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Programa de Pós-Graduação em
Filosofia da Faculdade de Filosofia e
Ciências- UNESP- Marília
MARÍLIA
2022
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INTRODUÇÃO
TEXTO
Se, pois, para as coisas que fazemos existe um fim que desejamos por ele
mesmo e tudo o mais é desejado no interesse desse fim; e se é verdade
que nem toda coisa desejamos com vistas em outra (porque, então, o
processo se repetiria ao infinito, e inútil e vão seria o nosso desejar),
evidentemente tal fim será o bem, ou antes, o sumo bem. (EN, I.2, 1094
a20).
Mas o que seria esse bem? O que visa a nossa existência? Qual a finalidade
última? Para atingirmos esse bem, de acordo com o quê Aristóteles propõe, primeiro
precisamos saber o que ele é, “semelhantes a arqueiros que têm um alvo certo para
a sua pontaria, não alcançaremos mais facilmente aquilo que nos cumpre alcançar”
(EM, I.2, 1094 a25). O arqueiro nesse sentido, só pode acertar o alvo se enxergar
onde pretende acertar, enxergar o alvo nesse sentido é primordial, mas não é
suficiente, pois pode ser que o arqueiro seja um atirador ruim. Primeiramente então
cabe conhecer esse bem e depois examiná-lo para que assim o agente moral
analogamente acerte o alvo.
O melhor dos bens, o bem supremo, deve ser objeto de estudo de um saber
supremo, desta forma, a política enquanto arte engloba todas os outros saberes, ela
é mais importante porque é estrutural, todo arsenal humano está submetido a
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política porque ela pode propiciar uma boa vida, não só do indivíduo, mas da
coletividade:
Embora valha bem a pena atingir esse fim para um indivíduo só, é mais belo
e mais divino alcançá-lo para uma nação ou para as cidades-Estados. Tais
são, por conseguinte, os fins. visados pela nossa investigação, pois que
isso pertence à· ciência política numa das acepções do termo (EN, I.2, 1094
b)
Esses são os fins visados para investigação da ética aristotélica, “mas ações
belas e justas que a ciência política investiga, admitem grande variedade de
flutuação de opinião, de forma que se pode considerá-los como existentes por
convenção e não por natureza” (EN, I.2, 1094 b10). Aristóteles então descreve que
há uma variedade de opiniões sobre essas convenções, não é uma investigação
exata e precisa como por exemplo a Geometria em que seu objeto de estudo
permite precisão, diferentemente o objeto da ética nem sempre poderá ser preciso,
não será algo visível, por isso mesmo há uma grande flutuação de ideias do que
seja esse bem, e o que pode ser um para uma pessoa pode o não ser para outra. O
domínio ético trata assim da imprecisão, é um domínio pantanoso, como lembra o
filósofo:
“Os primeiros pensam que seja alguma coisa simples e óbvia, como o
prazer, a riqueza ou as honras, muito embora discordem entre si; e não raro
o mesmo homem a identifica com diferentes coisas, com a saúde quando
está doente, e com a riqueza quando é pobre.” (EN, I.4,
[...] como a parte de sua alma que possui tal princípio, porquanto ela os
impele na direção certa e para os melhores objetivos; mas, ao mesmo
tempo, encontra-se neles um outro elemento naturalmente oposto ao
princípio racional, lutando contra este e resistindo-lhe. (EN, I,13, 1102, b20).
Assim a virtudes são adquiridas pelo hábito (ethos), pelo exercício, não
nascemos naturalmente virtuosos e nenhuma virtude surgirá espontaneamente,
como sugere a proposta homérica, como exemplo Aquiles, considerado um exemplo
de figura virtuosa dentro dessa proposta, ligada a coragem e bravura, herdados de
sua mãe que era uma deusa. Aristóteles contrapõem-se a essa ideia, a virtude
surgirá da vida que o agente moral se propõe a levar, se as virtudes fossem inatas e
da ordem da natureza não poderiam ser modificas pelo hábito, nesse sentido será
mais fácil corrigir um comportamento vicioso vindo de uma pessoa mais jovem do
que em uma pessoa mais velha, visto que, em princípio, para uma pessoa mais
jovem haverá mais tempo para a prática do comportamento virtuoso e mais fácil ela
se desgarrará dos vícios, se assim ela se dispuser, do que alguém que já há muito
prática ações viciosas. A virtude é assim é uma formação que se dará pelo processo
de práticas virtuosas, como ressalta Aristóteles “tornamo-nos justos praticando atos
justos, e assim com a temperança, a bravura, etc.” (EN, II.1, 1103, b5).
no agente moral, até que seu desejo seja o mesmo da lei e seu agir se converta
naturalmente de acordo com a lei. É preciso assim, educar o agente moral do ponto
de vista virtuoso e voltar-se a qualidade das ações, desde a juventude é importante
que o agente seja habituado à boas atividades.
[...] é das mesmas causas e pelos mesmos meios que se gera e se destrói
toda virtude, assim como toda arte: de tocar lira surgem os bons e o maus
músicos. Isso também vale para os arquitetos e todos os demais;
construindo bem, tornam-se bons arquitetos; construindo mal, maus. Se não
fosse assim não haveria necessidade de mestres, e todos os homens teriam
nascidos bons ou maus em seu ofício. (EN, II.1, 1103b 10).
Aristóteles coloca que existem três objetos que buscamos, que seriam o
nobre, os vantajosos, e o agradável, e três objetos os quais rejeitamos, o vil, o
prejudicial e o doloroso, “a respeito de todos eles o homem bom tende a agir certo e
homem mau a agir errado, e especialmente no que toca ao prazer”. (EN, II.3, 1104
b35). O prazer também é comum aos animais que não são racionais e está ligado a
parte desiderativa da alma. Em suma, o prazer e a dor tem efeito grandioso sobre as
ações dos agentes morais, saber regrá-los e mensurá-los é fundamental para busca
do sumo bem, a felicidade, dizer isto, não significa abstenção do prazer ou ao
contrário confundi-lo com a própria busca da felicidade.
Conforme Aristóteles, “essa também é a razão por que tanto a virtude como
a ciência política giram sempre em torno dos prazeres e dores, de vez que o homem
que lhes der bom uso será bom e o que lhe der mau uso será mau” (EN, II.3 1105
a10). O filósofo também reforça nos capítulos seguintes, que a ética não depende só
do conhecimento, teórico e vazio, e sim do conhecimento juntamente com prática, a
prático é algo que fundamentalmente se faz necessário.
A disposição de caráter é assim a própria virtude, “as coisas das quais nossa
posição com referências às paixões é boa ou má” (EN, II.5, 1105 b25). As paixões
não podem ser consideradas virtudes nem vícios, pois não são escolhas qual
fazemos e por isso mesmo, não é algo a ser considerado bom ou mau, o mesmo
vale para as faculdades pois somente é a capacidade de sentir as paixões, a virtude
é assim as disposições de caráter, a forma como escolhemos reagir diante do que
somos expostos.
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Existe, pois, uma medida para que as coisas sejam melhor desempenhadas,
e aqui retomemos a ideia de mediania, que designará o justo meio (mesotés), “em
tudo que é contínuo e divisível pode-se tornar mais, menos ou uma quantidade igual,
e isso que em termos da própria coisa, que relativamente a nós; e o igual é um meio
termo entre o excesso e a falta” (EN, II.6 1106 a20). No objeto, Aristóteles define o
meio-termo como “aquilo que é equidistante de ambos os extremos, e que é um só e
o mesmo para todos os homens; e por meio-termo relativamente a nós, o que não é
nem demasiado nem demasiadamente pouco - e este não é um só e o mesmo para
todos.” (EN, II.6 1106 a20).
Tanto as virtudes morais como no que tange as ações, devem visar o meio-
termo, a virtude, é, pois, uma disposição de caráter relacionada com a escolha e
consiste numa mediania, o excesso ou a falta são características viciosas, conforme
Aristóteles:
[...]é assim, pois, que cada arte realiza bem o seu trabalho - tendo diante
dos olhos o meio-termo e julgando suas obras por esse padrão; e por isso
dizemos muitas vezes que às boas obras de arte não é possível tirar nem
acrescentar nada, subentendendo que o excesso e a falta destroem a
excelência dessas obras, enquanto o meio-termo a preserva.
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O assunto da Ética, como já vimos, não incide em uma ciência exata, como
saber então a verdade sobre uma reflexão do viver melhor? Através da observação
dos homens bons que vivem em harmonia:
“O homem bom aquilata toda classe de coisas com acerto e em cada uma
delas a verdade lhe aparece com clareza; mas cada disposição de caráter
tem suas ideias próprias sobre o nobre e o agradável, e a maior diferença
entre o home bom e os outros consiste, talvez, em perceber a verdade em
cada classe de coisas, como quem é delas a norma e a medida. (EN, III.4,
1113, a30).
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Aristóteles irá centrar uma ideia de como agente moral irá agir uma vez a
escolha deliberada implica também responsabilidade do agente sobre sua conduta,
ainda que o fim esteja ligado a uma ideia, uma representação a escolha dos meios
para realiza-lo lhe é possibilitado, a razão prática assim apresenta um uso
deliberativo, o agente poderá escolher os meios relevantes e concluir sobre essas
escolhas, a prévia deliberação permite assim que o agente moral escolha os meio
que ira utilizar, e fazer uma escolha.
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PERGUNTAS
REFERÊNCIAS