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Módulo Controle da Incidência Tributária

SEMINÁRIO I - REGRA-MATRIZ DE INCIDÊNCIA, OBRIGAÇÃO


TRIBUTÁRIA E SUJEIÇÃO PASSIVA

Leitura básica
• CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário: linguagem e método. 8. ed. São
Paulo: Noeses, 2021. Itens 2.6 (Conceitos gerais da obrigação tributária) e 3.1
(Regra-matriz de incidência), da segunda parte.
• CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 32 ed. São Paulo:
Noeses, 2022. Capítulos X e XI.
• CARVALHO, Paulo de Barros. Derivação e positivação no direito tributário. v.3.
São Paulo: Noeses, 2016. Tema XXV (Responsabilidade tributária por grupo
econômico); e Tema XXVI (Responsabilidade por sucessão decorrente de cisão).

Leitura complementar
• CARRAZZA, Roque Antonio. Reflexões sobre a obrigação tributária. São Paulo:
Noeses. Capítulo VI, primeira parte.
• FERRAGUT, Maria Rita. Responsabilidade tributária e o Código Civil de 2002.
São Paulo: Noeses. Capítulo I, itens 2.2, 2.3, 2.5 a 2.9 e 2.11 e Capítulo V, itens
5.7 e 5.9 a 5.12.
• DARZÉ, Andréa M. Responsabilidade tributária – solidariedade e subsidiariedade.
São Paulo: Noeses. Capítulo 3.
• MELLO, Henrique. Atribuição de deveres instrumentais tributários a
terceiros e a figura do alterlançamento como forma de constituição do
crédito tributário alheio. São Paulo: Noeses, 2021. Págs. 9 a 190.
• NEDER, Marcos Vinícius. Responsabilidade solidária e o lançamento fiscal. In: VII
CONGRESSO NACIONAL DE ESTUDOS TRIBUTÁRIOS DO IBET. São Paulo:
Noeses.
• BECHO, Renato Lopes. A responsabilização tributária de grupo econômico.
Revista Dialética de Direito Tributário, n. 221.
• FERRAGUT, Maria Rita. Novo CPC: O incidente de desconsideração da
responsabilidade jurídica tornando efetivo o direito dos grupos econômicos
exercerem o contraditório. Fiscosoft on-line 2015/3452.
• CALCINI, Fabio P. Responsabilidade tributária e solidariedade. Algumas
considerações ao art. 124 do Código Tributário Nacional. Revista Dialética de
Direito Tributário, v. 167, p. 39-54, 2009.

Questões
1. Que é norma jurídica? E regra-matriz de incidência tributária (RMIT)? Qual a
função do consequente normativo?
Segundo Carvalho (2021), norma jurídica é “a expressão mínima e
irredutível de manifestação do deôntico, com o sentido completo. Ainda de
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acordo com o autor, as normas jurídicas tributárias “caracterizam-se por


incidir em determinada região do social, marcada por acontecimentos
economicamente apreciáveis que são atrelados a condutas obrigatórias da
parte dos administrados, e que consistem em prestações pecuniárias em
favor do Estado-administração. De acordo com Lourival Vilanova, em seu
trabalho “Níveis de linguagem em Kelsen”, “a norma jurídica é uma estrutura
lógico-sintática de significação”
A regra matriz de incidência tributária é uma norma jurídica que institui o
âmbito de incidência do tributo. É formada por uma hipótese, que prevê fato
de conteúdo econômico, e um consequente, que estatui vínculo obrigacional
entre o Estado, ou quem lhes faça as vezes, na condição de sujeito ativo, e
uma pessoa física ou jurídica, como sujeito passivo (CARVALHO, 2021,
p.624).
O consequente tem a função de prescrever a relação jurídico-tributária, o
que faz por meio do critério pessoal e quantitativo.

2. Distinguir: obrigação tributária e deveres instrumentais. Multa pelo não


pagamento caracteriza-se como obrigação tributária? Justifique analisando
criticamente o art. 113 do CTN.
De acordo com Carvalho (2021), a obrigação tributária refere-se a uma
relação jurídica de cunho patrimonial, que envolve um sujeito ativo, titular do
direito subjetivo de exigir a prestação, e um sujeito passivo, que possui o dever
de cumpri-la. Ela decorre do acontecimento de evento previsto hipoteticamente
na norma tributária, que o Código Tributário Nacional denomina de fato
gerador.
Enquanto a obrigação tributária tem como objeto a prestação de uma
quantia em dinheiro, nos termos no artigo 3º do CTN, os deveres instrumentais
representam comportamentos outros, positivos ou negativos, de fazer ou não-
fazer, que têm por finalidade viabilizar a apuração, o conhecimento, o controle
e a arrecadação dos valores devidos a título de tributo. Em seu artigo 113, o
CTN denomina a obrigação de cunho patrimonial como obrigação principal e os
deveres instrumentais como obrigação acessória. No § 1º, do artigo 113, o
CTN prevê que a obrigação principal abrange tanto o tributo quanto a
penalidade pecuniária. Desta forma, a multa pelo não pagamento pode ser
caracterizada como obrigação tributária. Todavia, alguns autores, como
Carvalho (2021, p. 518), optam por uma acepção estrita de obrigação tributária
que não inclui a multa.
No meu entendimento, § 1º, do artigo 113, vai de encontro ao artigo 3º do
CTN, o qual expressamente prevê que “tributo é toda prestação pecuniária
compulsória (...) que não constitua sanção de ato ilícito”. Como as multas são
exatamente o que os tributos, por definição, estão impedidos de ser, ou seja,
sanção por ato ilícito, não podemos caracterizá-las como obrigação tributária.
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3. Que é sujeição passiva? Definir os conceitos de: (i) sujeito passivo; (ii)
contribuinte; (iii) responsável tributário; e (iv) substituto tributário –
distinguindo: substituição tributária para trás, para frente e convencional
(concomitante); agente de retenção e substituição para frente. O
responsável (art. 121, II, do CTN) é: (i) sujeito passivo da relação jurídica
tributária; (ii) de relação de dever instrumental; ou (iii) de relação jurídica
sancionatória?
A sujeição passiva refere-se à posição do sujeito passivo na relação
tributária, o qual, por sua vez, é a pessoa física ou jurídica, privada ou pública,
de quem se exige o cumprimento da prestação pecuniária. O artigo 121 do
CTN divide o sujeito passivo da obrigação principal em contribuinte e
responsável. De acordo com o dispositivo, o contribuinte é aquele que possui
relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato
gerador. Já o responsável é aquele que, sem se revestir da condição de
contribuinte, sua obrigação decorre de disposição expressa de lei. Importante
destacar que não se trata de qualquer lei, mas apenas lei complementar, nos
termos do artigo 146, III, da Constituição Federal.
O CTN subdividiu a responsabilidade tributária em três espécies:
responsabilidade dos sucessores, responsabilidade de terceiros e
responsabilidade por infração. Segundo Carvalho (2021), na responsabilidade
dos sucessores a obrigação de pagar tributos nascida contra determinado
sujeito é transmitida a outrem em decorrência de fato posterior. Já a
responsabilidade de terceiros é aquela depositada numa terceira pessoa,
vinculada ao fato gerador. O terceiro pode ser qualquer pessoa, desde que não
possua relação pessoal e direta com o fato jurídico tributário, pois do contrário
seria o próprio contribuinte. Por fim temos a responsabilidade por infração que
refere-se à responsabilização do agente pelo pagamento do tributo e/ou da
multa pelo não cumprimento das obrigações tributárias. Salvo disposição de lei
em contrário, trata-se de uma responsabilidade objetiva, ou seja, que
independe da intenção do agente.
Costuma-se dividir a substituição tributária em três tipos: a concomitante (ou
convencional), a retrospectiva (ou para trás) e a prospectiva (ou para frente). A
substituição concomitante é aquela em que se atribui a um terceiro a
responsabilidade pelo pagamento do imposto no mesmo momento em que
ocorre o fato gerador do imposto. Na substituição para frente o recolhimento
dos tributos é realizado de forma antecipada por um dos componentes de uma
cadeia produtiva. Para chegar ao imposto devido, o substituto presume um
valor para o produto que será utilizado como base de cálculo. Já na
substituição para trás ocorre o diferimento do pagamento dos tributos devidos.
Desta forma, a pessoa que faz nascer o fato gerador é substituída por outra
que se situa em momento posterior da cadeia de produção.
O agente de retenção é a fonte pagadora do tributo na hipótese de
substituição concomitante. Cabe ao agente de retenção abater do valor a ser
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pago pelo contribuinte o imposto a ser pago no momento do fato gerados. Já


