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CARREIRAS

JURÍDICAS

CARREIRAS JURÍDICAS

DIREITO TRIBUTÁRIO

CAPÍTULO 4
Recado para você que está assistindo às videoaulas

Prezado aluno, a princípio, estamos trazendo algumas informações relevantes para você
que está assistindo às nossas videoaulas e complementará os estudos através do conteúdo do
nosso CERS Book. Portanto, você deve estar atento que:

O CERS book foi desenvolvido para complementar a aula do professor e te dar um suporte
nas revisões!

Um mesmo capítulo pode servir para mais de uma aula, contendo dois ou mais temas,
razão pela qual pode ser eventualmente repetido;

A ordem dos capítulos não necessariamente é igual à das aulas, então não estranhe se o
capítulo 03 vier na aula 01, por exemplo. Isto acontece porque a metodologia do CERS é baseada

no estudo dos principais temas mais recorrentes na sua prova de concurso público, por isso,
nem todos os assuntos apresentados seguem a ordem natural, seja doutrinária ou legislativa;

Esperamos que goste do conteúdo!

1
Assim, os assuntos de Direito Tributário estão distribuídos da seguinte forma:

CAPÍTULOS

Capítulo 1 – Tributos 


Capítulo 2 – PARTE 1 - O Estado e o poder de tributar. PARTE 2 -

Sistema Tributário Nacional
Capítulo 3 – Competência Tributária 

Capítulo 4 (você está aqui!) – PARTE 1 - Legislação Tributária 

Capítulo 5 – Responsabilidade Tributária 


Capítulo 6 – Crédito Tributário 

Capítulo 7 – Suspensão do Crédito Tributário 

Capítulo 8 – Extinção do Crédito Tributário 

Capítulo 9 – Exclusão do Crédito Tributário 

Capítulo 10 – Garantias e Privilégios do Crédito Tributário 


Capítulo 11 – Administração Tributária 

Capítulo 12 – Disposições Finais e Transitórias do CTN 


Capítulo 13 – Processo administrativo fiscal 
Capítulo 14 – Processo judicial tributário. Ações de iniciativa do fisco.

Ações de iniciativa do contribuinte
Capítulo 15 – Tributação internacional 
Capítulo 16 – Aspectos tributários da Lei de Responsabilidade Fiscal 
Capítulo 17 – Aspectos tributários da Lei de Diretrizes Orçamentárias 
Capítulo 18 – Aspectos tributários da Lei n° 4.320 
Capítulo 19 – Ilícito tributário. Ilícito e sanção. Ilícito administrativo

tributário. Ilícito penal tributário
Capítulo 20 – Sistema integrado de pagamento de impostos e

SIMPLES Nacional
Capítulo 21 – Lei Complementar n.º 116/2003 

2
SOBRE ESTE CAPÍTULO

Nesta primeira parte do quarto capítulo você estudará a vigência, a interpretação, a


integração e a aplicação da legislação tributária, perpassando as normas dedicadas a disciplinar
o tema, o entendimento da melhor doutrina e jurisprudência pertinente.

Ao operador do Direito é indispensável o conhecimento acerca do Direito Tributário e de


todo o conjunto das leis reguladoras da arrecadação dos tributos (taxas, impostos e contribuição
de melhoria), bem como de sua fiscalização, considerando as relações entre o fisco e as pessoas
sujeitas a imposições tributárias de qualquer espécie.

Atente que esta disciplina é especialmente exigida em certames para Procuradoria


Estadual, com recorrência relevante também em provas para a Magistratura Estadual, Federal
seguidos por Ministério Público e Defensoria Pública.

No Direito Tributário você deve privilegiar o estudo da Lei Seca, sendo certo que o
Examinador tem predileção por disposições objetivas da letra da lei. Todavia, não deve-se olvidar
da doutrina, especialmente quanto às questões conceituais, e da jurisprudência relativa aos
diversos temas que abrangem o plexo de relações jurídicas entre Estado e contribuinte.

Em razão da sua extensão, este segundo capítulo foi divido em duas partes de maneira
a otimizar a compressão dos importantes temas tratados e oferecer mais recursos de fixação da
matéria.

3
SUMÁRIO

DIREITO TRIBUTÁRIO .............................................................................................................................. 5

Capítulo 4 – Parte 01 .............................................................................................................................. 5

4. Legislação Tributária ........................................................................................................................ 5

4.1 Legislação ................................................................................................................................................................. 5

4.2 Vigência .................................................................................................................................................................. 12

4.2.1 Vigência no Tempo ........................................................................................................................................... 15

4.2.2 Vigência no Espaço ........................................................................................................................................... 16

4.3 Eficácia .................................................................................................................................................................... 18

4.3.1 O Princípio da Anterioridade e os Institutos Jurídicos da Vigência e Eficácia da Norma

Tributária ............................................................................................................................................................................ 18

4.4 Aplicação................................................................................................................................................................ 19

4.5 Integração e Interpretação............................................................................................................................. 23

4.5.1 Métodos de Interpretação ............................................................................................................................. 31

QUADRO SINÓPTICO ............................................................................................................................ 40

QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 43

GABARITO ............................................................................................................................................... 77

QUESTÃO DESAFIO ................................................................................................................................ 78

GABARITO QUESTÃO DESAFIO ........................................................................................................... 79

LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................... 80

JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 82

MAPA MENTAL ...................................................................................................................................... 85

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 86

4
DIREITO TRIBUTÁRIO

Capítulo 4 – Parte 01

Nesta primeira parte do quarto capítulo você estudará a vigência, a interpretação, a


integração e a aplicação da legislação tributária, perpassando as normas dedicadas a disciplinar

o tema, o entendimento da melhor doutrina e jurisprudência pertinente.

4. Legislação Tributária

4.1 Legislação

A princípio, antes de adentrar na disciplina legal acerca da vigência, a interpretação, a


integração e a aplicação da legislação tributária, você precisa compreender o que se entende

pela expressão legislação tributária.

O Código Tributário Nacional, em seu art. 96, dispõe que essa expressão “compreende as
leis, os tratados e as convenções internacionais, os decretos e as normas complementares que

versem, no todo ou em parte, sobre tributos e relações jurídicas a eles pertinentes”.

A esse respeito, Regina Helena Costa (2018) ensina:

Cuida-se, desse modo, de conceito abrangente, pois a noção de legislação tributária abarca
atos normativos de diversas naturezas, cujo ponto comum é o objeto – o regime jurídico
dos tributos e das relações jurídicas a eles referentes.

Ainda no CTN, o art. 97 arrola a disciplina tributária dependente de lei. O princípio da


legalidade, enunciado genericamente no art. 5º, II, e o princípio da legalidade tributária,

estampado no art. 150, I, ambos da CR,191 antecipam o seu conteúdo1. Leia com atenção:

1
Vide questões 3 e 4
5
Art. 97. Somente a lei pode estabelecer:

I - a instituição de tributos, ou a sua extinção;

II - a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39,
57 e 65;

III - a definição do fato gerador da obrigação tributária principal, ressalvado o disposto no


inciso I do § 3º do artigo 52, e do seu sujeito passivo;

IV - a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo, ressalvado o disposto nos


artigos 21, 26, 39, 57 e 65;

V - a cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus dispositivos,


ou para outras infrações nela definidas;

VI - as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos tributários, ou de dispensa


ou redução de penalidades.

§ 1º Equipara-se à majoração do tributo a modificação da sua base de cálculo, que importe


em torná-lo mais oneroso.

§ 2º Não constitui majoração de tributo, para os fins do disposto no inciso II deste artigo,
a atualização do valor monetário da respectiva base de cálculo.

Em razão das normas constitucionais reproduzidas por esse dispositivo, todo o

regramento das relações jurídico-tributárias há de ser efetuado mediante lei.

Ainda, o CTN, em seu art. 98, estabelece que a eficácia dos tratados e convenções
internacionais em matéria tributária, nos seguintes termos:

Art. 98. Os tratados e as convenções internacionais revogam ou modificam a legislação


tributária interna, e serão observados pela que lhes sobrevenha 2.

Os tratados internacionais, nele incluídas as convenções e atos internacionais, são celebrados

pelo Presidente da República e sujeitos a referendo do Congresso Nacional, conforme disposto


no art. 84, VIII, da Lei Maior.

2
Vide questão 7
6
De outra parte, o art. 49, I, da Carta Constitucional dispõe que compete exclusivamente ao

Congresso Nacional resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que
acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional.

Ainda, preceitua a Lei Maior a respeito de tratados internacionais:

Art. 5º (…) § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros
decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais
em que a República Federativa do Brasil seja parte.

§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem


aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos
votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.

É importante que você saiba que a interpretação da norma contida no art. 98, CTN, gerou

controvérsias nos últimos anos notadamente no que se refere à sua constitucionalidade.

Há diversas vertentes de pensamento acerca do status dos tratados internacionais ante a


legislação interna no direito internacional.

No Direito Tributário, de igual modo, várias correntes de pensamento pretendem explicar

em que medida normas tributárias introduzidas por meio de tais atos normativos sobrepõem-
se à legislação interna.

Costa (2018) aponta que a importância do tema exsurge do fato de que o efeito mais danoso

da pluritributação internacional é a não observância do princípio da capacidade contributiva,


uma vez que Estados soberanos, obviamente, observarão seus próprios sistemas tributários,

desconhecendo os alheios.

Assim, entenda que a celebração de tratados internacionais objetiva atenuar este efeito,
mediante a concessão de isenções e outros benefícios fiscais, bem como a eliminação de

barreiras alfandegárias e restrições à circulação de mercadorias, com vista a facilitar o comércio


exterior3.

3
Vide questão 17
7
Este item é recorrente em provas de concursos públicos. Vejamos como ele cobrado em certame
para Juiz Federal do TRF da 2ª Região em 2014.

Sobre os tratados internacionais em matéria tributária, assinale a opção correta:

A) Os tratados internacionais firmados entre a República Federativa do Brasil e outros países

com a finalidade de evitar a bitributação prevalecerão em relação à legislação tributária ordinária


tão logo seus instrumentos sejam depositados no âmbito internacional.

B) Os tratados internacionais firmados entre a República Federativa do Brasil e outros países

com a finalidade de evitar a bitributação deverão prevalecer em relação à legislação tributária


ordinária, assim que seja aprovada a necessária Resolução do Congresso Nacional que os

homologue internamente.

C) Os tratados internacionais firmados com a finalidade de evitar a bitributação entre dois países,
após aprovação em dois turnos em ambas as casas do Congresso Nacional, deverão prevalecer

em relação à legislação tributária ordinária e servirão de parâmetro para o controle de sua


constitucionalidade.

D) Os tratados internacionais firmados com a finalidade de evitar a bitributação entre dois países,

uma vez assinados e devidamente publicado o Decreto Legislativo respectivo, deverão prevalecer
em relação à legislação tributária ordinária.

E) Os tratados internacionais, assinados pela República Federativa do Brasil com o objetivo de

evitar a dupla tributação em relação a outros países, não deverão prevalecer em relação à
legislação tributária ordinária.

Vamos à resolução da questão. A assertiva que a responde corretamente é a letra D, posto que

o texto constitucional em seu art. 49 estabelece ser de competência exclusiva do Congresso


8
Nacional “resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais, que acarretem

encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional”.

Nos casos em que a Constituição confere ao Congresso Nacional competência exclusiva para
versar sobre dada matéria, o veículo normativo a ser utilizado é o Decreto Legislativo, de modo

diverso do que ocorre com a Resolução, veículo adequado a legislar sobre matéria exclusiva de
uma das casas do Congresso (Câmara dos Deputados ou Senado).

O papel constitucional do Presidente da República, no caso, consiste em “celebrar tratados,

convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional” conforme


ditamas do art. 84, VIII.

Esta alternativa traz o verbo no futuro e não pretendeu discutir o momento da inserção do texto

no ordenamento brasileiro. De outro lado, inviável deturpá-la e discutir especialidade, já que a


pergunta, em si, já se refere ao tema especial da bitributação.

A assertiva A está incorreta, posto que somente após a sua homologação interna o tratado

internacional poderá gerar efeitos no Ordenamento Jurídico Brasileiro.

A letra B também é incorreta, visto que o instrumento adequado para a homologação interna é
o Decreto Legislativo e não a Resolução, que, por sua vez, não pode ser expedida pelo

Congresso Nacional, mas ora pela Câmara dos Deputados, ora pelo Senado.

Já a assertiva C é incorreta porque os tratados internacionais que se sujeitam ao § 3º do artigo


5º da Constituição são somente aqueles que versem sobre Direitos Humanos.

Por fim, a alternativa E também é incorreta, porque contraria o disposto no artigo 98 do CTN.

A redação do dispositivo agora discutido carece de acuidade técnica, pois os tratados e

convenções internacionais não “revogam” a legislação interna.

Ainda segundo Costa (2018), o que de fato ocorre é que as normas contidas em tais atos,
por serem especiais, prevalecem sobre a legislação interna, afastando sua eficácia no que

9
com esta forem conflitantes, por meio do critério da especialidade para a solução de conflitos

normativos.

Deste modo, essa eficácia fica preservada para todas as demais situações não contempladas
nos atos internacionais.

Uma das questões controversas é se, celebrado tratado internacional conferindo isenção, esta
somente aplica-se a tributos da União, posto que a Constituição veda a concessão de isenção

heterônoma em seu art. 151, III, ou se a exoneração pode alcançar tributos das demais pessoas
políticas.

Nesse quesito, a resposta é afirmativa, porquanto a União, ao celebrar tratado internacional, não

figura como ente federativo, mas representa o Estado brasileiro como ente soberano. O recente
posicionamento do STF nesse sentido deverá pôr fim à controvérsia, ao menos no plano

jurisprudencial.

O art. 99 do CTN prevê o seguinte:

Art. 99. O conteúdo e o alcance dos decretos restringem-se aos das leis em função das
quais sejam expedidos, determinados com observância das regras de interpretação
estabelecidas nesta Lei.

Observe que, nesse caso, também se apresenta preceito meramente didático, posto que
assim seria mesmo diante do silêncio do CTN.

Você sabe que os decretos constituem atos administrativos e, deste modo, infralegais, ou

seja, são subordinados à lei, que lhes é hierarquicamente superior, em razão da sujeição da

10
Administração Pública ao princípio da legalidade previsto no art. 37, caput, da Constituição

Federal.

É por esse motivo que a Carta Magna define competir privativamente ao Presidente da
República expedir decretos e regulamentos para a fiel execução das leis, como reza o art. 84,

IV.

Entende? Desse modo, o alcance de seus efeitos é limitado à margem de liberdade que a lei
outorgar ao administrador, a qual, em matéria tributária, é bastante limitada.

