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CERS TRIBUNAIS

BOOK

TRIBUNAIS

DIREITO
ADMINISTRATIVO
CAPÍTULO 14
Recado para você que está assistindo às videoaulas

Prezado aluno, a princípio, estamos trazendo algumas informações relevantes para você
que está assistindo às nossas videoaulas e complementará os estudos através do conteúdo do
nosso CERS Book. Portanto, você deve estar atento que:

O CERS book foi desenvolvido para complementar a aula do professor e te dar um suporte
nas revisões!

Um mesmo capítulo pode servir para mais de uma aula, contendo dois ou mais temas,
razão pela qual pode ser eventualmente repetido;

A ordem dos capítulos não necessariamente é igual à das aulas, então não estranhe se o
capítulo 03 vier na aula 01, por exemplo. Isto acontece porque a metodologia do CERS é baseada
no estudo dos principais temas mais recorrentes na sua prova de concurso público, por isso,
nem todos os assuntos apresentados seguem a ordem natural, seja doutrinária ou legislativa;

Esperamos que goste do conteúdo!

1
CAPÍTULOS
Capítulo 1 – Conceitos Iniciais de Direito Administrativo 
Capítulo 2 – Introdução ao Direito Administrativo 
Capítulo 3 – Regime Jurídico-Administrativo 

Capítulo 4 – Administração Pública 


Capítulo 5 – Organização Administrativa 
Capítulo 6 – Entidades Paraestatais, Convênios, Consórcios e Parcerias
com o Terceiro Setor. Disposições Doutrinárias Aplicáveis E Lei N° 
13.019/2014
Capítulo 7 – Atos Administrativos 

Capítulo 8 – Processo Administrativo. Lei nº 9.784/1999 e Disposições



Doutrinárias Aplicáveis

Capítulo 9 – Poderes e Deveres da Administração Pública 

Capítulo 10 – Serviços Públicos. Disposições Doutrinárias Aplicáveis e



Lei N° 13.460/2017
Capítulo 11 – Direito Regulatório. Regime Jurídico das Concessões e
Permissões do Serviço Público. Lei n° 8.987/1995 e Disposições 
Doutrinárias Aplicáveis

Capítulo 12 – Restrições e Intervenção do Estado na Propriedade



Privada
Capítulo 13 – Controle da Administração Pública 

Capítulo 14 (você está aqui) – Improbidade Administrativa. Lei



n° 8.429/1992 e Disposições Doutrinárias Aplicáveis
Capítulo 15 – Agentes Públicos 
Capítulo 16 – Bens Públicos 
Capítulo 17 – Responsabilidade Civil do Estado 
Capítulo 18 – Licitações (Inclusive Pregão), Rdc e Contratos
Administrativos. Lei n° 8.666/1993, Lei n° 10.520/2002, Lei nº

12.462/2011, Lei nº 11.079/2004 e Disposições Doutrinárias
Aplicáveis
2
Capítulo 19 – Intervenção Do Estado No Domínio Econômico E Social 
Capítulo 20 – Lei Complementar nº 35, de 14 de março de 1979 (Lei

Orgânica da Magistratura Nacional – LOMAN)
Capítulo 21 – Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF (Lei Complementar

n.º 101/00)
Capítulo 22 – Lei de Acesso à Informação - Lei Federal n.º 12.527/11 
Capítulo 23 – Lei Anticorrupção - Lei Federal n.º 12.846/13 
Capítulo 24 – Lei 13.303/16 – Estatuto Jurídico da Empresa Pública,
da Sociedade de Economia Mista e de suas Subsidiárias, no Âmbito 
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios

3
SOBRE ESTE CAPÍTULO

Neste capítulo, estudaremos acerca da Improbidade Administrativa, prevista pela

Constituição Federal, bem como por legislação específica, qual seja, a Lei nº 8.429/92, que é
cobrada em sua literalidade e cuja leitura exige atenção e compreensão por parte do candidato

que visa a aprovação em Carreiras Jurídicas.

Conforme analisaremos adiante, os agentes públicos podem praticar, no exercício das

funções, condutas que ensejam à aplicação de sanções em diversas esferas. Além das
repercussões civil, penal e administrativa, é possível a responsabilização do agente público em
decorrência da aplicação da Lei de Improbidade Administrativa (LIA) – Lei n. 8.429/92. É sobre

essa última hipótese de responsabilização que trataremos ao longo deste capítulo.

Assim, a Lei nº 8.429/92 prevê quem são os agentes que podem ser alvo de ação de

improbidade, quais circunstâncias, condições, classificações e sanções das condutas. Além disso,
explicita o procedimento que deve ser adotado diante de atos de improbidades. Por ser a

legislação específica sobre a matéria, seus dispositivos são bastante cobrados nas provas de
concurso público, principalmente os artigos 9º, 10, 10-A, 11 e 12. Além disso, recomendamos

atenção redobrada para a leitura das recentes modificações introduzidas pelo Pacote Anticrime
(Lei 13.964/2019).

Pontuamos também que este assunto é extremamente recorrente nas provas objetivas de

Carreiras Jurídicas, que dão maior enfoque à literalidade da lei e aos entendimentos e
jurisprudência dos Tribunais Superiores.

Ao final, colacionamos diversas questões e julgados sobre o tema. Vamos juntos!

4
SUMÁRIO

DIREITO ADMINISTRATIVO ................................................................................................................... 7

Capítulo 14 ................................................................................................................................................ 7

14. Improbidade administrativa. Lei n° 8.429/1992 e disposições doutrinárias aplicáveis .... 7

14.1 Introdução ................................................................................................................................................................ 7

14.2 Sujeito Ativo ............................................................................................................................................................ 9

14.2.1 Responsabilização dos agentes políticos ................................................................................................ 11

14.3 Sujeito Passivo ..................................................................................................................................................... 13

14.4 Espécie de atos de Improbidade ................................................................................................................ 14

14.4.1 Atos que importam enriquecimento ilícito ............................................................................................. 14

14.4.2 Atos que causam prejuízo ao erário ......................................................................................................... 16

14.4.3 Atos que atentam contra os princípios da administração pública .............................................. 17

14.4.4 Atos decorrentes de concessão ou aplicação indevida de benefício financeiro ou


tributário ............................................................................................................................................................................. 19

14.5 Independência das instâncias ....................................................................................................................... 20

14.6 Declaração de bens ........................................................................................................................................... 22

14.7 Medidas Cautelares ........................................................................................................................................... 22

14.8 Processo Judicial ................................................................................................................................................. 26

14.9 Aplicação das penalidades ............................................................................................................................. 30

14.10 Prescrição............................................................................................................................................................... 32

14.11 Jurisprudência em Teses ................................................................................................................................. 35

QUADRO SINÓTICO .............................................................................................................................. 41

QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 46

GABARITO ............................................................................................................................................... 64

QUESTÃO DESAFIO ................................................................................................................................ 65

GABARITO QUESTÃO DESAFIO ........................................................................................................... 66

LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................... 70

5
JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 72

MAPA MENTAL ...................................................................................................................................... 94

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 95

6
DIREITO ADMINISTRATIVO

Capítulo 14

Neste capítulo, estudaremos acerca da Improbidade Administrativa, prevista pela


Constituição Federal, bem como por legislação específica, qual seja, a Lei nº 8.429/92, que é

cobrada em sua literalidade e cuja leitura exige atenção e compreensão por parte do candidato
que visa a aprovação em Carreiras Jurídicas.

Por ser a legislação específica sobre a matéria, os dispositivos da Lei nº 8.429/92 são

bastante cobrados nas provas de concurso público, principalmente os artigos 9º, 10, 10-A, 11 e
12. Além disso, recomendamos atenção redobrada para a leitura das recentes modificações

introduzidas pelo Pacote Anticrime (Lei 13.964/2019).

14. Improbidade administrativa. Lei n° 8.429/1992 e


disposições doutrinárias aplicáveis

14.1 Introdução

Os agentes públicos podem praticar, no exercício das funções, condutas que ensejam
à aplicação de sanções em diversas esferas. Além das repercussões civil, penal e administrativa,
é possível a responsabilização do agente público em decorrência da aplicação da Lei de
Improbidade Administrativa (LIA) – Lei n. 8.429/92.

O dever de punição dos atos de improbidade administrativa tem fundamento


constitucional no art. 37, § 4º, da CRFB/88 sendo uma imposição do princípio da moralidade,
probidade e, também, da legalidade. Este dispositivo legal menciona um rol exemplificativo de
punições ao agente improbo: suspensão dos direitos políticos, perda da função pública,
indisponibilidade dos bens e ressarcimento ao erário, sem prejuízo da ação penal cabível.

7
Porém, destaca-se que o STJ vem sustentando que a LIA não deve ser aplicada para
punir meras irregularidades administrativas, erros toleráveis ou transgressões disciplinares (Resp
1.245.622).

Vale ressaltar, ainda, que a apuração do ato de improbidade independe do resultado


nos processos civil, penal e administrativo. Isso porque, em regra, as diferentes instâncias
punitivas são independentes entre si, de modo que o resultado em uma independe das
demais.

Importa mencionar a Lei de Improbidade Administrativa tem natureza jurídica de lei


nacional, e aplica-se em todo âmbito federativo.

Segundo o STF, o fato de a LIA ter ampliado o rol de sanções mínimas originariamente previstas
na Constituição Federal não representa inconstitucionalidade (AgRg no RE 598588).

A Carta Magna estabelece dois principais mecanismos processuais para defesa do


princípio da moralidade. São eles:

 Ação popular: art. 5º, LXXIII; e


 Ação de improbidade administrativa: art. 37, § 4º

Ressalte-se que moralidade e probidade não são expressões sinônimas, uma vez que
nem todos os atos que violam o dever de moralidade são necessariamente atos de improbidade.
A improbidade é uma violação qualificada da moralidade, reprimida, normalmente, com mais
rigor pelo ordenamento jurídico brasileiro.

As principais diferenças entre a ação popular e a ação de improbidade estão na


legitimidade ativa e nos pedidos que podem ser formulados.

8
Quanto à legitimidade, a ação popular só pode ser proposta pelo cidadão – pessoa
física em pleno gozo dos direitos políticos - e a sentença promove essencialmente a anulação
do ato lesivo à moralidade, assim como a condenação do réu ao pagamento de perdas e danos.

Já a ação de improbidade administrativa só pode ser intentada pelo Ministério


Público ou pela pessoa jurídica interessada e pode ter como possíveis resultados: (i) perda
dos bens ou valores acrescidos ilicitamente; (ii) ressarcimento integral do dano; (iii) perda da
função pública; (iv) suspensão dos direitos políticos; (v) multa civil; (vii) proibição de contratar
com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios.

No que tange ao objeto, enquanto a ação popular visa a anulação do ATO violador
da moralidade, a ação de improbidade visa a RESPONSABILIZAÇÃO do agente que praticou o
ato violador.

No julgamento do Resp 1.129.121, o STJ entendeu que a LIA não pode ser aplicada para punir
condutas anteriores à sua vigência, ainda que ocorridas após a edição da Constituição Federal
de 1988.

14.2 Sujeito Ativo

Conforme o art. 1º da Lei nº 8.429/92, a Lei de Improbidade Administrativa é aplicável


aos atos praticados por qualquer agente público, servidor ou não, contra a administração direta,
indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para
cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de 50% do patrimônio
ou da receita anual.

A lei ainda estende as penalidades aos atos praticados contra o patrimônio de


entidade que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público,

9
bem como daquela cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com menos
de 50% do patrimônio ou da receita anual, limitando-se, nesses casos, a sanção patrimonial
à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos.

O conceito de agente público, para efeitos de penalização da LIA, foi legalmente


previsto como sendo todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração,
por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou
vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior.

Ademais, é muito importante destacar que as disposições dessa lei são aplicáveis, no
que couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática
do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta. Ou seja,
os particulares que se enquadrem nessas situações podem ser responsabilizados, juntamente
com o agente público, nos moldes da lei de improbidade. É aceito que o “terceiro” que pratica
o ato de improbidade possa ser pessoa jurídica.

Podem ser punidos também pela Lei de Improbidade os sucessores de quem praticou
a conduta. É que o artigo 8º da LIA prevê que o sucessor daquele que causar lesão ao patrimônio
público ou se enriquecer ilicitamente está sujeito às cominações desta lei até o limite do valor
da herança.

Segundo o STJ, não comete ato de improbidade o médico que cobra honorários por
procedimento realizado em hospital privado que também seja conveniado à rede pública de
saúde, quando o atendimento não for custeado pelo próprio sistema de saúde público.

Segundo a jurisprudência consolidada do STJ, os particulares não podem responder sozinhos


às ações com base na Lei de Improbidade Administrativa (LIA)1, sem que também figure como
réu na ação um agente público responsável pela prática do ato considerado ímprobo.

1
Vide questão 14
10
Ademais, cumpre salientar que, segundo entendimento do STJ, não há litisconsórcio
passivo necessário entre o agente público e os terceiros beneficiados com o ato ímprobo (STJ,
AgRg no REsp 1421144/PB, julgado em 26/05/2015). Entretanto, se houver litisconsórcio, o
magistrado não é obrigado a decidir de modo uniforme a demanda.

No que tange à tentativa, o STJ considerou que é punível a tentativa de improbidade


nos casos em que as condutas não se realizam por motivos alheios à vontade do agente, com
fundamento na ocorrência de ofensa aos princípios da Administração Pública (Resp 1.014.161).

14.2.1 Responsabilização dos agentes políticos

Há controvérsia sobre a possibilidade de responsabilização dos agentes políticos


baseada na Lei de Improbidade Administrativa.

O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da Reclamação Constitucional nº 2.138,


de 13/06/2007, passou a entender que a Lei de Improbidade não se aplica aos agentes políticos
quando a mesma conduta já for punida pela Lei dos Crimes de Responsabilidade – Lei nº
1.079/50.

A preocupação do Supremo Tribunal Federal foi evitar o bis in idem ou a dupla


punição – que é vedado no nosso ordenamento jurídico. Considerando que a lei dos crimes de
responsabilidade é uma lei especial, esta deve ser priorizada em relação à aplicação da LIA
quando a conduta estiver tipificada nas duas leis.

Porém, no entendimento do STF, para que a LIA seja afastada deve haver, de forma
simultânea, dois requisitos: (i) o agente político deve estar expressamente incluído entre os
puníveis pela Lei n. 1.079/50; e (ii) a conduta precisa estar tipificada na Lei n. 1.079/50 e na Lei
n. 8.429/92.

Os arts. 2º e 74 da Lei n. 1.079/50 esclarecem quais agentes políticos estão sujeitos


à prática de crimes de responsabilidade. São eles:

a) Presidente da República;

b) Ministro de Estado;

c) Procurador-Geral da República;

11
d) Ministro do Supremo Tribunal Federal;

e) Governador;

f) Secretário de Estado.

O prefeito2, todavia, em que pese seja agente político, pode ser condenado tanto
pelo crime de responsabilidade quanto por improbidade administrativa. Veja a tese3 fixada em
sede de repercussão geral pelo Supremo Tribunal Federal, em 2019: “O processo e julgamento
de prefeito municipal por crime de responsabilidade (Decreto-lei 201/67) não impede sua
responsabilização por atos de improbidade administrativa previstos na Lei nº 8.429/92, em
virtude da autonomia das instâncias”.

Ainda sobre a submissão dos cargos políticos à Lei de improbidade administrativa,


vale conhecer o importante julgado4 que se segue, muito importante para provas de concurso
público, e que pode constar na sua prova para juiz federal. Observe os comentários feitos pelo
Blog Dizer o Direito: “A nomeação do cônjuge de prefeito para o cargo de Secretário Municipal,
por se tratar de cargo público de natureza política, por si só, não caracteriza ato de improbidade
administrativa. STF. 2ª Turma. Rcl 22339 AgR/SP, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 4/9/2018 (Info 914). Em regra, a proibição da SV 13 não se aplica para
cargos públicos de natureza política, como, por exemplo, Secretário Municipal. Assim, a
jurisprudência do STF, em regra, tem excepcionado a regra sumulada e garantido a permanência
de parentes de autoridades públicas em cargos políticos, sob o fundamento de que tal prática
não configura nepotismo. Exceção: poderá ficar caracterizado o nepotismo mesmo em se
tratando de cargo político caso fique demonstrada a inequívoca falta de razoabilidade na
nomeação por manifesta ausência de qualificação técnica ou inidoneidade moral do nomeado”.

Porém, o Superior Tribunal de Justiça tem adotado posicionamento diferente. No


julgamento da Reclamação 2.790/09, o STJ decidiu que “excetuada a hipótese de atos de
improbidade praticados pelo Presidente da República, cujo julgamento se dá em regime especial
pelo Senado Federal, não há norma constitucional alguma que imunize os agentes políticos,
sujeitos a crime de responsabilidade, de qualquer sanção por ato de improbidade”.

