundo, fazendo com que Theodor Herzl chegue a uma conclusão → os judeus da
Europa só estariam em segurança quando tivessem um lar seu. É neste sentido que
Herzl vai escrever “Der Judenstaat”, onde propõe uma identidade nacional e um lar
nacional para os judeus.
Herzl confrontava-se com um problema quase inultrapassável, que era mais uma vez o
facto de a Palestina ser uma parte do Império Otomano, não sendo possível reclamar
esse território.
Em 1902 dá-se também um caso importante deste movimento Sionista, que foi a
oferta feita a Herzl por parte do governo britânico de que os Judeus podiam instalar o
seu Estado, se assim quisessem, no Uganda. Herzl leva esta proposta para o congresso
Sionista e no sexto congresso havia uma divisão entre dois campos: os pragmáticos,
que era uma minoria inclinada para aceitar a proposta, e os idealistas, que eram
essencialmente os Sionistas do Sião, aqueles para quem só a Palestina podia cumprir o
desejo. No congresso seguinte, em 1905, a opção do Uganda deixa de estar em cima
da mesa (Herzl já não esteve presente porque faleceu em 1904).
1) Conceder todo o território, inclusive onde os judeus eram uma maioria, para
um novo Estado Árabe
2) Conceder todo o território, inclusive onde os árabes eram uma maioria, para
um novo Estado Judaico
4) Dividir aquela terra entre Árabes e Judeus, de forma a que cada povo pudesse
criar um Estado. Era a mais viável em 1919, tendo em conta as realidades
populacionais daquele território.
Declaração Balfour → é uma carta de Balfour (MNE Britânico) a um dos nomes mais
importantes da comunidade judaica britânica, Lord Rothschild, onde afirma que via
com bons olhos a criação de um Estado nacional para os judeus, mas, acrescentava
que, embora concordasse, esse Estado não podia pôr em causa os direitos dos povos
Árabes. Isto era compreensível dado que a população árabe era 5x maior do que a
judaica, logo também tinha direito à sua autodeterminação.
A declaração foi aprovada pelo presidente Wilson, pelo governo Francês, Italiano,
Churchill reconheceu a criação do Estado Judaico, e a conferencia de Paz de Paris em
1919 colocou um ponto final na Guerra e, ao permitir o nascimento da Liga das
Nações, determinou a criação de um sistema de mandatos em que uma grande
potência politica ficaria responsável por determinados territórios e nacionalidades, até
ao momento em que estes se mostrassem capazes de garantir a sua própria soberania.
Em 1937, a Comissão Peel vai publicar as conclusões, que se resumem a duas coisas:
Em 1937 faz-se a primeira proposta concreta para a existência de dois estados lado a
lado, com fronteiras reconhecidas, soberanos → Norte e costa pertencia aos judeus,
sul e leste aos árabes, zona central ao mandato britânico, incluindo Jerusalém que
estaria sob a supervisão britânica e da Liga das Nações.
A ideia da comissão Peel era um plano de partição, de forma a resolver toda a
conflitualidade entre as duas comunidades, com um estado judaico onde havia maior
população judaica, e um árabe onde havia maior população árabe.
Os judeus aceitaram o plano da comissão Peel, mas os árabes rejeitaram, exigindo que
toda a Palestina estivesse sob o controlo árabe e que toda a população não árabe
fosse transferida para fora da Palestina. Esta situação cria um impasse para as
autoridades britânicas, os confrontos entre os três aumentam e se o objetivo da
Comissão Peel era gerar maior concórdia, acabou por aumentar a violência.
Em 1939 o governo britânico vai publicar o chamado British White Paper, que hoje em
dia é visto como uma traição das aspirações judaicas à Palestina. Este documento
afirma que a emigração judaica para a Palestina tem de ser limitada, não podendo
exceder os 75mil judeus, e para além disso não advogava a divisão do território,
defendendo a existência de um governo provisório conjunto (árabe e judeu), sendo
que a constituição desse governo tinha de respeitar a composição demográfica
existente no território (uma maioria árabe e uma minoria judaica)
Este British White Paper é objeto de grande discussão por causa do que aconteceu a
partir de 1939 → a limitação da emigração judaica, surgiu na altura em que os judeus
mais precisavam de um porto de refúgio. Este documento foi uma machadada nas
aspirações judaicas em 1939, ainda que ninguém conseguia prever a catástrofe do
Holocausto.
Como é que se explica este British White Paper? Porque é que a ideia inicial acabou
por recuar? Em primeiro lugar a violência no território era real, mas além disso, o
império britânico pretendia a manutenção de boas relações diplomáticas com vários
Estados Árabes (Iraque, Egito), por isso, quando em 1939 a guerra era uma
possibilidade, não era do interesse da diplomacia britânica andar com isso para a
frente.
causou a criação do Estado de Israel, pois o processo é anterior a 1939, mas incentivou
a pegar de novo na ideia após a IIGM, pela catástrofe que foi.
O plano da ONU teve como princípio orientador a ideia de que, os desejos de árabes e
judeus apesar de válidos, eram irreconciliáveis, logo a partição era o arranjo mais
realista
Jerusalém, que ambos os povos reivindicam como capital dos respetivos Estados,
permanecia como uma zona internacional sob supervisão da ONU.
A parte judaica vai aceitar o plano de partição, mas a parte árabe vai recusá-la,
iniciando-se um período de guerra civil entre judeus e árabes.
• A cidade de Jerusalém
2) Jerusalém
Fronteiras
A famosa Comissão Peel de 1937 chegou à conclusão de que dois povos distintos, sem
qualquer possibilidade de coexistência pacifica, só podem viver cada um no seu
próprio Estado. Ou seja, a ideia dos dois Estados é muito anterior à proposta das
Nações Unidas e está presente desde a Declaração Balfour (que abre a possibilidade
para um Estado Judaico, mas sem ignorar os interesses da comunidade muçulmana)
Sempre que Israelitas e Palestinianos se sentam, começam sempre pelo paradigma dos
dois Estados
Será que o paradigma dos dois (três) Estados é o único que é avançado? Não, na
realidade existe uma outra ideia que é o Paradigma de um Único Estado Binacional, ou
seja, existem autores que confrontados com a realidade afirmam que não é mais
possível falar em dois ou três Estados (falar do território da Palestina como se
estivéssemos em 1947). Tendo em conta a realidade que se vive no terreno e o facto
de a construção de colonatos por parte de Israel ter levado cerca de 700mil colonos
para a margem Ocidental e para a parte Leste, é absurdo acreditar que é possível ter
de um lado o Estado de Israel e do outro o Estado Palestiniano.
A ideia de um Estado Binacional significa que existiria um Estado para dois povos
(israelita e palestiniano).
Martim Ghira Campos
Principal problema desta proposta → Israel não aceita a proposta. O Hamas também
não, pelo motivo que não admitem que possa existir um Estado onde os judeus
também tenham a palavra.
O único lado que parece olhar com relativa tranquilidade para esta solução de um
único Estado Binacional é a Autoridade Palestiniana.
Seja como for, esta proposta é vista como impraticável, desde logo pelas experiências
históricas que temos de Estados binacionais ou multinacionais, sendo exemplos que
terminam em guerras civis declaradas (Líbano, antiga Jugoslávia). A coexistência
forçada entre diferentes nações tende a acabar em conflito.
Jerusalém
É um problema porque as duas partes reivindicam esta cidade como capital dos
respetivos Estados.
Porquê Jerusalém? Porque tem uma enorme importância cultural, histórica e religiosa
fundamental para ambos os povos:
É exatamente pelo significado que Jerusalém tem para os dois povos, que as propostas
de paz têm sido muito cautelosas quando propõem um destino para Jerusalém
Martim Ghira Campos
Dada a importância simbólica para ambos, e como ficou no Plano de Partição das
Nações Unidas, percebeu-se que Jerusalém não pode pertencer a nenhum dos povos,
tendo de ser administrado por alguma entidade exterior, de maneira a que nenhum
possa gritar vitória.
Guerra dos Seis Dias vencida por Israel contra o Egipto, a Jordânia e a Síria → Em 1967,
Israel vai capturar a Faixa de Gaza ao Egipto e a totalidade da margem Ocidental
incluindo a cidade de Jerusalém. Para além disso captura os Montes Golan à Síria,
situação essa que ainda se mantém. É a partir de 1967, e só a partir de 1967, que
temos esta situação dos territórios ocupados.
Hoje em dia Israel já não está na Faixa de Gaza, sendo precisamente na retirada
Israelita que se realizam as eleições vencidas pelo Hamas. Perante o que se passou em
Gaza, Israel continua a ocupar a margem Ocidental e a cidade de Jerusalém, afirmando
Jerusalém como a capital do seu Estado.
