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Questões

1. Que é norma jurídica? E regra-matriz de incidência tributária (RMIT)?


Qual a função do consequente normativo?

A norma jurídica é o sentido obtido a partir de leituras do direito positivo. É a percepção do


exterior, captado pelos sentidos. Segundo Paulo de Barros Carvalho “é exatamente o juízo (ou
pensamento) que a leitura do texto provoca em nosso espírito. Basta isso para nos advertir que
um único texto pode originar significações diferentes...”
As condutas intersubjetivas reguladas pelo direito positivo, utilizam um corpo de linguagem
próprio, que descreve uma situação hipotética para a qual prescreve uma consequência. Por tanto,
a norma não é lei, nem texto, é um mero suporte físico, pensamento hipotético-condicional
construído a partir da atribuição de significações aos símbolos.
Vale destacar que, regras jurídicas não existem isoladamente, mas sempre num contexto de
normas com relações particulares entre si. Está sempre ligada a outras normas, integrando
determinado sistema de direito positivo. A norma é proposição prescritiva decorrente do todo que
é o ordenamento jurídico.
Depois de estudada a norma jurídica e entender que essa é um juízo hipotético - condicional,
é preciso organizar o texto do direito positivo, de forma que a legislação seja compreendida. Para
tanto foi apresenta pelo ilustre Paulo de Barros, a regra matriz de incidência, “nada mais
congruente do que designar por norma tributária em sentido estrito àquela que marca o núcleo
do tributo, isto é, a regra-matriz da incidência fiscal, e de normas tributárias em sentido amplo a
todas as demais.”
A incidência fiscal é definida a partir da norma tributária em sentido estrito, que possui
mesmo alcance e força semântica da norma-padrão de incidência. Cabe dizer que tais normas
definem a incidência do tributo, descrevem fatos e estipulam os sujeitos da relação, como
também os termos determinativos da dívida.
Em forma de estrutura sintática, a regra matriz isola as proposições. Desta maneira, há
hipótese, através da previsão de um fato, e consequência, que gerará a obrigação tributária. Em
ambas as circunstâncias há critérios, que exibem de forma lógica-estrutural a norma-padrão de
incidência tributária.
Nas hipóteses são gerados três critérios: material, espacial e temporal, e na consequência
apenas dois: pessoal e quantitativo, descritos de forma breve e sucinta abaixo.

 Critério material: este é um critério analisado de forma separada do espacial e temporal, que são
vistos adiante. Por isso, não pode-se definir a parte pelo todo e limitar esse a hipótese de
incidência tributária.

 Critério espacial: fica a critério do legislador nessa hipótese definir ou não o local que o fato deve
ocorrer.

 Critério temporal: é a partir da regra, saber com exatidão, em que instante acontece o fato
descrito, momento em que ocorre a ligação devedor e credor.

 Critério pessoal: aponta quem são sujeitos da relação jurídica, sujeito passivo e ativo.

 Critério quantitativo: é a definição da base de cálculo e alíquota.

O consequente da norma regula a conduta, prescreve direitos e obrigações para as partes


envolvidas, seja física ou jurídica. Havendo previsão de relação jurídica, apreciada pelos critérios
de consequência, o pessoal e o quantitativo, já explicados anteriormente. Estuando os critérios de
consequência da regra matriz, pode-se dizer que o objetivo é descobrir o perfil da relação jurídica
no enlace normativo.

2. Distinguir: obrigação tributária e deveres instrumentais. Multa pelo não


pagamento caracteriza-se como obrigação tributária? Justifique
analisando criticamente o art. 113 do CTN.
Iniciando de forma objetiva, pode-se dizer que obrigação tributária é sinônimo de obrigação
principal. Conforme previsto no art. 113, § 1º “A obrigação principal surge com a ocorrência do
fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se
juntamente com o crédito dela decorrente.”
Já segundo Paulo de Barros, as obrigações acessórias deveriam ser chamadas de deveres
instrumentais, definidas no § 2º do art. 113, “A obrigação acessória decorre da legislação
tributária e tem por objeto as prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da
arrecadação ou da fiscalização dos tributos.”
Lendo-se o art. 113 que define a obrigação tributária como principal ou acessória, não é
possível constatar que a obrigação acessória nasce a partir da obrigação principal. No entanto,
não é possível gerar uma obrigação acessória sem que haja uma principal. Exemplificando, não
há como fazer o envio de uma DCTF (Declaração de Débitos e créditos tributários Federais), sem
que haja ocorrido o pagamento de tributo no mês de competência. Logo, a obrigação acessória
morre quando não há a principal.
Analisando o § 3º do art. 113, é possível afirmar que a multa pelo não pagamento torna-se
uma obrigação principal, pois passa a ser vinculada a essa. Mas por Paulo de Barros, as
penalidades são sanções administrativas, uma vez que atinge apenas o sujeito passivo não
atingindo o responsável. A obrigação decorre apenas de imposição legal.