na substituição para frente, o pagamento do tributo ocorre antes do fato
gerador.
O responsável, assim como o contribuinte, é o sujeito passivo da obrigação
principal, diferenciando-se do último apenas por não apresentar relação
pessoal e direta com o evento jurídico tributário (art. 121, II, do CTN).

4. A empresa “A” adquiriu estabelecimento empresarial da empresa “B” e


continuou sua atividade. Aproximadamente seis anos depois dessa
operação, a empresa “A” foi surpreendida com sua inclusão no polo passivo
de execuções fiscais ajuizadas pelo Fisco inauguralmente em face da
empresa “B”, para exigir tributos relativos a fatos geradores por ela
realizados. No contrato de compra e venda, não há disciplina a respeito das
dívidas tributárias anteriores à aquisição. Pergunta-se:

a) Pode o Fisco exigir da empresa “A” os tributos cujos fatos geradores


foram realizados pela empresa “B” antes da aquisição? Se positiva a
resposta, qual o prazo que o Fisco tem para proceder à inclusão da
empresa “A” no polo passivo das execuções fiscais? Em relação aos
tributos decorrentes de fatos geradores ocorridos anteriormente à
compra e venda do estabelecimento ainda não inscritos em dívida ativa
no momento da operação, quem deve figurar na CDA: a empresa A, B
ou ambas? Há relevância se houver no contrato cláusula de
responsabilidade de “B” quanto aos débitos anteriores à operação?
(Vide anexo I).

Conforme o artigo 133, I e II, do CTN, o fisco pode exigir da empresa “A”
os tributos cujos fatos geradores foram realizados pela empresa “B” antes da
aquisição. A empresa “A” responderá de forma integral caso “B” tenha
cessado a exploração da atividade ou subsidiariamente, se “B” tiver dado
prosseguimento na exploração ou iniciar dentro de seis meses a contar da
data da alienação, nova atividade no mesmo ou em outro ramo. No mesmo
sentido temos ainda o art. 129, do CTN:
Art. 129. O disposto nesta Seção aplica-se por igual
aos créditos tributários definitivamente constituídos
ou em curso de constituição à data dos atos nela
referidos, e aos constituídos posteriormente aos
mesmos atos, desde que relativos a obrigações
tributárias surgidas até a referida data.

O fisco tem o prazo prescricional de 5 anos para incluir a empresa


sucessora no polo passivo. O critério adotado pelo caput do artigo 174
do CTN é o de que a prescrição se inicia a partir do momento em que o
devedor pode ser integralmente responsabilizado pela dívida tributária.
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Nos casos regulares, isso ocorre a partir da constituição definitiva do


crédito tributário. Já nos casos de sucessão tributária, ocorre a partir da
referida sucessão.
Caso a empresa sucessora responda de forma integral pelos
tributos deve apenas ela ser inscrita. Já se a empresa sucessora possuir
responsabilidade subsidiaria, devem constar tanto a que adquiriu,
quanto a sucedida.
No que diz respeito a uma eventual cláusula contratual de
responsabilidade da empresa “B” quanto aos débitos anteriores à
operação, não há relevância para o Fisco, conforme impõe o artigo 123
do CTN:
Art. 123. Salvo disposições de lei em contrário, as
convenções particulares, relativas à
responsabilidade pelo pagamento de tributos, não
podem ser opostas à Fazenda Pública, para
modificar a definição legal do sujeito passivo das
obrigações tributárias correspondentes.

b) A empresa “A” responde pela: (i) multa de mora, (ii) multa pelo não
pagamento de tributo, (iii) juros e (iv) multa pelo descumprimento de
deveres instrumentais, se constituídas antes da operação de compra e
venda? E se constituídas depois da operação? (Vide anexos II e III).
A empresa “A” responde pela multa de mora, multa pelo não pagamento
de tributo, juros e multa pelo descumprimento de deveres instrumentais,
constituídas antes e depois da operação, conforme entendimento do STJ
disposto na súmula 554: “na hipótese de sucessão empresarial, a
responsabilidade da sucessora abrange não apenas os tributos devidos pela
sucedida, mas também as multas moratórias ou punitivas referentes a fatos
geradores ocorridos até a data da sucessão”. No mesmo sentido temos o
posicionamento do CARF:
Súmula nº 113: A responsabilidade tributária do sucessor abrange, além
dos tributos devidos pelo sucedido, as multas moratórias ou punitivas, desde
que seu fato gerador tenha ocorrido até a data da sucessão,
independentemente de esse crédito ser formalizado, por meio de
lançamento de ofício, antes ou depois do evento sucessório. (Vinculante,
conforme Portaria ME nº 129 de 01/04/2019, DOU de 02/04/2019).