Terrorismo
Hezbollah → desde a segunda guerra do Líbano que tem atacado a região norte de
Israel. O governo de Israel afirma que a presença na zona norte também é importante
para confrontar esta ameaça.
Há um Hezbollah institucional, que é o partido político, mas existe o seu braço armado,
uma fação terrorista.
Martim Ghira Campos
Refugiados
É uma das principais e intratáveis questões porque o lado Palestiniano tem sido muito
intransigente com esta questão.
Numa fase inicial, quem podia fugir, fugiu, e quem não conseguiu fugir, foi expulso.
Estes refugiados estão por todo o lado, principalmente na Jordânia, Egipto, Líbano.
Hoje em dia, quando se fala de refugiados palestinianos, já não se fala de 1 milhão de
refugiados, falamos sim de mais ou menos de 6milhões (ainda que muitos nunca
tenham habitado a Palestina).
Nas várias negociações de paz, a situação dos refugiados faz descarrilar qualquer
possibilidade de se chegar à paz.
Vivem quase 2milhões de árabes em Israel. Existem cidadãos árabes que são cidadãos
de Israel, que votam e têm direitos políticos, e existem cidadãos árabes que vivem sob
ocupação, não sendo cidadãos de Israel, mas também não sendo cidadãos
palestinianos porque ainda não existe um Estado soberano Palestiniano.
Martim Ghira Campos
Nota à parte → Negociações de Camp David em 1978 onde o Egito reconhece Israel
como Estado soberano e Israel se retira dos territórios ocupados no Egito,
nomeadamente a Península do Sinai.
Summit de 2000 onde se reúnem à mesa Bill Clinton, Arafat e Ehud Barak
Colonatos
A construção de colonatos nos territórios ocupados tem sido prática dos governos
Israelitas desde 1967.
Como é que isto tem sido respondido pelas autoridades Israelitas? Tem sido
respondido de duas formas:
1) Israel afirma que a resolução das Nações Unidas de 1967, que surge depois da
Guerra dos Seis Dias, afirmava que Israel teria que respeitar territórios
Palestinianos e não OS territórios palestinianos. Ou seja, Israel interpreta a
resolução como dando margem de manobra para que Israel possa construir
alguns dos seus colonatos até por questões de segurança. Respeitar OS
territórios seria respeitar integralmente a fronteira que existia antes de 1967 e
Israel afirma que o que está na resolução da ONU não é “OS territórios”, mas
sim “territórios”, sendo vago e dando margem de manobra a Israel.
2) Por outro lado, Israel afirma que em todas as tentativas de acordos de paz,
existiu sempre uma tentativa de compensar as perdas territoriais da margem
ocidental, com o sacrifício de território Israelita.
Martim Ghira Campos
Já ninguém pensa no paradigma dos dois Estados e a realidade deste conflito está
congelada. A natureza do conflito mudou, sendo que neste momento o conflito já não
é tanto territorial entre Israel e Palestina, mas sim Israelo-Iraninano. A principal
preocupação de Israel é a ameaça do Irão e a sua capacidade nuclear (projeto nuclear
iraniano)
A mentalidade da classe dirigente no tempo do Estado novo era a de que Portugal não
é um país pequeno, com alguma dimensão devido às colónias.
30 de Junho de 1961 → Salazar discursa à Assembleia Nacional e diz que somos uma
velha nação que vive agarrada às tradições
O Estado Novo foi uma resposta ao liberalismo na sua versão republicana e jacobina
que tinha lançado o país para o caos. As promessas de melhoria e de progresso foram
infundadas ao fim de 16 anos e de 45 Governos.
Por isso, a Constituição de 1933 reúne aspetos com muitas origens → integralismo
lusitano tradicionalista, doutrina social da Igreja, doutrinas corporativas italianas
contra o papel e o peso das organizações laborais, constituição de Weimar quanto aos
amplos poderes do chefe de governo.
A preocupação com a ordem e a estabilidade do Estado novo, foi um dos motivos pelo
qual o Golpe de 28 de Maio de 1926 não teve oposição praticamente nenhuma. As
pessoas estavam cansadas da violência, da brutalidade, do caos político e da
incapacidade de resolução dos problemas, encontrando neste novo regime um
equilíbrio que foi julgado bom pela maioria da população. As pessoas apoiaram a
Constituição de 1933 e não questionaram a política ultramarina até muito tarde.
Este regime não é um regime que tenha uma visão benévola sobre a abertura dos
mercados, sendo que foi oscilando entre maior protecionismo e maior abertura.
Apesar de haver um nacionalismo económico de base, houve também alterações ao
longo dos anos.
É um regime que viveu com um desnível da qualidade de vida entre as zonas rurais e
as zonas urbanas, para além das desigualdades sociais importantes. Ao mesmo tempo,
não sendo uma democracia e não tendo preocupações de dar a entender que o era,
restringiu as liberdades cívicas:
• Existia uma polícia política (PVDE – Polícia de Vigilância e Defesa do Estado, que
passou a ser a PIDE – Polícia Internacional de Defesa do Estado. Na fase
Marcelista passou a ser a Direção Geral de Segurança (PIDE-DGS))
Este Estado Novo não teve sempre em “Estado Novo”, porque há uma divisão clara
entre três períodos → 1933-1945, 1945-1961, 1961-1974
Estamos num período em que o regime se sente atacado e que a sua visão é
minoritária em termos internacionais.
O MPLA, a FNLA e a UNITA tinham ódios entre si (de origem tribal), dando origem a
uma guerra civil sangrenta depois da Independência. Não correspondendo à verdade
quando o Estado português era visto como o único inimigo destes territórios, uma vez
que existiam confusões entre eles mesmos, tornando o conflito muito mais complexo.
A visão e a ideia do regime, de que Portugal era uno e indivisível, não facilitou o modo
como se pôde conceber qualquer negociação para arranjar uma saída do conflito.
O país rural, mais enraizado nas suas tradições, começa a ser um novo país, mais
virado para novos hábitos de consumo, valores e cultura europeus.
Por um lado, temos uma nova classe média com alguma capacidade económica, com
referências culturais diferentes daquelas que a elite dirigente do Estado Novo tem (já
não vê a proximidade de Africa), resultando em crises universitárias em 62 e 69. O
catolicismo, que era uma base de apoio do regime, em 58 dá nota da sua
incomodidade com a miséria e repressão, começando a moderar a adesão ao regime.
Há o efeito normal do desgaste de uma guerra.
O porquê desta afirmação de manter os territórios? Desde 1415 que Portugal não era
só insular e europeu, era sempre mais qualquer coisa, e essa ideia de limites maiores
justificava a grandeza do país e o orgulho de ser português. O entendimento português
passava pela colonização, ser português significava ter um império e territórios
ultramarinos, portanto inicialmente a designação era mesmo Império colonial
português. Portanto, dada essa herança colonial, durante o Estado Novo temos um
país que se empenha na guerra colonial.
Do ponto de vista militar, Portugal foi bastante eficaz, mas não se vencem guerras de
guerrilha, é muito raro, portanto o sucesso militar português foi bastante assinalável,
mas era na verdade uma tentativa de ganhar tempo, para permitir aos políticos
desbloquear a situação de alguma forma.
Do ponto de vista económico, houve uma regressão, isto porque um país em guerra
investe mais nas despesas militares, deixando de lado o investimento público
Este conflito, apesar de baixa intensidade, sem grande número de mortos etc., teve
consequências. Mas ao mesmo tempo, a população portuguesa em África não parou
de crescer, o que prova que do ponto de vista militar as guerrilhas tiveram impacto
muito reduzido.
Uma maneira de perceber a baixa intensidade do nosso conflito, tem a ver com o
número de mortos por 1000 soldados → a média foi 2,33 por 1000
O impacto na saúde, na vida, na vertente psicológica das pessoas que estavam prestes
a ir para a guerra, faz com que se dê uma cisão da sociedade e seja reduzida a base de
apoio ao conflito e à ideia do regime de um império colonial.
Os setores católicos mantêm-se críticos, as Forças Armadas dão sinais de cansaço, as
empresas começavam a dar prioridade à Europa, há um desvio permanente de mão de
obra e de recursos.
Guerra Fria
Martim Ghira Campos
A IIGM terminou em Maio de 1945 com a rendição alemã e com o lançamento das
bombas de Hiroxima e Nagasaki que levou à rendição japonesa. A primeira
consequência do fim da IIGM, é que em 1945, embora as potências aliadas fossem as
vencedoras, a verdade é que com o pós 1945 os EUA e a URSS saíram do conflito como
os verdadeiros superpoderes.
O desenho da Guerra Fria começa a ser feito antes do fim da IIGM. Nesse sentido, tem
importância a Conferência de Ialta de 1945, em que o objetivo era saber o que fazer
com a Alemanha depois da guerra, ainda antes da sua rendição que já era esperada.
