Você está na página 1de 5

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS


FACE - CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS

Disciplina: ORÇAMENTO E CONTABILIDADE GOVERNAMENTAL

ASSUNTO: RECEITA PÚBLICA - ESTÁGIOS

Segundo Roberto Bocaccio Piscitelli, “Estágios da receita são etapas,


períodos, operações, classificados para efeitos didáticos, que guardam relação
com definições legais específicas e com a sistemática adotada pela administração
financeira pública”.

Seguindo o que dispõe o art. 139 do Regulamento de Contabilidade


Pública - Decreto Federal nº15.783, de 8-11-22, que regulamentou o Código de
Contabilidade Pública baixado pelo Decreto Legislativo nº4.536, de 28-1-22, a
receita pública percorre três estágios: Fixação, arrecadação e
recolhimento.

Contudo, Heilio Kohama, em sua obra Contabilidade Pública, menciona


que: “Nos tempos atuais, em face das técnicas utilizadas, a receita deverá
percorrer três estágios, a saber:

a) Previsão
b) lançamento; e
c) Arrecadação e Recolhimento”.

No entender do Prof. João Angélico, “seria mais apropriado distinguirem-se


as atividades de estimação (que não é sinônimo de fixação) das de realização da
receita; esta, por sua vez - a realização da receita - se desdobraria em
lançamento, arrecadação e recolhimento”.

Dependendo das circunstâncias, não ocorre propriamente lançamento; e


em outros casos, arrecadação e recolhimento se confundem.

Segundo Piscitelli, “A fixação começa pelas estimativas, passa pela


discussão e aprovação do orçamento e termina pelo lançamento, que permite a
identificação, a individualização do contribuinte, do devedor”.

Segundo Kohama, “Previsão corresponde aos valores que a lei do


orçamento consignar, pois são estimativas de receitas que se originam de
estudos de previsão, antes de comporem o projeto de lei orçamentária”.

Kohama cita que: “Portanto, a Receita Orçamentária deverá sofrer o


processo de elaboração da previsão e estimativa, bem como de sua execução e
acompanhamento, e análise da efetiva arrecadação em relação à previsão feita,
num procedimento evolutivo e dinâmico, visando ao seu desenvolvimento e
aperfeiçoamento”.
Assim, a previsão da receita é a estimativa de quanto se espera arrecadar
durante o exercício. Uma parcela da receita prevista poderá sofrer lançamentos,
correspondendo aos impostos diretos, taxas, contribuições de melhoria, serviços
industriais, rendas patrimoniais, etc.

LANÇAMENTO

O lançamento é a identificação do devedor ou da pessoa do contribuinte. A


Lei nº 4.320/64 define o lançamento da receita como o ato da repartição
competente que verifica a procedência do crédito fiscal à pessoa devedora e
inscreve a débito dela.

Kohama cita em sua obra que: “É o ato administrativo que o Poder


Executivo utiliza, visando identificar e individualizar o contribuinte ou o devedor e
os respectivos valores, espécies e vencimentos”.

Piscitelli, argumenta que: “O lançamento - que é um conceito do Direito,


pois não enseja sequer registro na Contabilidade Pública, precedendo o
reconhecimento da receita, compete privativamente à autoridade administrativa,
preenchendo as finalidades de:

 verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação e identificar o sujeito


passivo;
 determinar a matéria tributável, analisar seus elementos e calcular o
montante do tributo devido; e
 propor a aplicação da penalidade cabível, quando for o caso”.

O Regulamento Geral da Contabilidade Pública é mais explícito com


referência a este tópico ao discriminar como passíveis de lançamento:

a) os impostos diretos e outras receitas com vencimentos determinados em


leis especiais, regulamentos ou contratos, mediante relações nominais
dos contribuintes;
b) os aluguéis, arrendamentos, foros e qualquer outra prestação periódica
de serviço pelos bens patrimoniais da União;
c) os serviços industriais do Estado, a débito de outras administrações ou
de terceiros, quando não imediatamente indenizados.

Há três espécies de lançamento: direto ou de ofício, por declaração e por


homologação (autolançamento).

A Lei nº 4.320/64, disciplina no art. 52 que: “são objeto de lançamento os


impostos diretos e quaisquer outras rendas com vencimento determinado em lei,
regulamento ou contrato”. Determina no art. 53 - “O lançamento da receita é ato
da repartição competente, que verifica a procedência do crédito fiscal e a pessoa
que lhe é devedora e inscreve o débito desta”.
ARRECADAÇÃO E RECOLHIMENTO

Segundo Kohama, “são, no nosso entendimento, fases que se


complementam, mesmo porque, nos dias atuais, o desenvolvimento
experimentado no setor, com o aproveitamento e introdução do processamento
de dados, cada vez mais dificulta a compreensão dessas etapas,
separadamente”.

Segundo Piscitelli, “A arrecadação caracteriza-se pela transferência, pelo


depósito em favor, em nome do Tesouro, das obrigações dos contribuintes, das
pessoas físicas e jurídicas, perante o Poder Público. Muitas vezes tais
compromissos são saldados por meio de depositários, quando estes, geralmente
órgãos e entidades, retêm, descontam de outras pessoas tributos e contribuições
devidos”.
Segundo Róbison Gonçalves de Castro “A arrecadação, que compreende o
2º estágio, está ligada aos pagamentos realizados diretamente pelos contribuintes
às repartições fiscais e rede bancária autorizada”.