No art. 100, o CTN contempla a expressão de natureza abrangente “normas


complementares”. Veja o dispõe o dispositivo:

Art. 100. São normas complementares das leis, dos tratados e das convenções
internacionais e dos decretos:

I - os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas;

II - as decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa, a que a lei


atribua eficácia normativa;

III - as práticas reiteradamente observadas pelas autoridades administrativas;

IV - os convênios que entre si celebrem a União, os Estados, o Distrito Federal e os


Municípios.

Parágrafo único. A observância das normas referidas neste artigo exclui a imposição de
penalidades, a cobrança de juros de mora e a atualização do valor monetário da base de
cálculo do tributo4.

Dentre as normas complementares, atente para os atos normativos, quais sejam, as


instruções, portarias, ordens de serviço, circulares, avisos etc, expedidos pela Administração Fiscal

objetivando oferecer orientações aos agentes públicos a respeito do processo de


interpretação e aplicação das leis tributárias.

Infelizmente, conforme aponta Costa (2018) há a prática reiterada, de, por meio dos referidos

atos, expedirem-se normas que, sob o pretexto de propiciarem a adequada execução da lei

4
Vide questão 6
11
tributária, geram deveres ou impõem restrições a direitos nela não previstos, pelo que acabam

por vulnerá-la, diante de sua manifesta incompatibilidade.

A autora ainda critica o dispositivo por não incluir no rol de normas complementares a
jurisprudência consolidada, isto é, aquela firmada nos tribunais superiores, após a análise

reiterada de casos semelhantes.

Nesse sentido:

Pense-se, por exemplo, em inconstitucionalidade de tributo declarada em caráter


definitivo, pelo Supremo Tribunal Federal, em sede de controle difuso, em diversas ações.
Quando tal ocorre, não obstante, a Administração Tributária, frequentemente, continua a
exigir o tributo reconhecidamente inconstitucional, em evidente ofensa ao princípio da
moralidade administrativa. Medida visando conter essa prática é a súmula vinculante,
instituída pela Lei n. 11.417, de 2006.

4.2 Vigência

Segundo Eduardo Marcial Ferreira Jardim, “vigência” significa a própria existência da


norma jurídica.

Assim, se considera vigente a norma que ganha existência no mundo do direito. Em outras

palavras, é aquela que seguiu o procedimento traçado aplicável a uma das modalidades
normativas específicas, culminando com a publicação.

À vista disso, o autor aponta que a norma existente é dotada de vigência,

independentemente da eficácia ou da validade, pois aquela diz respeito à aptidão para


desencadear os efeitos jurídicos pertinentes, enquanto esta refere-se ao traço de conformidade

da norma com o sistema jurídico.

A esse respeito Paulsen ensina que:

A vigência da legislação tributária segue as regras gerais estabelecidas na LINDB, de modo


que, salvo disposição em contrário, inicia 45 dias após a publicação. Embora seja comum
a cláusula de vigência imediata, o art. 8 o da LC 95/98 determina que a lei conceda “prazo
razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula ‘entra em vigor
na data da sua publicação’ para as leis de pequena repercussão”.

12
Conforme o CTN, os atos administrativos, salvo disposição em contrário, entram em vigor
na data da publicação (art. 103, I), e as decisões normativas, 30 dias após a publicação
(art. 103, II).

Ademais, impende que se observem as garantias constitucionais de anterioridade de


exercício (art. 150, III, a) e nonagesimal (arts. 150, III, b, e 195, § 6 o ), aplicáveis à instituição
e à majoração dos tributos.

Para fixar, leia o que Jardim (2019):

A vigência é requisito de eficácia, com a qual não se confunde, sendo que ambas, também,
não interferem na validade, tanto que, por exemplo, uma norma existente, portanto
vigente, em despeito de ser eventualmente inválida, pode ser eficaz, facultado ao seu
destinatário, logicamente, questioná-la perante os órgãos competentes.

A este grupo conceptual agrega-se também o conceito de aplicação da norma, o qual,


embora revestindo significado próprio, culmina por enlaçar-se às noções precedentes, na
medida em que representa a concretização do direito ao recair sobre uma situação
particularizada.

Assim, a norma pode apresentar variáveis vide os exemplos a seguir:

NORMA VIGENTE

Eficaz Lei básica do IPVA.


VÁLIDA
Ineficaz Art. 205, parágrafo único, CTN.

Contribuição para o salário-educação, embora


Eficaz
exigível, contraria a constituição.
INVÁLIDA
Diploma normativo ilegal, cuja eficácia se encontra
Ineficaz
condicionada ao princípio da anterioridade.

NORMA NÃO MAIS VIGENTE

Norma cuja exigibilidade seja cumprida após a sua


revogação, seja pelo decurso de prazo nela previsto,
VÁLIDA Eficaz
seja por pendência judicial. Nesse caso a exigência
se opera com fulcro na época da ocorrência do fato

13
jurídico tributário, segundo os termos da norma
então a viger.
Norma estabelecedora de alíquota zero na área do
Ineficaz
IPI e que tenha sido revogada.
Resolução n. 1.154/86 do Conselho Monetário
Nacional, que instituiu o “encargo financeiro de
Eficaz
viagem internacional”, com relação aos casos sub
INVÁLIDA
judice (legislação já revogada).

Ineficaz O mesmo diploma, a contar de sua revogação.

Esquematizemos para fixar:

VÁLIDA VIGENTE EFICAZ

•Sob o ponto de vista técnico- •É a lei que terminou seu ciclo •É a lei que está completamente
jurídico, é a lei constltuclonal de produção, foi publicada, apta a gerar imediatamente os
(formal e materialmente). existe juridicamente, e já atingiu efeitos jurídicos pretendidos
o term·o porventura pelo legislador. Para ser
determinado pelo legislador considerada eficaz, é necessário
para possuir força de atingir também que a lei não tenha
seus objetivos finais, apesar de sido declarada inconstitucional
ser possível a existência de pelo STF em sede de controle
algum outro requisito para a concentrado, ou suspensa pelo
efetiva produção de efeitos. Senado Federal, após declaração
Para estar vigente, também é de inconstitucionalidade pelo
necessário que a lei não tenha STF em sede de controle difuso.
sido revogada.

14
4.2.1 Vigência no Tempo

A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro estabelece, tratando da vigência da lei


no tempo, em seu art. 1º, que, “salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o

país 45 (quarenta e cinco) dias depois de oficialmente publicada”.

Este intervalo temporal entre a publicação da lei e o termo inicial de sua vigência é chamado
de vacatio legis. É comum que as leis disponham em seu último artigo que entram em vigor

na data de sua publicação, afastando, deste modo, a aplicação dessa norma supletiva.

Especificamente no âmbito da legislação tributária, o Código Tributário Nacional dispõe em


seu art. 103, acerca das normas supletivas indicativas de termos iniciais de vigência de diversas

normas complementares:

Art. 103. Salvo disposição em contrário, entram em vigor:

I – os atos administrativos a que se refere o inciso I do art. 100, na data da sua publicação;

II – as decisões a que se refere o inciso II do art. 100, quanto a seus efeitos normativos,
30 (trinta) dias após a data da sua publicação;

III – os convênios a que se refere o inciso IV do art. 100, na data neles prevista 5.

Este disposto, portanto, afasta a disciplina da Lei de Introdução às Normas do Direito


Brasileiro.

Mas preste atenção! Na hipótese de tais normas não indicarem o termo inicial de sua
vigência, aplica-se o art. 1º da LINDB – ou seja, entrarão em vigor quarenta e cinco dias após
sua publicação.

Por sua vez, o CTN em seu art. 104 estabelece que entram em vigor no primeiro dia do
exercício seguinte àquele em que ocorra sua publicação, os dispositivos de lei referentes a
impostos sobre o patrimônio ou a renda:

1. Que instituem ou majoram tais impostos;

5
Vide questões 13 e 19
15
2. Que definem novas hipóteses de incidência;

3. Que extinguem ou reduzem isenções, salvo se a lei dispuser de maneira mais


favorável ao contribuinte, e observado o disposto no art. 178.

Eduardo Marcial Ferreira Jardim aponta que é facilmente perceptível que esse dispositivo
tem seu conteúdo esvaziado a teor dos princípios da anterioridade genérica e especial da lei

tributária, hospedados no art. 150, III,b e c, CR, ainda mais abrangentes, ao prescreverem ser
vedado às pessoas políticas “cobrar tributos:

b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou

aumentou;

c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os
instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b.

Você já sabe que o regramento deflagrado pelas referidas normas constitucionais consiste

em que, uma vez publicada a lei tributária que institua ou aumente tributo, ela entra em vigor
no mesmo exercício financeiro, mas sua eficácia está postergada ao exercício financeiro seguinte,

respeitado o decurso de noventa dias.

4.2.2 Vigência no Espaço

Seguindo, vamos partir para a análise das disposições que tratam da vigência das leis no

espaço, que, por sua vez, orienta-se pelo princípio da territorialidade. Portanto, a lei de cada
pessoa política vigora apenas nos limites de seu território.

Jardim (2019) explica que essa noção prestigia a autonomia das pessoas políticas e, em

consequência, a própria Federação.

Não olvide, no entanto, que há situações nas quais a ideia de extraterritorialidade é que
se aplica6.

6
Vide questão 18
16
No texto da Constituição Federal encontram-se algumas delas, como faz o legislador

constituinte ao proclamar que o ICMS incide sobre operações relativas à circulação de


mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de

comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior, nos termos do art.
155, II.

Também se observa isso no caso da entrada de bem ou mercadoria importados do exterior

por pessoa física ou jurídica, ainda que não seja contribuinte habitual do imposto, qualquer que
seja a sua finalidade, assim como sobre o serviço prestado no exterior, cabendo o imposto ao

Estado onde estiver situado o domicílio ou o estabelecimento do destinatário da mercadoria,


bem ou serviço, como prevê o art. 155, § 2º, IX.

O caráter excepcional da extraterritorialidade da lei tributária está previsto no teor do art.

102, CTN, que dispõe que “a legislação tributária dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios vigora, no País, fora dos respectivos territórios, nos limites em que lhe reconheçam

extraterritorialidade os convênios de que participem, ou do que disponham esta ou outras leis


de normas gerais expedidas pela União”.

A pluritributação internacional é tema que merece sua atenção. Como exemplo, observe o

caso da tributação da renda quando um cidadão brasileiro obtém rendimentos no exterior. Pode
ocorrer, então, que ambos os países – o da fonte pagadora e o do domicílio do sujeito passivo

– pretendam tributar os mesmos rendimentos.

Por esse motivo, celebram-se tratados internacionais com o objetivo de evitar a dupla
tributação por meio do critério da reciprocidade, mediante o emprego de várias técnicas

legislativas para o alcance desse objetivo – desoneração, compensação etc.

17
4.3 Eficácia

Ensina Maria Helena Diniz que “a eficácia vem a ser a qualidade do texto normativo vigente
de poder produzir, ou irradiar, no seio da coletividade, efeitos jurídicos concretos, supondo,

portanto, não só a questão de sua condição técnica de aplicação, observância, ou não, pelas
pessoas a quem se dirige, mas também de sua adequação em face da realidade social, por ele

disciplinada, e aos valores vigentes na sociedade, o que conduziria ao seu sucesso”.

Como base nesse conceito e no material já apresentado, você pode concluir que uma norma
pode estar em vigor, mas não ser ainda eficaz.

É o que se verifica frequentemente com a lei tributária: publicada a norma, esta passa a viger

– quase sempre, a partir da mesma data da publicação –, sem irradiar efeitos concretos no ano
da publicação, até que, respeitados os interregnos anual e nonagesimal, a norma passa a

juridicamente incidir

4.3.1 O Princípio da Anterioridade e os Institutos Jurídicos da


Vigência e Eficácia da Norma Tributária

A Constituição Federal relaciona o princípio da anterioridade tributária à ideia de


publicação da norma, a partir da qual se estipulará o prazo de espera – anual ou nonagesimal
– para a sua incidência.

Sabbag (2016) observa que, de maneira análoga, os institutos jurídicos da vigência e eficácia

da lei, longe de passarem ao largo da discussão da anterioridade tributária, aproximam-se do


tema com expressiva intimidade, como ingredientes indispensáveis à precisa demarcação do
momento da incidência da lei instituidora e majoradora do tributo.

A princípio, é importante que você entenda que o princípio da anterioridade está ligado à
noção de eficácia da lei, enquanto a vigência conecta-se com a irretroatividade tributária, já
estudado anteriormente.

18
A geração de efeitos da lei tributária, na esteira de sua eficácia, ocorrerá no 1º dia do exercício
financeiro seguinte ao da lei instituidora ou majoradora do gravame, respeitada a noventena,

não importando, em tese, para tal constatação, a noção de vigência

Nesse sentido, como é fato notório que quase a totalidade das leis tributárias entram em
vigor na própria data da publicação, permite-se o cálculo da anterioridade anual, por exemplo,

valendo-se de simples operação, apontada por Sabbag:

Publicação e
Eficácia = Ano
Vigência (mesma
(X+1)
data) = Ano (X)

4.4 Aplicação

A aplicação da legislação alude ao mecanismo de efetivação e de positivação do direito.

Paulo de Barros Carvalho aponta que a aplicação das normas representa o ponto terminal

de produção do direito, que tem início a partir da norma fundamental e por meio de um
processo derivativo se desdobra até incidir num caso particular.

19
O Código Tributário Nacional trata do tema nos arts. 105 e 106 do título Aplicação da

Legislação Tributária.

O primeiro dispositivo consagra a irretroatividade como postulado matriz7, ao dispor:

Art. 105. A legislação tributária aplica-se imediatamente aos fatos geradores futuros e aos
pendentes, assim entendidos aqueles cuja ocorrência tenha tido início mas não esteja
completa nos termos do art. 116”.

Já o art. 106 do Código Tributário Nacional cuida da retroação da norma e enuncia os casos
excepcionalíssimos em que a legislação tributária opera efeitos ex tunc. Veja:

Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito:

I - em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída a aplicação de


penalidade à infração dos dispositivos interpretados;

II - tratando-se de ato não definitivamente julgado:

a) quando deixe de defini-lo como infração;

b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão,


desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de
tributo;

c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo da
sua prática.