5. Quanto aos art. 124 e 135 do CTN, pergunta-se:


a) Qual a espécie de responsabilidade prevista no artigo 135 do CTN? Poderia
o fiscal lavrar auto de infração contra o contribuinte e, posteriormente,
executar o sócio de forma solidária à empresa? (Vide anexos IV e V).
Trata-se de responsabilidade solidária. Conforme preconiza o artigo 124, I,
do CTN, são solidariamente obrigadas as pessoas que tenham interesse
comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal.
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Desta forma, se ao longo do processo de exigência do débito o fiscal


constatar a responsabilidade pessoal do sócio nos moldes do artigo 135 do
CTN, bem como o interesse comum, poderá executá-lo de forma solidária.

b) A dissolução irregular da sociedade caracteriza infração à lei apta a ensejar


a responsabilidade do(s) sócio(s) pelas dívidas da pessoa jurídica? Em caso
positivo qual sócio ou administrador pode ser alcançado: o da época do
inadimplemento do tributo ou do momento em que ocorre a dissolução
irregular? (VI e VII e VIII)
Dispõe a súmula n. 435, do STJ, que a dissolução irregular da sociedade
é considerada uma infração apta a ensejar o redirecionamento da execução
fiscal para o sócio-gerente. Todavia, conforme entendimento da Segunda
Turma do STJ, para a responsabilização pessoal deve encontrar-se o sócio-
gerente no exercício da administração da sociedade, no momento da sua
dissolução irregular. Esse entendimento decorre da interpretação do art.
135, caput, III, CTN, combinado com a orientação constante da Súmula
435/STJ, segundo a qual o que desencadeia a responsabilidade tributária
é a infração de lei evidenciada na existência ou presunção de ocorrência de
referido fato.

c) O mero inadimplemento da obrigação de pagar o tributo pode ser justificativa


para aplicação do artigo 135 do Código Tributário Nacional? (Vide anexos IX
e X).
Conforme a súmula 430 do STJ, “o inadimplemento da obrigação tributária
pela sociedade não gera, por si só, a responsabilidade solidária do sócio-
gerente”. Para aplicação do artigo 135 do CTN é indispensável que o sócio
tenha agido com excesso de poderes ou infração à lei, ao contrato social ou
ao estatuto da empresa

6. Quanto à caracterização de grupo econômico, pergunta-se?


a) Que é grupo econômico? Quais são os requisitos para a aplicação da
desconsideração da personalidade jurídica, prevista no art. 50 do CC? Ela
pode ser aplicada ao direito tributário para fins de caracterização de grupo
econômico? Há dispositivos específicos na legislação tributária que
fundamentem a responsabilização do grupo econômico? A caracterização
implica reconhecimento de responsabilidade solidária? (Vide anexo XI e XII).

A Instrução Normativa RFB nº 971/2009 apresenta o seguinte conceito


para grupo econômico: "Artigo 494 — Caracteriza-se grupo econômico
quando 2 (duas) ou mais empresas estiverem sob a direção, o controle ou a
administração de uma delas, compondo grupo industrial, comercial ou de
qualquer outra atividade econômica".
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Os requisitos previstos no artigo 50 do CC para aplicação da


desconsideração da personalidade são: o desvio de finalidade, caracterizado
pelo ato intencional dos sócios de fraudar terceiros com o uso abusivo da
personalidade jurídica; e a confusão patrimonial, decorrente da inexistência
de separação entre o patrimônio da pessoa jurídica e os de seus sócios.

Temos como fundamento para responsabilização do grupo econômico o


artigo 30 da Lei previdenciária (lei 8.212/91) e o artigo 124, I, do CTN. O
artigo 30 da Lei Previdenciária dispõe o seguinte:
Art. 30. A arrecadação e o recolhimento das
contribuições ou de outras importâncias devidas à
Seguridade Social obedecem às seguintes normas:
IX - as empresas que integram grupo econômico de
qualquer natureza respondem entre si,
solidariamente, pelas obrigações decorrentes desta
Lei;
Já o artigo 124, I, do CTN, de forma implícita autoriza a responsabilidade
solidária, quando dispõe que são solidariamente obrigadas as pessoas que
tenham interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação
principal.

É possível a utilização dos elementos previstos no artigo 50 do Código


Civil com objetivo de reconhecer a existência de grupo econômico
fraudulento deveria requerer a instauração prévia do incidente de
desconsideração da personalidade jurídica, previsto no artigo 133 do Código
de Processo Civil. Todavia, existe uma divergência entre as turmas do
Superior Tribunal de Justiça. A Segunda Turma entende ser incabível o
incidente processual nas execuções fiscais (REsp 1.786.311/PR; AgInt no
REsp 1.866.901/SC; AgInt no REsp 1.742.004/SP). Enquanto a Primeira
Turma entende que é cabível o incidente de aferição de responsabilidade
quando a responsabilidade está fundamentada no artigo 50 do Código Civil
(REsp 1706614/RS; REsp 1.775.269/PR). Na prática, na maioria das vezes,
o Fisco fundamenta o pedido de redirecionamento da execução fiscal no
artigo 124, inciso I, do CTN e no artigo 50 do Código Civil.
O fato de pessoas jurídicas pertencerem a um mesmo grupo econômico,
por si só, não autoriza a cobrança do crédito tributário inadimplido pelo
devedor original contra outras empresas do mesmo grupo econômico.
Conforme art. 124 do CTN, é necessário existir o interesse comum na
situação que constitua o fato gerador da obrigação principal. Essa é a é a
jurisprudência dominante no STJ (AREsp: 1035029/SP)

b) Uma vez instaurado o incidente de desconsideração da personalidade


jurídica, nos termos dos arts. 133 e seguintes do NCPC (Lei nº 13.105 de
2015), a defesa apresentada pela pessoa jurídica responsabilizada pela
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obrigação tributária de outra empresa integrante do mesmo grupo


econômico pode versar sobre o mérito da cobrança (inexigibilidade do
crédito tributário), ou apenas sobre a ilegitimidade de sua inclusão no polo
passivo da execução fiscal?
7. Dada a seguinte Lei (fictícia):
Prefeitura de São Pedro, Lei n. 5.151, de 12/10/2015, D.M. 25/10/2015
Art. 1º Fica instituída taxa de conservação e limpeza urbana para o custeio do
serviço público municipal de conservação e limpeza de vias públicas.
Art. 2º A taxa tem como fato gerador a prestação do serviço de limpeza das
vias públicas.
Art. 3º A base de cálculo é o valor venal do imóvel.
Art. 4º A alíquota é de 0,1%.
Art. 5º O contribuinte é o proprietário do imóvel.
Art. 6º Dá-se a incidência todo dia 1º de cada ano.
Art. 7º A importância devida a título de tributo deve ser recolhida até o décimo
dia do segundo mês subsequente.
§ 1º No caso de locação, o locatário é responsável pelo recolhimento do tributo.
§ 2º No caso de compra e venda realizada antes do prazo para o pagamento e
após o 1º dia do ano, o responsável pelo pagamento do tributo é o
adquirente do imóvel.
§ 3º O não recolhimento no prazo estipulado implica multa de 20% do valor do
tributo devido.
Art. 8º Fica o contribuinte obrigado a entregar para a Secretaria de
Planejamento Urbano declaração do valor imobiliário até o dia 10 de
novembro de cada ano.
Parágrafo único. A ausência da entrega no prazo a que se refere o caput deste
artigo implicará multa de 100 UFIRS.
[...].
Pergunta-se:
a) Construir as normas jurídicas veiculadas nessa lei, identificando os
critérios do consequente da RMIT.
Hipótese ou critérios do antecedente:
Critério material: Prestação do serviço de limpeza
Critério temporal: 1º dia de cada ano
Critério físico: Dentro dos limites do município de São Pedro
Critérios do consequente:
Critério pessoal: a) Sujeito Ativo: Município de São Pedro;
b) Sujeito Passivo: Proprietário do imóvel
Critério quantitativo: a) Base de cálculo: valor venal do imóvel;
b) Alíquota: 0,1%.
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b) Quais as funções da base de cálculo? A base de cálculo eleita é