Começaram por ser decididas algumas questões fundamentais que iram moldar e
determinar o que vai ser a Guerra Fria. Uma dessas questões era então o que fazer
com a Alemanha, e neste sentido, a Alemanha foi dividida em 4 zonas: francesa,
britânica, americana e soviética. A cidade de Berlim, que ficava no território soviético,
vai ser também dividida em 4 zonas.
Quando se dá a divisão, surge um problema obvio, que era o facto de, embora Berlim
ficasse dividido em 4 zonas, a verdade é que se situava em território soviético, algo
Martim Ghira Campos
que vai ter consequências gravosas quando se dá, por exemplo, o Bloqueio de Berlim
(que de certa forma deu inicio à Guerra Fria)
• A Liga das Nações teria de ser substituída por uma nova organização (ONU)
Poucos meses depois e já depois do fim da guerra em solo europeu, vai se realizar uma
nova conferência → Conferencia de Potsdam
Estaline afirma que enquanto a URSS não tivesse garantias de segurança (leia-se
enquanto não controlasse a totalidade do Leste da Europa) não poderia retirar as
tropas de território polaco. Fundamenta isto dizendo que foi precisamente devido à
saída soviética da Polónia e a essa falta de capacidade de proteção no flanco polaco,
que Hitler tinha decidido invadir a Polónia no decorrer da IIGM. Esta é a primeira
dissonância entre os participantes da Conferência, bem como o facto de a URSS não
permitir as eleições livres como tinha prometido meses antes.
Nesta conferência, a sensação com que se ficou foi a de que “uma cortina de ferro
descia sobre a Europa”, sendo que esta sensação se foi intensificando e tornando cada
vez mais presente à medida que a União Soviética se foi expandindo para vários países
do Leste.
Perante esta sensação, o presidente Truman vai entender que é necessário confrontar
a nova ameaça comunista, com uma nova doutrina geoestratégica, que passa a marcar
as Relações Internacionais dos EUA com o mundo a partir de 1945.
Depois de 1919 e sobretudo depois da não participação dos EUA na recém-criada Liga
das Nações, a década de 1920 e 1930 ficou marcada por um fortíssimo isolacionismo
americano. A conclusão a que Truman vai chegar é que não era possível, depois do que
Martim Ghira Campos
É nesse sentido que vai ser elaborada a Doutrina Truman, procurando contrabalançar
o poder soviético. Truman defendia que era obrigação dos EUA apoiar todos aqueles
que querem viver em liberdade e que eram pressionados pela União Soviética, sendo
que se os EUA não tivessem estado à altura do desafio, a paz mundial estaria
novamente posta em causa.
Moscovo entende isto como uma declaração de guerra e é precisamente aqui que
começa a Guerra Fria.
Se é importante conter e limitar a agressão comunista, a verdade é que não era apenas
suficiente evitar essa espécie de ameaça militar, era fundamental garantir que os
países do Ocidente pudessem novamente começar a trilhar um caminho de
recuperação económica. É neste sentido que se vai aplicar o Plano de Marshall.
Estaline encarregou-se de garantir que os países de Leste não iriam receber ajuda
económica do Plano de Marshall, ou seja, olhou para o plano não só como uma
tentativa de reanimar as economias europeias, mas também como um objetivo de
travar a influência comunista e sobretudo travar essa influência através da melhoria
das condições de vida.
O que vai acontecer é que em 1948, as rotas para Berlim Ocidental foram fechadas por
Estaline. Este é o primeiro momento de verdadeira confrontação entre a URSS e as
potências aliadas.
Este gesto é visto como o primeiro grande momento da Guerra Fria porque os EUA e o
Ocidente mostraram unidade no confronto, mostrando que a doutrina Truman era
para levar a sério e que aquelas situações depois da criação da Liga Nações em que era
possível desencadear ações de natureza ofensiva sem que houvesse qualquer
retaliação da comunidade internacional, não voltariam a passar incólumes.
Martim Ghira Campos
O Bloqueio de Berlim serviu como um teste para verificar qual era o grau de
compromisso das potências ocidentais.
Por outro lado, o bloqueio de Berlim acabou por adiar a unificação alemã, que só se vai
verificar depois da Queda do muro de Berlim. A partir de 1949 começaram a existir
duas Alemanhas (Democrática e Comunista).
A cidade escolhida para capital da Alemanha Ocidental, foi a cidade de Bona, porque
não era uma das principais cidades da Alemanha Ocidental, ou seja, os Aliados
procuravam sinalizar que a capital da Alemanha Ocidental era apenas uma capital
puramente transitória, sendo que a situação da Alemanha só estaria regularizada com
a unificação do país e com Berlim como capital.
Mas o que se começa a verificar a partir de 1950, é que devido à diferença do nível de
vida, o Ocidente começou a ser um chamariz para a população do Leste da Alemanha e
de Berlim. Muitos cruzavam a fronteira para o Ocidente (entre 1945 e 1961, cerca de
2milhões de alemães do Leste cruzaram a fronteira), sendo que a maior parte eram as
pessoas mais qualificadas.
Khrushchev vai procurar terminar com este êxodo em 1961, fechando a fronteira,
sendo que não era suficiente apenas fechar a fronteira. Era preciso conseguir um
sistema que fosse muito mais eficaz e impedisse a fuga da população de Berlim e da
Alemanha de Leste (muitas vezes de forma letal), sendo sobretudo um sistema que
permitisse guardar a fronteira.
Em Agosto de 1961 a cidade de Berlim foi cortada ao meio por arame farpado e
tanques soviéticos no lado Oriental. Rapidamente substituiu-se o arame farpado por
um Muro com 45km e 3metros e meio de altura, torres de vigia e guardas com ordens
para abater quem cruzasse a fronteira.
Martim Ghira Campos
Consequências da construção:
GF contribuiu para uma reorganização económica da Europa, feita por parte da URSS
(COMECON) e por parte dos EUA (Plano Marshall)
O primeiro dá-se com a Revolta Húngara (Budapeste) em 1956. O que aconteceu foi o
sinalizar por parte da URSS de que a coexistência pacifica não passava de um mito. A
Hungria foi um dos estados derrotados na IGM, quando fazia parte do Império Austro-
húngaro, sendo que toda a sua história é feita mediante o estatuto de perdedora da
guerra. Nunca foi possível instaurar uma democracia liberal na Hungria, a situação
económica também era complicada, tendo um forte impacto na sociedade civil
húngara.
Posto isto, no final da IIGM, com o patrocínio de Moscovo, foi instaurado um governo
comunista na Hungria sob o comando de Mátyás Rákosi. Por ser um Estalinista,
eliminou a oposição interna e procedeu à detenção de opositores políticos. Quando
Martim Ghira Campos
Estaline morreu, foi substituído por Imre Nagy, sendo que este mudar da guarda
aumentou a esperança de que a Hungria podia aliviar algumas das imposições
comunistas impostas pelo antigo governo.
Nagy teve alguma abertura na imprensa, para presos políticos, ensaiaram-se algumas
medidas de cariz democrático, mas em 1955, Rákosi voltou a tomar o poder, levando
inclusive a um endurecimento da URSS sobre a Hungria.
A partir de 1955 começam a acontecer motins contra o governo de Rákosi, onde houve
cerca de 20mil mortes e 200 mil presos políticos. Este endurecimento da revolta
resulta não só da opção de Rákosi, mas também das esperanças que foram criadas na
sociedade nos tempos em que Nagy estava no poder.
Durante estes motins, o que se reclamava era precisamente uma maior aproximação
ao Ocidente e o continuar das reformas democráticas iniciadas com Nagy. Os conflitos
vão se alastrar a várias áreas do país, sendo que a URSS, ao ser confrontada com esta
situação de rebelião geral, vai entrar na Hungria.
Nesta primeira invasão soviética da Hungria, o que vai acontecer para acalmar os
ânimos, é que o Ex-Primeiro Ministro Nagy, vai voltar ao poder. Isto acalma um pouco
a situação e leva as tropas soviéticas a sair da Hungria.
1) Nagy vai se comprometer com a realização de eleições livres e tudo o que elas
significam (fim da polícia política, retirada de tropas soviéticas do território
húngaro…). Khrushchev parecia aceitar, enquanto as pretensões de Nagy eram
só estas.
2) O grande problema foi que Nagy também exigiu o direito da Hungria de deixar
o pacto de Varsóvia e escolher uma espécie de papel neutral no contexto da
Guerra Fria. É precisamente esta pretensão de neutralidade que vai fazer com
que a URSS acabe por intervir na Hungria de forma brutal.
As tropas soviéticas voltam a entrar no país (mais de 1000 tanques) e Nagy tenta
apelar à ajuda do Ocidente e principalmente aos EUA, com o objetivo de proteger a
democracia na Hungria, mas a verdade é que rapidamente é derrubado, capturado e
executado, começando outro governo soviético liderado por János Kádár. A Hungria
ficou sob o total controlo soviético.
