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2ª Frequência
Livro 1
Tudo nesta obra vai ser encarado de uma perspetiva teológica - a finalidade de algo é o que nos
faz distinguir uma coisa de outra (ex: para definir um relógio temos que dizer que é um
instrumento para medir o tempo e não atribuir-lhe uma série de atributos como é de vidro, quartzo,
aço, etc).
- Família (oikos)
- Aldeia
- Cidade: comunidade mais elevada de todas que visa alcançar o maior de todos os bens. Só
esta pode ser uma comunidade política.
• No que toca à mulher, Aristoteles pensa que o Homem está mais apto para governar, pelo que
este governa a mulher como cidadã e o escravo de uma forma despótica.
em simultâneo.
A questão não tem a ver com questões físicas; embora a natureza o modele o corpo, nem sempre
é assim. Também não é hereditária, embora a natureza para aí incline as coisas.
No capítulo 6, Aristóteles revela que há um tipo de escravatura que não aceita, que é aquela que
existe por convenção e não por natureza. Por exemplo, para povos conquistados em guerras é
possível serem escravizados pelos seus “conquistadores”. Portanto, a escravatura como espojo
de guerra é condenada por Aristoteles - e sempre que esta não tem fundamentação natural,
também o é.
Os escravos não deliberam (seriam pessoas com debilidade mental?), não têm capacidades
adequadas para atingir os seus fins próprios, precisando de um senhor que governe por eles.
Portanto, o senhor e o escravo promovem mutuamente as capacidades dos dois. Aristoteles
defende que devem ter uma relação de interesse e amizade.
Além disto, a cidade subsiste também (e sobretudo) para assegurar a VIDA BOA (Euzen). Para
uma vida boa, temos que saber o que é o bem: bem supremo = felicidade.
A cidade tem também como objetivo fazer com que os cidadãos consigam alcançar a felicidade,
tendo, com a cidade, meios, integralidades, para alcançar fins.
↳ As outras comunidades, família e aldeia, não são completas, visto que só conseguem alcançar
os seus fins numa cidade.
Então, a cidade é uma unidade política que assegura todos as necessidades que lhe
compete - vida e vida boa.
Como vimos, vida qualificada de boa = felicidade (bem último). Qual é então a condição essencial
para a felicidade? É a virtude, a atividade da alma segundo a virtude.
Dizer que a cidade tem como competência criar condições para a vida boa, isto é, para a
felicidade, é o mesmo que dizer que tem condições para que se exerça a virtude.
Para Aristóteles, a função de politico é das mais importantes, que deve ser exercida através da
virtude (ações boas e justas). A virtude específica do politico é a prudência: saber teórico, que
trata da prática, consistindo em saber tratar o bem concreto através do universal.
Por outro lado, a perícia política consiste na criação de uma boa cidadania.
Na política, não devemos olhar tanto ou somente para os RESULTADOS da ação, mas
principalmente para A FORMA como se chegou a esses resultados. Aqui, consideramos então
que os meios têm uma grande importância, visto que estes qualificam a ação. Tal como se
Ação
Resultado
Político da ação
(fim)
Como
foi feito?
(meio)
A política é semelhante a uma technê, mas esta considera apenas o fim; neste caso, interessa-
nos a forma como chegamos a esse fim.
O politico só é bom politico se uma ação boa levar os outros a praticar ações boas. A sua
ação deve criar VIRTUDE e EXCELÊNCIA. Por isso, o BEM AGIR é o objetivo da política, para,
assim, obter bons resultados.
Por outro lado, é preciso encontrar uma ponte que ligue a prática à teoria - é aí que entra a
virtude. Esta não nasce com a pessoa, o homem tem que a desenvolver com o HÁBITO.
Assim o objectivo do homem é: realizar a concretização de uma vida boa através de meios
virtuosos e prudentes.
O homem tem a possibilidade de ser feliz e à cidade compete-lhe ser o maior para alcançar a
felicidade. A causa final de uma coisa = seu melhor bem.
A cidade é natural ao Homem - é produto da ação consertada dos Homens -, tendo em conta
que a natureza de uma coisa diz respeito ao seu fim (relembrar perspetiva teológica de
Aristóteles).
Ela é o meio e o fim ao mesmo tempo. É essencial para que o homem atinja o máximo das suas
potencialidades, alcance o seu fim (a felicidade); para que haja a realização da natureza humana.