2
Vide Questão 3 e 5
3
STF. Plenário. RE 976566, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 13/09/2019 (repercussão geral – Tema 576).
4
STF. 1ª Turma. Rcl 28024 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 29/05/2018.
12
Dessa forma, para o STJ, os agentes políticos estão submetidos integralmente à LIA,
com exceção do Presidente da República.

14.3 Sujeito Passivo

O sujeito passivo é a entidade que sofre as consequências do ato de improbidade


administrativa. Conforme o disposto no art. 1º da Lei n. 8.429/92, as vítimas da improbidade
são5:

1) Administração pública direta: composta pelas pessoas federativas, a saber,


União, Estados, Distrito Federal, Municípios e Territórios;
2) Administração pública indireta: são autarquias, fundações públicas,
associações públicas, empresas públicas, sociedades de economia mista e
fundações governamentais;
3) Empresas incorporadas ao patrimônio público ou de entidade cuja criação ou
custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de 50% do patrimônio
ou da receita anual: com essa referência, o legislador quis reforçar a inclusão,
no rol dos sujeitos passivos dos atos de improbidade, das chamadas empresas
governamentais, ou seja, empresas públicas e sociedades de economia mista;
4) Entidades que recebam subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício,
provenientes de órgãos públicos: as pessoas jurídicas privadas, não
pertencentes ao Estado, também podem figurar como sujeito passivo de ato
de improbidade administrativa desde que recebam algum tipo de vantagem
concedida pelo Poder Público, tais como: subvenções, benefícios, incentivos
fiscais ou incentivos creditícios (é o caso das entidades que compõem o
terceiro setor: OS, OSCIP, OSC, por exemplo);
5) Entidades cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com
menos de 50% do patrimônio ou da receita anual: o ato de improbidade
também pode ser praticado contra as denominadas empresas privadas com
participação estatal, isto é, aquelas em que o Estado detenha percentual
minoritário na composição do capital votante6.

5
Vide questão 13
6
Vide Questão 1
13
Segundo doutrina de José dos Santos Carvalho Filho, os empregados e dirigentes de
concessionários e permissionários de serviços públicos não se sujeitam à lei de improbidade
administrativa, pois não recebem subvenção e incentivos creditícios, em regra, pois celebram
contrato administrativo com o Estado, mas a remuneração advém das tarifas pagas pelos
usuários do serviço.

O sujeito passivo do ato de improbidade será sujeito ativo da ação de Improbidade. A


legitimidade ativa para propositura da ação de improbidade administrativa é entre as entidades
acima mencionadas e o Ministério Público.

14.4 Espécie de atos de Improbidade

A Lei n. 8.429/92, em seus arts. 9º a 11, define um rol exemplificativo das condutas
que caracterizam improbidade administrativa, dividindo-as em quatro grupos distintos:

14.4.1 Atos que importam enriquecimento ilícito

Os atos de improbidade que importam enriquecimento ilícito estão previstos no art.


9º da LIA, que apresenta um rol exemplificativo. São consideradas as condutas mais graves em
que o agente público aufere dolosamente uma vantagem patrimonial indevida em razão do
exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade pública.

 Sanções:

Conforme dito anteriormente, as sanções previstas na LIA independem das sanções


penais, civis e administrativas previstas na legislação específica.

14
O sujeito ativo do ato de improbidade que importa enriquecimento ilícito está sujeito
às seguintes cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com
a gravidade do fato (art. 12, I, da LIA):

a) perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio;

b) ressarcimento integral do dano, quando houver (ainda que não haja dano ao erário,
é possível a condenação por ato de improbidade administrativa que importe
enriquecimento ilícito (art. 9º da Lei nº 8.429/92), excluindo-se, contudo, a
possibilidade de aplicação da pena de ressarcimento ao erário.7)

c) perda da função pública;

d) suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos;

e) pagamento de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial; e

f) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos


fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da
qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos.

Ainda que não haja dano ao erário, é possível a condenação por ato de improbidade
administrativa que importe enriquecimento ilícito (art. 9º da Lei nº 8.429/92), excluindo-se,
contudo, a possibilidade de aplicação da pena de ressarcimento ao erário (STJ. 1ª Turma. REsp
1.412.214-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Benedito Gonçalves,
julgado em 8/3/2016 (Info 580).

7
STJ. 1ª Turma. REsp 1412214-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Benedito
Gonçalves, julgado em 8/3/2016 (Info 580).
15
14.4.2 Atos que causam prejuízo ao erário

Os atos de improbidade que causam prejuízo ao erário estão exemplificativamente


indicados no art. 10 da LIA, e envolvem condutas de gravidade intermediária.

São os casos em que o agente público causa lesão ao erário por meio de ação ou
omissão, dolosa ou culposa8, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades públicas mencionadas na
Lei.

Segundo o Superior Tribunal de justiça, para a caracterização desse tipo de ato de


improbidade, exige-se a comprovação efetiva de dano (Resp 1.127.143), diante da
impossibilidade de condenação ao ressarcimento por dano hipotético ou presumido (Resp
1.038.777). Observe o didático julgado9 do STJ, que admite uma única exceção à regra geral:
“Em regra, para a configuração dos atos de improbidade administrativa previstos no art. 10 da
Lei nº 8.429/92 exige-se a presença do efetivo dano ao erário. Exceção: no caso da conduta
descrita no inciso VIII do art. 10, VIII não se exige a presença do efetivo dano ao erário. Isso
porque, neste caso, o dano é presumido (dano in re ipsa). Art. 10 (...) VIII - frustrar a licitude
de processo licitatório ou de processo seletivo para celebração de parcerias com entidades sem
fins lucrativos, ou dispensá-los indevidamente.

 Sanções:

As sanções previstas para esta espécie estão previstas no art. 12, II, da LIA e, também
podem ser aplicadas de forma cumulativa ou isolada:

a) ressarcimento integral do dano (para o STJ, os atos que importam lesão ao erário
necessitam do efetivo dano – prejuízo econômico no sentido financeiro – para que
se configurem);

b) perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta


circunstância;

c) perda da função pública;

8
Vide Questão 2
9
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1542025/MG, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 05/06/2018.
16
d) suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos;

e) pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano; e

f) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos


fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa
jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos.

14.4.3 Atos que atentam contra os princípios da administração


pública10

Os atos de improbidade que atentam contra princípios administrativos - descritos no


art. 11 da LIA - envolvem as condutas de menor gravidade. Para configuração de tal espécie
de atos, exige-se a atuação dolosa11 – ainda que o dolo seja genérico - do sujeito ativo.

 Sanções:

Independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas na legislação


específica, está o responsável pelo ato de improbidade que atenta contra os princípios da
administração pública sujeito às seguintes cominações, que podem ser aplicadas isoladas ou
cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato (art. 12, III, da LIA):
a) ressarcimento integral do dano, se houver (para a configuração do ato de
improbidade decorrente de lesão a princípios administrativos, não se exige a
existência de dano ou prejuízo material);
b) perda da função pública;
c) suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos;
d) pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida
pelo agente; e
e) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos
fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa
jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos.

10
Vide questão 12
11
Vide Questão 4
17
O rol do art. 11 é exemplificativo. Neste sentido, existem outros atos que são violadores dos
princípios da administração pública. A título de exemplo, cita-se o entendimento do STJ no
sentido de que a tortura de preso custodiado em delegacia praticada por policial constitui ato
de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública (STJ,
Resp 1.177.910/SE, julgado em 26/08/2015 (Info 577).

Sobre o tema em análise, veja essa decisão12 relevantíssima do Superior Tribunal de


Justiça: “No caso de condenação pela prática de ato de improbidade administrativa que atenta
contra os princípios da administração pública, as penalidades de suspensão dos direitos políticos
e de proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou
creditícios não podem ser fixadas abaixo de 3 anos, considerando que este é o mínimo previsto
no art. 12, III, da Lei nº 8.429/92. Não existe autorização na lei para estipular sanções abaixo
desse patamar.”

Segundo entendimento do STJ, para atos de improbidade administrativa que atentem contra os
princípios da administração pública é necessária a presença do dolo genérico, não se exigindo
dolo específico, nem prova de prejuízo ao erário ou de enriquecimento ilícito do agente.

12
STJ. 2ª Turma. REsp 1582014-CE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 7/4/2016 (Info 581).
18
14.4.4 Atos decorrentes de concessão ou aplicação indevida de
benefício financeiro ou tributário

Os atos de improbidade decorrentes de concessão ou aplicação indevida de benefício


financeiro ou tributário foi uma inovação trazida pela Lei Complementar nº 157/2016, que tipifica
qualquer ação ou omissão visando conceder, aplicar ou manter benefício financeiro ou
tributário que reduza a alíquota do Imposto sobre Serviços (ISS) para patamar inferior a 2%
(dois por cento), nos termos do art. 8º-A da Lei Complementar n. 157/2016, inclusive sobre o
serviço proveniente ou cuja prestação se tenha iniciado no exterior do País.

Importante destacar que, como o novo dispositivo não menciona a variação culposa,
apenas admite-se a modalidade dolosa.

 Sanções:

Apenas as condutas praticadas após tal data limite para os Municípios revogarem
benefícios financeiros ou fiscais que desatendam à alíquota mínima de 2% do ISS, qual seja:
01/06/2018, são puníveis nos termos do artigo 10-A da Lei n. 8.429/92, sujeitando o agente às
penas de:
a) perda da função pública;
b) suspensão dos direitos políticos de 5 a 8 anos;
c) e multa civil de até 3 vezes o valor do benefício financeiro ou tributário
concedido (art. 12, IV, da Lei n. 8.429/92).

É importante que você leia com atenção todas as hipóteses legais, pois, apesar de não termos
trazido para seu material pode serem leitura integral de dispositivo legal, elas costumam cair
em prova!

19
Há mais uma novidade legislativa! A Lei nº 13.650/2018, que acrescenta um inciso
ao art. 11 da Lei nº 8.429/92, prevendo nova hipótese de ato de improbidade que atenta contra
os princípios da administração pública.
A Lei nº 13.650/2018 inseriu um inciso no art. 11 da Lei nº 8.429/92 afirmando que a
prática de transferir recursos para instituições privadas de saúde sem prévio contrato ou
convênio é ato de improbidade administrativa. Confira:

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os


princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os
deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às
instituições, e notadamente:
(...)
X - transferir recurso a entidade privada, em razão da prestação de serviços
na área de saúde sem a prévia celebração de contrato, convênio ou
instrumento congênere, nos termos do parágrafo único do art. 24 da Lei
nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. (inciso X inserido pela Lei nº
13.650/2018)

Assim, mesmo sem previsão expressa, essa transferência em desacordo com a lei
representava violação ao princípio da legalidade (caput do art. 11).

14.5 Independência das instâncias

Atualmente, uma única conduta praticada pelo agente público pode desencadear seis
processos distintos de responsabilização, quais sejam:

1) civil;

2) penal;

20
3) administrativo disciplinar;

4) improbidade administrativa;

5) responsabilidade política (Lei n. 1.079/50);

6) processo de controle.

Como regra, o resultado em um processo não interfere nos demais em razão da


independência das instâncias.

Sabe-se, porém, que a absolvição criminal por negativa de autoria ou por insistência
do fato são as únicas capazes de interferir nas outras esferas. Sendo assim, havendo sentença
baseada em um desses fatos, não poderá o agente ser responsabilizado nas outras esferas.

Justamente em razão da independência das instâncias, inexiste bis in idem entre


condenação em ACP de improbidade administrativa e acórdão do TCU. Aluno, chamo a sua
atenção para esse julgado13, objeto recorrente de questões de prova: “Não configura bis in idem
a coexistência de título executivo extrajudicial (acórdão do TCU) e sentença condenatória em
ação civil pública de improbidade administrativa que determinam o ressarcimento ao erário e
se referem ao mesmo fato, desde que seja observada a dedução do valor da obrigação que
primeiramente foi executada no momento da execução do título remanescente.”

Deve-se citar também o entendimento do STJ de que a mera prática de tipo penal
contra a administração pública, em si, não caracteriza improbidade administrativa (STJ, REsp
1.115.195, julgado em 04/11/2010).

Cabe mencionar também que a configuração de improbidade independerá da rejeição


de contas pelo Tribunal de Contas. Portanto, ainda que as contas tenham sido aprovadas pelo
Tribunal de Contas e ainda que não haja dano ao erário é possível a configuração de um ato
de improbidade.

13
STJ. 1ª Turma. REsp 1413674-SE, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador Convocado do TRF 1ª Região), Rel.
para o acórdão Min. Benedito Gonçalves, julgado em 17/5/2016 (Info 584).

21
14.6 Declaração de bens

Visando prestigiar a moralidade, o artigo 13 da LIA determina que a posse e o


exercício de agente público ficam condicionados à apresentação de declaração dos bens e
valores de seu patrimônio privado.

A declaração deverá indicar imóveis, móveis, semoventes, dinheiro, títulos, ações, e


qualquer outra espécie de bens e valores patrimoniais, localizado no País ou no exterior, e,
quando for o caso, abrangerá os bens e valores patrimoniais do cônjuge ou companheiro, dos
filhos e de outras pessoas que vivam sob a dependência econômica do declarante, excluídos
apenas os objetos e utensílios de uso doméstico.

É certo que este dispositivo legal visa a permitir uma efetiva fiscalização sobre a
evolução patrimonial do agente público, especialmente para evitar a prática de atos ímprobos
que importem em enriquecimento ilícito do agente.

O agente público que se recusar a prestar declaração dos bens, dentro do prazo
determinado, ou que a prestar falsa será punido com pena de demissão sem prejuízo de outras
sanções cabíveis.

Ademais, a declaração de bens será atualizada anualmente e também na data em


que o agente público deixar o exercício do mandato, cargo, emprego ou função.

14.7 Medidas Cautelares

As medidas cautelares, tratam-se em verdade, de um procedimento administrativo


que visa garantir o processo judicial, eis que a efetiva aplicação das sanções previstas na LIA é
de competência privativa do Poder Judiciário, não podendo ser realizada pela Administração
Pública.

Qualquer pessoa que tenha ciência da prática de ato de improbidade pode


representar à autoridade administrativa competente para que realize as investigações
pertinentes e apure o ocorrido.

Tal representação deverá ser feita por escrito ou, se oral, reduzida a termo e assinada,
devendo obrigatoriamente conter a qualificação do representante, as informações sobre o fato
e sua autoria e a indicação de provas.

22
Admite-se instauração do procedimento administrativo investigativo por meio de denúncia
anônima, desde que esta seja verossímil (STJ: RMS 30510).

Após a comunicação deve ser instaurada uma comissão processante e dada ciência
ao Ministério Público e ao Tribunal ou Conselho de Contas.

Em havendo fundados indícios de responsabilidade, a comissão representará ao


Ministério Público ou à procuradoria do órgão para que requeira ao juízo competente a
decretação do sequestro dos bens do sujeito ativo que tenha enriquecido ilicitamente ou
causado danos ao patrimônio público.

Ademais, o Ministério Público e a pessoa jurídica prejudicada pela improbidade


poderão, quando for o caso, formular pedido de medida cautelar preparatória ou incidental
para:
1) Indisponibilidade dos bens do indiciado: recai sobre parcela de seu
patrimônio que assegure integral ressarcimento do dano, ou sobre o
acréscimo patrimonial resultante do enriquecimento ilícito. Deve-se atentar
para o objetivo da medida: se o objetivo da medida for assegurar a aplicação
futura da sanção de ressarcimento ao erário, a indisponibilidade pode alcançar
os bens adquiridos antes ou depois da prática dos atos de improbidade, além
de levar em consideração o valor de possível multa civil como sanção
autônoma (STJ: Resp 1461892/BA), razão pela qual pode ser determinada em
valor que supere o indicado na inicial da ação. Porém, se a finalidade for
assegurar a aplicação da futura pena de perdimento de bens ou valores
acrescidos ilicitamente, a indisponibilidade deve atingir apenas os bens
adquiridos posteriormente ao ilícito (STJ: RMS 6197). A indisponibilidade
prevista na Lei de Improbidade Administrativa pode recair sobre bens de

23
família14. A indisponibilidade não é sanção, mas providência cautelar destinada
à garantia da (eventual) recomposição dos danos causados pelo ato.