Depois da revolta húngara, em 1968, há outro país do pacto de Varsóvia que vai
também entrar em ebulição antissoviética → Checoslováquia
Perante esta situação de abertura checa, Leonid Brejnev (sucessor de Khrushchev) vai
começar a mostrar preocupação, principalmente com dois aspetos que eram já um
facto no interior da Checoslováquia:
Brejnev entendia que aquilo que se estava a passar na Checoslováquia podia constituir
um preceito para os outros países do pacto de Varsóvia. Este caminho mais
liberalizante da Checoslováquia representava uma ameaça ao império soviético.
A Doutrina Brejnev vai vigorar durante todo o contexto de GF até à altura em que
Gorbachov a abandona em 1989, levando à desagregação de todo o império soviético
e queda do muro de Berlim.
A década de 1970 ficou marcada como a Época da Détente → foi uma época de
apaziguamento das tensões da GF. Não só o confronto direto entre as duas potências
iria trazer consequências muito maiores, mas também a corrida armamentista com o
objetivo de persuasão estava a demonstrar-se muito dispendiosa para ambas as
partes.
Nesta época de 1970, começam a haver sinais de uma relativa abertura de outros
países comunistas, como por exemplo a China, que se torna membro da ONU, e o
Presidente dos EUA (Richard Nixon) realiza visitas à URSS e à China (momento histórico
da GF)
Richard Nixon foi um grande presidente para os EUA, com boas medidas de política
externa, como por exemplo, essas relações mais abertas com a URSS e o fim da guerra
do Vietname.
A Época da Détente vai conhecer um fim com o que se vai passar no Afeganistão em
1979, que mais tarde deu origem ao 11/9.
Isto desencadeia uma guerra civil no Afeganistão, sendo sobretudo a partir de 1978/79
que começamos a ver que a oposição ao governo afegão era efetuada por um grupo
muçulmano de inspiração religiosa, que levava o conflito como uma guerra contra os
Martim Ghira Campos
infiéis e não contra o comunismo. Este grupo (Mujahidin) vai contar com o apoio
direto dos EUA, em apoio financeiro, tecnológico e militar.
É neste contexto que se destaca Osama Bin Laden, na luta contra a presença soviética.
Quando o governo afegão se encontra sob ataque dos grupos Mujahidin, sobretudo
sabendo que estes grupos contam com o apoio dos EUA, pede ajuda à URSS.
A juntar a esta situação má para Moscovo, a chegada ao poder de Ronald Reagan foi
crucial para a GF, porque uma das estratégias era desgastar a União Soviética do ponto
de vista económico, retomando a corrida armamentista que Moscovo não ia conseguir
acompanhar. Isto significa que houve um aumento brutal da despesa militar nos EUA.
Com este desgaste militar, com o desgaste económico, está tudo traçado para levar à
gradual desagregação do império soviético. O principal momento desta desagregação
é marcado pela queda do Muro de Berlim.
Muro de Berlim
Martim Ghira Campos
Berlim, mesmo com as divisões em setores, era uma cidade que funcionava como um
todo. Havia restrições, sinaléticas e controlo, mas na esmagadora maioria, os cidadãos
de Berlim não se dividiam em partes, podendo deslocar-se livremente pela cidade.
Inclusive, muitos optavam por viver na parte Oriental, porque o custo de vida era mais
baixo, trabalhando na parte Ocidental, onde os salários eram superiores.
Confrontados com este problema de fuga através da cidade de Berlim, começa a ser
equacionada a construção do Muro de Berlim.
A construção do muro tinha de ser feita de forma imediata, para evitar deserções, e
tinha de se efetuar no espaço de uma única noite. É mesmo isto que acontece, sendo
que começa a ser construído dia 12, e dia 13 de Agosto de 1961 o muro estava
concluído. No espaço de uma noite, famílias ficam separadas até 1989, amigos ficam
separados, trabalhadores ficam sem acesso aos trabalhos, ou seja, de um dia para o
outro tudo tinha mudado.
Qual foi a reação das três grandes potências que estavam na Alemanha, perante a
construção do muro?
EUA → Kennedy queria a unificação alemã, mas não estava disposto a marchar sobre
Berlim e a desencadear um enfrentamento nuclear com a URSS
França → A elite francesa achava que o que se verificava era um abuso das
autoridades da Alemanha de Leste e da URSS, mas, recordando o passado entre França
e Alemanha, talvez a divisão não fosse de todo má aos olhos da França, isto porque a
Alemanha perdia capacidade de fazer frente à França.
Quem tinha tido contacto com o mundo Ocidental, era visto como perigoso, pois podia
trazer ideias ocidentais para as mentes das pessoas do Leste. Todos os professores
qualificados que tinham ensinado no Ocidente, mas que residiam no Oriente, foram
barrados do sistema educacional para a vida toda, pois entendia-se que traziam
concessões e vida e políticas que eram um perigo para o Estado. Muitos dos
estudantes de humanidades e ciência política, que eram cidadãos da República
democrática alemã (leste), tinham iniciado os estudos em universidades ocidentais,
sendo que por isso foram imediatamente colocados em unidades industriais, sendo-
lhes impossibilitada a continuação dos estudos.
O início da década de 1980, vai trazer alterações profundas no xadrez da Guerra Fria. A
URSS tinha-se envolvido numa guerra destrutiva no Afeganistão e isso era um sorvedor
na economia, economia essa que já era debilitada.
Mas a verdade é que na União Soviética vai acontecer uma mudança de liderança, que
vai ser fundamental para aquilo que se vai passar ao longo da década de 80.
Na União Soviética, havia vários líderes que davam sinal de envelhecimento e doença
(Brejnev → Andropov → Chernenko). Em 1985, é eleito Secretário Geral do Partido
Comunista e novo líder da União Soviética, aquele que era o mais jovem membro do
Politburo → Mikhail Gorbatchov.
Gorbatchov era o primeiro líder da URSS, que tinha nascido depois da Revolução de
1917, ou seja, todos os outros líderes eram nomes que tinham vivido a revolução e
privado com aqueles que tinham sido os principais nomes da revolução (Lenine,
Trotsky, Estaline…). Gorbatchov era uma exceção, não só do ponto de vista
cronológico e etário, mas também do ponto de vista conceptual e intelectual.
Para além disso, Gorbatchov entendia que o comércio e indústria soviéticos, que ainda
estavam organizados segundo preceitos Estalinistas, não podiam competir com o
Ocidente nas novas áreas industriais e tecnológicas.
Perante esta situação, ou seja, a gradual ruína da economia soviética, Gorbatchov vai
procurar enfrentar estes problemas, sobretudo combinando dois programas
reformistas:
Não bastava apenas reconstruir a economia da União Soviética, era também preciso
implementar uma política de Glasnost.
Mas o grande feito de Gorbatchov do ponto de vista de PE, que vai ter consequências
absolutamente devastadoras no leste da Europa, foi o abandono da Doutrina Brejnev,
ou seja, o abandono desta doutrina sinalizava aos outros países do pacto de Varsóvia,
que Moscovo, à imagem do que tinha feito na Hungria ou na Checoslováquia, não iria
interferir na vida interna desses países.
Com o abandono da Doutrina de Brejnev, os outros países da cortina de ferro vão agir
em conformidade. Exemplo → no ano de 1989, realizam-se as primeiras eleições
parcialmente livres na Polónia, ou seja, permite-se que a oposição dispute alguns dos
lugares da Camara dos Deputados, sendo que o que acontece é que vence todos os
lugares que lhes foi possível disputar. O que se verifica na Polonia é uma transição
praticamente irreversível para a democracia e para a democracia liberal.
Mas o acontecimento que vai sinalizar a primeira grande brecha no Muro de Berlim e
que vai ter um impacto direto, é aquilo que se vai passar na Hungria no dia 2 de Maio
de 1989. O governo Húngaro, que estava nas mãos de comunistas reformistas, com
uma mentalidade mais pluralista, surpreende o mundo ao começar a desmantelar a
sua fronteira fortemente fortificada com a Áustria. Basicamente, o que a Hungria
estava a fazer, era possibilitar os alemães a viajar para a Hungria, para facilmente
chegarem à Áustria. Em 1989 estávamos confrontados com uma situação igual à que
antecedeu a construção do Muro de Berlim, ou seja, uma vez mais, a República
democrática Alemã voltava a confrontar-se com milhares de cidadãos que diariamente
estavam a desertar.
Como reagir a um novo êxodo demográfico, a esta ameaça existencial para a própria
República Democrática Alemã → em 1953 ou 1961, as coisas resolviam-se com
brutalidade. Mas em 1989, as coisas eram diferentes. Em primeiro lugar porque
Gorbatchov estava no poder, em segundo lugar porque a própria situação económica
da República Democrática Alemã era trágica. Em 1989 o país estava em ruínas,
próximo da falência e com mais de metade das suas instalações industriais num estado
irrecuperável.