Vamos esquematizar para fixar:

7
Vide Questão 11
20
Em qualquer caso,
quando seja
expressamente
interpretativa, excluída Quando deixe de
a aplicação de defini-lo como infração
penalidade à infração
dos dispositivos
interpretados
HIPÓTESES DE
RETROAÇÃO DA
NORMA TRIBUTÁRIA Quando deixe de tratá-
lo como contrário a
qualquer exigência de
Tratando-se de ato não ação ou omissão,
definitivamente desde que não tenha
julgado: sido fraudulento e não
tenha implicado em
falta de pagamento de
tributo

Quando lhe comine


penalidade menos
severa que a prevista
na lei vigente ao
tempo da sua prática

21
Repare que a referida retroatividade guarda harmonia om o princípio da irretroatividade da

lei, na dimensão em que não incide sobre o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a
coisa julgada.

Eduardo Ferreira Jardim (2019) aponta que a primeira hipótese cogitada pelo comando

analisado dispõe sobre a retroatividade da lei meramente interpretativa, desde que esta não
imponha penalidades.

Importante salientar que a lei interpretativa não cria direito novo, mas tão somente explicita

mandamentos fluidos ou vagos ou mesmo obscuros da lei interpretada.

A segunda mensagem contida no dispositivo analisado dispõe sobre a retroatividade

benigna em relação ao ato que não tenha sido julgado em caráter definitivo e prevê a sua
aplicação em duas situações:

 Quando a lei deixar de considerar o ato ou fato pretérito como infração, desde que
não tenha havido fraude ou falta de pagamento de tributo,

 Quando a lei nova estabelecer penalidade menos severa que a lei anterior.

Essa segunda hipótese guarda semelhanças com o comando previsto no art. 2º, parágrafo
único, do Código Penal, ao passo que as duas situações questionadas gravitam sob a égide da

retroatividade benigna, também denominada lex mitior.

22
4.5 Integração e Interpretação

O Código Tributário Nacional, em seu art. 108, trata da integração da legislação tributária,
isto é, sobre o que fazer no caso de ausência de disposição expressa acerca de determinada

questão.

Vamos à indispensável leitura do referido dispositivo:

Art. 108. Na ausência de disposição expressa, a autoridade competente para aplicar a


legislação tributária utilizará sucessivamente, na ordem indicada:

I - a analogia;

II - os princípios gerais de direito tributário;

III - os princípios gerais de direito público;

IV - a eqüidade.

§ 1º O emprego da analogia não poderá resultar na exigência de tributo não previsto em


lei.

§ 2º O emprego da eqüidade não poderá resultar na dispensa do pagamento de tributo


devido8.

Como você viu, o dispositivo elenca quatro métodos de integração: a analogia, os princípios

gerais de direito tributário, os princípios gerais de direito público e a equidade 9.

O artigo determina a aplicação sucessiva de tais mecanismos, de maneira que a analogia


teria preferência.

8
Vide questão 15
9
Vide questão 1
23
Vejamos como este assunto foi cobrado em concurso público. A FCC, em certamente realizado
em 2019 para Defensor Público da DPE-SP questionou:

Com relação ao sistema tributário nacional, é correto afirmar:

A) Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo

lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a presumir a ocorrência


do fato gerador da obrigação correspondente, arbitrar a matéria tributável, calcular o

montante do tributo que entende devido, indicar o sujeito passivo e, sendo o caso, propor a
aplicação da penalidade cabível.

B) A autoridade competente para interpretar a legislação tributária utilizará sucessivamente, na

ordem indicada: a analogia, os princípios gerais de direito tributário, os princípios gerais de


direito público e a jurisprudência.

C) O lançamento regularmente notificado ao sujeito passivo não pode ser alterado por

iniciativa de ofício da autoridade administrativa, mesmo que se comprove que ocorreu falta
funcional da autoridade que o efetuou.

D) Segundo a Constituição Federal de 1988, o Poder Executivo pode, nas condições e nos

limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas ou as bases de cálculo do imposto de


importação, a fim de ajustá-lo aos objetivos da política cambial e do comércio exterior.

E) Segundo o Código Tributário Nacional, entram em vigor, no primeiro dia do exercício

seguinte àquele em que ocorra a sua publicação, os dispositivos de lei referentes a impostos
sobre o patrimônio ou a renda, que extinguem ou reduzem isenções.

Neste quesito, o examinador exige conhecimento a respeito da letra de lei prevista no CTN

para chegar à resposta correta.


24
A primeira alternativa está incorreta pois altera o teor do art. 142 do CTN. Em vez de

"presumir", a lei prevê é "verificar". Em vez de "arbitrar", o correto é "determinar", entre outras
modificações. Incorre a letra B.

Tal ordem está prevista no art. 108, do CTN. Todavia, não há previsão da jurisprudência. A

ordem correta é: analogia, princípios gerais do direito tributário, princípios gerais do direito
público e equidade.

Incorreta a assertiva C. O art. 145, CTN prevê hipóteses em que o lançamento regularmente

notificado pode ser alterado de ofício. O inciso III desse dispositivo remete para o art. 149,
CTN.

Entre os incisos do art. 149, o inciso IX prevê alteração do lançamento quando ocorrer fraude

ou falta funcional da autoridade.

A letra D também está errada. O art. 153, §1º, da Constituição prevê que é facultado ao Poder
Executivo alterar apenas as alíquotas, e não a base de cálculo do Imposto de Importação.

Por fim, correto o previsto na alternativa E. O enunciado é a literalidade do art. 104, III, do
CTN, que prevê o princípio da anterioridade do exercício.

No entanto, disposição semelhante ocorre no âmbito constitucional, de maneira mais ampla

(não só aos impostos sobre renda e patrimônio), no art. 150, III, b, da CRFB/88.

Princípios Princípios
gerais de gerais de
Analogia Equidade
Direito Direito
Tributário Público

25
Mas, preste atenção! Ainda que o CTN pareça hierarquizar os modos de integração da legislação
tributária, na verdade, esta hierarquização se mostra adequada, e não pode ser considerado

de modo rígido.

Isso porque a integração do ordenamento é atividade complexa, e incumbe ao aplicador analisar


a pertinência de cada método em face da existência ou não de dispositivo para hipótese

semelhante, de estarem ou não em questão valores que desafiem a construção de solução


específica para o caso com suporte nos princípios de direito tributário e de direito público e

das circunstâncias peculiares que não tenham sido levadas em consideração pelo legislador.

A interpretação da legislação tributária é dotada de grande complexidade, não sendo cabível


pressupor a viabilidade de simplificar a postura do exegeta como se pudesse se orientar sempre

em favor do contribuinte, por considerar a tributação como ingerência odiosa sobre o


patrimônio privado, em favor do Fisco, em atenção às exigências financeiras do Estado ou à

suposta supremacia do interesse público, ou, ainda, pela literalidade da lei, segundo Paulsen
(2019).

Não há que se falar em interpretação restritiva, em interpretação extensiva nem em interpretação

declaratória ou literal, mas apenas em interpretação como atividade complexa.

26
Efetivamente, na interpretação da legislação tributária, inclusive os princípios gerais de direito

privado serão relevantes, segundo dispõe de maneira expressa os abaixo transcritos arts. 109 e
110 do CTN. Preste muita atenção ao que dispõe os dispositivos. Sua recorrência é grande

em certames públicos!

Art. 109. Os princípios gerais de direito privado utilizam-se para pesquisa da definição,
do conteúdo e do alcance de seus institutos, conceitos e formas, mas não para
definição dos respectivos efeitos tributários.

Art. 110. A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos,
conceitos e formas de direito privado, utilizados, expressa ou implicitamente, pela
Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas do Distrito
Federal ou dos Municípios, para definir ou limitar competências tributárias 10.

Este tema foi cobrado em certame feito pela VUNESP no ano de 2019 no TJ-AC para o

cargo de Juiz de Direito Substituto. Vejamos como o Examinador abordou o tema.

Assinale a alternativa correta quanto às regras de interpretação da legislação tributária.

A) O emprego da equidade poderá resultar na dispensa do pagamento de tributo devido, desde


que no curso de fiscalização.

B) O emprego da analogia poderá resultar na exigência de tributo não previsto em lei, observado

o princípio da anterioridade.

C) Os princípios gerais de direito privado utilizam-se para pesquisa da definição de seus


institutos, conceitos e formas e para definição dos respectivos efeitos tributários.

10
Vide questões 2 e 14
27
D) A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos de direito

privado, utilizados, expressa ou implicitamente, pela Constituição Federal.

Para responder esta questão, a Banca Examinadora exige conhecimento a respeito da letra de
lei prevista no CTN. Vamos à análise das alternativas.

A assertiva A está incorreta. Não poderá resultar na dispensa do pagamento de tributo devido.
Nesse sentido, o CTN dispõe o seguinte:

Art. 108. § 2º O emprego da eqüidade não poderá resultar na dispensa do pagamento de


tributo devido.

Incorreto o disposto na assertiva B, posto que o uso da analogia não poderá resultar na exigência
de tributo não previsto em lei. Vejamos o que prevê o CTN:

Art. 108, § 1º O emprego da analogia não poderá resultar na exigência de tributo não
previsto em lei.

A assertiva C está incorreta. Os princípios gerais de direito privado podem ser utilizados para

pesquisa da definição, do conteúdo e do alcance de seus institutos, conceitos e formas. Como


exemplo, tem-se que a definição de "propriedade" importada do direito civil pode ser utilizada

para que seja definido o contribuinte do IPTU.

Mas atente que os princípios gerais de direito privado não podem ser utilizados para definição
dos respectivos efeitos tributários. É o caso, por exemplo, da lei tributária que deve definir os

efeitos de uma pessoa ser proprietária de um imóvel em uma zona urbana para cobrança de
IPTU, e não os princípios gerais do direito privado.

Nesse sentido, o CTN:

Art. 109. Os princípios gerais de direito privado utilizam-se para pesquisa da definição, do
conteúdo e do alcance de seus institutos, conceitos e formas, mas não para definição dos
respectivos efeitos tributários.

Por derradeiro, em harmonia com o disposto no Código Tributário Nacional, correto o que se

afirma na assertiva D. Vejamos:

28
Art. 110. A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos,
conceitos e formas de direito privado, utilizados, expressa ou implicitamente, pela
Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas do Distrito
Federal ou dos Municípios, para definir ou limitar competências tributárias.

O art. 111 do CTN determina que se interprete literalmente a legislação tributária que

disponha sobre a suspensão ou exclusão do crédito tributário, a outorga de isenção e a dispensa


do cumprimento de obrigações tributárias acessórias11. Preste máxima atenção ao que dispõe

este dispositivo pois ele é muito bem quisto pelas bancas organizadoras de concursos públicos.

Vamos a sua leitura:

Art. 111. Interpreta-se literalmente a legislação tributária que disponha sobre:

I - suspensão ou exclusão do crédito tributário;

II - outorga de isenção;

III - dispensa do cumprimento de obrigações tributárias acessórias.

Leandro Paulsen (2019) explica que o dispositivo tem sido severamente criticado por ser, ele
próprio, interpretado literalmente. Segundo o autor:

O que se extrai como norma do art. 111 não é a vedação à utilização dos diversos
instrumentos que nos levam à compreensão e à aplicação adequada de qualquer
dispositivo legal, quais sejam, as interpretações histórica, teleológica, sistemática, a
consideração dos princípios etc.

Traz, isto sim, uma advertência no sentido de que as regras atinentes às matérias
arroladas devem ser consideradas como regras de exceção, aplicáveis nos limites
daquilo que foi pretendido pelo legislador, considerando-se as omissões como “silêncio
eloquente”, não se devendo integrá-las pelo recurso à analogia.

Há de se considerar, por certo, as circunstâncias do caso concreto, pois há princípios


constitucionais inafastáveis na aplicação do direito, como a razoabilidade e a
proporcionalidade.

11
Vide questões 8, 12 e 16
29
No que diz respeito à isenção, para militares e policiais, de taxa de expedição de certificado de
registro de arma de fogo, estabelecida pelo art. 11, § 2º, da Lei n. 10.826/03, o STJ entendeu

que, na ausência de referência legal expressa, não é possível estendê-la aos inativos, devendo
alcançar “apenas a esfera jurídica dos policiais no exercício efetivo do cargo”.

Segundo Paulsen (2019) há uma perspectiva, também correta, para a invocação do art. 111 do

CTN a favor dos contribuintes. O autor se refere à exigência, pela autoridade fiscal, como
condição para o reconhecimento de isenção, suspensão ou exclusão do crédito tributário ou

para dispensa do cumprimento de obrigações acessórias, de requisitos não previstos em lei.

Ao referir-se à literalidade da legislação que disponha sobre tais matérias, resta claro que os
requisitos também deverão constar expressamente da lei, não tendo o Executivo espaço para

nenhuma regulamentação inovadora.

Não há, portanto, como se pretender atribuir à interpretação da legislação tributária um


caráter restritivo nem extensivo, mas conforme a vontade do legislador e o que se possa

extrair da lei. Interpreta-se a legislação tributária como se interpreta o ordenamento jurídico

em geral.

O CTN dispõe, ainda, em seu art. 112, que a lei tributária que define infrações, ou lhe comina

penalidades, interpreta-se da maneira mais favorável ao acusado12, em caso de dúvida quanto


à capitulação legal do fato, à sua natureza ou circunstâncias materiais, ou à natureza ou extensão

12
Vide questão 5
30
dos seus efeitos, à autoria, imputabilidade ou punibilidade, ou à natureza da penalidade aplicável

ou à sua graduação.

Vejamos a literalidade da lei:

Art. 112. A lei tributária que define infrações, ou lhe comina penalidades, interpreta-se da
maneira mais favorável ao acusado, em caso de dúvida quanto:

I - à capitulação legal do fato;

II - à natureza ou às circunstâncias materiais do fato, ou à natureza ou extensão dos seus


efeitos;

III - à autoria, imputabilidade, ou punibilidade;

IV - à natureza da penalidade aplicável, ou à sua graduação.

Paulsen (2019), tratando do dispositivo acima elencado, explica que, embora cuide da
interpretação da lei punitiva, refere-se, verdadeiramente, à sua aplicação aos casos concretos,

conforme se vê pelo rol de hipóteses constante dos seus incisos.

Observe que não há que se falar em dúvida quanto à lei, na medida em que o seu alcance
é definido pelo Judiciário através da aplicação dos diversos critérios de interpretação.

Pode existir dúvida quanto aos atos praticados pelo contribuinte e suas características, com

repercussão no seu enquadramento legal.

Por isso não se aplicar a penalidade ou o agravamento no caso de dúvida, ou seja, de não
ter sido apurada a infração de modo consistente pelo Fisco a ponto de ensejar convicção plena
quanto à ocorrência e características da infração.

4.5.1 Métodos de Interpretação

A palavra interpretação tem múltiplos significados. Podendo significar a atividade do


intérprete, ou o resultado desta.

31
Não trata apenas das normas jurídicas, mas de tudo quanto possa ser objeto do

conhecimento humano.

