Você está na página 1de 163

CERS CARREIRA

JURÍDICA

CARREIRAS JURÍDICAS

CAPÍTULO 2
Recado para você que está assistindo às videoaulas

Prezado aluno, a princípio, estamos trazendo algumas informações relevantes para você
que está assistindo às nossas videoaulas e complementará os estudos através do conteúdo do
nosso CERS Book. Portanto, você deve estar atento que:

O CERS book foi desenvolvido para complementar a aula do professor e te dar um suporte
nas revisões!

Um mesmo capítulo pode servir para mais de uma aula, contendo dois ou mais temas,
razão pela qual pode ser eventualmente repetido;

A ordem dos capítulos não necessariamente é igual à das aulas, então não estranhe se o
capítulo 03 vier na aula 01, por exemplo. Isto acontece porque a metodologia do CERS é baseada

no estudo dos principais temas mais recorrentes na sua prova de concurso público, por isso,
nem todos os assuntos apresentados seguem a ordem natural, seja doutrinária ou legislativa;

Esperamos que goste do conteúdo!

1
CAPÍTULOS

Capítulo 1 – Tributos 

Capítulo 2 – Parte 01 (você está aqui) – O Estado e o Poder de



Tributar. Sistema Tributário Nacional
Capítulo 3 – Competência Tributária 

Capítulo 4 – Legislação Tributária e Obrigação Tributária 


Capítulo 5 – Responsabilidade Tributária 
Capítulo 6 – Crédito Tributário 

Capítulo 7 – Suspensão do Crédito Tributário 

Capítulo 8 – Extinção do Crédito Tributário 

Capítulo 9 – Exclusão do Crédito Tributário 

Capítulo 10 – Garantias e Privilégios do Crédito Tributário 


Capítulo 11 – Administração Tributária 

Capítulo 12 – Disposições Finais e Transitórias do CTN 


Capítulo 13 – Processo administrativo fiscal 
Capítulo 14 – Processo judicial tributário. Ações de iniciativa do fisco.

Ações de iniciativa do contribuinte
Capítulo 15 – Tributação internacional 
Capítulo 16 – Aspectos tributários da Lei de Responsabilidade Fiscal 
Capítulo 17 – Aspectos tributários da Lei de Diretrizes Orçamentárias 
Capítulo 18 – Aspectos tributários da Lei n° 4.320 
Capítulo 19 – Ilícito tributário. Ilícito e sanção. Ilícito administrativo

tributário. Ilícito penal tributário
Capítulo 20 – Sistema integrado de pagamento de impostos e

SIMPLES Nacional
Capítulo 21 – ICMS 
Capítulo 22 – Lei Complementar 116 

2
SOBRE ESTE CAPÍTULO

Neste segundo capítulo trataremos do Estado e seu poder de tributar, perpassando os


fundamentos da imposição tributária, suas fontes, as normas que tratam do tema, e seus
princípios informadores. Além disso, adentraremos no estudo das limitações ao poder de
tributar, imunidades e isenção. Também exploraremos os tributos em espécie, os federais,
estaduais, municipais, residuais e extraordinários.

Ao operador do Direito é indispensável o conhecimento acerca do Direito Tributário e de


todo o conjunto das leis reguladoras da arrecadação dos tributos (taxas, impostos e contribuição
de melhoria), bem como de sua fiscalização, considerando as relações entre o fisco e as pessoas
sujeitas a imposições tributárias de qualquer espécie.

Atente que esta disciplina é especialmente exigida em certames para Procuradoria


Estadual, com recorrência relevante também em provas para a Magistratura Estadual, Federal
seguidos por Ministério Público e Defensoria Pública.

No Direito Tributário você deve privilegiar o estudo da Lei Seca, sendo certo que o
Examinador tem predileção por disposições objetivas da letra da lei. Todavia, não deve-se olvidar
da doutrina, especialmente quanto às questões conceituais, e da jurisprudência relativa aos
diversos temas que abrangem o plexo de relações jurídicas entre Estado e contribuinte.

Por ser muito extenso, este segundo capítulo foi divido em duas partes de maneira a
otimizar a compressão dos importantes temas tratados e oferecer mais recursos de fixação da
matéria.

3
SUMÁRIO

DIREITO TRIBUTÁRIO .............................................................................................................................. 7

Capítulo 2 – Parte 01 .............................................................................................................................. 7

2. O Estado e o Poder de Tributar .................................................................................................... 7

2.1 Fundamentos da Imposição Tributária ........................................................................................................ 7

2.2 Poder de tributar ................................................................................................................................................... 9

2.3 Fontes ...................................................................................................................................................................... 20

2.4 Fontes materiais.................................................................................................................................................. 21

2.5 Fontes formais ..................................................................................................................................................... 21

2.5.1 Espécies de Fonte Formal............................................................................................................................... 22

2.5.1.1Normas constitucionais ................................................................................................................................... 22

2.5.1.2Leis complementares ....................................................................................................................................... 22

2.5.1.3Leis ordinárias ..................................................................................................................................................... 27

2.5.1.4Leis delegadas ..................................................................................................................................................... 28

2.5.1.5Medidas provisórias.......................................................................................................................................... 29

2.5.1.6Decretos legislativos ......................................................................................................................................... 32

2.5.1.7Resoluções ............................................................................................................................................................ 33

2.5.1.8Tratados e convenções internacionais ..................................................................................................... 34

2.5.1.9Decretos ................................................................................................................................................................. 36

2.5.2 Normas gerais de Direito Tributário: a Legislação Tributária ......................................................... 37

2.5.2.1Vigência da Legislação Tributária ............................................................................................................... 42

2.5.2.2Aplicação da Legislação Tributária............................................................................................................. 43

2.5.2.3Interpretação e Integração da Legislação Tributária.......................................................................... 44

2.5.3 Fontes formais secundárias ........................................................................................................................... 47

4
2.6 Princípios do Direito Tributário .................................................................................................................... 48

2.6.1 Princípio da legalidade tributária ................................................................................................................ 49

2.6.2 Princípio da anterioridade tributária (anual e nonagesimal). ......................................................... 56

2.6.3 Princípio da isonomia....................................................................................................................................... 64

2.6.4 Princípio da irretroatividade tributária ...................................................................................................... 67

2.6.5 Princípio da vedação ao confisco ............................................................................................................... 70

2.6.6 Princípio da não obstância do exercício de direitos fundamentais por via da tributação 73

2.6.7 Princípio da não limitação ao tráfego de pessoas e ressalva do pedágio (Princípio da

liberdade de locomoção) ............................................................................................................................................ 73

2.6.8 Princípio da uniformidade de tributo federal em todo o território nacional ou

uniformidade geográfica do tratamento tributário deferido pela União .............................................. 75

2.6.9 Princípio da não diferenciação tributária ................................................................................................ 77

2.6.10 Princípio do non olet........................................................................................................................................ 77

2.6.11 Princípio da capacidade contributiva ........................................................................................................ 79

2.7 Limites Constitucionais ao Poder de Tributar ....................................................................................... 83

2.7.1 Legalidade ............................................................................................................................................................. 87

2.7.2 Isonomia................................................................................................................................................................. 88

2.7.3 Não Surpresa ....................................................................................................................................................... 88

2.7.4 Irretroatividade .................................................................................................................................................... 89

2.7.5 Anterioridade do Exercício Financeiro ...................................................................................................... 89

2.7.6 Noventena ............................................................................................................................................................. 90

2.7.7 Liberdade de Tráfego ....................................................................................................................................... 91

2.7.8 Vedações Específicas à União ....................................................................................................................... 92

2.7.8.1Uniformidade Geográfica da Tributação ................................................................................................. 93

2.7.8.2Vedação à utilização do IR como instrumento de concorrência desleal .................................. 93

5
2.7.8.3Vedação às Isenções Heterônomas ........................................................................................................... 94

2.7.8.4Não discriminação baseada em procedência ou destino ................................................................ 95

2.7.8.5Exigência de Lei Específica para Concessão de Benefícios Fiscais ............................................... 95

2.8 Imunidade ............................................................................................................................................................. 96

2.8.1 Imunidade recíproca ......................................................................................................................................... 99

2.8.2 Imunidade Recíproca e Atividade Notarial e Registral .................................................................... 102

2.8.3 Imunidade dos templos religiosos ........................................................................................................... 102

2.8.4 Imunidade dos partidos, sindicatos, entidades educacionais e assistenciais ........................ 104

2.8.5 Imunidade de imprensa ................................................................................................................................ 106

2.8.6 Imunidade dos fonogramas ........................................................................................................................ 109

2.8.7 Imunidade e alíquota zero ........................................................................................................................... 109

2.9 Isenção .................................................................................................................................................................. 110

2.9.1 Isenção heterônoma ....................................................................................................................................... 113

2.9.2 Isenção heterônoma e gratuidades do registro civil – nascimento e óbito .......................... 114

QUADRO SINÓPTICO ......................................................................................................................... 115

QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................ 123

GABARITO ............................................................................................................................................ 151

QUESTÃO DESAFIO ............................................................................................................................. 152

GABARITO QUESTÃO DESAFIO ........................................................................................................ 153

LEGISLAÇÃO COMPILADA ................................................................................................................. 154

JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................ 158

MAPA MENTAL ................................................................................................................................... 161

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................................... 162

6
DIREITO TRIBUTÁRIO

Capítulo 2 – Parte 01

Neste segundo capítulo trataremos do Estado e seu poder de tributar, perpassando os


fundamentos da imposição tributária, suas fontes, as normas que tratam do tema, seus e seus
princípios informadores. Além disso, adentraremos no estudo das limitações ao poder de
tributar, imunidades e isenção. Também exploraremos os tributos em espécie, os federais,
estaduais, municipais, residuais e extraordinários.

2. O Estado e o Poder de Tributar

2.1 Fundamentos da Imposição Tributária

A princípio, você precisa compreender que é da essência do Estado Democrático a


participação de todos por meio dos mecanismos constitucionais construídos no processo
decisório, de maneira a legitimar a participação de todos pelos mesmos mecanismos,

suportando a responsabilidade pelas tarefas inerentes às decisões tomadas, o que inclui


necessariamente, a contribuição para o fornecimento dos recursos necessários para tanto.

Para obter tais recursos financeiros na economia monetarizada da sociedade pós-industrial

em que vivemos, com todos os seus contrastes e contradições, o Estado, por intermédio do
governo, realiza a atividade financeira para obter e acumular recursos destinados a financiar o

atendimento das necessidades públicas, que, a seu turno, significa: fixados os encargos e tarefas,
produzir os recursos necessários a desenvolvê-los.

Observa Ricardo Lobo Torres que:

"Os fins e os objetivos políticos e econômicos do Estado só podem ser financiados pelos
ingressos na receita pública. A arrecadação dos tributos - impostos, taxas, contribuições e
empréstimos compulsórios - constituem o principal item da receita."

7
Para a obtenção dos referidos recursos, o Estado exerce a face interna da soberania, como

ensina Hugo Brito Machado:

"No exercício de sua soberania o Estado exige que os indivíduos lhe forneçam os recursos
que necessita. Institui o tributo. O poder de tributar nada mais é do que um aspecto da
soberania estatal, ou uma parcela desta.". Prosseguindo, "Nos dias atuais, entretanto, já
não é razoável admitir-se a relação tributária como relação de poder, e por isto mesmo
devem ser rechaçadas as teses autoritaristas. A ideia de liberdade, que preside nos dias
atuais a própria concepção de Estado, a de estar presente, sempre, nas relações de
tributação. Justifica-se o poder de tributar conforme a concepção que se adote do próprio
Estado. A ideia mais generalizada parece ser a de que os indivíduos, por seus
representantes, consentem na instituição do tributo, como de resto na elaboração de todas
as regras jurídicas que regem a nação."

No exercício do poder tributário, o Estado adota posturas de impor ou dispensar tributos. A


tributação, para além da finalidade precípua de produzir receitas para custear o funcionamento
do Estado no interesse geral, tem outro papel igualmente relevante: servir de instrumento para

a concretização de políticas públicas, especialmente no que respeita à política fiscal, funcionando


como meio de regulação econômica ao estimular ou inibir atividades com a suavização ou
agravamento de tributação, ou como instrumento de promoção social de redução de

desigualdade quando seletiviza vantagens fiscais para segmentos da sociedade, classes de renda
ou atividades, praticando o que genericamente se considera renúncia fiscal (deixar de arrecadar),

como aponta Francisco Jucá.

Leandro Paulsen trata da importância de se evoluir de uma visão do ordenamento tributário


meramente protetiva do contribuinte para outra que nele enxergue a viabilização das políticas
sociais. Segundo o autor:

"Transitamos do puro Estado de direito, em que se opunham nitidamente Estado e


indivíduo, para um novo Estado, ainda de direito, mas também social, como estampa o
art. 1o da nossa Constituição da República. Isso dá lugar a uma realidade que congrega a
liberdade com a participação e a solidariedade. Demonstra que a Constituição brasileira
de 1967 foi uma Constituição do Estado brasileiro, enquanto a de 1988 é da sociedade
brasileira. Naquela, em primeiro lugar estava a organização do poder; nesta, os direitos
fundamentais têm precedência. Naquela, tínhamos uma Constituição do Estado brasileiro,
em que primeiro se dispunha sobre a estrutura do poder, seus titulares, suas prerrogativas
e sobre os bens públicos, para só então cuidar da tributação como simples suporte do

8
Estado, aparecendo os direitos fundamentais apenas ao seu final, como um resguardo
devido à sociedade civil. Na Constituição de 1988, a pessoa humana assume papel central,
enunciando-se, já em seu início, direitos fundamentais e sociais, e funcionalizando-se a
tributação mediante um novo modo de outorga de competência tributária em que ganha
relevância a justificação da tributação em função da sua finalidade.".

2.2 Poder de tributar

Como visto, os recursos financeiros são instrumentos necessários à manutenção do Estado


e, por conseguinte, da ordem social. Decerto, para alcançar os objetivos de uma sociedade há

um preço e, a esse, atribui-se um nome: tributo.

Conforme pontua Bruna Estima Borba (2017, p. 23), “a tributação não é um fim em si mesmo,
mas um meio que possibilita ao Estado o cumprimento de suas funções”.

Sobre a mesma linha de pensamento de Borba (2017), Leandro Paulsen (2014) ressalta o
quão é grande o sentido da tributação quando se a percebe como via de efetivação, de
materialização dos direitos fundamentais e sociais. Nesse toar, afirma o citado autor: “não há

direito sem estado, nem estado sem tributo”. (PAULSEN, 2014).

Ante a forma de organização da sociedade, é possível dizer que o poder de tributar é o


poder do povo que, expresso pela figura do Estado, persegue a captação de recursos essenciais

para a concretização dos fins pretendidos pelo próprio corpo coletivo. Entende? Então sigamos.

No ensinamento de Leandro Paulsen (2014), o texto da Constituição de 1988 trouxe a pessoa


humana em um papel central. Atribuiu-se ao sujeito destaque frente a todas as outras coisas

quando se anunciou, de forma minuciosa, ainda nos primeiros dispositivos do texto, os direitos
fundamentais e sociais. Dada a importância do SER na construção da Lei Maior, o sistema

tributário nacional imbuiu-se em valores humanos, os quais norteiam a tributação em todas as


suas nuances, da competência e sua expressão à finalidade para qual se destina.

Em face do Poder de Tributar, nasce para o componente da sociedade uma obrigação: a de

contribuir. Conforme leciona Paulsen (2014), no Estado Democrático de Direito, despesas


públicas, aquelas decorrentes da incessante busca pelo bem comum através do respeito às

9
garantias e direitos fundamentais, exigem, de cada indivíduo, um sacrifício, esse revelado através

da entrega de parte do patrimônio privado em benefício da coletividade.

As receitas tributárias, decorrentes do estrito cumprimento do dever fundamental de pagar


tributos, são a fonte principal de recursos do Estado e, por sua dimensão, tratam-se da via mais

importante para o custeio dos fins constitucionais (PAULSEN, 2014).

Aliás, a importância do tributo para a organização da sociedade, conforme revela a história,


já foi diversas vezes documentada. No artigo 13 da Declaração francesa dos Direitos do

Homem e do Cidadão de 1789, por exemplo, manifestou-se que “para a manutenção da força
pública e para as despesas de administração é indispensável uma contribuição comum que deve

ser dividida entre os cidadãos de acordo com suas possibilidades”. Não em sentido diverso, a
Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem (1948), no artigo 36, trouxe o

seguinte texto: “toda pessoa tem o dever de pagar os impostos estabelecidos pela lei para a
manutenção dos serviços públicos”.

Ante o tema ora abordado, faz-se necessário dar destaque as palavras de Kiyoshi Harada (2017):

O Estado, em virtude de seu poder de autoridade, pode retirar de seus súditos parcelas
de suas riquezas para a consecução de seus fins, visando ao bem-estar geral. É o jus
imperii do Estado que lhe faculta impor sobre as relações econômicas praticadas pelos
particulares, assim como sobre seus bens, o tributo que, na atualidade, se constitui em
principal fonte da receita pública. Esse poder de imposição tributária do Estado acha-se
normatizado em nível constitucional, mediante a outorga de competência tributária que,
ao lado de inúmeros outros princípios tributários, constitui as chamadas limitações
constitucionais ao poder de tributar, as quais funcionam como escudos de proteção dos
contribuintes.

10
Município e Distrito Federal Estado e o Distrito Federal
União (arts. 153, CF)
(art. 156 e 147, CF) (arts. 155 e 147, CF)
•IPTU - propriedade predial e •ITCMD - transmissão causa •II - Importação de produtos
territorial urbana; mortis e doação, de quaisquer estrangeiros (extrafiscal)
•ITBI - transmissão "inter bens ou direitos; •IE - exportação, para o
vivos", a qualquer título, por •ICMS - operações relativas à exterior, de produtos
ato oneroso, de bens imóveis, circulação de mercadorias e nacionais ou nacionalizados
por natureza ou acessão física, sobre prestações de serviços (extrafiscal);
e de direitos reais sobre de transporte interestadual e •IR - renda e proventos de
imóveis, exceto os de intermunicipal e de qualquer natureza (fiscal);
garantia, bem como cessão de comunicação, ainda que as •IPI - produtos industrializados
direitos a sua aquisição; operações e as prestações se (extrafiscal);
•ISS - serviços de qualquer iniciem no exterior;
•IOF - operações de crédito,
natureza (não compreendidos •IPVA - propriedade de câmbio e seguro, ou relativas
no art. 155, II, definidos em lei veículos automotores. a títulos ou valores mobiliários
complementar) (extrafiscal);
•ITR - propriedade territorial
rural (fiscal);
•IGF - grandes fortunas (nos
termos de lei complementar)
(fiscal)

Competência Cumulativa: Distrito Federal (art. 147 da CF)


Competência residual para a criação de impostos: União (por Lei Complementar, art. 154, I,
da CRFB)
Competência extraordinária de Guerra: União (art. 154, II, CF)

11
IMPOSTOS DA UNIÃO (ARTS. 153 E 154, CF)

II - importação de produtos É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os limites


estrangeiros estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos

IE - exportação (para o exterior, É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os limites


de produtos nacionais ou estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos
nacionalizados)

IR - renda e proventos de será informado pelos critérios da generalidade, da universalidade e da


qualquer natureza progressividade, na forma da lei

É facultado ao Poder Executivo, I - será seletivo, em função da


atendidas as condições e os essencialidade do produto;
II - será não-cumulativo, compensando-
limites estabelecidos em lei,
se o que for devido em cada operação
alterar as alíquotas dos impostos
com o montante cobrado nas anteriores;
IPI - produtos industrializados
III - não incidirá sobre produtos
industrializados destinados ao exterior.
IV - terá reduzido seu impacto sobre a
aquisição de bens de capital pelo
contribuinte do imposto, na forma da
lei.
É facultado ao Poder Executivo, O ouro, quando definido em lei como
atendidas as condições e os ativo financeiro ou instrumento cambial,
sujeita-se exclusivamente à incidência
limites estabelecidos em lei,
do imposto de que trata o inciso V do
alterar as alíquotas dos impostos
"caput" deste artigo, devido na
IOF - operações de crédito, operação de origem; a alíquota mínima
câmbio e seguro, ou relativas a será de um por cento, assegurada a
transferência do montante da
títulos ou valores mobiliários
arrecadação nos seguintes termos:
I - trinta por cento para o Estado, o
Distrito Federal ou o Território,
conforme a origem;
II - setenta por cento para o Município
de origem.

ITR - propriedade territorial rural I - será progressivo e terá suas alíquotas fixadas de forma a desestimular a
manutenção de propriedades improdutivas;

12
II - não incidirá sobre pequenas glebas rurais, definidas em lei, quando as
explore o proprietário que não possua outro imóvel;
III - será fiscalizado e cobrado pelos Municípios que assim optarem, na
forma da lei, desde que não implique redução do imposto ou qualquer
outra forma de renúncia fiscal.
IGF - grandes fortunas (nos
termos de lei complementar)

na iminência ou no caso de guerra externa, impostos extraordinários,


IEG – imposto extraordinário de
compreendidos ou não em sua competência tributária, os quais serão
guerra
suprimidos, gradativamente, cessadas as causas de sua criação.

mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo 153 da CF,


Competência residual desde que sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador ou base de
cálculo próprios dos discriminados nesta Constituição;

IMPOSTOS DOS ESTADOS E DISTRITO FEDERAL (ARTS. 155, CF)

I - relativamente a bens imóveis e respectivos direitos, compete ao Estado da situação


do bem, ou ao Distrito Federal

II - relativamente a bens móveis, títulos e créditos, compete ao Estado onde se


processar o inventário ou arrolamento, ou tiver domicílio o doador, ou ao Distrito
Federal;
ITCMD - transmissão causa
mortis e doação, de quaisquer
III - terá competência para sua instituição regulada por lei complementar:
bens ou direitos;
a) se o doador tiver domicilio ou residência no exterior;

b) se o de cujus possuía bens, era residente ou domiciliado ou teve o seu inventário


processado no exterior;

IV - terá suas alíquotas máximas fixadas pelo Senado Federal;

ICMS - operações relativas à


I - será não-cumulativo, compensando-se o que for devido em
circulação de mercadorias e
cada operação relativa à circulação de mercadorias ou prestação de
sobre prestações de serviços
de transporte interestadual e serviços com o montante cobrado nas anteriores pelo mesmo ou

intermunicipal e de outro Estado ou pelo Distrito Federal;


comunicação, ainda que as

13
operações e as prestações se II - a isenção ou não-incidência, salvo determinação em contrário
iniciem no exterior; da legislação:

a) não implicará crédito para compensação com o montante


devido nas operações ou prestações seguintes;

b) acarretará a anulação do crédito relativo às operações


anteriores;

III - poderá ser seletivo, em função da essencialidade das


mercadorias e dos serviços;

IV - resolução do Senado Federal, de iniciativa do Presidente da


República ou de um terço dos Senadores, aprovada pela maioria
absoluta de seus membros, estabelecerá as alíquotas aplicáveis às
operações e prestações, interestaduais e de exportação;

V - é facultado ao Senado Federal:

a) estabelecer alíquotas mínimas nas operações internas, mediante


resolução de iniciativa de um terço e aprovada pela maioria
absoluta de seus membros;

b) fixar alíquotas máximas nas mesmas operações para resolver


conflito específico que envolva interesse de Estados, mediante
resolução de iniciativa da maioria absoluta e aprovada por dois
terços de seus membros;

VI - salvo deliberação em contrário dos Estados e do Distrito


Federal, nos termos do disposto no inciso XII, "g", as alíquotas
internas, nas operações relativas à circulação de mercadorias e nas
prestações de serviços, não poderão ser inferiores às previstas para
as operações interestaduais;

VII - nas operações e prestações que destinem bens e serviços a


consumidor final, contribuinte ou não do imposto, localizado em
outro Estado, adotar-se-á a alíquota interestadual e caberá ao
Estado de localização do destinatário o imposto correspondente à

14
diferença entre a alíquota interna do Estado destinatário e a
alíquota interestadual;

VIII - a responsabilidade pelo recolhimento do imposto


correspondente à diferença entre a alíquota interna e a
interestadual de que trata o inciso VII será atribuída:
a) ao destinatário, quando este for contribuinte do imposto;
b) ao remetente, quando o destinatário não for contribuinte do
imposto;
IX - incidirá também:
a) sobre a entrada de bem ou mercadoria importados do exterior
por pessoa física ou jurídica, ainda que não seja contribuinte
habitual do imposto, qualquer que seja a sua finalidade, assim
como sobre o serviço prestado no exterior, cabendo o imposto ao
Estado onde estiver situado o domicílio ou o estabelecimento do
destinatário da mercadoria, bem ou serviço;
b) sobre o valor total da operação, quando mercadorias forem ICMS
fornecidas com serviços não compreendidos na competência (combustíveis)
tributária dos Municípios; § 4º Na hipótese
X - não incidirá: do inciso XII, h ,
a) sobre operações que destinem mercadorias para o exterior, nem observar-se-á o
sobre serviços prestados a destinatários no exterior, assegurada a seguinte:
manutenção e o aproveitamento do montante do imposto cobrado I - nas operações
nas operações e prestações anteriores; com os
b) sobre operações que destinem a outros Estados petróleo, lubrificantes e
inclusive lubrificantes, combustíveis líquidos e gasosos dele combustíveis
derivados, e energia elétrica; derivados de
c) sobre o ouro, nas hipóteses definidas no art. 153, § 5º; petróleo, o
d) nas prestações de serviço de comunicação nas modalidades de imposto caberá
radiodifusão sonora e de sons e imagens de recepção livre e ao Estado onde
gratuita; ocorrer o
XI - não compreenderá, em sua base de cálculo, o montante do consumo;
imposto sobre produtos industrializados, quando a operação, II - nas operações
realizada entre contribuintes e relativa a produto destinado à interestaduais,
industrialização ou à comercialização, configure fato gerador dos entre
dois impostos; contribuintes,
XII - cabe à lei complementar: com gás natural e
a) definir seus contribuintes; seus derivados, e
b) dispor sobre substituição tributária; lubrificantes e
c) disciplinar o regime de compensação do imposto; combustíveis não
incluídos no

15
d) fixar, para efeito de sua cobrança e definição do inciso I deste
estabelecimento responsável, o local das operações relativas à parágrafo, o
circulação de mercadorias e das prestações de serviços; imposto será
e) excluir da incidência do imposto, nas exportações para o repartido entre os
exterior, serviços e outros produtos além dos mencionados no Estados de
inciso X, "a" origem e de
f) prever casos de manutenção de crédito, relativamente à remessa destino,
para outro Estado e exportação para o exterior, de serviços e de mantendo-se a
mercadorias; mesma
g) regular a forma como, mediante deliberação dos Estados e do proporcionalidade
Distrito Federal, isenções, incentivos e benefícios fiscais serão que ocorre nas
concedidos e revogados. operações com as
h) definir os combustíveis e lubrificantes sobre os quais o imposto demais
incidirá uma única vez, qualquer que seja a sua finalidade, hipótese mercadorias;
em que não se aplicará o disposto no inciso X, b; III - nas
i) fixar a base de cálculo, de modo que o montante do imposto a operações
integre, também na importação do exterior de bem, mercadoria ou interestaduais
serviço. com gás natural e
seus derivados, e
lubrificantes e
combustíveis não
incluídos no
inciso I deste
parágrafo,
destinadas a não
contribuinte, o
imposto caberá
ao Estado de
origem;
IV - as alíquotas
do imposto serão
definidas
mediante
deliberação dos
Estados e
Distrito Federal,
nos termos do §
2º, XII, g ,
observando-se o
seguinte:

16
a) serão
uniformes em
todo o território
nacional,
podendo ser
diferenciadas por
produto;
b) poderão ser
específicas, por
unidade de
medida adotada,
ou ad valorem ,
incidindo sobre o
valor da
operação ou
sobre o preço
que o produto
ou seu similar
alcançaria em
uma venda em
condições de livre
concorrência
c) poderão ser
reduzidas e
restabelecidas,
não se lhes
aplicando o
disposto no art.
150, III, b
(Princípio da
anterioridade
anual)
§ 5º As regras
necessárias à
aplicação do
disposto no § 4º,
inclusive as
relativas à
apuração e à
destinação do
imposto, serão

17
estabelecidas
mediante
deliberação dos
Estados e do
Distrito Federal,
nos termos do §
2º, XII, g .
IPVA - propriedade de
veículos automotores. I - terá alíquotas mínimas fixadas pelo Senado Federal;
II - poderá ter alíquotas diferenciadas em função do tipo e utilização.

Abaixo, a divisão dos impostos segundo sua origem. Como já exposto antes, ordinários são aqueles
previstos nos incisos que delimitam as competências de cada ente federativo. Enquanto os extraordinários
são aqueles previstos em condições atípicas.

18
IPTU

MUNICÍPIO ITBI

ISS

IPVA

ESTADO ICMS

ORDINÁRIOS
ITCMD

II

IE
IMPOSTOS

IR
UNIÃO
IOF

ITR

IGF

EXTRAORDINÁRIOS EXTRAORDINÁRIO DE
UNIÃO
(art. 154, II, CF) GUERRA

RESIDUAIS
UNIÃO
(art. 154, I, CF)

19
Nos autos do julgamento da AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 2.211-AM1, o Min. GILMAR
MENDES destacou que ao considerar no cálculo da taxa judiciária a base de cálculo própria de imposto
(CTN, arts. 33 e 38), a lei do estado do Amazonas contraria a norma prevista no § 2º do art. 145 da
CF/88, sendo, portanto, inconstitucional. Afirmou o então Ministro Relator do caso: “no que diz respeito

à utilização da base de cálculo própria de imposto como base de cálculo de taxa judiciária, este Supremo
Tribunal Federal já se manifestou pela impossibilidade de tal pretensão. Nesse sentido, os seguintes
precedentes: Rp 1.074, Rel. Min. Djaci Falcão, Tribunal Pleno, DJ 7.12.1984; ADI-MC 1.889, Rel. Min. Nelson
Jobim, Tribunal Pleno, DJ 14.11.2002”.

2.3 Fontes

As fontes marcam o nascedouro, a origem de algo, de alguma coisa. No Direito Tributário,

não diferente de outros ramos do Direito, a doutrina aponta suas fontes que,
convencionalmente, dividem-se em dois tipos ou duas espécies.

São elas:

(1) as fontes materiais e

(2) as fontes formais (HARADA, 2017).

A seguir, você verá os fundamentos de cada uma delas.

1
Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=751060053
20
2.4 Fontes materiais

As fontes materiais (ou fontes reais) constituem os fatos relacionados à exação. São os
fenômenos (ou coisas) do mundo real que autorizam a cobrança dos tributos. No mundo

tangível, essas fontes representam as riquezas ou os bens previstos pelo legislador e, quando
existentes na forma da lei, fazem nascer o direito à cobrança praticada pelo Estado (o Fisco).

Nas palavras da Kiyoshi Harada (2017):

As fontes materiais ou fontes reais do Direito Tributário são os pressupostos fáticos da


tributação. São as riquezas ou os bens em geral, utilizados pelo legislador como veículos
de incidência tributária, como o patrimônio, a renda e os serviços. Esses bens, por
servirem de suporte fático do fenômeno tributário, são conhecidos como fatos
imponíveis. Esses fatos, em geral, exteriorizadores de riquezas, uma vez emprestados
efeitos jurídicos, tornam-se fatos jurídicos. Um acontecimento que ocorre no mundo
fenomênico, enquanto não juridicizado, é irrelevante juridicamente. Entretanto, no
momento em que a lei passar a conferir-lhe eficácia jurídica, tem-se que ele foi juridicizado,
tornando-o passível de gerar direitos e obrigações.

