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BEATRIZ FURLAN DE CARVALHO

TRABALHO DE DIREITO TRIBUTÁRIO:


REGRA-MATRIZ DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA

Quinto Ano do Curso de Direito (Turma 3000)

Prof. Dra. Aurora Tomazini de Carvalho


Londrina-PR
2019
Para que haja incidência de determinado tributo é preciso que ocorra o
preenchimento de algumas condições e pressupostos, prescritos na lei instituidora
do próprio tributo, sempre em conformidade com as determinações da Constituição
Federal acerca do Sistema Tributário Nacional, bem como do Código Tributário
Nacional, diploma legislativo responsável por cuidar desta matéria no ordenamento
jurídico brasileiro, todas essas circunstâncias necessárias para a incidência tributária
consubstanciam na chamada regra-matriz , como preceitua o artigo 3º do CTN, a
regra-matriz de incidência é norma jurídica tributária em sentido estrito, pois o seu
núcleo é essencialmente a definição de uma norma geral e abstrata e genérica que
define as normas tributárias, contendo seus critérios: material, temporal, espacial,
subjetivo e quantitativo, forma-se assim a conduta tributária a ser observada pelo
fisco e pelo contribuinte, informando-lhe em razão do quê, quando e onde a um dado
sujeito passivo o dever de prestar para determinado sujeito ativo, o pagamento de
determinada quantia apurada, mediante delimitação de uma base de cálculo e
respectiva alíquota.

“ A norma tributária em sentido estrito, reiteramos, é a que define a


incidência fiscal. Sua construção é obra do cientista do Direito e se
apresenta, de final com a compostura própria dos juízos hipotéticos-
condicionais. Haverá uma hipótese, suposto ou antecedente, e que se
conjuga em mandamento, uma consequência ou estatuição. A forma
associativa é a cópula deôntica, o dever-ser que caracteriza a imputação
jurídico-normativa. Assim, para obter-se o vulto abstrato da regra-matriz é
mister isolar as proposições em si, como formas de estrutura sintática;
suspender o vector semântico da norma para as situações objetivas (tecidas
por fatos e por comportamentos do mundo); ao mesmo tempo em que se
desconsidera aos atos psicológicos de querer e de pensar a norma.

Dentro desse arcabouço, a hipótese trará a previsão de um fato (se alguém


industrializar produtos), enquanto a consequência prescrevera a relação
jurídica (obrigação tributária) que se vai instaurar, onde e quando acontecer
o fato cogitado no suposto ( aquele que alguém deverá pagar a Fazenda
Pública 10% do valor do produto industrializado).” (CARVALHO, 2005, p.
242).
Como já mencionado, o antecedente da regra-matriz descreve um fato, cuja
ocorrência desencadeia o surgimento da relação jurídica determinada no
consequente. Uma coisa, portanto, é a descrição legal do fato, no plano abstrato;
outra, sua ocorrência, que se dá no plano dos fatos. No entanto a maior parte da
doutrina brasileira adotou fato gerador para designar tanto a previsão abstrata do
fato quanto o fato mesmo, a expressão foi acolhida também pelo direito positivo
brasileiro. No Código Tributário Nacional, o Capítulo II do Título II, intitula-se, Fato
Gerador, e o artigo de abertura assim dispõe: “Fato gerador da obrigação principal é
a situação definida em lei como necessária e suficiente à sua ocorrência.” O referido
texto legal enseja dúvida: refere-se ao fato jurídico, ao fato previsto na regra ou a
ambos? Conclui Paulo de Barros CARVALHO pela terceira interpretação, e condena
a posição acrítica dos autores que, mesmo reconhecendo a ambiguidade da
expressão fato gerador, usam-na por ser a escolhida pelo legislador.
Chama-se hipótese de incidência tributária ao antecedente (descritor ou suposto) da
regra-matriz, que prevê hipoteticamente e descreve o fato que ensejará o
nascimento da obrigação tributária. Paulo de Barros CARVALHO lembra que,
embora descreva uma situação, a hipótese de incidência é prescritiva, porque ligada
à consequência; assim, sujeita-se aos valores de validade e não-validade.

Enquanto a hipótese de incidência tributária pertence ao plano abstrato, o fato


jurídico tributário está no plano concreto; é a realização da previsão legal, Paulo de
Barros CARVALHO, assume a noção de fato não como algo concreto, mas como
enunciado de um evento, este sim concreto. Para o autor, os elementos são
extraídos dos enunciados normativos das leis instituidoras de cada tributo, ou seja a
regra-matriz de incidência tributária deve ser vista como norma e não como
enunciado normativo, a partir da diferenciação proposta por Hans Kelsen entre texto
normativo e norma jurídica.