Perante este cenário, de Gorbatchov no poder, dos outros países do Pacto de Varsóvia
estarem a caminhar decididamente para a democracia, com a economia destroçada e
o êxodo populacional, já não era possível construir um muro sobre o muro, não era
possível fortificar o país inteiro, não era possível matar todos os manifestantes, ou
seja, não era possível voltar às técnicas do passado.
Martim Ghira Campos
Mas era possível tentar salvar a situação com uma nova Lei, ou um Decreto provisório
até haver uma Lei, relativa à forma como os alemães de Leste poderiam viajar. É
exatamente isto que vai acontecer no dia 9 de Novembro de 1989, quando o Politburo
entrega ao seu porta-voz para a imprensa (Günter Schabowski), o decreto com as
novas regras para que os alemães pudessem viajar para fora da Alemanha.
Anteriormente a este decreto, quem quisesse viajar para fora da Alemanha Oriental,
teria obviamente que pedir autorização ao Estado Alemão, e era muito rara a
autorização. Nestas novas regras, a República democrática Alemã comprometia-se a
não fazer perguntas acerca da razão para viajar, prometiam ser celebres na
autorização das viagens, mas mantinham a ideia de que as pessoas teriam de pedir
para viajar mesmo que esse pedido tivesse uma resposta positiva. O pedido
continuava a ser importante.
Por outro lado, o decreto afirmava que as novas regras para viajar para a parte
ocidental, eram regras que se aplicariam a partir do dia seguinte, ou seja, dia 10 de
Novembro de 1989.
Começa a contestação a Gorbatchov pela ala dura do partido comunista e pela própria
população da União Soviética. A economia estava fraca, havia fome e a política de
Glasnost começou a possibilitar críticas ao regime. As repúblicas começam a exigir
independência e esta abertura de Gorbatchov vai ter consequências fora das fronteiras
da URSS, mas também na própria União Soviética.
O Churchill foi um pai ambíguo da União Europeia, porque se dizia que ele era
bastante comprometido e queria que o Reino Unido entrasse, mas também havia
Martim Ghira Campos
quem visse como alguém que entendendo que a união deveria existir, o Reino unido
era um bloco autónomo
A História da UE, não enquanto união entidade política, mas enquanto espaço
europeu, vai ser tratado muito tempo antes (por exemplo colonização grega, seculo
VIII a.c)
Há pontos em comum desde o Médio Oriente até à Península Ibérica, sendo que isto é
importante para mais tarde construir uma comunidade comum com as quais temos
parecenças e afinidades.
Mais tarde, temos o Império Romano como uma primeira tentativa de unificação, não
da Europa, mas de um território em torno do mediterrâneo, bem como o primeiro
caso de “cidadania europeia” (212 a.c).
Outro momento importante é a coroação de Carlos Magno como rei dos francos e
como imperador do Ocidente. É uma tentativa de reedição do império romano, que
tem nos Francos e em Carlos Magno o seu ponto fulcral. Este império acaba por dar
origem ao sacre-império romano-germânico (936 d.C). Dura até 1806 quando é
abolido por Napoleão, sendo um império que tem a sua frente príncipe eleitores, mas
que acabam por confluir na eleição de imperadores da dinastia de Habsburgo.
Toda esta influência grega, cristã, latina e de reedição do império romano, contribui
para a consciencialização de que de facto este espaço é um espaço com uma
identidade e autoridade próprias. A autoridade de Roma (papal), até aos cismas
(Oriente e reforma) era tida como a máxima autoridade na Respublica cristiana (ideia
de espaço político e espiritual do cristianismo que até hoje temos como Europa)
Todas estas realidades acabam por contribuir para formatar aquilo que hoje em dia
conhecemos como espaço europeu.
A partir de 1415 temos a expansão, que começa com a conquista de Ceuta por
Portugal, sendo que atrás vão outros povos europeus, havendo uma difusão do
cristianismo e do modo de viver europeu.
Isto contribui também para mostrar, mais uma vez, a atratividade desta civilização e ao
mesmo tempo o poder e capacidade de projeção de força que estes povos tinham
nesta altura.
Martim Ghira Campos
Nesta altura é evidente que existe uma identidade, afinidade e cultura que é
transmitida nas universidades e que é vivida no dia a dia, distinguindo este espaço,
ainda que com fronteiras muito fluidas, uma vez que a separação era convencionada.
Este espaço conhecia uma vida própria e cada vez mais concentra o poder a nível
europeu.
Há mais uma tentativa de união da europa por força das conquistas napoleónicas.
Houve mais uma coroação imperial e esforço para unificar pelas leis e ideais este
espaço europeu, mas na verdade não vingou porque os povos assim não quiseram.
Chegamos ao fim do século XIX com grandes zonas controladas por impérios que
acabam por se esboroar e por se dividir após a IGM.
Depois, nesta altura, temos os primeiros esforços e impulsos para uma primeira união
mais parecida com a que temos hoje em dia. Depois da IGM, sendo este o antecedente
mais direto daquilo que hoje temos, temos o movimento pan-europeu de
Coudenhove-Kalergi, que defendia uma unidade política continental assente na
integração franco-alemã. Ao fim de todo este tempo, ficou obvio que o grande motor
de conflitos e as grandes questões bélicas e políticas passavam claramente por um
antagonismo franco-alemão, portanto qualquer projeto de construção de alguma
forma de unidade, tinha de assentar nessa integração franco-alemã. O que Kalergi
queria não é muito diferente daquilo que temos hoje em dia, pois ele queria uma
união, que tivesse um parlamento bicamaral (baixa que representava os povos e um
senado que reunisse os representantes dos Estados). O nosso Conselho e Parlamento
Europeu, se os virmos de uma forma integrada, enquanto colegisladores, podem ser
interpretados como uma camara alta e uma camara baixa.
Kalergi teve um grande apoio do herdeiro do trono austríaco, sendo que a bandeira
pan-europeia tem grandes semelhanças com a bandeira da UE.
A ideia de Kalergi era que este processo fosse feito através de uma conferência
intergovernamental, sendo que o primeiro objetivo seria uma união aduaneira e um
espaço económico único (tudo coisas que viemos a ter mais tarde).
Este projeto caiu bem em algumas elites europeias, nomeadamente o MNE Aristide
Briand, que discursou à Sociedade das Nações precisamente propondo a construção
de uma espécie de laço federal entre os Estados Europeus.
Martim Ghira Campos
Churchill em 1946 no Congresso de Haia, quando ainda tudo estava muito no princípio,
faz um discurso que acaba com o apelo à Europa para se reerguer e procurar o
caminho da integração, sendo que mais uma vez a tónica é colocada na necessidade
do entendimento franco-germânico.
Este apelo de Churchill é seguido por várias iniciativas e Churchill mantém um poder
central neste esforço. Em 1948 há um congresso que estabeleceu um comité político
de ligação que depois vai dar origem a um movimento europeu. Este movimento
europeu propunha a formação de um Parlamento Europeu, sendo mais uma vez um
protótipo de ideias que hoje em dia vemos aplicadas. Todas estas propostas e
tentativas de um reerguer europeu com base num sistema de cooperação de Estados,
tinha o objetivo de nunca mais se escalar para um conflito armado de escala mundial
como tinham sido as GM.
Em 1948, o MNE Francês propõe aos parceiros que assinaram um tratado de aliança
entre a França o Reino Unido e o Benelux, a criação de uma união económica e
monetária, e mais uma vez, de um Parlamento Europeu. Isto vem na linha do
Congresso de Haia e o que acontece é que, juntamente com o Congresso de Haia, esta
proposta leva à criação do Conselho da Europa. O Conselho da Europa podia ter sido a
instituição que dava origem ao que temos hoje.
No entanto, acabou por não ser, isto porque, apesar de haver um objetivo de
realização de uma união mais estreita entre os países europeus, o Reino Unido fez
força para que, para além de um órgão parlamentar, houvesse também um comité de
ministros em representação dos governos nacionais, para diluir a dinâmica mais
federalizante e equilibra-la com uma tónica mais federalista. Esta conversação
permanente entre a visão francesa mais federalizante e a visão britânica mais
soberanista, vai premiar todo o debate sobre os caminhos europeus.
Neste caso, o que acontece é que o comité de ministros acabou por ter uma
preponderância grande na dinâmica deste novo Conselho da Europa e, portanto, o
propósito de supranacionalidade que podia ter incorporado, acabou por não
Martim Ghira Campos
acontecer. Dado isto, o Conselho da Europa acabou por não ser o motor da construção
europeia que poderia ter sido.