Fonte real, portanto, é o pressuposto de fato que compõe a norma jurídica definidora
do fato gerador da obrigação tributária. É, como diz o art. 114 do CTN, a situação
definida em lei como necessária e suficiente à sua ocorrência. A situação é sempre um
fato, descrito de forma abstrata e genérica na norma legal, que, uma vez ocorrido em
concreto opera-se o fenômeno da subsunção do fato à hipótese legal prevista, isto é, gera
a obrigação de pagar tributo.

2.5 Fontes formais

As fontes formais, diferentemente das primeiras estudadas, são os produtos da atividade


típica do Poder Legislativo ou ainda do poder regulamentar2 do Executivo. Em outras palavras,
utilizando-se da definição do art. 96 do CTN, é possível asseverar que são as fontes formais a

"legislação tributária", assim entendido o complexo formado pelas leis, pelos tratados e pelas

2 Para alguns autores, conhecido como Poder Normativo do Executivo.

21
convenções internacionais, também os decretos e as normas complementares que versem, no

todo ou em parte, sobre tributos e relações jurídicas a eles pertinentes.

De forma ainda mais detalhada, é importante que você observe que elas representam as
fontes formais dos atos normativos ou conjunto de normas que (1) regem a relação jurídico-

tributária entre o Estado e o contribuinte e (2) estabelecem as regras dos processos e


procedimentos administrativos e aquelas de direito adjetivo tributário (HARADA, 2017).

No ensinamento de Harada (2017):

(...) são constituídas pelas normas constitucionais e pelos atos normativos referidos no art.
59 da CF, quais sejam: emendas à Constituição, leis complementares, leis ordinárias, leis
delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos e resoluções. Incluem-se, também, os
tratados e as convenções internacionais, além dos decretos.

2.5.1 Espécies de Fonte Formal

2.5.1.1 Normas constitucionais

Seguramente, as normas constitucionais tomam destaque entre as fontes de Direito


Tributário. Por sua importância no Estado Constitucional, o texto da Lei Maior ao tempo que

afirma, consagra a posição do Estado em face da relação jurídico-tributária travada com o


contribuinte, também assegura ao sujeito passivo seus direitos e garantias, desenhando no
ordenamento jurídico as limitações ao Poder de Tributar (HARADA, 2017).

2.5.1.2 Leis complementares

As leis complementares, aquelas que exigem rito diferenciado de aprovação conforme

previsto no art. 69 da Constituição Federal, são vias especiais para determinados temas de
Direito Tributário, representando, portanto, uma exceção prevista expressamente na

Constituição. Aliás, no que diz respeito a essa espécie de fonte formal, importa destacar aqui a
natureza jurídica do Código Tributário Nacional, tema esse que, no REsp 625.193/RO, foi
debatido pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

22
De acordo com a Máxima Corte, a Lei nº 5.172/66, apesar de ter sido editada como lei

ordinária, porque seguiu o rito previsto na Constituição de 1946 - que não exigia a edição de
lei complementar para regulação da matéria -, recebeu o status de lei complementar, pois foi

acolhida, recepcionada pela Constituição Cidadã de 1988. Por esse motivo, qualquer alteração
pretendida no texto do CTN deverá ser promovida por uma lei complementar, isto é, de mesma

natureza, seguindo a previsão do art. 146 da CF.

No que diz respeito à expressão “normas gerais” constante no caput do art. 146 da CF, o STF já

se pronunciou no seguinte sentido:

observância de normas gerais em matéria tributária é imperativo de segurança jurídica, na


medida em que é necessário assegurar tratamento centralizado a alguns temas para que
seja possível estabilizar legitimamente expectativas. Neste contexto, "gerais" não significa
"genéricas", mas sim "aptas a vincular todos os entes federados e os administrados”. [RE
433.352 AgR, rel. min. Joaquim Barbosa, j. 20-4-2010, 2ª T, DJE de 28-5-2010.]

Segundo o texto da Lei Maior, cabe à lei complementar3:

Matéria Previsão legal

Dispor sobre conflitos de competência, em matéria


tributária, entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Art. 146, inciso I
Municípios

Regular as limitações constitucionais ao poder de tributar Art. 146, inciso II

Estabelecer normas gerais em matéria de legislação


tributária, especialmente sobre definição de tributos e de Art. 146, inciso III, a
suas espécies, bem como, em relação aos impostos

3
Vide questão 19
23
discriminados nesta Constituição, a dos respectivos fatos
geradores, bases de cálculo e contribuintes;
Estabelecer normas gerais em matéria de legislação
tributária, especialmente sobre obrigação, lançamento, Art. 146, inciso III, b
crédito, prescrição e decadência tributários;
Estabelecer normas gerais em matéria de legislação
tributária, especialmente sobre adequado tratamento
Art. 146, inciso III, c
tributário ao ato cooperativo praticado pelas sociedades
cooperativas.
Estabelecer normas gerais em matéria de legislação
tributária, especialmente sobre definição de tratamento
diferenciado e favorecido para as microempresas e para
as empresas de pequeno porte, inclusive regimes
Art. 146, inciso III, d
especiais ou simplificados no caso do imposto previsto no
art. 155, II (ICMS), das contribuições previstas no art. 195, I
(contribuições sociais do empregador) e §§ 12 e 13, e da
contribuição a que se refere o art. 239 (PIS/PASEP)
Quanto à lei complementar de que trata o art. 146, inciso
III, d, essa também poderá instituir um regime único de
arrecadação dos impostos e contribuições da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (SIMPLES
NACIONAL)
I - será opcional para o contribuinte
II - poderão ser estabelecidas condições de
Art. 146, parágrafo único,
enquadramento diferenciadas por Estado
incisos I a IV.
III - o recolhimento será unificado e
centralizado e a distribuição da parcela de
recursos pertencentes aos respectivos entes
federados será imediata, vedada qualquer
retenção ou condicionamento.
IV - a arrecadação, a fiscalização e a
cobrança poderão ser compartilhadas

24
pelos entes federados, adotado cadastro
nacional único de contribuintes.
Poderá estabelecer critérios especiais de tributação, com
o objetivo de prevenir desequilíbrios da concorrência, sem
Art. 146-A
prejuízo da competência de a União, por lei, estabelecer
normas de igual objetivo.
Instituição, pela União, de empréstimos compulsórios:
I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de
calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência;
Art. 148.
II - no caso de investimento público de caráter urgente e
de relevante interesse nacional, observado o disposto no
art. 150, III, "b".

Instituição, pela União, de impostos sobre grandes fortunas Art. 153, VII

A União poderá instituir, mediante lei complementar,


impostos não previstos no artigo 153 da CF, desde que
Art. 154
sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador ou base
de cálculo próprios dos discriminados nesta Constituição
No que diz respeito ao imposto sobre transmissão causa
mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos (ITCMD):
terá competência para sua instituição regulada por lei
complementar: (a) se o doador tiver domicílio ou Art. 155, § 1º, III
residência no exterior; (b) se o de cujus possuía bens,
era residente ou domiciliado ou teve o seu inventário
processado no exterior
No que tange ao ICMS, cabe à lei complementar:
a) definir seus contribuintes;
b) dispor sobre substituição tributária;
c) disciplinar o regime de compensação do imposto;
Art. 155, § 2º, XII
d) fixar, para efeito de sua cobrança e definição do
estabelecimento responsável, o local das operações
relativas à circulação de mercadorias e das prestações de
serviços;

25
e) excluir da incidência do imposto, nas exportações para
o exterior, serviços e outros produtos além dos
mencionados no inciso X, "a"
f) prever casos de manutenção de crédito, relativamente à
remessa para outro Estado e exportação para o exterior, de
serviços e de mercadorias;
g) regular a forma como, mediante deliberação dos
Estados e do Distrito Federal, isenções, incentivos e
benefícios fiscais serão concedidos e revogados.
h) definir os combustíveis e lubrificantes sobre os quais o
imposto incidirá uma única vez, qualquer que seja a sua
finalidade, hipótese em que não se aplicará o disposto no
inciso X, b;
i) fixar a base de cálculo, de modo que o montante do
imposto a integre, também na importação do exterior de
bem, mercadoria ou serviço.
Compete aos Municípios instituir impostos sobre serviços
de qualquer natureza (ISS), não compreendidos no art. Art. 156, III
155, II, definidos em lei complementar.
No que diz respeito ao ISS, cabe à lei complementar:
I - fixar as suas alíquotas máximas e mínimas;
II - excluir da sua incidência exportações de serviços para
o exterior; Art. 156, § 3º, incisos I a III
III - regular a forma e as condições como isenções,
incentivos e benefícios fiscais serão concedidos e
revogados.
A seguridade social será financiada por toda a sociedade,
de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante
recursos provenientes dos orçamentos da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das
art. 195, § 4
seguintes contribuições sociais: a lei poderá instituir outras
fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da
seguridade social, obedecido o disposto no art. 154, I (“art..
154, I - mediante lei complementar, impostos não previstos
26
no artigo anterior, desde que sejam não-cumulativos e não
tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos
discriminados nesta Constituição”).

2.5.1.3 Leis ordinárias

Diferentemente das leis complementares que exigem quórum de maioria absoluta (art. 69,

CF), as leis ordinárias requerem para a sua aprovação a maioria simples e constituem a via
comum para tratar de matéria tributária.

Como asseverado por Harada (2017), “a constituição não cria tributos, apenas outorga

competência impositiva”, sendo assim, as leis ordinárias - então produzidas pelos entes
federativos – representam as vias preferenciais de instituição de tributos, enquanto se revelam

as leis complementares, por expressa previsão no texto da Lei Maior, como as vias excepcionais
de criação de tributos.

Previsão legal
Instituição de tributos por lei complementar
(CF/88)

Pela União, impostos sobre grandes fortunas art. 153, VII

Pela União, empréstimos compulsórios art. 148

União poderá instituir impostos não previstos no artigo 153 da CF


art. 154, I
(competência residual)
Contribuições sociais que constituirão outras fontes destinadas a garantir art. 195, § 4 c/c
a manutenção ou expansão da seguridade social art. 154, I

27
Os atos normativos, medida provisória, lei delegada, decreto legislativo e resoluções do

Senado Federal possuem força de lei. Possuir força de lei significa ter aptidão para inovar no
ordenamento jurídico, criando direitos e obrigações.

O Supremo Tribunal Federal, em 2016, firmou tese ampliando o alcance dos atos infralegais

em matéria tributária, ao considerar compatível com o princípio da legalidade a estipulação, por


lei, de teto do valor da taxa, com a atribuição a ato normativo infralegal da competência para

fixar valor exato do tributo, desde que em proporção razoável do custo da atuação estatal. Para
o STF, o modelo considerado constitucional é compatível com taxas e contribuições parafiscais,

por possuírem caráter contraprestacional.

2.5.1.4 Leis delegadas

As leis delegadas, por sua natureza, se distinguem das leis ordinárias por sua origem, ou

melhor, pelo rito processual que lhes concebe. Conforme leciona Harada (2017), as leis
delegadas encontram-se na mesma posição hierárquica que as leis ordinárias, só que aquelas

somente são produzidas pelo chefe do Executivo mediante a solicitação e a efetiva delegação
ao Congresso Nacional.

Prevê a Lei Maior que o citado pré-requisito, qual seja, a delegação ao Presidente da

República, terá a forma de resolução do Congresso Nacional, que especificará seu conteúdo e
os termos de seu exercício. Ainda segundo o art. 68 da CF, se a resolução determinar a
apreciação do projeto pelo Congresso Nacional, este a fará em votação única, vedada qualquer

emenda.

Quanto à matéria, essas leis não podem versar sobre:

(I) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de


seus membros;

(II) nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais;

(III) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos;

28
(IV) a matéria reservada à lei complementar; e, finalmente, não serão objeto de
delegação os atos de competência exclusiva do Congresso Nacional, os de
competência privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal (art. 68, CF).

2.5.1.5 Medidas provisórias

Consoante o texto do art. 62 da CF, as medidas provisórias (MP) são vias normativas
extraordinárias. Tal definição se dá porque somente em caso de relevância e urgência, está

autorizado o Presidente da República a adotar medidas provisórias, com força de lei, desde que
sejam essas submetidas, de imediato, ao Congresso Nacional.

Como se não bastasse se tratar de fonte formal reservada a situações específicas – essas

marcadas por imperiosa necessidade do Estado, é vedado às Medidas Provisórias as seguintes


matérias:

 Nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito eleitoral;

 Direito penal, processual penal e processual civil;

 Organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus


membros;

 Planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e


suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º;

 Que vise a detenção ou sequestro de bens, de poupança popular ou qualquer outro ativo
financeiro; (6) reservada a lei complementar;

 Aquela já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e pendente


de sanção ou veto do Presidente da República.

No que tange à matéria de Direito Tributário, determinou o constituinte: medida provisória

que implique instituição ou majoração de impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I, II,

29
IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida

em lei até o último dia daquele em que foi editada4.

Essa restrição (relativa à necessidade da conversão em lei no exercício da edição da medida


provisória aplica-se exclusivamente aos impostos, de modo que, no que tange às outras espécies

tributárias, o princípio da anterioridade deve ser observado, tomando como referência a data
da publicação da MP, e não a sua conversão em lei.

Este tema foi cobrado pela FCC em 2020 em certame do TJ-MS para Juiz Substituto da
seguinte maneira:

A respeito do princípio da anterioridade tributária, é correto afirmar:

A) Medida provisória pode instituir ou majorar imposto e, neste caso, a obediência à


anterioridade anual tributária pressupõe a sua conversão em lei até o último dia do exercício

financeiro em que for editada, para que a nova norma possa ser aplicada no ano seguinte.

B) A lei estadual que implique em postergação de novas hipóteses de creditamento relativo ao


Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sujeita-se à regra da anterioridade

tributária.

4
Vide questão 1
30
C) Há tributos que podem ser majorados sem precisar observar o principio da anterioridade

anual, todavia essas exceções se aplicam apenas a alguns impostos federais.

D) O Senado Federal pode majorar alíquotas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e


Serviços (ICMS) sem que seja aplicável o princípio da anterioridade anual.

E) A majoração da base de cálculo do Imposto Sobre Propriedade Territorial Urbana (IPTU) deve
respeitar o princípio da anterioridade nonagesimal.

A Banca Examinadora exigiu conhecimento acerca da letra da lei e da jurisprudência do STF para

alcançar a resposta correta. Veja na solução a seguir.

A assertiva A responde corretamente ao questionado. Medida Provisória pode instituir ou


majorar imposto e, neste caso, a obediência à anterioridade anual tributária pressupõe a sua

conversão em lei até o último dia do exercício financeiro em que for editada para que a nova
norma possa ser aplicada no ano seguinte. Nesse sentido, veja:

Art. 62, §2º, da CF: Medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto

os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte
se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada.

A letra B está incorreta. A postergação do direito do contribuinte do ICMS de usufruir de novas


hipóteses de creditamento, por não representar aumento do tributo, não se sujeita à
anterioridade nonagesimal prevista no art. 150, III, c, da Constituição. Veja posição da Corte
Suprema a seguir:

A postergação de hipótese de redução de imposto não se equipara a aumento do tributo, pelo


que não atrai a incidência da anterioridade nonagesimal prevista no art. 150, III, “c”, da Carta
Política. Precedentes do STF: RE 584.100 Repercussão Geral, Rel. Ministra Ellen Gracie, Tribunal

Pleno, julgado em 25.11.2009; ADI 2.673, Rel. Ministra Ellen Gracie, Tribunal Pleno, julgado em
03.10.2002; AI 783.509 AgR, Rel. Ministro Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, julgado em

19.10.2010; AI 780.210 AgR, Rel. Ministra Cármen Lúcia, Primeira Turma, julgado em 14.6.2011,
DJe de 29.7.2011.

31
A alternativa C está incorreta porque CIDE-combustível e ICMS-combustível quando houver

redução e/ou restabelecimento das alíquotas não observam o princípio da anterioridade anual.
Ou seja, não somente impostos federais, a exemplo de II, IE e outros.

Também incorreta a assertiva D, haja vista a Constituição não atribui competência ao Senado

para aumentar alíquotas do ICMS.

Por fim, errada a letra E. A majoração da base de cálculo do Imposto Sobre Propriedade

Territorial Urbana (IPTU) não deve respeitar o princípio da anterioridade nonagesimal.

De forma esquematizada, são as exceções à regra da anterioridade na MP os seguintes

tributos:

EXCEÇÃO II - importação de produtos estrangeiros (art. 153, I)

IE - exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou


nacionalizados (art. 153, II);

IPI - produtos industrializados (art. 153, IV);

IOF - operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou


valores mobiliários (art. 153, V);

IEG - na iminência ou no caso de guerra externa, impostos


extraordinários, compreendidos ou não em sua competência tributária,
os quais serão suprimidos, gradativamente, cessadas as causas de sua
criação (art. 154, II)

2.5.1.6 Decretos legislativos

Sobre essa espécie de fonte formal, importa destacar o ensinamento de Harada (2017):

São instrumentos normativos de igual hierarquia de lei ordinária, editados privativamente


pelo Congresso Nacional para aprovação de tratados e convenções internacionais (art. 49,
I, da CF). São instrumentos idôneos, também, para sustar os atos normativos do Poder
Executivo que exorbitam do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa.

32
Servem, outrossim, para fixar, a cada exercício financeiro, a remuneração do Presidente e
do Vice-Presidente da República e dos Ministros de Estado.

No âmbito do Direito Tributário, o mencionado autor revela que os decretos legislativos tem

destaque ante a aprovação de convenções internacionais, momento no qual deve-se criar óbice
à dupla tributação do imposto sobre a renda ou, como ainda destaca Harada (2017), “para

estatuir isenções recíprocas de impostos federais, estaduais e municipais em determinadas


circunstâncias”.

Os decretos legislativos são editados pelo Congresso Nacional no uso de sua competência

exclusiva, razão pela qual, assim como as resoluções, não se sujeitam à deliberação do Poder
Executivo por meio da sanção e do veto.

2.5.1.7 Resoluções

Espécie normativa produzida exclusivamente pelo Congresso Nacional (ou por cada uma de
suas Casas), tem importância no Direito Tributário nas seguintes situações reguladas pelo art.

155 da CF:

Tributo Matéria regulada pela Resolução do Senado

Fixação das alíquotas máximas (art. 155, § 1º, IV) do ITCMD e mínimas
ITCMD e IPVA
do IPVA.
De iniciativa do Presidente da República ou de um terço dos
Senadores, aprovada pela maioria absoluta de seus membros,
ICMS
estabelecerá as alíquotas aplicáveis às operações e prestações,
interestaduais e de exportação (art. 155, § 2º, IV)
É facultado ao Senado Federal (art. 155, § 2º, V):
a) estabelecer alíquotas mínimas nas operações internas, mediante
ICMS
resolução de iniciativa de um terço e aprovada pela maioria absoluta
de seus membros;

33
b) fixar alíquotas máximas nas mesmas operações para resolver
conflito específico que envolva interesse de Estados, mediante
resolução de iniciativa da maioria absoluta e aprovada por dois
terços de seus membros

2.5.1.8 Tratados e convenções internacionais

No que diz respeito aos tratados e às convenções internacionais, essas fontes normativas

tomam destaque porque hierarquicamente põem-se acima das leis ordinárias no direito interno
e traduzem-se como as vias de uniformização das normas tributárias ante a internacionalização

da economia (HARADA, 2017).

Consoante o teor do art. 98 do CTN, os tratados e as convenções internacionais possuem o


poder de revogar ou modificar a legislação tributária interna e possui importância no

ordenamento jurídico ao ponto de que deverão ser observados pela legislação que lhes
sobrevenha.

Segundo a doutrina, a expressão “revogam” não deve ser entendida como uma revogação a

rigor, mas como uma suspensão da eficácia da norma tributária nacional, que readquirirá a sua
aptidão para produzir efeitos se e quando o tratado for denunciado.

O conflito entre a lei interna e o tratado resolve-se a favor da norma especial (tratado) que

excepciona a norma geral (lei interna), tornando-se indiferente que a norma interna seja anterior
ou posterior ao tratado, pois este prepondera em ambos os casos.

O STF entende que, enquanto não completo todo o procedimento constitucional para a

incorporação do tratado ao direito interno, não haverá qualquer produção doméstica de efeitos
do ato firmado pelo Presidente da República.

Apreciando o conteúdo do §2º do art. 5º da CF, que determina que os direitos e garantias

expressos na Constituição “não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela
adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”,

Harada (2017) revela que os direitos do contribuinte, ao serem consagrados em tratado ou

34
convenção internacional, recebem proteção de texto constitucional, qualidade essa que impede

que a legislação infraconstitucional modifique-os. Ainda tratando sobre a matéria, o mencionado


autor afirma:

Esses tratados e convenções, firmados pelo Presidente da República como Chefe de Estado
(art. 84, VII, da CF), depois de aprovados pelo Congresso Nacional (art. 49, I, da CF), através
de Decreto Legislativo (art. 59, VI, da CF), passam a obrigar os Estados signatários
produzindo seus efeitos no âmbito interno após sua promulgação por Decreto do
Presidente da República.

Inúmeros são os tratados e Convenções firmados pelo Brasil para evitar a dupla tributação
do imposto sobre a renda.

Outros, são firmados para isentar de impostos federais, estaduais e municipais, por
exemplo, a Convenção de Viena sobre as relações consulares.

A EC no 45/2004 inseriu o § 3o ao art. 5o da CF prescrevendo que “os tratados e


convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa
do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos
membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”.

Essa disposição acrescida, se interpretada literalmente, poderá conduzir à equivocada


conclusão de que tratados e convenções que cuidam de outras matérias têm o status de
lei ordinária geral, e que a norma do art. 98 do CTN não foi recepcionada pela Carta
Política de 1988. Uma interpretação que leva a tal conclusão estaria negando a própria
função harmonizadora dos tratados e convenções.

Entretanto, o § 3o acrescido pela EC no 45/04 tem a virtude de afastar a incidência da


parte final do inciso LXVII, do art. 5º da CF, que ressalva a prisão por inadimplemento da
obrigação alimentícia e por violação do encargo de fiel depositário, após o advento do
Pacto de San José da Costa Rica aprovado pelo Decreto Legislativo no 27, de 26 de maio
de 1992, e promulgado pelo Decreto no 678, de 6 de novembro de 1992. De fato, o STF
já decidiu que é ilícita a prisão civil de depositário infiel em face da insubsistência da
previsão constitucional e das normas subalternas em face da interpretação do art. 5º, LXVII
e §§ 1º, 2º e 3o, da CF à luz do art. 7º, § 7º, da Convenção Americana de Direitos Humanos
(Pacto de San José da Costa Rica).

35
O STF entende que, após regular incorporação ao direito interno, o tratado internacional

adquire posição hierárquica idêntica à de uma lei ordinária, não podendo disciplinar, por isso,
matéria reservada à lei complementar, mas possibilitando que uma lei ordinária venha a

modificá-lo ou revogá-lo internamente.

2.5.1.9 Decretos

O tema aqui observado tem sua regra esculpida nos arts. 49, inciso V e 84, inciso IV, da CF

e art. 99 do CTN.

Como você já sabe, os decretos constituem atos normativos de competência do


Representante Máximo do Poder Executivo e tem como objetivo a regulação de matéria de lei,

com o fim de garantir o cumprimento da regra instituída pelo Poder Legislativo. Por essa
limitação, o texto do decreto não poderá, de forma alguma, ultrapassar ou mesmo limitar as

normas então determinadas pela lei (HARADA, 2017).

No que diz respeito ao Direito Tributário, Harada (2017) destaca:

O chamado decreto regulamentador tem suma importância em matéria de Direito


Tributário não só porque algumas leis tributárias somente entram em vigor na data de sua
regulamentação, como também porque, na prática, são os textos mais consultados por já
conter os detalhamentos necessários à aplicação da lei, sempre no pressuposto,
obviamente, de que as disposições regulamentares estão nos limites legais e
constitucionais. Texto regulamentar que extravasa dos limites legais pode ser objeto de
sustação, através de Decreto Legislativo a ser expedido pelo Legislativo, o que se conforma
com a doutrina que não admite a figura do regulamento autônomo.

Sobre o uso do decreto no âmbito tributário, Paulsen (2014) afirma que mesmo o Princípio

da Legalidade Estrita abriga exceções, hipóteses essas nas quais o Executivo está autorizado a
alterar alíquotas de tributos como, por exemplo, IPI e IOF, desde que sob a condição de

obedecer às regras impostas pela lei, as quais deverão desenhar os limites e as condições para
o exercício do Poder de Tributar do Estado.

36
CF, Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: (...) V - sustar os atos normativos
do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação

legislativa; (...)

Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: (...) IV - sancionar, promulgar e


fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução; (...)

CTN, Art. 99. O conteúdo e o alcance dos decretos restringem-se aos das leis em função das

quais sejam expedidos, determinados com observância das regras de interpretação estabelecidas

nesta Lei.

2.5.2 Normas gerais de Direito Tributário: a Legislação Tributária

O art. 96 do CTN registra no ordenamento jurídico que a expressão "legislação tributária"


abarca as leis, os tratados e as convenções internacionais, os decretos e as normas
complementares, desde que esses versem - no todo ou em parte - sobre tributos e relações

jurídicas a eles pertinentes. Neste ponto, importante destacar as palavras do Ministro Ari
Pargendler sobre o tema, quando relator no julgamento dos Embargos de declaração no RESP

nº 85.409-SP:

Tributário. ICMS. Pagamento. Fixação de prazo através de decreto. No


sistema do Código Tributário Nacional (art. 96), a expressão "legislação

tributária" caracteriza um gênero, do qual a lei e o decreto são espécies;


atribuindo a "legislação tributária" força para fixar o tempo do pagamento

dos tributos, o artigo 160 autorizou que isso se fizesse, indiferentemente,


por quaisquer de suas espécies, respeitada, por óbvio, a hierarquia existente

entre elas (v.g., um prazo fixado por lei não pode ser alterado por decreto).
37
Embargos de declaração rejeitados. (EDcl no REsp 85.409/SP, Rel. Ministro

ARI PARGENDLER, SEGUNDA TURMA, julgado em 13/12/1996, DJ


03/02/1997, p. 694)

De acordo com Hugo de Brito Machado Segundo (2017), a expressão “leis” do art. 96 do

CTN envolve não apenas o produto do Poder Legislativo – leis ordinárias e complementares -
dos entes da federação (estados, municípios e União), mas também outras fontes normativas,

como as medidas provisórias, resoluções do Senado, decretos-legislativos e outras.

Apesar da pluralidade de espécies que compõem o que se denominou “legislação tributária”,


o legislador, lastreado pelo Princípio da Legalidade, de forma restritiva, anunciou no art. 97

do Código Tributário Nacional que somente a lei pode estabelecer:

(I) a instituição de tributos, ou a sua extinção;

(II) a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39,
57 (revogado) e 65 (vide quadro abaixo);

(III) a definição do fato gerador da obrigação tributária principal, ressalvado o disposto


no inciso I do § 3º do artigo 52, e do seu sujeito passivo;

(IV) a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo, ressalvado o disposto nos
artigos 21, 26, 39, 57 (revogado) e 65 (vide quadro abaixo);

(V) a cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus dispositivos,


ou para outras infrações nela definidas;

(VI) as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos tributários, ou de dispensa

ou redução de penalidades.

38
Neste ponto, destaca-se a observação de Hugo de Brito Machado Segundo (2017) sobre as

exceções do art. 97 do CTN. Vejamos:

O CTN, elaborado à luz da Constituição de 1946, arrola exceções à regra


de que somente a lei pode majorar ou reduzir tributos, mas essas

exceções não necessariamente coincidem com as que estão atualmente


em vigor, que são determinadas pelos arts. 153, § 1º, 177, § 4º, I, b, da

CF/88, e pelo art. 75, § 1º, do ADCT.

Assim, considerando as palavras de Machado Segundo (2017) acima transcritas, expõe-se a


seguir o teor do CTN e da Constituição Federal de 1988:

As Exceções da Constituição Federal de 1988


e Exceções à regra do art. 97, incisos II e IV, do CTN
COMPARAÇÃO ENTRE OS TEXTOS

Tributo Teor do dispositivo da lei

CF: É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os limites


estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos enumerados nos
incisos I (I. Import), II (I. Export), IV (IPI) e V (IOF) (art, 153, § 1º, CF)
II - Impostos sobre a
Importação CTN: O Poder Executivo pode, nas condições e nos limites estabelecidos
em lei, alterar as alíquotas ou as bases de cálculo do imposto, a fim de
ajustá-lo aos objetivos da política cambial e do comércio exterior. (art.
21, CTN)
CF: É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os limites
IE - Imposto sobre a estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos enumerados nos
Exportação incisos I (I. Import), II (I. Export), IV (IPI) e V (IOF) (art, 153, § 1º, CF)

39
CTN: O Poder Executivo pode, nas condições e nos limites estabelecidos
em lei, alterar as alíquotas ou as bases de cálculo do imposto, a fim de
ajustá-los aos objetivos da política cambial e do comércio exterior. (art.
26, CTN)
CF: É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os limites
estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos enumerados nos
IPI -
incisos I (I. Import), II (I. Export), IV (IPI) e V (IOF) (art, 153, § 1º, CF)

CTN: A alíquota do imposto não excederá os limites fixados em


ITBI - Imposto sobre a resolução do Senado Federal, que distinguirá, para efeito de aplicação
Transmissão de Bens de alíquota mais baixa, as transmissões que atendam à política nacional
Imóveis de habitação. (art. 39)

CF: É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os limites


estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos enumerados nos
IOF - Imposto sobre incisos I (I. Import), II (I. Export), IV (IPI) e V (IOF) (art, 153, § 1º, CF)
Operações de Crédito,
Câmbio e Seguro CTN: O Poder Executivo pode, nas condições e nos limites estabelecidos
em lei, alterar as alíquotas ou as bases de cálculo do imposto, a fim de
ajustá-lo aos objetivos da política monetária. (art. 65, CTN)
CF: A lei que instituir contribuição de intervenção no domínio econômico
relativa às atividades de importação ou comercialização de petróleo e
CIDE - contribuição de
seus derivados, gás natural e seus derivados e álcool combustível deverá
intervenção no domínio
atender aos seguintes requisitos: a alíquota da contribuição poderá ser
econômico
reduzida e restabelecida por ato do Poder Executivo, não se lhe
aplicando o disposto no art. 150,III, b (art. 177, § 4º, I, b)

Prescreve a lei que a modificação da base de cálculo, quando tornar a exação mais onerosa,

é equiparada à majoração do tributo. Por outro lado, destaca o código tributário que, diante
da hipótese prevista no inciso II do art. 97 do CTN, não constitui majoração de tributo a mera

atualização do valor monetário da respectiva base de cálculo do tributo (art. 97, §§ 1º e 2º).

No que tange ao sistema de normas tributárias, define o CTN que constituem normas
complementares das leis, dos tratados e das convenções internacionais e dos decretos:

40
(I) os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas;

(II) as decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa, a que a lei
atribua eficácia normativa;

(III) as práticas reiteradamente observadas pelas autoridades administrativas (usos e


costumes meramente interpretativos, que não podem inovar em matérias sujeitas à
reserva de lei ou derrogar disposições legais);

(IV) os convênios (acordos de vontade firmados entre as pessoas políticas de direito


público interno para a consecução de objetivos comuns) que entre si celebrem a
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.