compatível com a hipótese tributária? Se incompatíveis, qual deve
prevalecer para efeito de se determinar a espécie tributária: o enunciado
da hipótese tributária ou o enunciado da base de cálculo? Ambos?
Nenhum dos dois?
De acordo com Carvalho (2021, p. 639 e 640), a base de cálculo possui
três funções. A primeira é a função mensuradora, ou seja, de medir as
proporções reais do evento. A segunda é a função objetiva, na qual a
base de cálculo junto com a alíquota permite a específica determinação
da dívida. Por fim temos a função comparativa que permite confirmar,
infirmar ou afirmar o verdadeiro critério material na hipótese tributária.
Confirma quando há congruência entre a medida padrão e o núcleo do
fato dimensionado, infirma quando há incompatibilidade entre eles e
afirma caso a formulação legal seja obscura.
No caso em tela, o enunciado da hipótese tributária, que é de
taxa, está incompatível com o da base de cálculo, que é claramente de
imposto.
Conforme preconiza o § 2º, do artigo 145, da Constituição Federal, uma
taxa não pode adotar a base de cálculo de imposto.
Diante de tal incompatibilidade para determinação da espécie
tributária, considera-se o enunciado da base de cálculo. Conforme
Carvalho (2021, p. 421), “caso o legislador mencione a existência de
taxa, mas eleja base de cálculo mensuradora de fato estranho a
qualquer atividade do Poder Público, a espécie tributária será outra, qual
seja, um imposto”.

Sugestão para pesquisa suplementar


• Capítulo XIV do livro Curso de teoria geral do direito: o constructivismo lógico-
semântico. 6. ed. São Paulo: Noeses, 2019. de CARVALHO, Aurora Tomazini de.
• Artigo: “Base de cálculo como fato jurídico e a taxa de classificação de produtos
vegetais”, de Paulo de Barros Carvalho. Revista Dialética De Direito Tributário,
São Paulo, n. 37, p. 118-143, 1998.
 Artigo: “Responsabilidade tributária dos sucessores: conteúdo e alcance do art.
129 do Código Tributário Nacional”, de Andréa Medrado Darzé, in VI Congresso
Nacional de Estudos Tributários do IBET. São Paulo: Noeses.
• Livro IV, Capítulo I, “Sujeição passiva tributária” de Octávio Bulcão do Nascimento,
in Curso de Especialização em Direito Tributário – homenagem a Paulo de Barros
Carvalho, coord. Eurico Marcos Diniz de Santi. São Paulo: Forense.
• Responsabilidade tributária dos sucessores, de Octávio Bulcão do Nascimento
(Dissertação de Mestrado, PUC/SP, 1999).
• Base de cálculo, alíquota e princípios constitucionais, de Aires Fernandino
Barreto. São Paulo: Max Limonad.
• Obrigação tributária, uma introdução metodológica, de José Souto Maior Borges.
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São Paulo: Malheiros.


• Título I do livro Curso de direito constitucional tributário, de Roque Antonio
Carrazza. São Paulo: Malheiros.
• Capítulo V e Capítulo VII, item 7.3.3, do livro Imposto sobre a renda: pressupostos
constitucionais, de José Artur Lima Gonçalves. São Paulo: Malheiros.
• Itens 40, 41, 42, 43, 44 e 45 da terceira parte do livro Sujeição passiva tributária,
de Marçal Justen Filho. Belém: CEJUP.
• Capítulo II, item 2.11.2, e Capítulo IV do livro ICMS, de Roque Antonio Carrazza.
São Paulo: Malheiros.
• Capítulo IX do livro Presunções no direito tributário, de Maria Rita Ferragut. São
Paulo: Dialética.
• Introdução e Capítulos I e III, para a parte geral, e itens 5.7, 5.7.1, 5.7.2 e 5.7.3,
para a parte de questões controvertidas sobre a responsabilidade dos
administradores, da tese de doutorado Responsabilidade Tributária: aspectos
gerais e particularidades nos atos de formação, administração, reorganização e
dissolução de sociedades, de Daniel Monteiro Peixoto (Tese de Doutorado,
PUC/SP, 2009).
• Itens 5, 6, 7 e 8 do livro Sujeição passiva e responsabilidade tributária, de Renato
Lopes Becho. São Paulo: Dialética.
• Capítulo V do livro Sujeição passiva tributária, de Luís Cesar Souza de Queiroz.
Rio de Janeiro: Forense.
• Artigo: “Dissolução de sociedades e a responsabilidade tributária no contexto de
regras de direito tributário e de direito societário, de Daniel Monteiro Peixoto”, in VI
Congresso Nacional de Estudos Tributários do IBET. São Paulo: Noeses.
• Artigo: “Responsabilidade tributária dos sócios e administradores de pessoas
jurídicas e a Portaria PGFN n. 180/2010, de Juliana Furtado Costa Araujo”, in VII
Congresso Nacional de Estudos Tributários do IBET. São Paulo: Noeses.
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Anexo I
AgRg no REsp n. 1.452.763/SP

DJ 17/06/2014
SUCESSÃO EMPRESARIAL (INCORPORAÇÃO). RESPONSABILIDADE
SOLIDÁRIA DO SUCESSOR. PRECEDENTES. 1. “Os arts. 132 e 133 do CTN
impõem ao sucessor a responsabilidade integral, tanto pelos eventuais tributos
devidos quanto pela multa decorrente, seja ela de caráter moratório ou
punitivo” (Resp 670.224/RJ, 1ª Turma, Rel. Min. José Delgado, DJ de
13.12.2004). No caso, considerando que o fato gerador foi praticado pela
pessoa jurídica sucedida, inexiste irregularidade na “simples substituição da
incorporada pela incorporadora”, como bem observou o Tribunal de origem.
Nesse sentido: REsp 613.605/RS, 2ª Turma, Rel. Min. Castro Meira, DJe de
22.8.2005; REsp 1.085.071/SP, 1ª Turma, Rel. Min. Benedito Gonçalves, DJe
de 8.6.2009. 2. Agravo regimental não provido.