3. Que é sujeição passiva? Definir os conceitos de: (i) sujeito passivo; (ii)
contribuinte; (iii) responsável tributário; e (iv) substituto tributário –
distinguindo: substituição tributária para trás, para frente e
convencional (concomitante); agente de retenção e substituição para
frente. O responsável (art. 121, II, do CTN) é: (i) sujeito passivo da
relação jurídica tributária; (ii) de relação de dever instrumental; ou (iii)
de relação jurídica sancionatória?
Sujeição passiva é o que está previsto nos artigos 121 e 122 do Código Tributário Nacional,
que estende a relação jurídica a contribuintes, responsáveis tributários e terceiros.
O sujeito passivo é fundamento de muitas interpretações, que hora é constituído em sentido
contrário à maioria da doutrina e da jurisprudência. Destacam-se abaixo algumas definições
selecionadas pelo autor deste trabalho.
Paulo de Barros Carvalho: “Sujeito passivo é a pessoa – sujeito de direitos – física ou
jurídica, privada ou pública, de quem se exige o cumprimento da prestação: pecuniária, nos
nexos obrigacionais; e insuscetível de avaliação patrimonial, nas relações que veiculam meros
deveres instrumentais ou formais. É no critério pessoal do consequente da regra matriz de
incidência que colhemos elementos informadores para a determinação do sujeito passivo.
Paulo Ayres Barreto: “No âmbito de uma relação jurídica de cunho eminentemente
tributário, o contribuinte é o único sujeito de direito a figurar no polo passivo dessa relação. E
assim é porque ele é o titular da riqueza pessoal descrita no antecedente da nora geral e
abstrata de índole tributária.
É importante frisar que, o sujeito passivo não é aquele que tem condições de efetuar o
pagamento do tributo e sim aquele que se figura como polo passivo da relação jurídica tributária.
Surgem duas figuras de sujeito passivo, o contribuinte e do responsável tributário, sujeitos
distintos conforme art. 121 do CTN. O contribuinte é a pessoa que realizou, tem relação direta
com o fato jurídico tributário, está no polo passivo da relação obrigacional, o código nomeia
como “obrigação principal”. Ele está concretamente obrigado ao pagamento do tributo. Já o
responsável tributário é também o sujeito passivo da “obrigação principal”, mas não possui
relação direta com o fato jurídico tributário, a sua obrigação decorre de disposição prevista em
Lei.
A substituição tributária ocorre quando a lei substitui o passivo direto por outro indireto, o
responsável tributário é obrigado ao pagamento do débito por imposição legal, mesmo não tendo
realizado o fato previsto na regra matriz de incidência. Existem, inclusive, situações que a
obrigação principal já nasce diretamente para o substituo tributário, que são os casos previstos no
artigo 128 do CTN.
A substituição é bastante utilizada no Brasil como forma de controle e fiscalização para
arrecadação de tributos e foram definidas três formas de substituição tributária, a convencional ou
concomitante, a para trás ou retrospectiva e a para frente ou prospectiva. Sendo estudadas e
definidas separadamente abaixo.
A substituição tributária convencional ou concomitante é restrita a apenas um momento
tributário e não a toda cadeia, sendo a retenção na fonte o exemplo. O legislador aponta quem é o
responsável tributário do polo passivo da obrigação. Na substituição para trás ou retrospectiva, o
pagamento e constituição do crédito ocorre em etapa posterior ao fato ocorrido. A obrigação
tributária e o recolhimento do tributo são postergados e é definido um novo responsável
tributário, sendo ele o novo sujeito passivo de recolhimento do tributo da sua operação e das
etapas anteriores. Já a substituição tributária para frente ou prospectiva é contrária a substituição
para trás, o tributo é recolhido no início da cadeia, é deduzido o valor devido pelo demais
contribuintes até o consumidor final. Neste caso o legislador presume que as demais etapas irão
acontecer, atribuindo a responsabilidade da própria etapa e das demais ao iniciante da operação.
Agente de retenção é a terceira pessoa, atribuída pelo legislador, como responsável passivo da
obrigação, sem afastar o real contribuinte. Por isso, os responsáveis tributários de recolhimento
na fonte recebem o nome de agente de retenção.
O responsável instituído no inciso II do art. 121 é sujeito passivo da relação tributária,
instituído e definido expressamente por meio da lei pelo legislador não caracterizando ato
sancionatório.