Ainda revela o código que a observância das citadas normas exclui: (a) a imposição de

penalidades, (b) a cobrança de juros de mora e (c) a atualização do valor monetário da base
de cálculo do tributo.

Normas
complementares

As decisões dos
Os convênios que
Os atos órgãos singulares As práticas
entre si celebrem
normativos ou coletivos de reiteradamente
a União, os
expedidos pelas jurisdição observadas pelas
Estados, o
autoridades administrativa, a autoridades
Distrito Federal e
administrativas que a lei atribua administrativas
os Municípios
eficácia normativa

41
2.5.2.1 Vigência da Legislação Tributária

Quanto à vigência da legislação tributária, declara o art. 101 do CTN que, considerando o
espaço e o tempo, a vigência da legislação tributária rege-se pelas disposições legais aplicáveis

às normas jurídicas em geral, ressalvado o que é previsto no código tributário nacional.

Vigente é a lei que terminou seu ciclo de produção, foi publicada, existe juridicamente, e já
atingiu o termo por ventura determinado pelo legislador para possuir força de atingir seus

objetivos finais, apesar de ser possível a existência de algum outro requisito para a efetiva
produção de efeitos. Para estar vigente, também é necessário que a lei não tenha sido revogada.

Quanto à força normativa da legislação tributária produzida pelos Estados, Distrito Federal e

Municípios, o art. 102 do CTN prevê que no País, fora dos respectivos territórios, vigora a
legislação nos limites em que lhe reconheçam extraterritorialidade os convênios de que os entes

participem, ou do que disponham o CTN ou outras leis de normas gerais expedidas pela União.

Assim, a regra é a territorialidade. Todavia, o CTN prevê duas hipóteses de vigência


extraterritorial da legislação tributária: a extraterritorialidade prevista em convênio de

cooperação e a extraterritorialidade prevista em norma geral nacional.

A seguir, o tempo para o início da vigência, conforme prescrito pelos arts. 103 e 104, do
CTN:

Legislação tributária Tempo

os atos administrativos expedidos pelas


na data da sua publicação (art. 103, I)
autoridades administrativas
as decisões dos órgãos singulares ou quanto a seus efeitos normativos, 30
coletivos de jurisdição administrativa, a que (trinta) dias após a data da sua
a lei atribua eficácia normativa publicação (art. 103, II)
os convênios que entre si celebrem a União,
na data neles prevista (art. 103, III)
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios

42
dispositivos de lei, referentes a impostos
sobre o patrimônio ou a renda:
I - que instituem ou majoram tais impostos;
II - que definem novas hipóteses de no primeiro dia do exercício seguinte
incidência; àquele em que ocorra a sua publicação
III - que extinguem ou reduzem isenções, (art. 104)
salvo se a lei dispuser de maneira mais
favorável ao contribuinte, e observado o
disposto no artigo 178.

2.5.2.2 Aplicação da Legislação Tributária

Segundo o CTN, a legislação tributária possui força para aplicação imediata aos fatos
geradores futuros e aos pendentes (incluindo nesse segundo grupo aqueles casos cuja

ocorrência do fato tenha tido início, mas não esteja completa nos termos do artigo 116).

Trata-se do princípio da irretroatividade. Note que, em que pese seja um princípio


constitucional, os casos que excepcionam essa regra estão previstos no CTN, e não na

Constituição.

Note ainda, que todas as exceções dizem respeito às infrações, razão pela qual não há
exceção à irretroatividade no que tange a tributo.

Ainda no que diz respeito à aplicação no tempo, o CTN determina que lei se aplica a ato ou

fato pretérito em qualquer caso, quando seja ela expressamente interpretativa, excluída a
aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados; e, na hipótese de se tratar de

ato não definitivamente julgado:

A. Quando deixe de defini-lo como infração;

B. Quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão, desde
que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de tributo;
e, finalmente;

43
C. Quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo da
sua prática.

2.5.2.3 Interpretação e Integração da Legislação Tributária

Nos termos do art. 108, ante a ausência de disposição expressa, a autoridade competente

para aplicar a legislação tributária utilizará sucessivamente, na seguinte ordem:

Analogia

Os princípios gerais de direito tributário

Os princípios gerais de direito público

A equidade

Ressalva o CTN que o uso da analogia não poderá resultar na exigência de tributo não

previsto em lei, sob pena de violação ao próprio princípio da legalidade estrita. De outro lado,
prevê-se no código que o emprego da equidade não poderá resultar na dispensa do pagamento

de tributo devido (art. 108). De forma esquematizada, podemos apresentar:

44
exigência de
Analogia tributo não
previsto em lei

dispensa do
Equidade pagamento de
tributo devido

Adicionalmente, revela os termos da lei que, de forma acessória, os princípios gerais de


direito privado serão utilizados para pesquisa da definição, do conteúdo e do alcance de seus

institutos, conceitos e formas, mas não para definição dos respectivos efeitos tributários. Ainda
sobre assunto, o art. 110 fixa o seguinte:

A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos
e formas de direito privado, utilizados, expressa ou implicitamente, pela Constituição
Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas do Distrito Federal ou
dos Municípios, para definir ou limitar competências tributárias 5.

Acerca da interpretação, o art. 111 determina que a interpretação literal da legislação


tributária deve ocorrer nos seguintes casos:

(I) na suspensão ou exclusão do crédito tributário;

(II) na outorga de isenção;

(III) na dispensa do cumprimento de obrigações tributárias acessórias.

5
Vide Questão 9
45
Na suspensão ou exclusão do
crédito tributário

Interpretação literal Na outorga de isenção

Na dispensa do cumprimento
de obrigações tributárias
acessórias.

De outra forma, orienta o CTN que ante a lei tributária que define infrações, ou lhe comina

penalidades, deve o intérprete entender da maneira mais favorável ao acusado, em caso de


dúvida quanto:

(I) à capitulação legal do fato;

(II) à natureza ou às circunstâncias materiais do fato, ou à natureza ou extensão dos seus

efeitos;

(III) à autoria, imputabilidade, ou punibilidade; (IV) à natureza da penalidade aplicável, ou


à sua graduação.

46
À capitulação legal do fato

À natureza ou às circunstâncias materiais


do fato, ou à natureza ou extensão dos
seus efeitos
INTERPRETAÇÃO MAIS FAVORÁVEL
AO ACUSADO

À autoria, imputabilidade, ou
punibilidade

À natureza da penalidade aplicável, ou à


sua graduação.

2.5.3 Fontes formais secundárias

As fontes formais secundárias são aquelas anunciadas pelo art. 100 do Código Tributário

Nacional (CTN) como normas complementares, essas entendidas como instrumento que
acompanham, completam as leis, os tratados e as convenções internacionais e os decretos. De

acordo com o mencionado dispositivo do código, são espécies desse grupo:

1. os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas;


2. as decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição

administrativa, a que a lei atribua eficácia normativa;


3. as práticas reiteradamente observadas pelas autoridades

administrativas;
4. os convênios que entre si celebrem a União, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios.

47
2.6 Princípios do Direito Tributário

A princípio, é importante que você saiba que as normas jurídicas podem ser divididas em
regras ou em princípios, de acordo com a estrutura normativa que possuem. Chamam-se regras

quando estabelecem normas de conduta, determinando ou proibindo que se faça algo concreto.
Assim, as normas podem ser observadas ou infringidas, não existindo meio-termo.

O conflito de regras se resolve pela validade de cada qual e sua aplicação ao caso pelos

critérios cronológico e de especialidade, definindo-se, deste modo qual delas incidirá.

Já os princípios são reconhecidos na medida em que indicam valores a serem promovidos.


Eles impõem a identificação da conduta devida em cada caso concreto, de acordo com suas

circunstâncias peculiares.

No caso de colisão de princípios, a solução deve contemplar os diversos valores colidentes,


usando o critério da ponderação, de modo a fazer com que prevaleça aquele que tenha mais

peso diante das circunstâncias específicas e também aquele cujo afastamento seria menos
aceitável perante o sistema de uma forma geral.

O poder do Estado de criar e cobrar tributos não é ilimitado no Estado Democrático de

Direito. As limitações ao poder de tributar, apesar de anunciadas em seção própria na


Constituição Federal, decerto não estão, de forma exaustiva, previstas no art. 150 da CF, mas se

apresentam, implícita ou explicitamente em diversos pontos da Lei Maior.

É possível que emendas constitucionais venham a ampliar ou melhorar a proteção


constitucional, mas não é possível a diminuição ou supressão dessas garantias. Várias das

limitações ao poder de tributar se constituem como cláusulas pétreas, a exemplo do princípio


da anterioridade, a imunidade recíproca, a religiosa, dentre outras, todas detalhadas no devido

momento.

Também é fundamental que você tenha conhecimento da relação entre os princípios e as


limitações constitucionais ao poder de tributar. Tratando do tema com muito ditatismo, Paulsen
explica:

48
Costuma-se tomar as limitações constitucionais ao poder de tributar como princípios
constitucionais tributários, mas esse critério não é tecnicamente correto. O rol de
limitações, constante do art. 150 da CF, traz princípios e regras, conforme a estrutura
normativa de cada qual, além do que há outros princípios que podem ser extraídos do
sistema. No art. 150 há garantias que constituem inequivocamente regras, como é o caso
da anterioridade tributária, norma de conduta a ser simplesmente cumprida pelo legislador
tal como posta. Mas também há princípios expressos, como o da isonomia, a ser
considerado e ponderado nas mais diversas situações, conforme as circunstâncias e os
interesses em questão. De outro lado, há princípios que não constam expressamente do
art. 150, como o da segurança jurídica em matéria tributária, o qual tem de ser construído
por dedução do princípio do Estado de direito e por indução a partir das regras de
legalidade, de irretroatividade e de anterioridade, bem como, dentre outros elementos,
das referências à decadência e à prescrição. Outros princípios não constam do art. 150,
mas têm suporte expresso em outro dispositivo, como é o caso do princípio da capacidade
contributiva, estampado no art. 145, § 1º, da Constituição Federal.

Vamos aprofundar tudo isso adiante. Atenção! Os princípios têm grande recorrência em
certames para carreiras jurídicas e servem de base para a resolução de questões de outros temas

também.

2.6.1 Princípio da legalidade tributária

O princípio da legalidade é o instrumento garantia do povo, mediante o qual se obsta a


invasão do Estado sobre a propriedade privada a partir da exação não autorizada pelos
particulares.

A norma ora estudada é, portanto, um sinal da resistência, uma via do controle da força
estatal.

Sobre a história desse princípio no direito brasileiro e o que de fato ele representa, destaca

Harada (2017):

Atualmente, esse princípio acha-se inserto nas Constituições de quase todos os países do
mundo. No Brasil, desde a Constituição Republicana de 1891, vem sendo consignado o
princípio da prévia instituição legal do imposto (art. 72, § 30). A própria Carta outorgada
de 1824, em seu art. 36, § 1o, prescrevia a iniciativa privativa da Câmara dos Deputados
sobre impostos.

49
A Carta Política de 1988, como se não bastasse o princípio genérico da legalidade expresso
no art. 5º, II, 126 prescreveu em seu art. 150, I: “Sem prejuízo de outras garantias
asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios: I – exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça.”

Cumpre acrescentar que o princípio da legalidade tributária não se resume, apenas, na


vedação de instituição ou majoração do tributo sem a prévia autorização legislativa. De
há muito extrapolou o velho princípio donde se originou – nullum crimen sine lege – para
passar a reger as mais diferentes situações relacionadas com a tributação, objetivando a
formulação de uma ordem jurídico-tributária cada vez mais justa. Hoje, esse princípio
preside a política de incentivos fiscais, a concessão e revogação de isenção, de remissão
e de anistia. O art. 97 do CTN enumera as matérias inseridas no campo de reserva legal.
Finalmente, outra questão diretamente ligada ao princípio da legalidade, pouco lembrada
pelos estudiosos, é a que diz respeito à repetição de indébito. Para nós, o verdadeiro
fundamento da repetição de indébito não repousa na parêmia de Pompônio, o princípio
do locupletamento indevido, mas no princípio da estrita legalidade que impõe a reposição
do solvens no statu quo ante sempre que constatado o pagamento sem fundamento na
lei. Com esse posicionamento, resolvem-se as dificuldades hoje enfrentadas nesse campo.
O sujeito passivo que efetuar pagamento de tributo sem base legal – não praticou o fato
típico; a base de cálculo não corresponde à previsão legal; a alíquota aplicada é maior que
aquela estatuída em lei etc. – terá direito à repetição independentemente de ter suportado
ou não o respectivo encargo financeiro. O problema do consumidor que, de fato, assumiu
o ônus financeiro, pelo fenômeno da repercussão, é matéria de natureza privada que não
interessa à Fazenda Pública, a qual não pode nem deve posicionar-se como tutora do
contribuinte econômico, principalmente se o direito comum já prevê sua solução.

Previsão na Constituição:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União,
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça6;

Previsão no CTN:

6
Vide questão 11
50
Art. 97. Somente a lei pode estabelecer:

I - a instituição de tributos, ou a sua extinção;

II - a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39,
57 e 65;

III - a definição do fato gerador da obrigação tributária principal, ressalvado o disposto no


inciso I do § 3º do artigo 52, e do seu sujeito passivo;

IV - a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo, ressalvado o disposto nos


artigos 21, 26, 39, 57 e 65;

V - a cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus dispositivos,


ou para outras infrações nela definidas;

VI - as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos tributários, ou de dispensa


ou redução de penalidades.

§ 1º Equipara-se à majoração do tributo a modificação da sua base de cálculo, que


importe em torná-lo mais oneroso.

§ 2º Não constitui majoração de tributo, para os fins do disposto no inciso II deste artigo,
a atualização do valor monetário da respectiva base de cálculo.

A submissão de matéria específica à regulação por lei é manifestação do princípio da reserva

legal, enquanto a submissão da criação de quaisquer obrigações ao domínio da lei é decorrência


do princípio da legalidade. Exemplos de matérias submetidas à reserva legal:

a. instituição de tributos, ou sua extinção;

b. majoração de tributos;

c. definição do fato gerador da obrigação tributária principal e do seu sujeito


passivo;

d. fixação de alíquota do tributo e sua base de cálculo;

e. cominação de penalidade;

f. hipóteses de exclusão, suspensão e extinção dos créditos tributários, ou de


dispensa ou redução de penalidades.
51
Em respeito ao princípio do paralelismo das formas, nos pontos em que a Constituição exige

lei para a instituição ou para a majoração de tributos, também a exige, implicitamente, para a
respectiva extinção.

Como explanado por Harada (2017), a legalidade anunciada pela constituição como limitação

ao Poder de Tributar não se resume de forma restrita à definição da lei como via de instituição
e aumento de tributo, tal como foi visto na ADI 1.709, onde a Corte Máxima declarou que a

instituição dos emolumentos cartorários pelo tribunal de justiça afronta o princípio da reserva
legal porque somente a lei pode criar, majorar ou reduzir os valores das taxas judiciárias (ADI

1.709, rel. min. Maurício Corrêa, j. 10-2-2000, P, DJ de 31-3-2000), ou no ARE 1.018.459 RG no


qual se declarou que:

“Por violação ao princípio da legalidade tributária, é manifesta a inconstitucionalidade da


instituição de nova contribuição compulsória, por meio de acordo ou convenção coletiva,
a empregados não filiados ao sindicado beneficiário da exação” (ARE 1.018.459 RG, voto
do rel. min. Gilmar Mendes, j. 23-2-2017, P, DJE de 10-3-2017, Tema 935).

Mas também a legalidade apresenta a lei como meio regulatório de outras situações. Em

outras palavras, a força normativa do princípio expandiu no ordenamento, e a sua ratio vai além
do texto que edifica o princípio na Lei Maior (art. 150, I, CF).

Como exemplo, tem-se o julgamento da ADI 2.304, sob a relatoria do min. Dias Toffoli, que

reforçou o posicionamento da Corte no sentido de que sobre delegação legislativa, há um


movimento pela flexibilização do Princípio da Legalidade, mas que preserva o entendimento de
que “o legislador deve estabelecer um desenho mínimo que evite o arbítrio”.

Vejamos o que disse o Supremo no caso concreto:

O grau de indeterminação com que operou a Lei estadual 11.453/2000, ao meramente


autorizar o Poder Executivo a conceder o parcelamento, provocou a degradação da reserva
legal, consagrada pelo art. 150, I, da CF. Isso porque a remessa ao ato infralegal não pode
resultar em desapoderamento do legislador no trato de elementos essenciais da obrigação
tributária. Para o respeito do princípio da legalidade, seria essencial que a lei (em sentido
estrito), além de prescrever o tributo a que se aplica (IPVA) e a categoria de contribuintes
afetados pela medida legislativa (inadimplentes), também definisse o prazo de duração da
medida, com indicação do número de prestações, com seus vencimentos, e as garantias

52
que o contribuinte deva oferecer, conforme determina o art. 153 do CTN. [ADI 2.304, rel.
min. Dias Toffoli, j. 12-4-2018, P, DJE de 3-5-2018.]

Da mesma forma, fixou a Corte Máxima o entendimento de que a lei não será a única via

para a definição de valores da exação, desde que haja lei prévia não apenas possibilitando o
uso de norma complementar tributária, mas que fixe os limites da cobrança. Vejamos:

(...) não viola a legalidade tributária a lei que, prescrevendo o teto, possibilita ao ato
normativo infralegal fixar o valor de taxa em proporção razoável com os custos da atuação
estatal, valor esse que não pode ser atualizado por ato do próprio conselho de fiscalização
em percentual superior aos índices de correção monetária legalmente previstos. [RE
838.284, voto do rel. min. Dias Toffoli, j. 19-10-2016, P, DJE de 22-9-2017, Tema 829.] Vide
RE 704.292, rel. min. Dias Toffoli, j. 19-10-2016, P, DJE de 3-8-2017, Tema 540.

Como exemplo de aplicação da tese ventilada acima, tem-se os seguintes julgados:

É inconstitucional, por ofensa ao princípio da legalidade tributária, lei que delega aos
conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas a competência de fixar ou majorar,
sem parâmetro legal, o valor das contribuições de interesse das categorias profissionais e
econômicas, usualmente cobradas sob o título de anuidades, vedada, ademais, a
atualização desse valor pelos conselhos em percentual superior aos índices legalmente
previstos. [RE 704.292, voto do rel. min. Dias Toffoli, j. 19-10-2016, P, DJE de 3-8-2017,
Tema 540.] Vide RE 838.284, rel. min. Dias Toffoli, j. 19-10-2016, P, DJE de 22-9-2017, Tema
829.

Há casos em que a lei excepciona a regra da legalidade, não para a criação dos tributos, mas
para a majoração de suas alíquotas. Nesses casos, admite-se que ato infralegal (decreto, por
exemplo) determine sua alteração.

São exceções ao princípio da legalidade:

a) imposto sobre a importação;

b) imposto sobre a exportação;

c) imposto sobre produtos industrializados;

d) imposto sobre operações financeiras;

e) CIDE combustíveis (redução e restabelecimento);

f) ICMS combustíveis (convênio);

53
Há ainda algumas ações tributárias que não se submetem à legalidade, embora não estejam

ligadas diretamente à majoração da alíquota dos tributos, a exemplo da atualização monetária


e da alteração do prazo para recolhimento do tributo.

Atente que a análise do atendimento ou não, por uma lei, à legalidade tributária faz-se pela
verificação da determinabilidade da relação jurídico-tributária mediante o critério da suficiência,

segundo Paulsen.

A lei deve conter as referências necessárias, em quantidade e densidade, para garantir a


certeza do direito. Deve poder ser possível determinar, com suporte na própria lei, os aspectos

da norma tributária impositiva, de modo que o contribuinte conheça os efeitos tributários dos
atos que praticar ou posições jurídicas que assumir, independentemente de complementação

de cunho normativo por parte do Executivo, ainda que a título de regulamentos intra legem.

Segundo a Corte, com base no fundamento doutrinário de Ricardo Lobo Torres e de Marco
Aurélio Greco, precisa-se evoluir na compreensão da legalidade tributária. Lei o trecho do

julgado a seguir:

“Caminha-se para uma legalidade suficiente, sendo que sua maior ou menor abertura
depende da natureza e da estrutura do tributo a que se aplica (STF, RE 838.284, rel. Min.
DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 19/10/2016, PROCESSO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL – MÉRITO DJe-215 PUBLIC 22-09-2017)".7

7
Vide questão 7
54
Sabendo que alguns tributos envolvem atividades estatais prestadas em benefício direto

do contribuinte ou de um grupo, o STF considera:

“Imprescindível uma faixa de indeterminação e de complementação administrativa de seus


elementos configuradores, dificilmente apreendidos pela legalidade fechada. Respeita o
princípio da legalidade a lei que disciplina os elementos essenciais determinantes para o
reconhecimento da contribuição de interesse de categoria econômica como tal e deixa
um espaço de complementação para o regulamento (STF, RE 704.292, rel. Min. DIAS
TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 19/10/2016, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-170 PUBLIC
03-08-2017)".

Observe que os aspectos da norma tributária impositiva, quais sejam, material, espacial,

temporal, pessoal e quantitativo, não são necessariamente exigidos para constar na lei de
maneira expressa.

Há situações em que, apesar de a lei não ostentar formalmente todos os aspectos de

modo claro, pode-se deduzi-los implicitamente ou à luz da respectiva norma de competência.

Como exemplo, podemos citar a aplicação do art. 22, I, a, da Lei n. 8.212/91. Este
dispositivo não especifica de maneira clara o fato gerador, mas permite que seja identificado

como a realização do pagamento ou creditamento cujo montante constitui sua base de cálculo.

Segundo Paulsen:

Não há impedimento à utilização de tipos abertos e de conceitos jurídicos indeterminados,


até porque todos os conceitos são mais ou menos indeterminados, desde que tal não
viole a exigência de determinabilidade quanto ao surgimento, sujeitos e conteúdo da
relação jurídico-tributária, não se admitindo que a sua utilização implique delegação
indevida de competência normativa ao Executivo. Também não é vedada a utilização de
norma tributária em branco que exija a consideração de simples dados fáticos ou técnicos
necessários à sua aplicação.

Aprofundando, as medidas provisórias, tendo força de lei, são perfeitamente aptas à


instituir ou majorar os tributos para os quais seja necessária lei ordinária.

55
Apesar das limitações temáticas à edição de medidas provisórias incluídas após a EC 32, (art.
62, § 1º, da CF), tal como ocorria com o antigo Decreto-Lei, elas não atingem a área tributária.

É fundamental que se observe apenas as restrições impostas pelo art. 246 da CF e a

impossibilidade de tratar de matéria reservada à lei complementar (art. 62, § 1º, III).

2.6.2 Princípio da anterioridade tributária (anual e


nonagesimal).

Concebido à luz da segurança jurídica, o princípio da anterioridade tributária veda a


surpresa da exação diante do contribuinte, garantindo ao sujeito que entregará parte do seu

patrimônio ao Estado tempo para se programar em face da obrigação tributária que deverá
adimplir.

Seu estudo é fundamental para certames de carreiras jurídicas por representar uma das mais

expressivas garantias outorgadas aos contribuintes. Redobre a atenção. O princípio da


anterioridade tributária, anunciado pelo art. 150, III, alíneas b e c, determina que sem prejuízo
de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito

Federal e aos Municípios cobrar tributos:

(1) No mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou
aumentou e

(2) Antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os
instituiu ou aumentou.

56
Conforme aduz Hugo de Brito Machado Segundo (2017) trata-se a norma ora estudada

de instituto coberto pela proteção conferida pelo art. 60, § 4º, IV, da CF: a imutabilidade em
face do poder reformador constitucional8. Vejamos o que diz o citado autor:

Tendo em vista o disposto no art. 60, § 4º, IV, da CF/88, que veda a edição de emendas
constitucionais tendentes a abolir direitos e garantias individuais, e considerando que o
rol dos direitos e garantias individuais não se exaure no art. 5º da CF/88, o STF tem arestos
nos quais considera o princípio da anterioridade da lei tributária como integrante do
chamado núcleo imodificável da CF/88. “O princípio da anterioridade da lei tributária –
imune, até mesmo, ao próprio poder de reforma constitucional titularizado pelo Congresso
Nacional (RTJ 151/755-756) – representa um dos direitos fundamentais mais relevantes
outorgados ao universo dos contribuintes pela Carta da República, além de traduzir, na
concreção do seu alcance, uma expressiva limitação ao poder impositivo do Estado. Por
tal motivo, não constitui demasia insistir na asserção de que o princípio da anterioridade
das leis tributárias – que se aplica, por inteiro, ao IPTU (RT 278/556) – reflete, em seus
aspectos essenciais, uma das expressões fundamentais em que se apoiam os direitos
básicos proclamados em favor dos contribuintes” (Pet. 1.466, Rel. Min. Celso de Mello, j.
em 25/8/1998, DJ de 2/9/1998, p. 33). A propósito, o entendimento de que emendas não
podem afastar a aplicação do princípio da anterioridade foi manifestado pelo STF no
julgamento da validade do IPMF, instituído com autorização na EC 3/93 (Pleno, ADI 939/DF,
Rel.M in. Sydney Sanches, j. 15/12/1993, m. v., DJ de 18/3/1994, p. 5165, RTJ 151-3/755).

Antes da apreciação das faces do princípio da anterioridade, faz-se necessário destacar que
essa norma em nada se confunde com o princípio da anualidade, previsto na Constituição

Federal de 1946 (art. 141, § 34) e inexistente no texto da Lei Maior de 1988.

De acordo com a regra da CF/46, a exação somente poderia ser instituída (ou mesmo
aumentada) se houvesse prévia autorização orçamentária. Sendo assim, ao Estado, restava a

necessidade da previsão na lei de orçamento para que pudesse exercer, de fato, o poder de
tributar no ano financeiro, seja para instituir, seja para majorar tributos. Revogado pela emenda

constitucional nº 18 de 1965, o princípio da anualidade, como dito, não foi consagrado pela
Constituição de 1988 (HARADA, 2017).

8
Vide questão 16
57
O princípio da anterioridade, esculpido no art. 150, III, da CF, registra, diferentemente

daquela outra norma da CF de 1946, que ao ente federativo é permitida a criação e a majoração
de tributos, desde que a cobrança, de fato, ocorra no exercício seguinte àquele no qual foi

publicada a lei que instituiu ou aumentou.

Nas palavras de Harada (2017), “de fato, o Estado tem a faculdade de criar novos tributos
ou majorar os existentes quando quiser, mas sua cobrança fica diferida para o exercício seguinte

ao da publicação da lei”.

Como dito antes, a norma ora estudada confere segurança ao contribuinte, que poderá
planejar-se ante a exação que se iniciará ou será majorada. Por outro lado, no que diz respeito

aos índices de correção monetária, fixou o STF, no julgamento do RE 234002 AgR, que aqueles
não se confundem com tributo, não sendo exigido, portanto, a aplicação dos princípios da

irretroatividade e da anterioridade: C.F., art. 150, III, a e b. II.

Observe-se que o princípio em análise existe com a finalidade de proteger o contribuinte, não

impedindo a imediata aplicação de mudanças que diminuam a carga tributária a que o


contribuinte está sujeito, ou que não tenham qualquer impacto sobre o patrimônio do sujeito

passivo.

No pensamento de Leandro Paulsen (2014), defendendo uma ideia diferente daquela trazida
por muitos autores, a anterioridade não se trata de um princípio, mas sim de regras, de uma

verdadeira garantia constitucional que permite o “conhecimento antecipado da lei tributária

58
mais gravosa”. Dissertando sobre o assunto, o mencionado autor profere o que ensina

Humberto Ávila:

Em vez de previsibilidade, a segurança jurídica exige a realização de um estado de


calculabilidade. Calculabilidade significa a capacidade de o cidadão antecipar as
consequências alternativas atribuíveis pelo Direito a fatos ou a atos, comissivos ou
omissivos, próprios ou alheios, de modo que a consequência efetivamente aplicada no
futuro situe-se dentro daquelas alternativas reduzidas e antecipadas no presente.

De outro lado, reforçando o seu posicionamento que é divergente de outros autores - mas
se coaduna ao que defende Harada (2017) - Leandro Paulsen (2014) afirma que a anterioridade

nonagesimal “garante ao contribuinte o interstício de 90 dias entre a publicação da lei


instituidora ou majoradora do tributo e sua incidência apta a gerar obrigações tributárias”.
Conforme pontua o autor, tanto a anterioridade de exercício quanto a anterioridade
nonagesimal se completam e são observadas na exação de todas as espécies tributárias

(impostos, taxas, contribuições de melhoria, contribuições e empréstimos compulsórios).

Contudo, destacam-se as exceções anunciadas na constituição (arts. 150, § 1º, 177, § 4º, e
195, § 6º). Preste máxima atenção a elas, pois são muito cobradas em concursos públicos!

Princípio da anterioridade nonagesimal (art. Princípio da anterioridade (art. 150, III, b,


150, III, c, CF)9 CF)
é vedado à União, aos Estados, ao Distrito é vedado à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios cobrar tributos antes Federal e aos Municípios cobrar tributos no
de decorridos noventa dias da data em que mesmo exercício financeiro em que haja
haja sido publicada a lei que os instituiu ou sido publicada a lei que os instituiu ou
aumentou, observado o disposto na alínea b. aumentou:
Exceções: Exceções:
empréstimos compulsórios para atender a empréstimos compulsórios para atender a
despesas extraordinárias, decorrentes de despesas extraordinárias, decorrentes de
calamidade pública, de guerra externa ou sua calamidade pública, de guerra externa ou
iminência (art. 150, III, b, art. 150, § 1º, art. 148, sua iminência (art. 150, III, b, art. 150, § 1º,
I, CF) art. 148, I, CF)

9
Vide questão 4
59
II - importação de produtos estrangeiros (art. II - importação de produtos estrangeiros
150, III, b, art. 150, § 1º, art. 153, I, CF) (art. 150, III, b, art. 150, § 1º, art. 153, I, CF)
IE - exportação, para o exterior, de produtos IE - exportação, para o exterior, de
nacionais ou nacionalizados (art. 150, III, b, art. produtos nacionais ou nacionalizados (art.
150, § 1º, art. 153, II, CF) 150, III, b, art. 150, § 1º, art. 153, II, CF)
IOF - operações de crédito, câmbio e
IOF - operações de crédito, câmbio e seguro,
seguro, ou relativas a títulos ou valores
ou relativas a títulos ou valores mobiliários
mobiliários (art. 150, III, b, art. 150, § 1º, art.
(art. 150, III, b, art. 150, § 1º, art. 153, V, CF)
153, V, CF)
IEG - na iminência ou no caso de guerra IEG - na iminência ou no caso de guerra
externa, impostos extraordinários, externa, impostos extraordinários,
compreendidos ou não em sua competência compreendidos ou não em sua
tributária, os quais serão suprimidos, competência tributária, os quais serão
gradativamente, cessadas as causas de sua suprimidos, gradativamente, cessadas as
criação. (art. 150, III, b, art. 150, § 1º, art. 154, causas de sua criação. (art. 150, III, b, art.
II, CF) 150, § 1º, art. 154, II, CF)
IR - renda e proventos de qualquer natureza IPI - produtos industrializados (art. 150, III,
(art. 150, III, b, art. 150, § 1º, art. 153, III, CF) b, art. 150, § 1º, art. 153, IV, CF)
fixação da base de cálculo dos impostos
previstos nos arts. 155, III, e 156, I.:
IPVA - propriedade de veículos automotores. -
IPTU - - propriedade predial e territorial
urbana
ICMS combustíveis/lubrificantes (art. 155,
§ 2º, XII, h) - as alíquotas do imposto serão
definidas mediante deliberação dos
Estados e Distrito Federal, nos termos do §
-
2º, XII, g, observando-se o seguinte: c)
poderão ser reduzidas e restabelecidas,
não se lhes aplicando o disposto no art.
150, III, b (art. 155, § 4º, IV, c, CF).
CIDE combustíveis (art. 177, § 4º) - a
-
alíquota da contribuição poderá ser: b)

60
reduzida e restabelecida por ato do Poder
Executivo, não se lhe aplicando o disposto
no art. 150, III, b (art. 177, § 4º, I, b)
Contribuições sociais (art. 195, I a IV, CF) -
As contribuições sociais só poderão ser
exigidas após decorridos noventa dias da
- data da publicação da lei que as houver
instituído ou modificado, não se lhes
aplicando o disposto no art. 150, III, "b" (art.
195, § 6º).