Anexo II
AgRg no REsp n. 1.321.958/RS

DJ 16/10/2012
RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA. CONCEITO DE CRÉDITO
TRIBUTÁRIO. MULTA. SANÇÃO POR ATO ILÍCITO. RESPONSABILIDADE
DO ESPÓLIO. ARTS. 132 E 133 DO CTN.
1. A controvérsia apoia-se na alegação de que a dívida executada decorre
de sanção por ato ilícito, não se enquadrando, portanto, no conceito de tributo
e, assim, não é exigível do espólio.
2. “A responsabilidade tributária dos sucessores de pessoa natural ou
jurídica (CTN, art. 133) estende-se às multas devidas pelo sucedido, sejam
elas de caráter moratório ou punitivo. Precedentes.”
(RESP 544.265/CE, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Primeira Turma,
julgado em 16/11/2004, DJ 21/02/2005, p. 110).

Agravo regimental improvido.

Anexo III
REsp n. 1.085.071/SP

DJ 08/06/2009
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RECURSO ESPECIAL EM EMBARGOS À EXECUÇÃO.


RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA DO SUCESSOR EMPRESARIAL POR
INFRAÇÕES DO SUCEDIDO. ARTIGO 133 DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO
NACIONAL. PRECEDENTES.
1. Em interpretação ao disposto no art. 133 do CTN, o STJ tem entendido
que a responsabilidade tributária dos sucessores estende-se às multas
impostas ao sucedido, sejam de natureza moratória ou punitiva, pois integram
o patrimônio jurídico-material da sociedade empresarial sucedida.
2. “Os arts. 132 e 133, do CTN, impõem ao sucessor a responsabilidade
integral, tanto pelos eventuais tributos devidos quanto pela multa decorrente,
seja ela de caráter moratório ou punitivo. A multa aplicada antes da sucessão
se incorpora ao patrimônio do contribuinte, podendo ser exigida do sucessor,
sendo que, em qualquer hipótese, o sucedido permanece como responsável. É
devida, pois, a multa, sem se fazer distinção se é de caráter moratório ou
punitivo; é ela imposição decorrente do não-pagamento do tributo na época do
vencimento” (RESP n. 592.007/RS, Rel. Min. José Delgado, DJ de 22/3/2004).
3. Recurso especial provido.

Anexo IV
RE n. 562.276/PR - RG

DJ 10/02/2011
RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA. NORMAS GERAIS DE DIREITO
TRIBUTÁRIO. ART 146, III, DA CF. ART. 135, III, DO CTN. SÓCIOS DE
SOCIEDADE LIMITADA. ART. 13 DA LEI 8.620/93.
INCONSTITUCIONALIDADES FORMAL E MATERIAL. REPERCUSSÃO
GERAL. APLICAÇÃO DA DECISÃO PELOS DEMAIS TRIBUNAIS. 1. Todas as
espécies tributárias, entre as quais as contribuições de seguridade social, estão
sujeitas às normas gerais de direito tributário. 2. O Código Tributário Nacional
estabelece algumas regras-matrizes de responsabilidade tributária, como a do
art. 135, III, bem como diretrizes para que o legislador de cada ente político
estabeleça outras regras específicas de responsabilidade tributária
relativamente aos tributos da sua competência, conforme seu art. 128. 3. O
preceito do art. 124, II, no sentido de que são solidariamente obrigadas “as
pessoas expressamente designadas por lei”, não autoriza o legislador a criar
novos casos de responsabilidade tributária sem a observância dos requisitos
exigidos pelo art. 128 do CTN, tampouco a desconsiderar as regras-matrizes
de responsabilidade de terceiros estabelecidas em caráter geral pelos arts. 134
e 135 do mesmo diploma. A previsão legal de solidariedade entre devedores –
de modo que o pagamento efetuado por um aproveite aos demais, que a
interrupção da prescrição, em favor ou contra um dos obrigados, também lhes
tenha efeitos comuns e que a isenção ou remissão de crédito exonere a todos
Módulo Controle da Incidência Tributária

os obrigados quando não seja pessoal (art. 125 do CTN) – pressupõe que a
própria condição de devedor tenha sido estabelecida validamente. 4. A
responsabilidade tributária pressupõe duas normas autônomas: a regra-matriz
de incidência tributária e a regra-matriz de responsabilidade tributária, cada
uma com seu pressuposto de fato e seus sujeitos próprios. A referência ao
responsável enquanto terceiro (dritter Persone, terzo ou tercero) evidencia que
não participa da relação contributiva, mas de uma relação específica de
responsabilidade tributária, inconfundível com aquela. O “terceiro” só pode ser
responsabilizado na hipótese de descumprimento de deveres próprios de
colaboração para com a Administração Tributária, estabelecidos, ainda que a
contrario sensu, na regra-matriz de responsabilidade tributária, e desde que
tenha contribuído para a situação de inadimplemento pelo contribuinte. 5. O art.
135, III, do CTN responsabiliza apenas aqueles que estejam na direção,
gerência ou representação da pessoa jurídica e tão somente quando pratiquem
atos com excesso de poder ou infração à lei, contrato social ou estatutos.
Desse modo, apenas o sócio com poderes de gestão ou representação da
sociedade é que pode ser responsabilizado, o que resguarda a pessoalidade
entre o ilícito (mal gestão ou representação) e a consequência de ter de
responder pelo tributo devido pela sociedade. 6. O art. 13 da Lei 8.620/93 não
se limitou a repetir ou detalhar a regra de responsabilidade constante do art.
135 do CTN, tampouco cuidou de uma nova hipótese específica e distinta. Ao
vincular à simples condição de sócio a obrigação de responder solidariamente
pelos débitos da sociedade limitada perante a Seguridade Social, tratou a
mesma situação genérica regulada pelo art. 135, III, do CTN, mas de modo
diverso, incorrendo em inconstitucionalidade por violação ao art. 146, III, da CF.
7. O art. 13 da Lei 8.620/93 também se reveste de inconstitucionalidade
material, porquanto não é dado ao legislador estabelecer confusão entre os
patrimônios das pessoas física e jurídica, o que, além de impor
desconsideração ex lege e objetiva da personalidade jurídica,
descaracterizando as sociedades limitadas, implica irrazoabilidade e inibe a
iniciativa privada, afrontando os arts. 5º, XIII, e 170, parágrafo único, da
Constituição. 8. Reconhecida a inconstitucionalidade do art. 13 da Lei 8.620/93
na parte em que determinou que os sócios das empresas por cotas de
responsabilidade limitada responderiam solidariamente, com seus bens
pessoais, pelos débitos junto à Seguridade Social. 9. Recurso extraordinário da
União desprovido. 10. Aos recursos sobrestados, que aguardavam a análise da
matéria por este STF, aplica-se o art. 543-B, § 3º, do CPC.