Sobre a indisponibilidade de bens, trata-se de um tema queridinho pela jurisprudência e


pelas questões de concurso, então vamos dar uma aprofundada no tema a partir de agora.
Fiquem atentos!
 Há uma divergência se a indisponibilidade pode ser decretada em qualquer hipótese de
ato de improbidade, de modo que, de acordo com a redação literal dos arts. 7º e 16 da
LIA, não haveria essa possibilidade. Contudo, o STJ e doutrina aduzem que é possível;
 A indisponibilidade pode ser decretada antes do recebimento da petição inicial da ação
de improbidade, inclusive, sem ouvir o réu (inaldita altera pars)15.
 O pedido de indisponibilidade dispensa a prova do periculum in mora concreto (prova de
dilapidação do patrimônio público ou sua iminência), eis que esse será presumido. Mas exige-
se a demonstração do fumus boni juris (indícios da prática de improbidade), trata-se de
uma tutela de evidência16;
 É desnecessária prova de que o réu esteja dilapidando seu patrimônio, já que o requisito
do periculum in mora está implícito no referido art. 7º, parágrafo único, da Lei nº
8.429/1992, que visa assegurar “o integral ressarcimento” de eventual prejuízo ao erário 17
 Pode ser decretada a indisponibilidade sobre bens que o acusado possuía antes da
suposta prática do ato de improbidade; 18

14
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1670672/RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 30/11/2017.
15
STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 671.281/BA, Rel. Min. Olindo Menezes (Des. Conv. do TRF 1ª Região), julgado em
03/09/2015.
16
STJ: Resp 1.190.846). STJ. 1ª Seção. REsp 1366721/BA, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. p/ Acórdão Min.
Og Fernandes, julgado em 26/02/2014;
17
STJ. 1ª Seção. REsp 1.366.721-BA, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Og Fernandes,
julgado em 26/2/2014 (recurso repetitivo) (Info 547).
18
STJ. 1ª Turma. REsp 1301695/RS, Rel. Min. Olindo Menezes (Des. Conv. TRF 1ª Região), julgado em 06/10/2014.
24
 A indisponibilidade não pode recair sobre verbas absolutamente impenhoráveis 19;
 Verbas trabalhistas não podem ser objeto de medida de indisponibilidade em ação de
improbidade. Assim, é possível a indisponibilidade do rendimento da aplicação, mas o
estoque de capital investido, de natureza salarial, é impenhorável;20
 Indisponibilidade deve garantir o integral ressarcimento do prejuízo ao erário e a multa
civil21
 É possível que se determine a indisponibilidade de bens em valor superior ao indicado
na inicial. Isso porque a indisponibilidade acautelatória prevista na Lei de Improbidade
Administrativa tem como finalidade a reparação integral dos danos que porventura tenham
sido causados ao erário22.
 É desnecessária a individualização dos bens. A jurisprudência do STJ está consolidada no
sentido de que é desnecessária a individualização dos bens sobre os quais se pretende fazer
recair a indisponibilidade prevista no art. 7º, parágrafo único da Lei nº 8.429/92 23.A
individualização somente é necessária para a concessão do “sequestro de bens”, previsto
no art. 16 da Lei nº 8.429/92.

Ademais, o STJ já se manifestou também quanto ao fato de que os bens de família podem ser
objeto de medida de indisponibilidade prevista na Lei n. 8.429, uma vez que há apenas a
limitação de eventual alienação do bem, conforme Resp 1461882/PA, julgado em 05/03/2015.
Cabe mencionar que, segundo o STJ, a cautelar de indisponibilidade de bens visa assegurar o
integral ressarcimento do dano, podendo recair sobre bens adquiridos licitamente e antes da
prática do ato ímprobo.

2) Sequestro (difere da indisponibilidade, pois aqui a restrição recai sobre bens


específicos e determinados), investigação, exame ou bloqueio de bens;

3) Bloqueio de contas bancárias e aplicações financeiras mantidas pelo


indiciado no exterior;

19
STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1483040/SC, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 01/09/2015).
20
STJ. 1ª Turma. REsp 1.164.037-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel. para acórdão Min. Napoleão Nunes Maia Filho,
julgado em 20/2/2014 (Info 539).
21
(STJ. AgRg no REsp 1311013 / RO).
22
REsp 1.176.440-RO, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 17/9/2013.
23
(AgRg no REsp 1307137/BA, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª Turma, julgado em 25/09/2012).
25
4) Afastamento cautelar do agente público: a autoridade judicial ou
administrativa poderá decretar ainda o afastamento cautelar do agente
público do exercício do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da
remuneração, quando a medida se fizer necessária à instrução processual por
no máximo 180 dias.

14.8 Processo Judicial

A ação de improbidade administrativa deve ser proposta na primeira instância e sua


tramitação segue o rito ordinário, aplicando-se subsidiariamente as regras da Lei de Ação Civil
Pública - Lei nº 7.347/85.

Vale ressaltar que não há foro determinado por prerrogativa de função na ação de
improbidade (STF, ADI 2.860). Veja: “O foro especial por prerrogativa de função previsto na
Constituição Federal em relação às infrações penais comuns não é extensível às ações de
improbidade administrativa.24” e “A ação de improbidade administrativa deve ser processada e
julgada nas instâncias ordinárias, ainda que proposta contra agente político que tenha foro
privilegiado no âmbito penal e nos crimes de responsabilidade 25.”

Isso acontece porque a ação de improbidade administrativa tem natureza CÍVEL, e o


foro por prerrogativa de função é destinado às ações de natureza criminal. Nesse sentido, as
ações serão propostas na justiça comum estadual ou federal, nas hipóteses previstas no art. 109
da Constituição Federal.

Ademais, o Superior Tribunal de Justiça modificou o seu entendimento jurisprudencial,


firmando a jurisprudência de que as ações de improbidade propostas em face de membros da
magistratura e que podem gerar a perda do cargo devem ser propostas diretamente no tribunal
ao qual o agente esteja vinculado.

Observe-se o julgado:

24
STF. Plenário. Pet 3240 AgR/DF, rel. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 10/5/2018
(Info 901).

25
STJ. Corte Especial. AgRg na Rcl 12514-MT, Rel. Min. Ari Pargendler, julgado em 16/9/2013 (Info 527).

26
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. MANDADO DE
SEGURANÇA. INQUÉRITO CIVIL INSTAURADO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO
PARA O FIM DE APURAR A PRÁTICA DE ATO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA POR PARTE DE MAGISTRADO.
1. Os embargos de declaração são cabíveis quando o provimento
jurisdicional padece de omissão, contradição ou obscuridade, consoante
dispõe o art. 535, I e II do CPC, bem como para sanar a ocorrência de erro
material. Excepcionalmente, quando o saneamento de algum desses vícios
implicar na alteração do resultado do julgamento embargado, aos
embargos de declaração devem ser atribuídos efeitos modificativos.
2. O Superior Tribunal de Justiça, alterando entendimento
jurisprudencial que vinha sendo externado, tem entendido que o foro
privilegiado dos magistrados também deve ser observado nas ações
civis públicas por ato de improbidade administrativa, cujo resultado
possa levar à pena de demissão do réu. Como consequência desse
entendimento, deve-se reconhecer a competência do Tribunal de Justiça
para processar e julgar mandado de segurança que ataca a instauração
de inquérito civil público, fase preliminar de investigação e preparatória
de ação civil pública.
3. Embargos de declaração acolhidos, com efeitos modificativos, para
conhecer do agravo de instrumento e dar parcial provimento ao recurso
especial, determinando a remessa dos autos do mandado de segurança ao
TJ/MG para que seja processado e julgado, com a anulação dos atos
decisórios proferidos pelo juízo de primeiro grau. (grifo nosso)26

Conforme anteriormente dito, a legitimidade ativa para propositura da ação é do


Ministério Público e da pessoa jurídica prejudicada. Porém, nada impede que a ação seja
proposta somente pelo Ministério Público. A ausência no feito da pessoa jurídica de direito
público cujo ato seja objeto de impugnação não gera, por si, vício processual.

Quando não for autor, o Ministério Público obrigatoriamente atuará como fiscal da
lei, sob pena de nulidade do processo.

26
STJ, EDcl no AgRg no Ag 1338058/MG, Relator Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, j. 25/10/2011, DJE
18/11/2011)
27
O Ministério Público estadual possui legitimidade recursal para atuar como parte no Superior
Tribunal de Justiça nas ações de improbidade administrativa, reservando-se ao Ministério Público
Federal a atuação como fiscal da lei (AgRg no AREsp 1323236/RN).

Estando a inicial em termos, o juiz mandará autuá-la e ordenará a notificação do


requerido, para oferecer manifestação por escrito, a chamada defesa prévia, que poderá ser
instruída com documentos e justificações, dentro do prazo de quinze dias.

Sobre a nulidade em casos de ausência de notificação para defesa prévia, o STJ se


manifestou no sentido de que “a ausência de notificação para defesa prévia só acarreta
nulidade processual se houver comprovado prejuízo (pas de nullité sans grief).”

Recebida a defesa prévia, o juiz, no prazo de trinta dias, em decisão fundamentada,


rejeitará a ação se convencido da inexistência do ato de improbidade, da improcedência da
ação ou da inadequação da via eleita. Se resolver pelo prosseguimento da ação, realizará a
citação do réu para contestar o feito. Recorde-se que, havendo meros indícios da prática do
ato de improbidade administrativa, o juiz deverá receber a petição inicial, em razão da
prevalência do princípio do in dubio pro societate.

Na ação de improbidade não se admite transação, acordo ou conciliação. Também não há


previsão de elaboração de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), diferentemente do que
ocorre na Lei de Ação Civil Pública.

28
Há uma inovação legislativa importante em relação à improbidade administrativa. Em 2019
entrou em vigor a Lei 13.964/19, denominada de Pacote Anticrime. Essa lei alterou diversos
dispositivos penais e alterou também o art. 17 da LIA. Então, atenção às alterações legislativas
e vejamos a nova redação o referido artigo:

De acordo com o § 1º do art. 17, as ações de que trata este artigo admitem a celebração de
acordo de não persecução cível, e, conforme dispõe o § 10-A, havendo a possibilidade de
solução consensual, poderão as partes requerer ao juiz a interrupção do prazo para a
contestação, por prazo não superior a 90 dias. Assim, atentem-se: antes da modificação
legislativa do Pacote Anticrime não se admite transação, acordo ou conciliação, porém, hoje
em dia, é plenamente possível.

A sentença que julgar procedente ação civil de reparação de dano ou decretar a perda
dos bens havidos ilicitamente determinará o pagamento ou a reversão dos bens, conforme o
caso, em favor da pessoa jurídica prejudicada pelo ilícito. Segundo o Superior Tribunal de Justiça,
caso a sentença conclua pela carência ou pela improcedência da ação, a decisão não estará
sujeita ao reexame necessário.

Importante ressaltar que o STJ já afirmou que não há julgamento “ultra” ou “extra
petita” quando o juiz acrescenta à condenação sanções não pedidas na inicial da ação de
improbidade. Além disso, pode o juiz enquadrar o ato de improbidade em dispositivo diverso
do indicado na Inicial, sem prejuízo para a defesa, pois esta deve ater-se aos fatos e não à
capitulação legal.

Outra questão que merece destaque é o fato de que o princípio da insignificância


não se aplica em sede de improbidade administrativa, nos termos da súmula 599 do STJ.

29
A doutrina e a jurisprudência entendem ser possível que o juiz enquadre o ato de improbidade
administrativa em dispositivo diverso do trazido na petição inicial. Tal fato ocorre, pois a defesa
deve se ater aos fatos, e não a capitulação legal (STJ, REsp 842.428, julgado em 24/04/2007).

14.9 Aplicação das penalidades

A condenação pela prática de ato de improbidade administrativa e a aplicação das


sanções correspondentes somente serão legítimas se houver estrita observância do rito
específico previsto na Lei n. 8.429/92.

Segundo prescreve a LIA, na fixação das penas por ato de improbidade, o juiz levará
em conta a extensão do dano causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente.

Caso o sujeito ativo pratique ato que se enquadre em mais de uma espécie de ato
ímprobo, ele responderá pelo que comina sanção mais grave.

O Superior Tribunal de Justiça consolidou o entendimento no sentido de que, uma


vez caracterizado o prejuízo ao erário, o ressarcimento é obrigatório visto que serve para
caucionar o rombo consumado em desfavor do erário. Vale ressaltar que o STJ não tem admitido
a aplicação do princípio da insignificância na ação de improbidade administrativa.

Ademais, deve-se ter em mente que a efetivação da suspensão dos direitos políticos
e a perda do cargo somente ocorre com o trânsito em julgado da sentença condenatória 27.

27
Vide questão 8
30
(CESPE / CEBRASPE – DPU – Defensor Público Federal - 2017) Considerando o entendimento
do STJ acerca do procedimento administrativo, da responsabilidade funcional dos servidores
públicos e da improbidade administrativa, julgue o seguinte item.

Em procedimento disciplinar por ato de improbidade administrativa, somente depois de ocorrido


o trânsito em julgado administrativo será cabível a aplicação da penalidade de demissão.

Comentário:

Aluno (a), cuidado para não confundir pena de demissão com pena de suspensão dos direitos
políticos ou perda do cargo, tendo em vista que essas últimas só ocorrem após trânsito em
julgado.

Lado outro, a pena de demissão não depende de trânsito em julgado, conforme entendimento
do Superior Tribunal de Justiça:

“Não há ilegalidade no cumprimento imediato da penalidade imposta a servidor público logo


após o julgamento do PAD e antes do decurso do prazo para o recurso administrativo, tendo
em vista o atributo de autoexecutoriedade que rege os atos administrativos e que o recurso
administrativo, em regra, carece de efeito suspensivo (ex vi do art. 109 da Lei 8.112/1990)”. (MS
19.488/DF, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
25/03/2015, DJe 31/03/2015)

Segundo a jurisprudência, o agente perderá a função que exerce no momento da


aplicação da pena, e não a função que ele se valeu para a prática do ato de improbidade.

31
O STJ também entende que há possibilidade de dupla condenação ao ressarcimento
ao erário pelo mesmo fato, pois não configura bis in idem a coexistência de título executivo
extrajudicial (acórdão do TCU) e sentença condenatória em ação civil pública de improbidade
administrativa que determinam o ressarcimento ao erário e se referem ao mesmo fato, DESDE
QUE seja observada a dedução do valor da obrigação que primeiramente foi executada no
momento da execução do título remanescente (STJ, 1413674/SE, julgado em 17/05/2016).

Outro ponto importante é que, segundo tese firmada pelo STJ, o magistrado não está
obrigado a aplicar cumulativamente todas as penas previstas no art. 12 da Lei n. 8.429/92,
podendo, mediante adequada fundamentação, fixa-las e dosá-las segundo a natureza, a
gravidade e as consequências da infração.

Princípio da adequação punitiva: deve-se adequar as sanções a natureza específica do sujeito


que está sendo sancionado. Existem situações em que o sancionado não consegue se adequar
à sanção prevista na Lei. Ex.: os agentes públicos são todos aqueles que atuam em nome do
Estado, ainda que temporariamente, ainda que sem remuneração. Neste caso, como seria
possível aplicar a pena de multa de até 100 vezes a remuneração se o sujeito não receber
remuneração? Neste caso, aplicando-se o princípio da adequação punitiva, entende-se que a
multa deverá ser de até 100 vezes o salário mínimo.

14.10 Prescrição

O art. 23 da Lei n. 8.429/92 determina que as ações destinadas a levar a efeito as sanções
decorrentes de improbidade administrativa poderão ser propostas:
1) Até cinco anos após o término do exercício de mandato, de cargo em
comissão ou de função de confiança. Havendo reeleição, o prazo se inicia a
partir do encerramento do último mandato; (Para o Prefeito, no caso da

32
releição, o prazo prescricional inicia-se após o segundo mandato, conforme
jurisprudência do STJ28).

O prazo prescricional em ação de improbidade administrativa movida contra prefeito


reeleito só se inicia após o término do segundo mandato, ainda que tenha havido
descontinuidade entre o primeiro e o segundo mandato em razão da anulação de pleito
eleitoral, com posse provisória do Presidente da Câmara, por determinação da Justiça Eleitoral,
antes da reeleição do prefeito em novas eleições convocadas. (...) No caso de agente político
detentor de mandato eletivo ou de ocupantes de cargos de comissão e de confiança inseridos
no polo passivo da ação de improbidade administrativa, a contagem do prazo prescricional
inicia-se com o fim do mandato. Exegese do art. 23, I, da Lei 8.429/1992. REsp 1.414.757-RN,
Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 6/10/2015, DJe 16/10/2015 (Info 571).

Se o agente público exercer cumulativamente cargo efetivo e cargo comissionado, ao tempo do


ato reputado ímprobo, há de prevalecer o primeiro, para fins de contagem prescricional, pelo
simples fato de o vínculo entre agente e Administração pública não cessar com a exoneração
do cargo em comissão, por ser temporário (STJ: Resp 1.060.529).
Além disso, o STJ fez interpretação teleológica deste dispositivo, entendendo que mesmo que
o ato de improbidade tenha sido praticado no primeiro mandato o prazo de prescrição só
começa a correr do término do segundo mandato, pois nos casos de reeleição não há
descontinuidade (seria diferente se o sujeito tivesse sido eleito e praticado ato de improbidade
no primeiro mandato, depois passado certo tempo ele foi eleito para outro mandato, pois houve
descontinuidade).

