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Tradição dos Grandes Livros I - A Política de Aristóteles

2ª Frequência

Livro 1

Tudo nesta obra vai ser encarado de uma perspetiva teológica - a finalidade de algo é o que nos
faz distinguir uma coisa de outra (ex: para definir um relógio temos que dizer que é um
instrumento para medir o tempo e não atribuir-lhe uma série de atributos como é de vidro, quartzo,
aço, etc).

Comunidade - Koimonian (ter em comum)


Constituída tendo sempre em vista o BEM - é o fim último a atingir pelo Homem em comunidade

Aristóteles menciona três tipos de entidades que se tratam de comunidades:

- Família (oikos)
- Aldeia
- Cidade: comunidade mais elevada de todas que visa alcançar o maior de todos os bens. Só
esta pode ser uma comunidade política.

- 1ª Forma de comunidade: Família


Comunidade fundada de acordo com a natureza para satisfazer necessidades quotidianas.

Três tipos de relações:


1. Homem x Mulher (procriação)
2. Senhor x Escravo (segurança)
3. Pai x Filhos

• No que toca à mulher, Aristoteles pensa que o Homem está mais apto para governar, pelo que
este governa a mulher como cidadã e o escravo de uma forma despótica.

2. Teoria da Escravatura - capítulo 3


É uma tentativa de legitimar e justificar a relação Senhor x Escravo. A autoridade despótica
(Despotês) do senhor face ao escravo funciona como a autoridade de uma tirania, mas esta
autoridade é boa e justa (a tirania é má e injusta).

Escravo ⟶ Instrumento destinado à ação com existência autónoma = humano e instrumento

em simultâneo.

1º Semestre 1 Guilherme Echeverri


Escravo de Natureza
1. Diferença que existe entre a alma e o corpo: o escravo tem como melhor qualidade o uso
do seu corpo e é o melhor que se pode conseguir dele. “Na alma de certos homens, o melhor
que podem dar é o corpo.
2. O escravo participa da razão, pode compreender, mas não consegue ele próprio pôr em
ação a sua razão (escravos e animais são semelhantes).

A questão não tem a ver com questões físicas; embora a natureza o modele o corpo, nem sempre
é assim. Também não é hereditária, embora a natureza para aí incline as coisas.

No capítulo 6, Aristóteles revela que há um tipo de escravatura que não aceita, que é aquela que
existe por convenção e não por natureza. Por exemplo, para povos conquistados em guerras é
possível serem escravizados pelos seus “conquistadores”. Portanto, a escravatura como espojo
de guerra é condenada por Aristoteles - e sempre que esta não tem fundamentação natural,
também o é.

Os escravos não deliberam (seriam pessoas com debilidade mental?), não têm capacidades
adequadas para atingir os seus fins próprios, precisando de um senhor que governe por eles.
Portanto, o senhor e o escravo promovem mutuamente as capacidades dos dois. Aristoteles
defende que devem ter uma relação de interesse e amizade.

A autoridade despótica do senhor é boa nas segundas condições: senhor e escravo, um


naturalmente superior, deve ajudar o outro, inferior, a deliberar porque não lhe é possível, tendo
em vista os interesses mútuos. Portanto, acaba por ser uma relação de reciprocidade. O senhor
orienta o escravo e este promete-lhe obediência. Não se trata de uma tirania, visto que apenas o
seria entre pessoas iguais (aí sim é má e injusta); neste caso, temos um naturalmente superior e
outro inferior.

Homem enquanto Pai e Marido


Governa a mulher - uma cidadã - e os filhos - súbditos. A primeira relação é marcada pela
desigualdade e a segunda pela educação através da amizade.
A mulher delibera, mas não tem capacidade de decisão, ficando indecisa na altura de tomá-las
visto ser demasiado emocionais - não tomam as decisões ao concluir o meio para determinado
fim.

1º Semestre 2 Guilherme Echeverri


2ª forma de comunidade: Aldeia
Primeira comunidade formada por várias famílias para a satisfação de carências além de
necessidades diárias. A forma de autoridade nesta comunidade é o domínio régio (tal como o pai/
marido).

3ª forma de comunidade: Cidade


Comunidade completa, é um conjunto de várias aldeias que pretende o máximo de auto-
suficiência ou auto-suficiência (Autarkeia) - condições que permitem ao Homem viver ⟶ meios

para a VIDA (Zen).

Além disto, a cidade subsiste também (e sobretudo) para assegurar a VIDA BOA (Euzen). Para
uma vida boa, temos que saber o que é o bem: bem supremo = felicidade.

A cidade tem também como objetivo fazer com que os cidadãos consigam alcançar a felicidade,
tendo, com a cidade, meios, integralidades, para alcançar fins.
↳ As outras comunidades, família e aldeia, não são completas, visto que só conseguem alcançar
os seus fins numa cidade.
Então, a cidade é uma unidade política que assegura todos as necessidades que lhe
compete - vida e vida boa.

Como vimos, vida qualificada de boa = felicidade (bem último). Qual é então a condição essencial
para a felicidade? É a virtude, a atividade da alma segundo a virtude.

Dizer que a cidade tem como competência criar condições para a vida boa, isto é, para a
felicidade, é o mesmo que dizer que tem condições para que se exerça a virtude.

Virtude = excelências que definem o homem; ações nobres, felizes e justas.

Para Aristóteles, a função de politico é das mais importantes, que deve ser exercida através da
virtude (ações boas e justas). A virtude específica do politico é a prudência: saber teórico, que
trata da prática, consistindo em saber tratar o bem concreto através do universal.
Por outro lado, a perícia política consiste na criação de uma boa cidadania.

Na política, não devemos olhar tanto ou somente para os RESULTADOS da ação, mas
principalmente para A FORMA como se chegou a esses resultados. Aqui, consideramos então
que os meios têm uma grande importância, visto que estes qualificam a ação. Tal como se

1º Semestre 3 Guilherme Echeverri


costuma dizer, as ações ficam com quem as pratica - isto define a pessoa. Os meios não são
justificados pelos fins.

Ação
Resultado
Político da ação
(fim)
Como
foi feito?
(meio)

A política é semelhante a uma technê, mas esta considera apenas o fim; neste caso, interessa-
nos a forma como chegamos a esse fim.

O politico só é bom politico se uma ação boa levar os outros a praticar ações boas. A sua
ação deve criar VIRTUDE e EXCELÊNCIA. Por isso, o BEM AGIR é o objetivo da política, para,
assim, obter bons resultados.

Por outro lado, é preciso encontrar uma ponte que ligue a prática à teoria - é aí que entra a
virtude. Esta não nasce com a pessoa, o homem tem que a desenvolver com o HÁBITO.

Assim o objectivo do homem é: realizar a concretização de uma vida boa através de meios
virtuosos e prudentes.

Sinal de felicidade = boa sorte na vida.

O homem tem a possibilidade de ser feliz e à cidade compete-lhe ser o maior para alcançar a
felicidade. A causa final de uma coisa = seu melhor bem.

A cidade é natural ao Homem - é produto da ação consertada dos Homens -, tendo em conta
que a natureza de uma coisa diz respeito ao seu fim (relembrar perspetiva teológica de
Aristóteles).

Ela é o meio e o fim ao mesmo tempo. É essencial para que o homem atinja o máximo das suas
potencialidades, alcance o seu fim (a felicidade); para que haja a realização da natureza humana.
(p.482 e *)

1º Semestre 4 Guilherme Echeverri


CIDADE REALIZADA ⟷ HOMEM REALIZADO

MEIO TERMO ENTRE COLETIVISMO e INDIVIDUALISMO

Por isso, o homem, para ser melhor, precisa da comunidade (da família e da cidade) - precisa dos
outros para alcançar os seu fim. Ele é, então um “zoon politikon” - um vivente/ser vivo político
no sentido pleno. É o mais politico dos seres porque possui razão, o que lhe permite fazer
distinções morais (entre o que é justo ou injusto, ou o que é o bem e o mal), tendo assim condisse
para escolher a vida boa.