Vejamos como esse assunto foi cobrado em concurso público. A VUNESP, em 2019, cobrou o

seguinte em certame para Juiz de Direito Substituto do TJ-RO.

A vedação constitucional à cobrança de tributos antes de decorridos noventa dias da data em


que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou aplica-se, entre outros, aos seguintes

tributos:

A) aos impostos extraordinários, à fixação da base de cálculo do imposto sobre a propriedade


de veículos automotores e do imposto sobre propriedade predial e territorial urbana.

B) aos impostos residuais criados pela União, às taxas, às contribuições previdenciárias e ao


imposto sobre circulação de bens e serviços.

C) às taxas, aos empréstimos compulsórios, ao imposto de importação e às contribuições

previdenciárias.

61
D) aos empréstimos compulsórios, ao imposto sobre produtos industrializados, ao imposto sobre

operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários.

E) ao imposto de importação, ao imposto de renda e proventos de qualquer natureza e à fixação


da base de cálculo do imposto sobre a propriedade de veículos automotores.

Note que neste quesito, o Examinador exigiu que o candidato soubesse a aplicação do princípio
da anterioridade nonagesimal, especialmente as suas exceções;.

Elas estão previstas no §1º do mesmo dispositivo. São elas: empréstimos compulsórios (apenas

os se fundamentam em despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra


externa ou sua iminência), imposto de importação (II), imposto de exportação (IE), imposto de
renda (IR), IOF, imposto extraordinário de guerra (IEG) e a fixação da base de cálculo do IPVA e

IPTU.

Incorreta a letra A. Conforme visto, não se aplica à fixação da base de cálculo do IPTU e IPVA.
Quanto aos impostos extraordinários, o princípio apenas não se aplica ao caso dos instituídos

no caso de iminência de guerra externa (art. 154, I, CF).

A letra B é o gabarito da questão. Nenhum desses tributos relacionados na alternativa estão nas
exceções do princípio da anterioridade nonagesimal.

A assertiva C está errada. Você já sabe que o princípio não se aplica aos empréstimos
compulsórios (fundado em despesas extraordinária decorrente de calamidade pública ou guerra
externa), bem como não se aplica ao imposto de importação. Já quanto às contribuições
previdenciárias há uma disposição específica no art. 195, §6º, CF, que prevê a aplicação do
princípio.

Letra D incorreta posto que não se aplica aos empréstimos compulsórios, ao IPI e ao IOF.

Pelos mesmos argumentos expostos, incorreta a letra E. O princípio não se aplica a nenhum

desses tributos.

62
Neste ponto, cabe a exposição de algumas teses fixadas pelo Supremo Tribunal Federal.

Vejamos:

Precedentes recentes de ambas as Turmas desta CORTE estabelecem que se aplica o princípio
da anterioridade tributária, geral e nonagesimal, nas hipóteses de redução ou de supressão de

benefícios ou de incentivos fiscais, haja vista que tais situações configuram majoração indireta
de tributos. (RE 564225 AgR-EDv-AgR, Relator(a): Min. ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno,

julgado em 20/11/2019, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-264 DIVULG 03-12-2019 PUBLIC 04-12-


2019)

A contribuição ao PIS só pode ser exigida, na forma estabelecida pelo art. 2º da EC 17/1997,

após decorridos noventa dias da data da publicação da referida emenda constitucional. 2.


Recurso extraordinário a que se dá provimento, com o reconhecimento da repercussão geral do
tema e a reafirmação da jurisprudência sobre a matéria. (RE 848353 RG, Relator(a): Min. TEORI

ZAVASCKI, julgado em 12/05/2016, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO


DJe-105 DIVULG 20-05-2016 PUBLIC 23-05-2016)

SÚMULA VINCULANTE 50 - Norma legal que altera o prazo de recolhimento de obrigação

tributária não se sujeita ao princípio da anterioridade10.

Regina Helena Costa aponta que, tradicionalmente insculpido em nossos textos


constitucionais, o princípio em foco passou a ter seu conteúdo esvaziado nos últimos anos,

diante da prática, por vezes reiterada, de fazer-se publicar lei majoradora de imposto às vésperas
do novo exercício financeiro – vale dizer, nos últimos dias de dezembro. Entendeu-se,

predominantemente, inclusive em jurisprudência, que, publicada a lei que institui ou aumenta

10
Vide questão 3
63
tributo, ainda que no dia 31 de dezembro, sua eficácia é deflagrada no dia seguinte – 1º de

janeiro – restando, desse modo, atendido o aludido princípio constitucional.

No caso de utilização da medida provisória para a instituição ou majoração de impostos, em


regra, impõe-se a observância do princípio em estudo, posto que tal ato normativo só produzirá

efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele
em que foi editada.

2.6.3 Princípio da isonomia

O princípio da isonomia, anunciado no art. 150, II, da CF, registra no ordenamento jurídico
pátrio que é vedado aos entes da federação - União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios - estabelecer tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação

equivalente, sendo proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função


por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou

direitos.

Compreende? Coloquemos em outras palavras. O constituinte, carregando o espírito do


princípio da igualdade (art. 5º, CF) ao âmbito do Direito Tributário, consagrou nos termos da

Constituição a proibição do tratamento desigual entre iguais, condenando qualquer


possibilidade da prática de favorecimento ou a concessão de privilégios desarrazoados, sem

justo motivo ou pautados em justificativas inescusáveis.

Frente ao princípio da isonomia, é comum se levantar o debate acerca da constitucionalidade


do tratamento diferenciado oferecido pelo Estado diante de contribuintes específicos. No

entanto, é pacífico o entendimento de que a concessão de benefícios de natureza fiscal a grupos


64
determinados é possível, desde que essas condições favoráveis criadas não levem a um efeito

negativo, denominado desigualdade jurídica formal, isto é, quando a lei trata de forma desigual
pessoas que se inserem em condições iguais (HARADA, 2017).

Assim, é possível cobrar contribuição previdenciária dos servidores inativos e dos pensionistas.

O que não é possível é distinguir as alíquotas das contribuições pagas pelos servidores da União,
do Estado ou do Município, pois esse tratamento fere a isonomia. Ademais, a ocupação

profissional ou a função exercida pelo contribuinte não pode ser tomada como parâmetro para
a diferenciação.

Sobre esse tema, Leandro Paulsen (2014) destaca que duas justificativas autorizam os entes

da federação promoverem o tratamento distinto entre sujeitos. São elas:

(a) Razões de capacidade contributiva;

(b) Razões extrafiscais.

Segundo o mencionado autor, a capacidade contributiva é, de fato, a principal razão que


fundamenta o agir diferente, já que essa está intimamente associada ao conceito de justiça fiscal

(vide art. 145, § 1º, CF).

De outro lado, assevera o autor “apenas excepcionalmente é que se poderá admitir


tratamento diferenciado embasado em razões extrafiscais, as quais, ademais, terão de

encontrar expresso amparo constitucional”.

Nesse toar, é importante destacar alguns dispositivos da Constituição, indicados por


Paulsen (2014), que reforçam o pensamento ora exposto:

Artigo Texto da Constituição

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho


humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos
arts. 170, III, e 182, § 4º,
existência digna, conforme os ditames da justiça social,
II, da CF
observados os seguintes princípios: III - função social da
propriedade;

65
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo
Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em
lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das
funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus
habitantes. § 4º É facultado ao Poder Público municipal,
mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir,
nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não
edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu
adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: II -
imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana
progressivo no tempo;
Art. 151. É vedado à União:
I - instituir tributo que não seja uniforme em todo o território
nacional ou que implique distinção ou preferência em relação a
art. 151, I, da CF Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento de
outro, admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a
promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico
entre as diferentes regiões do País;
Art. 146. Cabe à lei complementar: III - estabelecer normas gerais
em matéria de legislação tributária, especialmente sobre: c)
adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado
pelas sociedades cooperativas.
art. 146, III, c, c/c o art. Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade
174, § 2º, da CF econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de
fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante
para o setor público e indicativo para o setor privado. § 2º A lei
apoiará e estimulará o cooperativismo e outras formas de
associativismo.
Art. 146. Cabe à lei complementar: III - estabelecer normas gerais
em matéria de legislação tributária, especialmente sobre: d)
art. 146, III, d, da CF definição de tratamento diferenciado e favorecido para as
microempresas e para as empresas de pequeno porte, inclusive
regimes especiais ou simplificados no caso do imposto previsto

66
no art. 155, II, das contribuições previstas no art. 195, I e §§ 12 e
13, e da contribuição a que se refere o art. 239.
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade,
de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos
provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: I
- do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na
forma da lei, incidentes sobre:
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos
ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste
art. 195, § 9º, da CF serviço, mesmo sem vínculo empregatício; b) a receita ou o
faturamento; c) o lucro;
§ 9º As contribuições sociais previstas no inciso I do caput deste
artigo poderão ter alíquotas diferenciadas em razão da
atividade econômica, da utilização intensiva de mão de obra, do
porte da empresa ou da condição estrutural do mercado de
trabalho, sendo também autorizada a adoção de bases de cálculo
diferenciadas apenas no caso das alíneas "b" e "c" do inciso I do
caput.

2.6.4 Princípio da irretroatividade tributária

A irretroatividade tributária esculpida no art. 150, III, a, da Constituição de 1988, que tem
seus pilares sobre o princípio da legalidade e o da segurança jurídica, estabelece que é vedada

a cobrança de tributos sobre fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que
os houver instituído ou aumentado.

Observe que o teor da Lei Maior representa, em verdade, uma garantia aos sujeitos, porque

confere proteção além do direito adquirido e ao ato jurídico perfeito, impedindo a imposição
de regra mais gravosa sobre o contribuinte (PAULSEN, 2014). Nas palavras de Hugo de Brito

Machado Segundo (2017):

67
O princípio da irretroatividade é limitação ao poder estatal de elaborar e aplicar leis e
outros atos normativos, instituído em proteção do cidadão. Tanto é assim que o art. 150,
III, da CF/88, se refere à lei que instituir ou majorar tributos. A redução de tributos ou de
penalidades, ou a sua extinção ou dispensa, estas podem ocorrer retroativamente (v. g.,
remissão, anistia etc.). Nesse sentido é o entendimento do STF, hoje cristalizado na Súmula
654, que dispõe: “A garantia da irretroatividade da lei, prevista no art. 5º, XXXVI, da
Constituição da República, não é invocável pela entidade estatal que a tenha editado.”

Como bem pontua Paulsen (2014) ao tratar sobre o assunto, diferentemente de outros
princípios, esse não comporta atenuação ou exceção no texto constitucional. De acordo com o
autor, a lei que institui ou majora tributos deve ter caráter prospectivo, sendo inadmissível a

retroação de seus efeitos.

Em outras palavras, fixa-se: a lei tributária que carrega maior onerosidade não atinge atos
passados, anteriores à sua vigência. Aliás, sequer a retroatividade imprópria, admitida no direito

alemão, é aceita no Brasil (PAULSEN, 2014)

Quanto à aplicação da lei, aliás, como já exposto neste capítulo, o art. 105 do CTN determina
que a legislação tributária deverá ser aplicada imediatamente aos fatos geradores futuros e aos

pendentes, assim entendidos aqueles cuja ocorrência tenha tido início, mas não esteja completa
nos termos do artigo 116. Considerando o teor do art. 106 do código tributário, é possível

esquematizar a regra de aplicação da seguinte forma:

68
Quando seja
expressamente
interpretativa, excluída a
Em qualquer caso
aplicação de penalidade à
infração dos dispositivos
interpretados

Quando deixe de defini-lo


A lei aplica-se a ato ou como infração
fato pretérito

Quando deixe de tratá-lo


como contrário a
qualquer exigência de
ação ou omissão, desde
Ato não definitivamente que não tenha sido
julgado fraudulento e não tenha
implicado em falta de
pagamento de tributo

Quando lhe comine


penalidade menos severa
que a prevista na lei
vigente ao tempo da sua
prática

Aluno, você deve estar atento ao fato de que, enquanto os princípios da anterioridade anual
e nonagesimal têm como base a publicação da lei, o princípio da irretroatividade tem como

parâmetro a data da vigência da lei.

69
Em certas hipóteses, a retroatividade é benéfica ao sujeito passivo e, desse modo, admissível

pelo ordenamento jurídico. Na seara tributária, o art. 106, CTN, consigna hipóteses nesse sentido.

2.6.5 Princípio da vedação ao confisco

O confisco trata-se da carga tributária excessiva, onerosa ao ponto de pôr em risco o próprio

contribuinte, seus direitos e garantias constitucionais (PAULSEN, 2014). O princípio do não


confisco, em um primeiro olhar, reflete a ideia da proteção a um dos direitos fundamentais: a

propriedade.

Contudo, mais do que isso, revela também um comprometimento do Estado com a liberdade,
aquela essencial ao exercício da atividade econômica (que abarca o exercício profissional e a

livre iniciativa).

A Constituição da República autoriza duas hipóteses de confisco de bens. A primeira, ao


tratar de dispositivos referentes à matéria penal:

Art. 5º (...)

XLV – nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar


o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos
sucessores e contra eles executadas até o limite do valor do patrimônio transferido;

XLVI – a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:

(...)

b) perda de bens (...).

70
E, também entre as disposições gerais, encontramos permissão constitucional para o confisco:

Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem
localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo
na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de
habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras
sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º.

Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência


do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será
confiscado e reverterá a fundo especial com destinação específica, na forma da lei.

Anunciado no art. 150, IV, da CF, o não confisco tem sua raiz em outros princípios como o

da capacidade contributiva e, sob a visão do Supremo Tribunal Federal, deve essa norma ser
observada não apenas na exação (na cobrança de tributos), mas também na aplicação de
penalidades na esfera tributária.

O entendimento da Corte Máxima, aliás, é no sentido de que há abusividade da multa


punitiva, quando arbitrada acima do montante de 100% do valor do tributo, sendo essa

considerada arbitrária (AI 851.038 AgR, rel. min. Roberto Barroso, j. 10-2-2015, 1ª T, DJE de 12-
3-2015).

Como registra o próprio STF, a multa punitiva é aplicada em face de prática contrária à lei,

no descumprimento voluntário da obrigação tributária, consistindo, portanto, uma sanção cujo


fim é coibir a prática de ilícitos de natureza tributária. Sendo assim, a multa carrega forte caráter

pedagógico, cujo objetivo é promover o desestímulo ao desrespeito à atuação da administração


tributária11.

Como determina o STF, “deve ser reconhecida a possibilidade de aplicação da multa em

percentuais mais rigorosos”. Mas, nesses casos, o próprio Supremo consagrou a ideia de que a
punição tem como limite o valor atribuído à obrigação principal12.

11
Vide questão 18
12
RE 602.686 AgR-segundo, rel. min. Roberto Barroso, j. 9-12-2014, 1ª T, DJE de 5-2-2015; RE 523.471 AgR, rel.
min. Joaquim Barbosa, j. 6-4-2010, 2ª T, DJE de 23-4-2010.
71
No mesmo sentido, isto é, defendendo a limitação do valor da sanção considerando o

princípio do não confisco, a Corte também tem se pronunciado sobre a necessidade da limitação
na aplicação da multa moratória, já que essa, por sua natureza, também tem o objetivo de

“sancionar o contribuinte que não cumpre suas obrigações tributárias, prestigiando a conduta
daqueles que pagam em dia seus tributos aos cofres públicos”13.

Decerto, como preceitua o STF, para que a sanção cumpra sua “função de desencorajar a

elisão fiscal, de um lado não pode ser pífia, mas, de outro, não pode ter um importe que lhe
confira característica confiscatória, inviabilizando inclusive o recolhimento de futuros tributos”.

De acordo com a jurisprudência da Suprema Corte, não é confiscatória a multa moratória no


importe de 20%14.

No que tange à taxa, a verificação do caráter confiscatório é feita comparando-se o custo

da atividade estatal com o valor cobrado a título de taxa.

A identificação do efeito confiscatório deve ser feita em função da totalidade da carga

tributária, mediante a verificação da capacidade contributiva do sujeito passivo para suportar e


sofrer a incidência de todos os tributos que deverá pagar, dentro de um determinado período,
à mesma pessoa política que os houver instituído, segundo o STF.

Por fim, ressalte-se que podem ser confiscatórios os impostos sobre o patrimônio, quer
considerados na sua perspectiva estática (propriedade imobiliária), quer na sua perspectiva
dinâmica (transmissão de propriedade imobiliária).

13
Vide questão 15
14
RE 582.461, rel. min. Gilmar Mendes, j. 18-5-2011, P, DJE de 18-8-2011, Tema 214
72
2.6.6 Princípio da não obstância do exercício de direitos
fundamentais por via da tributação

Implícito no texto constitucional, este princípio é extraído das normas que afirmam que os
diversos direitos e liberdades nele contemplados devem conviver de maneira harmônica.

Entende? Vamos explicar com outras palavras. Se a Carta Constitucional assegura o exercício

de determinados direitos qualificados como fundamentais, não pode tolerar que a tributação,
também constitucionalmente disciplinada, seja desempenhada em desapreço a esses mesmos

direitos.

E uma das maneiras pelas quais, indesejavelmente, pode o exercício de direitos vir a ser
amesquinhado é por intermédio da tributação, porquanto o tributo, necessariamente, interfere

com o direito de liberdade e o direito de propriedade dos cidadãos, como aponta Costa (2018),
que ensina ainda:

O princípio da não obstância do exercício de direitos fundamentais por via da tributação


projeta seus efeitos, inicialmente, no próprio Texto Fundamental. Todas as normas
constitucionais vedatórias da tributação em determinadas situações ou em relação a
determinadas pessoas, bem como aquelas garantidoras do exercício de direitos,
representam sua aplicação, tais como as imunidades e os princípios.

Portanto, o princípio em foco tem sua eficácia manifestada não somente mediante a
instituição de situações de intributabilidade, mas igualmente mediante a observância de
outros princípios constitucionais, tais como o da vedação da utilização de tributo com
efeito de confisco (art. 150, IV), o da função social da propriedade (arts. 5º, XXIII, e 170,
III) e o da liberdade de profissão (arts. 5º, XIII, e 170, parágrafo único).

2.6.7 Princípio da não limitação ao tráfego de pessoas e


ressalva do pedágio (Princípio da liberdade de locomoção)

O texto do art. 150, V da CF veda a imposição de limitações ao tráfego de pessoas ou bens,

por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, por qualquer dos entes da federação.

Como preceitua Hugo de Brito Machado Segundo (2017), o princípio ora apreciado decorre
princípio federativo, não sendo permitido que a tributação crie óbice, barreiras ante a
73
necessidade do trânsito de pessoas ou bens no âmbito do Estado Federal – ou haveria uma

violação ao próprio direito de ir e vir, garantido pela Constituição. Por outro lado, ressalva
Machado Segundo (2017):

Isso não quer dizer que as operações interestaduais ou intermunicipais não possam ser
tributadas. Podem, mas não com uma carga maior que aquela aplicada às operações
internas. Em outras palavras, o simples fato de se estar transpondo as fronteiras de um
Estado-membro não pode ser motivo para um agravamento da exigência.

O texto constitucional ressalva, contudo, a possibilidade da cobrança de pedágio pela

utilização de vias conservadas pelo Poder Público. Como se extrai do teor da Lei Maior, o
pedágio coloca-se como uma exceção à regra do 150, contudo, há a necessidade de se destacar

aqui que, conforme interpretação do STF, não constitui o pedágio um tributo, porque esse, na
visão da Corte, trata-se de preço público, motivo pelo qual, inclusive, sua instituição não está

limitada ou condicionada ao princípio da legalidade estrita do direito tributário15.

No que diz respeito ao princípio aqui apreciado, é importante que você leia o que diz Harada
(2017):

O referido princípio é uma decorrência natural da unidade econômica e política do


território nacional. Objetiva assegurar a livre circulação de bens e de pessoas ou meios
de transportes, que não pode ser limitada ou embaraçada por tributação interestadual ou
intermunicipal, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo
poder público. A unidade do território nacional resulta da Federação Brasileira, onde existe
a ordem total, a ordem regional e a ordem local.

Outra exceção é a possibilidade de cobrança do ICMS interestadual.

15 Ementa: TRIBUTÁRIO E CONSTITUCIONAL. PEDÁGIO. NATUREZA JURÍDICA DE PREÇO PÚBLICO. DECRETO


34.417/92, DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. CONSTITUCIONALIDADE. 1. O pedágio cobrado pela efetiva
utilização de rodovias conservadas pelo Poder Público, cuja cobrança está autorizada pelo inciso V, parte final, do
art. 150 da Constituição de 1988, não tem natureza jurídica de taxa, mas sim de preço público, não estando a sua
instituição, consequentemente, sujeita ao princípio da legalidade estrita. 2. Ação direta de inconstitucionalidade
julgada improcedente. (ADI 800, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em 11/06/2014,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-125 DIVULG 27-06-2014 PUBLIC 01-07-2014)
74
2.6.8 Princípio da uniformidade de tributo federal em todo o
território nacional ou uniformidade geográfica do tratamento
tributário deferido pela União

O inciso I do art. 151 da Constituição Federal declara a norma da uniformidade geográfica

do tratamento tributário deferido pela União. Fundamentando-se na unidade política do Estado


Federal Brasileiro, o constituinte declarou naquele dispositivo:

Art. 151. É vedado à União:

I – instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique
distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em
detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o
equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do País social.

Contudo, como bem assevera Harada (2017), a “uniformidade de tributo federal não
significa que não possa haver discriminações, isto é, que todos devem pagar exatamente igual”,

isso porque ainda no mesmo texto, atenuando a rigidez da norma, certamente porque observa
outros pilares fundamentais – inclusive aqueles anunciados como objetivos da República

Federativa do Brasil (exemplo: art. 3º, incisos I, II e III, da CF) – o constituinte acrescenta que é
“admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do

desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do País”.

Todavia, o STF entende que a concessão de incentivos ou isenções se funda no juízo de


conveniência e oportunidade de que gozam as autoridades públicas na implementação de suas

políticas fiscais e econômicas. Desse modo, não cabe ao Poder Judiciário, que não pode
substituir o legislador, estender isenção a contribuintes que não foram contemplados pela lei, a
título de isonomia.

No julgamento do RE 592145/SP, o Ministro Edson Fachin, fundamentando seu voto no


ensinamento do professor Luís Eduardo Schoueri16, destacou que, ante a norma do art. 151,

16 Disponível em: [RE 592.145, rel. p/ o ac. min. Marco Aurélio, j. 5-4-2017, P, DJE de 1º-2-2018, Tema 80.
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=14274800
75
inciso I da CF, a relativização da uniformidade do tratamento tributário é fenômeno que se

justifica em face da necessidade, do desejo do constituinte pela redução das desigualdades


regionais e aquelas finalidades que serviram de lastro da construção da Constituição Cidadã de

1988: a justiça social e dignidade humana.

Ainda no mesmo julgamento, é possível destacar uma importante consideração do Ministro


Luiz Fux sobre o princípio esculpido no art. 151, I, da CF/88:

Com efeito, a própria parte final do art. 151, I, da CRFB/88 excepciona ao princípio da
uniformidade da tributação os incentivos fiscais destinados à promoção do
desenvolvimento sócio-econômico das diferentes regiões. Nesse aspecto, deve-se
interpretar o referido dispositivo como um reconhecimento de que existem áreas
geográficas no país que se distinguem entre si em termos econômicos e sociais, o
que, à luz do postulado da Isonomia, impõe um tratamento diferenciado por parte da
legislação, com vistas à redução dessas desigualdades. Esse mandamento, ademais, não
se restringe à diferenciação entre as “regiões” propriamente ditas, de modo a permitir
apenas distinções entre Estados integrantes das regiões Norte, Sul, Nordeste, Sudeste e
Centro oeste. Na verdade, quando a Constituição se refere a “regiões” está também
autorizando o tratamento diferenciado entre Estados que, embora integrem a mesma
região, possuem peculiaridades geográficas, sociais e/ou econômicas, que impedem a sua
comparação.

Outra vedação à União, também destinada a proteger a forma federativa de Estado, é aquela
estatuída pelo princípio da vedação da tributação diferenciada da renda das obrigações da

dívida pública e da remuneração dos servidores das demais pessoas políticas:

Art. 151. É vedado à União:

II – tributar a renda das obrigações da dívida pública dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, bem como a remuneração e os proventos dos respectivos agentes
públicos, em níveis superiores aos que fixar para suas obrigações e para seus agentes.

Além disso, reiterando o princípio federativo, a Carta Constitucional proíbe à União “instituir

isenções de tributos de competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios” (art.
151, III).

76
A esse respeito convém recordar que isenção heterônoma é aquela concedida por pessoa

política distinta da que detém competência para instituir determinado tributo. A regra é a
isenção autonômica, isto é, a outorgada pela pessoa competente para a instituição do tributo.

2.6.9 Princípio da não diferenciação tributária

Saindo do texto do art. 151 da Constituição Federal, que consagrou limitações ao poder de

tributar exclusivamente à União, chega-se ao art. 152, que prevê norma destinada aos demais
entes da federação.

O princípio da não diferenciação tributária, declarado pelo constituinte no art. 152, determina

que é vedado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer diferença
tributária entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de sua procedência ou
destino.

De forma direta e objetiva, o teor da Lei Maior anuncia a intenção de barrar a guerra fiscal
entre os membros da federação.

Tomando como fundamento o princípio objeto de estudo deste tópico, o Supremo Tribunal

Federal tem construído diversos precedentes em sede de controle concentrado de


constitucionalidade, repudiando o caráter discriminatório e antifederativo da legislação
infraconstitucional (veja a jurisprudência apresentada no final deste capítulo).

2.6.10 Princípio do non olet

O princípio do non olet invoca a valoração de outro princípio: a isonomia. Tributar

rendimentos provenientes de atos ilícitos impede a promoção de tratamento diferenciado entre


sujeitos envolvidos em atividades ilícitas e aqueles que agem sob a ordem da lei.

77
Como declarou o STF no julgamento do HC 77.530/RS, “a exoneração tributária dos

resultados econômicos de fato criminoso - antes de ser corolário do princípio da moralidade -


constitui violação do princípio de isonomia fiscal, de manifesta inspiração ética”.

Seguindo o mesmo entendimento, o Superior Tribunal de Justiça, no HC 7.444/RS declarou

que é plenamente possível “a tributação sobre rendimentos auferidos de atividade ilícita, seja
de natureza civil ou penal”, afinal, “o pagamento de tributo não é uma sanção, mas uma

arrecadação decorrente de renda ou lucro percebidos”, ainda que esses tenham sido contraídos
ante atos ilícitos.

É importante que você saiba, ainda, que de acordo com o art. 118 do Código Tributário
Nacional a definição legal do fato gerador é interpretada com abstração da validade jurídica

dos atos efetivamente praticados pelos contribuintes, responsáveis ou terceiros, bem como da

natureza do seu objeto ou dos seus efeitos17.

Em julgamento do STJ18, a Corte Superior declarou que o argumento de que se tributa a

atividade ilícita quando a exação atinge seus produtos não deve prosperar, pois, dentre outros
motivos, deve-se considerar o teor do art. 118 do Código Tributário Nacional, no qual a definição

legal do fato gerador deve ser “interpretada com abstração da validade jurídica dos atos

17
STJ: REsp 182.563/RJ, 5ª Turma, Rel. Min José Arnaldo da Fonseca, DJU de 23/11/1998.
18 Disponível em:
https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=741458&num_registro
=200701148850&data=20080218&formato=PDF. Precedentes: STJ: REsp 182.563/RJ, 5ª Turma, Rel. Min José
Arnaldo da Fonseca, DJU de 23/11/1998; STJ: HC 7.444/RS, 5ª Turma, Rel. Min. Edson Vidigal, DJ de 03.08.1998;
STF: HC 77.530/RS, Primeira Turma, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJU de 18/09/1998; STJ: REsp 182.563/RJ, 5ª
Turma, Rel. Min José Arnaldo da Fonseca, DJU de 23/11/1998.
78
efetivamente praticados pelos contribuintes, responsáveis ou terceiros, bem como da natureza

do seu objeto ou dos seus efeitos”.

Nos autos do HABEAS CORPUS Nº 83.292 - SP (2007/0114885-0), a Corte seguiu o voto do


MINISTRO FELIX FISCHER que, transcrevendo o voto do Min. Sepúlveda Pertence no HC

77.530/RS asseverou:

A tese contrária representa, no acertado dizer de POPITZ, a manifestação de um


sentimentalismo ilógico e infundado e, do ponto-de-vista tributário, conduz, isto sim, à
violação do princípio da isonomia fiscal. Haveria na exoneração tributária um resultado na
verdade contraditório, por isso que se estaria abrindo aos contraventores, aos marginais,
aos ladrões, aos que lucram com o furto, o crime, o jogo de azar, o proxenetismo etc., a
vantagem adicional da exoneração tributária, de que não gozam os contribuintes com
igual capacidade contributiva decorrente da prática de atividades, profissões ou atos lícitos.

(...)

Eis aí um obséquio que a correta identificação da consistência econômica do fato gerador


oferece: a indiferença, para o Direito Tributário, de ser civil ou penalmente ilícita a atividade
em que se consubstancie o fato gerador, não porque prevaleça naquele ramo do Direito
urna concepção ética diversa, mas sim porque o aspecto que interessa considerar para a
tributação é o aspecto econômico do fato gerador ou a sua aptidão a servir de índice de
capacidade contributiva." E recorda, com Hensel, a célebre resposta de Vespasiano - non
olet, ou seja, o dinheiro não tem cheiro - à objeção feita ao imposto que instituíra sobre
as cloacas ou mictórios públicos, ironicamente chamados monumenta Vespasiani, para
acentuar - ob. cit., p. 91, nota 77: "Claro está que, na sua versão atual as expressões
perderam o conteúdo cínico da anedota, para se penetrarem de alto sentido ético, qual o
de procurar atingir isônomamente a capacidade econômica do contribuinte sem
preconceitos falsos ou ingênuos pruridos de sentimentalismo piegas quanto à licitude da
atividade que constitua o fato gerador do tributo"

2.6.11 Princípio da capacidade contributiva

O princípio da capacidade contributiva revela o espírito do Estado Social. O sujeito, parte


integrante da coletividade, deve contribuir para o bem-estar da comunidade. E, dentre múltiplas

possibilidades, constitui como uma das formas de colaborar o próprio tributo, esse que

79
representa, sob certo olhar, uma fração da propriedade privada entregue em nome do corpo

coletivo19.