Deste modo, a interpretação é parte da ciência jurídica que estuda os métodos e processos
lógicos que visam a definir o conteúdo e o alcance das normas jurídicas.

A interpretação das normas jurídicas pode ser considerada em sentido amplo, como a busca
de uma solução para um caso concreto, e em sentido restrito, como a busca do significado de
uma norma.

Neste último sentido, a interpretação pode ser considerada insuficiente, na medida em que
se entenda não existir no sistema jurídico uma norma para o caso que se tem a resolver.

De acordo com a doutrina tradicional, interpretação é atividade lógica pela qual se determina

o significado de uma norma jurídica.

O intérprete não cria, não inova, limitando-se a considerar o mandamento legal em toda a
sua plenitude, declarando-lhe o significado e o alcance.

Luiz Felipe Silveira define a interpretação como “atividade que visa à busca do sentido e

alcance de um texto legal. É a atividade lógica pela qual se busca determinar o sentido de uma
regra jurídica.”

A interpretação legislativa pode ser feita de diversas maneiras. Sabbag (2017) ensina que

pode-se interpretar a lei, conforme:

A. A fonte

B. Os meios adequados para sua exegese

C. Os resultados da exegese.

Vamos aprofundar o exame destas formas interpretativas.

No que diz respeito à fonte da lei, a interpretação pode ser: autêntica, jurisprudencial e
doutrinária. Vejamos.

32
Autêntica ou legal: é o mecanismo de interpretação da lei por intermédio de outra lei.

Quando uma nova lei é editada, esclarecendo o teor da lei anterior, diz-se que se tem a
interpretação autêntica ou legal.

Assim, no processo autêntico de exegese, a fonte é a própria “lei”, cabendo a atividade

hermenêutica ao Poder Legislativo.

Ensina Sabbag (2017):

Conquanto se saiba que tal interpretação seja necessária para retirar as obscuridades da
norma interpretada, têm-se presenciado certos abusos do Poder Legislativo que, a pretexto
de interpretar, perpetra modificações substanciais na lei interpretada.

Tal dinâmica veicula insegurança jurídica aos destinatários da norma, além de se mostrar
violadora de direitos e garantias.

Atente que a etiquetagem da lei como “interpretativa” legitima seus efeitos pretéritos nos termos
do inciso I do art. 106 do CTN. Deste modo, uma “falsa lei interpretativa”, modificando relações
jurídicas já consagradas no plano da interpretação, mostra-se potencialmente danosa à relação

de lealdade que deve reger o convívio entre cidadão-contribuinte e Estado-tributante.

Carlos Maximiliano explica de modo didático:

“O ideal do Direito, como de toda ciência, é a certeza, embora relativa; pois bem, a forma
autêntica de exegese oferece um grave inconveniente – a sua constitucionalidade posta
em dúvida por escritores de grande prestígio. Ela positivamente arranha o princípio de
Montesquieu; ao Congresso incumbe fazer as leis; ao aplicador (Executivo e Judiciário) –
interpretá-las.

33
A exegese autêntica transforma o legislador em juiz; aquele toma conhecimento de casos
concretos e procura resolvê-los por meio de uma interpretação geral”.

Roque Antonio Carrazza entende que a lei interpretativa elaborada pelo Poder Legislativo

é inconstitucional e se trata de “‘desvio de poder’ no exercício da função legislativa”.

Seguindo, o mecanismo jurisprudencial ou judicial é o processo de interpretação


baseado no posicionamento reiterado dos Tribunais, ou seja, na jurisprudência.

Deste modo, a fonte, nesse caso, é a jurisprudência. Tal atividade exegética compete aos

Tribunais.

Indo além o método interpretativo doutrinário, como se depreende do nome, se baseia


nas conclusões dos estudiosos da disciplina jurídica, caracterizando-se como um produto da

expertise dos cientistas do Direito que realizam o trabalho exegético partindo-se dos princípios
da Ciência do Direito.

Neste caso, a fonte é a própria doutrina. A interpretação doutrinária compete aos

doutrinadores e estudiosos da matéria. I

Quanto aos meios adequados para sua exegese, a interpretação pode ser: gramatical, lógica,
histórica, teleológica, sistemática e evolutiva. Vejamos alguns aprofundamentos pertinentes.

A princípio trataremos da interpretação chamada literal ou gramatical que constitui, em

verdade, tão somente na etapa inicial do processo interpretativo. A ela deve seguir-se o
emprego de autênticos métodos de interpretação.

Segundo Ricardo Alexandre:

“A interpretação literal ou gramatical leva em conta exclusivamente o rigoroso significado


léxico das palavras constantes do texto legal, sem considerar qualquer outro valor. O CTN
exige que as normas que versem sobre determinados conteúdos sejam interpretadas
literalmente”.

Atente a este ponto. A interpretação sistemática, no Direito contemporâneo, juntamente


com o método teleológico, revela-se um dos métodos interpretativos mais importantes.

34
Advém da aplicação do princípio da unidade do ordenamento jurídico, segundo o qual

não se pode compreender uma de suas normas isoladamente do contexto em que se insere.

Roque Carrazza, nesse sentido:

“A interpretação sistemática, embora parta da interpretação gramatical, vai além desta,


uma vez que, após atentar para as palavras da lei, acaba por estabelecer o sentido
objetivamente válido dum preceito ou disposição jurídica levando em conta todo o Direito.
Estabelecendo um paralelo, temos que uma melodia não pode ser captada se
considerarmos apenas a soma das sensações correspondentes a cada nota; é necessário
apreciá-la como conjunto organizado”.

Neste método, o significado da palavra depende do contexto da frase em que está inserida,
e o da própria frase, muitas vezes, depende do contexto maior em que se encarta.

Do mesmo modo, o significado da norma, pela mesma razão, depende do contexto em que se

insere.

Luiz Felipe Silveira aduz que “busca-se integrar sob interpretação dentro do sistema jurídico
a que pertence e dele extrair conclusão compatível com o conjunto do ordenamento
naquele ramo do direito preceito de sob interpretação utilizada. É método de interpretação
mais valioso que a simples interpretação literal”.

Portanto, nesse método, procede-se à comparação da lei interpretada com outras leis e com o

ordenamento jurídico como um todo, para que a eles harmonicamente se ajustem.

Por sua vez, a interpretação teleológica guarda relação com o espírito e a finalidade da
norma.
35
Com efeito, tratando deste método, Regina Helena Costa (2018) ensina que a interpretação

de norma jurídica deve considerar, antes de qualquer outro aspecto, sua finalidade, os objetivos
que, por meio dela, pretende-se sejam alcançados.

Trata-se do método interpretativo mais consentâneo com a eficácia social da norma, vale

dizer, com a produção de efeitos in concreto, por ocasião da sua aplicação.

Eduardo Sabbag ensina que neste método “trata-se de processo investigativo que prima
pela busca da finalidade da norma, concentrando-se no resultado colimado pela lei.”

Para concretizá-lo, o intérprete e o aplicador da lei devem buscar a sensibilidade necessária


para captar a real finalidade da norma, visando à execução da vontade do Estado nela contida.

É oportuno que você saiba, no que diz respeito à interpretação teleológica, o que preceitua a
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, que, em seu art. 5º, estatui que o juiz, na
aplicação da lei, atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum.

Deste modo, o magistrado, ao aplicar a norma constitucional, deve, do mesmo modo, observar
a finalidade socialmente desejada a ser alcançada, sempre atentando ao interesse coletivo. Os
princípios que a Carta Constitucional traz no seu art. 3º como vetores do Estado brasileiro,

devem auxiliá-lo nessa tarefa.

Sobre o tema, continua Costa (2018):

Não obstante dirigido ao juiz, cremos que o preceito legal apontado também opera como
diretriz para o administrador público, que, como aplicador da lei, de ofício, deve, no

36
exercício da função administrativa, considerar os fins sociais a que a norma se dirige e as
exigências do interesse público. Desse modo, o administrador tributário há de pautar-se
pelos mesmos parâmetros.

Seguindo, no método histórico o sentido da norma é buscado com o exame da situação

a que ela se refere através dos tempos. Isso se dá investigando o Direito anterior, comparando
a norma atual com a que lhe antecedeu no regramento do assunto e buscando subsídios

também nos trabalhos de elaboração da norma.

Em um sistema jurídico como o brasileiro, examinam-se o anteprojeto de lei, as emendas


sofridas, os debates parlamentares, e, finalmente, todo o processo legislativo.

Luiz Felipe Silveira ensina que neste método “procura se situar no contexto histórico do
tempo de elaboração da lei e desvendar, pelas ideias vigentes àquele momento e pelos debates
legislativos sobre sua elaboração, qual objetivo visado pela norma”.

Outro método interpretativo que merece menção é o evolutivo, este específico das normas

constitucionais.

Luís Roberto Barroso define-o como:

“Um processo informal de reforma do texto constitucional, consistente na atribuição de


novos conteúdos à norma constitucional, sem modificação de seu teor literal, em razão de
mudanças históricas ou de fatores políticos e sociais que não estavam presentes nas
mentes dos constituintes”.

Este método é aplicável a normas constitucionais que contenham conceitos


indeterminados, cuja elasticidade permita comportar mais de um significado, podendo, com o

decorrer do tempo, sofrer mutação no seu sentido e alcance.

Como exemplo, observe o caso do conceito de livro para efeito da imunidade contemplada
no art. 150, VI, d, CR.

Quanto aos resultados da exegese, a interpretação pode ser declarativa, extensiva ou

restritiva. Sobre tais métodos, vejamos o que ensina Sabbag (2017).

37
Declarativa: por esse processo interpretativo, procura-se, tão somente, “declarar” o

pensamento do legislador.

Extensiva: também conhecida por interpretação ampliativa, busca ampliar o sentido do texto
para abranger hipóteses semelhantes.

Por meio desse processo exegético, almeja-se alcançar a ratio legis, ou seja, o sentido veraz
da norma, incluindo hipóteses em seu campo de incidência.

Pelo mecanismo ampliativo, deve o exegeta proceder a uma análise latitudinária da norma

interpretada.

Restritiva: também intitulada interpretação literal, contrapõe-se à interpretação ampliativa


(ou extensiva), anteriormente estudada.

Por esse método, a incidência da lei não poderá ir “além” da fórmula ou hipótese

expressas em seu texto, ficando afastados os critérios de integração da norma, previstos no


art. 108 do CTN.

Em outras palavras, onde exsurge a interpretação literal, sucumbe a interpretação extensiva.

A interpretação literal tem respaldo no art. 111 do CTN, já transcrito anteriormente neste
capítulo.

38
Autêntica

Fonte da lei Jurisprudencial

Doutrinária

Gramatical

Lógica

Histórica
INTERPRETAÇÃO Meios adequados
LEGISLATIVA para sua exegese
Teleológica

Sistemática

Evolutiva

Declarativa

Resultados da
Extensiva
exegese

Restritiva

39
QUADRO SINÓPTICO

LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA

I - a instituição de tributos, ou a sua extinção;


II - a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o
disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65;
III - a definição do fato gerador da obrigação tributária
principal, ressalvado o disposto no inciso I do § 3º do artigo
Somente a lei pode 52, e do seu sujeito passivo;
estabelece: IV - a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo,
ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65;
V - a cominação de penalidades para as ações ou omissões
contrárias a seus dispositivos, ou para outras infrações nela
definidas;
LEGISLAÇÃO VI - as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos
TRIBUTÁRIA tributários, ou de dispensa ou redução de penalidades.

I - os atos normativos expedidos pelas autoridades


administrativas;
São normas II - as decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição
complementares administrativa, a que a lei atribua eficácia normativa;
das leis, dos III - as práticas reiteradamente observadas pelas autoridades
tratados e das administrativas;
convenções IV - os convênios que entre si celebrem a União, os Estados, o
internacionais e Distrito Federal e os Municípios.
dos decretos: A observância dessas normas referidas neste artigo exclui a
imposição de penalidades, a cobrança de juros de mora e a
atualização do valor monetário da base de cálculo do tributo.

 Vigência significa a própria existência da norma jurídica.

VIGÊNCIA
 A norma existente é dotada de vigência, independentemente da eficácia ou da
validade.

40
No âmbito da legislação tributária, o Código Tributário Nacional dispõe em seu art.
103, acerca das normas supletivas indicativas de termos iniciais de vigência de
diversas normas complementares.

Salvo disposição em contrário, entram em vigor:


I. Os atos administrativos a que se refere o inciso I do art. 100, na data da sua
publicação;

II. As decisões a que se refere o inciso II do art. 100, quanto a seus efeitos
normativos, 30 (trinta) dias após a data da sua publicação;

III. Os convênios a que se refere o inciso IV do art. 100, na data neles prevista .

Na hipótese de tais normas não indicarem o termo inicial de sua vigência, aplica-se o
art. 1º da LINDB – ou seja, entrarão em vigor quarenta e cinco dias após sua
publicação

Por sua vez, o CTN em seu art. 104 estabelece que entram em vigor no primeiro dia
do exercício seguinte àquele em que ocorra sua publicação, os dispositivos de lei
referentes a impostos sobre o patrimônio ou a renda:

1. Que instituem ou majoram tais impostos;


2. Que definem novas hipóteses de incidência;
3. Que extinguem ou reduzem isenções, salvo se a lei dispuser de maneira mais
favorável ao contribuinte, e observado o disposto no art. 178.

 A vigência das leis no espaço orienta-se pelo princípio da territorialidade.


 Portanto, a lei de cada pessoa política vigora apenas nos limites de seu território.
 Não olvide, no entanto, que há situações nas quais a ideia de extraterritorialidade
é que se aplica

 Qualidade do texto normativo vigente de poder produzir, ou irradiar, no seio da


EFICÁCIA
coletividade, efeitos jurídicos concretos

41
Em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa,
excluída a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos
interpretados

 Quando deixe de defini-lo


como infração
HIPÓTESES DE
RETROAÇÃO DA
 Quando deixe de tratá-lo
APLICAÇÃO NORMA
como contrário a qualquer
TRIBUTÁRIA
exigência de ação ou
omissão, desde que não
Tratando-se de ato não tenha sido fraudulento e
definitivamente julgado: não tenha implicado em
falta de pagamento de
tributo

 Quando lhe comine


penalidade menos severa
que a prevista na lei
vigente ao tempo da sua
prática

Na ausência de
disposição expressa,
a autoridade
1. a analogia
INTEGRAÇÃO E competente para
2. os princípios gerais de direito tributário
INTERPRETAÇÃO aplicar a legislação
3. os princípios gerais de direito público
tributária utilizará
4. a equidade
sucessivamente, na
ordem indicada:

42
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(FCC - 2019 - DPE-SP - Defensor Público) Com relação ao sistema tributário nacional, é correto

afirmar:

A) Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo


lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a presumir a ocorrência

do fato gerador da obrigação correspondente, arbitrar a matéria tributável, calcular o montante


do tributo que entende devido, indicar o sujeito passivo e, sendo o caso, propor a aplicação da

penalidade cabível.