• Conselho da Europa
• NATO – aliança defensiva de dimensão militar e de segurança
• OECE (Organização Europeia de Coordenação Económica) - onde se procurava
coordenar o auxílio americano dado à Europa através do Plano de Marshall
Estas iniciativas, de uma forma ou de outra, acabam por ter o mesmo propósito de
assegurar a paz e de procurar um caminho de integração que dificulte a guerra e a
opção bélica entre os Estados que compõe a Europa.
Um homem que teve um papel muito importante e esteve na base daquilo que
realmente veio a acontecer e daquilo que verdadeiramente despoletou a construção
institucional que temos hoje, foi Jean Monnet. Ele criticava o funcionamento do
Conselho da Europa, porque entendia que mais do que grandes construções e grandes
anúncios, era necessário seguir uma estratégia de pequenas realizações comuns
(Estratégia dos Pequenos Passos). Esta estratégia devia motivar a criação de uma
solidariedade de facto entre estes países que tradicionalmente eram rivais. Era preciso
impedir que os focos de discórdia continuassem repetidamente a ser usados entre as
duas principais potencias tradicionalmente beligerantes na Europa (Alemanha e
França).
Estrasburgo, zona da França que faz fronteira com a Alemanha, é uma zona altamente
rica em minério (Carvão e Aço), que juntamente com a região do Sarre e da Alsácia-
Lorena, era motor de conflito entre a França e a Alemanha e impediam a sua
reconciliação. Portanto Jean Monnet pensa que o melhor seria criar uma autoridade
supranacional que regesse a gestão desses recursos essenciais para as indústrias e
para a condução da guerra.
Quem acaba por dar voz a estas propostas de Jean Monnet é o MNE Francês Robert
Schuman, que a 9 de Maio de 1950 propõe diretamente à Republica Federal da
Alemanha (que estava dividida em Federal controlada pelos Aliados e Democrática
dominada pela URSS) que o conjunto da produção e comercialização do carvão e do
aço fosse colocado sob a direção de uma alta autoridade, sendo ela que geriria a
produção e que faria de árbitro em caso de algum problema entre os dois Estados.
Martim Ghira Campos
O convite não visava apenas aliviar tensões políticas entre a Alemanha e a França,
porque é um convite aberto a todos os Estados que queiram aderir.
É uma visão com uma dupla dimensão → tem o propósito último de unificação dos
Estados, mas usam o método funcional (de usar como mecanismo um método
funcional e gradual que começa por questões concretas que gerem a tal solidariedade
de facto)
Estes propósitos são aceites pelos Estados e há um tratado de 1952 que cria uma
comunidade europeia de defesa. No entanto, este propósito choca com a oposição de
dentro da França, nomeadamente o General de Gaulle que teme o tal rearmamento
alemão, bem como parte da esquerda francesa também se opõe à entrada em vigor
desta comunidade de defesa e este tratado acaba por não vigorar porque a
Assembleia Nacional Francesa recusa a retificação do tratado. Em 1954 a França
decide que não viabilizará esta comunidade europeia de defesa, ficando desde logo
entendido que este caminho da segurança e defesa é mais sensível e não será dos
primeiros a vingar uma maior e mais rápida integração europeia.
Martim Ghira Campos
A verdade é que estas duas visões, a de Jean Monnet e a dos Ministros do Benelux,
acabam por confluir na proposta de criação de duas comunidades. A visão de Monnet
origina a proposta da Comunidade Europeia de Energia Atómica, que é setorial e é a
europeização da utilização da energia atómica não militar. A proposta dos Ministros do
Benelux redunda na proposta de criação da Comunidade Económica Europeia que tem
um âmbito maior de integração das atividades económicas e na criação de um grande
mercado único com liberdades de circulação, estabelecimento, etc., contrastando com
a especificidade da Comunidade Europeia de Energia Atómica (Euratom)
Porquê a criação de três comunidades (CECA, CEE, Euratom) e não integrar logo tudo
numa só? Esta questão tem a ver com a prudência dos negociadores, que
consideravam que o risco de a negociação descambar em casos em que os objetos
eram demasiado amplos, podendo pôr em causa a globalidade de tudo aquilo que era
proposto, que face à importância e ao carater absolutamente determinante que a
energia atómica assumia naquele período pós IIGM, havia que garantir que pelo
menos essa vingaria. Portanto optou-se pela proposta de duas novas comunidades em
vez de uma, de maneira a garantir que a Euratom vingaria.
Esta tria de comunidades, sendo objeto de gestão autónoma, acabam por evidenciar a
necessidade de terem instituições comuns e há desde logo uma Assembleia
parlamentar e um Tribunal de Justiça que rege as três comunidades.
Em 1965 dá-se o tratado de fusão que estabelece um Conselho único e uma Comissão
Única em vez da alta autoridade, para as três comunidades europeias. A alta
autoridade é um antepassado da atual Comissão Europeia.
As três comunidades acabam por se fundir numa Comunidade Europeia e essa fusão
entrou em vigor em 1967.
Fora deste processo de integração, ficou, por via do entendimento britânico inicial
relativamente às comunidades europeias, o Reino Unido. O Reino Unido recusou-se a
aderir como membro fundador e depois, quando as coisas correram mal com a crise
Martim Ghira Campos
O Reino Unido podia ter sido fundador e não quis. Criou o seu próprio espaço
concorrente, a EFTA, mas depois percebe a utilidade de aderir, propõe a adesão, mas
de Gaulle veta a adesão em 63 e 67. Só quando Charles de Gaulle sai do poder em
1969 é que a candidatura britânica tem margem para progredir.
Nesta altura o Reino Unido é visto como um elemento que pode revitalizar e dar mais
força a esta nova Comunidade e, portanto, com ele, iniciaram negociações a
Dinamarca, a Irlanda e a Noruega (acabou por ficar de fora).
O próprio nome União Europeia não é novo. Ele entra em vigor com o Tratado de
Maastricht, mas, já na Cimeira de Paris se advogava a transformação das comunidades
numa União Europeia. Há uma série de propostas que vão sendo agregadas e fundidas,
acabando por influir decisivamente no modo como a comunidade e depois a união
evoluíam.
Há uma fase de crescimento económico que vai até aos anos 70, fase essa onde as
comunidades eram uma fonte de paz, estabilidade e produtividade, surgindo a ideia de
que era necessário dar-lhes uma tessitura política maior, e, portanto, pensou-se que a
realização de eleições por sufrágio direto para o Parlamento Europeu, fariam confluir
em seu redor um maior consenso popular. Até esta altura (anos 70), a questão da
aceitação pública ou não do projeto, não era propriamente uma questão muito
importante.
Este processo de integração que teve vários caminhos apontados e vários interpretes,
foi evoluindo entre grandes, pequenos e médios avanços, bem como entre propostas
mais ou menos ambiciosas, mas sempre num determinado sentido.
consciência das suas debilidades e tem uma noção clara de que para sobreviver
precisa de agir em conjunto.
• 2013 → Croácia
Só com o Brexit é que este movimento de integração conhece o seu primeiro refluxo.
Tudo isto faz com que este período de criação das primeiras comunidades até ao
primeiro alargamento, seja essencial para perceber muito do que acontece depois. A
fase preliminar em que há vários projetos, várias propostas, vários discursos e vários
caminhos, todos eles, em conjunto, acabaram por motivar aquilo que temos hoje de
diversas maneiras.
11 de Setembro de 2001
Para retratar o que aconteceu na manhã de 11/9 em Nova Iorque e não só, é
necessário não só recuar ao século XX, mas também ao século XIX, sendo necessário
falar das raízes do islamismo radical.
Martim Ghira Campos
Esta sensação de declínio e de que a glória do passado não volta mais, sendo preciso
procurar outros caminhos ou retomar caminhos que se perderam, torna-se
particularmente premente com a desagregação do Império Otomano (consequência
da IGM)
O Império Otomano era fundamental desde o século XIV, mas sobretudo a partir do
século XVI, porque mantinha a unidade do califado. O Império Otomano era a
realidade política que mantinha a unidade do mundo muçulmano. Perdida esta
unidade, o que acontece é que, com a desagregação do Império Otomano, com o
domínio de potências estrangeiras em território muçulmano (França e Grã-Bretanha),
isto vai ter um impacto traumático na mentalidade islamita radical. Ou seja, o
problema depois de 1918, já não estava apenas em comparar o relativo atraso do islão
em comparação com o Ocidente, pois o problema agora estava em ser governado pelo
Ocidente, quer de forma direta pelo sistema de mandatos da Liga das Nações, quer de
forma indireta pela constituição de autoridades politicas ocidentalizadas que aos olhos
do islamismo radical não eram mais do que simples marionetas nas mãos de interesses
ocidentais.
Perante isto e perante este impacto de ocidentalização, vamos começar a ver autores
muçulmanos que vão começar a refletir sobre qual deve ser a forma de organização
política e social aconselhável, o que é que deve ser um Estado Islâmico, qual é o papel
da Lei nesse Estado, qual é o papel dos homens nesse Estado. Nesse sentido, o
primeiro grande pensador do islamismo radical moderno é Abul Maududi. É ele que
começa a teorizar pontos importantes do Estado Islâmico e de como o mesmo deve
ser.