2) Dentro do prazo prescricional previsto em lei específica para faltas


disciplinares puníveis com demissão, nos casos de exercício de cargo efetivo
ou emprego. Em regra, tal prazo também é de 5 anos. Nesse caso, o prazo
corre a partir da data em que foi praticado o ato de improbidade.

28
Vide questão 9
33
3) Até cinco anos da data da apresentação à administração pública da prestação
de contas final pelas entidades referidas no parágrafo único do art. 1º da LIA
(pessoa jurídica de direito privado que recebe dinheiro público participando
em menos de 50% de seu capital).

Quando um particular pratica ato de improbidade administrativa, se lhe aplicam os prazos


prescricionais incidentes aos demais demandados ocupantes de cargos públicos (STJ: Resp
1.087.855). “O termo inicial da prescrição em improbidade administrativa em relação a
particulares que se beneficiam de ato ímprobo é idêntico ao do agente público que praticou a
ilicitude” (STJ: AgRG no REsp 1510589/SE).
No mesmo sentido, deve-se ter em mente a súmula 634, do STJ, que estipula que “ao particular
aplica-se o mesmo regime prescricional previsto na Lei de Improbidade Administrativa para o
agente público”.
Ademais, na improbidade administrativa não há que se falar em prescrição intercorrente,
segundo tese firmada pelo STJ.

Segundo o STJ, o prazo prescricional é interrompido pelo ajuizamento da ação dentro


do prazo, ainda que a citação do réu seja efetivada após o seu encerramento.

Entretanto, em relação a pena de ressarcimento – conforme o disposto no art. 37,


§ 5º da CRFB/88 - a ação de improbidade administrativa é imprescritível29. O tema foi objeto
de tese30 fixada pelo STF em sede de repercussão geral, restringindo-se a imprescritibilidade à
prática de ato doloso31. Observe: “São imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário
fundadas na prática de ato doloso tipificado na Lei de Improbidade Administrativa”.

29
Vide Questão 6 e 7
30
STF. Plenário. RE 852475/SP, Rel. orig. Min. Alexandre de Moraes, Rel. para acórdão Min. Edson Fachin, julgado
em 08/08/2018 (repercussão geral) (Info 910).
31
Vide questão 10 e 11
34
Deve-se atentar ao fato de que somente os atos de improbidade administrativa
praticados com dolo são imprescritíveis. Os atos culposos são prescritíveis. Neste sentido,
importante lembrar que o único ato culposo previsto na LIA é o do art. 10 (atos de improbidade
que causam prejuízo ao erário).

14.11 Jurisprudência em Teses

Vamos agora iniciar a leitura das Jurisprudências em Teses elaboradas pelo Superior
Tribunal de Justiça, que são frequentemente cobrados em provas de concurso público! Para
tanto, deve-se prestar bastante atenção aos entendimentos fixados.

 STJ. EDIÇÃO N. 38: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA – I

1. É INADMISSÍVEL a responsabilidade objetiva na aplicação da Lei


8.429/1992, exigindo- se a presença de dolo nos casos dos arts. 9º e 11 (que
coíbem o enriquecimento ilícito e o atentado aos princípios administrativos,
respectivamente) e ao menos de culpa nos termos do art. 10, que censura os
atos de improbidade por dano ao Erário.
2. O Ministério Público tem legitimidade ad causam para a propositura de Ação
Civil Pública objetivando o ressarcimento de danos ao erário, decorrentes de
atos de improbidade.
3. O Ministério Público estadual possui legitimidade recursal para atuar como
parte no Superior Tribunal de Justiça nas ações de improbidade administrativa,
reservando-se ao Ministério Público Federal a atuação como fiscal da lei.
4. A ausência da notificação do réu para a defesa prévia, prevista no art. 17, § 7º,
da Lei de Improbidade Administrativa, só acarreta nulidade processual se
houver comprovado prejuízo (pas de nullité sans grief).
5. A presença de indícios de cometimento de atos ímprobos autoriza o
recebimento fundamentado da petição inicial nos termos do art. 17, §§ 7º, 8º
e 9º, da Lei n. 8.429/92, devendo prevalecer, no juízo preliminar, o princípio do
in dubio pro societate.

35
6. O termo inicial da prescrição em improbidade administrativa em relação a
particulares que se beneficiam de ato ímprobo é idêntico ao do agente público
que praticou a ilicitude.

Observe como essa tese do STJ foi abordado na prova de Promotor de Justiça do
MPE-GO, em 2019.

(Banca: MPE-GO - 2019 - Promotor de Justiça – Reaplicação - ADAPTADA) O termo inicial


da prescrição em improbidade administrativa em relação a particulares que se beneficiam de
ato Ímprobo é idêntico ao do agente público que praticou a ilicitude.

Comentário:
Gabarito: CERTA.
Jurisprudência em Teses n. 38 do STJ, item 6.

7. A eventual prescrição das sanções decorrentes dos atos de improbidade


administrativa não obsta o prosseguimento da demanda quanto ao pleito de
ressarcimento dos danos causados ao erário, que é imprescritível (art. 37, § 5º
da CF).
8. É inviável a propositura de ação civil de improbidade administrativa
exclusivamente contra o particular, sem a concomitante presença de agente
público no polo passivo da demanda.
9. Nas ações de improbidade administrativa, não há litisconsórcio passivo
necessário entre o agente público e os terceiros beneficiados com o ato
ímprobo.

36
10. A revisão da dosimetria das sanções aplicadas em ação de improbidade
administrativa implica reexame do conjunto fático-probatório dos autos,
encontrando óbice na súmula 7/STJ, salvo se da leitura do acórdão recorrido
verificar-se a desproporcionalidade entre os atos praticados e as sanções
impostas.
11. É possível o deferimento da medida acautelatória de indisponibilidade de bens
em ação de improbidade administrativa nos autos da ação principal sem
audiência da parte adversa e, portanto, antes da notificação a que se refere o
art. 17, § 7º, da Lei n. 8.429/92.
12. É possível a decretação da indisponibilidade de bens do promovido em ação
civil Pública por ato de improbidade administrativa, quando ausente (ou não
demonstrada) a prática de atos (ou a sua tentativa) que induzam a conclusão
de risco de alienação, oneração ou dilapidação patrimonial de bens do
acionado, dificultando ou impossibilitando o eventual ressarcimento futuro.

(Banca: MPE-GO - 2019 - Promotor de Justiça – Reaplicação - ADAPTADA) É possível a


decretação da indisponibilidade de bens do promovido em ação de responsabilidade por ato
de improbidade administrativa, quando ausente (ou não demonstrada) a prática de atos (ou a
sua tentativa) que induzam a conclusão de risco de alienação, oneração ou dilapidação
patrimonial de bens do acionado, dificultando ou impossibilitando o eventual ressarcimento
futuro.

Comentário:
Gabarito: CERTA.
Conforme Jurisprudência em Teses n. 38 do STJ, item 12.

37
13. Na ação de improbidade, a decretação de indisponibilidade de bens pode recair
sobre aqueles adquiridos anteriormente ao suposto ato, além de levar em
consideração, o valor de possível multa civil como sanção autônoma.
14. No caso de agentes políticos reeleitos, o termo inicial do prazo prescricional
nas ações de improbidade administrativa deve ser contado a partir do término
do último mandato.

 STJ. EDIÇÃO N. 40: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA - II

1. Os Agentes Políticos sujeitos a crime de responsabilidade, ressalvados os atos


ímprobos cometidos pelo Presidente da República (art. 86 da CF) e pelos
Ministros do Supremo Tribunal Federal, não são imunes às sanções por ato de
improbidade previstas no art. 37, § 4º, da CF:

Art. 37, § 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão


dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens
e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo
da ação penal cabível.

2. Os agentes políticos municipais se submetem aos ditames da Lei de


Improbidade Administrativa - LIA, sem prejuízo da responsabilização política e
criminal estabelecida no Decreto-Lei n. 201/1967.
3. A ação de improbidade administrativa deve ser processada e julgada nas
instâncias ordinárias, ainda que proposta contra agente político que tenha foro
privilegiado.
4. A aplicação da pena de demissão por improbidade administrativa não é
exclusividade do Judiciário, sendo passível a sua incidência no âmbito do
processo administrativo disciplinar.
5. Havendo indícios de improbidade administrativa, as instâncias ordinárias
poderão decretar a quebra do sigilo bancário.

38
6. O especialíssimo procedimento estabelecido na Lei n. 8.429/92, que prevê um
juízo de delibação para recebimento da petição inicial (art. 17, §§ 8º e 9º),
precedido de notificação do demandado (art. 17, § 7º), somente é aplicável
para ações de improbidade administrativa típicas. (Tese julgada sob o rito do
artigo 543-C do CPC/73 - TEMA 344).
7. Aplica-se a medida cautelar de indisponibilidade dos bens do art. 7º aos atos
de improbidade administrativa que impliquem violação dos princípios da
administração pública do art. 11 da LIA.
8. O ato de improbidade administrativa previsto no art. 11 da Lei n. 8.429/92 não
requer a demonstração de dano ao erário ou de enriquecimento ilícito, mas
exige a demonstração de dolo, o qual, contudo, não necessita ser específico,
sendo suficiente o dolo genérico.
9. Nas ações de improbidade administrativa é admissível a utilização da prova
emprestada, colhida na persecução penal, desde que assegurado o
contraditório e a ampla defesa.

Observe como essa tese do STJ foi abordada em prova para Procurador de Município
da CESPE/CEBRASPE:

(CESPE/CEBRASPE – Prefeitura de Manaus/AM – Procurador do Município - 2018)


Considerando o entendimento do STJ acerca da improbidade administrativa, julgue o item
subsequente.

Não é permitida a utilização de prova emprestada do processo penal nas ações de improbidade
administrativa.

Comentário:
Gabarito: ERRADO.

39
Conforme Tese 9 supramencionada e Súmula 591do STJ: “É permitida a “prova emprestada” no
processo administrativo disciplinar, desde que devidamente autorizada pelo juízo competente e
respeitados o contraditório e a ampla defesa”.

10. O magistrado não está obrigado a aplicar cumulativamente todas as penas


previstas no art. 12 da Lei n. 8.429/92, podendo, mediante adequada
fundamentação, fixá-las e dosá-las segundo a natureza, a gravidade e as
consequências da infração.

40
QUADRO SINÓTICO

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
Os agentes públicos podem praticar, no exercício das funções, condutas que ensejam à aplicação de sanções em
diversas esferas. Além das repercussões civil, penal e administrativa, é possível a responsabilização do agente
público em decorrência da aplicação da Lei de Improbidade Administrativa (LIA) – Lei n. 8.429/92.
O dever de punição dos atos de improbidade administrativa tem fundamento constitucional no art. 37, § 4º, da
CRFB/88 sendo uma imposição do princípio da moralidade, probidade e, também, da legalidade.

O STJ vem sustentando que a LIA não deve ser aplicada para punir meras irregularidades administrativas, erros
toleráveis ou transgressões disciplinares (Resp 1.245.622).

A Lei de Improbidade Administrativa tem natureza jurídica de lei nacional, e aplica-se em todo âmbito federativo.

SUJEITO ATIVO

É qualquer agente público, servidor ou não, que atua contra a administração direta, indireta ou fundacional de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa
incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou
concorra com mais de 50% do patrimônio ou da receita anual. Se concorrer com menos de 50% do patrimônio
ou da receita anual, a sanção limita-se à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos.

O conceito de agente público, para efeitos de penalização da LIA, foi legalmente previsto como sendo todo
aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação,
contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função.

Sujeito ativo também é àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato
de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.

Podem ser punidos também pela Lei de Improbidade os sucessores de quem praticou a conduta até o limite do
valor da herança.

RESPONSABILIZAÇÃO DOS AGENTES POLÍTICOS


A Lei de Improbidade não se aplica aos agentes políticos quando a mesma conduta já
for punida pela Lei dos Crimes de Responsabilidade – Lei nº 1.079/50.

STF Para que a LIA seja afastada deve haver, de forma simultânea, dois requisitos: (i) o
agente político deve estar expressamente incluído entre os puníveis pela Lei n. 1.079/50;
e (ii) a conduta precisa estar tipificada na Lei n. 1.079/50 e na Lei n. 8.429/92.

Os agentes políticos estão submetidos integralmente à LIA, com exceção do Presidente


STJ
da República.

41
SUJEITO PASSIVO
Administração pública direta;

Administração pública indireta;

Empresas incorporadas ao patrimônio público ou de entidade cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou
concorra com mais de 50% do patrimônio ou da receita anual: com essa referência, o legislador quis reforçar a
inclusão, no rol dos sujeitos passivos dos atos de improbidade, das chamadas empresas governamentais, ou seja,
empresas públicas e sociedades de economia mista;

Entidades que recebam subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, provenientes de órgãos públicos:
as pessoas jurídicas privadas, não pertencentes ao Estado, também podem figurar como sujeito passivo de ato
de improbidade administrativa desde que recebam algum tipo de vantagem concedida pelo Poder Público, tais
como: subvenções, benefícios, incentivos fiscais ou incentivos creditícios;

Entidades cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com menos de 50% do patrimônio ou da
receita anual: o ato de improbidade também pode ser praticado contra as denominadas empresas privadas com
participação estatal, isto é, aquelas em que o Estado detenha percentual minoritário na composição do capital
votante.

ESPÉCIES DE ATOS DE IMPROBIDADE


São consideradas as condutas mais graves

O agente público aufere dolosamente uma vantagem patrimonial indevida em razão do


exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade pública.

Perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio

Ressarcimento integral do dano, quando houver


ATOS QUE
Perda da função pública
IMPORTAM
Suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos
ENRIQUECIMENTO
Pagamento de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo
ILÍCITO SANÇÕES:
patrimonial

Proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou


incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo
de dez anos.

São os casos em que o agente público causa lesão ao erário por meio de ação ou
omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,

42
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades públicas
mencionadas na Lei.

Envolvem condutas de gravidade intermediária.


Segundo o Superior Tribunal de justiça, para a caracterização desse tipo de ato de
improbidade, exige-se a comprovação efetiva de dano.

Ressarcimento integral do dano


ATOS QUE
Perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se
CAUSAM
concorrer esta circunstância
PREJUÍZO AO
Perda da função pública;
ERÁRIO
Suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos;
SANÇÕES
Pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano;

Proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou


incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo
de cinco anos.

Os atos de improbidade que atenta contra princípios administrativos - descritos no art.


11 da LIA - envolvem as condutas de menor gravidade.

Para configuração de tal espécie de atos, exige-se a atuação dolosa do sujeito ativo.

Ressarcimento integral do dano, se houver

ATOS QUE Perda da função pública

ATENTAM Suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos


CONTRA Pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração
PRINCÍPIOS SANÇÕES percebida pelo agente

Proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou


incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo
de três anos.

Tipifica qualquer ação ou omissão visando conceder, aplicar ou manter benefício


ATOS
financeiro ou tributário que reduza a alíquota do Imposto sobre Serviços (ISS) para
DECORRENTES
patamar inferior a 2% (dois por cento), nos termos do art. 8º-A da Lei Complementar
DE CONCESSÃO
n. 157/2016, inclusive sobre o serviço proveniente ou cuja prestação se tenha iniciado
OU APLICAÇÃO
no exterior do País.
INDEVIDA DE
BENEFÍCIO Admite apenas a modalidade dolosa.

43
FINANCEIRO OU Perda da função pública

TRIBUTÁRIO Suspensão dos direitos políticos de 5 a 8 anos


SANÇÕES
Multa civil de até 3 vezes o valor do benefício financeiro ou tributário
concedido

INDEPENDÊNCIA DAS INSTÂNCIAS


Como regra, o resultado em um processo não interfere nos demais em razão da independência das instâncias.

Porém, que a absolvição criminal por negativa de autoria ou por insistência do fato são as únicas capazes de
interferir nas outras esferas.

DECLARAÇÃO DE BENS
Visando prestigiar a moralidade, a lei determina que a posse e o exercício de agente público ficam condicionados
à apresentação de declaração dos bens e valores de seu patrimônio privado.

O agente público que se recusar a prestar declaração dos bens, dentro do prazo determinado, ou que a prestar
falsa será punido com pena de demissão sem prejuízo de outras sanções cabíveis.

A declaração de bens será atualizada anualmente e também na data em que o agente público deixar o exercício
do mandato, cargo, emprego ou função.

MEDIDAS CAUTELARES
Qualquer pessoa que tenha ciência da prática de ato de improbidade pode representar à autoridade administrativa
competente para que realize as investigações pertinentes e apure o ocorrido. Tal representação deverá ser feita
por escrito ou, se oral, reduzida a termo e assinada, devendo obrigatoriamente conter a qualificação do
representante, as informações sobre o fato e sua autoria e a indicação de provas.

Em havendo fundados indícios de responsabilidade, a comissão representará ao Ministério Público ou à


procuradoria do órgão para que requeira ao juízo competente a decretação do sequestro dos bens do sujeito
ativo que tenha enriquecido ilicitamente ou causado dano ao patrimônio público.

Indisponibilidade dos bens do indiciado;


O Ministério Público e a pessoa
jurídica prejudicada pela Sequestro, investigação, exame ou bloqueio de bens;
improbidade poderão, quando for o
Bloqueio de contas bancárias e aplicações financeiras mantidas
caso, formular pedido de medida
pelo indiciado no exterior;
cautelar preparatória ou incidental
Afastamento cautelar do agente público pelo prazo máximo de
para decretar:
180 dias.

PROCESSO JUDICIAL

44
A ação de improbidade administrativa deve ser proposta na primeira instância e sua tramitação segue o rito
ordinário, aplicando-se subsidiariamente as regras da Lei de Ação Civil Pública - Lei nº 7.347/85. Não, via de
regra, foro determinado por prerrogativa de função.

A legitimidade ativa para propositura da ação é do Ministério Público e da pessoa jurídica prejudicada. Porém,
nada impede que a ação seja proposta somente pelo Ministério Público. A ausência no feito da pessoa jurídica
de direito público cujo ato seja objeto de impugnação não gera, por si, vício processual.
Quando não for autor, o Ministério Público obrigatoriamente atuará como fiscal da lei, sob pena de nulidade do
processo.

Estando a inicial em termos, o juiz mandará autuá-la e ordenará a notificação do requerido, para oferecer
manifestação por escrito, a chamada defesa prévia, que poderá ser instruída com documentos e justificações,
dentro do prazo de quinze dias.

Recebida a defesa prévia, o juiz, no prazo de trinta dias, em decisão fundamentada, rejeitará a ação se convencido
da inexistência do ato de improbidade, da improcedência da ação ou da inadequação da via eleita. Se resolver
pelo prosseguimento da ação, realizará a citação do réu para contestar o feito.

APLICAÇÃO DAS PENALIDADES


A condenação pela prática de ato de improbidade administrativa e a aplicação das sanções correspondentes
somente serão legítimas se houver estrita observância do rito específico previsto na Lei n. 8.429/92.

PRESCRIÇÃO
Até cinco anos após o término do exercício de
Se o agente público exercer cumulativamente cargo efetivo
mandato, de cargo em comissão ou de função
e cargo comissionado, ao tempo do ato reputado ímprobo,
de confiança. Havendo reeleição, o prazo se
há de prevalecer o primeiro, para fins de contagem
inicia a partir do encerramento do último
prescricional.
mandato.

Dentro do prazo prescricional previsto em lei específica para faltas disciplinares puníveis com demissão, nos casos
de exercício de cargo efetivo ou emprego. Em regra, tal prazo também é de 5 anos. Nesse caso, o prazo corre a
partir da data em que foi praticado o ato de improbidade.

Quando um particular pratica ato de improbidade administrativa, se lhe aplicam os prazos prescricionais incidentes
aos demais demandados ocupantes de cargos públicos.

Em relação a pena de ressarcimento a ação de improbidade administrativa é imprescritível.

45
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(FCC - TJ-AL - Juiz Substituto - 2019) Suponha que tenha sido interposta ação de improbidade
administrativa em face de diretor de uma empresa na qual o Estado do Alagoas detém
participação acionária minoritária, apontando a ocorrência de prejuízos financeiros à companhia
em face da realização de investimentos em projetos deficitários. A inicial da ação judicial aponta,
ainda, a responsabilidade de Secretários de Estado na formatação de tais projetos e possível
conluio com o diretor da companhia para as aprovações societárias correspondentes.
Considerando as disposições da legislação aplicável, a referida demanda afigura-se

A) cabível, tanto em face do diretor como dos Secretários de Estado, limitando-se a sanção
patrimonial à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos à companhia.

B) cabível apenas em face dos Secretários de Estado, dada a necessária condição de agentes
públicos, respondendo o diretor da companhia exclusivamente na esfera civil.

C) descabida, eis que não se verifica prejuízo a entidade pública ou a empresa na qual o poder
público detenha a maioria do capital social.

D) cabível apenas em face do diretor da companhia, nos limites da conduta lesiva apurada, não
alcançando os Secretários de Estado, os quais poderão responder por crime de responsabilidade.

E) cabível apenas se apurada conduta dolosa dos imputados, eis que o elemento volitivo doloso
é determinante para a caracterização de atos de improbidade, que não admitem modalidade
culposa.

Comentário:
Gabarito: letra A.

A) Correta. É o que disciplina a parte final do Art. 1º, parágrafo único, da Lei nº 8.429/92. Veja
abaixo:

46
Art. 1º Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalidades desta lei os atos de improbidade
praticados contra o patrimônio de entidade que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal
ou creditício, de órgão público bem como daquelas para cuja criação ou custeio o erário haja
concorrido ou concorra com menos de cinquenta por cento do patrimônio ou da receita
anual, limitando-se, nestes casos, a sanção patrimonial à repercussão do ilícito sobre a
contribuição dos cofres públicos.

B) Incorreta. Art. 3° da Lei nº 8.429/92: Art. 3º. As disposições desta lei são aplicáveis, no que
couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do
ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.

C) Incorreta. Art. 1º, parágrafo único, da Lei nº 8.429/92. Vide letra "A".

D) Incorreta. “Os agentes políticos, com exceção do Presidente da República, encontram-se


sujeitos a um duplo regime sancionatório, de modo que se submetem tanto à responsabilização
civil pelos atos de improbidade administrativa, quanto à responsabilização político administrativa
por crimes de responsabilidade”. (Pet 3240 AgR, Relator: Min. Teori Zavascki, Relator p/ Acórdão:
Min. Roberto Barroso, Tribunal Pleno, julgado em 10/05/2018)

E) Incorreta. Os atos de improbidade que causam prejuízo ao erário admitem a modalidade


culposa, isso ocorre porque o art. 10 da Lei de Improbidade é o único que dispõe expressamente
acerca da conduta culposa, nos seguintes termos: “Constitui ato de improbidade administrativa
que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda
patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das
entidades referidas no art. 1º desta lei (...)”.

Questão 2

(CESPE - TJ-PR - Juiz Substituto - 2019) Conforme a Lei de Improbidade Administrativa, para
a configuração de um ato de improbidade por dano ao erário, é imprescindível que haja, além
do efetivo prejuízo,

A) culpa do agente, ao menos.

B) dolo genérico do agente, ao menos.


47
C) dolo específico do agente.

D) ilegalidade na conduta, independentemente do elemento subjetivo do agente.

Comentário:

Gabarito: Letra A.

Lei 8.492/92:

Art. 9º — Atos de improbidade que importam enriquecimento ilícito do agente público - Exige
DOLO

Art. 10 — Atos de improbidade que causam prejuízo ao erário - Exige DOLO ou, no mínimo,
CULPA

Art. 10-A — Atos de improbidade administrativa decorrentes de concessão ou aplicação indevida


de benefício financeiro ou tributário - Exige DOLO

Art. 11 — Atos de improbidade que atentam contra princípios da administração pública - Exige
DOLO

De todas as modalidades previstas na lei, a que prevê o ato administrativo que causa “lesão ao
erário” é a única que admite o elemento subjetivo “culpa” para a sua configuração. Todos os
demais carecem do elemento dolo, ainda que genérico.

Questão 3

(CESPE - 2019 - TJ-BA - Juiz de Direito Substituto) De acordo com a legislação pertinente e
a jurisprudência dos tribunais superiores, na hipótese de o prefeito de determinado município
desviar dolosamente recursos públicos obtidos pelo ente municipal mediante convênio com a
União,

A) a ação de ressarcimento ao erário será submetida ao prazo prescricional quinquenal.

48
B) a ação de improbidade administrativa prescreverá em cinco anos, contados a partir da data
do fato.

C) ainda que o tribunal de contas local condene o prefeito ao ressarcimento ao erário, o Poder
Judiciário também poderá condená-lo em ressarcimento ao erário em ação civil pública por
improbidade administrativa.

D) não será possível a configuração do ato de improbidade administrativa se o prefeito tiver


agido culposamente.

E) o magistrado, em ação de improbidade administrativa, será obrigado a aplicar todas as


penalidades legalmente previstas para a conduta, submetendo-se à discricionariedade regrada
somente a dosimetria da pena.

Comentário:

Gabarito: letra C.

A) Incorreta. O STF entendeu que o ressarcimento ao erário decorrente de ato doloso de


improbidade administrativa é imprescritível, com base no art. 36, §5.º, da CR/88;

B) Incorreta. As sanções da ação de improbidade administrativa (excluído ressarcimento), para o


caso do prefeito, prescrevem no prazo de cinco anos contados do término do mandato.

Art. 23. As ações destinadas a levar a efeitos as sanções previstas nesta lei podem ser propostas:

I - até cinco anos após o término do exercício de mandato, de cargo em comissão ou de função
de confiança;

C) Correta. Não configura bis in idem a aplicação das sanções e do ressarcimento ao erário,
devendo ser feita a dedução quando do pagamento efetivo, evitando enriquecimento sem causa
ao erário.

Conforme vimos durante o nosso estudo, o prefeito, todavia, em que pese seja agente político,
pode ser condenado tanto pelo crime de responsabilidade quanto por improbidade
administrativa. Veja a tese fixada em sede de repercussão geral pelo Supremo Tribunal Federal,

49
em 2019: “O processo e julgamento de prefeito municipal por crime de responsabilidade
(Decreto-lei 201/67) não impede sua responsabilização por atos de improbidade administrativa
previstos na Lei nº 8.429/92, em virtude da autonomia das instâncias” STF. Plenário. RE 976566,
Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 13/09/2019 (repercussão geral – Tema 576).

D) Incorreta. Lei n.º 8.429/92, Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa
lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial,
desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades
referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:

E) Incorreta. Lei 8.429/92, Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas
previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às
seguintes cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a
gravidade do fato.

Questão 4

(VUNESP - 2018 - TJ-SP - Juiz Substituto) No tocante à improbidade administrativa, pode-se


afirmar:

A) a contratação de obra pública mediante licitação viciada não caracteriza improbidade, caso
demonstrado que ela foi contratada e executada sem prejuízo ao erário.

B) ao beneficiário do ato de improbidade, devem ser impostas as mesmas penas aplicadas ao


agente público que o praticou, ressalvados, quanto ao ressarcimento do dano, o limite
representado pelo proveito econômico que auferiu.

C) a contratação de obra superfaturada por ato de improbidade implicará perda do valor do


contrato em favor do erário.

D) a caracterização de ato de improbidade por violação dos princípios da administração pública


exige prova de dolo do agente.

50
Comentário:

Gabarito: letra D.

A) Incorreta. De acordo com o STJ, o vício na licitação importa em presunção de prejuízo ao


erário – e importa em improbidade administrativa desde que demonstrado dolo ou culpa pelo
agente (STJ. 1ª Turma. REsp 1.499.706/SP, rel. Min. Gurgel de Faria, j. 02.02.2017).

B) Incorreta. O particular não se sujeita à perda do cargo público ou mandato eletivo, justamente
porque não os possui. De outro lado, o ressarcimento do dano não se limita ao proveito
econômico aferido pelo particular. Este, assim como o agente público, tem o dever de reparar
o dano, sem prejuízo do pagamento de multa.

C) Incorreta. Permitir que a Administração contrate por preço superior ao de mercado é ato de
improbidade administrativa que causa prejuízo ao erário (art. 10, V, da Lei n. 8.429/92). Como
tal, importa, entre outros, em (i) ressarcimento integral do dano, (ii) perda dos bens acrescidos
ao patrimônio, se houver, (iii) e multa de até duas vezes o valor do dano (art. 12, II, da Lei de
Improbidade).

D) Correta. O STJ entende que a configuração da improbidade administrativa do art. 11 da Lei


n. 8.429/92 pressupõe a comprovação de dolo – e, para tanto, basta o dolo genérico (STJ. 1ª
Turma. AgInt no AREsp n. 873.901/SP, rel. Min. Sérgio Kukina, j. 12.06.2018).

Questão 5

(TRF - 2ª Região - TRF - 2ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto - 2018) A Lei n. 8.429, de
2.6.1992, é o diploma regulador da improbidade administrativa. Com relação ao seu conteúdo,
integrado pela jurisprudência do STJ, analise as assertivas abaixo e, ao final, assinale a alternativa
correta:
I - se houve incorporação de verba repassada pela União ao patrimônio do Município, a
competência para apurar eventual ato de improbidade cometido pelo Prefeito é da justiça
federal.

51
II - Dispõe o verbete 209, da súmula de jurisprudência do STJ que compete à justiça estadual
processar e julgar Prefeito por desvio de verba transferida e incorporada ao patrimônio
municipal.
III - A configuração de ato de improbidade administrativa, descrito no art. 11 da Lei n. 8.429/92
dispensa a demonstração da ocorrência de dano para a administração pública ou o
enriquecimento ilícito do agente.
IV - É necessária a demonstração de risco para a administração em obter ressarcimento do
dano, como por exemplo na transferência de bens por parte do agente, para fundamentar a
decretação de indisponibilidade de bens.

A) Apenas a alternativa I está correta.

B) Apenas as alternativas II e IV estão corretas.

C) Apenas as alternativas I e III estão corretas.

D) Apenas as alternativas II e III estão corretas.

E) Nenhuma das alternativas está correta.

Comentário:

Gabarito: letra D.

I – Incorreta. Súmula 209-STJ: Compete à justiça estadual processar e julgar prefeito por desvio
de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal.

Súmula 208-STJ: Compete à justiça federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de
verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal.

II – Correta. Vide comentário da assertiva I.

III – Correta. Veja o julgado do STJ que se segue: “Para a configuração dos
atos de improbidade administrativa que atentam contra os princípios da administração pública
(art. 11 da Lei 8.429/1992), é DISPENSÁVEL a comprovação de efetivo prejuízo aos cofres

52
públicos”. STJ. 1ª Turma. REsp 1192758-MG, Rel. originário Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel.
para acórdão Min. Sérgio Kukina, julgado em 4/9/2014 (Info 547).

IV – Incorreta. Para que seja determinada a indisponibilidade de bens do agente, é desnecessária


a demonstração de risco para a administração em obter ressarcimento do dano.

Questão 6

(TRF - 2ª Região - TRF - 2ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto - 2018) Considere as assertivas
abaixo e assinale a alternativa correta. Segundo o STF:

I - É prescritível a ação de reparação de danos à Fazenda Pública decorrentes de ilícito civil.


II - É prescritível a ação de ressarcimento decorrente de ato de improbidade administrativa
praticado com culpa.
III- São imprescritíveis as ações de ressarcimento decorrentes de ato de improbidade
administrativa praticado com dolo.

A) Todas as assertivas estão corretas.

B) Somente a assertiva III está correta.

C) As assertivas II e III estão corretas.

D) As assertivas I e III estão corretas.

E) Somente a assertiva I está correta.

Comentário:

Gabarito: letra A.

I – É prescritível a ação de reparação de danos à Fazenda Pública decorrente de ilícito civil. Dito
de outro modo, se o Poder Público sofreu um dano ao erário decorrente de um ilícito civil e
deseja ser ressarcido, ele deverá ajuizar a ação no prazo prescricional previsto em lei. Vale
53
ressaltar, entretanto, que essa tese não alcança prejuízos que decorram de ato de improbidade
administrativa que, até o momento, continuam sendo considerados imprescritíveis (art. 37, § 5º).
[STF. Plenário. RE 669069/MG, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 3/2/2016 (repercussão geral)
(Info 813)].

II – Ação de ressarcimento decorrente de ato de improbidade administrativa praticado com


CULPA é PRESCRITÍVEL (devem ser propostas no prazo do art. 23 da LIA).

III – São imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário fundadas na prática de ato doloso
tipificado na Lei de Improbidade Administrativa. [STF. Plenário. RE 852475/SP, Rel. orig. Min.
Alexandre de Moraes, Rel. para acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 08/08/2018].

Questão 7

(CESPE - 2018 - TJ-CE - Juiz Substituto) O prefeito de determinado município contratou


diretamente empresa prestadora de serviços à prefeitura, dispensando indevidamente a licitação
e causando prejuízos ao erário, razão pela qual respondeu a ação civil por ato de improbidade
administrativa. O juízo competente, anteriormente à citação do prefeito e sem sua prévia
manifestação, deferiu medida cautelar de bloqueio de bens e, ao término da instrução
processual, julgou procedentes os pedidos condenatórios formulados na ação. A respeito dessa
situação hipotética, assinale a opção correta, considerando o disposto na Lei n.º 8.429/1992 e o
entendimento jurisprudencial.

A) Em razão do cargo que ocupa, o prefeito deveria ter sido submetido à legislação específica
referente à prática de crimes de responsabilidade em vez de responder a ação de improbidade
administrativa.

B) Dada a comprovação de concreta dilapidação patrimonial, o deferimento da medida cautelar


de indisponibilidade de bens deveria ter sido condicionado à prévia citação do prefeito.

C) No curso da instrução processual, a demonstração do dolo enquanto elemento subjetivo é


fundamental para a caracterização da conduta imputada ao prefeito como ato de improbidade
administrativa.

54
D) O ressarcimento integral do dano, a perda da função pública e a cassação dos direitos
políticos são sanções aplicáveis ao prefeito da situação hipotética, conforme a Lei n.º 8.429/1992.

E) Eventual reconhecimento de prescrição da ação de improbidade administrativa não impedirá


o prosseguimento da demanda relativa ao pedido de ressarcimento do prejuízo ao erário.

Comentário:

Gabarito: letra E.

A) Incorreta. O entendimento desta corte (STJ) é de que a Lei 8.429 se refere aos prefeitos e
vereadores, inexistindo incompatibilidade com o Decreto-Lei 201/67”.

B) Incorreta. Basta estar presente o fumus boni iuris, ou seja, a presença de fortes indícios de
dilapidação patrimonial.

C) Incorreta. Quando há prejuízo ao erário, tanto dolo ou culpa são elementos que configuram
lesão quando há conduta omissiva ou comissiva.

D) Incorreta. O ordenamento jurídico brasileiro veda a cassação dos direitos políticos.

E) Correta. Segundo o STJ, a eventual prescrição das sanções decorrentes dos atos de
improbidade administrativa não obsta o prosseguimento da demanda quanto ao
pleito de ressarcimentos dos danos causados ao erário, que é IMPRESCRITÍVEL (art. 37, § 5º da
CF).

Questão 8

(MPT - Procurador do Trabalho – 2020) A respeito da Lei nº 8.429/1992, analise as assertivas


abaixo:
I - Pessoas jurídicas de direito privado não podem ser responsabilizadas por atos de improbidade
administrativa, pois, ainda que recebam recursos públicos, o bem jurídico afetado com a suposta
lesão é o da entidade ou órgão público eventualmente responsável pelo repasse do recurso e
não do particular, mero executor da atividade pública, na qualidade de longa manus.
55
II - Constitui ato de improbidade administrativa o mero fato de o servidor público aceitar
emprego, comissão ou exercer atividade de consultoria ou assessoramento para pessoa física
ou jurídica que tenha interesse suscetível de ser atingido ou amparado por ação ou omissão
decorrente das suas atribuições, durante a atividade.
III - A perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos só se efetivam com o trânsito
em julgado da sentença condenatória.
IV - Com o objetivo de apurar qualquer possível ilícito previsto na Lei de Improbidade
Administrativa, o Ministério Público, de ofício, a requerimento de autoridade administrativa ou
mediante representação formulada por qualquer pessoa poderá requisitar a instauração de
procedimento administrativo, mas não de inquérito policial, pois o possível ato de improbidade
administrativa não se confunde com ilícito de natureza penal.
Assinale a alternativa CORRETA:

A) Apenas as assertivas II e IV estão corretas.

B) Apenas as assertivas II e III estão corretas.

C) Todas as assertivas estão corretas.

D) Todas as assertivas estão incorretas.

Comentário:

Gabarito: letra B.

Assertiva I – Incorreta. Nos termos do parágrafo único do art. 1º da LIA, “estão também sujeitos
às penalidades desta lei os atos de improbidade praticados contra o patrimônio de entidade
que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público bem como
daquelas para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com menos de
cinquenta por cento do patrimônio ou da receita anual, limitando-se, nestes casos, a sanção
patrimonial à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos”.

Assertiva II – Correta. O ato se enquadra como enriquecimento ilícito, nos termos do art. 9º,
inciso VIII da LIA (“aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de consultoria ou
assessoramento para pessoa física ou jurídica que tenha interesse suscetível de ser atingido ou
amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público, durante a
atividade”).

56
Assertiva III – Correta. A assertiva está em consonância com o art. 20 da LIA, que estipula que a
perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos só se efetivam com o trânsito em
julgado da sentença condenatória.

Assertiva IV – Incorreta. Para apurar qualquer ilícito previsto na LIA, o Ministério Público, de
ofício, a requerimento de autoridade administrativa ou mediante representação formulada de
acordo com o disposto no art. 14, poderá requisitar a instauração de inquérito policial ou
procedimento administrativo.

Questão 9

(CESPE/CEBRASPE – 2020 – MPE-CE – Promotor de Justiça de Entrância Inicial) Prefeito de


município da Federação, juntamente com um servidor público federal e um advogado privado,
cometeu ato de improbidade administrativa envolvendo recursos públicos federais conforme
previsão da Lei n.º 8.429/1992, o que causou prejuízo ao erário.

Nessa situação hipotética, o prazo prescricional para o ajuizamento da ação de improbidade


administrativa:

A) será imprescritível para todos os envolvidos, tenha sido sua conduta dolosa ou culposa, assim
como para as ações de ressarcimento ao erário decorrentes da improbidade.

B) iniciará, no caso do prefeito, após o término do primeiro mandato, ainda que ele seja reeleito
para o mesmo cargo.

C) iniciará, no caso do prefeito, após o término do segundo mandato, se ele tiver sido reeleito
para o mesmo cargo.

D) será, para o advogado e para o servidor público federal, o previsto no estatuto do servidor.

E) iniciará, no caso do prefeito e do servidor público federal, a partir da data da prática do ato.

Comentário:

57
Gabarito: letra C.

Para o Prefeito aplica-se o art. 23, I da LIA, que menciona o prazo de cinco anos após o término
do mandato. Ademais, em caso da reeleição, o prazo prescricional inicia-se após o segundo
mandato, conforme jurisprudência do STJ.

Para o servidor público aplica-se o art. 23, II da LIA, que estipula que ocorrerá dentro do prazo
prescricional previsto em lei específica nos casos de exercício de cargo efetivo ou emprego.

Já para o advogado, aplica-se a súmula 634, do STJ, aprovada em 2019, que estipula que “ao
particular aplica-se o mesmo regime prescricional previsto na Lei de Improbidade Administrativa
para o agente público”. Nesse caso, conforme jurisprudência, o prazo prescricional somente iria
se iniciar com o término do segundo mandato do prefeito (agente público).

Por fim, destaca-se que embora as sanções (Art. 12 da referida Lei, tais como, a multa e a
suspensão dos direitos políticos) decorrentes dos atos de improbidades sejam prescritíveis, nos
termos do mencionado Art. 23, as ações de ressarcimento de danos ao erário decorrentes de
atos dolosos ímprobos são imprescritíveis (Recurso Extraordinário nº 852.475 do STF, com
repercussão geral reconhecida).

Portanto, a única alternativa que se demonstra correta é a alternativa C.

Questão 10

(CESPE - DPE-DF – Defensor Público – 2019): No que se refere a mandado de segurança, ação
civil pública, ação de improbidade administrativa e ação rescisória, julgue o seguinte item.

De acordo com o STF, são imprescritíveis as ações de ressarcimento de danos ao erário


decorrentes de ato doloso de improbidade administrativa.

Certo

Errado

Comentário:

58
Gabarito: Certo

Era pacífico o entendimento do STJ e do STF no sentido de que a pretensão de ressarcimento


por prejuízo causado ao erário, manifestada na via da ação civil pública por improbidade
administrativa, era imprescritível.

É prescritível a ação de reparação de danos à fazenda pública decorrente de ilícito civil. Dito de
outro modo, se o poder público sofreu um dano ao erário decorrente de um ilícito civil e deseja
ser ressarcido, ele deverá ajuizar a ação no prazo prescricional previsto em lei. Vale ressaltar,
entretanto, que essa tese não alcança prejuízos que decorram de ato de improbidade
administrativa que, até o momento, continuam sendo considerados imprescritíveis (ART. 37, §
5º). STF. Plenário. RE 669069/MG, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 3/2/2016 (repercussão
geral) (Info 813).

Todavia, em data mais recente, o STF reafirmou que as ações de ressarcimento ao erário
envolvendo atos de improbidade administrativa são imprescritíveis. No entanto, o Tribunal fez
uma “exigência” a mais que não está explícita no art. 37, § 5º da CF/88. O Supremo afirmou que
somente são imprescritíveis as ações de ressarcimento envolvendo atos de improbidade
administrativa praticados DOLOSAMENTE. Assim, se o ato de improbidade administrativa causou
prejuízo ao erário, mas foi praticado com CULPA, então, neste caso, a ação de ressarcimento
será prescritível e deverá ser proposta no prazo do art. 23 da LIA.

“São imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário fundadas na prática de ATO DOLOSO


tipificado na Lei de Improbidade Administrativa”. STF. Plenário. RE 852475/SP, Rel. orig. Min.
Alexandre de Moraes, Rel. para acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 08/08/2018.

Questão 11

(CESPE - DPE-DF – Defensor Público – 2019): A respeito de improbidade administrativa e de


prescrição e decadência administrativa, julgue o item subsecutivo.
São imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário relativas à prática de atos dolosos ou
culposos tipificados como improbidade administrativa.
Certo
Errado

59
Comentário:

Gabarito: Errado.

O STF decidiu que são imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário fundadas na prática
de ato doloso tipificado na lei de improbidade administrativa. Logo, a imprescritibilidade da
ação de ressarcimento, nesse caso, se restringe às hipóteses de atos dolosos de improbidade
(RE 852.475/SP, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, agosto/2018).

Questão 12

(CESPE - DPE-DF – Defensor Público – 2019): A respeito de improbidade administrativa e de


prescrição e decadência administrativa, julgue o item subsecutivo.
O desrespeito ao princípio da moralidade pode ensejar, em certa medida, sanção legal, mas
não configura ato de improbidade administrativa.
Certo
Errado

Comentário:

Gabarito: Errado.

A violação a qualquer dos princípios que regem a administração pública pode importar em
improbidade administrativa. Segundo a Lei n.º 8.429/1992, os atos de improbidade
administrativa são aqueles que importam enriquecimento ilícito, causam prejuízo ao erário ou
atentam contra os princípios da administração pública.

Questão 13

(FCC - DPE-AM – Defensor Público - 2018): No que concerne ao alcance, objetivo e subjetivo,
das disposições da Lei de Improbidade, tem-se que
A) abrangem apenas condutas dolosas, exigindo-se, para configuração do ato de improbidade,
a comprovação de vício de legalidade ou má-fé do agente.

60
B) atingem particulares que tenham se beneficiado de forma direta ou indireta da conduta
improba.
C) estabelecem, como condição necessária para caracterização de improbidade, o
enriquecimento ilícito do agente cumulado com prejuízo à Administração.
D) aplicam-se exclusivamente às condutas perpetradas em detrimento de pessoa jurídica de
direito público.
E) atingem condutas comissivas e omissas, ambas com responsabilização objetiva e solidária dos
agentes públicos que praticaram ou se beneficiaram do ato.

Comentário:

Gabarito: letra D.

Quanto a letra A, conforme dispõe o art. 10, constitui ato de improbidade administrativa que
causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda
patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das
entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:

Em relação à letra B, o art. 3, as disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que,
mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de improbidade
ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.

Quanto à letra C, vimos que os atos que atentam contra os princípios da administração Pública
independem de enriquecimento ilícito ou de prejuízo ao erário.

A letra D é a correta, pois o art. 1° dispõe que os atos de improbidade praticados por qualquer
agente público, servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou fundacional de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território,
de empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o
erário haja concorrido ou concorra com mais de cinquenta por cento do patrimônio ou da
receita anual, serão punidos na forma desta lei.

Por fim, quanto à letra E, ainda que seja solidária, é necessário perquirir se houve conduta dolosa
ou culposa do agente, dependendo do ato de improbidade, razão pela qual a responsabilização
é subjetiva.

61
Questão 14

(FCC - DPE-RS – Defensor Público – 2018): Acerca do tema improbidade administrativa, é


INCORRETO afirmar:
A) O entendimento do Superior Tribunal de Justiça é que, para que seja reconhecida a tipificação
da conduta do réu como incurso nas prescrições da Lei de Improbidade Administrativa, é
necessária a demonstração do elemento subjetivo, consubstanciado pelo dolo, para os atos que
importem enriquecimento ilícito (artigo 9 ) e que atentem contra os Princípios da Administração
Pública (artigo 11), e, ao menos pela culpa, nas hipóteses de atos que causem prejuízo ao erário
(artigo 10);
B) A pessoa jurídica de direito público ou de direito privado, cujo ato seja objeto de impugnação,
poderá abster-se de contestar o pedido ou poderá atuar ao lado do autor, desde que isso se
afigure útil ao interesse público, a juízo do respectivo representante legal ou dirigente.
C) É viável o manejo da ação civil de improbidade exclusivamente contra o particular, sem a
concomitante presença de agente público no polo passivo da demanda.
D) Estão também sujeitos às penalidades da Lei n° 8.429/92 os responsáveis pelos atos de
improbidade praticados contra o patrimônio de entidade que receba subvenção, benefício ou
incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público, bem como daquelas para cuja criação ou custeio
o erário haja concorrido ou concorra com menos de cinquenta por cento do patrimônio ou da
receita anual, limitando-se, nesses casos, a sanção patrimonial à repercussão do ilícito sobre a
contribuição dos cofres públicos.
E) Da decisão que receber a petição inicial, caberá agravo de instrumento.

Comentário:

Gabarito: incorreta a letra C.

A letra A está correta. Inicialmente, deve ser realçado que o entendimento do STJ é no sentido
de que, para que seja reconhecida a tipificação da conduta do réu como incurso nas prescrições
da Lei de Improbidade Administrativa, é necessária a demonstração do elemento subjetivo,
consubstanciado pelo dolo para os tipos previstos nos artigos 9º e 11 e, ao menos, pela culpa,
nas hipóteses do artigo 10 (Superior Tribunal de Justiça STJ - RECURSO ESPECIAL : REsp 1444623
PR 2011/0263420-4)

A letra B também está correta e, como já explicamos em tópico específico, aplica-se o


procedimento da ação civil pública, assim, esse dispositivo é previsto na lei de ação civil pública.

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A letra C está incorreta, devendo ser assinalada, pois, conforme disposto no Informativo 535
STJ: DIREITO ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
AJUIZADA APENAS EM FACE DE PARTICULAR. Não é possível o ajuizamento de ação de
improbidade administrativa exclusivamente em face de particular, sem a concomitante presença
de agente público no polo passivo da demanda. De início, ressalta-se que os particulares estão
sujeitos aos ditames da Lei 8.429/1992 (LIA), não sendo, portanto, o conceito de sujeito ativo
do ato de improbidade restrito aos agentes públicos. Entretanto, analisandose o art. 3º da LIA,
observa-se que o particular será incurso nas sanções decorrentes do ato ímprobo nas seguintes
circunstâncias: a) induzir, ou seja, incutir no agente público o estado mental tendente à prática
do ilícito; b) concorrer juntamente com o agente público para a prática do ato; e c) quando se
beneficiar, direta ou indiretamente do ato ilícito praticado pelo agente público. Diante disso, é
inviável o manejo da ação civil de improbidade exclusivamente contra o particular. Precedentes
citados: REsp 896.044-PA, Segunda Turma, DJe 19/4/2011; REsp 1.181.300-PA, Segunda Turma,
DJe 24/9/2010. REsp 1.171.017-PA, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 25/2/2014.

A letra D está correta pois trata-se de previsão contida no art. 1ª da Lei de Improbidade
Administrativa: Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor
ou não, contra a administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incorporada
ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou
concorra com mais de cinquenta por cento do patrimônio ou da receita anual, serão punidos
na forma desta lei.

Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalidades desta lei os atos de improbidade
praticados contra o patrimônio de entidade que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal
ou creditício, de órgão público bem como daquelas para cuja criação ou custeio o erário haja
concorrido ou concorra com menos de cinquenta por cento do patrimônio ou da receita anual,
limitando-se, nestes casos, a sanção patrimonial à repercussão do ilícito sobre a contribuição
dos cofres públicos. (lei 8429)
Por fim, a letra E também está correta, sendo disposto no art. 17 § 10: da decisão que receber
a petição inicial, caberá agravo de instrumento

63
GABARITO

Questão 1 - A

Questão 2 - A

Questão 3 - C

Questão 4 - D

Questão 5 - D

Questão 6 - A

Questão 7 - E

Questão 8 - B

Questão 9 - C

Questão 10 - CERTO

Questão 11 - ERRADO

Questão 12 - ERRADO

Questão 13 - D

Questão 14 - C

64
QUESTÃO DESAFIO

Quais são as hipóteses de ato de improbidade? E qual desses atos


de improbidade comete o servidor público estadual que, no
exercício da função pública, concorrer para que terceiro enriqueça
ilicitamente?

Responda em até 5 linhas

65
GABARITO QUESTÃO DESAFIO

São três atos previstos na lei: dano ao erário, enriquecimento ilícito e atentado aos
princípios. Concorrer para que terceiro enriqueça ilicitamente, ainda que de forma culposa,
caracteriza ato de dano ao erário pois será enriquecimento quando o próprio servidor
enriquecer com a conduta praticada.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 Enriquecimento ilícito, dano ao erário e princípio.

A Lei de Improbidade prevê um regime amplo de aplicação dessa lei aos agentes públicos.
Até mesmo quem está vinculado temporariamente ao serviço público ou mesmo de forma não
remunerada (a exemplo de estágio voluntário) pode ser responsabilizado na forma da lei n.
8429.

Nesse sentido, existem hoje quatro modalidades de improbidade, sendo uma delas
específica do servidor que praticar omissão para conceder, aplicar ou manter benefício financeiro
ou tributário. As outras três condutas são de violação a princípios, dano ao erário e
enriquecimento ilícito.

Nesse sentido, José dos Santos Carvalho Filho resume muito bem o propósito de lei de
improbidade:

"Ação de improbidade administrativa é aquela em que se pretende o reconhecimento


judicial de condutas de improbidade na Administração, perpetradas por administradores
públicos e terceiros, e a consequente aplicação das sanções legais, com o escopo de
preservar o princípio da moralidade administrativa. Sem dúvida, cuida-se de poderoso
instrumento de controle judicial sobre atos que a lei caracteriza como de improbidade."32

Como afirmamos, são quatro as possibilidades, sendo as três principais: por


enriquecimento ilícito do servidor (punível apenas por dolo), por dano ao erário (punível se for
com dolo ou culpa) e atos atentatórios aos princípios administrativos (punível por dolo apenas).

32
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo – 33. ed. – São Paulo: Atlas, 2019.p.1483.
66
Vale a pena revisitar os artigos da lei n. 8429:

"Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento ilícito


auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo,
mandato, função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art. 1° desta lei, e
notadamente:

I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer outra
vantagem econômica, direta ou indireta, a título de comissão, percentagem, gratificação
ou presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido ou
amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público;

II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a aquisição, permuta


ou locação de bem móvel ou imóvel, ou a contratação de serviços pelas entidades referidas
no art. 1° por preço superior ao valor de mercado;

III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a alienação, permuta
ou locação de bem público ou o fornecimento de serviço por ente estatal por preço
inferior ao valor de mercado;

[...]"

Perceba que os verbos e formas de praticar ato de enriquecimento ilícito estão bastante
voltadas para o servidor na sua atuação.

"Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer
ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º
desta lei, e notadamente:
I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio particular,
de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo
patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;
II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens, rendas,
verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º
desta lei, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à
espécie;
III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente despersonalizado, ainda que de
fins educativos ou assistências, bens, rendas, verbas ou valores do patrimônio de qualquer
das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância das formalidades legais
e regulamentares aplicáveis à espécie;
[...]"

67
Aqui percebe-se que o dano é gerado por permitir que terceiro enriqueça com o
patrimônio público, gerando um dano ao erário.

“Art. 10-A. Constitui ato de improbidade administrativa qualquer ação ou omissão para
conceder, aplicar ou manter benefício financeiro ou tributário contrário ao que dispõem
o caput e o § 1º do art. 8º-A da Lei Complementar nº 116, de 31 de julho de
2003. (Incluído pela Lei Complementar nº 157, de 2016) (Produção de efeito)”
"Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da
administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade,
imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:
I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto,
na regra de competência;
II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;
III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que deva
permanecer em segredo;
IV - negar publicidade aos atos oficiais;
[...]"

Não há grandes dificuldades aqui nos atos atentatórios. Apenas precisa estar em dia com
a leitura de cada inciso do art. 11.

 Enriquecimento de terceiro gera dano ao erário

No caso apresentado no enunciado do quesito foi narrada hipótese de dano ao erário.


Por que? Ainda que o enunciado mencione que houve enriquecimento ilícito, atente que o
enriquecimento foi de TERCEIRO, não do servidor. A questão perguntou por qual ato ele, o
servidor, responderia. A resposta, sem dúvida, é dano ao erário, ainda que sua conduta tenha
sido culposa.

É que nos atos que geram dano ao erário pouco importa se o servidor agiu por dolo ou
culpa. Responderá por improbidade.

Assim memorize da seguinte forma:

 Quando o ato me beneficia: enriquecimento ilícito;


 Quando o ato beneficia terceiro: prejuízo ao erário;
 Quando o ato não beneficia ninguém especificamente: atentam contra os princípios da
AP.

68
Observe que José dos Santos Carvalho Filho alerta para o fato de que nem sempre o
dano ao erário pressupõe algum enriquecimento ilícito de terceiro, pois o art. 10 da lei 8429
prevê hipótese de dano ao erário sem enriquecimento de outrem. Mas a recíproca não é
verdadeira: sempre que houver enriquecimento ilícito de terceiro, haverá dano ao erário.
Vejamos o que diz o doutrinador:

"Pressuposto dispensável é a ocorrência de enriquecimento ilícito. A conduta pode


provocar dano ao erário sem que alguém se locuplete indevidamente. É o caso em que o
agente público realiza operação financeira sem observância das normas legais e
regulamentares (art. 10, inciso VI)."33

"Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer
ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º
desta lei, e notadamente:

[...] VI - realizar operação financeira sem observância das normas legais e regulamentares
ou aceitar garantia insuficiente ou inidônea;"

33
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo – 33. ed. – São Paulo: Atlas, 2019.p. 1498.
69
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Caro aluno, a leitura da legislação correlata e a compreensão do raciocínio jurídico e

entendimentos utilizados pelos Tribunais Superiores são de extrema importância para atingir
resultados positivos em certames de concursos públicos.
Diante disso, trouxemos, de forma esquematizada, as leis e dispositivos indicados para

estudarmos este capítulo de forma completa e abarcar todas as possibilidades de cobranças em


provas.

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:
 Lei 8.429/92: íntegra

Comentário:
A Lei de Improbidade Administrativa prevê quem são os agentes que podem ser alvo de ação de improbidade,
quais circunstâncias, condições, classificações e sanções das condutas. Além disso, explicita o procedimento que
deve ser adotado diante de atos de improbidades. Por ser a legislação específica sobre a matéria, seus dispositivos
são bastante cobrados nas provas de concurso público, principalmente os artigos 9º, 10, 10-A, 11 e 12. Além disso,
recomendamos atenção redobrada para a leitura das recentes modificações introduzidas pelo Pacote Anticrime (Lei
13.964/2019).

 STJ: Súmula 599

O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a Administração Pública.

MORALIDADE ADMINISTRATIVA:
 CFRB/88: art. 14, § 9º; art. 15, V; art. 37, § 4º, art. 85, V

Comentário:
Os artigos da Constituição Federal merecem uma leitura atenciosa, tendo em vista que sempre possuem grandes
chances de serem cobrados nos certames de Carreiras Jurídicas e serem a base de todo o ordenamento jurídico.

70
AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:
 Lei nº 7.347/85: íntegra

 Enunciado 7 da I Jornada de Direito Administrativo CJF/STJ

Configura ato de improbidade administrativa a conduta do agente público que, em atuação legislativa lato sensu,
recebe vantagem econômica indevida.

PRESCRIÇÃO:
 STJ: Súmula 634

Ao particular aplica-se o mesmo regime prescricional previsto na lei de improbidade administrativa para os agentes
públicos. Importante. Aprovada em 12/06/2019, DJe 17/06/2019.

Comentário:
O sujeito ativo do ato de improbidade administrativa pode ser pessoa física ou pessoa jurídica, englobando tanto
agentes públicos quanto terceiros envolvidos. Terceiros são as pessoas físicas ou jurídicas que, mesmo não sendo
agentes públicos, induziram ou concorreram para a prática de ato de improbidade ou dele se beneficiou direta ou
indiretamente. Desse modo, ao falar em “particular”, a súmula refere-se ao terceiro que participou do ato junto
com o agente público.

71
JURISPRUDÊNCIA

PRESCRIÇÃO:
 RE 852475, Relator(a): Min. ALEXANDRE DE MORAES, Relator(a) p/ Acórdão: Min. EDSON FACHIN,
Tribunal Pleno, julgado em 08/08/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-058 DIVULG 22-03-2019
PUBLIC 25-03-2019

DIREITO CONSTITUCIONAL. DIREITO ADMINISTRATIVO. RESSARCIMENTO AO ERÁRIO. IMPRESCRITIBILIDADE.


SENTIDO E ALCANCE DO ART. 37, § 5 º, DA CONSTITUIÇÃO. 1. A prescrição é instituto que milita em favor da
estabilização das relações sociais. 2. Há, no entanto, uma série de exceções explícitas no texto constitucional, como
a prática dos crimes de racismo (art. 5º, XLII, CRFB) e da ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem
constitucional e o Estado Democrático (art. 5º, XLIV, CRFB). 3. O texto constitucional é expresso (art. 37, § 5º, CRFB)
ao prever que a lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos na esfera cível ou penal, aqui entendidas em
sentido amplo, que gerem prejuízo ao erário e sejam praticados por qualquer agente. 4. A Constituição, no mesmo
dispositivo (art. 37, § 5º, CRFB) decota de tal comando para o Legislador as ações cíveis de ressarcimento ao erário,
tornando-as, assim, imprescritíveis. 5. São, portanto, imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário
fundadas na prática de ato doloso tipificado na Lei de Improbidade Administrativa. 6. Parcial provimento do
recurso extraordinário para (i) afastar a prescrição da sanção de ressarcimento e (ii) determinar que o tribunal
recorrido, superada a preliminar de mérito pela imprescritibilidade das ações de ressarcimento por improbidade
administrativa, aprecie o mérito apenas quanto à pretensão de ressarcimento.

Comentário:

A propositura de ações de improbidade administrativa tem, como regra, o prazo prescricional de 5 anos, previsto
no art. 23 da Lei nº 8.429/92:

Art. 23. As ações destinadas a levar a efeitos as sanções previstas nesta lei podem ser propostas:
I - até cinco anos após o término do exercício de mandato, de cargo em comissão ou de função de confiança;
II - dentro do prazo prescricional previsto em lei específica para faltas disciplinares puníveis com demissão a bem
do serviço público, nos casos de exercício de cargo efetivo ou emprego.
III - até cinco anos da data da apresentação à administração pública da prestação de contas final pelas entidades
referidas no parágrafo único do art. 1o desta Lei.

72
Exceção: as ações de ressarcimento ao erário em decorrência de ato de improbidade doloso são imprescritíveis,
conforme entendimento recente do STF. Isto porque o art. 37, §5º da Constituição Federal afirma:

Art. 37 (...) § 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor ou
não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento.

Assim, o texto constitucional, de acordo com a interpretação dada pelo STF, seria expresso ao prever a ressalva da
imprescritibilidade do ressarcimento ao erário em casos de improbidade administrativa. Desse modo, a
imprescritibilidade teria interpretação restrita e não pode ser aplicada a ressarcimentos decorrentes de outros ilícitos
civis.

Desse modo, Márcio André Lopes Cavalcante discorre sobre esse julgado no site do Dizer o Direito 34:

“Podemos fazer a seguinte distinção:

Ação de reparação de danos à Fazenda Pública é PRESCRITÍVEL

decorrentes de ilícito civil (STF RE 669069/MG).

é PRESCRITÍVEL
Ação de ressarcimento decorrente de
(devem ser propostas no
ato de improbidade administrativa praticado com CULPA
prazo do art. 23 da LIA).

Ação de ressarcimento decorrente de é IMPRESCRITÍVEL

ato de improbidade administrativa praticado com DOLO (§ 5º do art. 37 da CF/88).

Imprescritibilidade somente vale para atos de improbidade praticados com DOLO

O STF entendeu, portanto, que as ações de ressarcimento ao erário envolvendo atos de improbidade administrativa
são imprescritíveis. No entanto, o Tribunal fez uma “exigência” a mais que não está explícita no art. 37, § 5º da
CF/88.

34
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Imprescritibilidade da ação de ressarcimento ao erário em caso de atos de improbidade
praticados dolosamente. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/d5fcc35c94879a4afad61cacca56192c . Acesso em: 23/12/2020
73
O Supremo afirmou que somente são imprescritíveis as ações de ressarcimento envolvendo atos de improbidade
administrativa praticados DOLOSAMENTE.

Assim, se o ato de improbidade administrativa causou prejuízo ao erário, mas foi praticado com CULPA, então,
neste caso, a ação de ressarcimento será prescritível e deverá ser proposta no prazo do art. 23 da LIA.

E existem atos de improbidade administrativa CULPOSOS que causam prejuízo ao erário?

SIM. Isso é possível, nos termos do art. 10 da Lei nº 8.429/92:

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa
ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres
das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:

(...)

Vale ressaltar que apenas o art. 10 da Lei nº 8.429/92 admite a prática de ato CULPOSO de improbidade
administrativa. Relembre”:

Critério objetivo Critério subjetivo

Art. 9º — Atos de improbidade que importam enriquecimento ilícito do Exige DOLO


agente público

Art. 10 — Atos de improbidade que causam prejuízo ao erário Pode ser DOLO ou,
no mínimo, CULPA

Art. 10-A — Atos de improbidade administrativa decorrentes de concessão Exige DOLO


ou aplicação indevida de benefício financeiro ou tributário

Art. 11 — Atos de improbidade que atentam contra princípios da Exige DOLO


administração pública

 STJ. 2ª Turma. REsp 1414757-RN, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 6/10/2015 (Info 571).

O prazo prescricional em ação de improbidade administrativa movida contra prefeito reeleito só se inicia após
o término do segundo mandato, ainda que tenha havido descontinuidade entre o primeiro e o segundo
mandato em razão da anulação de pleito eleitoral, com posse provisória do Presidente da Câmara, por
determinação da Justiça Eleitoral, antes da reeleição do prefeito em novas eleições convocadas.

74
Comentário:

Exemplo: João foi Prefeito no período jan/2001 a dez/2004 (primeiro mandato). Em 2002 ele praticou um ato de
improbidade administrativa. Em out/2004 concorreu e conseguiu ser reeleito para um novo mandato (que seria de
jan/2005 a dez/2008). Ocorre que não chegou a tomar posse em 1º de janeiro de 2005, pois teve seu registro de
candidatura cassado em virtude de condenação na Justiça Eleitoral. Tomou posse o Presidente da Câmara Municipal.
O TRE marcou nova eleição para o Município e João foi novamente eleito, tendo tomado posse em fevereiro de
2006. Desse modo, João ficou fora da Prefeitura durante 1 ano e 1 mês, período no qual o Município foi comandado
pelo Presidente da Câmara. Em 2008, acabou o segundo mandato de João. O prazo prescricional quanto à
improbidade praticada em 2002 somente se iniciou em dezembro de 2008 com o término do segundo mandato.35

INDISPONIBILIDADE DE BENS:
 AgInt no REsp 1670672/RJ, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em
30/11/2017, DJe 19/12/2017

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. DECRETO DE


INDISPONIBILIDADE. BEM DE FAMÍLIA. POSSIBILIDADE. JURISPRUDÊNCIA DO STJ. 1. A jurisprudência desta Corte
Superior de Justiça é assente em admitir a decretação de indisponibilidade prevista na Lei de Improbidade
Administrativa sobre bem de família. Precedentes: AgInt no REsp 1633282/SC, Segunda Turma, Rel. Ministro
Francisco Falcão, DJe 26/06/2017; AgRg no REsp 1483040/SC, Primeira Turma, Minha Relatoria, DJe 21/09/2015;
REsp 1461882/PA, Primeira Turma, Rel. Ministro Sérgio Kukina, DJe 12/03/2015. 2. Agravo interno não provido.

 STJ, AgRg no REsp 1.299.936-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 18/4/2013 (Info
523).

No caso de improbidade administrativa, admite-se a decretação da indisponibilidade de bens também na


hipótese em que a conduta tida como ímproba se subsuma apenas ao disposto no art. 11 da Lei 8.429/1992,
que trata dos atos que atentam contra os princípios da administração pública. Pois também deve se levar em
consideração o valor de possível multa civil, que é sanção autônoma aplicável nos casos de condutas ímprobas
que atentem contra os princípios da Administração Pública. Precedentes

35
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Termo inicial do prazo prescricional no caso de reeleição. Buscador Dizer o Direito,
Manaus. Disponível em: https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/7f1171a78ce0780a2142a6eb7bc4f3c8
. Acesso em: 23/12/2020
75
 STJ, REsp 1176440-RO, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 17/9/2013.

A indisponibilidade pode ser determinada sobre bens com valor superior ao mencionado na petição inicial da ação
de improbidade (ex.: a petição inicial narra um prejuízo ao erário de R$ 100 mil, mas o MP pede a indisponibilidade
de R$ 500 mil do requerido)? SIM. É possível que se determine a indisponibilidade de bens em valor superior ao
indicado na inicial da ação, visando a garantir o integral ressarcimento de eventual prejuízo ao erário, levando-se
em consideração, até mesmo, o valor de possível multa civil como sanção autônoma. Isso porque a indisponibilidade
acautelatória prevista na Lei de Improbidade Administrativa tem como finalidade a reparação integral dos danos
que porventura tenham sido causados ao erário.