B) A autoridade competente para interpretar a legislação tributária utilizará sucessivamente, na


ordem indicada: a analogia, os princípios gerais de direito tributário, os princípios gerais de

direito público e a jurisprudência.

C) O lançamento regularmente notificado ao sujeito passivo não pode ser alterado por iniciativa
de ofício da autoridade administrativa, mesmo que se comprove que ocorreu falta funcional da

autoridade que o efetuou.

D) Segundo a Constituição Federal de 1988, o Poder Executivo pode, nas condições e nos limites
estabelecidos em lei, alterar as alíquotas ou as bases de cálculo do imposto de importação, a

fim de ajustá-lo aos objetivos da política cambial e do comércio exterior.

43
E) Segundo o Código Tributário Nacional, entram em vigor, no primeiro dia do exercício seguinte

àquele em que ocorra a sua publicação, os dispositivos de lei referentes a impostos sobre o
patrimônio ou a renda, que extinguem ou reduzem isenções.

Comentário:

Neste quesito, o examinador exige conhecimento a respeito da letra de lei prevista no CTN
para chegar à resposta correta.

A primeira alternativa está incorreta pois altera o teor do art. 142 do CTN. Em vez de

"presumir", a lei prevê é "verificar". Em vez de "arbitrar", o correto é "determinar", entre


outras modificações. Incorre a letra B.

Tal ordem está prevista no art. 108, do CTN. Todavia, não há previsão da jurisprudência. A

ordem correta é: analogia, princípios gerais do direito tributário, princípios gerais do direito
público e equidade.

Incorreta a assertiva C. O art. 145, CTN prevê hipóteses em que o lançamento regularmente

notificado pode ser alterado de ofício. O inciso III desse dispositivo remete para o art. 149,
CTN.

Entre os incisos do art. 149, o inciso IX prevê alteração do lançamento quando ocorrer

fraude ou falta funcional da autoridade.

A letra D também está errada. O art. 153, §1º, da Constituição prevê que é facultado ao
Poder Executivo alterar apenas as alíquotas, e não a base de cálculo do Imposto de

Importação.

Por fim, correto o previsto na alternativa E. O enunciado é a literalidade do art. 104, III, do
CTN, que prevê o princípio da anterioridade do exercício.

No entanto, disposição semelhante ocorre no âmbito constitucional, de maneira mais

ampla (não só aos impostos sobre renda e patrimônio), no art. 150, III, b, da CRFB/88.

44
Questão 2

(VUNESP - 2019 - TJ-AC - Juiz de Direito Substituto) Assinale a alternativa correta quanto às

regras de interpretação da legislação tributária.

A) O emprego da equidade poderá resultar na dispensa do pagamento de tributo devido, desde


que no curso de fiscalização.

B) O emprego da analogia poderá resultar na exigência de tributo não previsto em lei, observado

o princípio da anterioridade.

C) Os princípios gerais de direito privado utilizam-se para pesquisa da definição de seus


institutos, conceitos e formas e para definição dos respectivos efeitos tributários.

D) A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos de direito

privado, utilizados, expressa ou implicitamente, pela Constituição Federal.

Comentário:

Para responder esta questão, o examinador exige conhecimento a respeito da letra de lei

prevista no CTN. Vamos à análise das alternativas.

A assertiva A está incorreta. Não poderá resultar na dispensa do pagamento de tributo


devido. Nesse sentido, o CTN dispõe o seguinte:

Art. 108. § 2º O emprego da eqüidade não poderá resultar na dispensa do pagamento

de tributo devido.

Incorreto o disposto na assertiva B, posto que o uso da analogia não poderá resultar na
exigência de tributo não previsto em lei. Vejamos o que prevê o CTN:

Art. 108, § 1º O emprego da analogia não poderá resultar na exigência de tributo não
previsto em lei.

A assertiva C está incorreta. Os princípios gerais de direito privado podem ser utilizados

para pesquisa da definição, do conteúdo e do alcance de seus institutos, conceitos e


45
formas. Como exemplo, tem-se que a definição de "propriedade" importada do direito

civil pode ser utilizada para que seja definido o contribuinte do IPTU.

Mas atente que os princípios gerais de direito privado não podem ser utilizados para
definição dos respectivos efeitos tributários. É o caso, por exemplo, da lei tributária que

deve definir os efeitos de uma pessoa ser proprietária de um imóvel em uma zona urbana
para cobrança de IPTU, e não os princípios gerais do direito privado.

Nesse sentido, o CTN:

Art. 109. Os princípios gerais de direito privado utilizam-se para pesquisa da definição,
do conteúdo e do alcance de seus institutos, conceitos e formas, mas não para definição
dos respectivos efeitos tributários.

Por derradeiro, em harmonia com o disposto no Código Tributário Nacional, correto o


que se afirma na assertiva D. Vejamos:

Art. 110. A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos,

conceitos e formas de direito privado, utilizados, expressa ou implicitamente, pela


Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas do Distrito
Federal ou dos Municípios, para definir ou limitar competências tributárias.

Questão 3

(VUNESP - 2019 - TJ-AC - Juiz de Direito Substituto) A respeito da hierarquia das normas
tributárias no ordenamento jurídico brasileiro, é correto afirmar, com base no Código Tributário
Nacional (CTN), que

A) as normas gerais contidas no CTN podem ser alteradas por lei ordinária, apesar da aprovação
desse código como lei complementar.

B) por ser materialmente lei ordinária, o CTN pode ser modificado livremente por medida
provisória posterior que o contrarie.

46
C) o CTN é formalmente lei ordinária, mas materialmente lei complementar, motivo pelo qual

apenas pode ser alterado por lei complementar no que refere às normas gerais sobre tributação.

D) o CTN é formalmente lei complementar, mas materialmente lei ordinária, motivo pelo qual
pode ser alterado por lei ordinária no que refere às normas gerais sobre tributação.

Comentário:

O gabarito da questão é a letra C. O CTN é formalmente lei ordinária, Lei 5.172/66, criado
sob a égide da Constituição de 1946, mas recepcionado pela Constituição de 1967, com

status de lei complementar, mantido esse status com o advento da Constituição Federal
de 1988.

Ricardo Alexandre aponta que a teoria da recepção, segundo a qual as normas

materialmente compatíveis com a nova Constituição seriam por esta recepcionadas,


passando a ter o mesmo status da espécie legislativa exigida pela nova Carta para

disciplinar a matéria.

Assim, recepcionada uma lei ordinária que trata de uma matéria cuja disciplina o novo
ordenamento atribui à lei complementar, a lei ordinária não deixa de ser ordinária, mas

passa a ter status de lei complementar, somente podendo ser revogada ou alterada por
esta espécie normativa.

Assim, é correto afirmar que as normas gerais em matéria tributária constante do CTN

têm, hoje, status de lei complementar, só podendo ser alteradas por lei complementar.
Mas é errado afirmar que o CTN é lei complementar.

Enfim, a maneira correta de se referir ao fenômeno ocorrido com o CTN é afirmar que foi

editado como lei ordinária (Lei 5.172/1966), tendo sido recepcionado com força de lei
complementar pela Constituição Federal de 1967, e mantido tal status com o advento da

Constituição Federal de 1988, visto que, tanto esta quanto aquela Magna Carta reservaram

47
à lei complementar a veiculação das normas gerais em matéria tributária, a regulação das

limitações ao poder de tributar e as disposições sobre conflitos de competência.

Questão 4

(VUNESP - 2019 - TJ-AC - Juiz de Direito Substituto) Considerando o disposto no texto


constitucional sobre as garantias asseguradas aos contribuintes, é correto afirmar que

A) a instituição dos emolumentos cartorários pelo tribunal de justiça não viola o princípio da
reserva legal.

B) infringe os princípios da anterioridade e o da vedação de delegação legislativa, decreto

estadual que modifica a data de vencimento de tributo de competência do Estado.

C) a imunidade tributária é matéria a ser tratada por norma constitucional, enquanto que a
isenção pode ser criada por lei.

D) não viola a Constituição a mera concessão de isenção tributária à operação de aquisição de

automóveis por oficiais de justiça estaduais.

Comentário:

Errada a assertiva A com base no entendimento jurisprudencial da Suprema Corta.

Vejamos:

“Ofende o princípio da reserva legal e invade a competência suplementar conferida à


Assembleia Legislativa, o Provimento do Poder Judiciário Estadual que dispõe sobre

fixação e cobrança de emolumentos relativos a serviços cartorários” (STF. Plenário. ADI


1.709/MT, rel. Min. Maurício Corrêa, j. 15.12.1997).

48
Incorreto que se afirma a alternativa B por contrariar o enunciado 50 da súmula vinculante

que prevê: "Norma legal que altera o prazo de recolhimento de obrigação tributária não
se sujeita ao princípio da anterioridade".

“Não se compreendendo no campo reservado à lei a definição de vencimento das

obrigações tributárias, legítimo o Decreto 34.677/1992, que modificou a data de


vencimento do ICMS. Improcedência da alegação no sentido de infringência ao princípio

da anterioridade e da vedação de delegação legislativa” (STF. 1ª Turma. RE 182.971, rel.


Min. Ilmar Galvão, j. 05.08.1997).

O gabarito da questão é a alternativa C, pois guarda compatibilidade com o Art. 146,

caput e II, da Constituição, segundo o qual cabe à lei complementar regular as limitações
constitucionais ao poder de tributar (como imunidades).

Ainda:

Art. 150, §6º, da CF: Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão

de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições,


só poderá ser concedido mediante lei específica, federal, estadual ou municipal, que

regule exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o correspondente tributo ou


contribuição, sem prejuízo do disposto no art. 155, § 2.º, XII, g.

Incorreto o item D, conforme entendimento jurisprudencial do STF. Vejamos:

“Concessão de isenção à operação de aquisição de automóveis por oficiais de justiça


estaduais. (...) A isonomia tributária (CF, art. 150, II) torna inválidas as distinções entre
contribuintes "em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida", máxime

nas hipóteses nas quais, sem qualquer base axiológica no postulado da razoabilidade,
engendra-se tratamento discriminatório em benefício da categoria dos oficiais de justiça

estaduais” (STF. Plenário. ADI 4.276/MT, rel. Min. Luiz Fux, j. 20.08.2014).

Questão 5

49
(VUNESP - 2018 - TJ-MT - Juiz Substituto) O direito tributário possui autonomia disciplinar

em relação a outros campos do direito, na medida em que possui princípios próprios e formas
de aplicação de suas normas específicas. Sobre este tema, é correto afirmar, com base no Código

Tributário Nacional, que

A) a legislação tributária aplica-se imediatamente aos fatos geradores futuros e aos pendentes,
assim entendidos aqueles cuja ocorrência tenha tido início mas não esteja completa nos termos

da lei.

B) na ausência de disposição expressa, a autoridade competente para aplicar a legislação


tributária utilizará sucessivamente, a analogia, os princípios gerais de direito tributário, a

equidade e os princípios gerais de direito público.

C) os princípios gerais de direito privado utilizam-se para pesquisa da definição, do conteúdo e


do alcance de seus institutos, conceitos e formas, bem como para a definição dos respectivos

efeitos tributários.

D) se interpreta de forma ampla a legislação tributária que disponha sobre suspensão ou


exclusão do crédito tributário.

E) a lei tributária que define infrações, ou lhe comina penalidades, interpreta-se da maneira mais

favorável ao sujeito ativo, em caso de dúvida quanto à capitulação legal do fato.

Comentário:

Correto o que se afirma na assertiva A. Nesse sentido, o CTN dispõe:

Art. 105. A legislação tributária aplica-se imediatamente aos fatos geradores futuros e aos
pendentes, assim entendidos aqueles cuja ocorrência tenha tido início mas não esteja
completa nos termos do artigo 116.

50
Incorreta a assertiva B. O artigo traz a literalidade do art. 108 do CTN. O erro da questão

foi trocar a ordem dos dois últimos; aplica-se primeiro os princípios gerais de direito,
depois a equidade.

Errada a letra C. Efetivamente, o direito tributário se apropria de alguns institutos privados,

mas os efeitos tributários é só ele, o direito tributário, quem pode definir. Como
decorrência desse artigo, não pode o direito tributário, por exemplo, ampliar

indevidamente um instituto privado com o único fim de cobrar um tributo – como ocorreu
na tentativa de se cobrar ISS de contratos de locação (enunciado 31 da súmula vinculante).

Nesse sentido:

Art. 109, CTN. Os princípios gerais de direito privado utilizam-se para pesquisa da

definição, do conteúdo e do alcance de seus institutos, conceitos e formas, mas não para
definição dos respectivos efeitos tributários.

A letra D está incorreta. De acordo com o art. 111, I, do CTN, a interpretação é literal.

Por fim, incorreta a letra E. Vejamos o CTN:

Art. 112. A lei tributária que define infrações, ou lhe comina penalidades, interpreta-se da
maneira mais favorável ao acusado, em caso de dúvida quanto:

I - à capitulação legal do fato;

Questão 6

(FCC - 2018 - MPE-PB - Promotor de Justiça Substituto) O art. 3º do Código Tributário

Nacional estabelece que tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo
valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada

mediante atividade administrativa plenamente vinculada. Desta definição de tributo, infere-se,


por via indireta, que as penalidades, que representam sanção por ato ilícito, não se classificam
como tributos. Não obstante isso, o mesmo CTN alberga diversas regras concernentes às
penalidades, notadamente às penalidades pecuniárias. De acordo com este Código,

51
A) a cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias a dispositivos legais devem
obedecer ao princípio da legalidade, da anterioridade nonagesimal (noventena), mas não da
anterioridade anual.

B) quando lei nova cominar penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo
da prática infracional, esta lei nova será aplicada, sempre, ao ato ou fato pretérito.

C) a observância das normas complementares das leis, dos tratados e das convenções

internacionais e dos decretos exclui a imposição de penalidades, a cobrança de juros de mora


e a atualização do valor monetário da base de cálculo do tributo.

D) a lei tributária que comina penalidades deve ser interpretada, sempre, de maneira mais

favorável ao acusado considerado legalmente pobre, no que diz respeito à dosimetria da pena
atribuída a ele, e quanto à natureza ou às circunstâncias materiais do fato.

E) quando se comprove ação ou omissão do sujeito passivo que dê lugar à aplicação de

penalidade pecuniária, o lançamento será efetuado de ofício, pela autoridade administrativa, ou


por homologação, como acontece no lançamento do ICMS.