(p.482 e *)
Por isso, o homem, para ser melhor, precisa da comunidade (da família e da cidade) - precisa dos
outros para alcançar os seu fim. Ele é, então um “zoon politikon” - um vivente/ser vivo político
no sentido pleno. É o mais politico dos seres porque possui razão, o que lhe permite fazer
distinções morais (entre o que é justo ou injusto, ou o que é o bem e o mal), tendo assim condisse
para escolher a vida boa.
Caso o homem não se consiga envolver em comunidade, isto é, não precise da cidade das duas
uma: ou é um bicho - “besta soltaria” - ou um “deus”. Aquele que precisa dela, está sempre à
procura do melhor para si (vida/boa).
Para Aristóteles, o todo é anterior à parte. Em simultâneo, o indivíduo está para a cidade como
a parte está para o todo.
Por exemplo, uma mão morta no chão deixa de ser uma mão - passa a ser apenas carne e osso
em forma de mão. A mão perde a sua finalidade, deixa de ser operativa, deixando de ser uma
mão. O mesmo acontece com o homem quando não tem a cidade - passa a ser nada sem a
comunidade política. Por isso, Aristóteles considera que o indivíduo é apenas funcional dentro
de um todo; sem ele não têm substância própria. Baseia-se nas relações e na sua função no
interior delas.
Análise - não vai analisar a Republica como obra geral, está sim a focar a atenção num ponto
singular: comunidade de bens, filhos, mulheres e propriedade.
Platão ⟶ “Para toda a cidade, a maior unidade possível é o maior dos bens” - ideia de que a
MAIOR UNIDADE POSSÍVEL é o maior dos bens, embora pense que a cidade seja una.
Aristóteles ⟶ a cidade é PLURAL por natureza, lembrando que o Homem é um ser politico.
Seguindo a perspetiva de Platão, cada vez mais unidade vai dar origem à desfragmentação de
cidade e, passando a assemelhar-se mais a uma casa e a uma família.
Platão ⟶ unidade somática (todos irmãos de todos, todos pais de todos) ⟶ comunidade
1. Se uniformizarmos demais a cidade, destruímos a sua pluralidade típica de cidade e dos seus
indivíduos
2. Contradição entre máxima unidade possível e autossuficiência
Quanto mais aglomerado tornamos algo unitário, pior. A cidade é menos unitária que a casa, mas
é mais auto-suficiente. Existe uma unidade desejável, mas uma “unidade cooperativa e
hierarquicamente estabelecida com a máxima unidade possível não concretiza isso. Da forma que
Platão fala, as relações deixam de ser plurais.
A auto-suficiência para Aristóteles não é apenas material. É também moral, logo precisamos da
pluralidade de ideias e discurso que existe na sua conceção de cidade, sendo meio caminho
andando para a vida boa.
Crítica à propriedade
Outro problema é a maneira como, na República, cada um encara a propriedade.
Razões:
1. o facto de todos chamarem “meu” ao mesmo objeto - a posse comum leva a discórdia
2. cada um preocupa-se muito mais com o que é sei e o comum é tratada como um pouco de
descuido, pensando que os outros vão cuidar dele.
Aristóteles ⟶ Cada um está mais disponível a cuidar daquilo que lhe pertence com
Ex: Computador na Escola (de todos) vs. Computador de casa (meu - logo, tenho mais cuidado)
Para Aristóteles:
*Lembre-se que a posse comum gera discórdias e põe em risco a paz pública ⟶ conflitos
Logo, a mais indicada é a propriedade privada com o uso comum. Em geralmente, deve ser
privada, mesmo que se devam partilhar algumas coisas em comum, isto é, o seu uso pode ser
para o beneficio do todo.
O que há de condenável é o egoísmo que daí pode decorrer, logo é necessário educar os
cidadãos.
Por exemplo: Uma vinha é minha e dá uvas. Eu disponibilizo-a por vontade e virtude própria aos
outros (estes não roubam).
Para Aristóteles, a AMIZADE é o melhor dos bens na cidade, significado afeto e concórdia,
igualdade e reciprocidade ⟶ pessoas diferentes. O melhor dos bens não é a máxima unidade
Cada cidadão deve manter-se UNO e INDIFERÍVEL numa comunidade política. Logo,
respondemos à pergunta “estamos perante uma conceção organicista de comunidade
política?”. Não.