Caso o homem não se consiga envolver em comunidade, isto é, não precise da cidade das duas
uma: ou é um bicho - “besta soltaria” - ou um “deus”. Aquele que precisa dela, está sempre à
procura do melhor para si (vida/boa).
Para Aristóteles, o todo é anterior à parte. Em simultâneo, o indivíduo está para a cidade como
a parte está para o todo.

Por exemplo, uma mão morta no chão deixa de ser uma mão - passa a ser apenas carne e osso
em forma de mão. A mão perde a sua finalidade, deixa de ser operativa, deixando de ser uma
mão. O mesmo acontece com o homem quando não tem a cidade - passa a ser nada sem a
comunidade política. Por isso, Aristóteles considera que o indivíduo é apenas funcional dentro
de um todo; sem ele não têm substância própria. Baseia-se nas relações e na sua função no
interior delas.

Estaremos, então perante uma conceção organicista de comunidade política?

Livro II - Crítica a Platão


Relembrando, a cidade é uma comunidade, visto que é uma forma de ter em comum. Será então
que os habitantes da cidade:
- têm tudo em comum?
- nada têm em comum? - EXCLUÍDO, porque é uma comunidade
- têm algumas coisas em comum?

1º Semestre 5 Guilherme Echeverri


A partir de aqui, Aristóteles desenvolve uma crítica a Platão.

Análise - não vai analisar a Republica como obra geral, está sim a focar a atenção num ponto
singular: comunidade de bens, filhos, mulheres e propriedade.

Aristóteles vai ao ponto central da crítica: contradição de Platão

Platão ⟶ “Para toda a cidade, a maior unidade possível é o maior dos bens” - ideia de que a

MAIOR UNIDADE POSSÍVEL é o maior dos bens, embora pense que a cidade seja una.

Aristóteles ⟶ a cidade é PLURAL por natureza, lembrando que o Homem é um ser politico.

Seguindo a perspetiva de Platão, cada vez mais unidade vai dar origem à desfragmentação de
cidade e, passando a assemelhar-se mais a uma casa e a uma família.

Platão ⟶ unidade somática (todos irmãos de todos, todos pais de todos) ⟶ comunidade

extremamente unitária, até demasiado. Será, desta forma, uma cidade?

Aristóteles ⟶ a cidade não é naturalmente unitária

1. Se uniformizarmos demais a cidade, destruímos a sua pluralidade típica de cidade e dos seus
indivíduos
2. Contradição entre máxima unidade possível e autossuficiência

Quanto mais aglomerado tornamos algo unitário, pior. A cidade é menos unitária que a casa, mas
é mais auto-suficiente. Existe uma unidade desejável, mas uma “unidade cooperativa e
hierarquicamente estabelecida com a máxima unidade possível não concretiza isso. Da forma que
Platão fala, as relações deixam de ser plurais.
A auto-suficiência para Aristóteles não é apenas material. É também moral, logo precisamos da
pluralidade de ideias e discurso que existe na sua conceção de cidade, sendo meio caminho
andando para a vida boa.

Crítica à propriedade
Outro problema é a maneira como, na República, cada um encara a propriedade.
Razões:
1. o facto de todos chamarem “meu” ao mesmo objeto - a posse comum leva a discórdia
2. cada um preocupa-se muito mais com o que é sei e o comum é tratada como um pouco de
descuido, pensando que os outros vão cuidar dele.

1º Semestre 6 Guilherme Echeverri


Então:
Platão ⟶ Posse comum.

Aristóteles ⟶ Cada um está mais disponível a cuidar daquilo que lhe pertence com

exclusividade, isto é, de posse privada.

Ex: Computador na Escola (de todos) vs. Computador de casa (meu - logo, tenho mais cuidado)

Cap. 5 (p.115) - Posse comum vs. Posse privada

Para Aristóteles:

POSSE COMUM USO COMUM

POSSE PRIVADA USO PRIVADO

1) Posse privada ⟷ Uso privado X ⟶ devia ser comunidade

2) Posse comum* ⟷ Uso comum X ⟶ menos bem geridos em comum

3) Posse comum* ⟷ Uso privado X ⟶ posse comum igualmente, logo exclui-se

4) Posse privada ⟷ Uso comum ✓

*Lembre-se que a posse comum gera discórdias e põe em risco a paz pública ⟶ conflitos

A administração dos bens num regime de propriedade privada é mais ordenado:


1) Cada um é mais solicito a gerir o que é seu
2) A posse comum põe em risco a paz pública
3) A administração dos bens é mais ordenada

Logo, a mais indicada é a propriedade privada com o uso comum. Em geralmente, deve ser
privada, mesmo que se devam partilhar algumas coisas em comum, isto é, o seu uso pode ser
para o beneficio do todo.
O que há de condenável é o egoísmo que daí pode decorrer, logo é necessário educar os
cidadãos.
Por exemplo: Uma vinha é minha e dá uvas. Eu disponibilizo-a por vontade e virtude própria aos
outros (estes não roubam).

1º Semestre 7 Guilherme Echeverri


A própria propriedade exige virtude, para que não aconteça o tal egoísmo condenável, mas
algumas virtudes existem a partir da propriedade privada, como por exemplo, o ser
generoso.

Para Aristóteles, o comunitarismo exagerado torna a vida impossível em sociedade.


Casa e cidade devem ser unitárias não em absoluto.

- Aristóteles põe também em causa a educação Platão mostrada como insuficiente.

Crítica à propriedade comum no que toca aos parentescos


Filho de todos = vários parentescos. Se for de todos, os pais vão menosprezá-los.
Filho meu = exclusividade com aquilo que se possui. É bom para cada um que a pluralidade de
relações seja mantida e para a cidade também. É preferível ser-se primo de verdade de algum do
que filho ou irmão à maneira platónica.

Para Aristóteles, a AMIZADE é o melhor dos bens na cidade, significado afeto e concórdia,
igualdade e reciprocidade ⟶ pessoas diferentes. O melhor dos bens não é a máxima unidade

possível como diz Platão.

Cada cidadão deve manter-se UNO e INDIFERÍVEL numa comunidade política. Logo,
respondemos à pergunta “estamos perante uma conceção organicista de comunidade
política?”. Não.

A unidade da cidade não se conquista na dissolução dos indivíduos num todo de identidade. Sim
o contrario. A cidade, enquanto comunidade política depende do pluralismo dos cidadãos.

A cidade só é feliz se cada indivíduo for feliz à sua maneira, por isso os sujeitos diferem em
espécie e…

Livro III
Regimes Políticos
- O que é o regime;
- Quantos regimes existem + classificação
- O que é o cidadão no sentido politico?
1) Um regime político resulta de um certo modo de ordenar os habitantes na cidade?
• Quem tem o direito de participar?
• Quem participa mais?
1º Semestre 8 Guilherme Echeverri
• Como se organizam as magistraturas e instituições.
Livro IV, 1285a

2) Um regime é uma ordenação de magistraturas nas cidades, e que estabelece a


repartição respetiva, qual a autoridade suprema
• Hierarquização das magistraturas
• Organizar cargos públicos
• Que cidadãos podem desempenhar cargos públicos
• Qual o fim da comunidade para cada coisa?

O que é um CIDADÃO? ⟶ devemos começar por aqui

- O lugar (território onde se vive) não se faz nos faz cidadãos, visto que os metecos e os
escravos também vivem nesse lugar.
- As crianças são demasiado jovens para terem esse estatuto (são cidadãos de modo imperfeito)
e os anciãos também são demasiado velhos (são cidadãos eméritos). São livres mas não são
cidadãos.
- Exercer direitos civis também não chega (por exemplo, alguns metecos também os têm).

O QUE É A CIDADANIA
Capacidade de participar na administração de justiça e do governo ⟶ regime democrático.

É capaz de participar diretamente nos assuntos políticos ⟶ democracia direta (modelo

ateniense).

