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CRÉDITO TRIBUTÁRIO

De acordo com os estudos do jurista Eduardo Sabbag (2017), o crédito tributário é


compreendido como uma obrigação tributária ativa. Isto é, o lançamento do tributo já foi
realizado e, por isso, inicia-se a exigibilidade deste montante. Nesse sentido, tem-se
que, com o lançamento, a obrigação se torna líquida e certa, na medida em que é
quantificada e qualificada, possibilitando, portanto, a sua cobrança pela Fazenda
Pública. Vale ressaltar, que o jurista afirma que seria justamente essa liquidez e certeza
do crédito que o diferencia da “obrigação tributária”.

Ademais, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), no julgamento do REsp 250.306/DF,


pacificou o entendimento de que “o crédito tributário não surge com o fato gerador. Ele
é constituído com o lançamento (artigo 142 do CTN)”.

Nessa perspectiva, define o artigo 142 do Código Tributário Nacional, que compete à
autoridade administrativa constituir o crédito tributário, através do lançamento, de modo
a verificar a ocorrência do fato gerador, determinar a matéria tributável, calcular o
montante devido, identificar o sujeito passivo e, caso necessário, aplicar a penalidade
apropriada.

Logo, o dispositivo traz uma série de comandos ao agente público pertinentes ao


lançamento do crédito. Sabbag (2017), define que a verificação do fato gerador seria o
ato de analisar a ocorrência de um fato da vida real, que já se encontra descrito na
norma tributária, ensejando o nascimento da obrigação. A determinação da matéria
tributável, refere-se à reprodução do elemento nuclear do tributo exigível, aferindo-se o
“an debeatur”. Já o cálculo do montante possibilita a averiguação do “quantum
debeatur”, tornando a obrigação líquida e certa. A identificação do sujeito passivo se dá
com a demarcação do indivíduo que sofrerá a sujeição descrita na norma. E, por fim, a
propositura da penalidade está ligada ao eventual descumprimento da obrigação
tributária, que dá à Administração Pública o condão de aplicar multas e demais sanções
ao sujeito passivo.

Ademais, no que tange ao lançamento, o legislador realizou a ressalva, no artigo de 145


do CTN, que, ainda que já constituído, é possível que se revise o lançamento notificado,
em três hipóteses. São elas: impugnação do sujeito passivo, compreendida como uma
espécie de defesa do contribuinte, nos casos em que ele discorde total ou parcialmente
do crédito; recurso de ofício, conhecido como “remessa necessária”, tranduzindo-se
numa reanálise pela própria Administração; e iniciativa de ofício da autoridade
administrativa, nos casos previstos no artigo 149, que se referem a outras nove
possibilidades de revisão ex officio do lançamento.

Além disso, explica Sabbag (2017) que o lançamento é ato privativo do Fisco. No
entanto, os particulares podem auxiliar em menor ou maior participação no ato de
constituição do crédito, a depender do tipo de lançamento. Essas espécies estão
presentes nos artigos 149, I, 147 e 150 do CTN.

O primeiro tipo, direto ou unilateral, é relativo ao lançamento pela autoridade fiscal,


através dos seus registros e dados, sem a ajuda do particular, como exemplo temos o
IPTU, IPVA, as taxas, Contribuição para o Serviço de Iluminação Pública (COSIP),
dentre outras.

Já o lançamento misto ou por declaração se dá com a prestação de informações pelo


contribuinte, sobre matérias de fato, e a realização do lançamento pela Administração,
visto que, nem sempre, o Poder Público disporá de dados suficientes para a constituição
do crédito. Como exemplos de tributos lançados por declaração, tem-se o Imposto sobre
a Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) e Imposto sobre Transmissão Causa mortis e
Doação (ITCMD).