Comentário:

Para chegar à alternativa correta o Examinador exige que você tenha domínio do teor de
diversos dispositivos do CTN que tratam da interpretação das normas tributárias. Vamos
à análise das alternativas.

Incorreta a letra A. Em relação às penalidades pecuniárias, apenas deve ser observado o


princípio da legalidade, nos termos do art. 97, V, CTN.

A alternativa B está incorreta. Não é sempre que esta lei nova será aplicada ao ato ou

fato pretérito. O art. 106, II, c, CTN prevê que apenas se aplica retroativamente quando a
penalidade for menos severa e ainda não estiver definitivamente julgado.

52
A assertiva C está correta, em harmonia com o art. 100, CTN, que prescreve no parágrafo

único que a observância das normas complementares e das convenções internacionais


exclui a imposição de penalidades, cobrança de juros de mora e atualização monetária.

Incorreta a letra D. Não é sempre que será interpretada de maneira mais favorável ao

acusado considerado legalmente pobre. Vejamos:

Artigo 112 do CTN. A lei tributária que define infrações, ou lhe comina penalidades,
interpreta-se da maneira mais favorável ao acusado, em caso de dúvida quanto:

I - à capitulação legal do fato;

II - à natureza ou às circunstâncias materiais do fato, ou à natureza ou extensão dos seus


efeitos;

III - à autoria, imputabilidade, ou punibilidade;

IV - à natureza da penalidade aplicável, ou à sua graduação..

Letra E incorreta. Nesse caso não há lançamento por homologação, mas apenas por ofício,

na forma prevista no art. 149, VI, CTN.

Questão 7

(TRF - 3ª REGIÃO - 2018 - TRF - 3ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto) Indique a afirmação
INCORRETA:

A) Os tratados internacionais para evitar a dupla tributação prevalecem sobre a legislação interna
brasileira.

B) O aplicador da lei não pode empregar a analogia para exigir tributo não previsto em lei.

C) A compensação pode ser promovida pelo sujeito passivo, mesmo sem lei que a preveja,
desde que seja realizada entre tributos e contribuições da mesma espécie.

53
D) A moratória suspende a exigibilidade do crédito tributário.

Comentário:

Neste quesito também o Examinador cobrou conhecimento da letra da Lei do CTN.

Correta a assertiva A. Prevê o artigo 98 do CTN: Os tratados e as convenções

internacionais revogam ou modificam a legislação tributária interna, e serão observados


pela que lhes sobrevenha. A prevalência de tratados internacionais não configura afronta
à autonomia dos Estados e Municípios pela União, porque a celebração dos atos

internacionais não é atividade desempenhada pela União na qualidade de pessoa jurídica


de direito público interno, mas pelo Estado brasileiro – como ente soberano e pessoa

jurídica de direito público externo.

Também correta a letra B. É o que prevê o artigo 108, §1º, do CTN. Permitir o emprego
de analogia para cobrar tributos não previstos em lei seria uma forma de burlar o princípio

da legalidade.

A letra C está incorreta e, portanto, é o gabarito da questão. Conforme orientação


consolidada do STJ, a compensação de créditos tributários só pode ser feita quando

houver lei específica autorizadora (STJ. 1ª Turma. RMS 31.816/PR, rel. Min. Luiz Fux, j.
14.09.2010).

Por fim, correta a letra D. Na forma do artigo 151 do CTN, suspendem a exigibilidade do

crédito tributário:

(i) a moratória,

(ii) o depósito em seu montante integral,

(iii) as reclamações e os recursos (mesmo intempestivos), nos termos das leis reguladoras

do PAD tributário,

(iv) a concessão de medida liminar em mandado de segurança,

54
(v) a concessão de medida liminar ou tutela antecipada em outras espécies de ação

judicial e

(vi) o parcelamento.

Questão 8

(TRF - 3ª REGIÃO - 2018 - TRF - 3ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto) Indique a afirmação

INCORRETA:

A) Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa
exprimir, instituída em lei, que não constitua sanção por ato ilícito.

B) Medida provisória pode estabelecer a extinção de tributo.

C) Lei que disponha sobre outorga de isenção deve ser interpretada literalmente.

D) Os decretos restringem o conteúdo e o alcance das leis em função das quais são expedidos.

Comentário:

A assertiva A está correta. É a literalidade do Art. 3º do CTN, segundo o qual "Tributo é

toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir,
que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade

administrativa plenamente vinculada".

Letra B certa. O princípio da legalidade tributária estabelece que criação, majoração,


extinção ou redução de tributos só podem ser realizadas por lei. Tal princípio admite

55
exceções de atos normativos com força de lei como medidas provisórias e leis delegadas,

sendo inadmitidos os atos infralegais.

Correto o que traz a alternativa C. Nesse sentido, o CTN:

Art. 111. Interpreta-se literalmente a legislação tributária que disponha sobre:

I - suspensão ou exclusão do crédito tributário;

II - outorga de isenção;

III - Dispensa de cumprimento de obrigações tributárias acessórias.

Por derradeiro, incorreto o previsto na assertiva D, gabarito deste quesito. Nos termos
do art. 99, CTN, é o contrário. O conteúdo e o alcance dos decretos restringem-se aos
das leis.

Decretos são atos infralegais que, por definição constitucional, se destinam apenas a
garantir a fiel execução da lei (art. 84, IV, CF).

Se a sua função é garantir a fiel execução da lei, não podem restringi-la, sob pena de

estarem, em verdade, desvirtuando-a.

Não por outro motivo reconheceu o STJ a ilegalidade da IN 599/2005-SRF, quando


restringe o alcance do artigo 39, §2º, da Lei n. 11.196/2005 (STJ. 1ª Turma. REsp

1.668.268/SP, rel. Min. Regina Helena Costa, j. 13.03.2018).

Questão 9

(VUNESP - 2018 - TJ-RS - Juiz de Direito Substituto) Assinale a alternativa correta em relação
à legislação tributária.

A) A atualização do valor monetário da base de cálculo do tributo somente pode ser estabelecida
por lei, uma vez que implica na sua majoração.

56
B) As práticas reiteradamente observadas pelas autoridades administrativas não são

consideradas como normas complementares em matéria tributária, pois não possuem conteúdo
normativo.

C) A redução de tributo somente pode ser estabelecida por lei, já sua extinção poderá ser

veiculada por decreto ou ato normativo expedido pela autoridade administrativa competente.

D) Os tratados e as convenções internacionais são normas complementares das leis nacionais,


não podendo revogar ou modificar a legislação tributária interna.

E) As decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa podem ter eficácia
normativa, desde que lei lhes atribua tal efeito.

Comentário:

Errada a alternativa A. A jurisprudência consolidada do Supremo Tribunal Federal é no


sentido de que a correção monetária da base de cálculo do tributo pode ser realizada
por meio de decreto, por não implicar em majoração da figura tributária, mas apenas a

sua atualização (STF. Plenário. RE 648.245/MG, rel. Min. Gilmar Mendes, j. 01.08.2013).

Incorreto o que se afirma na assertiva B. Na forma do art. 100, III, do CTN, são normas
complementares em matéria tributária as práticas reiteradamente observadas pelas

autoridades administrativas.

Letra C incorreta. Embora o artigo 150, I, da Constituição Federal, estabeleça que somente
lei pode exigir ou aumentar tributo, o art. 97 do CTN determina que somente a lei pode

instituir, aumentar, reduzir ou extinguir tributo, bem como fixar sua alíquota ou base de
cálculo.

Assim, vige no Direito Tributário o princípio da estrita legalidade, de sorte que todos os

aspectos relevantes para a configuração da figura tributária devem estar positivados por
lei ou ato normativo equivalente.

57
A assertiva D está errada. De acordo com o artigo 98 do CTN, os tratados e as convenções

internacionais são normas complementares e revogam ou modificam a legislação interna,


e serão observadas pela legislação interna superveniente.

Apesar da literalidade do artigo, há doutrina que critique a possibilidade de revogação e

modificação de leis por pactos internacionais não formalmente agregados ao


ordenamento jurídico interno.

Por fim, correto a letra E, gabarito da questão. A alternativa reproduz a redação do artigo

100, II, do CTN.

Questão 10

(CESPE - 2017 - TRF - 5ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto) Sob a vigência de determinada

norma tributária, contribuintes deixaram de recolher o tributo devido, do que resultou a


autuação do fisco e a impugnação dos contribuintes. Antes mesmo do fim do processo
administrativo fiscal, foi aprovada e entrou em vigor legislação tributária que concedeu isenção
parcial, reduzindo em 50% o referido tributo, para as mesmas operações.

Com relação a essa situação hipotética, assinale a opção correta, conforme as normas a respeito

da aplicação e vigência da lei tributária dispostas no Código Tributário Nacional (CTN).

A) Os contribuintes inadimplentes não poderão recolher os 50% do tributo devido, dada a


impossibilidade de retroação no caso de a lei nova ser interpretativa, o que ocorreu na situação

hipotética apresentada.

B) Os contribuintes inadimplentes terão o direito de recolher o valor do tributo em 50%, já que


o ato ainda não se encontra definitivamente julgado.

58
C) A irretroatividade da lei tributária não alcança algumas exceções previstas no Código

Tributário Nacional (CTN), como é o caso da concessão da isenção parcial prevista na situação
hipotética apresentada, uma vez que a exceção busca aplicação do princípio da segurança

jurídica.

D) Os contribuintes inadimplentes não poderão se beneficiar do recolhimento com base na nova


lei, já que ela passou a viger após o nascimento da obrigação tributária e não há fundamento

legal para desconsiderá-la.

E) Os contribuintes inadimplentes terão o direito de recolher 50% a título de tributo devido,


pois a lei retroage para beneficiá-los, mesmo antes do fim do processo administrativo fiscal,

dado o princípio da lei mais benigna.

Comentário:

A alternativa A está errada. A nova lei não retroage, porque a isenção se refere a tributo

(e não a penalidade), nos termos dos arts. 105 e 106, II, do CTN.

Ademais, se a lei fosse interpretativa, seria possível (e não impossível, como diz a
alternativa) a retroatividade, conforme o art. 106, I, do CTN.

Incorreto o item B. A nova lei não retroage, porque a isenção se refere a tributo (e não a

penalidade), nos termos dos arts. 105 e 106, II, do CTN. Portanto, os contribuintes não
serão beneficiados pela isenção posterior.

A assertiva C também está errada. De fato, o CTN prevê algumas hipóteses em que as

leis tributárias poderão ter efeitos retroativos.

Entretanto, não é o caso da concessão de isenção do caso, uma vez que, como visto, a
nova lei não retroage.

O gabarito da questão é a letra D, alternativa correta. A nova lei não retroage, porque a
isenção se refere a tributo.

59
Como, de regra, a lei tributária não se aplica a fatos pretéritos (art. 105 do CTN), os

contribuintes não serão beneficiados pela posterior isenção parcial do tributo.

Por derradeiro, a assertiva E está incorreta. A nova lei não retroage, porque a isenção se
refere a tributo (e não a penalidade).

É importante destacar que, se a lei se referisse a eventuais penalidades, a resolução da


questão seria outra, pois essa é uma das hipóteses de retroatividade da lei tributária.

Questão 11

(FMP Concursos - 2017 - MPE-RO - Promotor de Justiça Substituto) A respeito da aplicação


da legislação tributária, É CORRETO afirmar que:

A) a lei tributária aplica-se imediatamente a fatos geradores futuros, mas não aos pendentes.

B) a lei tributária aplica-se imediatamente a fatos geradores pendentes, mas não aos futuros.

C) a lei tributária aplica-se a ato ou fato pretérito, tratando-se de ato não definitivamente
julgado, quando deixe de defini-lo como infração, quando deixe de tratá-lo como contrário a

qualquer exigência de ação ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha
implicado em falta de pagamento de tributo, e ainda quando lhe comine penalidade menos

severa que a prevista na lei vigente ao tempo da sua prática.

D) a lei tributária aplica-se a ato ou fato pretérito, tratando-se de ato não definitivamente
julgado, quando deixe de defini-lo como infração, quando deixe de tratá-lo como contrário a

qualquer exigência de ação ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha
implicado em falta de pagamento de tributo, e ainda quando lhe comine alíquota inferior àquela

prevista na lei vigente ao tempo da sua prática.

E) Nenhuma das alternativas está correta.

Comentário:

60
Neste quesito, o Examinador exige conhecimento acerca das disposições do Código

Tributário Nacional.

A assertiva que responde ao questionado é a letra C.

Sua justificativa explica porque as outras afirmativas estão incorretas. Vejamos o que prevê

o CTN:

Art. 105. A legislação tributária aplica-se imediatamente aos fatos geradores futuros e aos
pendentes, assim entendidos aqueles cuja ocorrência tenha tido início mas não esteja

completa nos termos do artigo 116.

Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito:

I - em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída a aplicação de


penalidade à infração dos dispositivos interpretados;

II - tratando-se de ato não definitivamente julgado:

a) quando deixe de defini-lo como infração;

b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão,


desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de
tributo;

c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo
da sua prática

Também é pertinente a leitura da Súmula 584 do STF, segundo a qual "Ao imposto de

renda calculado sobre os rendimentos do ano-base, aplica-se a lei vigente no exercício


financeiro em que deve ser apresentada a declaração".

Questão 12

(CESPE - 2016 - TJ-AM - Juiz Substituto) Lei ordinária do município de Manaus, promulgada

em 20/3/2012, estabeleceu isenção de IPTU para as associações de apoio a deficientes físicos.

61
Em 20/4/2012, parecer aprovado pelo prefeito com efeitos normativos da procuradoria do

município, ao interpretar tal isenção, dando início a uma prática reiterada da administração,
estendeu-a às associações de apoio a portadores de doença mentais. Tendo novo prefeito

tomado posse, a procuradoria do município elaborou, em 20/4/2013, novo parecer pugnando


pela ilegalidade da extensão da isenção, em reconsideração do parecer anterior.

Com base nessa situação hipotética, assinale a opção correta.

A) Confirmada a ilegalidade do primeiro parecer, as autoridades tributárias estão obrigadas a


lançar o tributo, corrigido monetariamente, acrescido de juros e multas, em decorrência do
princípio da legalidade.

B) A ilegalidade do parecer decorre da previsão de que a lei tributária concessiva de isenções


deve ser interpretada restritivamente.

C) Dado o primeiro parecer, de efeitos normativos, as associações de apoio a doentes mentais

deverão pagar apenas o valor principal do tributo corrigido monetariamente e acrescido das
multas.

D) O primeiro parecer era ilegal porque a lei tributária concessiva de isenções deve ser
interpretada literalmente.

E) Dada a reconsideração da isenção, as associações de apoio a doentes mentais deverão pagar


o valor principal do tributo corrigido monetariamente e acrescido de juros, uma vez que o

parecer com efeitos normativos tem o efeito de excluir multas.

Comentário:

Incorreta a assertiva A. Embora ilegal o primeiro parecer, ele constitui norma

complementar de legislação tributária (ato normativo de autoridade administrativa ou

62
prática reiterada), de modo que sua observância tem o poder de afastar a incidência de

multas, juros moratórios e correção monetária. V. artigo 100, parágrafo único, CTN;

A letra B está errada. A ilegalidade decorre da circunstância de que a lei tributária que
dispõe sobre outorga isenção deve ser interpretada literalmente, nos termos do artigo

111, CTN.

Incorreta a alternativa C. Não incidirão penalidades e juros de mora, haja vista que foi
observada norma complementar de legislação tributária;

A letra D é o gabarito da questão. De fato, a lei tributária que dispõe sobre exclusão do
crédito tributário e outorga de isenção deve ser interpretada literalmente nos termos do.
artigo 111, CTN.

A assertiva E está incorreta. A observância das normas complementares de legislação


tributária têm o efeito de excluir não só as multas - penalidades -, mas também os juros
moratórios e correção monetária, conforme ditamos do artigo 100, parágrafo único, CTN.

Questão 13

(ESAF - 2015 - PGFN - Procurador da Fazenda Nacional) Os convênios sobre matéria tributária

A) entram em vigor na data neles prevista.

B) entram em vigor no primeiro dia do exercício seguinte ao da sua publicação.

C) entram em vigor na data da sua publicação.

D) entram em vigor 30 (trinta) dias após a data da sua publicação.

E) entram em vigor após homologados pelo Congresso Nacional.

63
Comentário:

O gabarito da questão é a assertiva A.

Veja como se dá o início da vigência do tempo:

Atos normativos administrativos: na data da sua publicação, salvo disposição em contrário;

Decisões de jurisdição administrativa, caso se atribua eficácia normativa: 30 dias após a


data da sua publicação, salvo disposição em contrário;

Convênios: na data neles prevista; se não houver previsão, 45 dias depois da publicação

oficial.

Nesse sentido:

Art. 103.CTN. Salvo disposição em contrário, entram em vigor:

I - os atos administrativos a que se refere o inciso I do artigo 100, na data da sua

publicação;

II - as decisões a que se refere o inciso II do artigo 100, quanto a seus efeitos normativos,
30 (trinta) dias após a data da sua publicação;

III - os convênios a que se refere o inciso IV do artigo 100, na data neles prevista.

Questão 14

(ESAF - 2015 - PGFN - Procurador da Fazenda Nacional) Assinale a opção correta sobre

Interpretação e Integração da Legislação Tributária.

A) Os princípios gerais de direito privado não podem ser utilizados para pesquisa da definição,
do conteúdo e do alcance de seus institutos, conceitos e formas utilizados pela legislação
tributária.
64
B) A lei tributária pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e

formas de direito privado.

C) Interpreta-se da maneira mais favorável ao acusado a legislação tributária que define infrações
ou comine penalidades.

D) Somente a Constituição Federal, as Constituições dos Estados, ou as Leis Orgânicas do Distrito


Federal ou dos Municípios podem alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos,
conceitos e formas de direito privado.

E) Salvo disposição expressa, interpreta-se literalmente a legislação tributária que disponha sobre
parcelamento, ainda quando prevista em contrato, é sempre decorrente de lei e não extingue o
crédito tributário.

Comentário:

A letra A está incorreta. Dispõe o CTN, em seu Art. 109 que "os princípios gerais de direito
privado utilizam-se para pesquisa da definição, do conteúdo e do alcance de seus

institutos, conceitos e formas, mas não para definição dos respectivos efeitos tributários".

O examinador apontou a assertiva B como gabarito da questão, mas há controvérsias. Se


os de institutos, conceitos e formas de direito privado tiverem sido utilizados, expressa

ou implicitamente, pela Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas


Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dos Municípios, para definir ou limitar competências

tributárias, a lei tributária não pode alterá-los, conforme se extrai do art. 110, do CTN:

Art. 110. A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos,
conceitos e formas de direito privado, utilizados, expressa ou implicitamente, pela

Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas do Distrito
Federal ou dos Municípios, para definir ou limitar competências tributárias.

Incorreta a letra C. A interpretação favorável ao acusado pode ocorrer (CTN, art. 112), mas

tão somente nos casos em que haja dúvida, o que não foi afirmado na assertiva.

65
O próprio STJ já decidiu que, se não há divergência acerca da interpretação da legislação

tributária, não se pode aplicar o art. 112, do CTN. Alternativa errada.

A assertiva D está errada ao afirmar que somente a Constituição Federal, as Constituições


dos Estados, ou as Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dos Municípios podem alterar a

definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado.

Não olvide do papel do Código Civil de definir os institutos, conceitos e formas de direito
privado. Este código, como você já sabe, pode ser alterado por uma lei ordinária.

Assertiva E incorreta. Sendo o parcelamento hipótese de suspensão da exigibilidade do


crédito tributário, deve haver interpretação literal da legislação tributária, com base no
art. 111, I, do CTN:

Art. 111. Interpreta-se literalmente a legislação tributária que disponha sobre:

I - suspensão ou exclusão do crédito tributário;

Questão 15

(CESPE - 2015 - TJ-PB - Juiz Substituto) O secretário de Fazenda de João Pessoa – PB, em
razão de incêndio ocorrido no centro dessa cidade no ano de 2014, decidiu, com base em
equidade, não realizar lançamento para cobrança do IPTU referente aos anos de 2015 e 2016
para os proprietários de imóveis na área atingida pelo desastre.

Acerca dessa situação hipotética e da legislação a ela correlacionada, assinale a opção correta.

A) Embora a equidade seja um método de integração da legislação tributária, sua aplicação não

pode resultar na dispensa do pagamento do tributo devido, ainda que se trate de lançamento
de ofício, como ocorre na situação descrita.

B) A equidade constitui um método de integração da legislação tributária e sua utilização pelo

secretário de Fazenda, que exerce a administração tributária, para desonerar os contribuintes


atingidos pelo incêndio é autorizada por lei.

66
C) O lançamento tributário tem conteúdo discricionário, de forma que cabe à autoridade

tributária, no caso, o secretário de Fazenda, o juízo de conveniência e oportunidade para a


realização do ato, por exemplo, de não lançamento para cobrança do IPTU.

D) O IPTU é tributo sujeito a lançamento por homologação, o que torna necessário, na situação

descrita, que os contribuintes envolvidos peçam dispensa do pagamento do tributo como


condição para validar o ato do secretário de Fazenda.

E) Por ser o IPTU tributo sujeito a lançamento direto, cabe à autoridade tributária verificar de

ofício as circunstâncias que cercam o fato gerador, o que dá ao secretário de Fazenda


competência para desonerar os contribuintes diante de situações de perda da capacidade

contributiva.

Comentário:

A assertiva A é o gabarito da questão em compatibilidade com o disposto no art. 108 do

CTN. Vejamos:

Art. 108. Na ausência de disposição expressa,

a autoridade competente para aplicar a legislação tributária utilizará sucessivamente, na


ordem indicada:

I - a analogia;

II - os princípios gerais de direito tributário;

III - os princípios gerais de direito público;

IV - a eqüidade.

§ 2º O emprego da eqüidade não poderá resultar na dispensa do pagamento de tributo


devido.

Letra B incorreta com base no mesmo argumento que justifica a assertiva A.

67
A letra C está incorreta. O lançamento tributário é vinculado, ou seja, é ato obrigatório,

deverá ser efetuado pela autoridade fiscal, não sendo permitida margem para
conveniência e oportunidade. Assim, veda a analise da situação, como no caso proposto

pela questão.

Veja o que dispõe o CTN:

Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito


tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a

verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria


tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo

caso, propor a aplicação da penalidade cabível.

Parágrafo único. A atividade administrativa de lançamento é vinculada e obrigatória, sob


pena de responsabilidade funcional.

Incorretas as assertivas D e E. Quanto ao IPTU não ocorre lançamento por homologação,

visto que não é o contribuinte quem presta a informação e efetua o pagamento do


imposto, para a posterior homologação do Estado).

Não esqueça que é o Estado que lança o tributo, e o contribuinte deverá então pagá-lo.

Como já comentado na assertiva anterior, o Estado não possui liberdade para lançar ou
não o tributo, visto que este é um ato vinculado e obrigatório.

Questão 16

(TRF - 2ª Região - 2014 - TRF - 2ª REGIÃO - Juiz Federal) O Código Tributário prevê que se
interprete literalmente a legislação tributária que disponha sobre:

A) Pagamento do crédito tributário.

68
B) Outorga de isenção.

C) Cumprimento de obrigações tributárias acessórias.

D) Capitulação do fato gerador.

E) Sobre as penas cominadas, em caso de dúvida.

Comentário:

A resposta da questão está na literalidade do que dispõe o Código Tributário Nacional,

de modo que a assertiva B é o gabarito.

Vejamos:

Art. 111. Interpreta-se literalmente a legislação tributária que disponha sobre:

I - suspensão ou exclusão do crédito tributário;

II - outorga de isenção;

III - dispensa do cumprimento de obrigações tributárias acessórias.

Questão 17

(TRF - 2ª Região - 2014 - TRF - 2ª REGIÃO - Juiz Federal) Sobre os tratados internacionais em
matéria tributária, assinale a opção correta:

A) Os tratados internacionais firmados entre a República Federativa do Brasil e outros países


com a finalidade de evitar a bitributação prevalecerão em relação à legislação tributária ordinária
tão logo seus instrumentos sejam depositados no âmbito internacional.
69
B) Os tratados internacionais firmados entre a República Federativa do Brasil e outros países

com a finalidade de evitar a bitributação deverão prevalecer em relação à legislação tributária


ordinária, assim que seja aprovada a necessária Resolução do Congresso Nacional que os

homologue internamente.

C) Os tratados internacionais firmados com a finalidade de evitar a bitributação entre dois países,
após aprovação em dois turnos em ambas as casas do Congresso Nacional, deverão prevalecer

em relação à legislação tributária ordinária e servirão de parâmetro para o controle de sua


constitucionalidade.

D) Os tratados internacionais firmados com a finalidade de evitar a bitributação entre dois países,

uma vez assinados e devidamente publicado o Decreto Legislativo respectivo, deverão prevalecer
em relação à legislação tributária ordinária.

E) Os tratados internacionais, assinados pela República Federativa do Brasil com o objetivo de

evitar a dupla tributação em relação a outros países, não deverão prevalecer em relação à
legislação tributária ordinária.

Comentário:

Vamos à resolução da questão. A assertiva que a responde corretamente é a letra D,


posto que o texto constitucional em seu art. 49 estabelece ser de competência exclusiva

do Congresso Nacional “resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos


internacionais, que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio

nacional”.

Nos casos em que a Constituição confere ao Congresso Nacional competência exclusiva


para versar sobre dada matéria, o veículo normativo a ser utilizado é o Decreto Legislativo,

de modo diverso do que ocorre com a Resolução, veículo adequado a legislar sobre
matéria exclusiva de uma das casas do Congresso (Câmara dos Deputados ou Senado).

70
O papel constitucional do Presidente da República, no caso, consiste em “celebrar

tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional”


conforme ditamas do art. 84, VIII.

Esta alternativa traz o verbo no futuro e não pretendeu discutir o momento da inserção

do texto no ordenamento brasileiro. De outro lado, inviável deturpá-la e discutir


especialidade, já que a pergunta, em si, já se refere ao tema especial da bitributação.

A assertiva A está incorreta, posto que somente após a sua homologação interna o tratado

internacional poderá gerar efeitos no Ordenamento Jurídico Brasileiro.

A letra B também é incorreta, visto que o instrumento adequado para a homologação


interna é o Decreto Legislativo e não a Resolução, que, por sua vez, não pode ser expedida

pelo Congresso Nacional, mas ora pela Câmara dos Deputados, ora pelo Senado.

Já a assertiva C é incorreta porque os tratados internacionais que se sujeitam ao § 3º do


artigo 5º da Constituição são somente aqueles que versem sobre Direitos Humanos.

Por fim, a alternativa E também é incorreta, porque contraria o disposto no artigo 98 do


CTN.

Questão 18

(MPE-SC - 2014 - MPE-SC - Promotor de Justiça - Matutina) Analise o enunciado da questão


abaixo e assinale se ele é Certo ou Errado.

Nos termos do Código Tributário Nacional, é correto afirmar que a legislação tributária dos

Estados, do Distrito Federal e dos Municípios vigora, no País, fora dos respectivos territórios,

71
nos limites em que lhe reconheçam extraterritorialidade os convênios de que participem, ou do

que disponham esta ou outras leis de normas gerais expedidas unicamente pela União.

( ) CERTO

( ) ERRADO

Comentário:

A afirmativa apresentada está correta, posto que o CTN não veda extraterritorialidade da
legislação tributária.

Nos termos do art. 102 do CTN: “A legislação tributária dos Estados, do Distrito Federal

e dos Municípios vigora, no País, fora dos respectivos territórios, nos limites em que lhe
reconheçam extraterritorialidade os convênios de que participem, ou de que disponham

esta ou outras leis de normas gerais expedidas pela União”.

Atente que o Código Tributário Nacional, em seu art. 102, admite a extraterritorialidade
da norma tributária, excepcionalmente, desde que haja convênio entre as pessoas jurídicas

de direito público interno interessadas (Distrito Federal, Estados e Municípios), ou desde


que existam tratados ou convenções firmados pela União.

Tratando do tema, ensina Ruy Barbosa Nogueira que “O art. 102 trata da vigência das
legislações estaduais do Distrito Federal e dos municípios fora de seus territórios no País,
em razão do nosso sistema federativo, deixando claro que esta extraterritorialidade dentro

da Federação depende de convênios e das normas gerais federais”.

72
Questão 19

(UFMT - 2014 - MPE-MT - Promotor de Justiça) Levando em conta a legislação tributária,

analise as assertivas.

I - A interpretação lógico-sistemática remete o aplicador da norma regulamentar tributária


(decreto ou instrução normativa) à lei tributária e ao sistema constitucional tributário.

II - Levando-se em consideração a jurisprudência do STF acerca da hierarquia das normas

internacionais, os tratados internacionais em matéria tributária não podem dispor sobre normas
gerais de Direito Tributário.

III - Na ausência de disposição expressa, a autoridade competente para aplicar a legislação

tributária utilizará sucessivamente, na ordem indicada: a analogia, os princípios gerais de direito


público, os princípios gerais de direito tributário e a equidade.