Martim Ghira Campos
2) É Deus que oferece a legislação aos homens, não podendo ser modificada por
mãos humanas
Se Maududi teve este papel fundamental, um facto que vai acontecer na década de
1920 vai ser também fundamental neste adensar de narrativa sobre o islamismo
radical, sendo isso a formação da Irmandade Muçulmana no Egito.
guerra santa, o martírio → surge quase como uma espécie de rotina quotidiana,
representada por bombistas suicidas
Hassan al Banna afirma que o Ocidente é forte em questões materiais, mas que o
Médio Oriente se deve concentrar no facto de o Islão ser forte em questões
espirituais, ou seja, de que vale ao Ocidente ter um nível de prosperidade elevado,
quando na verdade produziu duas guerras catastróficas por ser pobre espiritualmente
e do ponto de vista moral.
Qutb é o herdeiro intelectual de Hassan al Banna, mas a radicalização deste autor não
se processará apenas em confronto com a alegada corrupção da monarquia Egípcia, ou
seja, aquilo que interessa a Qutb não é apenas a crescente ocidentalização do seu
próprio país e a forma como isso estava a pôr em causa a mensagem tradicional do
Profeta. Qutb viajou para o Ocidente e contactou com a cultura Ocidental, deixando
uma descrição daquilo que para ele foi um choque profundo espiritual e de valores,
numa obra importante para compreender o islamismo radical e o que se passou em
Nova Iorque em 2001 → Milestones
Qutb deixa a descrição do Ocidente como um Inferno, ou seja, o que viu foi uma
sociedade essencialmente materialista, hedonista, onde existia liberdade para as
mulheres. Qutb deixou feições ao perigo do Ocidente e da forma como a
Ocidentalização punha em risco a pureza da mensagem corânica. Este escrito vai ter
uma influência decisiva no que se vai passar no Médio Oriente, sobretudo a partir da
segunda metade do século XX.
Isto foi uma base intelectual acerca do islamismo radical, no entanto são os
acontecimentos que fazem catapultar aquilo que está apenas no domínio intelectual.
2) Invasão do Afeganistão pela URSS → A União Soviética invade o país para evitar
a decomposição do poder comunista Afegão, mas o que se vai passar é que a
ação militar vai acabar por unificar várias tribos afegãs e vai fazer com que os
Mujahidin combatam o inimigo infiel. De certa forma os Mujahidin entenderam
que a guerra santa (que resultou no caso do Irão), era para ser replicada no
Afeganistão.
O Afeganistão, nesta altura, converteu-se no principal palco militar de todos
aqueles que pela força das armas procuravam vencer os inimigos infiéis (URSS,
no sentido de que era uma ideologia materialista, ateia). Esta invasão vai levar
também ao apoio dos EUA aos Mujahidin.
Para além disso, de forma a que a casa Saudita possa mostrar o seu
compromisso na luta contra os infiéis, vai apoiar os rebeldes afegãos na Guerra
do Afeganistão, sendo neste contexto que Osama bin Laden vai decidir juntar-
se à Jihad no Afeganistão.
É nesta altura, década de 1980, que se verifica o papel determinante de Osama bin
Laden. Bin Laden tinha sido profundamente influenciado por todos os teóricos do
islamismo de que foram falados. Vai ser um dos principais operacionais no
Afeganistão, desenvolvendo a sua luta com sucesso e a derrota soviética vai galvanizar
Osama bin Laden, que em 1988 vai fundar a Al-Qaeda.
O objetivo inicial da Al-Qaeda era a derrota completa dos soviéticos e espalhar a Jihad
e a Guerra Santa pelo Médio Oriente em primeiro lugar e depois poder levar a Guerra
Santa ao coração dos infiéis.
Como é que alguém que foi financiado e patrocinado pelos EUA enveredou pelo
caminho da Jihad? É necessário avançar até à primeira Guerra do Golfo. O que vai
catapultar este conflito vai ser a invasão do Kuwait (produtor de petróleo) pelo Iraque
de Saddam Hussein. Este acontecimento vai marcar o afastamento de Osama bin
Laden relativamente à Arábia Sudita e aos EUA, transformando-o num dos principais
inimigos da República Americana.
Porquê? Quando se dá a invasão do Kuwait por parte de Saddam Hussein, bin Laden,
que tinha conseguido uma vitória importante contra a URSS no Afeganistão, vai
colocar à disposição da casa real saudita os seus guerreiros. O que vai acontecer é que
a Arábia Saudita vai optar por uma coligação internacional liderada pelos EUA, ou seja,
a Arábia Saudita vai permitir uma espécie do mesmo erro que tinha cometido em 1979
com a ocupação da Mesquita por parte das tropas francesas e paquistanesas. Neste
sentido, a Arábia Saudita não só vai optar pela coligação internacional, como vai
permitir a construção, em território saudita (coração do islão), e bases militares norte-
americanas. No entendimento da Al-Qaeda e de Osama bin Laden, o que se estava a
passar era uma espécie de repetição do Afeganistão com a entrada de tropas
Ocidentais no país e uma repetição daquilo que se tinha passado na Mesquita em
1979, ou seja, um sacrilégio.
Isto vai se ver com um conjunto de ações de Osama bin Laden, ações essas que se vão
prolongar ao longo de toda a década de 1990 e que passaram ao lado dos EUA e da
comunidade internacional, sendo encaradas como atividades terroristas despegadas e
sem nenhuma espécie de fio coerente, sendo que na realidade ganharam outro
sentido com o 11/9/2001.
Martim Ghira Campos
Exemplos disso são alguns atentados reivindicados pela Al-Qaeda ao longo da década
de 90, começando-se a constituir como uma espécie de inimigo invisível dos EUA,
semeando o terror sempre que há presenças de tropas americanas. Um dos casos mais
badalados foi aquilo que se passou na Somália em 1992 → Tropas americanas vão
entrar na Somália para restaurar as condições de segurança, mas na verdade, para o
líder da Al-Qaeda, a presença americana na Somália vai se afigurar como mais uma
investida dos cruzados contra o islão. Aqui com uma diferença, pois os americanos
montam uma operação para capturar o comandante da milícia muçulmana que
dominava a capital e, portanto, a luta contra os americanos é perspetivada como uma
luta santa/sagrada e que vai terminar com a morte dos soldados americanos. Isto que
se passou na Somália foi uma espécie de evidência de que é possível derrotar os
soldados americanos e de que os soldados americanos, confrontados com uma
agressão desta natureza, não estão dispostos a retaliar ou a reagir.
Na Somália, os EUA, tal como em todas as outras situações em que não conseguiram
lidar com o ataque, retiraram as suas tropas, sendo isto interpretado como uma vitória
dos islamitas que convida a novas ações de terror.
Sendo isso que vamos ter ao longo da década de 90, por exemplo, em 1996, depois do
triunfo na Somália, Osama bin Laden vai fazer uma declaração de guerra contra o
Ocidente e especialmente contra os EUA. Nesta declaração de guerra, Osama bin
Laden vai descrever quais vão ser os seus planos para os anos seguintes. Fala
explicitamente da batalha da Somália que levou aos EUA a retirarem-se depois da
humilhação, fala sobre a necessidade de punir o infiel onde quer que ele se encontre
(a luta não se ficava pelas fronteiras tradicionais do Médio Oriente) e fazia também a
afirmação de que não havia mais distinção entre alvos militares e alvos civis.
Se bin Laden afirma isto em 1996, é precisamente isso que vai fazer em 1998, quando
as embaixadas americanas no Quénia e na Tanzânia são atacadas por bombistas
suicidas. Mais uma vez, como bin Laden já tinha dito, a reação dos EUA é tímida e
praticamente nula
Perante isto, ataques que não são retaliados nem controlados, a Al-Qaeda vai
avançando. No ano de 2000, a Al-Qaeda vai atacar o navio USS Cole, acontecimento
com reação fraca dos EUA.
É perante esta escalada de atividade terrorista imparável que vamos ver, no decorrer
da década de 1990, o 11 de Setembro de 2001. Ao contrário do que muitas vezes se
diz relativamente ao 11/9, o 11/9 não marcou o início de nada, quanto muito deve ser
percecionado como o culminar de uma ação terrorista que é muito anterior do ponto
de vista teórico e prático.
Período que contrasta com a relativa tranquilidade que afetou em grande medida o
Estado Novo. O Estado Novo foi um período de estabilidade política, mas a
aproximação do seu fim vai ter uma aceleração histórica que precipitará o país em
mudanças muito relevantes, sendo que mesmo do ponto de vista político e geográfico,
o Estado português que sai do Estado Novo é completamente diferente.