4. A empresa “A” adquiriu estabelecimento empresarial da empresa “B” e


continuou sua atividade. Aproximadamente seis anos depois dessa
operação, a empresa “A” foi surpreendida com sua inclusão no polo
passivo de execuções fiscais ajuizadas pelo Fisco inauguralmente em face
da empresa “B”, para exigir tributos relativos a fatos geradores por ela
realizados. No contrato de compra e venda, não há disciplina a respeito
das dívidas tributárias anteriores à aquisição. Pergunta-se:
a) Pode o Fisco exigir da empresa “A” os tributos cujos fatos geradores
foram realizados pela empresa “B” antes da aquisição? Se positiva a resposta,
qual o prazo que o Fisco tem para proceder à inclusão da empresa “A” no polo
passivo das execuções fiscais? Em relação aos tributos decorrentes de fatos
geradores ocorridos anteriormente à compra e venda do estabelecimento
ainda não inscritos em dívida ativa no momento da operação, quem deve
figurar na CDA: a empresa A, B ou ambas? Há relevância se houver no
contrato cláusula de responsabilidade de “B” quanto aos débitos anteriores à
operação? (Vide anexo I).
O fisco pode cobrar da empresa “A” os tributos devidos pela empresa “B”, anteriores a data
da aquisição, conforme previsto no art. 133, I do CTN. O agente fiscal possui 5 (cinco) anos a
contar da data do fato gerador para iniciar processo de fiscalização e efetuar o lançamento,
conforme previsto no art. 150 e 173 do CTN.
A partir do momento que a empresa “B” foi incorporada, passa a empresa “A” a ser
responsável pelo recolhimento ou defesa da dívida inscrita em dívida ativa. Apesar de não possuir
regularidade na substituição da incorporada pela incorporadora.
Para o fisco não há relevância se houver cláusula de responsabilidade no contrato de
aquisição referente a débitos anteriores. A empresa “A” deve arcar com o pagamento da dívida,
bem como penalidades e posteriormente discutir com os vendedores.

b) A empresa “A” responde pela: (i) multa de mora, (ii) multa pelo não
pagamento de tributo, (iii) juros e (iv) multa pelo descumprimento de deveres
instrumentais, se constituídas antes da operação de compra e venda? E se
constituídas depois da operação? (Vide anexos II e III).
A empresa “A” responde pela multa de mora, multa pelo pagamento de tributo e
descumprimento de deveres instrumentais antes e depois da operação de compra e venda.

5. Quanto aos art. 124 e 135 do CTN, pergunta-se:


a) Qual a espécie de responsabilidade prevista no artigo 135 do CTN? Poderia
o fiscal lavrar auto de infração contra o contribuinte e, posteriormente,
executar o sócio de forma solidária à empresa? (Vide anexos IV e V).
O art. 135 do CTN atribui responsabilidade aos créditos correspondentes a obrigação
tributária a solidários responsáveis do art. 134, como pais, tutores, administradores,
inventariantes, síndicos e até sócios.
Nos casos de auto de infração não atendidos, pode-se o sócio ser executado de forma
solidária, nos moldes do artigo 135, inciso III.

b) A dissolução irregular da sociedade caracteriza infração à lei apta a ensejar


a responsabilidade do(s) sócio(s) pelas dívidas da pessoa jurídica? Em caso
positivo qual sócio ou administrador pode ser alcançado: o da época do
inadimplemento do tributo ou do momento em que ocorre a dissolução
irregular? (VI e VII e VIII)
Conforme súmula n° 435 do STJ, pode o sócio ser responsabilizado pela dívida da pessoa
jurídica. Neste caso, o sócio a ser alcançado é o que estava em exercício no momento da
dissolução irregular.

c) O mero inadimplemento da obrigação de pagar o tributo pode ser


justificativa para aplicação do artigo 135 do Código Tributário Nacional?
(Vide anexos IX e X).
Conforme súmula n° 430, o inadimplemento de obrigação tributária não pode afetar o sócio
administrador.

6. Quanto à caracterização de grupo econômico, pergunta-se?


a) Que é grupo econômico? Quais são os requisitos para a aplicação da
desconsideração da personalidade jurídica, prevista no art. 50 do CC? Ela
pode ser aplicada ao direito tributário para fins de caracterização de grupo
econômico? Há dispositivos específicos na legislação tributária que
fundamentem a responsabilização do grupo econômico? A caracterização
implica reconhecimento de responsabilidade solidária? (Vide anexo XI e
XII).
Grupo econômico é quando duas ou mais empresas se formam com objetivo em comum, com
relação de subordinação entre elas, de forma organizada, sob mesma direção e que participem de
atividades em comum.
É desconsiderada a personalidade jurídica prevista no art. 50 do CC quando há desvio de
finalidade e quando há confusão patrimonial. Conforme § 4º do artigo já citado, pode-se
desconsiderar a personalidade jurídica desde que tenha os requisitos previstos no caput do mesmo
artigo, como desvio de finalidade e confusão patrimonial.
Não há fundamento específico na legislação que fundamente a responsabilização do grupo
econômico. Mas quando é caracterizado atuação dolosa na administração, com excesso de
mantado, infringir a lei ou ao contrato social, os sócios administradores podem ser solidariamente
responsáveis.