IV - De acordo com a Constituição Federal de 1988, a função tríplice da Lei Complementar em

Direito Tributário é dispor sobre conflitos de competência tributária entre os entes políticos,
regular as limitações constitucionais ao poder de tributar e estabelecer normas gerais em matéria

de legislação tributária.

V - A interpretação benigna deve ser utilizada sempre que houver dúvidas sobre a interpretação
da legislação tributária.

Estão corretas as assertivas

A) II, IV e V.

B) I, II e IV.

C) I, III e IV.

D) II, III e V.

E) I, III e V.

73
Comentário:

A assertiva I está correta. A intepretação lógico-sistemática é aquele em que o intérprete


leva em consideração não só o dispositivo que está sendo interpretado, mas todo o
contexto normativo em que ele está inserido. Isso inclui não só o regulamento, mas

também as leis tributárias e, especialmente, a Constituição Federal.

Correto o item II. O STF entende que os tratados internacionais têm hierarquia de lei
ordinária, salvo quando tratarem de direitos humanos, quando terão caráter "supralegal".

Como o art. 146, III, da CF dispõe que cabe à Lei Complementar estabelecer normas gerais
de direito tributário, está correto a afirmar que tratados internacionais não podem exercer

essa função.

Errado o item III. O art. 108, do CTN aponta a ordem nos incisos, sendo esta: Analogia >
Princípios gerais de direito tributário > Princípios gerais de direito público > Equidade.

Assertiva IV correta. A alternativa implicitamente remete ao art. 146, da CF, que trata da

função da lei complementar no direito tributário. A redação desse dispositivo não é boa
e já deu muita discussão na doutrina, que se dividiu em corrente dicotômica e corrente

tricotômica. Hoje prevalece que há três funções, sendo cada uma delas representada por
um dos incisos do dispositivo.

Errado o item V. A interpretação benigna no caso de dúvida somente se aplica aos casos

de lei em que tratam de infrações, conforme art. 106, II, do CTN.

Deste modo, a alternativa que corresponde a esta análise é a letra B.

Questão 20

(FCC - 2014 - TJ-AP - Juiz) Estado pretende dar aplicação a ato ou fato pretérito em face de
lei nova tributária de caráter expressamente interpretativo com a finalidade de prescrever

penalidade à infração dos dispositivos normativos por ela interpretados. Com base no Código
Tributário Nacional, considere as seguintes afirmações:

74
I. Correto o entendimento do Estado, tendo em vista que a lei aplica-se a ato ou fato pretérito

em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa.

II. Equivocado o entendimento do Estado, pois a possibilidade de aplicação pretérita só ocorreria


tratando-se de ato não definitivamente julgado.

III. Equivocado o entendimento do Estado, pois nesse caso deve ser excluída a aplicação de
penalidade à infração dos dispositivos interpretados.

Está correto o que se afirma APENAS em

A) II e III.

B) I.

C) II.

D) III.

E) I e III. .

Comentário:

Para resolver este quesito o candidato precisa dominar os dispositivos do CTN que tratam

da aplicação da legislação tributária, especialmente o já analisado art. 106, posto que,


como visto, sua literalidade é frequentemente cobrada nas provas.

Vamos à análise das alternativas.

O item I está errado. Conforme será apontado abaixo, há exceção para a aplicação

retroativa de lei interpretativa.

A assertiva II está incorreta. O art. 106, CTN tem dois incisos que tratam de aplicação
retroativa da lei.

O primeiro inciso diz respeito à leis interpretativas. O segundo inciso trata de algumas
situações em que o ato não foi definitivamente julgado.

75
Logo, o que está errado na assertiva é afirmar que há apenas um caso.

O item III está correto. Dispõe o art. 106, I, CTN, que é possível a aplicação retroativa de
lei interpretativa, exceto quando se tratar de aplicação de penalidade.

Deste modo, o gabarito da questão é a letra D.

76
GABARITO

Questão 1 - E

Questão 2 - D

Questão 3 - C

Questão 4 - C

Questão 5 - A

Questão 6 - C

Questão 7 - C

Questão 8 - D

Questão 9 - E

Questão 10 - D

Questão 11 - C

Questão 12 - D

Questão 13 - A

Questão 14 - B

Questão 15 - A

Questão 16 - B

Questão 17 - D

Questão 18 - Certa

Questão 19 - B

Questão 20 - D

77
QUESTÃO DESAFIO

A LINDB (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro) é


aplicável ao direito tributário?

Responda em até 5 linhas

78
GABARITO QUESTÃO DESAFIO

A LINDB é plenamente aplicável ao direito tributário, salvo disposição legal específica, como

prevê o art. 101 do Código Tributário Nacional.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 LINDB aplicável
A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, nomenclatura dada pela Lei 12.376/2010, é

a lei onde se encontram as regras sobre a vigência das normas.

Há, porém, uma exceção explicada pelo autor Ricardo Alexandre (ALEXANDRE, Ricardo. Direito
Tributário. 12. ed. Salvador: Juspodivm, 2018. p. 293-293.): “A LINDB é, portanto, plenamente

aplicável ao direito tributário, salvo a existência de disposição legal específica deste ramo do
direito, uma vez que um dos critérios para a solução do conflito aparente entre normas é

justamente o da especialidade, sendo conhecido o brocado que afirma que a lei especial derroga
lei geral (lex specialis derogat legi generali), um verdadeiro princípio da hermenêutica jurídica

(ciência da interpretação jurídica).”.

 Art. 101 do CTN


A conclusão sobre a aplicação da LINDB no direito tributário decorre da previsão do art. 101

do CTN, o qual afirma que a vigência, no espaço e no tempo, da legislação tributária rege-se
pelas disposições legais aplicáveis às normas jurídicas em geral, ressalvado o previsto neste

Capítulo.

O autor Ricardo Alexandre acrescenta (ALEXANDRE, Ricardo. Direito Tributário. 12. ed.
Salvador: Juspodivm, 2018. p. 293-293.): “Como se vê, além de expressamente acolher o

princípio da especialidade como mecanismo de resolução dos conflitos aparentes de normas,


o CTN trata da vigência da legislação tributária em dois âmbitos, o espacial e o temporal.”.

79
LEGISLAÇÃO COMPILADA

LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA

 CTN: Arts. 96 a 100

Os dispositivos elencados são comumente cobrados em concursos públicos, especialmente os Arts. 99 e 100. Eles
tratam das Leis, Tratados e Convenções Internacionais, Decretos e Normas Complementares. Vale sua leitura atenta!

VIGÊNCIA

 CTN: Arts. 101 a 104

 Constituição Federal: Arts. 150, 155, 195

 Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro: Art. 1º

O tema objeto deste tópico é comumente cobrado em certames públicos com foco na letra da lei, de modo que
você não pode dispensar sua leitura. As normas da LINDB e do CTN são primordiais ao entendimento do mecanismo
da vigência da legislação tributária e os dispositivos constitucionais apontados guardam direta relação com o tema
e os tributos em espécie.

 Súmula vinculante 50

Norma legal que altera o prazo de recolhimento de obrigação tributária não se sujeita ao princípio da anterioridade.

EFICÁCIA E APLICAÇÃO

 CTN: Arts. 105 e 106

Os dispositivos elencados são frequentemente cobrados em concursos públicos. Sua redação concisa é fundamental
ao entendimento do assunto. O primeiro dispositivo consagra a irretroatividade como postulado matriz. Já o art.
80
106 do Código Tributário Nacional cuida da retroação da norma e enuncia os casos em que a legislação tributária
opera efeitos ex tunc.

 Súmula 584 STF

Ao imposto de renda calculado sobre os rendimentos do ano-base, aplica-se a lei vigente no exercício financeiro
em que deve ser apresentada a declaração.

INTEGRAÇÃO E INTERPRETAÇÃO

 CTN> Arts. 107 a 112

Os artigos citados acima detalham a interpretação e integração da legislação tributária e têm grande recorrência
em certames para carreira jurídica. Atente que o Examinador costuma cobrar este tema com especial foco ao que
dispõe a letra fria da lei.

 Súmula Vinculante 31

É inconstitucional a incidência do imposto sobre serviços de qualquer natureza - ISS sobre operações de locação
de bens móveis.

81
JURISPRUDÊNCIA

APLICAÇÃO

 (STJ, 2.' T., REsp 37.7099/RS, Rei. Min. Eliana Calmon, j. 03.04.2003, DJ 12.05.2003, p. 264).
A cobrança do Imposto de Renda mês a mês,- pelo sistema de bases correntes, não descaracteriza a
complexidade do fato gerador, findo em 31 de dezembro de cada ano"

Comentário: É importante que você entenda que o Superior Tribunal de Justiça


expressamente admite a existência dos fatos geradores periódicos, conforme demonstra o

citado excerto, retirado do Acórdão proferido no Recurso Especial 377.099.

INTERPRETAÇÃO
 (STF, Tribunal Pleno, AOl-MC 605/ DF, Rei. Min. Celso de Mello, j. 23.10.1991, OJ 05.03,1993, p.
2.897)
"É plausível, em face do ordenamento constitucional brasileiro, o reconhecimento da admissibilidade
das leis interpretativas, que configuram instrümento juridicamente idôneo de veiculação da
denominada interpretação autêntica. As leis interpretativas - desde que reconhecida a sua existência
em nosso sistema de direito positivo - não traduzem usurpação das atribuições institucionais do
jUdiciário e, em consequência, não ofendem o postulado fundamental da divisão funcional do poder
- mesmo as leis interpretativas expõem-se ao exame e à interpretação dos juízes e tribunais. Não se
revelam, assim, espécies normativas imunes ao controle jurisdicional"

Comentário: Há autores que negam a existência de leis interpretativas, sob o argumento que
ao legislativo não é dado interpretar outras leis, e que ou a lei inova no ordenamento jurídico

e não será interpretativa, ou apenas repete o que se afirma em lei anterior e, deste modo, carece
de utiliadade. Apesar da discussão, o Supremo Tribunal Federal expressamente admite a

existência das leis interpretativas. Mas atenção! Se a lei que se afirma interpretativa trouxer
efetivas modificações de institutos jurídicos, ela terá caráter normativo e não interpretativo,

sendo impedida de retroagir.


82
 [RE 566.621, rel. min. Ellen Gracie, P, j. 4-8-2011, DJE 195 de 11-10-2011,Tema 4.]
É inconstitucional o art. 4º, segunda parte, da Lei Complementar 118/2005, de modo que, para os
tributos sujeitos a homologação, o novo prazo de 5 anos para a repetição ou compensação de indébito
aplica-se tão somente às ações ajuizadas após o decurso da vacatio legis de 120 dias, ou seja, a partir
de 9 de junho de 2005. [Tese definida no RE 566.621, rel. min. Ellen Gracie, P, j. 4-8-2011, DJE 195 de
11-10-2011, Tema 4.] É relevante ter em conta que o legislador, ao aprovar a LC 118/05, não pretendeu
aderir à regra de transição do art. 2.028 do Código Civil. Não o fez expressamente, tampouco por
omissão. Tivesse estabelecido o novo prazo para repetição e compensação de tributos sem determinar
sua aplicação retroativa, quedando silente no ponto, permitiria a aplicação do art. 2.028 do CC por
analogia, mecanismo que se viabilizaria tendo em conta o princípio da unidade do ordenamento
jurídico e a própria regra constante do art. 108, I, do CTN, que coloca a analogia como método
preferencial de integração da legislação tributária. Ocorre que não o fez e que a utilização da analogia
pressupõe lacuna, o que, no caso da LC 118/05, inexiste. Efetivamente, não há dúvida de que a intenção
do legislador foi aplicar, na maior dimensão possível, o novo prazo, inclusive, retroativamente. Se, de
um lado, como já afirmado, a aplicação retroativa e a aplicação imediata às ações ajuizadas em seguida
à sua publicação implicariam violação à segurança jurídica, de outro, é certo que não há direito
adquirido a regime jurídico e que, como visto no caso da Súmula 445, não ofende a Constituição a
aplicação do prazo reduzido às pretensões pendentes nas ações ajuizadas após a vacatio legis. Tenho
que se impõe tal solução porque cabe a esta Corte expurgar, da iniciativa legislativa, o que nela há de
inconstitucional e somente isso, permitindo a aplicação da LC 118/05 tão logo se verifique válida. E,
para tanto, como se viu, não é necessário seguir regra de transição tal como a do art. 2.028 do Código
Civil bastando, isto sim, aguardar o decurso da vacatio legis. (...) Isso posto, conheço do recurso
extraordinário da União, mas, reconhecendo a inconstitucionalidade do art. 4º, segunda parte, da LC
118/05 por violação do princípio da segurança jurídica, nos seus conteúdos de proteção da confiança
e de acesso à Justiça, com suporte implícito e expresso nos arts. 1º e 5º, inciso XXXV, e considerando
válida a aplicação do novo prazo de 5 anos tão-somente às ações ajuizadas após o decurso da vacatio
legis de 120 dias, ou seja, a partir de 9 de junho de 2005, nego-lhe provimento.

Comentário: Havia controvérsia quanto ao seguinte: definido que a Lei Complementar 118/2005
entrara em vigor no dia 9 de junho de 2005 (120 dias após a sua publicação), a aplicabilidade
ocorreria para as ações ajuizadas a partir desta data (sendo irrelevante o dia do pagamento) ou

para os pagamentos realizados a partir desta data (não importando o momento do ajuizamento
da ação)? Existia ainda uma corrente que defendia a aplicação, por analogia, do art. 2.028 do

Código Civil, de forma a aplicar o prazo anterior (dez anos) se, na data da entrada em vigor da
LC 118/2005, já houvesse transcorrido mais da metade de tal prazo.

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O Supremo Tribunal Federal rechaçou expressamente a aplicação analógica da norma
civilista, que não é norma geral, e, mesmo que o fosse, poderia ser derrogada pela cláusula de

vigência, constante da LC li 8/2005 (120 dias após a publicação).

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MAPA MENTAL

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALEXANDRE, Ricardo. Direito Tributário - 11. ed. - Salvador - Ed. JusPodivm, 2017.

CARRAZZA, Roque. Curso de Direito Constitucional Tributário. 32. ed. Juspodivm. Salvador: 2019.

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COSTA, Regina Helena. Curso de direito tributário. – 8ª ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2018.

DIFINI, Luiz Felipe Silveira. Manual de direito tributário. 4. Ed. Atual. São Paulo: Saraiva, 2008.

JARDIM, Eduardo Marcial Ferreira. Manual de direito financeiro e tributário – 16. ed. – São Paulo : Saraiva Educação,
2019.

SABBAG, Eduardo. Código Tributário Nacional Comentado – 2. ed. r– Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO,
2018.

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