A unidade da cidade não se conquista na dissolução dos indivíduos num todo de identidade. Sim
o contrario. A cidade, enquanto comunidade política depende do pluralismo dos cidadãos.
A cidade só é feliz se cada indivíduo for feliz à sua maneira, por isso os sujeitos diferem em
espécie e…
Livro III
Regimes Políticos
- O que é o regime;
- Quantos regimes existem + classificação
- O que é o cidadão no sentido politico?
1) Um regime político resulta de um certo modo de ordenar os habitantes na cidade?
• Quem tem o direito de participar?
• Quem participa mais?
1º Semestre 8 Guilherme Echeverri
• Como se organizam as magistraturas e instituições.
Livro IV, 1285a
- O lugar (território onde se vive) não se faz nos faz cidadãos, visto que os metecos e os
escravos também vivem nesse lugar.
- As crianças são demasiado jovens para terem esse estatuto (são cidadãos de modo imperfeito)
e os anciãos também são demasiado velhos (são cidadãos eméritos). São livres mas não são
cidadãos.
- Exercer direitos civis também não chega (por exemplo, alguns metecos também os têm).
O QUE É A CIDADANIA
Capacidade de participar na administração de justiça e do governo ⟶ regime democrático.
ateniense).
Cap. 3
A cidadania é o exercício EFETIVO de uma magistratura ⟶ a capacidade, o direito e o exercício
efetivo.
Cap. 5
Cidadão ⟶ trabalhar para viver?
Num regime ideal, o que tem que trabalhar para viver não é cidadão, porque tem a mente
presa e degradada. Trabalhar não era digno em Atenas.
E o trabalhador manual? Não é cidadão porque não dispõe de tempo livre e não pode dispensar
tempo para o exercício efetivo das magistraturas.
A participação política tem como objectivo alcançar a vida boa, no nosso contexto de cidade
aristotélica. Talvez noutro se possa ser cidadão se a vida boa não for o fim último.
Além disso, a cidadania exige riqueza e ócio. Quem tem que trabalhar para viver não tem tempo
para o ócio, nem é rico.
REGIME = critério para definir a cidade. Podem ser retos (orthos) ou degenerados (decaídos
de forma)
Definição de regime: ordenação das magistraturas raparigas por todos conforme o poderio dos
que participam no governo.
Um Realeza Tirania
Degenerados: interesses
Um - pessoal, do governante
Alguns - ricos
Muitos - pobres
São degenerados ou desvios porque nenhum deles tem em conta os interesses da
COMUNIDADE.
- Falar do melhor regime é falar de uma Realeza ou de uma Aristocracia, pretendo estar
fundados em virtude e recursos.
- O pior regime será necessariamente aquele que resulta da perversão do mais excelente e mais
divino, a realeza - é a tirania, o regime mais completamente afastado da “Politeia”, enquanto
regime constitucional (é o regime mais afastado de qualquer forma de regime)
- Segue-se a oligarquia, mas melhor que ela é a democracia.
- A aristocracia é o melhor regime (p.301): Cartago e Esparta são exemplos de aristocracias.
Um regime tirânico não é conforme à natureza, é o regime que mais vai contra ela, mesmo não
sendo nenhum desvio conforme. É um tipo de relação injusto e arbitrário. Há uma inversão em
que a ordem natural está a ser violada. O desejo do tirano é um desejo de inversão da ordem
natural. Homens semelhantes não podem ser governados por um regime despótico,
portanto é o que menos parece um regime político.
A REALEZA
Em que condições pode existir uma realeza?
Em condições em que os homens se assemelham ou são iguais, a alternância de poder é
desejável.
- Será que é preferível sermos governos por homens ou por leis? Será que é preferível em
qualquer regime ser a lei a governar ou a vontade de um homem em particular?
- Será que é melhor sermos governados por um maior número de governantes ou por um
mais reduzido?
- Para Artistóteles, é preferível ser a lei a governar.
- Para ele, é preferível que sejamos governados por um maior números de governantes do que
por um menor.
Lei - Porquê?
A lei é razão liberta de desejo; parece incorporar em si ordenações que são produto do homem,
(…) As leis em sentido próprio não podem governar, não decidem nada - estabelecem sim
parâmetros gerais.
Governar politicamente é deliberar e decidir sobre casos concretos. Ainda que o predomínio deve
ser dado à lei, não significa que devamos prescindir das deliberações dos agentes políticos,
porque a lei não delibera (pode sim determinar quais os fins mais desejáveis para a comunidade
política. Quem decide são sempre os homens.
O ideal é ter homens inspirados pela lei que possam deliberar e decidir bem em casos
concretos. Mas em termos abstratos, é preferível dar primazia à lei, que deve ser
estabelecida de acordo com os princípios da lei. Se assim for, é preferível que ela governe.
Muitos - Porquê?
Damos a primazia à lei, mas ela não consegue decidir tudo. Então precisamos do elemento
humano. Vale, neste caso, a pena ser um ou muitos?
Para Aristóteles, é melhor sermos governados por mais do que por menos. Muitos
conseguem dar mais e melhores contributos para a governação da cidade. Na razão, acresce
que é mais difícil corromper um corpo numeroso de cidadãos (toda uma grande massa de
cidadãos).
Este privilégio dado ao número consegue em certa medida explicar a ordem dos regimes
degenerados do melhor para o pior (a democracia tem mais). Em regimes retos, não é bem assim.
Entre a aristocracia e a realeza, é melhor a aristocracia porque tem um governo de alguns e não
de um.
“Se existir um indivíduo ou vários (mas insuficientes para formar a população da cidade) tão
preeminentes em virtude que nem a virtude nem a capacidade política dos outros se possam
comparar às deles ou às suas, um tal indivíduo, ou individuos, não devem ser tratados como
simples partes da cidade” (…)
O predomínio deve ser dado a lei, deve governar num regime onde todos são iguais, ao
contrário do poder absoluto. Mas e se entre os homens aparecer um homem tão superior em
virtude e capacidade política que a virtude e a capacidade política somada de toda a cidade não
se puder comparar à dele? Submeter este homem à lei, achando-o digno de direitos iguais é
injusto, uma violação da ordem natural como acontece na tirania. Mas sendo superior a todos os
outros, é justo. Tal homem assemelha-se um deus entre os homens.
Qualquer outra solução política é injusta sem ser a de que o homem que é infinitamente superior à
restante cidade deve governar.
Se a realeza for instituída e o rei notar que o descendente não partilha das suas virtudes
superiores, então não deve transmitir o poder ao filho. Portanto, a realeza não é nem pode ser
hereditária.
O critério para manter a realeza é a virtude excepcional do governante. Caso comecem a
surgir semelhantes, a aristocracia é o melhor regime.
É necessário que o Rei seja, então, reconhecido enquanto tal pelos cidadãos, caso contrário ou é
morto ou ostracizado ou tratado como um louco. A realeza só se institui com a virtude do
governante e o consentimento popular. Sem consentimento, a realeza não tem condições,
porque mais tarde será deposta por outro regime e outros governantes.
A realeza torna-se assim um regime usado em circunstancias raras, usada talvez em tempos
antigos.
A virtude superior do rei, excepcional e rara é tão elevada, que o rei é em todos os seus atos a
razão liberta de desejos. Ele governa a cidade como se da própria razão se tratasse. Daí a
possível incompatibilidade entre o homem e a lei ficar aqui dissolvida.
Assim, para Aristoteles, não é uma ocorrência natural que alguém governe de forma absoluta,
mas se aparecer um homem destes, não há outra solução sem ser que ele governe, porque
caso contrário, será injusto para a ordem das coisas. Não devemos matá-lo, exilá-lo ou pô-lo a
governar com outros. É uma espécie de inversão lógica da estrutura da tirania.
Qual deve ser a população do regime ideal e qual o seu número e extensão territorial?
População e território nem muito grandes nem muito pequenos. Será que uma cidade grande
deve ser uma cidade populosa? Uma cidade grande não é o mesmo que uma cidade populosa.
Dado que na cidade melhor os cargos públicos são atribuídos a partir do critério mérito - forma de
governo em que governam os melhores, uma aristocracia -, portanto devem governar a partir da
virtude, mas para que isto aconteça os cidadãos têm que se conhecer bem entre si; se a cidade
for excessivamente grande, tal não é possível.
Vida auto-suficiente comum, de uma verdadeira comunidade política, a população não pode
ser excessivamente grande (nem pequena).
No entanto, o mar é bom para a segurança e o enriquecimento da cidade e isso significa que a
comunicação com o mar é importante para colmatar deficiências na autossuficiência natural.
A cidade deve praticar o comércio para o seu próprio interesse. É na mira do lucro que os espaços
se abrem como mercados a todo o mundo, mas a cidade não o deve ter, porque não está na sua
natureza tal ambição do lucro. O comércio é bom, mas cuidado com o rumo que tomam. A riqueza
é boa mas numa certa forma de lucro não é. Há certos mercados abertos que fomentam a procura
de um lucro e não de riqueza propriamente dita. Daqui saem os conceitos de crematística
natural e anti-natura.
A verdadeira riqueza é um conjunto de instrumentos possuídos pela casa e pela cidade. Consiste
na acumulação de instrumentos necessários quer ao bom governo da casa - economia - ou
da cidade - política -, por parte do senhor da casa ou do governante. Trata-se de um conjunto
limitado de bens. Esses instrumentos visam preencher uma outra finalidade: uma vida feliz. É a
crematística natural, que serve para preencher lacunas na auto-suficiência natural.
Outra é a crematística anti-natural: parece nela não existir limite nem de riqueza nem de
propriedade. Trata-se possível de acumular meios de forma ilimitada com o surgimento da moeda,
que é necessária também para a crematística natural. Esta tem como finalidade a acumulação
ilimitada de meios, e portanto não é legitima nem boa.
Conclusão extrínseca: Se existirem estes espaços comerciais que se abrem como mercados
para o mundo, os homens começam à procura de prazeres em abundância.
Todos os objetos têm duplo uso, para satisfazer o seu fim ou como moeda de troca. A troca não é
contrária à natureza nem a qualquer tipo de crematística. A moeda surge sob pressão da
necessidade. Com a introdução da moeda é possível acumular meios de forma ilimitada que de
outra forma não era possível. Muitos consideram a riqueza como a abundância da moeda. É
necessário definir a riqueza sem ser pela moeda. Esta espécie de crematística não tem limite
quanto ao fim pois o fim é acumular cada vez mais.
Crematística natural: adquirir bens para a vida boa (meios ou instrumentos que devem servir a
casa ou comunidade política)
Crematística ilegítima: procura e acumulação de meios como sendo o fim. Não natural.
Acumulação de meios para aumentar a capacidade (sem nunca concretizar a finalidade da
capacidade).
Então, a população do melhor dos regimes deve ter uma natureza briosa e inteligente em
simultâneo, para se deixaram conduzir docilmente pelo legislador em direção à virtude. O melhor
regime que estamos a falar tem como finalidade a promoção da virtude.
Abundância
Partes constitutivas Cidadãos?
de recursos?
- O modo de vida dos agricultores e dos artesãos não é nobre nem se faz uso da virtude, visto
que não têm tempo livre porque trabalham para viver - o ócio está fora de questão+. Não são
classes de recursos.
- Os guerreiros e governantes são as mesmas pessoas em diferentes fases da vida. Enquanto
a guerra exige vigor, a deliberação exige ponderação. Enquanto jovem será guerreiro, com
maturidade ascenderá a governante. Não é conveniente que aqueles que detêm a força das
armas vivam em permanente estado de submissão, visto que são eles que têm a força para
segurar o regime ou deitá-lo abaixo, logo os jovens são a classe guerreira. Portanto, em jovens
serão governados, em adultos governantes. Para isso, devem ter brio e inteligência, para
poderem viver em alternância em diferentes fases da vida. Então o regime deve ser incumbidas
a ambas as partes, mas não em simultâneo.
- Os sacerdotes: o culto das divindades diz respeito aos cidadãos, enquanto anciãos, tendo sido
guerreiros e governantes anteriormente. Voltam a ser as mesmas pessoas, mas agora numa
DEMOCRACIA E OLIGARQUIA
Livro III – Cap. 8
Os dois regimes vão ser definidos em conjunto. A forma como os definimos depende de uma
comparação constante entre os dois. Aristóteles tenta chegar a uma comparação de dois regimes
degenerados.
Oligarquia define-se pelo governo dos ricos e democracia como o governo dos pobres. A
qualidade do regime define-se pelo predomínio da facção de ricos ou pobres.
E se acontecer que exista uma maioria de ricos ou minoria de pobres? Aristóteles inverte a
oligarquia e a democracia. O número parece acidental devido ao facto que os ricos são em todo o
lado poucos e os pobres muitos. O número daqueles que compõe a classe política é acidental e
não diz o essencial de cada regime. Os “poucos” e “muitos” do quadro não é essencial para a
definição de cada um destes regimes. A verdadeira diferença é a pobreza e a riqueza. A riqueza é
de poucos e a liberdade é de todos. As causas para as quais cada um reclama os regimes são
diferentes.
Cap. 9 - Justiça
É necessário definirmos a justiça de acordo com cada regime.
- Há quem considere que a justiça é igualdade, mas este critério só se aplica se os homens
forem iguais.
- Outros consideram que a justiça é desigualdade, mas este critério também só se aplica aos
homens desiguais. Os homens são maus juízes quando os seus interesses estão em causa.
- Os oligarcas dizem que como todos são desiguais na posse de riqueza, o acesso a cargos
públicos também deve ser desigual.
- Os democratas utilizam o argumento da liberdade e dizem que como todos são igualmente
livres, também o acesso a cargos públicos deve ser igual para todos.
Ambos os regimes usam apenas um critério e estendem-no a todas as matérias. Sendo todos
igualmente livres, o acesso seria por sorteio. Qualquer um dos partidários julga que a sua
conceção de justiça é a mais adequada. Aristóteles defende que estas definições são apenas
relativas e têm em vista apenas o interesse próprio e nenhuma delas é a definição absoluta de
justiça. O argumento da desigualdade do oligarca diz que quem contribui mais deve ter direito a
mais – o mesmo raciocínio aristocrático mas utilizando a riqueza. Esta definição deve ter em conta
a virtude. Quem for desigual na virtude deve ser desigual no acesso a cargos públicos pois a
virtude é o fim da cidade.
Exemplo: Se a capacidade para tocar flauta entre 2 tocadores for exatamente igual e só houver 1
flauta a quem deve ser atribuído o instrumento? A quem desempenhar melhor a sua função deve
ser dado o melhor instrumento. Aquilo que deve ser essencial deve ser o mérito mas se o mérito
for equiparado devemos utilizar outras características como critério (bom nascimento, melhor
aparência, etc)?
Se tivermos um excelente político, mas um pouco desonesto em comparação com outro homem
que não é tao bom, mas é melhor homem. Devemos atribuir o cargo a quem? Deve a honestidade
ser um critério?
» O único regime onde o bom cidadão e o bom homem são a mesma pessoa é no melhor
regime.
Quem pode contribuir com mais vai sempre receber mais, distanciando-se cada vez mais dos
pobres. O critério do oligarca é que a justiça está na caixa azul, quando na verdade está no fator
que multiplica. Esta forma assemelha-se mais à forma aristocrática.
Esta concepção está errada na forma e no conteúdo, mas Aristóteles defende que a oligarquia é
pior que a democracia.
Livro IV
O enfoque da ciência política pode variar em certa medida, ou seja, que ela não tem apenas um
objetivo, tem vários. Cabe ao bom cientista política analisar os regimes sob diversas perspectivas.
Aristóteles, neste livro vai tentar chegar ao Regime Constitucional.
Este é um livro empírico, que vai analisar as várias constituições existentes na Grécia. A maioria
delas são democracias e oligarquias. Desta forma vai ter que criar uma nova classificação dos
regimes para se adequar à nova realidade empírica.
Aristóteles está nesta fase a aceder a muita informação sobre as constituições do seu tempo e
está a tentar encontrar recursos conceptuais para essa realidade que antes desconhecia. E se a
realidade política está a tentar mostrar-lhe formas de constituição que para ele podem trazer uma
nova forma de pensar. Então, A está a tentar encontrar a própria estrutura do pensamento politico
para aprender o que a realidade lhe mostra.
Temos que tentar mudar a forma de pensar para entender novas realidades - o primeiro esquema
deixa de ilustrar a realidade, e por isso tem que o mudar. A mente deve adequar-se à realidade.
O nosso foco de estudo: tentar encontrar o melhor regime possível de acordo com as
circunstâncias (não o absoluto ou o excepcional)
Assim:
Regimes O melhor…
Realeza excepcional
Aristocracia em absoluto
Vemos que a maioria dos regimes são democracias e oligarquias e temos que os classificar. Após
fazê-lo, temos que encontrar o tal regime, o melhor dentro destas circunstâncias, o melhor e mais
desejável entre as cidades, que se configura como um regime de índole aristocrática: portanto,
não sendo uma aristocracia, tem que ter algum caráter da mesma.
1º Semestre 22 Guilherme Echeverri
Há algo que não batia certo quando definimos oligarquia e democracia, já que são postas uma ao
lado do outro, visto que há uma prioridade lógica do reto sobre o degenerado. Agora ainda fica
mais estranho, porque diz que vai encontrar o melhor possível dentro das circunstâncias, através
de dois regimes degenerados.
Para Aristóteles o mais relevante nestas cidades, é a predominância de duas partes: pobres e
ricos. É a questão essencial.
Aristóteles percebe que algo está a acontecer de errado na forma que está a pensar: está a
querer ter ao mesmo tempo as duas coisas - diz que ambos os regimes são polos conceptuais
contrastantes, mas se faz isso, então a prioridade normativa dos regimes retos não se pode
manter (o primeiro esquema não faz sentido). “Eu estou a tentar captar a realidade por dois
degenerados, quando disse antes que isto se deve fazer pelos retos”.
A nossa conclusão será no final: a politeia é um regime que se deve manter por si próprio e não
é um regime misto, em que se misturam ricos e pobres.
Os dois regimes são rivais em oposição, em antítese, e essa mede-se precisamente porque as
partes preponderantes destes regimes estão em oposição: maioria pobre/maioria rico. A
preponderância de uma destas facções na cidade torna o regime mais comum uma oligarquia ou
uma democracia.
Á medida que vamos caminhando de 1 para 2 e 2 para 3, o número de cidadãos que pode
participar vai aumentando. À medida que vou caminhando para formas mais extremas, maior o
numero que pode participar, menor é a influencia da lei. Sendo assim, também o peso da razão
vai diminuindo (lembre-se que a lei é a razão liberta de desejo).
Mas o número não era acidental quanto tentávamos distinguir oligarquias e democracias, como
diz no livro III?
E Aristóteles não dava preferência à lei?
Nestes casos, a democracia aprofunda o seu caráter democrático e extrema-se. Neste regime,
quantos mais podem participar, menor a influencia da lei.
Cap. 6
4 formas de democracia - nova classificação (a forma 1 desaparece como democracia)
Na primeira forma de democracia é necessária um património moderado, logo corresponde à 2
no segmento de reta.
Uma segunda forma corresponde à três. A terceira corresponde à quatro. A quarta (demagogia)
corresponde à cinco.
Aqui fala-se de apenas quatro formas de democracia
P. 461
“A partir do que atrás ficou exposto, quase se torna evidente ao modo de proceder em relação às
oligarquias. Assim cada oligarquia deve ser estabelecida estabelecida a partir dos elementos
contrários ao tipo de democracia que lhe corresponde de modo oposto, por forma a que a mais
moderada e a primeira das formas de oligarquia é precisamente aquela que mais próxima está do
regime chamado constitucional”
Nos capítulos 8 e 9, Aristóteles pretende definir exatamente o regime constitucional. Ele mostra
que democracia e oligarquia, mais do que regimes, são polos conceituais contrastantes. Por isso,
a definição passará exatamente por misturar aspetos de ambos os regimes, usando como
alicerces o nosso segmento de reta.
Analogia: Ler clássicos faz-nos ter uma alma aristocrática e permite que a democracia não se
desgaste e que sejamos melhores cidadãos. A educação cívica e um dos modos que temos para
conservar o nosso regime. Liberdade e igualdade não são os únicos valores que contam. Numa
democracia, as almas devem ter um teor diferente.
O caráter deste regime surge-nos mais evidente a partir do momento em que se defina o que é
uma democracia e uma oligarquia, dado que como já foi dito, o regime constitucional é uma
mistura de oligarquia com democracia (1ªdef). Está a tentar definir um regime reto a partir de
dois degenerados, o que estabelece uma contradição ao violar a prioridade lógica dos regimes.
Os regimes que se inclinam mais para a democracia são regimes constitucionais e para a
oligarquia aristocracias (riqueza, linhagem e educação andam de mãos dadas). Portanto, este vai
mais para o lado da democracia. Quer o regime constitucional, quer a aristocracia estão a ser
definidos como uma mistura dos dois polos conceptuais.
Tudo o que se diz atrás da aristocracia (no que toca à virtude) mantém-se, mas tenta adaptá-la e
percebe-la através destes polos conceptuais.
Na politeia:
1) Liberdade
2) Riqueza
Na aristocracia:
1) Liberdade
2) Riqueza
3) Virtude
O regime constitucional é entendido como um regime misto nestes capítulos. A forma como vai
operar a partir do capitulo 8 para 9 é então explicarmos várias hipóteses desta mistura.
A ideia que preside no capitulo 9 é ainda uma definição feita a partir de uma mistura. Quais são as
várias formas mistas de administração?
1) Dar aos pobres importância (d), abrindo os cargos à prática de todas as classes e
incentivando os ricos a participar (o). No fundo, misturar as duas classes na administração de
justiça.
2) Fixar uma média que colocasse nas mesmas condições ricos e pobres. Estamos sempre a
supor que numa cidade temos duas facções bem determinadas - ricos e pobres - e que de
alguma forma com o estabelecimento de um montante intermédio isso seria a forma de
equilibrar bem as duas facções.
3) Combinação de disposições de ambos os regimes, umas extraídas da lei democrática e outras
da lei oligárquica. Uma possibilidade é misturar o critério de nomeação - por eleição - e não
se exigir património para se poder ser eleito. Lembre-se ELEIÇÃO = OLIGARQUIA ;
SORTEIO = DEMOCRACIA
O que Aristóteles está a dizer é: quando nós misturamos bem as classes, os critérios de acesso a
cargo publico e as metodologias para forçar os ricos a participar, dando importância aos pobres,
vamos encontrar um regime que é uma mistura entre uma democracia e uma oligarquia.
No entanto, estamos a operar segundo uma lógica errada (devemos definir primeiro o que está
bem constituído e só depois pensar nas degenerações). Não podemos misturar dois regimes
degenerados para encontrar o regime constitucional.
Portanto, vamos voltar ao método anterior, ou seja, tem de existir uma prioridade lógica para
chegar onde quer.
Encontrar o regime constitucional seria criar uma boa mistura. Mas este não deixa de estar no
meio. O problema está no facto de haverem duas facções opostas - ricos e pobres - e ambas
puxarem para um lado e para o outro; se houver um pequeno desvio para a direita ou para a
esquerda (no segmento de reta), há uma degeneração.
Por melhor que funcione uma mistura, o equilíbrio encontrado é precário.
Um regime constitucional deve portanto alicerçar-se a uma classe que queira exatamente o
regime que vigora. É uma classe que vai dar estabilidade ao equilíbrio. Essa classe é a classe
média.
Logo a melhor comunidade política é a que provém das classes médias, visto que esta impede o
aparecimento de extremos antagónicos, quanto maior é. Quanto mais numerosa a classe média,
mais tendencialmente essa cidade será estável. A instabilidade do regime e a sua mudança é
proporcionada pelo desaparecimento da classe média (como sabia Marx).
É pois muito vantajoso que os titulares de cargos públicos possuam riqueza média e suficiente,
porque caso contrário, facilitamos a criação de uma oligarquia ou de uma democracia ou até numa
tirania quando as duas se extremam mais.
“É pois muito vantajoso que os titulares de cargos públicos possuam uma riqueza mediana e
suficiente; as cidades em que uns possuem em demasia e outros nada possuem, propiciam o
estabelecimento de uma democracia extrema, ou de uma oligarquia pura, ou mesmo de uma
tirania, nos casos em que, quer uma, quer outra se excedam. Assim se é verdade que uma tirania
nasce de uma democracia mais radical ou da oligarquia, também é verdade que tem menos
possibilidades de se impor entre as classes médias”
Quando maior parece ser o agregado populacional, maior tendência para uma classe média
maior.
Sempre que há uma pequena inclinação para uma maioria rica ou uma maioria pobre, nenhuma
das nações procura zelar o bem comum, mas sim instituir um regime que vá de acordo com o
interesse da classe.
A maior parte das facções quando conquistam uma cidade comportam-se de forma ideológica,
tentando impor um regime da sua simpatia sem ter em conta as condições.
Por fim, falta resolver uma questão: porque é que a democracia é mais branda - melhor -
que a oligarquia?
Se a concepção oligarquia está certa na forma e errada no conteúdo e a democrática está em
ambas erradas, porque é que a democracia é mais branda que a oligarquia? Porque existe
mais estabilidade ao existir mais facilmente uma classe média maior, mesmo que não seja a
dominante. Na oligarquia, temos um fosso, sendo que os ricos predominam.