Bulé Eclésia Tribunais

Rotatividade dos cargos 4000/5000 membros Helieia e Areópago


Estão mesmo a desempenhar Qualquer cidadão ir à assembleia Magistraturas indefinidas
magistraturas e votar o que estava em
discussão
Magistraturas indefinidas

Eclésia + Tribunais = magistraturas indefinidas - cidadão porque têm autoridade supremo.

Cidadão: aquele que tem o direito de participar em cargos deliberativos e judiciais.


Definição ampla que pode adequar-se a diferentes regimes políticos, ou seja, Aristóteles lembra
que a definição da cidade e cidadão depende da forma de ordenação, ou seja, pelo regime
que nela vigora.

1º Semestre 9 Guilherme Echeverri


Cap. 2
Critério “filho de mãe e pai atenienses” ⟶ falacioso. Os fundados/primeiros cidadãos não o

eram, nesse caso.

Cap. 3
A cidadania é o exercício EFETIVO de uma magistratura ⟶ a capacidade, o direito e o exercício

efetivo.

Cap. 5
Cidadão ⟶ trabalhar para viver?

Num regime ideal, o que tem que trabalhar para viver não é cidadão, porque tem a mente
presa e degradada. Trabalhar não era digno em Atenas.
E o trabalhador manual? Não é cidadão porque não dispõe de tempo livre e não pode dispensar
tempo para o exercício efetivo das magistraturas.
A participação política tem como objectivo alcançar a vida boa, no nosso contexto de cidade
aristotélica. Talvez noutro se possa ser cidadão se a vida boa não for o fim último.
Além disso, a cidadania exige riqueza e ócio. Quem tem que trabalhar para viver não tem tempo
para o ócio, nem é rico.

Definição de cidade depende da forma, não da matéria, como estão organizados:


- os cidadãos
- as magistraturas
- qual o fim da cidade para cada caso?

REGIME = critério para definir a cidade. Podem ser retos (orthos) ou degenerados (decaídos
de forma)

Definição de regime: ordenação das magistraturas raparigas por todos conforme o poderio dos
que participam no governo.

Fim INTERESSE COMUM INTERESSE PARTICULAR

Um Realeza Tirania

Alguns Aristocracia Oligarquia

Muitos Politeia (Reg. Const.) Democracia

Classificação RETOS DEGENERADOS

1º Semestre 10 Guilherme Echeverri


Notas: Realeza e Tirania são duas formas de monarquia - um termo neutro.
Regime constitucional (politeia) é um nome comum a todos os regimes.

Degenerados: interesses
Um - pessoal, do governante
Alguns - ricos
Muitos - pobres
São degenerados ou desvios porque nenhum deles tem em conta os interesses da
COMUNIDADE.

Possível proposta de hierarquia dos regimes políticos


Capítulo II Livro 4 (p.275) - Primeira citação

- Falar do melhor regime é falar de uma Realeza ou de uma Aristocracia, pretendo estar
fundados em virtude e recursos.
- O pior regime será necessariamente aquele que resulta da perversão do mais excelente e mais
divino, a realeza - é a tirania, o regime mais completamente afastado da “Politeia”, enquanto
regime constitucional (é o regime mais afastado de qualquer forma de regime)
- Segue-se a oligarquia, mas melhor que ela é a democracia.
- A aristocracia é o melhor regime (p.301): Cartago e Esparta são exemplos de aristocracias.

Ordem do melhor para o pior:


- Realeza (muito raro)
- Aristocracia (em absoluto)
- Politeia (dentro das circunstâncias)
- Democracia
- Oligarquia
- Tirania

A TIRANIA (1219b 16, p.213 e p.309)


É o governo de um só que exerce um poder despótico sobre a comunidade política - o poder
despótico só é justo quando ambas as partes são desiguais.
Nas tiranias, a autoridade e o poder são exercidas de forma arbitrária. É uma monarquia cujo
governante exerce de forma inimputável um poder absoluto sobre cidadãos que são semelhantes
ou mesmo superiores a ele, tendo em vista o interesse pessoal e não as aspirações dos súbditos
cuja vontade é contrariada.

1º Semestre 11 Guilherme Echeverri


É uma forma de regime despótico com um sentido moral negativo, em que o poder e a
autoridade são exercidas de forma absoluta, arbitrária, inimputável sobre cidadãos iguais
ou até superiores ao próprio governante.

Um regime tirânico não é conforme à natureza, é o regime que mais vai contra ela, mesmo não
sendo nenhum desvio conforme. É um tipo de relação injusto e arbitrário. Há uma inversão em
que a ordem natural está a ser violada. O desejo do tirano é um desejo de inversão da ordem
natural. Homens semelhantes não podem ser governados por um regime despótico,
portanto é o que menos parece um regime político.

A REALEZA
Em que condições pode existir uma realeza?
Em condições em que os homens se assemelham ou são iguais, a alternância de poder é
desejável.

- Será que é preferível sermos governos por homens ou por leis? Será que é preferível em
qualquer regime ser a lei a governar ou a vontade de um homem em particular?
- Será que é melhor sermos governados por um maior número de governantes ou por um
mais reduzido?
- Para Artistóteles, é preferível ser a lei a governar.
- Para ele, é preferível que sejamos governados por um maior números de governantes do que
por um menor.

A que dá Aristóteles primazia? Ao governo pela lei ou ao governo do homem? Ao governo


de muitos ou de um?

Lei - Porquê?
A lei é razão liberta de desejo; parece incorporar em si ordenações que são produto do homem,
(…) As leis em sentido próprio não podem governar, não decidem nada - estabelecem sim
parâmetros gerais.
Governar politicamente é deliberar e decidir sobre casos concretos. Ainda que o predomínio deve
ser dado à lei, não significa que devamos prescindir das deliberações dos agentes políticos,
porque a lei não delibera (pode sim determinar quais os fins mais desejáveis para a comunidade
política. Quem decide são sempre os homens.
O ideal é ter homens inspirados pela lei que possam deliberar e decidir bem em casos
concretos. Mas em termos abstratos, é preferível dar primazia à lei, que deve ser
estabelecida de acordo com os princípios da lei. Se assim for, é preferível que ela governe.

1º Semestre 12 Guilherme Echeverri


Além disso, o elemento humano tem sempre o elemento de paixão associado, mas sem dúvida,
um homem decide melhor em casos individuais.

Muitos - Porquê?
Damos a primazia à lei, mas ela não consegue decidir tudo. Então precisamos do elemento
humano. Vale, neste caso, a pena ser um ou muitos?
Para Aristóteles, é melhor sermos governados por mais do que por menos. Muitos
conseguem dar mais e melhores contributos para a governação da cidade. Na razão, acresce
que é mais difícil corromper um corpo numeroso de cidadãos (toda uma grande massa de
cidadãos).
Este privilégio dado ao número consegue em certa medida explicar a ordem dos regimes
degenerados do melhor para o pior (a democracia tem mais). Em regimes retos, não é bem assim.
Entre a aristocracia e a realeza, é melhor a aristocracia porque tem um governo de alguns e não
de um.

“Se existir um indivíduo ou vários (mas insuficientes para formar a população da cidade) tão
preeminentes em virtude que nem a virtude nem a capacidade política dos outros se possam
comparar às deles ou às suas, um tal indivíduo, ou individuos, não devem ser tratados como
simples partes da cidade” (…)

O predomínio deve ser dado a lei, deve governar num regime onde todos são iguais, ao
contrário do poder absoluto. Mas e se entre os homens aparecer um homem tão superior em
virtude e capacidade política que a virtude e a capacidade política somada de toda a cidade não
se puder comparar à dele? Submeter este homem à lei, achando-o digno de direitos iguais é
injusto, uma violação da ordem natural como acontece na tirania. Mas sendo superior a todos os
outros, é justo. Tal homem assemelha-se um deus entre os homens.
Qualquer outra solução política é injusta sem ser a de que o homem que é infinitamente superior à
restante cidade deve governar.

Se a realeza for instituída e o rei notar que o descendente não partilha das suas virtudes
superiores, então não deve transmitir o poder ao filho. Portanto, a realeza não é nem pode ser
hereditária.
O critério para manter a realeza é a virtude excepcional do governante. Caso comecem a
surgir semelhantes, a aristocracia é o melhor regime.

1º Semestre 13 Guilherme Echeverri


As diversas formas de realeza
- Monarquia particular ( Esparta)
- Realezas dos povos bárbaros: estas possuem autoridade semelhante à das tiranias, mas são
simultaneamente constitucionais e autoritárias. (p.247)
- Aisimenetas: são tirânicas, mas são de tipo régio porque assentam na eleição e no
consentimento popular
- Idade heróica: fundadas no consentimento popular

É necessário que o Rei seja, então, reconhecido enquanto tal pelos cidadãos, caso contrário ou é
morto ou ostracizado ou tratado como um louco. A realeza só se institui com a virtude do
governante e o consentimento popular. Sem consentimento, a realeza não tem condições,
porque mais tarde será deposta por outro regime e outros governantes.
A realeza torna-se assim um regime usado em circunstancias raras, usada talvez em tempos
antigos.

Assim sendo a única questão é: como é que se mantém a possibilidade de a realeza se


manter um dos melhores regimes sendo que Aristóteles dá prioridade ao governo da lei e
não ao governo do homem?
O rei não está acima da lei, a virtude do Rei e a sua capacidade política é tão superior que no seu
agir espontâneo normal, ele próprio encarna a lei - o rei é uma espécie de personificação viva
daquilo que são as exigências da lei. Não nos está a dizer que ele está acima da lei, mas sim
cumpre todas as determinações da lei. Não está submetido à força coerciva da lei, porque está
alinhado com ela, cumpre-a espontaneamente (não funciona como um dever, como na maioria
das pessoas, porque não há uma mínima dessintonia entre o que deve fazer e o que faz). Ele é a
encarnação da própria lei - “para os seres superiores não existe lei”, eles são A lei.

A virtude superior do rei, excepcional e rara é tão elevada, que o rei é em todos os seus atos a
razão liberta de desejos. Ele governa a cidade como se da própria razão se tratasse. Daí a
possível incompatibilidade entre o homem e a lei ficar aqui dissolvida.

Assim, para Aristoteles, não é uma ocorrência natural que alguém governe de forma absoluta,
mas se aparecer um homem destes, não há outra solução sem ser que ele governe, porque
caso contrário, será injusto para a ordem das coisas. Não devemos matá-lo, exilá-lo ou pô-lo a
governar com outros. É uma espécie de inversão lógica da estrutura da tirania.

1º Semestre 14 Guilherme Echeverri


Livro VII - A ARISTOCRACIA (caps. 4 a 7)
Passa a falar sobre o melhor regime, a aristocracia (tendo em conta que realeza é muito rara,
embora em condições extraordinárias é esta o melhor).

4. Descrição do regime preferível


“O melhor regime não pode apropriar-se de um conjunto de meios apropriados”.
Quais são as condições materiais para instituir a melhor forma política? Esta forma só se pode
aplicar na realidade quando eu tiver uma matéria à disposição.
- Saber as condições para a aristocracia; saber em que momentos particulares está a sugerir
uma aristocracia.
Está à procura de condições materiais ideais. As duas primeiras condições é sobre a população
e território.

Qual deve ser a população do regime ideal e qual o seu número e extensão territorial?
População e território nem muito grandes nem muito pequenos. Será que uma cidade grande
deve ser uma cidade populosa? Uma cidade grande não é o mesmo que uma cidade populosa.

Uma cidade demasiado numerosa, quer a nível de população ou de cidadãos, dificilmente


acomoda uma boa legislação. A cidade tem que ser limitada quantitativamente, porque seria
preciso um deus para uma população excessivamente grande. Possivelmente, não deve exceder
os 200.000 habitantes, 100.000 não cidadãos, tal como no modelo de cidade-estado grega. Mais
que isso é demasiado extenso e não adquire sequer uma forma política, de regime. “Se for
demasiado escassa, não pode bastar-se a si própria (não há autarcia); se for demasiado
numerosa ainda que consiga satisfazer necessidades básicas, será mais um povo do que uma
cidade, por dificilmente adquirirá forma política.” “A cidade melhor é, necessariamente, aquela em
que existe uma quantidade de população suficiente para viver bem numa comunidade política”.

Dado que na cidade melhor os cargos públicos são atribuídos a partir do critério mérito - forma de
governo em que governam os melhores, uma aristocracia -, portanto devem governar a partir da
virtude, mas para que isto aconteça os cidadãos têm que se conhecer bem entre si; se a cidade
for excessivamente grande, tal não é possível.
Vida auto-suficiente comum, de uma verdadeira comunidade política, a população não pode
ser excessivamente grande (nem pequena).

1º Semestre 15 Guilherme Echeverri


5. Território
Não deve ser muito pequeno, porque deve garantir auto-suficiência, nem muito grande ou rico,
porque isso leva a que os homens possam ser conduzidos a uma vida de dissipação e de luxo
excessivo e isso não é bom para a cidade.
Deve ser difícil de invadir. Não deve ser muito extenso para ser facilmente acolhido em termos
militares. Deve estar bem situado em relação tanto ao mar como à terra. O auxilio deve chegar
a todos os pontos do territórios. E ainda deve estar bem situada para facilitar o transporte de
colheitas e tudo o que é necessário para o sustento da cidade. Não deve poder ser uma ilha.
Deve ter comunicação por mar, mas isto também traz desvantagens: flutuações muito fortes da
população em termos de quantidade e presença de muitos estrangeiros, que estão formados de
acordo com outros padrões jurídicos. O mar traz uma grande quantidade de comerciantes, e isto
não é bom para a cidade (ser excessivamente comercial).

No entanto, o mar é bom para a segurança e o enriquecimento da cidade e isso significa que a
comunicação com o mar é importante para colmatar deficiências na autossuficiência natural.
A cidade deve praticar o comércio para o seu próprio interesse. É na mira do lucro que os espaços
se abrem como mercados a todo o mundo, mas a cidade não o deve ter, porque não está na sua
natureza tal ambição do lucro. O comércio é bom, mas cuidado com o rumo que tomam. A riqueza
é boa mas numa certa forma de lucro não é. Há certos mercados abertos que fomentam a procura
de um lucro e não de riqueza propriamente dita. Daqui saem os conceitos de crematística
natural e anti-natura.

Riqueza legitima (crematística natural) vs. ilegítima (crematística anti-natura)


Crematística: arte de adquirir bens - não é o mesmo que governar uma casa, que se refere à arte
de utilizar.

A verdadeira riqueza é um conjunto de instrumentos possuídos pela casa e pela cidade. Consiste
na acumulação de instrumentos necessários quer ao bom governo da casa - economia - ou
da cidade - política -, por parte do senhor da casa ou do governante. Trata-se de um conjunto
limitado de bens. Esses instrumentos visam preencher uma outra finalidade: uma vida feliz. É a
crematística natural, que serve para preencher lacunas na auto-suficiência natural.

Outra é a crematística anti-natural: parece nela não existir limite nem de riqueza nem de
propriedade. Trata-se possível de acumular meios de forma ilimitada com o surgimento da moeda,
que é necessária também para a crematística natural. Esta tem como finalidade a acumulação
ilimitada de meios, e portanto não é legitima nem boa.

1º Semestre 16 Guilherme Echeverri


Não se trata de uma questão de moral ou lógica, é sim, paradoxal para Aristóteles. A riqueza -
abundância da cidade - deveria ser apenas um meio, mas quando esta se torna um fim deixa de
ser natural. Procurar riqueza ilimitadamente é fazer da riqueza o próprio fim da casa ou da
cidade.
A vida boa é o fim da cidade, o que justifica esta acumulação de meios excessiva é a boa vida,
que dá prazer - os prazeres, os desejos do corpo são infindáveis e esses são “sustentados” pelos
bens adquiridos, pela riqueza. É uma vida de busca incessante por meios para os poder
satisfazer. (p.83, 1258a)
A vida feliz é uma vida que deve incorporar o prazer, mas na prática de atividades com excelência
e virtude.

Conclusão extrínseca: Se existirem estes espaços comerciais que se abrem como mercados
para o mundo, os homens começam à procura de prazeres em abundância.

Em suma, existem dois tipos de aquisição de bens:


1. Procurar a riqueza com o objetivo de alcançar a vida boa » crematística natural
2. Procurar a riqueza com o objetivo de lucrar. » crematística contra-natura

Todos os objetos têm duplo uso, para satisfazer o seu fim ou como moeda de troca. A troca não é
contrária à natureza nem a qualquer tipo de crematística. A moeda surge sob pressão da
necessidade. Com a introdução da moeda é possível acumular meios de forma ilimitada que de
outra forma não era possível. Muitos consideram a riqueza como a abundância da moeda. É
necessário definir a riqueza sem ser pela moeda. Esta espécie de crematística não tem limite
quanto ao fim pois o fim é acumular cada vez mais.

Crematística natural: adquirir bens para a vida boa (meios ou instrumentos que devem servir a
casa ou comunidade política)
Crematística ilegítima: procura e acumulação de meios como sendo o fim. Não natural.
Acumulação de meios para aumentar a capacidade (sem nunca concretizar a finalidade da
capacidade).

7. O critério espiritual: a identidade cívica no melhor regime


Segundo Aristóteles, os europeus (lado ocidental grego) têm brio, orgulho ou amor próprio;
contudo não são muito inteligentes. Vivem em liberdade mas não têm organização política nem
capacidade de governar.
Os povos da Ásia, têm inteligência, capacidade técnica e espirito crítico, mas sem nenhum brio, e
por isso não vivem em liberdade e sim em servidão e sujeição.

1º Semestre 17 Guilherme Echeverri


A raça helénica ocupa geograficamente o centro e constitui o intermédio, participando das duas
qualidades.

Então, a população do melhor dos regimes deve ter uma natureza briosa e inteligente em
simultâneo, para se deixaram conduzir docilmente pelo legislador em direção à virtude. O melhor
regime que estamos a falar tem como finalidade a promoção da virtude.

Mérito - condição para aceder a cargos públicos


Virtude - fim do regime

8. As partes constitutivas da cidade


É possível que a comunidade política seja auto-suficiente com estas condições:

Abundância
Partes constitutivas Cidadãos?
de recursos?

Agricultores (alimentação) Não Não

Ofícios (artesãos) Não Não

Guerreiros (armamento) Imperfeitos Sim

Sacerdotes (zelo pelo culto/divindades) Eméritos Sim

Governantes/juízes (governar/discernir o que é


Completos Sim
conveniente e justo para os cidadãos)

- O modo de vida dos agricultores e dos artesãos não é nobre nem se faz uso da virtude, visto
que não têm tempo livre porque trabalham para viver - o ócio está fora de questão+. Não são
classes de recursos.
- Os guerreiros e governantes são as mesmas pessoas em diferentes fases da vida. Enquanto
a guerra exige vigor, a deliberação exige ponderação. Enquanto jovem será guerreiro, com
maturidade ascenderá a governante. Não é conveniente que aqueles que detêm a força das
armas vivam em permanente estado de submissão, visto que são eles que têm a força para
segurar o regime ou deitá-lo abaixo, logo os jovens são a classe guerreira. Portanto, em jovens
serão governados, em adultos governantes. Para isso, devem ter brio e inteligência, para
poderem viver em alternância em diferentes fases da vida. Então o regime deve ser incumbidas
a ambas as partes, mas não em simultâneo.
- Os sacerdotes: o culto das divindades diz respeito aos cidadãos, enquanto anciãos, tendo sido
guerreiros e governantes anteriormente. Voltam a ser as mesmas pessoas, mas agora numa

1º Semestre 18 Guilherme Echeverri


idade avançada, fora da vida ativa. Os anciãos não são cidadãos a título completo, podendo ser
considerados cidadãos eméritos. Não é um cargo politico a título próprio, uma magistratura de
governo.
- Em certa medida, é-se governado, governa-se e volta-se a ser governado, no que toca à class
dos cidadãos.
- Convém que as propriedades estejam concentradas nas mãos destas duas últimas classes,
juntamente com os sacerdotes. Têm, por isso, riqueza limitada.

Se ao longo da vida, os agricultores e artesãos enriquecerem podem ascender a cidadãos?


Não. É necessário fazer parte de uma classe que possa ter condições para a formação desde
criança para poder exercer um cargo público. Caso o artesão que enriqueça tenha um filho e tiver
condições para o educar para a prática da virtude, nada impede que o filho possa ascender a
cidadão e desempenhe cargos públicos. A preparação para a prática da virtude depende da posse
de recursos e pressupõe uma vida de ócio. A posse de riqueza ou propriedade como critério único
para a acensão a cidadão e cargo público é insuficiente pois é necessário ter também mérito.

DEMOCRACIA E OLIGARQUIA
Livro III – Cap. 8
Os dois regimes vão ser definidos em conjunto. A forma como os definimos depende de uma
comparação constante entre os dois. Aristóteles tenta chegar a uma comparação de dois regimes
degenerados.

Oligarquia define-se pelo governo dos ricos e democracia como o governo dos pobres. A
qualidade do regime define-se pelo predomínio da facção de ricos ou pobres.

E se acontecer que exista uma maioria de ricos ou minoria de pobres? Aristóteles inverte a
oligarquia e a democracia. O número parece acidental devido ao facto que os ricos são em todo o
lado poucos e os pobres muitos. O número daqueles que compõe a classe política é acidental e
não diz o essencial de cada regime. Os “poucos” e “muitos” do quadro não é essencial para a
definição de cada um destes regimes. A verdadeira diferença é a pobreza e a riqueza. A riqueza é
de poucos e a liberdade é de todos. As causas para as quais cada um reclama os regimes são
diferentes.

- Na oligarquia, o critério riqueza é necessário e suficiente para definir uma oligarquia.


- Na democracia, o critério não é riqueza ou pobreza, mas liberdade.

1º Semestre 19 Guilherme Echeverri


É mais justo reivindicar a riqueza como critério de acesso ao cargo público ou a liberdade?

Cap. 9 - Justiça
É necessário definirmos a justiça de acordo com cada regime.
- Há quem considere que a justiça é igualdade, mas este critério só se aplica se os homens
forem iguais.
- Outros consideram que a justiça é desigualdade, mas este critério também só se aplica aos
homens desiguais. Os homens são maus juízes quando os seus interesses estão em causa.
- Os oligarcas dizem que como todos são desiguais na posse de riqueza, o acesso a cargos
públicos também deve ser desigual.
- Os democratas utilizam o argumento da liberdade e dizem que como todos são igualmente
livres, também o acesso a cargos públicos deve ser igual para todos.

Ambos os regimes usam apenas um critério e estendem-no a todas as matérias. Sendo todos
igualmente livres, o acesso seria por sorteio. Qualquer um dos partidários julga que a sua
conceção de justiça é a mais adequada. Aristóteles defende que estas definições são apenas
relativas e têm em vista apenas o interesse próprio e nenhuma delas é a definição absoluta de
justiça. O argumento da desigualdade do oligarca diz que quem contribui mais deve ter direito a
mais – o mesmo raciocínio aristocrático mas utilizando a riqueza. Esta definição deve ter em conta
a virtude. Quem for desigual na virtude deve ser desigual no acesso a cargos públicos pois a
virtude é o fim da cidade.

Cap. 12 – Igualdade e desigualdade da participação dos cidadãos nas magistraturas


O bem, em política, é a justiça que consiste no interesse comum. Em todas as ciências e as artes,
o fim em vista é um bem. O maior bem é o fim visado pela ciência suprema entre todas, e mais
suprema de todas as ciências é o saber político. Indivíduos diferentes têm direitos diferentes.

Exemplo: Se a capacidade para tocar flauta entre 2 tocadores for exatamente igual e só houver 1
flauta a quem deve ser atribuído o instrumento? A quem desempenhar melhor a sua função deve
ser dado o melhor instrumento. Aquilo que deve ser essencial deve ser o mérito mas se o mérito
for equiparado devemos utilizar outras características como critério (bom nascimento, melhor
aparência, etc)?

Se tivermos um excelente político, mas um pouco desonesto em comparação com outro homem
que não é tao bom, mas é melhor homem. Devemos atribuir o cargo a quem? Deve a honestidade
ser um critério?

1º Semestre 20 Guilherme Echeverri


Se pretendemos tomar todos os critérios possíveis em consideração na atribuição de um
cargo público, torna-se incomensurável.

» O único regime onde o bom cidadão e o bom homem são a mesma pessoa é no melhor
regime.

Na oligarquia quem dá mais deve receber mais em retorno:


2 » 3; 4 » 6; 6 » 9

Quem pode contribuir com mais vai sempre receber mais, distanciando-se cada vez mais dos
pobres. O critério do oligarca é que a justiça está na caixa azul, quando na verdade está no fator
que multiplica. Esta forma assemelha-se mais à forma aristocrática.

Na democracia partem todos do mesmo ponto (liberdade)


1 » 2; 1 » 2; 1 » 2

Esta concepção está errada na forma e no conteúdo, mas Aristóteles defende que a oligarquia é
pior que a democracia.

Para Aristóteles, o bom nascimento é um nascimento livre e com posses.

Livro IV
O enfoque da ciência política pode variar em certa medida, ou seja, que ela não tem apenas um
objetivo, tem vários. Cabe ao bom cientista política analisar os regimes sob diversas perspectivas.
Aristóteles, neste livro vai tentar chegar ao Regime Constitucional.
Este é um livro empírico, que vai analisar as várias constituições existentes na Grécia. A maioria
delas são democracias e oligarquias. Desta forma vai ter que criar uma nova classificação dos
regimes para se adequar à nova realidade empírica.
Aristóteles está nesta fase a aceder a muita informação sobre as constituições do seu tempo e
está a tentar encontrar recursos conceptuais para essa realidade que antes desconhecia. E se a
realidade política está a tentar mostrar-lhe formas de constituição que para ele podem trazer uma
nova forma de pensar. Então, A está a tentar encontrar a própria estrutura do pensamento politico
para aprender o que a realidade lhe mostra.
Temos que tentar mudar a forma de pensar para entender novas realidades - o primeiro esquema
deixa de ilustrar a realidade, e por isso tem que o mudar. A mente deve adequar-se à realidade.

1º Semestre 21 Guilherme Echeverri


Qual é a preocupação (objeto) do cientista político? (cap. 1, p. 271)
Para estabelecer a melhor forma política, preciso de condições naturais. Também um professor de
ginástica precisa disso.
Compete à ciência política procurar a melhor forma de regime no absoluto no pressuposto de
certas condições - descobrir o regime ideal e as condições para isso, mas nem sempre estas são
ideais, pelo que compete-lhe também nas circunstâncias que não são ideais. Compete-lhe
examinar que forma de regime seria mais adequada a um certo tipo de cidadãos.

Três funções da Ciência Política


- Procurar o melhor regime em absoluto tendo em conta condições ideais;
- Tentar encontrar o melhor regime possível em circunstancias concretas;
- Olhar para o regime, perceber qual o pressuposto que lhe subjaza e o que o mantém e
encontrar condições/medidas para o conservar o mais tempo possível.

O nosso foco de estudo: tentar encontrar o melhor regime possível de acordo com as
circunstâncias (não o absoluto ou o excepcional)

O regime constitucional ou politeia é o melhor possível dentro das circunstâncias em que


Aristóteles está a trabalhar.

Assim:

Regimes O melhor…

Realeza excepcional

Aristocracia em absoluto

Politeia dentro de circunstâncias

Quantas formas de regime existem?


O quadro do livro 3 não ajuda, porque na realidade não existe só uma forma de democracia
(pobres) ou uma forma de oligarquia (ricos). As definições ficam na mesma, ou seja, a
generalização mantêm-se, mas há muitas formas de regimes desses tipos na realidade.
As circunstâncias em que A está colocado é, então aquela que lhe mostra que existem vários tipos
de oligarquia e democracia.

Vemos que a maioria dos regimes são democracias e oligarquias e temos que os classificar. Após
fazê-lo, temos que encontrar o tal regime, o melhor dentro destas circunstâncias, o melhor e mais
desejável entre as cidades, que se configura como um regime de índole aristocrática: portanto,
não sendo uma aristocracia, tem que ter algum caráter da mesma.
1º Semestre 22 Guilherme Echeverri
Há algo que não batia certo quando definimos oligarquia e democracia, já que são postas uma ao
lado do outro, visto que há uma prioridade lógica do reto sobre o degenerado. Agora ainda fica
mais estranho, porque diz que vai encontrar o melhor possível dentro das circunstâncias, através
de dois regimes degenerados.

Para Aristóteles o mais relevante nestas cidades, é a predominância de duas partes: pobres e
ricos. É a questão essencial.

DEMOCRACIA E OLIGARQUIA, entre todos os regimes, SÃOS OS MAIS FREQUENTES.


- Neste sentido, de predominarem as oligarquias e democracias, a democracia tem que ser
tratada como uma forma de oligarquia e a politeia como uma forma de democracia.
- Democracia e oligarquia parecem ser aquelas formas que nos permitem captar melhor as
outras formas de regimes, por serem as mais frequentes.
- Assim, está a transformar a democracia e a oligarquia em polos conceptuais que permitem
captar e descrever todos os regimes.
- A aristocracia parece ser uma variante da oligarquia. O regime constitucional uma variação da
democracia.

Aristóteles percebe que algo está a acontecer de errado na forma que está a pensar: está a
querer ter ao mesmo tempo as duas coisas - diz que ambos os regimes são polos conceptuais
contrastantes, mas se faz isso, então a prioridade normativa dos regimes retos não se pode
manter (o primeiro esquema não faz sentido). “Eu estou a tentar captar a realidade por dois
degenerados, quando disse antes que isto se deve fazer pelos retos”.

A nossa conclusão será no final: a politeia é um regime que se deve manter por si próprio e não
é um regime misto, em que se misturam ricos e pobres.

Volta a classificar os dois regimes da mesma maneira: há democracia sempre que as


magistraturas forem dominadas por uma maioria de cidadãos livres e pobres; há oligarquia
sempre que as magistraturas forem dominadas por uma maioria de cidadãos ricos e bem
nascidos.

Os dois regimes são rivais em oposição, em antítese, e essa mede-se precisamente porque as
partes preponderantes destes regimes estão em oposição: maioria pobre/maioria rico. A
preponderância de uma destas facções na cidade torna o regime mais comum uma oligarquia ou
uma democracia.

1º Semestre 23 Guilherme Echeverri


Demo. Olig.
5 4 3 2 1 1 2 3 4
Demagogia Dinastia

Maior o número Mais extremo


Menor a lei Menor a lei

Formas de democracia - Cap. 4


1 - Nesta democracia não há diferenças entre ricos e pobres; igualdade absoluta entre estes. Não
deveria ser nem oligarquia nem democracia, mas Aristóteles, pela igualdade absoluta, quer
chamar-lhe democracia.
2 - Nesta democracia, a participação é permitida àquelas que tem propriedade ou riqueza baixa -
estabelece-se um mínimo, uma condição tributária, para que o cidadão possa participar. Só que
consegue contribuir um X, pode fazê-lo. Até os pobres podem participar.
3 - A terceira, todos aqueles que não arranjem problemas com a lei, não tenham cadastro,
também podem participar da democracia.
4 - Todos os cidadãos podem participar, até os pobres podem ter um papel importante. O caráter
democrático está a aprofundar-se.
5-…

Á medida que vamos caminhando de 1 para 2 e 2 para 3, o número de cidadãos que pode
participar vai aumentando. À medida que vou caminhando para formas mais extremas, maior o
numero que pode participar, menor é a influencia da lei. Sendo assim, também o peso da razão
vai diminuindo (lembre-se que a lei é a razão liberta de desejo).

Mas o número não era acidental quanto tentávamos distinguir oligarquias e democracias, como
diz no livro III?
E Aristóteles não dava preferência à lei?

O número não é acidental quando descriminamos várias formas de oligarquias e


democracias.

Nestes casos, a democracia aprofunda o seu caráter democrático e extrema-se. Neste regime,
quantos mais podem participar, menor a influencia da lei.

1º Semestre 24 Guilherme Echeverri


A forma extrema de democracia - a demagogia (ou tirania de massas)
Nesta última, a mais extrema, o nome muda: trata-se de uma demagogia. O povo governa como
uma massa. A lei já não devem qualquer tipo de influencia. A lei é a razão liberta de desejo. A
única coisa que determina o refine sai is desejos da massa popular sobre a forma de decretos e
não de leis que satisfazem os desejos dos governantes. Aqui percebemos o termo demagogia,
que insere-se quando a massa exerce o poder como se fosse um rei, e os demagogos agem
sobre a massa. A demagogia é a forma extrema de democracia. É governada como se houvesse
um monarca único, tendo uma espécie de governação despótica que se assemelha a uma tirania.
A democracia acaba, assim, por cair no seu oposto: quando algum degenerado aprofunda o seu
caráter, então ele cai numa deformação total - numa tirania. Daí que a demagogia está para a
democracia como a tirania para a democracia. Adoladores exercem influencia no tirano como o
povo nos demagogos, que governam sozinhos. O povo governa numa espécie de paixão, que é
alimentado pelo demagogo, influenciando o povo, dando-lhe aparentemente poder de decisão, e
este assume a prerrogativa sem questionar. Não há estabilidade nas tomadas de decisão; não há
uma lei que vigora por cima, como é próprio de qualquer regime constitucional. É este jogo de
influencia reciproca que faz funcionar a demagogia - uma tirania da massa popular. Tudo sai do
poder do povo. Isto assemelha-se a um regime afastado da concepção de regime, ou seja uma
tirania. Os demagogos levam as decisões a serem tomadas numa assembleia (eclésia), e quando
há discórdia, usa-se o argumento de que o povo é que decide.

Cap. 5 (293) - As formas de oligarquia


1) Está a definir um montante colectável, que permite a um grupo reduzido de cidadãos participar
dos cargos públicos. A primeira forma de oligarquia opõe-se simetricamente à segunda forma
de democracia (não se opõe à primeira forma de democracia porque era sobre igualdade entre
ricos e pobres).
2) De acordo com a lógica oligarquia, que se faz é aumentar a estimativa de patrimonio. São
necessárias para participar nas magistraturas, grandes rendimentos. Será propriamente uma
oligarquia quando tivermos um pequeno grupo em que os magistrados se elegem entre si?
Uma espécie de eleição - o método electivo é típico de oligarquia, não democrático como
atualmente (no caso da democracia grega é o sorteio). Sim, temos - grandes rendimentos e
um pequeno grupo a eleger-se entre si.
3) Parece haver uma sucessão de pai para filho ou entre família, sem método eletivo. É um
grupo reduzido, de ricos e cuja forma de sucessão é hereditária.
4) Mantendo-se a sucessão atrás referida, quem governa não é a lei, mas sim os magistrados.
Esta forma equivale àquilo que a tirania representa para as monarquias ou que a demagogia
para a democracia. Recebe o nome de regime autoritário ou dinastia (dunasteia). É uma

1º Semestre 25 Guilherme Echeverri


forma de sucessão hereditária em que pela forma e contextualização dos vários regimes, é
exercido uma forma de poder despótico. Aqui a lei não tem qualquer papel, aqui governa
apenas e só o interesse do papel que está no poder.

Note-se a diferença: na degeneração de regimes em Platão, o contrário de democracia era a


oligarquia; aqui Aristóteles, diz que estes dois regimes se degeneram, cada um deles se
assemelha a uma tirania. Governa o interesse do papel que está no poder nestes regimes quer a
maioria rica ou a massa popular. Ambos estes regimes extremos passam a deixar de ter a 100% a
razão neles patentes.

Cap. 6
4 formas de democracia - nova classificação (a forma 1 desaparece como democracia)
Na primeira forma de democracia é necessária um património moderado, logo corresponde à 2
no segmento de reta.
Uma segunda forma corresponde à três. A terceira corresponde à quatro. A quarta (demagogia)
corresponde à cinco.
Aqui fala-se de apenas quatro formas de democracia

Igualmente temos, as mesmas 4 formas de oligarquia.

Apresenta-se uma classificação de democracias e oligarquias aparentemente semelhante à dos


capítulos 4 e 5, mas com preocupações:
A simetria da primeira classificação ocorre da proximidade da forma mais moderada de
oligarquia e de democracia do regime constitucional (politeia) - livro VI.

P. 461
“A partir do que atrás ficou exposto, quase se torna evidente ao modo de proceder em relação às
oligarquias. Assim cada oligarquia deve ser estabelecida estabelecida a partir dos elementos
contrários ao tipo de democracia que lhe corresponde de modo oposto, por forma a que a mais
moderada e a primeira das formas de oligarquia é precisamente aquela que mais próxima está do
regime chamado constitucional”

Nos capítulos 8 e 9, Aristóteles pretende definir exatamente o regime constitucional. Ele mostra
que democracia e oligarquia, mais do que regimes, são polos conceituais contrastantes. Por isso,
a definição passará exatamente por misturar aspetos de ambos os regimes, usando como
alicerces o nosso segmento de reta.

1º Semestre 26 Guilherme Echeverri


A democracia e a oligarquia são perfeitamente admissíveis, mas estão longe da melhor
ordem. Quando cada uma se extrema, aprofundando o seu caráter, isso significa que elas se
tornam piores (à medida que caminhamos do centro para o extremo). Quando os regimes chegam
mesmo ao extremo, deixam de ser regimes, desfiguram-se e originam certas formas de tiranias.

Como conservar a democracia?


A melhor forma de conservar uma democracia é torná-la menos democrática. Então, tenho que
tomar um conjunto de medidas que contrariem o seu aprofundamento. Logo, a melhor maneira de
manter uma democracia, é contrabalançá-la com outras coisas. Por ex: podemos dar importância
aos ricos e não só aos pobres. Lembre-se que quanto mais democrática, mais perto da tirania.
Devemos colocar outros princípios neste tipo de regime. Uma democracia que se torna puramente
democrática acaba com si própria. É preciso um antídoto para equilibrá-la - um dos mecanismos é
a educação, devemos educar as almas de outra forma que não a democrática, uma educação que
os trate como se de aristocratas se tratassem e não como mais um número da massa. Caso
contrário cairemos em extremos.

Analogia: Ler clássicos faz-nos ter uma alma aristocrática e permite que a democracia não se
desgaste e que sejamos melhores cidadãos. A educação cívica e um dos modos que temos para
conservar o nosso regime. Liberdade e igualdade não são os únicos valores que contam. Numa
democracia, as almas devem ter um teor diferente.

Cap. 8 (301) - O Regime Constitucional (Politeia)


Resta então tratarmos o regime constitucional.

O caráter deste regime surge-nos mais evidente a partir do momento em que se defina o que é
uma democracia e uma oligarquia, dado que como já foi dito, o regime constitucional é uma
mistura de oligarquia com democracia (1ªdef). Está a tentar definir um regime reto a partir de
dois degenerados, o que estabelece uma contradição ao violar a prioridade lógica dos regimes.

Os regimes que se inclinam mais para a democracia são regimes constitucionais e para a
oligarquia aristocracias (riqueza, linhagem e educação andam de mãos dadas). Portanto, este vai
mais para o lado da democracia. Quer o regime constitucional, quer a aristocracia estão a ser
definidos como uma mistura dos dois polos conceptuais.
Tudo o que se diz atrás da aristocracia (no que toca à virtude) mantém-se, mas tenta adaptá-la e
percebe-la através destes polos conceptuais.

1º Semestre 27 Guilherme Echeverri


2ª def: No regime constitucional é a mistura de ricos e pobres riqueza, associada à riqueza e
liberdade no acesso a cargos públicos.

Na politeia:
1) Liberdade
2) Riqueza

Na aristocracia:
1) Liberdade
2) Riqueza
3) Virtude

O regime constitucional é entendido como um regime misto nestes capítulos. A forma como vai
operar a partir do capitulo 8 para 9 é então explicarmos várias hipóteses desta mistura.

A ideia que preside no capitulo 9 é ainda uma definição feita a partir de uma mistura. Quais são as
várias formas mistas de administração?

1) Dar aos pobres importância (d), abrindo os cargos à prática de todas as classes e
incentivando os ricos a participar (o). No fundo, misturar as duas classes na administração de
justiça.
2) Fixar uma média que colocasse nas mesmas condições ricos e pobres. Estamos sempre a
supor que numa cidade temos duas facções bem determinadas - ricos e pobres - e que de
alguma forma com o estabelecimento de um montante intermédio isso seria a forma de
equilibrar bem as duas facções.
3) Combinação de disposições de ambos os regimes, umas extraídas da lei democrática e outras
da lei oligárquica. Uma possibilidade é misturar o critério de nomeação - por eleição - e não
se exigir património para se poder ser eleito. Lembre-se ELEIÇÃO = OLIGARQUIA ;
SORTEIO = DEMOCRACIA

O que Aristóteles está a dizer é: quando nós misturamos bem as classes, os critérios de acesso a
cargo publico e as metodologias para forçar os ricos a participar, dando importância aos pobres,
vamos encontrar um regime que é uma mistura entre uma democracia e uma oligarquia.
No entanto, estamos a operar segundo uma lógica errada (devemos definir primeiro o que está
bem constituído e só depois pensar nas degenerações). Não podemos misturar dois regimes
degenerados para encontrar o regime constitucional.

1º Semestre 28 Guilherme Echeverri


De alguma forma, A usou D e O como pares conceituais contrastantes e isso acontece porque
democracia e oligarquia são os regimes mais frequentes no seu tempo e é por isso que os usa
como conceitos.

Portanto, vamos voltar ao método anterior, ou seja, tem de existir uma prioridade lógica para
chegar onde quer.
Encontrar o regime constitucional seria criar uma boa mistura. Mas este não deixa de estar no
meio. O problema está no facto de haverem duas facções opostas - ricos e pobres - e ambas
puxarem para um lado e para o outro; se houver um pequeno desvio para a direita ou para a
esquerda (no segmento de reta), há uma degeneração.
Por melhor que funcione uma mistura, o equilíbrio encontrado é precário.

Um regime constitucional deve portanto alicerçar-se a uma classe que queira exatamente o
regime que vigora. É uma classe que vai dar estabilidade ao equilíbrio. Essa classe é a classe
média.

Cap. 11 - A classe média e o regime constitucional


Qual será o melhor regime e o melhor modo de vida dentro das circunstancias para uma gente
comum? É um regime que pode ser adotado pela maior parte das cidades com as condições
disponíveis. Deve ser um regime que ainda que não possa ser uma aristocracia, tenha uma índole
aristocrática - o melhor regime em absoluto. O regime constitucional deve preservar-se por si
mesmo através da classe média.

Em todas as cidades existem três elementos:


1) Ricos
2) Pobres
3) Classe média

A riqueza mediana (a suficiente) é a melhor de todas:


- A classe média é a que mais facilmente obedece à voz da razão = lei; os dois extremos: a falta
(que cria criminosos ou pequenos delinquentes) ou o excesso (do qual surgem ambiciosos
desmedidos e os grandes malfeitores) de bens materiais e externos, tornam os homens
incapazes de seguir a voz da razão.
- A classe média é aquela que disputa menos os cargos públicos. Isto torna as almas do
homem da classe média menos política.
- Os membros da classe média, porque não se encontram pelo orgulho, soberba ou vaidade, não
sabendo o que é obedecer, os outros estão sempre a rebaixar-se a tentar mandar. Estamos a

1º Semestre 29 Guilherme Echeverri


exigir dos cidadãos a capacidade de governar e ser governado em alternância - os que
maior sabem mandar e obedecer são os que não estão afetados pela soberba nem rebaixados
pela miséria;
- É na classe média que encontramos os meios mais aptos para estabelecer a amizade cívica,
que é aquela condição essencial para a inexistência de revoltas no interior da cidade. Os
vínculos são aqueles que exigem igualdade e reciprocidade, que só se dá entre pessoas que
só se vêem como iguais ou semelhantes, sendo por isso mais propenso acontecer num regime
de classe média - caso contrario pobres = invejosos e ricos = desprezo, criando-de uma cidade
de servos e senhores.
- A classe média é a mais estável nas cidades, porque não cobiça os bens alheios nem as outras
classes desejam o que é da classe média. O não ser cobiçado nem cobiçar é o que traz
estabilidade política, o fim do regime constitucional.

Logo a melhor comunidade política é a que provém das classes médias, visto que esta impede o
aparecimento de extremos antagónicos, quanto maior é. Quanto mais numerosa a classe média,
mais tendencialmente essa cidade será estável. A instabilidade do regime e a sua mudança é
proporcionada pelo desaparecimento da classe média (como sabia Marx).
É pois muito vantajoso que os titulares de cargos públicos possuam riqueza média e suficiente,
porque caso contrário, facilitamos a criação de uma oligarquia ou de uma democracia ou até numa
tirania quando as duas se extremam mais.

“É pois muito vantajoso que os titulares de cargos públicos possuam uma riqueza mediana e
suficiente; as cidades em que uns possuem em demasia e outros nada possuem, propiciam o
estabelecimento de uma democracia extrema, ou de uma oligarquia pura, ou mesmo de uma
tirania, nos casos em que, quer uma, quer outra se excedam. Assim se é verdade que uma tirania
nasce de uma democracia mais radical ou da oligarquia, também é verdade que tem menos
possibilidades de se impor entre as classes médias”

Quando maior parece ser o agregado populacional, maior tendência para uma classe média
maior.

Este é o regime onde a lei predomina.


Estabilidade = fim do regime.
É o melhor regime dentro das circunstâncias.

1º Semestre 30 Guilherme Echeverri


É, no entanto, raro existir na Grécia Antiga, cidades com classes médias predominantes. O
regime constitucional não existiu e se existiu é muito raro. Lembre-se que a oligarquia e a
democracia eram os mais frequentes.
Portanto, Aristóteles, está a propor um regime como norma para as cidades estado de forma a
que se possam extremar menos ou se aproximarem mais de um ponto de equilíbrio.

Sempre que há uma pequena inclinação para uma maioria rica ou uma maioria pobre, nenhuma
das nações procura zelar o bem comum, mas sim instituir um regime que vá de acordo com o
interesse da classe.
A maior parte das facções quando conquistam uma cidade comportam-se de forma ideológica,
tentando impor um regime da sua simpatia sem ter em conta as condições.

De certo modo, dependendo das circunstâncias em que estamos inseridos, o melhor


possível é possivelmente o melhor.

Por fim, falta resolver uma questão: porque é que a democracia é mais branda - melhor -
que a oligarquia?
Se a concepção oligarquia está certa na forma e errada no conteúdo e a democrática está em
ambas erradas, porque é que a democracia é mais branda que a oligarquia? Porque existe
mais estabilidade ao existir mais facilmente uma classe média maior, mesmo que não seja a
dominante. Na oligarquia, temos um fosso, sendo que os ricos predominam.

1º Semestre 31 Guilherme Echeverri

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