Anexo V
REsp n. 1.455.490/PR
DJ 25/09/2014
EXECUÇÃO FISCAL. DISSOLUÇÃO IRREGULAR.
REDIRECIONAMENTO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA X
RESPONSABILIDADE PESSOAL DO SÓCIO-GERENTE. EXCLUSÃO DA
Módulo Controle da Incidência Tributária

RESPONSABILIDADE DA PESSOA JURÍDICA. CUMULAÇÃO SUBJETIVA DE


PEDIDOS/DEMANDAS.
1. Não se conhece do Recurso Especial em relação à ofensa ao art. 535
do CPC quando a parte não aponta, de forma clara, o vício em que teria
incorrido o acórdão impugnado. Aplicação, por analogia, da Súmula 284/STF.
2. A controvérsia tem por objeto a decisão do Tribunal de origem, que
determinou a exclusão da pessoa jurídica do polo passivo de Execução Fiscal,
em decorrência do redirecionamento para o sócio-gerente, motivado pela
constatação de dissolução irregular do estabelecimento empresarial.
3. Segundo o sucinto acórdão recorrido, “a responsabilidade prevista no
art. 135, III, do CTN, é pessoal, e não solidária nem subsidiária”, de modo que,
“com o redirecionamento, a execução fiscal volta-se exclusivamente contra o
patrimônio do representante legal da pessoa jurídica, a qual deixa de
responder pelos créditos tributários”.
4. O decisum recorrido interpretou exclusivamente pelo método
gramatical/literal a norma do art. 135, III, do CTN, o que, segundo a boa
doutrina especializada na hermenêutica, pode levar a resultados aberrantes,
como é o caso em análise, insustentável por razões de ordem lógica, ética e
jurídica.
5. É possível afirmar, como fez o ente público, que, após alguma
oscilação, o STJ consolidou o entendimento de que a responsabilidade do
sócio-gerente, por atos de infração à lei, é solidária. Nesse sentido o enunciado
da Súmula 430/STJ: “O inadimplemento da obrigação tributária pela sociedade
não gera, por si só, a responsabilidade solidária do sócio-gerente.”
6. O afastamento da responsabilidade tributária decorreu da constatação
de que, em revisão do antigo entendimento do Superior Tribunal de Justiça, a
inadimplência não deve ser considerada ato ilícito imputável ao representante
da pessoa jurídica. No que concerne diretamente à questão versada nestes
autos, porém, subjaz implícita a noção de que a prática de atos ilícitos implica
responsabilidade solidária do sócio-gerente.
7. Merece citação o posicionamento adotado pela Primeira Seção do STJ
no julgamento dos Embargos de Divergência em Recurso Especial
174.532/PR, segundo os quais “Os diretores não respondem pessoalmente
pelas obrigações contraídas em nome da sociedade, mas respondem para com
esta e para com terceiros solidária e ilimitadamente pelo excesso de mandato e
pelos atos praticados com violação do estatuto ou lei”.
8. Isto, por si só, já seria suficiente para conduzir ao provimento da
pretensão recursal. Porém, há mais a ser dito.
9. Ainda que se acolha o posicionamento de que a responsabilidade
prevista no art. 135 do CTN – por ser descrita como pessoal – não pode ser
considerada solidária, é improcedente o raciocínio derivado segundo o qual há
exclusão da responsabilidade da pessoa jurídica em caso de dissolução
irregular.
Módulo Controle da Incidência Tributária

10. Atente-se para o fato de que nada impede que a Execução Fiscal seja
promovida contra sujeitos distintos, por cumulação subjetiva em regime de
litisconsórcio.
11. Com efeito, são distintas as causas que deram ensejo à
responsabilidade tributária e, por consequência, à definição do polo passivo da
demanda: a) no caso da pessoa jurídica, a responsabilidade decorre da
concretização, no mundo material, dos elementos integralmente previstos em
abstrato na norma que define a hipótese de incidência do tributo; b) em relação
ao sócio-gerente. O “fato gerador” de sua responsabilidade, conforme acima
demonstrado, não é o simples inadimplemento da obrigação tributária, mas a
dissolução irregular (ato ilícito).
12. Não há sentido em concluir que a prática, pelo sócio-gerente, de ato
ilícito (dissolução irregular) constitui causa de exclusão da responsabilidade
tributária da pessoa jurídica, fundada em circunstância independente.
13. Em primeiro lugar, porque a legislação de Direito Material (Código
Tributário Nacional e legislação esparsa) não contém previsão legal nesse
sentido.
14. Ademais, a prática de ato ilícito imputável a um terceiro, posterior à
ocorrência do fato gerador, não afasta a inadimplência (que é imputável à
pessoa jurídica, e não ao respectivo sócio-gerente) nem anula ou invalida o
surgimento da obrigação tributária e a constituição do respectivo crédito, o
qual, portanto, subsiste normalmente.
15. A adoção do entendimento consagrado no acórdão hostilizado
conduziria a um desfecho surreal: se a dissolução irregular exclui a
responsabilidade tributária da pessoa jurídica, o feito deveria ser extinto em
relação a ela, para prosseguir exclusivamente contra o sujeito para o qual a
Execução Fiscal foi redirecionada. Por consequência, cessaria a causa da
dissolução irregular, uma vez que, com a exclusão de sua responsabilidade
tributária, seria lícita a obtenção de Certidão Negativa de Débitos, o que
fatalmente viabilizaria a baixa definitiva de seus atos constitutivos na Junta
Comercial!
16. Dito de outro modo, o ordenamento jurídico conteria a paradoxal
previsão de que um ato ilícito – dissolução irregular -, ao fim, implicaria
permissão para a pessoa jurídica (beneficiária direta da aludida dissolução)
proceder ao arquivamento e ao registro de sua baixa societária, uma vez que
não mais subsistiria débito tributário a ela imputável, em detrimento de terceiros
de boa-fé (Fazenda Pública e demais credores).
17. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido.