Mas nada é eterno e Salazar de uma forma não prevista, tem um acidente, sofrendo
um AVC na celebre queda da cadeira em 1968 e em 26 de Setembro, o Almirante
Martim Ghira Campos
Marcelo Caetano, não só era um produto do regime, como também era autor do
regime, pois contribuiu para que o regime fosse o que ele era.
O Marcelismo aparece como uma lufada de ar fresco num regime que estava
demasiado fechado sobre si próprio e aparece como algo que tenta assegurar alguma
transição de uma forma calma e moderada (evolução na continuidade, algo que não
foi possível, mas a ideia era essa, de modernizar o regime económica e politicamente,
suavizar a ação do regime).
Os cenários não são todos iguais, há três teatros de operações → Angola, Moçambique
e Guiné. Em Angola a guerra era praticamente nenhuma, em Moçambique igualmente.
Já na Guiné o cenário era pior e mais intenso.
Este período também conhece obras grandes como Sines, havendo uma tentativa de
mostrar um novo ímpeto, uma nova dinâmica e de promover algum tipo de mudanças
no sentido de uma abertura gradual do regime.
Mas o problema era a Guerra e o que isso representava. A Guerra chegou a importar
em 50% da despesa pública e consumia mais ou menos 6% do PIB. Mais do que a
questão económica, que estava mais ou menos controlada, a questão social e o
impacto social eram muito significativos. Esta mudança foi sendo operada lentamente
do ponto de vista social, este advento de uma nova classe média, esta absorção de
ideias que faziam caminho para a Europa (nomeadamente de esquerda e extrema-
esquerda que tinham sido em grande parte promovidas pelo Maio de 1968) fizeram
com que o aliviar inicial da repressão e da censura tenha vida muito curta, tendo isto
como consequência um fechamento do regime, de modo que a Ala Liberal acaba por
romper com Marcelo Caetano, desiludida do modo como o regime não evoluía.
Esta desilusão interna e este fechamento do regime, têm também uma componente
externa. Há uma crise petrolífera em 1973 que faz com que a inflação e o custo de vida
Martim Ghira Campos
Há uma missão da ONU às zonas controladas pelo PAIGC na Guiné, em 1972 vários
dirigentes são autorizados a dirigir-se ao Conselho de Segurança das Nações Unidas e
em 1973 a Assembleia Geral da ONU reconhece mesmo a independência da Guiné.
Tudo isto mostra até que ponto era exercida pressão sobre um Estado que era, para os
padrões europeus, pouco desenvolvido e que mantinha, de uma forma estoica, esta
luta contra a pressão do tempo, isto porque todos os Estados europeus já tinham
descolonizado nesta altura.
Este cansaço e esta sensação de bloqueio, acaba por afetar os mais diretamente
envolvidos na guerra, ou seja, os militares. Em Dezembro de 1973 é criado um
Movimento das Forças Armadas que, numa primeira fase, tinha sobretudo uma origem
de debate corporativo, isto é, foi criado por causa de um célebre decreto do Ministro
Sá Viana Rebelo, que fazia uma tentativa de engrossar as fileiras do oficialato
português, por via da incorporação nos quadros de oficiais milicianos e não de carreira.
Isto gerou um descontentamento tremendo, gerou uma ideia de que não estavam a
ser cumpridas as hierarquias habituais num setor que dá muito valor a essa hierarquia
e, portanto, há um descontentamento que tem uma raiz corporativa, mas que
rapidamente ganha outras cores e outros aspetos.
Portugal e o futuro dizia aquilo que já se sabia, que uma Guerra como aquela não
podia ser vencida militarmente e defendia negociações com os movimentos
independentistas e advogava para o território português uma solução de tipo federal.
Martim Ghira Campos
Generais que não vão a este beija-mão → Francisco da Costa Gomes e António de
Spínola, que são demitidos.
Imediatamente a seguir, 2 dias depois, dá-se uma primeira tentativa de golpe, o Golpe
das Caldas. Esse golpe fracassa, há alguma precipitação e aceleração desnecessárias,
que têm como consequência a existência de tropas fiéis ao governo que acabam por se
interpor no progresso, acabando por ser detidos vários oficiais.
Temos um regime que sente duvidas crescentes por parte da população e que está de
alguma forma imobilizado. Há um contraste do imobilismo do regime e uma aposta em
África da sua Ala mais direita, e uma sociedade em mudança que é premiada por
valores socioculturais e morais mais à esquerda, apostada numa convergência com a
Europa.
Salgueiro Maia, mente e diz “sim, está, podes avançar”. Era importante para os oficiais
a validação de um oficial general com a reputação de Spínola.
É logo formada no dia 26 de Abril, uma junta de salvação nacional que é presidida por
Spínola e que tem dois oficiais de cada ramo.
Há um súbito interesse por Portugal nesta altura, isto é, Portugal é visto com muita
curiosidade: depois de tantos anos como baluarte de um colonialismo que era cada
vez mais visto como algo datado e desatualizado, há um interesse dos jornais e das
televisões, de pessoas que querem perceber o que se passa e perceber o que tinha
sido este golpe e esta revolução.
• A elite política que tinha sido relativamente coesa e fechada, foi saneada.
o Também há elementos que não são partidários, mas que têm influência
política, como o COPCON (Comando Operacional do Continente) que é
controlado por Otelo Saraiva de Carvalho. Temos também Vasco
Gonçalves que também é um dos principais elementos ligados à direção
do Movimento das Forças Armadas, que tem posições mais
esquerdizantes e que terá um papel relevante.
Aquele Portugal irredutível face ao destino do seu Ultramar, é o mesmo Portugal que
promove negociações rápidas com os movimentos independentistas e que, devido à
pressão sentida e exercida pela ala mais esquerda deste novo sistema político, se vê
incapaz de resistir à pressão de descolonizar.
Spínola tenta obstar a isso, pois o seu projeto e visão para Portugal não era essa e
tenta por tudo que isso não aconteça. No entanto, a Guiné pressiona para que a
dominação portuguesa acabe e ainda durante a presidência de Spínola, a Guiné torna-
se o primeiro Estado Africano Lusófono independente.
Estas independências vão acelerar num período seguinte, de modo que, em Novembro
de 1975, já todos os novos Estados africanos de língua portuguesa são independentes
→ Guiné-Bissau, Moçambique, Angola e São Tomé e Príncipe.
Foi uma mudança muito radical e muito rápida, tendo como passivo um retorno de
meio milhão de portugueses de origem europeia, que regressaram e tiveram de se
integrar na sociedade portuguesa (grande parte voltou sem nada).
Este Portugal vê-se reduzido à sua expressão europeia pela primeira vez desde 1415
(tomada de Ceuta). Isto é muito novo e é um choque de grandes proporções face
aquilo a que era o entendimento dos portugueses sobre si próprios e o entendimento
dos políticos portugueses sobre qual era o espaço natural em que Portugal se movia.
Deixou de ser um país pluricontinental, para ser um país meramente europeu.
A partir daí há uma aceleração muito mais rápida na esquerdização do regime, a Junta
de Salvação Nacional é substituída pelo Conselho da Revolução, a banca é
nacionalizada, as seguradoras são nacionalizadas, as empresas de transportes são
nacionalizadas, a energia, os cimentos, o tabaco….
Há uma ocupação de grandes territórios rurais no Sul (reforma agrária) e estamos cada
vez mais perante um conflito entre dois tipos de legitimidade: uma legitimidade
eleitoral e uma pertença legitimidade revolucionária daqueles que controlam as ruas e
que têm grande parte das armas.
Ao contrário do que supunham aqueles que controlavam as ruas, o PCP tem menos de
13% e elege 30 deputados. As forças mais votadas são o PS e o PPD.
Foi extinto o COPCON que era uma espécie de guarda pretoriana e que influía de
forma menos agradável na vida política e que tinha uma ação radicalizador muito
significativa.
Este ano de 1976 tem muitas eleições → Abril as legislativas, em Junho Ramalho Eanes
é eleito Presidente da República e são eleitos os primeiros governos e assembleias
regionais, sendo que nesse ano ainda há eleições autárquicas.
Há um acordo com o FMI para que Portugal seja ajudado externamente, deixou de
haver obstáculos ao rumo europeu e Portugal reforça o seu propósito de adesão às
Comunidades Europeias, adere ao Conselho da Europa em 1976, apresenta uma
candidatura formal à CEE em 1977 e assinou o tratado de adesão em Junho de 1985
para vigorar em 1986.
A vida de Portugal pós 1974 é muito instável e com muitos governos diferentes.
Esta integração europeia era vista como essencial para consolidar a democracia.
Em 1986 o PSD vence as legislativas sem maioria absoluta, maioria essa que viria a ter
depois.
Martim Ghira Campos
Temos uma Terceira República que pode ser dividida em vários períodos: