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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA – MG


Departamento de Ciências Sociais e Filosofia
Fundamentos de Filosofia Política - EPTNM
Apostila: A Ética Aristotélica
Elaboração: Samuel França Alves

Introdução

Vimos nas aulas introdutórias que a Ética (ou filosofia moral) é o estudo filosófico dos
costumes e das ações do ser humano. Uma teoria ética não é, portanto, um conjunto de normas
distinguindo o que é certo do que é errado. São as diversas morais adotadas pelas diferentes
sociedades ao longo do tempo que formulam essas regras. Mas isso não significa que uma teoria
ética não tenha nada a dizer sobre o certo e o errado. Pelo contrário! A questão é que, para
estabelecer essas distinções, uma teoria ética deve, antes, estabelecer princípios e justificar esses
princípios. A diferença entre um comportamentos ético e outro anti-ético será, assim, uma
consequência dos princípios estabelecidos, e as diferenças entre duas ou mais teorias éticas deverão
ser buscadas justamente nas diferenças entre aquilo que cada uma delas assume como princípio, ou
como fundamentos.

Ética aristotélica

1- O bem
Sendo a ética o estudo filosófico dos costumes e das ações do ser humano, Aristóteles inicia
sua reflexão analisando os traços gerais das ações humanas. A primeira observação que ele faz é a
de que toda atividade tem uma finalidade, e para aquele que escolhe agir em vista de um dado fim,
este fim é um bem. "Mas, diz ele,
observa-se entre os fins uma certa diferença: alguns são atividades, outros são produtos distintos das
atividades que os produzem. Onde existem fins distintos das ações, são eles por natureza mais
excelentes do que estas. Se, pois, para as coisas que fazemos existe um fim que desejamos por ele
mesmo e tudo o mais é desejado no interesse desse fim; e se é verdade que nem toda coisa desejamos
com vistas em outra, evidentemente tal fim será o bem, ou antes, o sumo bem."
Temos aqui duas colocações centrais. A primeira nos diz que se fazemos algo para alcançar o
fim distinto da ação que executamos, este fim é mais importante que a ação que o produz. Por
exemplo, quando um marceneiro fabrica uma cama com o objetivo de que ela seja confortável, a
cama proporcionar conforto é mais importante que a marcenaria - se surgir uma outra forma de
produzir a cama que resulte numa cama mais confortável, será desejável substituir a marcenaria por
essa outra técnica. A segunda observação diz respeito a uma hierarquia dos bens. Existem coisas
que só são consideradas boas porque permitem a nós alcançar uma outra coisa distinta. Nesse caso,
essa outra coisa é superior à primeira. O melhor exemplo para isso talvez seja a riqueza: o dinheiro
é um bem porque nos permite acessar coisas como moradia, alimentação, viagens etc. Se todas as
coisas que acessamos através do dinheiro fossem acessíveis sem esse meio, ele deixaria de ser um
bem. Mas, continua Aristóteles, se existir um bem que seja reconhecido como superior a todos os
outros, de modo que tudo o que consideramos bom o seja apenas porque nos aproxima desse bem
maior, então alcançar esse bem seria a finalidade maior da vida humana.

2- O éthos
A teoria ética aristotélica é política, e a sua teoria política é ética. Elas estão completamente
relacionadas. Para Aristóteles o homem individual é essencialmente membro da sociedade.
Assim, na ética são estabelecidos os princípios que permitem julgar a virtude dos indivíduos. Já na
política, a virtude social do Estado é a medida da virtude de seus cidadãos. Por isso a tarefa da ética,
para Aristóteles, consiste em estabelecer critérios para uma vida ordenada dentro de uma sociedade,
fundamentando esses critérios a partir dos fatos da vida, a partir da experiência.
"Com efeito, ainda que tal fim seja o mesmo tanto para o indivíduo como para o Estado, o deste último
parece ser algo maior e mais completo, para se atingir e preservar. Embora valha bem a pena atingir
esse fim para um indivíduo só, é mais belo e mais divino alcançá-lo para um povo ou para as cidades-
Estados."
Um conceito central da filosofia aristotélica é o conceito de éthos - o mundo próprio do ser
humano. Aristóteles entende que o ser humano não vive num mundo determinado pela natureza. Ao
contrário, a humanidade constrói para si um mundo próprio, pois através da sua atividade
consciente ela vai modificando o mundo em que vive tendo em vista objetivos que são escolhidos.
Essa construção do mundo humano pelo próprio ser humano (práxis) não é uma atividade
individual, mas sim social. Ela é resultado da interação de todos os membros de uma sociedade,
cada um buscando realizar aquilo que deseja.
A ética e a política possuem uma vinculação com o éthos (o mundo próprio do ser humano),
e a ética tem a sua particularidade na ação e não somente no conhecimento, pois a sua finalidade é o
próprio agir ético do homem em sociedade. A ética deve estabelecer uma relação dialética entre a
teoria e a prática, porque sua tarefa não é a construção de sistemas conceituais, mas sim de
esclarecer a ação através da qual o homem busca realizar-se.
É nessa perspectiva que Aristóteles se coloca algumas perguntas:
- qual é a melhor vida?
- qual o bem supremo da vida?
- o que é a virtude?
- como vamos encontrar felicidade e satisfação na vida?

3- A felicidade
É preciso então investigar se existe mesmo um sumo bem e, caso exista, qual é ele. Vejamos
o que diz Aristóteles sobre isso:

"Procuremos determinar, à luz do fato de que todo conhecimento e todo trabalho visa a
algum bem, qual é o mais alto de todos os bens que se podem alcançar pela ação. Verbalmente,
quase todos estão de acordo, pois tanto o vulgo como os homens de cultura superior dizem ser esse
fim a felicidade e identificam o bem viver e o bem agir como o ser feliz. Diferem, porém, quanto ao
que seja a felicidade, e o vulgo não o concebe do mesmo modo que os sábios. Os primeiros pensam
que seja alguma coisa simples e óbvia, como o prazer, a riqueza ou as honras, muito embora
discordem entre si; e não raro o mesmo homem a identifica com diferentes coisas, com a saúde
quando está doente, e com a riqueza quando é pobre.
A julgar pela vida que os homens levam em geral, a maioria deles, e os homens de tipo mais
vulgar, parecem (não sem um certo fundamento) identificar o bem ou a felicidade com o prazer, e
por isso amam a vida dos gozos. Pode-se dizer, com efeito, que existem três tipos principais de
vida: a que acabamos de mencionar, a vida política e a contemplativa.
(...) Ora, nós chamamos aquilo que merece ser buscado por si mesmo mais absoluto do que
aquilo que merece ser buscado com vistas em outra coisa (...). Esse é o conceito que
preeminentemente fazemos da felicidade. É ela procurada sempre por si mesma e nunca com vistas
em outra coisa, ao passo que à honra, ao prazer, à razão e a todas as virtudes nós de fato escolhemos
por si mesmos (pois, ainda que nada resultasse daí, continuaríamos a escolher cada um deles); mas
também os escolhemos no interesse da felicidade, pensando que a posse deles nos tornará felizes. A
felicidade, todavia, ninguém a escolhe tendo em vista algum destes, nem, em geral, qualquer coisa
que não seja ela própria.
Mas dizer que a felicidade é o sumo bem talvez pareça uma banalidade, e falta ainda explicar
mais claramente o que ela seja. Tal explicação não ofereceria grande dificuldade se pudéssemos
determinar primeiro a função do homem. Pois, assim como para um flautista, um escultor ou um
pintor, e em geral para todas as coisas que têm uma função ou atividade, considera-se que o bem e o
"bem feito" residem na função, o mesmo ocorreria com o homem se ele tivesse uma função."

Vamos procurar sintetizar o raciocínio proposto por Aristóteles.


a) Para ele é um dado evidente, que pode ser assumido como um princípio, que o sumo bem
para a vida humana é a felicidade. Isso porque essa palavra (e a ideia que ela carrega) designa
aquilo que todos queremos alcançar como o bem máximo em nossas vidas. No entanto, há uma
enorme discordância entre as pessoas na hora de dizer o que as torna felizes.
b) A partir disso são apontados os tipos principais de vida, que resumem, na visão de
Aristóteles, o conteúdo daquilo que diferentes pontos de vista consideram que leve à felicidade. São
eles:
- a vida dos gozos, que identifica a felicidade com os prazeres;
- a vida política, que identifica a felicidade com as honras;
- e a vida contemplativa, que identifica a felicidade com o conhecimento.

c) Existe portanto uma dificuldade em determinar de maneira segura e absoluta o que seja a
felicidade. Para superar essa dificuldade Aristóteles remete a questão para a indagação acerca de
qual é a função própria do homem. A ideia é a seguinte: assim como a função própria do flautista
é tocar a flauta, e nós poderemos dizer que o flautista realizou a sua finalidade com excelência
quando tocar bem a flauta, e isso distingue o flautista de todos os outros músicos, da mesma forma
se houver algo que distinga a humanidade de todos os outros seres, a vida humana terá alcançado a
excelência quando realizar bem aquilo que lhe é própria. Essa não é, para Aristóteles, uma resposta
difícil de obter:
"A vida parece ser comum até às próprias plantas, mas agora estamos procurando o que é peculiar ao
homem. Excluamos, portanto, a vida de nutrição e crescimento. A seguir há uma vida de percepção,
mas essa também parece ser comum ao cavalo, ao boi e a todos os animais. Resta, pois, a vida ativa do
elemento que tem um princípio racional. (...) Ora, se a função do homem é uma atividade da alma que
segue ou que implica um princípio racional [e acrescentamos que a função de um bom homem é uma
boa e nobre realização de uma atividade ou ações da alma que implicam um princípio racional], o bem
do homem nos aparece como uma atividade da alma em consonância com a virtude, e, se há mais de
uma virtude, com a melhor e mais completa."
4- As Virtudes
A felicidade se define como a atividade da alma segundo a virtude. Está claro, então, que,
para podermos identificar o conceito de virtude, devemos aprofundar o significado de alma. Para
Aristóteles, a alma é constituída de uma parte irracional (vegetativa e sensível) e de outra parte
racional; a cada parte da alma corresponde uma virtude em particular. A alma vegetativa, que é
comum a todos os seres, possui uma virtude que não é propriamente humana por ser comum a todos
os seres. A alma sensível, ainda que seja irracional, "em certo sentido participa da razão", deixando
claro que existe uma virtude dessa parte da alma que é especificamente humana e que consiste em
dominar essas tendências e esses impulsos, que é chamada virtude ética. Finalmente, posto que
existe em nós uma alma puramente racional, deverá corresponder também uma virtude própria
dessa parte da alma, que é chamada de virtude dianoética ou intelectual, ou seja, a virtude racional.
O conceito grego de aretê (virtude) tem um significado distinto do que se designa por virtude
em um contexto cultural cristão. Para o mundo grego, aretê significa o grau de excelência no
exercício de uma capacidade que um ser possui como própria. A aretê é uma certa realização do que
é uma função natural e não está relacionada com a ideia de essência.
Definida a função do homem como uma certa atividade da alma enquanto possuidora de
razão, Aristóteles fala, aqui, de virtudes intelectuais e de virtudes éticas (ou morais).
A virtude intelectual está relacionada com a aprendizagem, por isso necessita de
experiência e tempo, e a virtude ética é produto do hábito, do costume. Nenhuma das formas de
virtude ética se constitui em nós por natureza, pois nada do que existe por natureza pode ser
alterado pelo hábito:
"Por exemplo, a pedra, que por natureza se move para baixo, não pode ser habituada a mover-se para
cima, ainda que alguém tente habituá-la jogando-a dez mil vezes para cima; tampouco o fogo pode ser
habituado a mover-se para baixo, nem qualquer outra coisa que por natureza se comporta de
determinada maneira pode ser habituada a comportar-se de maneira diferente".

A expressão "por natureza" é entendida aqui como princípio de necessidade; sendo assim, as
virtudes não se produzem por natureza, e nem tampouco contra a natureza, mas "a natureza nos dá
capacidade de recebê-la, e esta capacidade se aperfeiçoa com o hábito". A virtude não é nem
natural, nem inatural ao homem. O homem adquire essa capacidade pela prática, pela ação;
tornamo-nos justos e moderados pela prática de atos justos ou moderados.
Aristóteles parte para uma análise das ações humanas, pois já tinha esclarecido que o seu
projeto visava a produzir homens bons e não puramente conhecimento teórico. Sobre essas ações
humanas é necessário ressaltar que tanto o excesso como a deficiência devem ser evitados, "agindo
de acordo com a reta razão"; sendo a virtude o meio termo entre essas ações. A virtude é um
estado habitual dirigida à decisão e consiste numa justa medida relativa a nós, em que a norma é a
regra moral; sendo assim, a virtude é um meio termo.
O objetivo de nossa vida é alcançar a felicidade. Para alcançarmos a felicidade, precisamos
viver racionalmente, e viver racionalmente significa viver segundo a virtude. A virtude é encontrada
no meio termo entre ações opostas, entre o excesso e a deficiência. A virtude irá depender de um
julgamento, por força da norma da sabedoria prática, ou reta razão, para repudiar o excesso e
alcançar a mediania:
"A excelência moral, então, é uma disposição da alma relacionada com a escolha de ações e emoções,
disposição esta consistente num meio termo (o meio termo relativo a nós) determinado pela razão (a
razão graças à qual um homem dotado de discernimento o determinaria)".
Mediania não significa somente o meio termo entre dois extremos, mas o meio é ajusta
medida relativamente a nós. A norma é a regra moral, a virtude é um justo meio. Assim, conquista-
se a essência da virtude, pois é o meio entre duas ações e, ao mesmo tempo, é o extremo enquanto
justo meio atingido.
A afirmação de Aristóteles de que nos tornamos bons a partir da prática de atos bons, em
princípio, envolve um paradoxo, a saber: como é que podemos praticar atos bons se nós não formos
bons? Aristóteles demonstra que existe uma diferença entre os atos que criam uma boa disposição e
aqueles daí resultantes. Por isso, não podemos dizer que um homem é virtuoso ou age
virtuosamente, se ele não cumprir o ato determinado. Em primeiro lugar, conhecendo o que faz; em
seguida, escolhendo o ato e executando-o voluntariamente; e, por fim, como resultado de uma
disposição permanente. Dessa maneira, desaparece o paradoxo, pois as ações que produzem a
virtude assemelham-se às produzidas pela virtude, não pela sua natureza interior, mas apenas por
seu aspecto exterior.
Quanto ao gênero da virtude, Aristóteles avalia três possibilidades: uma emoção, uma
capacidade, uma disposição. A virtude não pode ser um sentimento semelhante ao desejo, o medo, a
inveja, etc. Os homens não são considerados bons ou maus, virtuosos ou viciosos por sentirem tais
emoções, pois nem implicam escolha, nem são o manter de uma atitude. Por razões semelhantes, a
virtude não pode ser uma simples faculdade (capacidade) de sentir emoções.
Portanto, deve ser uma disposição resultante do desenvolvimento de uma capacidade, pelo
exercício inerente a essa capacidade. Definida a virtude como uma disposição, quanto ao gênero,
Aristóteles argumenta sobre a espécie da disposição e conclui que a virtude do homem será "a
disposição que faz um homem bom e o leva a desempenhar bem a sua função".
Analisando em seguida a natureza específica da virtude, temos que, em tudo que é contínuo
e divisível - e os materiais da virtude, como sentimentos e ações, são deste gênero - existe uma
parte maior, uma parte menor e um meio termo. Há um meio termo, aritmético, equidistante em
relação a cada um dos extremos e também há um "meio termo em relação a nós", que difere de
pessoa para pessoa. Dez quilos de alimento podem ser muito e dois quilos muito pouco. Disto não
se conclui que seis quilos se constituem na quantidade correta para todas as pessoas. O meio termo
não deve ser buscado em relação ao próprio objeto, mas em relação a nós. Dessa maneira, a virtude
moral deve tender para um justo meio, tanto em sentimento quanto em ação, sendo por isso que
podemos defini-la como uma disposição para escolher, sendo necessariamente um meio relativo a
nós, determinado por uma regra, a qual é racionalmente determinada como a determinaria o homem
prudente.
Um outro elemento deve ser considerado: a diferença específica entre a virtude e o vício.
Nas várias formas de vícios há falta ou excesso, enquanto a virtude encontra e prefere o meio termo.
Sendo assim, Aristóteles conclui que a virtude é um meio termo, considerando a definição que
expressa sua essência: "mas com referência ao que é melhor e conforme ao bem, ela é um extremo".
O fundamental da teoria do meio termo provém do reconhecimento da necessidade de
introduzir um sistema, ou, como diz Aristóteles, de estabelecer uma simetria entre as várias
tendências que existem entre nós. A teoria do meio termo vem para estabelecer uma simetria entre
as múltiplas tendências existentes em nós.
Nem todas as ações ou emoções possuem um meio termo. Em sentimentos, como o despeito,
a inveja, e em ações, como o roubo, o adultério, o assassinato, etc, a maldade está contida em seus
nomes, a maldade não está no excesso ou na deficiência; pois nunca será possível estar certo em
relação a eles. O meio termo opõe-se ao excesso e à deficiência e, por conseqüência, não existe
meio termo de um excesso ou de uma deficiência, assim como não existe nenhum excesso nem
nenhuma deficiência de um meio termo.
Aplicando a definição geral em casos particulares, Aristóteles analisa os excessos e as
deficiências e, consequentemente, o meio termo correspondente. Em relação ao medo e à
temeridade, o meio termo é a coragem; em relação à avareza e à prodigalidade, o meio termo é a
liberalidade; em relação à desonra e à honra, o meio termo é a magnanimidade; entre a apatia e a
irascibilidade, o meio termo é a amabilidade; entre a inveja e o despeito, o meio termo é a
indignação justa, entre outros. Dessarte, há disposições morais, sendo duas delas deficiências
morais e implicam excesso e falta, e uma é a virtude, isto é, o meio termo; e cada uma é, de certa
maneira, oposta às outras duas, pois as situações extremas são contrárias às situações intermediárias
e contrárias entre si, e a intermediária é contrária aos extremos.
O meio termo, muitas vezes, está mais perto da deficiência e, em outros casos, mais perto do
excesso, e isso acontece por duas causas. Em certos casos, o resultado deriva da própria natureza
dos fatos -"tem origem na própria coisa". A coragem, por exemplo, pela sua natureza, está mais
próxima da temeridade do que da covardia. Em outros casos, deriva de "nós mesmos". A virtude
não se assemelha mais a tal vício que a outro, mas temos a tendência a opô-la ao vício, porque
estamos mais inclinados a proceder dessa maneira. Dessarte, tendemos mais para os prazeres e,
assim, somos levados mais facilmente para a concupiscência do que para a moderação.
A virtude, então, é um meio termo entre duas maneiras de deficiência moral: uma, que
pressupõe o excesso e, outra, que pressupõe a falta, pois sua característica fundamental é visar às
situações intermediárias nas emoções e nas ações, e isso não se caracteriza, por ser uma tarefa fácil.
A virtude não é dada ao homem inatamente, mas é através da prática, do hábito, da educação
que nos tornamos virtuosos. Não agimos corretamente porque temos virtude, mas temos virtude
porque agimos corretamente, nos diz Aristóteles. É na vida prática, concreta, contingente, que
observamos o problema moral, e não fora dela. Dessa forma seremos felizes agindo virtuosamente,
isto é, agindo corretamente para alcançar o meio termo de ações extremas, conforme as leis morais
e racionais.
QUADRO DAS VIRTUDES ÉTICAS

Sentimento ou Situação em que o Vício por uma Vício por uma Virtude – meio
Paixão (atividades sentimento ou a escolha com escolha com falta termo alcançado
da alma apetitiva) paixão são excesso por deliberação
despertados
Desejo do Prazer comida, bebida, Libertinagem Insensibilidade Temperança
sexo etc
Medo Perigo, dor Covardia Temeridade Coragem
Confiança Perigo, dor Temeridade Covardia Coragem
Desejo de possuir Na relação com os Ganância Baixeza Liberalidade
dinheiro e riqueza bens
Uso do dinheiro Na relação com os Avareza Prodigalidade Generosidade
ou da riqueza bens
Fama Opinião alheia Vaidade Modéstia Magnanimidade
Honra Opinião alheia Vulgaridade Falta de ambição Respeito próprio
Ambição
Cólera / ira / raiva Na relação com Irritabilidade Apatia Paciência
outras pessoas
Convívio / Na relação com Zombaria Grosseria Espirituosidade
Conversação outras pessoas (rudeza)
Conduta Social Conceder prazer Condescendência Tédio Amizade
na relação com
outras pessoas
Vergonha Relação de si Desvergonha Timidez Pudor
mesmo com
outros
Sobre a boa sorte Relação dos Inveja Despeito Justa apreciação
de alguém outros consigo
Sobre a má sorte Relação dos Rancor Malevolência Justa indignação
de alguém outros consigo

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