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Subsidiária e Reversão
12 de Outubro, 2008 || 1454 Visualizações
1. Introdução
A relação jurídica tributária é unanimemente considerada extremamente complexa, quer ao
nível dos titulares dos diferentes poderes tributários, quer ao nível dos diversos sujeitos
passivos, quer quanto ao seu conteúdo, desde logo porque além dos diversos titulares
possíveis, a relação jurídica fiscal se desdobra, de um lado, na relação de imposto (relação
fiscal material) e, de outro, em diversas relações jurídicas acessórias (relações fiscais formais)
.
Com efeito, a relação jurídica tributária depende da produção de um acto tributário, génese
definida no n.º 1 do art. 36.º da Lei Geral Tributária (doravante LGT), onde se lê: “A relação
jurídica tributária constitui-se com o facto tributário”. Dizer-se que a relação jurídica
tributária se constitui com o facto tributário não significa que ela dependa sempre de uma
intervenção administrativa, pois “a relação jurídica tributária pode, contudo ter lugar sobre
diversas formas: enquanto, em impostos como o IRC e o IVA, a obrigação tributária pode
constituir-se e extinguir-se sem qualquer intervenção administrativa, no IRS, depois de
cumpridos os deveres de cooperação do sujeito passivo, deve haver um acto tributário, ainda
que seja produzido como o típico acto de produção massificada” .
No entanto, por determinação legal, a verificação do facto tributário tem como resultado
directo e imediato uma relação jurídica tributária cujo núcleo é constituído pela obrigação de
imposto, estruturalmente um direito de crédito com uma série de características especiais que
a diferenciam das obrigações jurídicas privadas . Com efeito, estamos perante uma obrigação
legal, isto é, que decorre do encontro do facto tributário com a hipótese legal; de uma
obrigação pública, sujeita a uma disciplina de direito público (presunção de legalidade do acto
de liquidação); de uma obrigação exequível, executiva e semi-executória (a execução corre
parcialmente na administração tributária); de uma obrigação indisponível e irrenunciável; de
uma obrigação auto-titulada (as certidões de dívida extraídas pela administração fiscal são os
seus próprios títulos executivos); e, finalmente, estamos diante de uma obrigação rodeada por
garantias especiais, garantias que colocam o credor tributário numa posição privilegiada.
O credor tributário, o sujeito activo da relação jurídica tributária, é a entidade de direito
público, não necessariamente o Estado (podendo tratar-se das Tesourarias da Fazenda Pública,
da Direcção-Geral das Alfândegas, das Regiões Autónomas, Autarquias locais, Institutos
Públicos), titular do direito de exigir o cumprimento das obrigações tributárias, quer
directamente, quer através de representante (art. 18.º, n.º 1 e n.º 2 da LGT). Neste pólo da
relação tributária encontramos alguma facilidade na determinação da entidade que detém o
poder de exigir o cumprimento da obrigação tributária, o mesmo não sucedendo com o lado
passivo da relação jurídica em análise, como veremos. A titularidade activa da relação jurídica
tributária, como dizíamos, parece depender da prossecução de interesses colectivos, pois é
para sua realização que se justifica a tributação.
O sujeito passivo da relação jurídica tributária é a pessoa singular ou colectiva, o património
ou a organização de facto ou de direito que, nos termos da lei, está vinculado ao cumprimento
da prestação tributária, seja como contribuinte directo, substituto ou responsável (art. 18.º, n.º
3 da LGT).
No presente trabalho propusemo-nos analisar os fundamentos e o processo de efectivação da
responsabilidade subsidiária dos gestores de pessoas colectivas e dos entes fiscalmente
equiparados, pois assume grande relevância prática a compreensão de um regime que
justificou para o legislador a derrogação do princípio da capacidade contributiva ou o
6. Conclusões
A ponderação entre interesses públicos e privados deve, acima de tudo e em cumprimento dos
princípios que enformam o Estado de Direito, ser imparcial e justa, nunca esquecendo que o
interesse público atinge com maior intensidade a sua essência quando, no respeito pelos
princípios da proporcionalidade, da justiça e da igualdade, corresponde à garantia dos direitos
e interesses legalmente protegidos dos cidadãos.
A abordagem do regime da responsabilidade subsidiária e da reversão deixa-nos a impressão
de que o legislador tributário favoreceu a Administração Tributária com os seus eloquentes
silêncios e, simultaneamente, com as suas indeterminações conceptuais, não se coibindo de
desafiar princípios considerados incontornáveis no âmbito da actuação administrativa ou
mesmo de violar de forma explícita a Lei Fundamental, no âmago dos princípios mais
garantísticos que esta possui.
A responsabilidade subsidiária e a indissociável reversão foram traçadas sem o rigor que seria
de esperar e sem a preocupação séria de garantir a igualdade procedimental (presunção de
culpa?), a determinação dos conceitos (fundada insuficiência é…?), a verdade dos
procedimentos (uma excussão prévia… a posteriori?) e a menor desvantagem possível para os
cidadãos. A Administração Tributária dispõe de um regime legal aparentemente previsto para
compensar a sua ineficiência, dotado de normas que farejam um culpado, qualquer que ele
seja, um responsável que, engolido pela máquina fiscal, permita cumprir o desígnio supremo
BIBLIOGRAFIA