Contudo, a medida da extração da propriedade privada deve ser exatamente aquela


suportável pelo contribuinte, isto é, a fração que lhe cabe entregar ao Estado deve, ao mesmo

tempo, ser suficiente para o fim a que se destina e, ainda, alcançar valor que não imponha ao
contribuinte obrigações além da capacidade que possui, a ponto de colocar em risco a

manutenção das próprias necessidades básicas, essenciais à manutenção da vida digna.

Compreende? Para esclarecer esse aspecto, leia o que explica Leandro Paulsen (2014):

O princípio da capacidade contributiva também se projetar nas situações extremas, de


pobreza ou de muita riqueza. Impõe, de um lado, que nada seja exigido de quem só tem
recursos para sua própria subsistência e, de outro lado, que a elevada capacidade
econômica do contribuinte não sirva de pretexto para tributação em patamares
confiscatórios que, abandonando a ideia de contribuição para as despesas públicas,
imponha desestímulo à geração de riquezas e tenha efeito oblíquo de expropriação.

Tais conteúdos normativos extremos (preservação do mínimo vital e vedação de confisco)


aplicam-se a todas as espécies tributárias, inclusive aos tributos com fato gerador
vinculado, como as taxas. Ainda que as taxas, por terem fato gerador vinculado à atividade
estatal, não possam ser graduados conforme a capacidade econômica do contribuinte,
devendo guardar vinculação ao custo da atividade do estado, há outros enfoques sob os
quais pode ser considerada a capacidade contributiva relativamente a tal espécie tributária.
O princípio da capacidade contributiva poderá atuar, por exemplo, mesmo nos tributos
com fato gerador vinculado, fundamentando eventual isenção para contribuintes que não
revelem qualquer capacidade para contribuir.

19
Vide questões 8 e 9
80
De acordo com Leandro Paulsen (2014), o princípio da capacidade contributiva pode ser

expresso de diversas formas - institutos do Direito Tributário -, são elas:

a) imunidade;

b) isenção;

c) seletividade;

c) progressividade.

Dentre os institutos que revelam o princípio da capacidade contributiva, talvez seja, a


progressividade, o que melhor representa a norma esculpida na Constituição Federal.

A progressividade trata-se da imposição gradual da tributação considerando a dimensão da

base de cálculo, assim, quanto maior a base de cálculo, maior a carga tributária. Conforme
afirma Paulsen (2014), a progressividade se apresenta em duas espécies.

Preste atenção: a progressividade simples é aquela que aumenta a alíquota ante o aumento

da base de cálculo. Já a progressividade gradual impõe a aplicação de alíquotas maiores sobre


o excedente da base de cálculo que ultrapassa o limite previsto na faixa de valores sobre os
quais se incide a alíquota inferior.

Aliás, acerca da progressividade, no julgamento do RE 602347/MG20, registrou-se: “na


jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, constata-se o entendimento de que a

20 Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=10676798


81
progressividade deve incidir sobre todas as espécies tributárias, à luz da capacidade

contributiva do contribuinte”. Nesse mesmo sentido, leciona Leandro Paulsen (2014):

Embora o texto constitucional positive o princípio da capacidade contributiva em


dispositivo no qual são referidos apenas os impostos – que devem, sempre que possível,
ser pessoais e graduados conforme a capacidade econômica do contribuinte (art. 145,
parágrafo único, da CF) –, cuida-se de princípio fundamental de tributação aplicável a
todas as espécies tributárias, ainda que de modo distinto conforme as características
de cada qual. (grifo nosso)

No mesmo julgamento do RE 602347/MG, deu-se destaque à atualização da obra do Ministro


Aliomar Baleeiro, realizada por Misabel Abreu Machado Derzi, que argumenta acerca da

aplicação do princípio da progressividade – como exemplo no IPTU - da seguinte forma:

“A progressividade nos tributos, sob o prisma da justiça, é a única técnica que permite a
personalização dos impostos, como determina expressamente o art. 145, §1º, da
Constituição de 1988. É que, na medida em que o legislador considera as necessidades
pessoais dos contribuintes, passa também a conceder reduções e isenções. Tais renúncias
de receitas, ocorrentes em favor do princípio da igualdade, têm de ser compensadas por
meio da progressividade, a fim de que o montante da arrecadação se mantenha o mesmo
no total.

Exemplo dessa progressividade no IPTU, recomendável para cumprimento da Constituição, é a

elevação da alíquota à medida que sobe o valor do imóvel21”.

21
BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro. Atualizada por Misabel Abreu Machado Derzi. 12 ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2013, p. 331.
82
2.7 Limites Constitucionais ao Poder de Tributar

A existência do Estado se justifica para a consecução do bem comum e é por este motivo
que ele goza, no ordenamento jurídico, de diversas prerrogativas que lhe asseguram uma

posição privilegiada nas relações jurídicas de que participa.

Ricardo Alexandre (2017) aponta que a relação jurídico-tributária não é meramente uma
relação de poder, pois, como toda relação jurídica, é balizada pelo direito e, em face da

interferência que o poder de tributar gera sobre o direito de propriedade, o legislador


constituinte originário resolveu traçar as principais diretrizes e limitações ao exercício de tal

poder diretamente na Constituição Federal.

A Carta Magna estatui as principais limitações ao exercício da competência tributária, mas


não trata de todas de maneira taxativa. Perceba por meio da leitura do art. 150 da CF.

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União,
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;

II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação


equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por
eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou
direitos;

III - cobrar tributos:

a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver
instituído ou aumentado;

b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou
aumentou;

c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os
instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b;

IV - utilizar tributo com efeito de confisco;

V - estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos


interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias
conservadas pelo Poder Público;

83
VI - instituir impostos sobre:

a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;

b) templos de qualquer culto;

c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das
entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social,
sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei;

d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão.

e) fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil contendo obras musicais


ou literomusicais de autores brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por artistas
brasileiros bem como os suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham, salvo
na etapa de replicação industrial de mídias ópticas de leitura a laser.

§ 1º A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I,
II, IV e V; e 154, II; e a vedação do inciso III, c, não se aplica aos tributos previstos nos arts.
148, I, 153, I, II, III e V; e 154, II, nem à fixação da base de cálculo dos impostos previstos
nos arts. 155, III, e 156, I.

§ 2º A vedação do inciso VI, "a", é extensiva às autarquias e às fundações instituídas e


mantidas pelo Poder Público, no que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços,
vinculados a suas finalidades essenciais ou às delas decorrentes.

§ 3º As vedações do inciso VI, "a", e do parágrafo anterior não se aplicam ao patrimônio,


à renda e aos serviços, relacionados com exploração de atividades econômicas regidas
pelas normas aplicáveis a empreendimentos privados, ou em que haja contraprestação ou
pagamento de preços ou tarifas pelo usuário, nem exonera o promitente comprador da
obrigação de pagar imposto relativamente ao bem imóvel.

§ 4º As vedações expressas no inciso VI, alíneas "b" e "c", compreendem somente o


patrimônio, a renda e os serviços, relacionados com as finalidades essenciais das entidades
nelas mencionadas.

§ 5º A lei determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos acerca dos
impostos que incidam sobre mercadorias e serviços.

§ 6º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito


presumido, anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser
concedido mediante lei específica, federal, estadual ou municipal, que regule
exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o correspondente tributo ou
contribuição, sem prejuízo do disposto no art. 155, § 2.º, XII, g.

84
§ 7º A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária a condição de
responsável pelo pagamento de imposto ou contribuição, cujo fato gerador deva ocorrer
posteriormente, assegurada a imediata e preferencial restituição da quantia paga, caso
não se realize o fato gerador presumido.

Grande parcela das limitações constitucionais ao poder de tributar goza da proteção

contra mudanças que lhe diminuam o alcance ou a amplitude, já que são verdadeiras garantias
individuais do contribuinte.

Você deve relembrar que a norma constitucional que define as "cláusulas pétreas" não

proíbe quaisquer Emendas sobre aquelas matérias, mas tão somente veda as mudanças
tendentes a abolir o que ali está enumerado.

Nesse sentido, saiba que há possibilidade da edição de emendas que ampliem ou

melhorem a proteção que a Constituição atribuiu ao contribuinte. O que não é possível é a


supressão ou diminuição dessas garantias

Quando a Emenda Constitucional 3/1993 tentou autorizar a criação do Imposto Provisório sobre
a Movimentação Financeira (que deu origem à CPMF, hoje extinta), excluindo-o da regra que

impõe que a cobrança só pode ser feita no exercício financeiro seguinte ao da publicação da
lei instituidora (princípio da anterioridade - CP, art. 150, III, b), o Supremo Tribunal Federal

entendeu que a Emenda era inconstitucional por tender a suprimir garantia individual do
contribuinte (STF, Tribunal Pleno, ADI 939-2/DF, Rei. Min. Sydney Sanches, j. 15.12.1993, DJ

18.03.1994, p. 5.165).

85
Compreende? As Emendas Constitucionais que ampliem garantias individuais do

contribuinte são válidas, mas as que as diminuem, criam exceções ou de qualquer forma
enfraquecem tais garantias são inconstitucionais por tenderem a aboli-las.

Por ser extremamente pertinente, transcreve-se o trecho mais esclarecedor da Ementa (ADI 939-

7-DF): "A Emenda Constitucional 3, de 17.03.1993, que, no art. 2.0 , autorizou a União a instituir
o IPMF, incidiu em vício de inconstitucionalidade, ao dispor, no § 2.0 desse dispositivo, que,

quanto a tal tributo, não se aplica 'o art. 150, IH, b, e Vl', da Constituição, porque, desse modo,
violou os seguintes princípios e normas imutáveis (somente eles, não outros): 1. o princípio dê!
anterioridade, que e garantia individual do contribuinte (art. 5.0 , § 2.0, art. 60, § 4.0, inciso IV, e

art. 150, Hl, b, da Constituição); 2. o princípio da imunidade tributária recíproca (que veda a
União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a instituição de impostos sobre o

patrimônio, rendas ou serviços uns dos outros) e que é garantia da Federação (art. 60, § 4.0,
inciso 1, e art. 150, VI, a, da CF); 3. a norma que, estabelecendo outras imunidades, impede a

criação de impostos (art. 150, Ili) sobre: b): templos de qualquer culto; e): patrimônio, renda ou
serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos

trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos
os requisitos da lei; e d): livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão" (STF,

Tribunal Pleno, ADI 939-7/DF, Rei. Min. Sydney Sanches, j. 15.12.1993, OJ 18.03.1994).

86
2.7.1 Legalidade

A Constituição Federal de 1988, em seu art. 5.º, II, estabeleceu que "ninguém será obrigado
a fazer ou a deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei''.

Considerando que o tributo é uma prestação pecuniária compulsória, obrigando ao


pagamento independentemente da vontade do sujeito passivo, o dispositivo constitucional
transcrito bastaria para que a criação ou aumento de tributo estivesse sob os domínios do

princípio da legalidade.

Todavia, aponta Ricardo Alexandre (2017), referindo-se especificamente à matéria


tributária, que o art. 150, da Magna Carta proíbe os entes federados de "exigir ou aumentar

tributo sem lei que o estabeleça''. Além disso, recorde-se que o tributo, por definição legal, é
prestação "instituída em lei''. Caso se opte por seguir a lição dos constitucionalistas, segundo a

qual, a submissão de matéria específica à regulação por lei é manifestação do princípio da


reserva legal, enquanto a submissão da criação de quaisquer obrigações ao domínio da lei seria

decorrência do princípio da legalidade, seria mais adequado denominar o princípio tributário


esculpido no art. 150, I, da CF/1988 de reserva legal.

É possível encontrar o conjunto de matérias submetidas à reserva legal resumido no art.

97 do Código Tributário Nacional. Vejamos:

Art. 97. Somente a lei pode estabelecer:

I - a instituição de tributos, ou a sua extinção;

II - a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39,
57 e 65;

III - a definição do fato gerador da obrigação tributária principal, ressalvado o disposto no


inciso I do § 3º do artigo 52, e do seu sujeito passivo;

IV - a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo, ressalvado o disposto nos


artigos 21, 26, 39, 57 e 65;

V - a cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus dispositivos,


ou para outras infrações nela definidas;

87
VI - as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos tributários, ou de dispensa
ou redução de penalidades.

§ 1º Equipara-se à majoração do tributo a modificação da sua base de cálculo, que importe


em torná-lo mais oneroso.

2.7.2 Isonomia

O Constituinte, nos termos do art. 150, II, da Carta Maior, dispôs que é vedado aos entes
federados "instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação
equivalente".

Ao fazê-lo, ele tratou da isonomia no seu sentido horizontal, posto que exigiu tratamento
igual aos que estão em situação equivalente, e, ao mesmo tempo, deixou implícita a necessidade
de tratamento desigual aos que se encontram em situações relevantemente distintas, sendo este

o sentido vertical. Por tudo, é lícito afirmar que, havendo desigualdade relevante) a Constituição
não apenas permite a diferenciação como também a exige.

O principal parâmetro de desigualdade a ser levado em consideração para a atribuição de

tratamento diferenciado às pessoas em matéria de tributação é, exatamente, sua capacidade


contributiva. Em razão disso, o princípio da capacidade contributiva está intrinsecamente

conectado ao da isonomia, sendo uma decorrência direta dela.

2.7.3 Não Surpresa

Em matéria tributária, o princípio da segurança jurídica é fundamento, pois, para o


contribuinte, não basta a segurança com relação aos fatos passados, haja vista a irretroatividade
da lei, mas também se faz necessário um mínimo de previsibilidade quanto ao futuro próximo.

Para além da garantia da não cobrança de tributo em relação a fatos geradores ocorridos
antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado, o constituinte apenas
impediu a cobrança no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que instituiu

ou aumentou a exação.

88
Compreende? Coloquemos em outras palavras: é lícito afirmar que o princípio da segurança

jurídica se traduz, em matéria tributária, no princípio da não surpresa, cujos corolários são os
princípios da irretroatividade, da anterioridade e da noventena.

2.7.4 Irretroatividade

Você já sabe que a Constituição veda aos entes tributantes cobrar tributos em relação a fatos

geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado.

A esse respeito, Ricardo Alexandre (2017) aponta que

“Há uma imprecisão terminológica na redação do dispositivo. Os fatos


anteriores à lei que cria o tributo não podem ser designados por "fatos

geradores", justamente por que a nova lei não pode atingi-los e eles não
são aptos a fazer surgir obrigações tributárias. Nessa linha de

entendimento, o Código Tributário Nacional, no seu art. 105, afirma que "a
legislação tributária aplica-se imediatamente aos fatos geradores futuros e
aos pendentes”

O princípio da irretroatividade da lei tributária, previsto no art. 150, III, a, da CF, não possui
qualquer exceção, mas não é incompatível com a possibilidade de leis com efeito retroativo,
como é o caso daquelas expressamente interpretativas e as que versem sobre infrações e sejam

melhores para os infratores. Tome muito cuidado com o teor do enunciado em questões de
concursos!

2.7.5 Anterioridade do Exercício Financeiro

Você já sabe que a Carta Maior veda à União, Estados, Distrito Federal e Municípios cobrar
tributos "no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou
aumentou", nos termos do art. 150, III, b.

89
A princípio, atente que a regra tem como marco temporal a data da publicação da lei,

enquanto o princípio da irretroatividade toma como base a data da vigência dessa mesma lei.

É importante reforçar que sua razão de ser é proteger o contribuinte, não impedindo,
portanto, a imediata aplicação das mudanças que diminuam a carga tributária a que o

contribuinte está sujeito, como nos casos de extinção ou redução de tributos, ou que não
tenham qualquer impacto sobre essa carga tributária.

Apesar de ser um posicionamento discutível, o Supremo Tribunal Federal entende que a


norma que se restringe a mudar o prazo para pagamento de tributo, mesmo antecipando-o,

não agrava a situação do contribuinte, não se sujeitando à regra da anterioridade do exercício


(STF.., RE-AgR 274.949/SC, Rel. Min. Sydney Sanches, j. 13.11.2001,! 01.02.2002, p. 100). O

entendimento hoje se encontra cristalizado na Súmula Vinculante 50 (que tornou vinculante o


teor da antiga Súmula 669 do STF) em que se afirma que "norma legal que altera o prazo de

recolhimento de obrigação tributária não se sujeita ao princípio da anterioridade”22.

2.7.6 Noventena

Com o advento da EC 42/2003, coroando o princípio da não surpresa, a anterioridade e a

noventena passaram a ser, em regra, exigidas de maneira cumulativa.

Repare que, assim, se um tributo for majorado ou instituído por lei publicada após o dia 3
de outubro, data na qual faltam 90 dias para o término do exercício financeiro, a cobrança não

mais pode ser feita a partir de 1.º de janeiro do ano seguinte, sob pena de infringir a noventena.

22
Vide questão 13
90
Caso a publicação da lei instituidora ou majoradora ocorra no início do ano, a cobrança não

pode ser feita imediatamente após o transcorrer de noventa dias, posto que o princípio da
anterioridade do exercício exige que se espere o início do ano subsequente.

Isto é, instituído ou majorado tributo, a respectiva cobrança só pode ser realizada após o

transcorrer de, no mínimo, noventa dias da data da publicação da lei instituidora/majoradora e


desde que já atingido o início do exercício subsequente.

A Constituição Federal prevê, no mesmo § 1.º do art. 15023, as seguintes exceções ao princípio

da noventena:

Art. 150, §1º. O pagamento antecipado pelo obrigado nos termos deste artigo extingue o
crédito, sob condição resolutória da ulterior homologação ao lançamento.

2.7.7 Liberdade de Tráfego

A Constituição em seu art. 150, inciso V, proíbe os entes federados de "estabelecer limitações

ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais,


ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público''.

Esse disposto objetiva evitar que os entes políticos possam criar tributos incidentes sobre a
passagem de pessoas e bens em seus territórios.

Essa situação era relativamente comum no passado, como aponta Ricardo Alexandre (2017),
os tributos eram criados com finalidade arrecadatória, mas acabavam por constituir restrições

ao direito que possuem as pessoas de se locomover livremente no território nacional de posse


dos seus bens.

23
Vide questão 18
91
2.7.8 Vedações Específicas à União

O art. 151 da Constituição apresenta três vedações voltadas de maneira específica à União.
Observe a redação do artigo:

Art. 151. É vedado à União:

I - instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique
distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em
detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o
equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico entre as diferentes regiões do País;

II - tributar a renda das obrigações da dívida pública dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, bem como a remuneração e os proventos dos respectivos agentes
públicos, em níveis superiores aos que fixar para suas obrigações e para seus agentes;

III - instituir isenções de tributos da competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos
Municípios.

Este dispositivo objetiva proteger o pacto federativo. Veja que ele atua de forma a impedir
que o ente que tributa em todo o território nacional use este poder para submeter os entes

menores à sua vontade, comprometendo a autonomia deles.

O disposto no art. 151 da CRFB/88 está protegido como cláusula pétrea, em virtude de se

configurarem como verdadeiras garantias da Federação (CF, art. 60, § 4º).

92
2.7.8.1 Uniformidade Geográfica da Tributação

Disposto no art. 151, I, da Lei Maior, este princípio veda à União "instituir tributo que não
seja uniforme em todo o território nacional ou que implique distinção ou preferência em relação

a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro, admitida a concessão de


incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento socioeconómico entre

as diferentes regiões do País”.

O dispositivo é claro, mas vamos esmiuçá-lo para sua melhor compreensão.

 Não pode a União estipular diferentes alíquotas do imposto sobre a renda, nos
distintos Estados da federação. Por exemplo, caso a alíquota seja menor em
Pernambuco, os outros Estados seriam ilegitimamente diferenciados, indo de
encontro e fragilizando a federação.

 Na mesma medida em que traz a regra, o artigo elenca a exceção, ao passo em


que permite a diferenciação com a finalidade extrafiscal de diminuir as diferenças
de desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do País.

2.7.8.2 Vedação à utilização do IR como instrumento de


concorrência desleal

Dispõe o art. 151, II, da CF/1988, que é vedado à União "tributar a renda das obrigações da

dívida pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como a remuneração e
os proventos dos respectivos agentes públicos, em níveis superiores aos que fixar para suas-

obrigações e para seus agentes”.

93
Esta restrição, que se aplica de maneira exclusiva ao imposto sobre a renda, objetiva evitar que
a União utilize o tributo como um meio de concorrer deslealmente no "mercado" de títulos da

dívida pública e na seleção de servidores públicos.

2.7.8.3 Vedação às Isenções Heterônomas

Ricardo Alexandre (2017) ensina que a isenção é forma de exclusão do crédito tributário

consistente na dispensa legal do pagamento do tributo, como se verá com mais profundidade
adiante.

Trata-se de benefício fiscal concedido exclusivamente por lei. Via de regra, é elaborada pelo

ente que tem competência para a criação do tributo. Deste modo, você pode concluir que o
poder de isentar é natural decorrência do poder de tributar.

Coloquemos em outros termos: a regra é que as isenções sejam autônomas porque são

concedidas pelo ente federado a quem a Constituição atribuiu a competência para a criação do
tributo.

A regra está prevista no art. 151, III, cuja redação veda à União "instituir isenções de tributos
da competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios''.

Com base na simetria, é também possível afirmar que os Estados não podem conceder

isenção de tributos municipais. A vedação é importante garantia protetora do pacto federativo,


pois impede que os entes maiores, por ato próprio, interfiram na arrecadação dos entes
menores, pondo-lhes em risco a autonomia.

94
2.7.8.4 Não discriminação baseada em procedência ou destino

Previsto no art. 152 da Carta Maior, este princípio é aplicável exclusivamente aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios, vedando-os estabelecer diferenças tributárias entre bens e

serviços de qualquer natureza em razão de sua procedência ou destino.

É uma regra protetiva do pacto federativo, visto que se proíbe que os entes locais se
discriminem entre si.

Não esqueça que a União - e somente ela - está autorizada a estipular tratamento tributário
diferenciado entre os Estados da federação tendo por meta diminuir as desigualdades

socioeconômicas tão comuns no Brasil.

2.7.8.5 Exigência de Lei Específica para Concessão de Benefícios


Fiscais

Ricardo Alexandre (2017) aponta que o gestor público administra patrimônio de outrem,
não podendo praticar atos de que resultem impactos negativos sobre tal patrimônio sem a

autorização do verdadeiro titular das disponibilidades, o povo.

Segundo o autor:

Em um Estado Democrático de Direito, o povo pode autorizar a prática de atos que


configuram disponibilidade do patrimônio público por meio da elaboração de lei. O crédito
tributário é parte do patrimônio público. Os benefícios fiscais ora extinguem (remissão),
ora excluem (isenção, anistia), ora diminuem (redução de base de cálculo, concessão de
crédito presumido) o crédito tributário. Como consequência, não é possível a concessão
de benefícios fiscais por intermédio de qualquer ato infralegal. A restrição tem o salutar
efeito de diminuir bastante a margem de manobra do Poder Executivo, dificultando- -lhe

95
a tentadora possibilidade de se utilizar da desoneração tributária como moeda de troca
por vantagens pessoais da autoridade administrativa.

2.8 Imunidade

As imunidades, tema comum na jurisprudência24, constituem as regras previstas na


Constituição25 que vedam a tributação – a exação – ante algumas pessoas ou bases econômicas

(PAULSEN, 2014).

De acordo com Leandro Paulsen (2014), o teor da Lei Maior institui verdadeira “regra
negativa de competência especifica”, sentido que se aproxima do pensamento de Luciano Amaro

(2014, p.176), para o qual a imunidade “configura simples técnica legislativa por meio da qual o
constituinte exclui do campo tributável determinadas situações sobre as quais ele não quer que

incida este ou aquele gravame fiscal”.

Podem ser:

 Subjetivas: toma como base parâmetros que podem levar em consideração as pessoas
beneficiadas pela exceção (esse tipo de imunidade não exime as pessoas por ela

protegidas do dever de pagar tributo na condição de responsáveis);

 Objetivas: têm como parâmetro os objetos cuja tributação é impedida;

 Mistas: a combinação das duas acima, ou seja, levam em consideração tanto pessoas

como objetos.

 Ontológicas: existiriam mesmo sem previsão expressa no texto constitucional, pois são
fundamentais para a efetivação do princípio da isonomia e para respeitar o pacto

federativo. É o caso da imunidade recíproca.

24
Porque se trata de tema bastante debatido no Poder Judiciário, sugere-se que o aluno não deixe de observar a
jurisprudência trazida ao final deste material.
25
Vide questão 6
96
 Políticas: visam à proteção de outros princípios, em virtude de uma opção política do

legislador. É o caso da imunidade que incide sobre livros e periódicos;

 Gerais ou genéricas: estabelecem vedações a todos os entes tributantes e abrangem

diversos tributos;

 Específicas ou tópicas: o legislador restringe a aplicação da imunidade a um

determinado tributo, de competência de determinada pessoa política;

 Explícitas: estão expressas no texto da Constituição Federal;

 Implícitas: não estão expressas no texto da CF, mas decorrem dos princípios

constitucionalmente consagrados.

 Incondicionadas: gera seus efeitos independentemente de regulamentação, possuindo

eficácia plena e aplicabilidade imediata;

 Condicionadas: quando são normas de eficácia limitada, ficam a aplicabilidade e o

gozo do benefício condicionado à regulamentação infraconstitucional.

Diferenciando a imunidade da isenção, institutos comumente confundidos, Leandro Paulsen


(2014) revela que a primeira, prevista pela Constituição Federal, trata-se de instituto que afasta
a competência do legislador ante a hipótese descrita no próprio texto constitucional. Por outro

lado, o segundo instituto, denominado isenção, constitui a dispensa do pagamento, isto é, uma
liberação da obrigação tributária, que recai sobre determinados sujeitos, em situações definidas

por parte do ente federativo e devidamente previstas pela lei.

Se ligue! A imunidade não se confunde com a não incidência, pois essa se refere às situações
em que um fato não é alcançado pela regra da tributação. A imunidade é espécie do gênero

não incidência, razão pela qual muitos autores conceituam a imunidade como uma hipótese de
não incidência constitucionalmente qualificada.

A não incidência ocorre nas seguintes hipóteses:

a) o ente tributante, podendo fazê-lo, deixa de definir determinada situação como

hipótese de incidência tributária;

97
b) o ente tributante não dispõe de competência para definir determinada situação como

hipótese de incidência do tributo;

c) a própria Constituição delimita a competência do ente federativo, impedindo-o de


definir determinadas situações como hipóteses de incidência de tributo. Nesse caso,

configura-se imunidade.

Também não se confundem (as imunidades) com a “alíquota zero”, pois nesse caso, o fato
gerador ocorre, há a incidência, mas o tributo não é pago porque a sua alíquota é zero, como

veremos mais detalhadamente abaixo.

Nos termos da Constituição de 1988, são situações ou pessoas imunes:

Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos


Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios Instituir impostos sobre (art. 150, CF)
a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros (imunidade recíproca);

b) templos de qualquer culto;

c) patrimônio, renda ou serviços dos


 partidos políticos, inclusive suas fundações;
 das entidades sindicais dos trabalhadores;
 das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos
os requisitos da lei;

d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão;

e) fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil contendo obras musicais


ou literomusicais de autores brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por artistas
brasileiros bem como os suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham, salvo
na etapa de replicação industrial de mídias ópticas de leitura a laser.

As contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das


categorias profissionais ou econômicas, de competência exclusiva da União (art. 149)

98
Não incidirão sobre as receitas decorrentes de exportação (art. 149, § 2º, I, CF)

Contribuições sociais do art. 195 da CF

São isentas de contribuição para a seguridade social as entidades beneficentes de


assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei (art. 195, § 7º, da CF).

Taxas (art. 5º, XXXIV, CF)

São a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:

a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade


ou abuso de poder;

b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e


esclarecimento de situações de interesse pessoal;

2.8.1 Imunidade recíproca

A imunidade recíproca constitui aquela prevista no art. 150, VI, a, da CF, instituída como
cláusula pétrea, que afasta a possibilidade da tributação exercida por qualquer dos entes da
federação sobre os demais no que diz respeito aos impostos26. Apesar dessa previsão
constitucional, Harada (2017) ressalta o seguinte:

(...) essa imunidade, que abarca somente os impostos, não exclui a


atribuição por lei, às entidades políticas, da condição de responsáveis pelos
tributos que lhes cabe reter na fonte e nem as dispensa do cumprimento

das obrigações acessórias, conforme preceituado no § 1º do art. 9º do


CTN27.

26
Vide questão 12
27 Art. 9º É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: IV - cobrar imposto sobre: a) o
patrimônio, a renda ou os serviços uns dos outros; b) templos de qualquer culto; c) o patrimônio, a renda ou
99
Seguindo o texto na sua integralidade, no julgamento da ADI 2.024 o STF declarou que o

princípio da imunidade tributária recíproca (CF, art. 150, VI, a) não pode ser invocado na hipótese
de contribuições previdenciárias. De outro lado, no julgamento do RE 601720, decidiu-se que

incide o imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) sobre bem público cedido a pessoa jurídica
de direito privado, sendo essa a devedora e, portando, não beneficiária da imunidade.

Ainda no que tange o instituto ora apreciado, o constituinte, no § 2º do mesmo dispositivo

expressamente determinou que a imunidade conferida aos entes da federação é extensiva às


autarquias e às fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, ante o patrimônio, a

renda e os serviços, vinculados a suas finalidades essenciais ou às delas decorrentes.

No que diz respeito ao tema ora estudado, faz-se necessário destacar o posicionamento da

Corte Máxima, que tem estendido o benefício da imunidade tributária às empresas públicas e
sociedades de economia mista em caso específico, qual seja, a prestação de serviço público

(obrigatório e exclusivo do Estado).

Segundo o STF, a imunidade recíproca se estende à Empresa Brasileira de Correios e


Telégrafos (mesmo no que concerne às atividades exercidas fora do âmbito do serviço postal e

do correio aéreo nacional), por se tratar de empresa pública prestadora de serviço público de
prestação obrigatória e exclusiva do Estado28.

serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições
de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, observados os requisitos fixados na Seção II deste Capítulo;
d) papel destinado exclusivamente à impressão de jornais, periódicos e livros.§ 1º O disposto no inciso IV não
exclui a atribuição, por lei, às entidades nele referidas, da condição de responsáveis pelos tributos que lhes
caiba reter na fonte, e não as dispensa da prática de atos, previstos em lei, assecuratórios do cumprimento
de obrigações tributárias por terceiros.
28
Vide questão 10
100
Vejamos:

1. As empresas públicas e sociedades de economia mista delegatárias de serviços públicos


de prestação obrigatória e exclusiva do Estado são beneficiárias da imunidade tributária
recíproca prevista no art. 150, VI, a, da Constituição Federal. (...) A exigência de

contraprestação pelos serviços públicos prestados, mediante o pagamento de tarifas,


não constitui óbice à incidência da imunidade recíproca sobre determinada sociedade

de economia mista. (RE 897104 AgR, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Primeira
Turma, julgado em 27/10/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-283 DIVULG 07-12-2017

PUBLIC 11-12-2017)
2. A imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, ‘a’, da CRFB/88) é extensível às empresas

públicas e às sociedades de economia mista prestadoras de serviços públicos,


notadamente quando prestados com cunho essencial e exclusivo. (...) In casu, trata-se
de sociedade de economia mista que executa serviço público de modo exclusivo, com

capital social fechado e quase que integralmente titularizado pelo Estado do Ceará
(99,9996%), sem indicação de qualquer risco de quebra do equilíbrio concorrencial ou de

livre-iniciativa, mercê da ausência de comprovação de que a COGERH concorra com


outras entidades no campo de sua atuação. (ACO 2149 AgR, Relator(a): Min. LUIZ FUX,

Primeira Turma, julgado em 29/09/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-238 DIVULG 18-

10-2017 PUBLIC 19-10-2017).