Quando o fato ocorrido se subsume à previsão legal a incidência é imediata: o fato


toma-se jurídico e os efeitos determinados pelo consequente são irradiados; tais
efeitos resumem-se à instauração da relação jurídico-tributária. Nesse sentido:

“[...] Nesse caso, diremos que houve a subsunção, quando o fato (fato
jurídico tributário constituído pela linguagem prescrita pelo direito positivo)
guardar absoluta identidade com o desenho normativo da hipótese (hipótese
tributaria). Ao ganhar concretude o fato, instala-se automática e
infalivelmente, como diz Alfredo Augusto Becker, o laço abstrato pelo qual o
sujeito ativo torna-se, titular de direito subjetivo público de exigir a
prestação, ao passo que o sujeito passivo ficará na contingência de cumpri-
lá” (CARVALHO, 2005, p. 250).

Fato jurídico e relação jurídica surgem no mesmo instante, a obrigação de pagar o


tributo nasce com a concretização do evento previsto na norma, Paulo de Barros
CARVALHO menciona que essencial à subsunção é a identificação plena ou o
enquadramento perfeito e completo entre fato e hipótese normativa, devendo aquele
satisfazer a todos os critérios desta para que se possa falar em subsunção.

O reconhecimento da ocorrência do fato descrito no antecedente normativo é


possibilitado pela análise conjunta das indicações que a própria hipótese de
incidência tributária traz, para esse fim, No mesmo sentido, Paulo de Barros
CARVALHO esclarece que se a hipótese prevê um fato, os critérios que o
identificam pertencem ao antecedente; e, se a consequência prevê uma relação
jurídica, os critérios que a identificam pertencem ao consequente? Para o autor, a
hipótese descreve um comportamento de uma pessoa (critério material),
condicionado no tempo (critério temporal) e no espaço (critério espacial).

Assim, para o autor, o critério material delimita o núcleo do acontecimento a ser


promovido à categoria de fato jurídico, sendo a sua estrutura composta por um verbo
seguido de um complemento capaz de particularizar a ação, por sua vez, o critério
especial delimita os locais fisicamente considerados nos quais incide a norma
tributária, e vislumbra três níveis de elaboração, pelo legislador, das coordenadas de
espaço, assim classificando os tributos, quanto ao grau de elaboração do critério
espacial: “hipótese cujo critério espacial faz menção a determinado local para a
ocorrência do jato típico; hipótese em que o critério espacial alude a áreas
especificas [..],' hipótese de critério espacial bem genérico, onde todo e qualquer
jato, que suceda sob o manto da vigência territorial da lei instituidora, estará apto a
desencadear seus efeitos peculiares. " Na primeira espécie, encontram-se os
tributos que gravam o comércio exterior; na segunda, os que incidem sobre bens
imóveis; na última, todos os demais tributos, coincidindo o critério espacial com o
âmbito de validade territorial da lei. Mas, ressalvada essa opção feita pelo legislador,
errôneo afirmar que o critério espacial se confunde com o campo de validade da lei.
O critério temporal estabelece o momento em que a ação nuclear deve ocorrer para
que incida a norma tributária, nascendo uma obrigação pecuniária compulsória,
podendo este momento vir de forma expressa ou implícita no enunciado linguístico
da norma instituidora do tributo, o autor ainda alerta que, da mesma forma que o
critério espacial não se confunde com a validade das normas no espaço, o critério
temporal não se confunde com a validade das normas no tempo. Outro equívoco
apontado pelo autor está em tomar o critério temporal como fato gerador dos
impostos, o que decorre da usual técnica legislativa de tomar como fato gerador um
determinado momento, mesmo que representado por um acontecimento-referência.
É o que se nota, por exemplo, quando o art. 19 do Código Tributário Nacional
menciona que “O imposto, de competência da União, sobre a importação de
produtos estrangeiros tem como fato gerador a entrada destes no território nacional”.
A entrada de produtos estrangeiros é, sem dúvida, um momento, embora tenha
como referência uma ação.

O critério pessoal e quantitativo permite ao intérprete determinar os sujeitos da


relação jurídica tributária ou, em outros termos, quem deve adimplir com a obrigação
pecuniária dela decorrente e a quem deve ser adimplida. Se um dos polos da
relação for composto por mais de um sujeito, trata-se do instituto da
responsabilidade solidária.

Embora somente através da regra-matriz de incidência tributária seja possível


estabelecer com precisão os sujeitos da obrigação tributária, o Código Tributário
Nacional, entre seus artigos 119 e 123, traz disposições gerais sobre estas figuras,
preceituando que o sujeito ativo é sempre pessoa jurídica de direito público e que o
sujeito passivo pode ser contribuinte – quando a relação do sujeito for pessoal e
direta com o fato jurídico tributário – ou responsável – quando a obrigação decorrer
da lei, e não de uma relação pessoal e direta do sujeito com o fato jurídico tributário.

Dito tudo isto, é possível afirmar que a regra-matriz estabelece como (critério
material), onde (critério espacial) e quando (critério temporal) a norma tributária
incide, além de quem (critério pessoal) fica vinculado à obrigação tributária criada
por esta incidência, e a que (critério quantitativo) estas pessoas ficam vinculadas.
REFERÊNCIAS:

CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário, 17 edição.


São Paulo: Saraiva, 2005.

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