Kohama cita que: “Arrecadação é o ato em que são pagos os tributos ou as


diversas receitas, ao agente arrecadador. Entende-se como agentes
arrecadadores todas as repartições competentes, na forma da lei”.

Segundo Kohama, “O recolhimento é o ato que se relaciona com a entrega


dos valores arrecadados pelos agentes arrecadadores ao Tesouro Público. É
óbvio que existe toda uma sistemática a ser seguida para que esse recolhimento
seja procedido”.

Para Piscitelli “O recolhimento caracteriza-se pela transferência do produto


da arrecadação diretamente ao caixa do Tesouro. Só através do recolhimento, em
conta específica, é que se pode dizer que os recursos estarão efetivamente
disponíveis para utilização pelos gestores financeiros, de acordo com a
programação que for estabelecida. Arrecadação e recolhimento se confundem
nos pagamentos efetuados pelos órgãos/entidades públicos (as) com recursos
orçamentários, em que os tributos e contribuições devidos pelos beneficiários são
descontados e (re)incorporados às disponibilidades, ao caixa único do Tesouro;
isto é, na prática não chegam a transitar pelo fluxo financeiro”.

Para Róbison Gonçalves de Castro “O recolhimento, que compreende o 3º


estágio, é a entrega do produto da arrecadação pelas referidas repartições e
estabelecimentos bancários ao Banco do Brasil para crédito da conta Receita da
União do Tesouro Nacional (ou Bancos Estaduais para crédito da Conta Receita
Estadual do Tesouro Estadual ou da Conta Receita Municipal do Tesouro
Municipal, conforme o caso). O recolhimento da receita far-se-á em estrita
observância ao princípio da unidade de caixa, sendo proibida a criação de caixas
especiais”.

RESTITUIÇÃO E ANULAÇÃO DE RECEITAS

Restituição e anulação de receitas são procedimentos relativos ao


processamento e execução da receita orçamentária adotados, para o
ressarcimento de valores recebidos indevidamente dos contribuintes,
provenientes de fatos que independem da intervenção da Administração pública,
mas por ela precisam ser reparados, afim de se evitar o cometimento de
irregularidades e até de injustiças.

Tendo ocorrido qualquer situação que enseja restituição de valor ao


contribuinte, deve o mesmo encaminhar um pedido à repartição fazendária
correspondente e solicitar a devolução ou a restituição do valor pago,
mencionando uma justificativa para o fato, juntando cópia da guia de recolhimento
autenticada pelo estabelecimento bancário.

De posse do pedido, a Administração Pública deve proceder a anulação da


receita orçamentária recolhida, estornando-o e fazendo a devolução ao
contribuinte, caso o fato tenha ocorrido dentro exercício financeiro a que se refere
o tributo.

Quando a restituição se der fora do período orçamentário, deve-se emitir


um empenho à conta de dotação própria de restituições e indenizações, onerando
a despesa orçamentária no exercício em que for autorizada a restituição.

DÍVIDA ATIVA

Para Kohama, “Constituem Dívida Ativa as importâncias relativas a tributos,


multas e créditos da Fazenda Pública, lançados mas não cobrados ou não
recebidos no prazo de vencimento, a partir da data de sua inscrição”.

Segundo Piscitelli “Dívida Ativa constitui-se nos créditos da Fazenda


Pública, tributários ou não que - não pagos no vencimento - são inscritos em
registro próprio, após apurados sua liquidez e certeza, de acordo com legislação
específica (Lei nº 4.320/64, art. 39, § 1º). A dívida ativa da União deve ser
apurada e inscrita na Procuradoria Geral da Fazenda Nacional. (Os Estados, DF e
Municípios dispõem dos órgãos correspondentes).

Para Piscitelli “É, pois, importante não confundir dívida ativa com dívida
passiva, em Contabilidade Pública. Dívida ativa compõe o ativo da União (ou
Estados/DF ou Municípios), são créditos que ela tem contra terceiros; dívida
passiva é a que constitui seu passivo, seus débitos com terceiros, cuja
terminologia - dívida - é a usual em Contabilidade Empresarial”.

De acordo com Piscitelli, “A inscrição, isto é, a constituição, a formalização,


o reconhecimento da obrigação perante o Tesouro, na Procuradoria, é condição
necessária para seu encaminhamento à cobrança judicial, à execução. A
inscrição se poderia fazer, teoricamente, logo após o vencimento. Na prática,
entretanto, tais procedimentos são demorados, realizando-se, às vezes, só no
exercício seguinte àquele do vencimento da obrigação. A praxe, todavia, é a de
se concederem 30 dias ao devedor, a partir do vencimento da obrigação
(cobrança amigável); daí seriam concedidos mais 30 dias para o encaminhamento
à cobrança judicial, isto é, para o início dos respectivos procedimentos requeridos,
através do encaminhamento à Procuradoria, órgão jurídico da Fazenda Pública”.
Por fim, Piscitelli enfatiza que: “Com a inscrição em dívida ativa é que se
registra, reconhece-se a receita, o que atende melhor ao regime de competência.
Este tratamento constitui uma exceção, pois o critério para o reconhecimento da
receita é ditado pelo regime de caixa. Isto reforça o que foi mencionado
anteriormente: o reconhecimento do crédito, no mundo contábil do Poder Público,
só se dá quando ocorre a inscrição em dívida ativa, ou seja, o desencadeamento
do processo para a cobrança judicial, o que também é revelador do caráter frágil
de realização da receita via administrativa.

Você também pode gostar