Aluno, chamo sua atenção para duas jurisprudências relevantes sobre o tema:

A imunidade tributária gozada pela OAB é da espécie recíproca (art. 150, VI, “a” da CF/88),
na medida em que a OAB desempenha atividade própria de Estado (defesa da Constituição, da

ordem jurídica do Estado democrático de direito, dos direitos humanos, da justiça social, bem
como a seleção e controle disciplinar dos advogados)29.

29
STF. Plenário. RE 259976 AgR, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em 23/03/2010. STF. Plenário. RE 405267, Rel.
Min. Edson Fachin, julgado em 06/09/2018.

101
As Caixas de Assistência de Advogados encontram-se tuteladas pela imunidade recíproca

prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal. A Caixa de Assistência dos Advogados é
um “órgão” integrante da estrutura da OAB, mas que possui personalidade jurídica própria. Sua

finalidade principal é prestar assistência aos inscritos no respectivo no Conselho Seccional (art.
62 da Lei nº 8.906/94). As Caixas de Assistências prestam serviço público delegado e possuem

status jurídico de ente público. Vale ressaltar ainda que elas não exploram atividades econômicas
em sentido estrito com intuito lucrativo. Diante disso, devem gozar da imunidade recíproca,

tendo em vista a impossibilidade de se conceder tratamento tributário diferenciado a órgãos


integrantes da estrutura da OAB30.

2.8.2 Imunidade Recíproca e Atividade Notarial e Registral

A Lei Complementar 116/03 (Lei geral sobre o ISS) elenca nos itens 21 e 21.0, da lista de
serviços tributáveis, os serviços notariais e registrais. A base de cálculo do tributo é parte dos

emolumentos, que por sua vez, tem natureza tributária de taxa, enquanto contraprestação de
um serviço público estadual. O STF entendeu que é possível a incidência do ISSQN sobre os
serviços de registros públicos, não se aplicando a imunidade tributária recíproca,

garantia/prerrogativa das entidades políticas federativas e não de particulares, que no caso


desenvolvem os serviços com recebimento de remuneração e com certo "intuito lucrativo",

confirmando sua capacidade contributiva (ADI 3.089-2).

2.8.3 Imunidade dos templos religiosos

À luz do texto constitucional, a imunidade a impostos alcança os templos de qualquer culto,


expressando o constituinte a vontade de não obstar, através da tributação, a manifestação da
fé31.

30
STF. Plenário. RE 405267/MG, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 6/9/2018 (Info 914).

31
Vide questões 2 e 14
102
A liberdade de culto é direito individual, e a imunidade religiosa é uma das garantias que

protege tal direito, inserindo-se no rol de cláusulas pétreas.

Assim, entende o STF que somente o culto de natureza religiosa poderá autorizar o gozo da
imunidade conferida pela Constituição, motivo este que levou a Corte a não admitir a extensão

do benefício à maçonaria, afinal, em suas lojas não se professa qualquer religião (RE 562.351).

No que diz respeito à finalidade dos templos, essa que condiciona o reconhecimento da
imunidade, a Corte Máxima fixou o entendimento no sentido de que “não cabe à entidade

religiosa demonstrar que utiliza o bem de acordo com suas finalidades institucionais. Ao
contrário, compete à administração tributária demonstrar a eventual tredestinação do bem

gravado pela imunidade” (ARE 800.395 AgR).

Sobre a abrangência da imunidade prevista no art. 150, VI, b, da CF, o STF já se posicionou,
indicando que o instituto declarado pela Constituição não deve alcançar “somente os prédios

destinados ao culto, mas, também, o patrimônio, a renda e os serviços relacionados com as


finalidades essenciais das entidades nelas mencionadas”, sendo assim, a imunidade atinge a

exação promovida pelo município, afastando a cobrança do IPTU sobre imóveis de propriedade
das igrejas que, por sua vez, encontram-se alugados.

Por fim, ainda merece destaque a imunidade que atinge os cemitérios, pois entende a Corte

Suprema que esses se tratam de verdadeiras extensões de entidades de cunho religioso e,


justamente por isso, devem ser abrangidos pela garantia contemplada no art. 150 da

Constituição do Brasil. Sendo assim, para o STF, não cabe a incidência de IPTU em relação aos
cemitérios.

O STF entende que se o um imóvel que pertence a ente imune é alugado, não deixa de estar

vinculado às finalidades essenciais, desde que o valor dos aluguéis seja revertido às atividades
do ente. Ademais, em se tratando de entidade religiosa, há presunção relativa de que o imóvel
da entidade está vinculado às suas finalidades essenciais.

103
Veja o julgado32 a seguir, comentado pelo Blog do Dizer o Direito. “Determinada Igreja

efetuou a compra de um terreno baldio (imóvel vago) que seria utilizado para a construção de
um templo, conforme um projeto que já estava aprovado. O Município efetuou o lançamento

do ITBI afirmando que a Igreja somente gozaria de imunidade quanto a esse bem quando o
projeto já estivesse concluído e o templo construído. A tese do Município foi aceita pelo STJ?

NÃO. Segundo decidiu o STJ, haveria imunidade no presente caso. Em se tratando de entidade
religiosa, há presunção relativa de que o imóvel da entidade está vinculado às suas finalidades

essenciais, o que impede a cobrança de impostos sobre aquele imóvel de acordo com o art.
150, VI, “c”, da CF. A descaracterização dessa presunção para que incida ITBI sobre imóvel de
entidade religiosa é ônus da Fazenda Pública municipal, nos termos do art. 333, II, do CPC/1973

(art. 373, II, do CPC/2015). Em suma, para fins de cobrança de ITBI, é do município o ônus da
prova de que imóvel pertencente a entidade religiosa está desvinculado de sua destinação

institucional.”

2.8.4 Imunidade dos partidos, sindicatos, entidades


educacionais e assistenciais

Consoante o texto da Constituição (art. 150, IV, c, CF), é vedado à União, aos Estados, ao

Distrito Federal e aos Municípios instituir impostos sobre patrimônio, renda ou serviços dos
partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das
instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da

lei33.

Conforme leciona Paulsen (2014), “embora refira os impostos “sobre” “patrimônio, renda ou
serviços”, deve-se considerar a interpretação do STF no sentido de que restam abrangidos todos

os impostos”, sendo assim, a interpretação do dispositivo deve considerar a citada espécie


tributária naturalmente cobrada por qualquer dos entes da federação.

32
STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 444193-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 4/2/2014 (Info 534).
33
Vide questão 5
104
Nos termos do art. 14 do CTN, subordina-se a imunidade à observância dos seguintes

requisitos:

(I) não distribuição de qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas rendas, a qualquer
título;

(II) aplicação integral, no País, dos recursos na manutenção dos objetivos institucionais;

(III) manutenção da escrituração das receitas e despesas em livros revestidos de formalidades


capazes de assegurar sua exatidão.

A inobservância das regras anteriores autoriza a suspensão da aplicação do benefício pela

autoridade competente. Ainda, prescreve a lei que os serviços a que se refere a alínea c do
inciso IV do artigo 9º34 são exclusivamente, os diretamente relacionados com os objetivos

institucionais das entidades de que trata este artigo, previstos nos respectivos estatutos ou
atos constitutivos.

Segundo jurisprudência pacífica do STF, o fato de a entidade utilizar seu patrimônio em

atividade que gere renda e, a rigor, não se enquadrar nas suas finalidades essenciais, não afasta
a imunidade, desde que os recursos obtidos sejam destinados a tais finalidades essenciais.

A Suprema Corte considerou que não é alheia à finalidade filantrópica da entidade de


assistência social a utilização de imóvel como clube para fins de recreação e lazer.

Neste ponto, vale a leitura das súmulas do STF e do STJ abaixo apresentadas:

34 (...) o patrimônio, a renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidade s sindicais dos trabalhadores, das
instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, observados os requisitos fixados na Seção II deste Cap ítulo

105
Súmula 730, STF - A imunidade tributária conferida a instituições de assistência social sem

fins lucrativos pelo art. 150, VI, "c", da Constituição, somente alcança as entidades fechadas
de previdência social privada se não houver contribuição dos beneficiários.

Súmula Vinculante 52, STF - Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU

o imóvel pertencente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, "c", da Constituição
Federal, desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades para as quais tais

entidades foram constituídas.

Súmula 612, STJ – O certificado de entidade beneficente de assistência social (CEBAS), no


prazo de sua validade, possui natureza declaratória para fins tributários, retroagindo seus

efeitos à data em que demonstrado o cumprimento dos requisitos estabelecidos por lei
complementar para fruição da imunidade.

2.8.5 Imunidade de imprensa

No art. 150, inciso VI, alínea d, determinou o constituinte que, sem prejuízo de outras
garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos

Municípios instituir impostos sobre livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua
impressão.

De acordo com o entendimento do STF, consagrado no julgamento do RE 221.239 sob a

relatoria da Min. Ellen Gracie, a imunidade tributária esculpida no mencionado dispositivo


lastreia-se pela proteção ao exercício da liberdade de expressão intelectual, artística, científica e

de comunicação e tem como fim “facilitar o acesso da população à cultura, à informação e à


educação”.

Na ocasião da decisão, ainda revelou a Corte que “o constituinte, ao instituir esta benesse,
não fez ressalvas quanto ao valor artístico ou didático, à relevância das informações divulgadas
ou à qualidade cultural de uma publicação” (RE 221.239, rel. min. Ellen Gracie, j. 25-5-2004, 2ª

106
T, DJ de 6-8-2004.] = RE 179.893, rel. min. Menezes Direito, j. 15-4-2008, 1ª T, DJE de 30-5-

2008).

Esta é a única imunidade que é puramente objetiva. Constitui cláusula pétrea.

Sobre a imunidade definida no art. 150, inciso VI, alínea d da Constituição Cidadã, é

importante observar a jurisprudência que já tocou a matéria, de forma esquematizada,


apresenta-se no quadro abaixo:

Entendimento fixado pelo STF – o alcance da imunidade


filmes e papéis fotográficos necessários à publicação de jornais e periódicos - Súmula
657, STF
alcança componentes eletrônicos, quando destinados, exclusivamente, a integrar a unidade
didática com fascículos periódicos impressos - RE 595.676, rel. min. Marco Aurélio, j. 8-3-
2017, P, DJE de 18-12-2017, Tema 259
livro eletrônico (e-book), inclusive aos suportes exclusivamente utilizados para fixá-lo. - RE
330.817, rel. min. Dias Toffoli, j. 8-3-2017, P, DJE de 31-8-2017, Tema 593.
"Álbum de figurinhas" (...) por força de um juízo subjetivo acerca da qualidade cultural ou
do valor pedagógico de uma publicação destinada ao público infanto-juvenil - RE 221.239,
rel. min. Ellen Gracie, j. 25-5-2004, 2ª T, DJ de 6-8-2004. RE 179.893, rel. min. Menezes Direito,
j. 15-4-2008, 1ª T, DJE de 30-5-2008
Papel: filmes destinados à produção de capas de livros. CF, art. 150, VI, d. Material
assimilável a papel, utilizado no processo de impressão de livros e que se integra no
produto final – capas de livros sem capa dura – está abrangido pela imunidade do art.
150, VI, d. Interpretação dos precedentes do STF, pelo seu Plenário, nos RE 174.476/SP, RE
190.761/SP, rel. min. Francisco Rezek, e RE 203.859/SP e RE 204.234/RS, rel. min. Maurício
Corrêa. - RE 392.221, rel. min. Carlos Velloso, j. 18-5-2004, 2ª T, DJ de 11-6-2004.] = AI
597.746 AgR, rel. min. Sepúlveda Pertence, j. 14-11-2006, 1ª T, DJ de 7-12-200
apostilas, veículo de transmissão de cultura simplificado - RE 183.403, rel. min. Marco Aurélio,
j. 7-11-2000, 2ª T, DJ de 4-5-2001.
O fato de as edições das listas telefônicas veicularem anúncios e publicidade não afasta o
benefício constitucional da imunidade. A inserção visa a permitir a divulgação das

107
informações necessárias ao serviço público a custo zero para os assinantes, consubstanciando
acessório que segue a sorte do principal. [RE 199.183, rel. min. Marco Aurélio, j. 17-4-1998,
2ª T, DJ de 12-6-1998.] = AI 663.747 AgR, rel. min. Joaquim Barbosa, j. 6-4-2010, 2ª T, DJE
de 30-4-2010
Não se aplica
não pode ser interpretada de modo amplo e irrestrito. Inexiste imunidade relativa a tributos
incidentes sobre a importação de tintas e chapas de gravação destinadas à publicação de
jornal. [AI 735.816 AgR, rel. min. Alexandre de Moraes, j. 23-3-2018, 1ª T, DJE de 11-4-2018.]
não abrange os serviços prestados por empresas que fazem a distribuição, o transporte ou
a entrega de livros, jornais, periódicos e do papel destinado a sua impressão. Precedentes. O
STF possui entendimento no sentido de que a imunidade em discussão deve ser interpretada
restritivamente. [RE 530.121 AgR, rel. min. Ricardo Lewandowski, j. 9-11-2010, 1ª T, DJE de
29-3-2011.] = RE 630.462 AgR, rel. min. Ayres Britto, j. 7-2-2012, 2ª T, DJE de 7-3-2012
Não há de ser estendida a imunidade de impostos prevista no dispositivo constitucional sob
referência, concedida ao papel destinado exclusivamente à impressão de livros, jornais e
periódicos, aos serviços de composição gráfica necessários à confecção do produto final.
[RE 230.782, rel. min. Ilmar Galvão, j. 13-6-2000, 1ª T, DJ de 10-11-2000.] = RE 434.826 AgR,
rel. p/ o ac. min. Celso de Mello, j. 19-11-2013, 2ª T, DJE de 12-12-2013
Encartes de propaganda distribuídos com jornais e periódicos. ISS. Art. 150, VI, d, da
Constituição. Veículo publicitário que, em face de sua natureza propagandística, de exclusiva
índole comercial, não pode ser considerado como destinado à cultura e à educação, razão
pela qual não está abrangido pela imunidade de impostos prevista no dispositivo
constitucional sob referência, a qual, ademais, não se estenderia, de qualquer forma, às
empresas por eles responsáveis, no que concerne à renda bruta auferida pelo serviço
prestado e ao lucro líquido obtido - RE 213.094, rel. min. Ilmar Galvão, j. 3-8-1999, 1ª T, DJ
de 15-10-1999.

Cabe mencionar também a súmula vinculante 57 do STF, aprovada em 2020, que pacificou

o entendimento jurisprudencial da Corte Suprema estipulando que “A imunidade tributária


constante do art. 150, VI, d, da CF/88 aplica-se à importação e comercialização, no mercado
interno, do livro eletrônico (e-book) e dos suportes exclusivamente utilizados para fixá-los, como
leitores de livros eletrônicos (e-readers), ainda que possuam funcionalidades acessórias”.

108
2.8.6 Imunidade dos fonogramas

No art. 150, inciso VI, alínea “e”, o constituinte determinou que, sem prejuízo de outras
garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos

Municípios instituir impostos sobre fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no


Brasil contendo obras musicais ou literomusicais de autores brasileiros e/ou obras em geral

interpretadas por artistas brasileiros bem como os suportes materiais ou arquivos digitais
que os contenham, salvo na etapa de replicação industrial de mídias ópticas de leitura a

laser.

No que tange a imunidade esculpida na Constituição através da Emenda Constitucional nº


75/2013, Leandro Paulsen (2014) revela o valor do novo texto para a sociedade:

Foi aprovada com vista a favorecer a produção musical brasileira, fazendo com que seja
menos impactada pelos efeitos da concorrência predatória de produtos falsificados
comercializados sem o pagamento de tributos, bem como pelo acesso facilitado e gratuito
que as pessoas têm à música através da internet.

(...)

Note-se porém, que só alcança os fonogramas e videofonogramas musicais produzidos


no Brasil, revelando-se, por isso, mais como uma proteção à indústria nacional do que à
produção cultural como um todo. As mesmas mercadorias, produzidas fora do país, não
estão abrangidas pela imunidade. Essa imunidade, assim, viola o GATT no ponto em que
veda a discriminação dos produtos estrangeiros, assegurando-lhes, quanto aos tributos
internos, tratamento equivalente ao dos produtos nacionais.

2.8.7 Imunidade e alíquota zero

A alíquota zero utilizada como instrumento de benefício fiscal não se confunde com o
instituto da imunidade tributária.

Em determinadas situações, o poder público modificará a carga tributária pretendendo

estimular ou desestimular alguma atividade. Para isto, poderá reduzir para zero à alíquota de

109
determinado tributo, deste modo, gerando como resultado, crédito tributário também no

montante de zero.

É importante que você fique atento que a semelhança entre os institutos agora tratados
está tão somente na ausência de valores a serem pagos aos cofres públicos, posto que eles

possuem características diversas.

Na Imunidade, não haverá incidência tributária por proteção constitucional, enquanto


na alíquota zero haverá normal incidência e respectivo lançamento, que resultará cálculo

com produto zerado.

Normalmente, a redução dessa alíquota ao percentual de zero vem por meio de ato do
poder executivo em tributos extrafiscais com fito de proteger ou estimular atual momento

econômico ou social.

2.9 Isenção

Sob o olhar de Luciano Amaro (2014), a isenção reside em momento bem delimitado, aquele
no qual se observa o exercício da competência. Por essa percepção, de pronto se compreende
a distância entre esse instituto e a imunidade, já estudada anteriormente, já que essa perpassa

no plano da definição da competência, por ser definida em texto constitucional.

Como bem ensina Amaro (2014, p. 177), a isenção é expressa quando, no exercício do poder
de tributar, o ente da federação, mediante lei, manifesta a sua vontade de não expor

determinadas situações à exação, afastando delas a incidência do tributo.

Entendeu? Explicando o assunto, Paulsen (2014) reforça:

É importante considerar que, embora haja a referência, no texto constitucional, à isenção


e à não incidência, trata-se de imunidades inconfundíveis com as desonerações
infraconstitucionais. Elevadas a normas constitucionais proibitivas de tributação, deixam de
ser simples isenções ou não incidências, assumindo verdadeiro caráter de imunidade.
Tecnicamente falando, a isenção é benefício fiscal que pressupõe a existência da
competência tributária e seu exercício. Tendo sido instituído determinado tributo, surge
a isenção como um modo de desonerar determinado contribuinte ou operação. A
isenção tem como fonte a lei, tal qual a norma instituidora do tributo. A não incidência,

110
por sua vez, é simples consequência do fato de determinada situação não se enquadrar
na hipótese de incidência (também chamada regra matriz de incidência tributária). Por
vezes, contudo, o legislador torna expressa a não incidência, modelando ou restringindo
a própria norma de incidência.

Agora preste atenção nisso! Indo em sentido contrário a boa parte da doutrina, optou o

legislador por declarar no CTN que são hipótese de exclusão do crédito tributário (a) a isenção
e a (b) anistia. Ainda, destaca o art. 175, parágrafo único, do Código que a exclusão do crédito

tributário não dispensa o cumprimento das obrigações acessórias dependentes da obrigação


principal cujo crédito seja excluído, ou dela consequente.

No que diz respeito à isenção, o legislador fixou no art. 176 que o citado benefício, ainda

quando previsto em contrato, é sempre decorrente de lei que especifique as condições e


requisitos exigidos para a sua concessão, os tributos a que se aplica e, sendo caso, o prazo de

sua duração. Quanto ao alcance da isenção, registra-se na lei que a isenção pode ser restrita a
determinada região do território da entidade tributante, em função de condições a ela
peculiares (art. 176, parágrafo único).

Quanto à extensão, o art. 177 do CTN revela que a isenção não se aplica às taxas e às
contribuições de melhoria, bem como aos tributos instituídos posteriormente à sua concessão.
Ainda, em face do princípio da segurança jurídica, determinou o legislador infraconstitucional

que, salvo se concedida por prazo certo e em função de determinadas condições, a isenção
pode ser revogada ou modificada por lei, a qualquer tempo, observado o disposto no inciso

III do art. 10435 (art. 178, CTN).

Neste ponto, faz-se necessário trazer ao seu conhecimento temas consagrados pela doutrina
e pela jurisprudência.

3535
Art. 104. Entram em vigor no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que ocorra a sua publicação os
dispositivos de lei, referentes a impostos sobre o patrimônio ou a renda: III - que extinguem ou reduzem isenções,
salvo se a lei dispuser de maneira mais favorável ao contribuinte, e observado o disposto no artigo 178.
111
A matéria, regulada pelo art. 177 do CTN, remete o leitor ao conceito de isenção onerosa,

aquela que, para o seu proveito, exige do contribuinte o preenchimento de condições impostas
pelo próprio Fisco, nos termos da legislação vigente.

O STF, sobre o tema, já sumulou entendimento (“isenções tributárias concedidas, sob

condição onerosa, não podem ser livremente suprimidas” - súmula 544), esse que vem sendo
adotado pelo STJ36, Corte que revela o princípio constitucional da segurança jurídica como a

base fundamental para a condição de suas decisões:

Desde logo, observa-se que a solução da controvérsia passa, diretamente, pelo princípio
constitucional da segurança jurídica, estampado, entre outros, no art. 5º, XXXVI, da
Constituição Federal, segundo o qual "a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato
jurídico perfeito e a coisa julgada".

Conquanto o benefício fiscal controvertido nos autos caracterize redução de alíquota de


imposto por determinado prazo, o que, sob o ângulo técnico-jurídico, não se confunde
com isenção parcial, é pertinente atentarmos para o art. 178 do Código Tributário Nacional,
utilizado como fundamento do acórdão recorrido, tendo em vista tratar da segurança
jurídica em benefício fiscal (isenção) concedido "por prazo certo e em função de
determinadas condições". A propósito, o Supremo Tribunal Federal, há muito, sedimentou
na Súmula 544 do STF o entendimento segundo o qual "isenções tributárias concedidas,
sob condição onerosa, não podem ser livremente suprimidas".

Como assinalado, embora o art. 178 do CTN e a Súmula 544 do STF tratem de uma regra
a ser observada nas isenções concedidas sob condições onerosas, veiculam, em verdade,
norma derivada diretamente do princípio constitucional da segurança jurídica, daí porque
servem ao reforço da conclusão pela necessidade de manutenção dos termos fixados no
benefício fiscal cuja concessão se dá mediante o preenchimento de condições onerosas.

No que diz respeito ao procedimento administrativo, prescreve o art. 179 do CTN que a
isenção, quando não concedida em caráter geral, é efetivada, em cada caso, por despacho da

autoridade administrativa, em requerimento com o qual o interessado faça prova do


preenchimento das condições e do cumprimento dos requisitos previstos em lei ou contrato

para sua concessão.

36 Disponível em:
https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=1785404&num_registr
o=201200366684&data=20190226&formato=PDF.
112
E, ainda detalha a lei:

a) Tratando-se de tributo lançado por período certo de tempo, o despacho referido


no art. 179 do CTN será renovado antes da expiração de cada período, cessando
automaticamente os seus efeitos a partir do primeiro dia do período para o qual
o interessado deixar de promover a continuidade do reconhecimento da isenção.
b) O despacho referido no art. 179 do CTN não gera direito adquirido, aplicando-se,
quando cabível, o disposto no artigo 155.

2.9.1 Isenção heterônoma

A isenção é dispensa legal do pagamento de tributo concedida exclusivamente por lei, em


regra, elaborada pelo ente que tem competência para a criação do tributo. Desse modo, a regra

é que as isenções sejam autônomas.

O art. 151, III, da CF determina que é vedado à União “instituir isenções de tributos da
competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios”. O texto da Constituição,

portanto, veda a isenção heterônoma.

Neste ponto, vale ressaltar, trata-se de uma limitação ao poder de tributar conferido à União,
pessoa jurídica de direito público interno, essa que, por respeito à unidade federativa, não está

autorizada a conceder benefício de isenção ao sujeito passivo da relação jurídico-tributária


estabelecida, seja com o estado, seja com o município.

No entanto, não se pode confundir a figura da União, inserida no contexto interno, com

aquela figura que ostenta na expressão de sua soberania, como sujeito de direito internacional
público.

Nessa segunda condição, diversamente, a regra do art. 151, inciso III da CF não alcança, não

constituindo óbice, portanto, à celebração de tratados internacionais que abranjam matéria de


direito tributário, incluindo a exoneração tributária em nível local.

Nesse sentido, no julgamento do RE 543.943-AGR/PR37, o STF assim revelou:

37 Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=619003


113
(...) a República Federativa do Brasil, ao exercer o seu treaty-making power, estará
praticando ato legítimo que se inclui na esfera de suas prerrogativas como pessoa jurídica
de direito internacional público, que detém – em face das unidades meramente federadas
– o monopólio da soberania e da personalidade internacional.

Na realidade, a cláusula de vedação inscrita no art. 151, III, da Constituição – que proíbe
a concessão de isenções tributárias heterônomas – é inoponível ao Estado Federal
Brasileiro (vale dizer, no plano das relações institucionais domésticas que se estabelecem
entre as pessoas políticas de direito público interno.

No nosso ordenamento há duas hipóteses de isenções constitucionalmente permitidas:

1) CF/88 permite que a União conceda, por meio de lei complementar, isenção do ICMS

incidente nas operações com serviços e outros produtos destinados ao exterior (essa hipótese
não tem utilidade, pois a EC 42/03 tornou imune ao ICMS as operações que destinem quaisquer
mercadorias para o exterior e sobre os serviços prestados a destinatário no exterior).

2) Possibilidade de a União conceder, por lei complementar, isenção heterônoma do ISS, da


competência dos municípios, na exportação de serviços para o exterior.

2.9.2 Isenção heterônoma e gratuidades do registro civil –


nascimento e óbito

Neste ponto, é importante trazer uma discussão acerca das gratuidades estabelecidas
referentes aos atos praticados pelos Oficiais de Registro Civil das Pessoas Naturais.

A Lei 9534/1997 ampliou a gratuidade do assento de nascimento e óbito, bem como as

respectivas primeiras certidões, enquanto atos relacionados ao exercício da cidadania. A doutrina


critica a dispensa legal do tributo estadual realizada por lei federal, que implicaria na já
destacada isenção heterônoma, vedada constitucionalmente (art. 151, III, da CF) e o fato de que

ônus seria suportado apenas pelos particulares, quanto a este último ponto, o STF já teve a
oportunidade e se manifestou pela constitucionalidade na norma (ADI 1800 e ADC 5).

114
QUADRO SINÓPTICO

FONTES DO DIREITO TRIBUTÁRIO

As fontes materiais (ou fontes reais) constituem


os fatos relacionados à exação.
FONTES MATERIAIS

• ESPÉCIES DE FONTES FORMAIS


• Normas constitucionais
• Leis complementares
As leis complementares, aquelas que exigem
rito diferenciado de aprovação conforme
previsto no art. 69 da Constituição Federal,
trata-se de via especial para determinados
temas de Direito Tributário, representando,
portanto, uma exceção prevista
expressamente na Constituição.
• Leis ordinárias
Como asseverado por Harada (2017), “a
FONTES FORMAIS
constituição não cria tributos, apenas
outorga competência impositiva”, sendo
assim, as leis ordinárias - então produzidas
pelos entes federativos – representam as
vias preferenciais de instituição de tributos
• Leis delegadas
Quanto à matéria, essas leis não podem
versar sobre (I) organização do Poder
Judiciário e do Ministério Público, a carreira
e a garantia de seus membros; (II)
nacionalidade, cidadania, direitos
individuais, políticos e eleitorais; (III) planos

115
plurianuais, diretrizes orçamentárias e
orçamentos. (IV) a matéria reservada à lei
complementar; e, finalmente, não serão
objeto de delegação os atos de
competência exclusiva do Congresso
Nacional, os de competência privativa da
Câmara dos Deputados ou do Senado
Federal (art. 68, CF).
• Medidas provisórias
São vias normativas extraordinárias. Medida
provisória que implique instituição ou
majoração de impostos, exceto os
previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154,
II, só produzirá efeitos no exercício
financeiro seguinte se houver sido
convertida em lei até o último dia daquele
em que foi editada.
• Decretos legislativos
Os decretos legislativos têm destaque ante
a aprovação de convenções internacionais,
momento no qual deve-se criar óbice à
dupla tributação do imposto sobre a renda
ou, como ainda destaca Harada (2017),
“para estatuir isenções recíprocas de
impostos federais, estaduais e municipais
em determinadas circunstâncias”.
• Resoluções
Espécie normativa produzida
exclusivamente pelo Congresso Nacional
(ou por cada uma de suas Casas), tem
importância no Direito Tributário nas
situações reguladas pelo art. 155 da CF
• Tratados e convenções internacionais

116
Consoante o teor do art. 98 do CTN, os
tratados e as convenções internacionais
possuem o poder de revogar ou modificar
a legislação tributária interna e possui
importância no ordenamento jurídico ao
ponto de que deverão ser observados pela
legislação que lhes sobrevenha.
• Decretos

O art. 96 do CTN registra no ordenamento jurídico


que a expressão "legislação tributária" abarca as
leis, os tratados e as convenções internacionais, os
decretos e as normas complementares, desde que
esses versem - no todo ou em parte - sobre
tributos e relações jurídicas a eles pertinentes.
• Vigência da Legislação Tributária
• Aplicação da Legislação Tributária
Segundo o CTN, a legislação tributária
possui força para aplicação imediata aos
fatos geradores futuros e aos pendentes
(incluindo nesse segundo grupo aqueles
NORMAS GERAIS DE DIREITO
casos cuja ocorrência do fato tenha tido
TRIBUTÁRIO: A LEGISLAÇÃO
início mas não esteja completa nos termos
TRIBUTÁRIA
do artigo 116).
• Interpretação e Integração da Legislação
Tributária
Nos termos do art. 108, ante a ausência de
disposição expressa, a autoridade
competente para aplicar a legislação
tributária utilizará sucessivamente, na
seguinte ordem: analogia; os princípios
gerais de direito tributário; os princípios
gerais de direito público; a equidade. De
forma acessória, os princípios gerais de
direito privado serão utilizados para
117
pesquisa da definição, do conteúdo e do
alcance de seus institutos, conceitos e
formas, mas não para definição dos
respectivos efeitos tributários.
1. os atos normativos expedidos pelas
autoridades administrativas;
2. as decisões dos órgãos singulares ou
coletivos de jurisdição administrativa, a que a lei
FONTES FORMAIS SECUNDÁRIAS atribua eficácia normativa;
3. as práticas reiteradamente observadas pelas
autoridades administrativas;
4. os convênios que entre si celebrem a União,
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.
PRINCÍPIOS DO DIREITO TRIBUTÁRIO
Princípio da legalidade tributária Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao
contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios exigir ou
aumentar tributo sem lei que o estabeleça (art. 150,
CF)
Princípio da anterioridade O princípio da anterioridade tributária, anunciado
tributária (anual e nonagesimal). pelo art. 150, III, alíneas b e c, determina que sem
prejuízo de outras garantias asseguradas ao
contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios cobrar tributos (1)
no mesmo exercício financeiro em que haja sido
publicada a lei que os instituiu ou aumentou e
(2) antes de decorridos noventa dias da data em
que haja sido publicada a lei que os instituiu ou
aumentou.
Princípio da anterioridade nonagesimal (art. 150,
III, c, CF)
Exceções: empréstimos compulsórios; II; IE; IOF;
IEG; IR; fixação da base de cálculo: IPVA e IPTU

118
Princípio da anterioridade (art. 150, III, b, CF)
Exceções: empréstimos compulsórios
II; IE; IOF; IEG; IPI; Contribuições sociais; CIDE
combustíveis (a alíquota da contribuição poderá
ser: reduzida e restabelecida); ICMS
combustíveis/lubrificantes poderão ser reduzidas e
restabelecidas.
Princípio da isonomia O princípio da isonomia, anunciado no art. 150, II,
da CF, registra no ordenamento jurídico pátrio que
é vedado aos entes da federação - União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios -
estabelecer tratamento desigual entre
contribuintes que se encontrem em situação
equivalente, sendo proibida qualquer distinção em
razão de ocupação profissional ou função por eles
exercida, independentemente da denominação
jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos.
Princípio da irretroatividade A irretroatividade tributária esculpida no art. 150,
tributária III, a, da Constituição de 1988, que tem seus pilares
sobre o princípio da legalidade e o da segurança
jurídica, estabelece que é vedada a cobrança de
tributos sobre fatos geradores ocorridos antes do
início da vigência da lei que os houver instituído
ou aumentado.
Princípio da vedação ao confisco O confisco trata-se da carga tributária excessiva,
onerosa ao ponto de pôr em risco o próprio
contribuinte, seus direitos e garantias
constitucionais (PAULSEN, 2014).
Princípio da não limitação ao O texto do art. 150, V da CF veda a imposição de
tráfego de pessoas e ressalva do limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por
pedágio meio de tributos interestaduais ou intermunicipais,
por qualquer dos entes da federação.