Anexo VI
REsp n. 1.371.128/RS
DJ 17/09/2014
Módulo Controle da Incidência Tributária

REDIRECIONAMENTO DE EXECUÇÃO FISCAL DE DÍVIDA ATIVA


NÃO-TRIBUTÁRIA EM VIRTUDE DE DISSOLUÇÃO IRREGULAR DE
PESSOA JURÍDICA. POSSIBILIDADE. ART. 10, DO DECRETO N. 3.078/19 E
ART. 158, DA LEI N. 6.404/78 – LSA C/C ART. 4º, V, DA LEI N. 6.830/80 –
LEF. 1. A mera afirmação da Defensoria Pública da União – DPU de atuar em
vários processos que tratam do mesmo tema versado no recurso
representativo da controvérsia a ser julgado não é suficiente para caracterizar-
lhe a condição de amicus curiae. Precedente: REsp. 1.333.977/MT, Segunda
Seção, Rel. Min. Isabel Gallotti, julgado em 26.02.2014. 2. Consoante a Súmula
n. 435/STJ: “Presume-se dissolvida irregularmente a empresa que deixar de
funcionar no seu domicílio fiscal, sem comunicação aos órgãos competentes,
legitimando o redirecionamento da execução fiscal para o sócio-gerente”. 3. É
obrigação dos gestores das empresas manter atualizados os respectivos
cadastros, incluindo os atos relativos à mudança de endereço dos
estabelecimentos e, especialmente, referentes à dissolução da sociedade. A
regularidade desses registros é exigida para que se demonstre que a
sociedade dissolveu-se de forma regular, em obediência aos ritos e
formalidades previstas nos arts. 1.033 a 1.038 e arts. 1.102 a 1.112, todos do
Código Civil de 2002 – onde é prevista a liquidação da sociedade com o
pagamento dos credores em sua ordem de preferência – ou na forma da Lei n.
11.101/2005, no caso de falência. A desobediência a tais ritos caracteriza
infração à lei. 4. Não há como compreender que o mesmo fato jurídico
“dissolução irregular” seja considerado ilícito suficiente ao redirecionamento da
execução fiscal de débito tributário e não o seja para a execução fiscal de
débito não-tributário. “Ubi eadem ratio ibi eadem legis dispositio”. O suporte
dado pelo art. 135, III, do CTN, no âmbito tributário é dado pelo art. 10, do
Decreto n. 3.078/19 e art. 158, da Lei n. 6.404/78 – LSA no âmbito não-
tributário, não havendo, em nenhum dos casos, a exigência de dolo. 5.
Precedentes: REsp n. 697108/MG, Primeira Turma, Rel. Min. Teori Albino
Zavascki, julgado em 28.04.2009; REsp n. 657935/RS, Primeira Turma, Rel.
Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 12.09.2006; AgRg no AREsp 8.509/SC,
Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 4.10.2011; REsp
1272021/RS, Segunda Turma, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
07.02.2012; REsp 1259066/SP, Terceira Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe
28/06/2012; REsp 1.348.449 – RS, Quarta Turma, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 11.04.2013; AgRg no AG n. 668.190 – SP, Terceira
Turma, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 13.09.2011; REsp
586.222 – SP, Quarta Turma, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
23.11.2010; REsp 140564/SP, Quarta Turma, Rel. Min. Barros Monteiro,
julgado em 21.10.2004. 6. Caso em que, conforme o certificado pelo oficial de
justiça, a pessoa jurídica executada está desativada desde 2004, não restando
bens a serem penhorados. Ou seja, além do encerramento irregular das
atividades da pessoa jurídica, não houve a reserva de bens suficientes para o
pagamento dos credores. 7. Recurso especial provido. Acórdão submetido ao
regime do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ 08/2008.
Módulo Controle da Incidência Tributária

Anexo VII
AgInt no REsp 1.609.232/SC
DJ 15/02/2017

TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO


ESPECIAL. EXECUÇÃO FISCAL. DISSOLUÇÃO IRREGULAR DA
SOCIEDADE EXECUTADA. REDIRECIONAMENTO A SÓCIO-GERENTE.
CONDIÇÃO: EXERCÍCIO DA ADMINISTRAÇÃO DA SOCIEDADE, NO
MOMENTO DA SUA DISSOLUÇÃO IRREGULAR. ACÓRDÃO DO TRIBUNAL
DE ORIGEM EM CONSONÂNCIA COM A JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE
DO STJ. INADMISSIBILIDADE DO RECURSO ESPECIAL, POR
INCIDÊNCIA DA SÚMULA 83/STJ. AGRAVO INTERNO IMPROVIDO.

I. Trata-se de Agravo interno, interposto contra decisão publicada em


12/08/2016, que, por sua vez, julgara Recurso Especial interposto contra
acórdão publicado na vigência do CPC/73. II. A jurisprudência da Segunda
Turma do STJ, até recentemente, orientava-se no sentido de que a
autorização judicial do redirecionamento de Execução Fiscal, em face de
sócio-gerente, estaria subordinada a dois requisitos cumulativos: a) que o
referido sócio-gerente tivesse exercido o encargo, ao tempo em que se deu o
inadimplemento do tributo; b) que o referido sócio-gerente tivesse
permanecido no exercício do encargo, durante a dissolução irregular da
sociedade.

III. Entretanto, a Segunda Turma do STJ veio a alterar, em parte, esse


entendimento, de modo a condicionar a responsabilização pessoal de sócio-
gerente a um único requisito, ou seja, encontrar-se o referido sócio no
exercício da administração da sociedade, no momento da sua dissolução
irregular.

IV. Nos termos do mencionado precedente inovador, "o pedido de


redirecionamento da execução fiscal, quando fundado na dissolução irregular
ou em ato que presuma sua ocorrência - encerramento das atividades
empresariais no domicílio fiscal, sem comunicação aos órgãos competentes
(Súmula 435/STJ) -, pressupõe a permanência do sócio na administração da
sociedade no momento dessa dissolução ou do ato presumidor de sua
ocorrência, uma vez que, nos termos do art. 135, caput, III, CTN, combinado
com a orientação constante da Súmula 435/STJ, o que desencadeia a
responsabilidade tributária é a infração de lei evidenciada na existência ou
presunção de ocorrência de referido fato. Consideram-se irrelevantes para a
definição da responsabilidade por dissolução irregular (ou sua presunção) a
Módulo Controle da Incidência Tributária

data da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária, bem como o


momento em que vencido o prazo para pagamento do respectivo débito"

(STJ, REsp 1.520.257/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA


TURMA, DJe de 23/06/2015).

V. Com efeito, a Primeira Seção do STJ, por ocasião do julgamento dos EAg
1.105.993/RJ (Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, DJe de 01/02/2011),
firmou o entendimento de que "o redirecionamento da execução fiscal, na
hipótese de dissolução irregular da sociedade, pressupõe a permanência do
sócio na administração da empresa ao tempo da ocorrência da dissolução".

VI. Nos presentes autos, que versam sobre Embargos à Execução Fiscal,
ao manter a sentença de procedência do pedido inicial, a fim de excluir o
autor da ação, ora agravado, do polo passivo da Execução, ao fundamento
de ausência de elementos a indicar a sua permanência no quadro social da
sociedade empresária executada, quando da dissolução irregular da referida
sociedade, o Tribunal de origem não afrontou o art. 135, III, do CTN,
tampouco a Súmula 435/STJ. Pelo contrário, observou a orientação
jurisprudencial predominante nesta Corte.

VII. Aplica-se, ao caso, o entendimento consolidado na Súmula 83 desta


Corte, in verbis: "Não se conhece do recurso especial pela divergência,
quando a orientação do Tribunal se firmou no mesmo sentido da decisão
recorrida". O referido enunciado aplica-se também aos recursos interpostos
com base na alínea a do permissivo constitucional.