Por outro lado, o terceiro e último tipo de lançamento, por homologação ou


autolançamento, é aquele em que o particular recolhe o tributo antecipadamente, com
base em um valor por ele mesmo mensurado, antes mesmo do exame pela
Administração. Após o recolhimento, cabe à autoridade realizar a conferência do volume
recolhido, exigindo, se for o caso, a sua complementação ou alteração. Essa hipótese
de lançamento, conforme afirma o jurista (2017), é a mais comum dentro os tipos, são
exemplos de tributos auto lançáveis: Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços (ICMS) e Imposto de Renda (IR).

Ademais, como as obrigações não são exigíveis ad aeternum, é necessário que se


aborde a decadência e prescrição do crédito tributário, institutos esses que, por decurso
de tempo, extinguem ou tornam inexigíveis os tributos.

A decadência baseia-se na extinção de um direito subjetivo que, na seara tributária, está


ligado ao lançamento do crédito. Ou seja, transcorrido o prazo decadencial, a
Administração não pode mais constituir o crédito, tampouco cobrá-lo, já que o
lançamento – responsável por tornar a obrigação ativa – não pode ser operacionalizado
mais. Nesse sentido, o artigo 173 do CTN, explicita que o prazo para lançamento, isto
é, decadencial, é de cinco anos. Cujo início se dá, no “primeiro dia do exercício seguinte
àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado” ou “da data em que se tornar
definitiva a decisão que houver anulado, por vício formal, o lançamento anteriormente
efetuado”.

Por sua vez, a prescrição só se dá após o lançamento do crédito, visto que está ligada
ao prazo para que a Fazenda Pública cobre, por meio de execução fiscal, o valor devido.
Sendo assim, a decadência e a prescrição não correm juntas, de modo que só se
observará esta última, se a decadência tiver sido superada/não tiver ocorrido. Caso
contrário, sequer será necessário analisar o prazo prescricional.

Nesse ínterim, dispõe o artigo 156, V, do CTN, que a prescrição é causa extintiva do
crédito tributário, relacionada à perda do direito de ação (actio nata), apresentando-se,
portanto, para Sabbag (2017), como uma figura de direito processual. Ocorrida a
prescrição, desaparece o direito de a Administração cobrar o crédito, através da
intervenção do Poder Judiciário. Logo, considera-se nula a execução baseada em título
prescrito. Nas palavras do jurista (2017, p. 1145): “A decadência supõe um direito que,
embora nascido, não se tornou efetivo pela falta de exercício”. Ademais, o referido prazo
é também de cinco anos, por força do artigo 174 do CTN, cuja contagem se dá da
“constituição definitiva do crédito tributário”.

Vale ressaltar que a prescrição está sujeita às causas de interrupção, as quais zeram o
quinquênio e retomam a contagem do início, favorecendo, portanto, o sujeito ativo da
cobrança e que não se confundem com as hipóteses de suspensão – elencadas no
artigo 151.

Assim, o parágrafo único do artigo 174, remonta os casos em que a prescrição se


interrompe pelo: I – pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal; II
- pelo protesto judicial; III - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
IV - por qualquer ato inequívoco ainda que extrajudicial, que importe em reconhecimento
do débito pelo devedor.

Por fim, defende Sabbag (2017), que em caso de pagamento de tributo pelo contribuinte,
cuja prescrição ou decadência tenha se operacionalizado, ele terá direito à restituição
dos valores pagos, dada a inexistência da obrigação e do próprio crédito, não havendo
razões para a Administração reter os valores. No entanto, destaca-se que uma minoria
de juristas entende que não poderia ocorrer a devolução de pagamentos relativos a
créditos prescritos, visto que essa hipótese de extinção exclui somente o direito de ação
e não a pretensão. Logo, não poderia a Fazenda mais cobrar judicialmente o crédito,
mas esta não perderia o direito de recebimento. Contudo, tal posicionamento não é o
adotado pelo CTN, tampouco pela maioria dos doutrinadores.
Referências: BRASIL. CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL. Dispõe sobre o Sistema
Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União,
Estados e Municípios.. Lei Nº 5.172, de 25 de Outubro de 1966;

SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 9. ed. São Paulo: Saraiva Jur, 2017.

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