119
Princípio da uniformidade de O inciso I do art. 151 da Constituição Federal
tributo federal em todo o declara a norma da uniformidade geográfica do
território nacional ou tratamento tributário deferido pela União.
uniformidade geográfica do Fundamentando-se na unidade política do Estado
tratamento tributário deferido Federal Brasileiro, o constituinte declarou naquele
pela União dispositivo que é vedado à União “instituir
tributo que não seja uniforme em todo o
território nacional ou, ainda, que implique
distinção ou preferência em relação a Estado, ao
Distrito Federal ou a Município em detrimento
de outro”. O constituinte acrescenta que é
“admitida a concessão de incentivos fiscais
destinados a promover o equilíbrio do
desenvolvimento socioeconômico entre as
diferentes regiões do País”.
Princípio da não diferenciação O princípio da não diferenciação tributária,
tributária declarado pelo constituinte no art. 152, determina
que é vedado aos Estados, ao Distrito Federal e
aos Municípios estabelecer diferença tributária
entre bens e serviços, de qualquer natureza, em
razão de sua procedência ou destino. De forma
direta, objetiva, o teor da Lei Maior anuncia a
intenção de barrar a guerra fiscal entre os
membros da federação.
Princípio do non olet O princípio do non olet invoca a valoração de
outro princípio: a isonomia. Tributar rendimentos
provenientes de atos ilícitos impede a promoção
de tratamento diferenciado entre sujeitos
envolvidos em atividades ilícitas e aqueles que
agem sob a ordem da lei.
Princípio da capacidade O princípio da capacidade contributiva revela o
contributiva espírito do Estado Social. O sujeito, parte
integrante da coletividade, deve contribuir para o

120
bem-estar da comunidade. E, dentre múltiplas
possibilidades, constitui como uma das formas de
colaborar o próprio tributo, esse que representa,
sob certo olhar, uma fração da propriedade
privada entregue em nome do corpo coletivo.
IMUNIDADE
Imunidade recíproca
A imunidade recíproca constitui aquela prevista no art. 150, VI, a, da CF, que afasta a
possibilidade da tributação exercida por qualquer dos entes da federação sobre os
demais no que diz respeito aos impostos. A imunidade conferida aos entes da federação
é extensiva às autarquias e às fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, ante
o patrimônio, a renda e os serviços, vinculados a suas finalidades essenciais ou às
delas decorrentes.
A Corte Máxima, que tem estendido o benefício da imunidade tributária às empresas
públicas e sociedades de economia mista em caso específico, qual seja, a prestação de
serviço público (obrigatório e exclusivo do Estado). Vejamos:
As empresas públicas e sociedades de economia mista delegatárias de serviços públicos
de prestação obrigatória e exclusiva do Estado são beneficiárias da imunidade tributária.
É extensível às empresas públicas e às sociedades de economia mista prestadoras de
serviços públicos, notadamente quando prestados com cunho essencial e exclusivo.
Imunidade dos templos religiosos
À luz do texto constitucional, a imunidade a impostos alcança os templos de qualquer
culto, expressando o constituinte a vontade de não obstar, através da tributação, a
manifestação da fé.
Imunidade dos partidos, sindicatos, entidades educacionais e assistenciais
Consoante o texto da Constituição (art. 150, IV, c, CF), é vedado à União, aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios instituir impostos sobre patrimônio, renda ou serviços
dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos
trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins
lucrativos, atendidos os requisitos da lei.
Imunidade de imprensa

No art. 150, inciso VI, alínea d, determinou o constituinte que, sem prejuízo de outras
garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal

121
e aos Municípios instituir impostos sobre livros, jornais, periódicos e o papel destinado
à sua impressão.
(vide quadro exposto no tópico. Importante observar a posição do STF quanto à matéria)
Imunidade dos fonogramas

No art. 150, inciso VI, alínea “e”, o constituinte determinou que, sem prejuízo de
outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios instituir impostos sobre fonogramas e videofonogramas
musicais produzidos no Brasil contendo obras musicais ou literomusicais de autores
brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por artistas brasileiros bem como os
suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham, salvo na etapa de
replicação industrial de mídias ópticas de leitura a laser.
ISENÇÃO
Isenção é a “exclusão, por lei, de parcela de hipótese de incidência, ou suporte fático da
norma de tributação, sendo objeto da isenção a parcela que a lei retira dos fatos que
realizam a hipótese de incidência da regra de tributação” (Machado, 1998, p. 153). A
isenção onerosa é aquela que, para o seu proveito, exige do contribuinte o
preenchimento de condições impostas pelo próprio Fisco, nos termos da legislação
vigente. O STF, sobre o tema, já sumulou entendimento: “isenções tributárias concedidas,
sob condição onerosa, não podem ser livremente suprimidas” - súmula 544.
Isenção heterônoma
O art. 151, III, da CF determina que é vedado à União “instituir isenções de tributos da
competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios”. O texto da
Constituição, portanto, veda a isenção heterônoma.

122
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(FCC - 2020 - TJ-MS - Juiz Substituto) A respeito do princípio da anterioridade tributária, é

correto afirmar:

A) Medida provisória pode instituir ou majorar imposto e, neste caso, a obediência à


anterioridade anual tributária pressupõe a sua conversão em lei até o último dia do exercício

financeiro em que for editada, para que a nova norma possa ser aplicada no ano seguinte.

B) A lei estadual que implique em postergação de novas hipóteses de creditamento relativo ao


Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sujeita-se à regra da anterioridade

tributária.

C) Há tributos que podem ser majorados sem precisar observar o principio da anterioridade
anual, todavia essas exceções se aplicam apenas a alguns impostos federais.

D) O Senado Federal pode majorar alíquotas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e

Serviços (ICMS) sem que seja aplicável o princípio da anterioridade anual.

E) A majoração da base de cálculo do Imposto Sobre Propriedade Territorial Urbana (IPTU) deve
respeitar o princípio da anterioridade nonagesimal.

Comentário:

A assertiva A responde corretamente ao questionado. Medida Provisória pode instituir ou


majorar imposto e, neste caso, a obediência à anterioridade anual tributária pressupõe a

sua conversão em lei até o último dia do exercício financeiro em que for editada para que
a nova norma possa ser aplicada no ano seguinte. Nesse sentido, veja:

Art. 62, §2º, da CF: Medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos,
exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício

123
financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi

editada.

A letra B está incorreta. A postergação do direito do contribuinte do ICMS de usufruir de


novas hipóteses de creditamento, por não representar aumento do tributo, não se sujeita

à anterioridade nonagesimal prevista no art. 150, III, c, da Constituição. Veja posição da


Corte Suprema a seguir:

A postergação de hipótese de redução de imposto não se equipara a aumento do tributo,

pelo que não atrai a incidência da anterioridade nonagesimal prevista no art. 150, III, “c”,
da Carta Política. Precedentes do STF: RE 584.100 Repercussão Geral, Rel. Ministra Ellen

Gracie, Tribunal Pleno, julgado em 25.11.2009; ADI 2.673, Rel. Ministra Ellen Gracie, Tribunal
Pleno, julgado em 03.10.2002; AI 783.509 AgR, Rel. Ministro Ricardo Lewandowski, Primeira

Turma, julgado em 19.10.2010; AI 780.210 AgR, Rel. Ministra Cármen Lúcia, Primeira Turma,
julgado em 14.6.2011, DJe de 29.7.2011.

A alternativa C está incorreta porque CIDE-combustível e ICMS-combustível quando houver

redução e/ou restabelecimento das alíquotas não observam o princípio da anterioridade


anual. Ou seja, não somente impostos federais, a exemplo de II, IE e outros.

Também incorreta a assertiva D, haja vista a Constituição não atribuir competência ao

Senado em aumentar alíquotas do ICMS.

Por fim, errada a letra E. A majoração da base de cálculo do Imposto Sobre Propriedade
Territorial Urbana (IPTU) não deve respeitar o princípio da anterioridade nonagesimal.

Questão 2

(FUNDEP - 2019 - Prefeitura de Lagoa Santa - MG - Procurador da Fazenda) Considere o


caso hipotético a seguir.

O município B instituiu taxa a ser cobrada, exclusivamente, em razão do poder de polícia na


fiscalização de funcionamento de imóveis que se destinem a atividade com agrupamento de

124
mais de 50 pessoas. O templo religioso Y, com sede no município B, realiza suas celebrações

em imóvel de sua propriedade e com capacidade para presença máxima 100 pessoas. O templo
religioso Y foi notificado do lançamento com a cobrança da referida taxa.

Sobre a hipótese apresentada, assinale a alternativa correta.

A) Os templos de qualquer culto são imunes, portanto não devem pagar a taxa instituída pelo
município B.

B) A taxa é inconstitucional, uma vez que o município B não é competente para a instituição de

taxas de poder de polícia.

C) A taxa é constitucional e o templo religioso Y não é imune.

D) A taxa é inconstitucional, pois não é específica e divisível.

Comentário:

Você sabe que os entes federativos possuem o poder de tributar por meio de taxas em

razão do poder de polícia nos termos preconizados pela Constituição:

Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os


seguintes tributos:

II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial,

de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua


disposição;

Deste modo, é vedado apenas cobrança da espécie tributária imposto, não se proibindo a

cobrança de taxas sobre os que possuem direito à imunidade "isenção" conforme a


Constituição. Assim, a resposta correta é a alternativa C.

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União,

aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

VI - instituir impostos sobre:

125
b) templos de qualquer culto.

Questão 3

(VUNESP - 2019 - TJ-RJ - Juiz Substituto) Assinale a alternativa que está em conformidade
com as súmulas do Supremo Tribunal Federal.

A) A Constituição estadual pode estabelecer limite para o aumento de tributos municipais.

B) Constitui fato gerador do imposto de circulação de mercadorias a saída física de máquinas,


utensílios e implementos a título de comodato.

C) Decisão que declara indevida a cobrança do imposto em determinado exercício não faz coisa
julgada em relação aos posteriores.

D) O imposto de transmissão inter vivos incide sobre a transferência de ações de sociedade


imobiliária.

E) Norma legal que altera o prazo de recolhimento da obrigação tributária também se sujeita

ao princípio da anterioridade

Comentário:

O Examinador exigiu conhecimento de súmulas do STF para a resolução desta questão.

Vejamos.

A letra A é incorreta. Nos termos da súmula 69 do STF, a Constituição estadual não pode
estabelecer limite para o aumento de tributos municipais.

Incorreta a letra B nos termos da súmula 573 do STF. Não constitui fato gerador do imposto

de circulação de mercadorias a saída física de máquinas, utensílios e implementos a título


de comodato.

O gabarito da questão é a letra C. A Súmula 239 do STF dispõe que "Decisão que declara
indevida a cobrança do imposto em determinado exercício não faz coisa julgada em relação
aos posteriores".
126
Incorreta a letra D. Súmula 329 do STF: O Imposto de Transmissão “Inter Vivos” não incide

sobre a transferência de ações de sociedade imobiliária.

Por fim, errada a assertiva, já que a Súmula Vinculante 50 aponta que "Norma legal que
altera o prazo de recolhimento de obrigação tributária não se sujeita ao princípio da

anterioridade".

Questão 4

(VUNESP - 2019 - TJ-RO - Juiz de Direito Substituto) A vedação constitucional à cobrança de

tributos antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os
instituiu ou aumentou aplica-se, entre outros, aos seguintes tributos:

A) aos impostos extraordinários, à fixação da base de cálculo do imposto sobre a propriedade

de veículos automotores e do imposto sobre propriedade predial e territorial urbana.

B) aos impostos residuais criados pela União, às taxas, às contribuições previdenciárias e ao


imposto sobre circulação de bens e serviços.

C) às taxas, aos empréstimos compulsórios, ao imposto de importação e às contribuições

previdenciárias.

D) aos empréstimos compulsórios, ao imposto sobre produtos industrializados, ao imposto sobre


operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários.

E) ao imposto de importação, ao imposto de renda e proventos de qualquer natureza e à fixação


da base de cálculo do imposto sobre a propriedade de veículos automotores.

Comentário:

Neste quesito, o Examinador exigiu que o candidato soubesse a aplicação do princípio da


anterioridade nonagesimal, especialmente as suas exceções;.

Elas estão previstas no §1º do mesmo dispositivo. São elas: empréstimos compulsórios

(apenas os se fundamentam em despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade

127
pública, de guerra externa ou sua iminência), imposto de importação (II), imposto de

exportação (IE), imposto de renda (IR), IOF, imposto extraordinário de guerra (IEG) e a
fixação da base de cálculo do IPVA e IPTU.

Incorreta a letra A. Conforme visto, não se aplica à fixação da base de cálculo do IPTU e

IPVA. Quanto aos impostos extraordinários, o princípio apenas não se aplica ao caso dos
instituídos no caso de iminência de guerra externa (art. 154, I, CF).

A letra B é o gabarito da questão. Nenhum desses tributos relacionados na alternativa

estão nas exceções do princípio da anterioridade nonagesimal.

A assertiva C está errada. Você já sabe que o princípio não se aplica aos empréstimos
compulsórios (fundados em despesas extraordinária decorrente de calamidade pública ou

guerra externa), bem como não se aplica ao imposto de importação. Já quanto às


contribuições previdenciárias há uma disposição específica no art. 195, §6º, CF, que prevê

a aplicação do princípio.

Letra D incorreta posto que não se aplica aos empréstimos compulsórios, ao IPI e ao IOF.

Pelos mesmos argumentos expostos, incorreta a letra E. O princípio não se aplica a nenhum
desses tributos.

Questão 5

(VUNESP - 2019 - TJ-RO - Juiz de Direito Substituto) Instituição de ensino superior, sem fins
lucrativos, deixa de recolher os impostos sobre a renda, sobre o patrimônio e sobre os serviços

prestados, sob o entendimento de ser imune à essa tributação, nos termos da Constituição
Federal. A referida instituição mantém escrituração de suas receitas e despesas em livros

revestidos de formalidades capazes de assegurar sua exatidão e aplica integralmente, no País,


os seus resultados positivos na manutenção dos seus objetivos institucionais. Em auditoria

realizada na escrituração fiscal da instituição, o Fisco Municipal observou o pagamento de


valores a empresas controladas pelos administradores dessa instituição, a título de despesas de

aluguel de prédios comerciais ocupados com a sede administrativa da instituição e com salas

128
de aulas. O auditor fiscal responsável pela auditoria considerou inusual o fato de o valor do

aluguel pago por metro quadrado estar muito acima da média para a região e também o fato
de a instituição ser locatária desses imóveis apesar de ser proprietária de outros imóveis na

mesma região alugados a terceiros.

Considerando essa situação hipotética e a legislação nacional, é correto afirmar que

A) caso o auditor fiscal municipal entenda indevida a manutenção da imunidade tributária por
parte da instituição, ele poderá lançar os impostos municipais que entenda devidos e também

os impostos de competência da União.

B) apenas as instituições de ensino infantil são imunes à cobrança de impostos, de maneira que
é equivocado o entendimento da administração da instituição que levou ao não recolhimento

dos impostos sobre a renda e sobre a prestação de serviços.

C) caso o Fisco constate que o pagamento do aluguel em valor muito superior ao preço de
mercado foi utilizado para a distribuição disfarçada de lucros, poderá considerar como

descumprido um dos requisitos necessários ao gozo da imunidade tributária.

D) não podem ser considerados imunes à cobrança de IPTU os imóveis de propriedade da


instituição alugados a terceiros, uma vez que a imunidade atinge apenas os imóveis destinados

diretamente às finalidades da instituição de ensino.

E) instituições superiores de ensino, por serem imunes à cobrança de tributos, não estão
obrigadas à manutenção de escrituração contábil, de maneira que o Fisco não teria poder de
exigir tais documentos, caso a instituição se negasse a apresentá-los.

Comentário:

A resolução deste quesito exige que você entenda o alcance da imunidade de instituições

sem fins lucrativos, bem como das atribuições da fiscalização. A esse respeito, leia o art.
150, VI, c, CF, art. 14 e 116, parágrafo único, CTN.

129
A imunidade de partidos políticos, sindicatos de trabalhadores, instituições de educação e

assistência social sem fins lucrativos, está prevista no art. 150, VI, c, CF. Note-se que a CF
prevê que para isso devem ser atendidos os requisitos da lei.

Tais requisitos estão dispostos principalmente (mas não exclusivamente) no art. 14, do CTN,

que dispõe que para assegurar a imunidade, as entidades não podem distribuir patrimônio
e renda, devem aplicar integralmente os recursos no país, bem como manter a escrituração

contábil.

Nesse sentido, vejamos:

Letra A incorreta. O fiscal municipal não tem atribuição para efetuar lançamento dos
impostos federais.

Errada a letra B. A Constituição Federal não restringe a imunidade às instituições de ensino


infantil.

O gabarito da questão é a letra C. No presente caso, constata-se que os negócios jurídicos

foram praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador. Na verdade,


não se trata de pagamento de aluguéis, mas de distribuição de lucro disfarçada. Assim, é
aplicável o art. 116, parágrafo único, CTN, desconsiderando os aluguéis e concluindo pelo

descumprimento de requisitos para o gozo da imunidade, especialmente a vedação de


distribuir renda.

Errada a letra D. O STF entende de modo diferente, tendo editado a Súmula Vinculante 52:
"Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel pertencente a
qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, "c", da Constituição Federal, desde que

o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades para as quais tais entidades foram
constituídas."

A letra E, por fim, está incorreta. A imunidade diz respeito apenas às obrigações tributárias

principais. As obrigações acessórias, como a escrituração contábil, não estão são afastadas
pela imunidade. Ademais, conforme já explicado, o art. 14, III, CTN, prevê como requisito

para manter a imunidade a escrituração contábil.


130
Questão 6

(CESPE - 2019 - TJ-SC - Juiz Substituto) A respeito de imunidade tributária e isenção tributária,
é correto afirmar que

A) a isenção está no campo infraconstitucional e corresponde a uma hipótese de não incidência

da norma tributária.

B) a imunidade está no plano constitucional e proíbe a própria instituição do tributo


relativamente às situações e pessoas imunizadas.

C) a isenção é criada diretamente pela Constituição Federal de 1988, sendo uma norma negativa
de competência tributária.

D) a imunidade pressupõe a incidência da norma tributária, sendo o crédito tributário excluído


pelo legislador.

E) a imunidade está no plano de aplicação da norma tributária, sendo equivalente ao


estabelecimento de uma alíquota nula.

Comentário:

Para responder essa questão você precisa saber o conceito de imunidade tributária.
Vejamos o que ensina Ricardo Alexandre:

Isenção: Consiste na dispensa legal do pagamento do tributo. Assim, o ente político tem

competência para instituir o tributo e, ao fazê-lo, opta por dispensar o pagamento em


determinadas situações. Opera no âmbito do exercício da competência.

Imunidade: É limitação constitucional ao poder de tributar consistente na delimitação da

competência tributária constitucionalmente conferida aos entes políticos. Opera no âmbito


da delimitação de competência.

Vamos a análise das alternativas.

131
A letra A está incorreta. A isenção não corresponde a uma hipótese de não incidência da

norma tributária, mas sim a uma hipótese de não exercício da competência tributária pelo
ente político.

A assertiva B está correta. A imunidade, que sempre é prevista na CF, verifica-se no âmbito

do poder de tributar. Logo, proíbe a própria instituição do tributo relativamente às


situações e pessoas imunizadas.

A alternativa C está errada. A afirmação refere-se à imunidade, estando incorreta por tratar

de isenção.

Incorreta a letra D. A afirmação refere-se à isenção, estando incorreta por tratar de


imunidade.

Por fim, incorreta a letra E. Não confunda a imunidade com a alíquota zero, na qual o ente
tributante tem competência para criar o tributo (tanto que o faz), e o fato gerador ocorre
no mundo concreto, mas a obrigação tributária dele decorrente, por uma questão de

cálculo, é nula.

Questão 7

(CESPE - 2019 - TJ-SC - Juiz Substituto) Determinada lei tributária prevê o valor do teto para

a cobrança de uma taxa de fiscalização, permitindo que ato do Poder Executivo fixe o valor
específico do tributo e autorizando o ministro da Economia a corrigir monetariamente, a partir

de critérios próprios, esse valor.

A respeito dessa lei hipotética, considerando-se a jurisprudência do STF acerca do princípio da


legalidade tributária, é correto afirmar que

A) a delegação do ato infralegal para a fixação do valor da taxa ou determinação dos critérios

para a sua correção é inconstitucional.

B) os índices de correção monetária da taxa podem ser atualizados por ato do Poder Executivo,
ainda que em percentual superior aos índices de correção monetária legalmente previstos.

132
C) a fixação do valor da taxa por ato normativo infralegal, se em proporção razoável com os

custos da atuação estatal, é permitida, devendo sua correção monetária ser atualizada em
percentual não superior aos índices legalmente previstos.

D) o Poder Executivo tem permissão legal para fixar discricionariamente o valor da correção

monetária da referida taxa, independentemente de previsão legal de índice de correção.

E) a fixação, em atos infralegais, de critérios para a correção monetária de taxas é


inconstitucional, independentemente de observar expressa previsão legal.

Comentário:

Para responder essa questão, é necessário que você conheça jurisprudência do STF sobre
o princípio da legalidade e atualização monetária de valores de taxas. Vejamos as

alternativas.

A letra A está incorreta, posto que não é inconstitucional, já que não se trata de aumento
de tributo sem lei, mas de recomposição de perdas inflacionárias.

Errada a assertiva B. O entendimento do Supremo é que devem ser usados os índices

legalmente previstos.

A assertiva C responde corretamente ao questionado, sendo, portanto, o gabarito da


questão. Nesse caso não há violação do princípio da legalidade, uma vez que a atualização

monetária de acordo com critérios pré-fixados não representa aumento do tributo, mas
apenas recomposição inflacionária. O STF já se pronunciou sobre o tema em sede de

repercussão geral:

Tese de repercussão geral no RE 838284: Não viola a legalidade tributária a lei que,
prescrevendo o teto, possibilita o ato normativo infralegal fixar o valor de taxa em

proporção razoável com os custos da atuação estatal, valor esse que não pode ser
atualizado por ato do próprio conselho de fiscalização em percentual superior aos índices

de correção monetária legalmente previstos.

Letra D incorreta. Não há discricionariedade, considerando que a cobrança é ato vinculado.

133
A assertiva E está incorreta. Conforme já explicado, não há inconstitucionalidade, conforme

entendimento do STF.

Questão 8

(CESPE - 2019 - TJ-SC - Juiz Substituto) O § 1.º do art. 145 da Constituição Federal de 1988

dispõe que “Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo
a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente

para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos
termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte”.

O princípio do direito tributário relacionado à norma constitucional transcrita anteriormente é o

A) princípio da capacidade contributiva.

B) princípio da igualdade tributária.

C) princípio da irretroatividade tributária.

D) princípio da não cumulatividade.

E) princípio da benignidade.

Comentário:

Para responder essa questão você deve conhecer o princípio da capacidade contributiva.

A assertiva A está correta porque o dispositivo constitucional remete à noção do princípio

da capacidade contributiva, no sentido que os contribuintes devem ser tributados na


medida da sua capacidade econômica.

Incorreta a letra B. Mesmo o princípio da igualdade material possuindo um estreito laço

com o o princípio da capacidade contributiva, o primeiro está previsto o art. 150, II, CF.

A letra C está incorreta. O princípio da irretroatividade tributária está previsto no art. 150,
III, a, da Carta Maior.

134
Errada a letra D. O princípio da não cumulatividade é previsto constitucionalmente em

especial para o ICMS e IPI. Não se trata de um princípio aplicado a todos os tributos.

Por derradeiro, incorreta a letra E. Não há previsão explícita desse princípio na CF.

Questão 9

(FCC - 2019 - DPE-SP - Defensor Público) Acerca do regime dos princípios tributários,

considere as assertivas abaixo:

I. o princípio da capacidade contributiva autoriza a graduação dos impostos de caráter pessoal,


segundo a capacidade econômica do contribuinte.

II. o princípio da igualdade tributária, que se encontra expressamente previsto na Constituição


Federal de 1988, permite ao legislador ordinário estabelecer critérios de diferenciação entre
contribuintes, com a finalidade de promover a igualdade material.

III. o princípio da anterioridade da lei tributária, implícito na Constituição Federal de 1988, veda
a cobrança de tributos cujos fatos geradores ocorreram antes do início da vigência da lei que
os criou ou aumentou.

IV. o princípio do não-confisco, implícito no texto constitucional, veda o emprego da tributação


com finalidade extrafiscal.

Está correto o que se afirma APENAS em:

A) I e II.

B) I e III.

C) I e IV.

D) III e IV.

E) II e III.

135
Comentário:

A resolução desse quesito exige que você domine os princípios constitucionais tributários.

A alternativa I está correta, conforme disposto no art. 145, §1º, que prevê que os "os
impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do

contribuinte".

Assertiva II também está correta. Você sabe que o princípio da igualdade tributária está
expressamente previsto no art. 150, II, CF, e remete à noção de igualdade material, uma

vez que prevê a vedação de "tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem
em situação equivalente".

A assertiva III está incorreta. O princípio não é implícito, e está previsto no art. 150, III, b,

da Carta Magna.

Incorreta também a assertiva IV. O princípio não é implícito, e está previsto no art. 150, IV,
CF.

Deste modo, a alternativa correta é a letra A.

Questão 10

(TRF - 2ª Região - 2018 - TRF - 2ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto) À luz da jurisprudência
atual do STF sobre a extensão do reconhecimento da imunidade tributária recíproca às empresas

estatais, assinale a alternativa correta:

A) a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) não goza de imunidade tributária recíproca
ao exercer atividades em regime de concorrência com a iniciativa privada.

B) empresa estatal que presta serviços de saúde exclusivamente pelo SUS, não tendo por
finalidade a obtenção de lucro, goza da imunidade tributária recíproca.

136
C) empresa estatal que presta serviço público de abastecimento de água e tratamento de esgoto,

em regime de monopólio, goza de imunidade tributária recíproca, ainda que distribua lucros ao
ente controlador.

D) a Casa da Moeda do Brasil (CMB) não goza de imunidade tributária recíproca, pois também

executa atividades abertas à ampla concorrência e participação do setor privado.

E) caso a empresa estatal assuma o tipo societário de sociedade de economia mista, não poderá
gozar da imunidade tributária recíproca, em razão da presença de sócios privados em seu

quadro societário.

Comentário:

A assertiva A está incorreta. O STF tem entendimento pacífico no sentido de estender a

imunidade recíproca à ECT, independentemente de prestar um serviço em concorrência


com a iniciativa privada.

O Supremo decidiu que a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT goza de

imunidade tributária recíproca mesmo quando realiza o transporte de bens e mercadorias.


Assim, não incide o ICMS sobre o serviço de transporte de bens e mercadorias realizado

pelos Correios. STF. Plenário. RE 627051/PE, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 12/11/2014
(Info 767).

Correta a letra B. O STF entende que a prestação de serviços de saúde por sociedade de

economia mista corresponde à própria atuação do Estado, desde que a empresa não tenha
finalidade lucrativa, fazendo jus à imunidade recíproca (tema 115 - repercussão geral).

A assertiva C está errada. O STF entende que a imunidade tributária recíproca é aplicável

às autarquias e empresas públicas que prestem inequívoco serviço público, desde que,
entre outros requisitos constitucionais e legais, não distribuam lucros ou resultados direta

ou indiretamente a particulares, ou tenham por objetivo principal conceder acréscimo


patrimonial ao poder público (ausência de capacidade contributiva) e não desempenhem
atividade econômica, de modo a conferir vantagem não extensível às empresas privadas

(livre iniciativa e concorrência). RE 399.307.


137
Errada a letra D. A Casa da Moeda do Brasil goza da imunidade recíproca, uma vez que a

delegação da execução de serviço público, mediante outorga legal, não implica alteração
do regime jurídico de direito público (RE 610517/RJ).

A assertiva E, por fim, está incorreta. A imunidade tributária recíproca pode ser estendida

a empresas públicas ou sociedades de economia mista prestadoras de serviço público de


cunho essencial e exclusivo (RE 253472/SP).

Questão 11

(CESPE - 2018 - Polícia Federal - Delegado de Polícia Federal) A empresa XZY Ltda.,
contribuinte do ICMS, pagava mensalmente esse tributo a determinado estado da Federação,

no dia 15 de cada mês. No dia 30/6/2017, esse estado editou ato normativo que alterava a data
do pagamento do referido tributo para o dia 10 de cada mês, entrando tal ato em vigor no dia

1.º/7/2017. Sem saber da alteração, a empresa XZY Ltda. pagou o tributo no dia 15/7/2017, o
que acarretou multa e juros de mora pelo pagamento com atraso.

Nessa situação hipotética.

a antecipação do prazo para o pagamento do ICMS só poderia ter sido feita por lei e somente

poderia ter entrado em vigor no exercício financeiro seguinte.

Certo

Errado

Comentário:

Este quesito exige que você conheça os princípios constitucionais tributários, de modo

especial, o princípio da Legalidade Tributária e sobre o princípio da Anterioridade.

O que se afirma é incorreto. O Princípio da Legalidade Tributária preceitua que os Entes


Federados somente poderão instituir ou majorar tributos mediante lei nos termos do
art.150, I da Constituição.

138
Deste modo, a questão não trata de majoração ou instituição de tributo, o que permite o

Estado fazer a alteração por meio de Ato normativo, mesmo porque, o artigo 97 do CTN
não traz em seu rol a exigência de que somente por lei possa ser alterada a data de

vencimento de um tributo, uma vez que isso não configura sua majoração.

No que tange ao Princípio da Anterioridade, o art. 150, III, “b" da Lei Maior estabelece que,
é vedado aos Entes Federados cobrarem tributos no mesmo exercício financeiro em que

foi editada a lei que o instituiu ou majorou. Portanto, o Ato Normativo do Estado não
instituiu e nem majorou o ICMS, apenas alterou a data do seu vencimento, portanto, não

é necessário que se respeite o princípio da Anterioridade.