VIII. Agravo interno improvido.

Anexo VIII
Súmula 435 STJ

Súmula n. 435, STJ: “Presume-se dissolvida irregularmente a empresa


que deixar de funcionar no seu domicílio fiscal, sem comunicação aos órgãos
competentes, legitimando o redirecionamento da execução fiscal para o sócio-
gerente”.

Anexo IX
REsp n. 1.101.728/SP
DJ 23/03/2009
Módulo Controle da Incidência Tributária

EXECUÇÃO FISCAL. TRIBUTO DECLARADO PELO CONTRIBUINTE.


CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO. DISPENSA. RESPONSABILIDADE DO SÓCIO. TRIBUTO
NÃO PAGO PELA SOCIEDADE.
1. A jurisprudência desta Corte, reafirmada pela Seção inclusive em
julgamento pelo regime do art. 543-C do CPC, é no sentido de que “a
apresentação de Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais –
DCTF, de Guia de Informação e Apuração do ICMS – GIA, ou de outra
declaração dessa natureza, prevista em lei, é modo de constituição do crédito
tributário, dispensando, para isso, qualquer outra providência por parte do
Fisco” (RESP 962.379, 1ª Seção, DJ de 28.10.08).
2. É igualmente pacífica a jurisprudência do STJ no sentido de que a simples falta
de pagamento do tributo não configura, por si só, nem em tese, circunstância que
acarreta a responsabilidade subsidiária do sócio, prevista no art. 135 do CTN. É
indispensável, para tanto, que tenha agido com excesso de poderes ou infração à lei,
ao contrato social ou ao estatuto da empresa (ERESP 374.139/RS, 1ª Seção, DJ
de 28.02.2005).
3. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, parcialmente
provido. Acórdão sujeito ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ
08/08.

Anexo X
Súmula 430 STJ

Súmula n. 430, STJ: “O inadimplemento da obrigação tributária pela


sociedade não gera, por si só, a responsabilidade solidária do sócio-gerente.”

Anexo XI
CARF – Acórdão n. 2403-002.135
Julgamento: 16/07/2013
NORMAS PROCEDIMENTAIS. GRUPO ECONÔMICO. AUSÊNCIA DE
INTIMAÇÃO DO INTEIRO TEOR DA NOTIFICAÇÃO. CERCEAMENTO AO
DIREITO DE DEFESA – NULIDADE DA DECISÃO DE PRIMEIRA INSTÂNCIA.
Ao ser constatada a existência de Grupo Econômico pela fiscalização, todos os
solidários devem ser intimados de todo o teor da notificação e não apenas
através do Termo de Sujeição Passiva e/ou Ofício que informa a atribuição da
responsabilidade solidária, sob pena de preterição do direito de defesa. É nula
a decisão de primeira instância que, em evidente preterição do direito de
defesa, é proferida sem a devida intimação dos contribuintes responsáveis
solidários da integralidade dos documentos de constituição do crédito tributário,
oportunizando-lhes a interposição de impugnação. NORMAS
PROCEDIMENTAIS DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA.
Módulo Controle da Incidência Tributária

CARACTERIZAÇÃO SEGURADOS EMPREGADOS. POSSIBILIDADE.


Constatando-se a existência dos elementos constituintes da relação
empregatícia entre o suposto “tomador de serviços” e o tido “prestador de
serviços”, deverá o Auditor Fiscal desconsiderar a personalidade jurídica da
empresa prestadora de serviços, enquadrando os trabalhadores desta última
como segurados empregados da tomadora, com fulcro no artigo 229, § 2º, do
Regulamento da Previdência Social – RPS, aprovado pelo Decreto n. 3.048/99,
c/c Pareceres/CJ n.s 330/1995 e 1652/1999. NORMAS GERAIS DO DIREITO.
ARTIGO 129 DA LEI N. 11.196/2005. NATUREZA INTERPRETATIVA.
RETROATIVIDADE. POSSIBILIDADE. ARTIGO 106, INCISO I, CTN. Em face
da natureza interpretativa do artigo 129 da Lei n. 11.19/2005, caracterizada
pela evidente finalidade de explicitar relações tributárias preexistentes, não se
pode cogitar em estabelecimento de novo regime jurídico, impondo, portanto,
seja aplicado retroativamente para alcançar fatos geradores pretéritos, em
observância aos preceitos inscritos no artigo 106, inciso I, do Código Tributário
Nacional.

Anexo XII
Processo n. 0020172-50.2014.4.03.0000

e-DJF3 Judicial 1 DATA:13/05/2015

EXECUÇÃO FISCAL. SÓCIO. REDIRECIONAMENTO. RESPONSABILIDADE


DE EMPRESAS. GRUPO ECONÔMICO. NÃO CARACTERIZADO. 1. A
responsabilidade do sócio pelas dívidas tributárias da pessoa jurídica só é
possível havendo comprovação de atuação dolosa na administração da
empresa, atuando com excesso de mandato, infringência à lei ou ao contrato
social. 2. A dissolução irregular da sociedade também é fundamento bastante
para atrair a responsabilidade dos sócios administradores pelas obrigações da
sociedade 3. O redirecionamento automático da execução na pessoa dos
sócios corresponsáveis, em razão da existência de grupo econômico, não se
verifica, por ora, plausibilidade dos elementos comprobatórios acerca de fraude
ou abuso de poder por parte dos sócios em relação à sociedade. 4. A
caracterização do grupo econômico de empresas, que se valem dessa
condição para sonegar suas obrigações tributárias, requer alguns elementos
que apontem esse intuito fraudatório, a ser analisado no caso concreto.
Podemos assim ser exemplificá-los: empresas de um mesmo grupo
econômico, apenas quando realizem conjuntamente a situação configuradora
do fato gerador, não bastando o mero interesse econômico; a confusão
patrimonial apta a ensejar a responsabilidade solidária na forma prevista no art.
124 do CTN, administradas pelos mesmos diretores, estando submetidas a um
mesmo poder de controle, o que evidencia a existência de grupo econômico de
Módulo Controle da Incidência Tributária

fato; atuação num mesmo ramo comercial ou complementar, sob uma mesma
unidade gerencial; empresas que exerçam atividades empresariais de um
mesmo ramo e estão sob o poder central de controle; abuso da personalidade
jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial;
abuso de autoridade, sociedades sob o mesmo controle e com estrutura
meramente formal, o que ocorre quando diversas pessoas jurídicas do grupo
exercem suas atividades sob unidade gerencial, laboral e patrimonial;
existência de fraudes, abuso de direito e má-fé com prejuízo a credores; grupo
familiar definido etc. 5. Agravo de instrumento improvido. (TRF3 - 1ᵃ Turma,
Processo nº 0020172-50.2014.4.03.0000, Agravo de instrumento nº 537935,
Rel. Des. Fed. Luiz Stefanini, e-DJF3 Judicial 1 DATA:13/05/2015).

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