b) Uma vez instaurado o incidente de desconsideração da personalidade


jurídica, nos termos dos arts. 133 e seguintes do NCPC (Lei nº 13.105 de
2015), a defesa apresentada pela pessoa jurídica responsabilizada pela
obrigação tributária de outra empresa integrante do mesmo grupo
econômico pode versar sobre o mérito da cobrança (inexigibilidade do
crédito tributário), ou apenas sobre a ilegitimidade de sua inclusão no polo
passivo da execução fiscal?
A defesa apresentada pela pessoa jurídica responsabilizada pela obrigação tributária de outra
empresa integrante do mesmo grupo econômico pode versar sobre mérito da cobrança
(inexigibilidade do crédito tributário), quanto sobre a inclusão no polo passivo da execução fiscal
desde que o processo seja suspenso no termos do § 3° do art.135 do NCPC.

7. Dada a seguinte Lei (fictícia):


Prefeitura de São Pedro, Lei n. 5.151, de 12/10/2015, D.M. 25/10/2015
Art. 1º Fica instituída taxa de conservação e limpeza urbana para o custeio do
serviço público municipal de conservação e limpeza de vias públicas.
Art. 2º A taxa tem como fato gerador a prestação do serviço de limpeza das
vias públicas.
Art. 3º A base de cálculo é o valor venal do imóvel.
Art. 4º A alíquota é de 0,1%.
Art. 5º O contribuinte é o proprietário do imóvel.
Art. 6º Dá-se a incidência todo dia 1º de cada ano.
Art. 7º A importância devida a título de tributo deve ser recolhida até o
décimo dia do segundo mês subsequente.
§ 1º No caso de locação, o locatário é responsável pelo recolhimento do tributo.
§ 2º No caso de compra e venda realizada antes do prazo para o pagamento e
após o 1º dia do ano, o responsável pelo pagamento do tributo é o
adquirente do imóvel.
§ 3º O não recolhimento no prazo estipulado implica multa de 20% do valor
do tributo devido.
Art. 8º Fica o contribuinte obrigado a entregar para a Secretaria de
Planejamento Urbano declaração do valor imobiliário até o dia 10 de
novembro de cada ano.
Parágrafo único. A ausência da entrega no prazo a que se refere o caput deste
artigo implicará multa de 100 UFIRS.
[...].
Pergunta-se:
a) Construir as normas jurídicas veiculadas nessa lei, identificando os
critérios do consequente da RMIT.
Vale iniciar explicando que não foi analisada a inconstitucionalidade da cobrança da taxa,
uma vez identificado que há imposto existe com mesmos critérios.
Como norma foram identificadas obrigação principal, que a instituição, cobrança e
pagamento da taxa, obrigação acessória que é o envio de declaração até novembro e a
responsabilização de terceiros, que é o pagamento pelo locador.
Analisando apenas o consequente da RMIT, identificam-se os critérios pessoais e os
quantitativos. No critério pessoal, tem-se como sujeito ativo a secretaria municipal e como sujeito
passivo a propriedade do imóvel (art. 5° da lei). Já no critério quantitativo tem-se a base de
cálculo sendo o valor venal do imóvel (art. 3°) e a alíquota de 0,1% (art.4°).

b) Quais as funções da base de cálculo? A base de cálculo eleita é


compatível com a hipótese tributária? Se incompatíveis, qual deve prevalecer
para efeito de se determinar a espécie tributária: o enunciado da hipótese
tributária ou o enunciado da base de cálculo? Ambos? Nenhum dos dois
Recentemente a base e cálculo ganhou uma visão através de Juan Ramalho Massanet, de que
é um critério material da hipótese tributária. Sendo uma grandeza instituída na consequência da
regra matriz tributária, podendo servir para medir as proporções reais do fato, compor a
específica determinação da dívida e confirmar, infirmar ou afirmar o verdadeiro critério material
da hipótese tributária.
A base de cálculo eleita é incompatível com a hipótese tributária pois tem como mesma base
de cobrança de um tributo. Indo contra o parágrafo único do art. 77, “Parágrafo único. A taxa
não pode ter base de cálculo ou fato gerador idênticos aos que correspondam a impôsto nem ser
calculada em função do capital das empresas”.
Uma das funções da base de cálculo é definir a espécie tributária, não cabendo prevalecer
nenhum dos dois efeitos.

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