Questão 12

(CESPE - 2018 - Polícia Federal - Delegado de Polícia Federal) Acerca de crédito tributário,

competência tributária e Sistema Tributário Nacional, julgue o próximo item.

Os estados e os municípios estão imunes à instituição de contribuições sociais, pela União, sobre
os seus serviços.

Certo

Errado

Comentário:

A assertiva está incorreta. A imunidade reciproca refere-se apenas aos impostos. A esse
respeito, leia o que dispõe a Constituição:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União,

aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

VI - instituir impostos sobre:

a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;

139
Não olvide que as imunidades tributárias estão estabelecidas na Constituição Federal e são

cláusulas pétreas.

Questão 13

(CONSULPLAN - 2018 - TJ-MG - Juiz de Direito Substituto) Assinale a alternativa que retrata

a jurisprudência consolidada nos Tribunais Superiores.

A) O serviço de iluminação pública pode ser remunerado mediante taxa.

B) Norma legal que altera o prazo de recolhimento de obrigação tributária não se sujeita ao
princípio da anterioridade.

C) É constitucional a incidência do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) sobre


operações de locação de bens móveis.

D) No tocante à base de cálculo, o ISSQN incide apenas sobre a taxa de agenciamento quando

o serviço prestado por sociedade empresária de trabalho temporário for de intermediação, não
podendo englobar os valores dos salários e encargos sociais dos trabalhadores por ela
contratados, independentemente do fornecimento de mão de obra.

Comentário:

A assertiva A está incorreta nos termos da Súmula Vinculante 41 que dispõe: "O serviço de
iluminação pública não pode ser remunerado mediante taxa".

Correto o que se afirma na letra B, sendo, deste modo, o gabarito da questão. Esta é a
literalidade do enunciado 50 da súmula vinculante.

Errada a letra C. Dispõe a súmula vinculante 31: É inconstitucional a incidência do Imposto

sobre Serviços de Qualquer Natureza – ISS sobre operações de locação de bens móveis.

Lembre-se que o STF reconhece a possibilidade de incidência do ISS sobre o leasing


financeiro – que, diferentemente do leasing operacional, tem prevalência do serviço de

financiamento e este, como serviço, é suscetível de incidência do tributo.

140
A alternativa D está errada. Nos termos da Súmula 524, STJ: No tocante à base de cálculo,

o ISSQN incide apenas sobre a taxa de agenciamento quando o serviço prestado por
sociedade empresária de trabalho temporário for de intermediação, devendo, entretanto,

englobar também os valores dos salários e encargos sociais dos trabalhadores por ela
contratados nas hipóteses de fornecimento de mão de obra.

Deste modo, quando o serviço prestado é de mero agenciamento, o ISS incide somente

sobre a remuneração pelo agenciamento de serviços. Por outro lado, quando a agenciadora
é a própria responsável pelo fornecimento da mão-de-obra, o ISS incide também sobre os

salários dos trabalhadores e encargos sociais

Questão 14

(UEG - 2018 - PC-GO - Delegado de Polícia) O sistema tributário nacional é integrado por um

conjunto de princípios e regras que limitam o exercício do poder de tributar do Estado. Acerca
do exercício da competência tributária verifica-se que

A) a anterioridade aplicável ao direito penal tem igual aplicação na seara tributária, sendo vedada

qualquer alteração na legislação tributária, ainda que não corresponda a aumento do tributo.

B) é vedada a cobrança de tributos antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido
publicada lei que os instituiu, aumentou ou reduziu.

C) a imunidade religiosa é consectária da garantia fundamental da liberdade religiosa, que tem

alcance além do templo religioso.

D) a vedação do não-confisco ao Estado, no exercício de seu poder de tributar, limita a perda


de bens no âmbito criminal.

E) as regras de imunidade tributária devem ser interpretadas restritivamente, na medida em que

correspondem a benefícios fiscais aos contribuintes.

Comentário:

A letra A está incorreta. Nesse sentido, leia o seguinte:


141
Súmula Vinculante 50: Norma legal que altera o prazo de recolhimento de obrigação

tributária não se sujeita ao princípio da anterioridade.

CTN. Art. 105. A legislação tributária aplica-se imediatamente aos fatos geradores futuros
e aos pendentes, assim entendidos aqueles cuja ocorrência tenha tido início mas não esteja

completa nos termos do artigo 116.

Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito:

I - em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída a aplicação de

penalidade à infração dos dispositivos interpretados.

A assertiva B está incorreta ao falar da redução. Nos termos da CRFB:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União,
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

III - cobrar tributos:

b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou

aumentou;

A letra C está correta. Nas palavras do professor Ricardo Alexandre: " É interessante
perceber que o legislador constituinte originário, ao proibir os entes federados de instituir

impostos sobre os templos de qualquer culto ( CF, art. 150 , VI, b), disse menos do que
efetivamente queria dizer (...) Se a imunidade fosse tão somente do templo, estaria

impedida apenas a cobrança de impostos que incidissem sobre a propriedade do imóvel


em que está instalado o templo (IPTU ou ITR). Entretanto, nada impediria a cobrança, por

exemplo, do imposto de renda sobre as oferendas ou do imposto sobre serviços relativo


à celebração de casamentos. De modo que, o entendimento do STF é pacífico no sentido

da imunidade religiosa abranger não somente os prédios destinados ao culto, mas,


também, o patrimônio, a renda e os serviços relacionados com as finalidades essenciais
das entidades religiosas".

142
A assertiva D está incorreta. Ricardo Alexandre aponta que a pena de perdimento de bens

foi recepcionada pela CF, notadamente pelo art. 5º, XLVI, b. Portanto, não há que se
confundir possibilidade de aplicação de pena de perdimento com tributo confiscatório. O

tributo não é sanção por ato ilícito (CTN, art. 3º). A pena de perdimento tem, como a
própria designação demonstra, caráter punitivo.

A Constituição dispõe:

Art. 150. [...] é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

IV - utilizar tributo com efeito de confisco;

Questão 15

(TRF - 3ª REGIÃO - 2018 - TRF - 3ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto) Considerando que
dentre as limitações constitucionais ao poder de tributar insere-se a vedação ao uso do tributo

com efeito de confisco, indique qual a afirmação CORRETA:

A) O Poder Executivo pode criar multas em percentuais que excedam o valor do tributo cobrado,
visto que a imposição de multa tem o duplo objetivo de educar o contribuinte e de ressarcir o

Poder Público.

B) A multa correspondente a 90% do valor do tributo devido não tem caráter confiscatório.

C) A falta de atualização monetária da tabela de incidência do imposto de renda na fonte sobre

os salários tem natureza de confisco.

D) É possível a cobrança de multa confiscatória desde que observado o princípio da praticidade


da arrecadação e da prevalência do interesse público sobre o privado.

Comentário:

Esta questão exige que você domine a jurisprudência do STF sobre a vedação do confisco
aplicado às multas tributárias.

143
O gabarito da questão é a letra B. O Supremo Tribunal Federal já se manifestou que o

princípio da vedação do confisco (Art. 150, IV, CF) se aplica às multas tributárias. No
entanto, o parâmetro utilizado é que o valor da multa não pode ultrapassar o valor do

próprio tributo, ou seja, 100%. (v. ARE 1058987). Logo, multa de 90% não viola o referido
princípio.

Letra A incorreta. Esse não é o entendimento consolidado no STF, conforme já visto.

Letras C e D incorretas, não há previsão nesse sentido.

Questão 16

(NUCEPE - 2018 - PC-PI - Delegado de Polícia Civil) Considerando o previsto na Constituição


Federal, bem como a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, assinale a alternativa

CORRETA.

A) A imunidade recíproca reconhecida constitucionalmente às entidades políticas não pode ser


reconhecida às empresas públicas e às sociedades de economia mista, sejam quais forem as

finalidades a que se dedicarem tais entidades.

B) Norma legal que altera o prazo de recolhimento da obrigação tributária se sujeita ao princípio
da anterioridade, por se tratar de verdadeira garantia reconhecida ao sujeito passivo da

obrigação.

C) De acordo com o expressamente previsto na Constituição Federal, os requisitos para o gozo


da imunidade devem estar previstos em lei ordinária específica de cada ente político.

D) Entidade de assistência social, sem fins lucrativos, que aluga imóvel a terceiros, não deixa de

ser imune ao IPTU, desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades para as quais
tais entidades foram constituídas.

E) É vedado o protesto das certidões de dívida ativa, constituindo mecanismo inconstitucional e


ilegítimo por restringir de forma desproporcional direitos fundamentais garantidos aos
contribuintes e, assim, constituir sanção política.

144
Comentário:

A assertiva A está incorreta. A Corte já firmou o entendimento de que é possível a extensão


da imunidade tributária recíproca às sociedades de economia mista prestadoras de serviço
público, observados os seguintes parâmetros: a) a imunidade tributária recíproca se aplica

apenas à propriedade, bens e serviços utilizados na satisfação dos objetivos institucionais


imanentes do ente federado; b) atividades de exploração econômica, destinadas

primordialmente a aumentar o patrimônio do Estado ou de particulares, devem ser


submetidas à tributação, por apresentarem-se como manifestações de riqueza e deixarem

a salvo a autonomia política; e c) a desoneração não deve ter como efeito colateral
relevante a quebra dos princípios da livre concorrência e do livre exercício de atividade

profissional ou econômica lícita." Precedentes: RE nº 253.472/SP, Tribunal Pleno, Relator


para o acórdão o Ministro Joaquim Barbosa, DJe de 1º/2/11.

Errada a letra B nos termos da Súmula Vinculante 50 que dispõe: Norma legal que altera

o prazo de recolhimento de obrigação tributária não se sujeita ao princípio da


anterioridade.

Incorreta a assertiva C. Imunidade é hipótese de não incidência tributária qualificada porque

decorre diretamente da CF. Além disso, os requisitos da imunidade tributária devem estar
previstos em Lei Complementar.

A letra D é o gabarito da questão. A Súmula Vinculante 52 prevê: "Ainda quando alugado

a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel pertencente a qualquer das entidades


referidas pelo art. 150, VI, "c", da Constituição, desde que o valor dos aluguéis seja aplicado
nas atividades essenciais de tais entidades".

A assertiva E está incorreta. O informativo 846 do STF dispõe protesto das certidões de
dívida ativa constitui mecanismo constitucional e legítimo por não restringir de forma
desproporcional quaisquer direitos fundamentais garantidos aos contribuintes e, assim,

não constituir sanção política. (STF. Plenãrio. ADI 5135/DF, Rel. Min. Roberto Barroso,
julgado em 3 e 9/11/2016.

145
Questão 17

(FCC - 2018 - DPE-AP - Defensor Público) À luz das normas constitucionais sobre as limitações

do poder de tributar e da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal,

A) a multa moratória, embora não seja tributo, não pode ter um importe que lhe confira
característica confiscatória, inviabilizando inclusive o recolhimento de futuros tributos.

B) o imposto sobre grandes fortunas, caso instituído por lei complementar federal, poderá

assumir efeito confiscatório, tendo em vista os princípios da função social da propriedade e da


redução das desigualdades regionais e sociais.

C) a taxa judiciária, devida em razão do acionamento do serviço prestado pelo Poder Judiciário,

poderá ter sua alíquota majorada por Decreto editado pelo Governador, observado o limite
máximo fixado em lei, dada sua natureza de preço público.

D) a prestação de serviços públicos pelos Municípios aos Estados e à União não poderá ser

tributada por meio de taxa, tendo em vista o princípio da imunidade recíproca, que decorre do
princípio federativo.

E) as taxas instituídas em razão do exercício do poder de polícia poderão ser cobradas no

mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que as instituiu ou aumentou.

Comentário:

Correta a letra A. O STF tem entendimento já consolidado no sentido de que à multa

moratória também se aplica o princípio do não-confisco do art. 150, IV, da CF.

Vide: "A desproporção entre o desrespeito à norma tributária e sua consequência jurídica,
a multa, evidencia o caráter confiscatório desta, atentando contra o patrimônio do

contribuinte, em contrariedade ao mencionado no dispositivo do texto Constitucional


Federal" (STF. Pleno. ADI 551/RJ, rel. Min. Ilmar Galvão, j. 24.10.2002, DJ 14.02.2003).

146
Errada a letra B. O artigo 150, IV, da CF, ao vedar o efeito confiscatório dos tributos, não

faz qualquer ressalva quanto ao IGF. Igualmente, não há qualquer disposição específica
acerca do tema nos artigos 153 e seguintes da CF.

Assertiva C incorreta. O STF entende que "As custas, a taxa judiciária e os emolumentos

constituem espécie tributária, são taxas, segundo a jurisprudência iterativa do Supremo


Tribunal Federal. (...)" (STF. Pleno. ADI 1.145/PB, rel. min. Carlos Velloso, J. 3.10.2002, DJ

08.11.2002).

Incorreta a letra D. O art. 150, VI, a, da CF, veda aos entes federados "instituir impostos
sobre o patrimônio, renda ou serviços uns dos outros". Assim, a imunidade recíproca é

adstrita à instituição de impostos, não sendo vedado aos entes federados cobrar outras
espécies tributárias uns dos outros.

A assertiva E está errada. O art. 150, III, b, prevê a anterioridade geral ou anterioridade de

exercício financeiro, não havendo qualquer ressalva, no texto constitucional, acerca da sua
não aplicação às taxas em razão do poder de polícia, como há, por exemplo, com relação

aos Impostos de Importação, Exportação e sobre Produtos Industrializados (art. 150, §1º,
CF).

Questão 18

(CESPE - 2018 - DPE-PE - Defensor Público) A respeito dos princípios da anterioridade e da


irretroatividade, ambos princípios constitucionais do sistema tributário, assinale a opção correta.

A) Todos os impostos se submetem aos princípios da anterioridade e da irretroatividade, mas

as taxas, contribuições e demais espécies tributárias somente se submetem ao princípio da


irretroatividade.

B) Todos os tributos devem se submeter aos princípios da anterioridade e da irretroatividade.

C) O princípio da irretroatividade aplica-se a todo tributo; o da anterioridade, por sua vez, admite
exceções.

147
D) O princípio da irretroatividade se aplica apenas aos impostos e às taxas; o da anterioridade

se aplica a todos os tipos de tributos.

E) O princípio da irretroatividade se aplica apenas aos tributos parafiscais; o da anterioridade,


por sua vez, se aplica tanto aos tributos fiscais como aos extrafiscais.

Comentário:

Assertiva A errada. Todas as espécies tributárias se submetem aos princípios da


anterioridade e irretroatividade. As exceções são pontualmente indicadas na Constituição,

e não guardam relação com a espécie tributária.

Letra B incorreta. O erro está em uma sutileza em relação a alternativa anterior. Aqui se
afirma que todos os tributos devem se submeter aos princípios da anterioridade e

irretroatividade. Isso está errado porque há exceções para o princípio da anterioridade.


Observem que a alternativa “a" se refere às espécies tributárias, enquanto essa alternativa

“b" trata de “tributos".

A letra C está correta, posto que todos os tributos devem observar o princípio da
irretroatividade (art. 150, III, “a", CF). Mas, nem todos os tributos devem observar o princípio

da anterioridade. As exceções estão previstas no art. 150, §1º, CF.

Errada a letra D. O Art. 150, III, “a", da CF se aplica a todos os tributos, e não apenas aos
impostos e às taxas. Além disso, há impostos que são exceções ao princípio da

anterioridade.

Letra E incorreta. Os aspectos da fiscalidade, parafiscalidade e extrafiscalidade não se


relacionam com as regras de aplicação do princípio da irretroatividade e anterioridade.

Questão 19

(VUNESP - 2017 - TJ-SP - Juiz Substituto) A lei referida no parágrafo 7° do artigo 195 da
Constituição Federal que estabelece os requisitos para o reconhecimento da imunidade para a

148
seguridade social das entidades beneficentes de assistência social, segundo o julgamento do

tema 32 pelo plenário do STF, deve ter hierarquia de

A) Lei complementar de caráter nacional.

B) Lei ordinária de caráter suplementar editada pelos entes federativos.

C) Lei ordinária de caráter nacional.

D) Lei ordinária a ser editada por cada ente federativo.

Comentário:

O gabarito da questão é a letra A. O tema 32 decidido pelo plenário do STF em repercussão


geral, refere-se a Lei 8.212/91, que em seu artigo 55 disciplinou os requisitos para a isenção

das contribuições das entidades beneficentes de assistência social.

Logo, por ser uma lei ordinária, viola o artigo 146, inciso II, da CF/88, tendo em vista, que
o dispositivo em questão dispõe que cabe a Lei Complementar regular as limitações

constitucionais ao poder de tributar.

Nesse sentido, o artigo da referida lei foi declarado inconstitucional, prevalecendo o


entendimento que deve ser aplicado o artigo 14 do CTN, pois muito embora seja

formalmente constituído como lei ordinária, materialmente ostenta natureza de Lei


Complementar.

Questão 20

(VUNESP - 2017 - TJ-SP - Juiz Substituto) Assinale a alternativa correta.

A) A norma de isenção se aloca no plano da definição da competência tributária, não ocorrendo,


portanto, o fato imponível, por não existir a possibilidade de formulação da hipótese de
incidência.

149
B) As imunidades e isenções não se distinguem a partir da fonte formal da qual emanam.

C) As isenções técnicas são legitimamente reconhecidas ante a ausência de capacidade


contributiva como a concedida visando à preservação do mínimo vital ou destinada a uma
pessoa jurídica para que possa desenvolver suas atividades.

D) A imunidade política é também denominada de imunidade recíproca e veda a tributação


sobre patrimônio, renda e serviços das pessoas jurídico-políticas (União, Estados, Distrito Federal
e Municípios).

Comentário:

Letra A incorreta. A isenção configura mera dispensa legal do pagamento do tributo, com
base no exercício da competência tributária, e não no plano de sua definição, isto é, com

base em norma constitucional.

A assertiva B está incorreta. De fato, existe distinção entre a imunidade e a isenção, no que
diz respeito à fonte formal da qual emanam: a imunidade procede da CF/88, e a isenção,

da lei.

A letra C é o gabarito da questão. As isenções podem ser técnicas ou políticas. São técnicas
quando reconhecidas ante a ausência da capacidade contributiva da pessoa. São políticas

quando acabam por beneficiar pessoas que possuem capacidade contributiva, em razão
de outras finalidades.

Alternativa D incorreta. A imunidade recíproca não é política, e sim ontológica, já que

configura decorrência da forma federativa de Estado, visando proteger a autonomia


financeira dos entes federativos.

150
GABARITO

Questão 1 – A

Questão 2 - C

Questão 3 - C

Questão 4 - B

Questão 5 - C

Questão 6 - B

Questão 7 - C

Questão 8 - A

Questão 9 - A

Questão 10 - B

Questão 11 - Errado

Questão 12 - Errado

Questão 13 - B

Questão 14 - C

Questão 15 - B

Questão 16 - D

Questão 17 - A

Questão 18 - C

Questão 19 - A

Questão 20 – ALTERNATIVA

151
QUESTÃO DESAFIO

A norma que se limita a mudar o prazo para pagamento de


tributo antecipando-o se sujeita a limitação do princípio da
anterioridade do exercício financeiro?

Máximo de 300 caracteres

152
GABARITO QUESTÃO DESAFIO

De acordo com a Súmula Vinculante 50, norma legal que altera o prazo de recolhimento de

obrigação tributária, mesmo antecipando-o, não se sujeita ao princípio da anterioridade do


exercício financeiro.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 Não se sujeita ao princípio da anterioridade

O princípio da anterioridade do exercício financeiro está previsto no art.150, III, b, da


Constituição Federal e consiste na vedação a União, Estados, DF e Municípios cobrar tributos no

mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou. A
intenção desse princípio é evitar que a aplicação de normas aumente a carga tributária de forma

imediata.

O Supremo Tribunal Federal entendeu que a norma que se restringe a mudar o prazo para
pagamento de tributo, mesmo antecipando-o, não agrava a situação do contribuinte e por isso

não deve obedecer o referido princípio (STF, 1.ª T., RE-AgR 274.949/SC, Rel. Min. Sydney Sanches,
j. 13.11.2001, DJ 01.02.2002.).

 Súmula Vinculante 50

A antiga Súmula 669 do STF se tornou a Súmula Vinculante 50 e afirma que a norma que altera
o prazo de recolhimento de obrigação tributária não se sujeita ao princípio da anterioridade.

O autor Ricardo Alexandre comenta (ALEXANDRE, Ricardo. Direito Tributário. 12. ed. Salvador:

Juspodivm, 2018. p. 167-167.): “Digna de destaque, portanto, a ampla facilidade de que desfruta
o Estado para alterar o prazo de pagamento dos tributos, além de poder fazê-lo por ato

infralegal (não se sujeita à legalidade), não precisa obedecer a qualquer prazo para que a
cobrança seja feita na nova data fixada (não se submete à anterioridade do exercício e à
noventena). ”

153
LEGISLAÇÃO COMPILADA

FONTES FORMAIS DO DIREITO TRIBUTÁRIO

 Código Tributário Nacional: art. 97


 Constituição Federal: art. 150, I

LEGALIDADE TRIBUTÁRIA

 Código Tributário Nacional: art. 97


 Constituição Federal: art. 150, I

LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA

 Código Tributário Nacional: art. 96 a 112

LEI COMPLEMENTAR

 Constituição Federal: art. 146, 148, 153, inciso VII,154, 155, § 1º, III, 155, § 2º, XII, 156, III, 156,
§ 3º, incisos I a III, 195, § 4º

LEI DELEGADA

 Constituição Federal: art. 68

MEDIDA PROVISÓRIA E MATÉRIA DE DIREITO TRIBUTÁRIO

 Constituição Federal: art. 62, arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II

RESOLUÇÕES

 Constituição Federal: art. 155, § 1º, IV, art. 155, § 2º, IV, art. 155, § 2º, V

TRATADOS E CONVENÇÕES INTERNACIONAIS

 Código Tributário Nacional: art. 98


 Constituição Federal: art. 5º, §§2º e 3º, 84, VII, 49, I, 59, VI,

154
NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO: A LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA

 Código Tributário Nacional: art. 96, 97

VIGÊNCIA DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA

 Código Tributário Nacional: art. 101, 102, 103, I, II, III, 104

APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA

 Código Tributário Nacional: art. 116

INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA

 Código Tributário Nacional: art. 108, 110, 111

FONTES FORMAIS SECUNDÁRIAS

 Código Tributário Nacional: art. 100

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE TRIBUTÁRIA

 Constituição Federal: art. 150


 Código Tributário Nacional: art. 97.

PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE TRIBUTÁRIA (ANUAL E NONAGESIMAL).

 Constituição Federal: art. 150, III, alíneas b e c, art. 150, § 1º, art. 148, I, art. 153, I, II, III, IV,
V, 154, II, 155, III, 156, I, 155, § 4º, IV, c, 195, § 6º, 195, I a IV, art. 177, § 4º, I, b

PRINCÍPIO DA ISONOMIA

 Constituição Federal: art. 150, I, II, 170, III, e 182, § 4º, II, 146, III, c, c/c o art. 174, § 2º, 146,
III, d, 195, § 9º.

PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE TRIBUTÁRIA

 Constituição Federal: art. 150, III, a

PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO CONFISCO

155
 Constituição Federal: art. 150, IV.

PRINCÍPIO DA NÃO LIMITAÇÃO AO TRÁFEGO DE PESSOAS E RESSALVA DO

PEDÁGIO (PRINCÍPIO DA LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO)

 Constituição Federal: art. 150, V.

IMUNIDADE

 Constituição Federal: art. 5º, XXXIV, art. 150, art. 149, art. 195

IMUNIDADE RECÍPROCA

 Constituição Federal: art. 150, VI, a.

IMUNIDADE DOS TEMPLOS RELIGIOSOS

 Constituição Federal: art. 150, VI, b

IMUNIDADE DOS PARTIDOS, SINDICATOS, ENTIDADES EDUCACIONAIS E

ASSISTENCIAIS

 Código Tributário Nacional: art. 14 do CTN


 Súmula: 730
 Súmula Vinculante: 52

IMUNIDADE DE IMPRENSA

 Constituição Federal: art. 150, inciso VI, alínea d


 Súmula: 657, STF

IMUNIDADE DOS FONOGRAMAS

 Constituição Federal: art. 150, inciso VI, alínea e

ISENÇÃO

 Código Tributário Nacional: art. 175, parágrafo único e arts. 176, 177, 178, 179
 Constituição Federal: art. 151, III
 Súmula: 544, STF

156
Quanto aos assuntos tratados neste capítulo, é indispensável que você dedique especial atenção para a

os dispositivos legais que tratam temas, sendo os dispositivos mais recorrentes e importantes ao
entendimento da matéria compilados acima. Em especial, considerando a recorrência em concursos
públicos, o art. 150 da Carta Maior merece atenta leitura, posto que suas disposições são muito bem
quistas por bancas examinadoras.

157
JURISPRUDÊNCIA

PRINCÍPIOS

 [ADI 2.304, rel. min. Dias Toffoli, j. 12-4-2018, P, DJE de 3-5-2018.]


O grau de indeterminação com que operou a Lei estadual 11.453/2000, ao meramente autorizar o
Poder Executivo a conceder o parcelamento, provocou a degradação da reserva legal, consagrada pelo
art. 150, I, da CF. Isso porque a remessa ao ato infralegal não pode resultar em desapoderamento do
legislador no trato de elementos essenciais da obrigação tributária. Para o respeito do princípio da
legalidade, seria essencial que a lei (em sentido estrito), além de prescrever o tributo a que se aplica
(IPVA) e a categoria de contribuintes afetados pela medida legislativa (inadimplentes), também definisse
o prazo de duração da medida, com indicação do número de prestações, com seus vencimentos, e as
garantias que o contribuinte deva oferecer, conforme determina o art. 153 do CTN.

Comentário:

Em respeito ao princípio do paralelismo das formas, nos pontos em que a Constituição exige lei para a instituição
ou para a majoração de tributos, também a exige, implicitamente, para a respectiva extinção.

O julgamento da ADI 2.304, sob a relatoria do min. Dias Toffoli, que reforçou o posicionamento da Corte no sentido
de que sobre delegação legislativa, há um movimento pela flexibilização do Princípio da Legalidade, mas que
preserva o entendimento de que “o legislador deve estabelecer um desenho mínimo que evite o arbítrio”.

 [RE 592.145, rel. p/ o ac. min. Marco Aurélio, j. 5-4-2017, P, DJE de 1º-2-2018, Tema 80].
Com efeito, a própria parte final do art. 151, I, da CRFB/88 excepciona ao princípio da uniformidade
da tributação os incentivos fiscais destinados à promoção do desenvolvimento sócio-econômico das
diferentes regiões. Nesse aspecto, deve-se interpretar o referido dispositivo como um reconhecimento
de que existem áreas geográficas no país que se distinguem entre si em termos econômicos e sociais,
o que, à luz do postulado da Isonomia, impõe um tratamento diferenciado por parte da legislação,
com vistas à redução dessas desigualdades. Esse mandamento, ademais, não se restringe à
diferenciação entre as “regiões” propriamente ditas, de modo a permitir apenas distinções entre
Estados integrantes das regiões Norte, Sul, Nordeste, Sudeste e Centro oeste. Na verdade, quando a
Constituição se refere a “regiões” está também autorizando o tratamento diferenciado entre Estados

158
que, embora integrem a mesma região, possuem peculiaridades geográficas, sociais e/ou econômicas,
que impedem a sua comparação.

Comentário:

No julgamento do RE 592145/SP, o Ministro Edson Fachin, fundamentando seu voto no ensinamento do professor
Luís Eduardo Schoueri, destacou que, ante a norma do art. 151, inciso I da CF, a relativização da uniformidade do
tratamento tributário é fenômeno que se justifica em face da necessidade, do desejo do constituinte pela redução
das desigualdades regionais e aquelas finalidades que serviram de lastro da construção da Constituição Cidadã
de 1988: a justiça social e dignidade humana.

IMUNIDADE

 (RE 897104 AgR, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 27/10/2017,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-283 DIVULG 07-12-2017 PUBLIC 11-12-2017)
As empresas públicas e sociedades de economia mista delegatárias de serviços públicos de prestação
obrigatória e exclusiva do Estado são beneficiárias da imunidade tributária recíproca prevista no art.
150, VI, a, da Constituição Federal. (...) A exigência de contraprestação pelos serviços públicos prestados,
mediante o pagamento de tarifas, não constitui óbice à incidência da imunidade recíproca sobre
determinada sociedade de economia mista.

 (ACO 2149 AgR, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 29/09/2017, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-238 DIVULG 18-10-2017 PUBLIC 19-10-2017).
A imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, ‘a’, da CRFB/88) é extensível às empresas públicas e às
sociedades de economia mista prestadoras de serviços públicos, notadamente quando prestados com
cunho essencial e exclusivo. (...) In casu, trata-se de sociedade de economia mista que executa serviço
público de modo exclusivo, com capital social fechado e quase que integralmente titularizado pelo
Estado do Ceará (99,9996%), sem indicação de qualquer risco de quebra do equilíbrio concorrencial
ou de livre-iniciativa, mercê da ausência de comprovação de que a COGERH concorra com outras
entidades no campo de sua atuação.

Comentário:

A Corte Máxima tem estendido o benefício da imunidade tributária às empresas públicas e sociedades de
economia mista em caso específico, qual seja, a prestação de serviço público (obrigatório e exclusivo do Estado).

159
Segundo o STF, a imunidade recíproca se estende à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (mesmo no que
concerne às atividades exercidas fora do âmbito do serviço postal e do correio aéreo nacional), por se tratar de
empresa pública prestadora de serviço público de prestação obrigatória e exclusiva do Estado

160
MAPA MENTAL

161
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALEXANDRE, Ricardo. Direito Tributário. 11. ed. rev., atual. e ampl. Salvador: Juspodvm, 2017.

AMARO, Luciano. Direito Tributário. Brasileiro. 20ª ed. São Paulo: Saraiva, 2014.

HARADA, Kiyoshi. Direito financeiro e tributário. 26. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2017.

JUCÁ, Francisco Pedro. Fundamentos Da Obrigação Tributária: Algumas Reflexões. Lex Magister.

Disponível em:
<http://lex.com.br/doutrina_26929822_FUNDAMENTOS_DA_OBRIGACAO_TRIBUTARIA_ALGUMAS_REFLEX
OES.aspx#:~:text=%22No%20exerc%C3%ADcio%20de%20sua%20soberania,ou%20uma%20parcela%20d
esta.%22.&text=Justifica%2Dse%20o%20poder%20de,se%20adote%20do%20pr%C3%B3prio%20Estado.
>. Acesso em: 08 de outubro de 2020.

MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 13. ed., São Paulo: Malheiros, 1998.

PAULSEN, Leandro. Curso de Direito Tributário. 6ª ed. Porto Alegre: Livraria do advogado editora, 2014.

SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito Tributário. 8ª ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.

SEGUNDO, Hugo de Brito Machado. Código Tributário Nacional: anotações à Constituição, ao Código
Tributário Nacional e às Leis Complementares 87/1996 e 116/2003. 6ª ed. rev., atual. e ampl. São Paulo:
Atlas, 2017.

TORRES, Ricardo Lobo. Curso de direito financeiro e tributário. Imprenta: Rio de Janeiro, 2006.

162

Você também pode gostar