 STJ. 1ª Turma. REsp 1301695/RS, Rel. Min. Olindo Menezes (Des. Conv. TRF 1ª Região), julgado
em 06/10/2015.

A indisponibilidade pode recair sobre bens adquiridos tanto antes quanto depois da prática do ato de
improbidade. A jurisprudência do STJ abona a possibilidade de que a indisponibilidade, na ação de improbidade
administrativa, recaia sobre bens adquiridos antes do fato descrito na inicial. A medida se dá como garantia de
futura execução em caso de constatação do ato ímprobo.

 STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 671281/BA, Rel. Min. Olindo Menezes (Des. Conv. do TRF 1ª
Região), julgado em 03/09/2015.

É admissível a concessão de liminar inaudita altera parte para a decretação de indisponibilidade e sequestro
de bens, visando assegurar o resultado útil da tutela jurisdicional, qual seja, o ressarcimento ao Erário. Desse
modo, o STJ entende que, ante sua natureza acautelatória, a medida de indisponibilidade de bens em ação de
improbidade administrativa pode ser deferida nos autos da ação principal sem audiência da parte adversa e,
portanto, antes da notificação para defesa prévia (art. 17, § 7º da LIA).

 STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1483040/SC, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 01/09/2015).

Segundo decidiu o STJ, as verbas absolutamente impenhoráveis não podem ser objeto da medida de
indisponibilidade na ação de improbidade administrativa. Isso porque, sendo elas impenhoráveis, não poderão
assegurar uma futura execução (STJ. 1ª Turma. REsp 1164037/RS, Rel. p/ Ac. Min. Napoleão Nunes Maia Filho,
julgado em 20/02/2014). Vale ressaltar que esse entendimento acima exposto (REsp 1164037/RS) é
contraditório com julgados do STJ que afirmam que é possível que a indisponibilidade recaia sobre bem de
família, por exemplo, que, como se sabe, é impenhorável.

76
OUTROS JULGADOS SOBRE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:
 STJ. 1ª Turma. REsp 952.351-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 4/10/2012.

A petição inicial na ação por ato de improbidade administrativa, além dos requisitos do art. 282 do CPC/1973
(art. 319 do CPC/2015), deve ser instruída com documentos ou justificação que contenham indícios suficientes
da existência do ato de improbidade – justa causa. Assim, diz que a ação de improbidade administrativa, além
das condições genéricas da ação, exige ainda a presença da justa causa. STJ. 1ª Turma. REsp 952.351-RJ, Rel.
Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 4/10/2012.

 STJ, Primeira Turma, REsp 970393, Rel. Min. Benedito Gonçalves, DJe de 29/06/2012

Pessoa jurídica de direito privado, ainda que não integrante da Administração Pública, pode figurar como ré em
ação de improbidade administrativa, ainda que desacompanhada de seus sócios.

Comentário:
Tem apoio não apenas no art. 3º recém referido, mas também em recente precedente do STJ. Com efeito, uma
empresa particular também pode ter concorrido para a prática do ato de improbidade, ou então dele se
beneficiado, atraindo a incidência do art. 3º da Lei 8.429/92. Por outro lado, não se nega a existência jurídica de
tal ente, que não se confunde com a pessoa (física) dos seus sócios; daí não haver, na lei, qualquer exigência de
que os sócios também sejam demandados na ação de improbidade.

 STJ. 2ª Turma. REsp 817.921/SP, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 27/11/2012.

A dispensa indevida de licitação ocasiona prejuízo ao erário in re ipsa. Para o STJ, em casos de fracionamento
de compras e contratações com o objetivo de se dispensar ilegalmente o procedimento licitatório, o prejuízo
ao erário é considerado presumido (in re ipsa), na medida em que o Poder Público, por força da conduta ímproba
do administrador, deixa de contratar a melhor proposta, o que gera prejuízos aos cofres públicos. STJ. 2ª Turma.
REsp 1280321/MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 06/03/2012. Assim, a indevida dispensa de
licitação, por impedir que a administração pública contrate a melhor proposta, causa dano in re ipsa, descabendo
exigir do autor da ação civil pública prova a respeito do tema. STJ. 2ª Turma. REsp 817.921/SP, Rel. Min. Castro
Meira, julgado em 27/11/2012. A fraude à licitação tem como consequência o chamado dano in re ipsa. STJ. 2ª
Turma. AgRg nos EDcl no AREsp 419.769/SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 18/10/2016. Obs.: existem
alguns julgados da 1ª Turma em sentido contrário, mas são mais antigos (ex: REsp 1.173.677-MG).

 STJ. 2ª Turma. REsp 1286466/RS, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 03/09/2013.

77
O assédio moral, mais do que provocações no local de trabalho — sarcasmo, crítica, zombaria e trote —, é
campanha de terror psicológico pela rejeição. A prática de assédio moral enquadra-se na conduta prevista no
art. 11, caput, da Lei nº 8.429/92, em razão do evidente abuso de poder, desvio de finalidade e malferimento
à impessoalidade, ao agir deliberadamente em prejuízo de alguém. STJ, julgado em 03/09/2013.

 Ag. Reg. no RE n. 590.136-mt, Relator: Min. Dias Toffoli, DJ 20 a 24 de maio de 2013 (Info 707).

Inexiste foro por prerrogativa de função nas ações de improbidade administrativa. 2. Matéria já pacificada na
jurisprudência da Suprema Corte.

 STJ. 2ª Turma. REsp 1255120-SC, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 21/5/2013 (Info 523).

Configura ato de improbidade administrativa a conduta de professor da rede pública de ensino que, aproveitando-
se dessa condição, assedie sexualmente seus alunos. Isso porque essa conduta atenta contra os princípios da
administração pública, subsumindo-se ao disposto no art. 11 da Lei nº 8.429/1992.

 STJ. 2ª Turma. REsp 1289993/RO, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 19/09/2013.

Existe prescrição intercorrente nas ações de improbidade administrativa? Ex.: se, depois de ajuizada a ação, a
sentença demorar mais que 5 anos para ser prolatada, poderemos considerar que houve prescrição? NÃO. O art.
23 da Lei nº 8.429/92 regula o prazo prescricional para a propositura da ação de improbidade administrativa. Logo,
não haverá prescrição se a ação foi ajuizada no prazo, tendo demorado, contudo, mais que 5 anos do
ajuizamento para ser julgada.

 AgRg na Rcl 12.514/MT, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, CORTE ESPECIAL, julgado em 16/09/2013,
DJe 26/09/2013

PROCESSO CIVIL. COMPETÊNCIA. AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. A ação de improbidade


administrativa deve ser processada e julgada nas instâncias ordinárias, ainda que proposta contra agente
político que tenha foro privilegiado no âmbito penal e nos crimes de responsabilidade. Agravo regimental
desprovido. (AgRg na Rcl 12.514/MT, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, CORTE ESPECIAL, julgado em 16/09/2013, DJe
26/09/2013)

 STJ. 1ª Turma. REsp 1403361/RN, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 03/12/2013.

Configura ato de improbidade administrativa a contratação temporária irregular de pessoal (sem qualquer
amparo legal) porque importa em violação do princípio constitucional do concurso público.

78
 STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.382.436-RN, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 20/8/2013
(Info 529)

A ausência de prestação de contas, quando ocorre de forma dolosa, acarreta violação ao Princípio da
Publicidade. Vale ressaltar, no entanto, que o simples atraso na entrega das contas, sem que exista dolo na
espécie, não configura ato de improbidade. Para a configuração do ato de improbidade previsto no art. 11, inc.
VI, da Lei nº 8.429/92, não basta o mero atraso na prestação de contas, sendo necessário demonstrar a má-fé ou
o dolo genérico.

 STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 307.583/RN, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 18/06/2013.

A configuração do ato de improbidade por ofensa a princípio da administração depende da demonstração do


chamado dolo genérico ou lato sensu (STJ. 2ª Turma. REsp 1383649/SE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em
05/09/2013). Ressalte-se que não se exige dolo específico (elemento subjetivo específico) para sua tipificação. STJ.
2ª Turma. AgRg no AREsp 307.583/RN, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 18/06/2013.

 STJ. 1ª Turma. REsp 1293624-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 5/12/2013
(Info 533).

O tribunal pode reduzir o valor evidentemente excessivo ou desproporcional da pena de multa por ato de
improbidade administrativa (art. 12 da Lei 8.429/1992), ainda que na apelação não tenha havido pedido expresso
para sua redução. Apesar da regra da correlação ou congruência da decisão, prevista nos arts. 128 e 460 do
CPC/1973 (arts. 141 e 492 do CPC/2015), pela qual o juiz está restrito aos elementos objetivos da demanda,
entende-se que, em se tratando de matéria de Direito Sancionador e revelando-se patente o excesso ou a
desproporção da sanção aplicada, pode o Tribunal reduzi-la, ainda que não tenha sido alvo de impugnação recursal.

 STJ. 1ª Turma. REsp 1171017-PA, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 25/2/2014 (Info 535).

É possível imaginar que exista ato de improbidade com a atuação apenas do “terceiro” (sem a participação de um
agente público)? É possível que, em uma ação de improbidade administrativa, o terceiro figure sozinho como réu?
NÃO. Para que o terceiro seja responsabilizado pelas sanções da Lei nº 8.429/92 é indispensável que seja
identificado algum agente público como autor da prática do ato de improbidade. Assim, não é possível a
propositura de ação de improbidade exclusivamente contra o particular, sem a concomitante presença de agente
público no polo passivo da demanda.

 STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1306817/AC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em
06/05/2014.
79
Para a configuração dos atos de improbidade tipificados no art. 11 da Lei nº 8.429/92, exige-se que a conduta
seja praticada por agente público (ou a ele equiparado), atuando no exercício de seu munus público, havendo,
ainda, a necessidade do preenchimento dos seguintes requisitos: a) conduta ilícita; b) improbidade do ato,
configurada pela tipicidade do comportamento, ajustado em algum dos incisos do 11 da LIA; c) elemento
volitivo, consubstanciado no DOLO de cometer a ilicitude e causar prejuízo ao Erário; d) ofensa aos princípios
da Administração Pública.

 STJ. 1ª Turma. REsp 1.414.669-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 20/2/2014
(Info 537)

Médico de hospital conveniado com o SUS que cobra do paciente por uma cirurgia que já foi paga pelo plano de
saúde não pratica improbidade administrativa.

 STJ. 1ª Turma. REsp 1164037-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel. para acórdão Min. Napoleão Nunes
Maia Filho, julgado em 20/2/2014 (Info 539).

A indisponibilidade pode recair sobre verbas salariais investidas em aplicação financeira? NÃO. A 1ª Turma do STJ
decidiu que os valores investidos em aplicações financeiras cuja origem remonte a verbas trabalhistas não podem
ser objeto de medida de indisponibilidade em sede de ação de improbidade administrativa. Isso porque a aplicação
financeira das verbas trabalhistas não implica a perda da natureza salarial destas, uma vez que o seu uso pelo
empregado ou trabalhador é uma defesa contra a inflação e os infortúnios. Desse modo, é possível a
indisponibilidade do rendimento da aplicação, mas o estoque de capital investido, de natureza salarial, é
impenhorável.

 STJ. 1ª Turma. REsp 1186787/MG, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 24/04/2014.

Os notários e registradores podem ser considerados agentes públicos para fins de improbidade administrativa.

 STJ. 1ª Turma. REsp 1193248-MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em
24/4/2014 (Info 540).

Toda conduta ilegal é um ato de improbidade administrativa? NÃO. Conforme explica o Min. Napoleão Nunes Maia
Filho, a distinção entre conduta ilegal e conduta ímproba imputada a agente público ou privado é muito antiga. A
ilegalidade e a improbidade não são situações ou conceitos intercambiáveis, cada uma delas tendo o seu
significado. A improbidade é uma ilegalidade qualificada pelo intuito malsão (nocivo) do agente, atuando com
desonestidade, malícia, dolo ou culpa grave. Em outras palavras, nem todas as vezes que o agente praticar um
ato ilegal, ele terá cometido um ato ímprobo. Para que o ato ilegal seja considerado ímprobo, exige-se um
plus, que é o intuito de atuar com desonestidade, malícia, dolo ou culpa grave. A confusão entre os dois
80
conceitos existe porque o art. 11 da Lei nº 8.429/92, prevê como ato de improbidade qualquer conduta que ofenda
os princípios da Administração Pública, entre os quais se inscreve o da legalidade (art. 37 da CF). Mas isso não
significa, repito, que toda ilegalidade é ímproba. A conduta do agente não pode ser considerada ímproba
analisando-se a questão apenas do ponto de vista objetivo, o que iria gerar a responsabilidade objetiva. Quando
não se faz distinção conceitual entre ilegalidade e improbidade, corre-se o risco de adotar-se a responsabilidade
objetiva.

 STJ. 1ª Turma. REsp 1387960-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 22/5/2014 (Info 543).

O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública cujo pedido seja a condenação por improbidade
administrativa de agente público que tenha cobrado taxa por valor superior ao custo do serviço prestado, ainda
que a causa de pedir envolva questões tributárias.

 STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 496566/DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 27/05/2014.

Configura ato de improbidade administrativa a propaganda ou campanha publicitária que tem por objetivo
promover favorecimento pessoal, de terceiro, de partido ou de ideologia, com utilização indevida da máquina
pública

 STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 18.317/MG, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 05/06/2014.

Para a condenação por ato de improbidade administrativa no art. 10, é indispensável a demonstração de que
ocorreu efetivo dano ao erário.

Comentário:
Para a configuração dos atos de improbidade administrativa que atentam contra os princípios da administração
pública (art. 11 da Lei 8.429/1992), também é DISPENSÁVEL a comprovação de efetivo prejuízo aos cofres públicos.

 STJ. 2ª Turma. REsp 1.391.212-PE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 2/9/2014 (Info 546)

De quem será a competência para julgar ação de improbidade em caso de desvio de verbas transferidas pela União
ao Município por meio de convênio? • Se, pelas regras do convênio, a verba transferida deve ser incorporada
ao patrimônio municipal, a competência para a ação será da Justiça Estadual (Súmula 209-STJ). • Ao contrário,
se o convênio prevê que a verba transferida não é incorporada ao patrimônio municipal, ficando sujeita à
prestação de contas perante o órgão federal, a competência para a ação será da Justiça Federal (Súmula 208-
STJ).

81
 STJ. 1ª Turma. REsp 1192758-MG, Rel. originário Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para
acórdão Min. Sérgio Kukina, julgado em 4/9/2014 (Info 547).

Princípio do in dubio pro societate nas ações de improbidade administrativa: De acordo com a orientação
jurisprudencial do STJ, existindo meros indícios de cometimento de atos enquadrados como improbidade
administrativa, a petição inicial da ação de improbidade deve ser recebida pelo juiz, pois, na fase inicial prevista no
art. 17, §§ 7º, 8º e 9º da Lei nº 8.429/92, vale o princípio do in dubio pro societate, a fim de possibilitar o maior
resguardo do interesse público (AgRg no REsp 1.317.127-ES). Assim, após o oferecimento de defesa prévia, somente
é possível a pronta rejeição da pretensão deduzida na ação de improbidade administrativa se houver prova hábil
a evidenciar, de plano: • a inexistência de ato de improbidade; • a improcedência da ação; ou • a inadequação da
via eleita. STJ, julgado em 4/9/2014 (Info 547).

 STJ. 1ª Seção. EREsp 1215121-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 14/8/2014
(Info 549).

As penalidades aplicadas em decorrência da prática de ato de improbidade administrativa podem ser revistas em
recurso especial desde que esteja patente a violação aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. O STJ
entende que isso não configura reexame de prova, não encontrando óbice na Súmula 7 da Corte (A pretensão de
simples reexame de prova não enseja recurso especial).

 STJ. 1ª Seção. CC 131.323-TO, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 25/3/2015 (Info
559).

Regra: compete à Justiça Estadual (e não à Justiça Federal) processar e julgar ação civil pública de improbidade
administrativa na qual se apure irregularidades na prestação de contas, por ex-prefeito, relacionadas a verbas
federais transferidas mediante convênio e incorporadas ao patrimônio municipal. • Exceção: será de competência
da Justiça Federal se a União, autarquia federal, fundação federal ou empresa pública federal manifestar
expressamente interesse de intervir na causa porque, neste caso, a situação se amoldará no art. 109, I, da
CF/88.

 STJ. 1ª Turma. REsp 1191613-MG, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 19/3/2015 (Info 560).

O membro do Ministério Público pode ser processado e condenado por ato de improbidade administrativa?
SIM. É pacífico o entendimento de que o Promotor de Justiça (ou Procurador da República) pode ser processado
e condenado por ato de improbidade administrativa, com fundamento na Lei 8.429/92.
Mesmo gozando de vitaliciedade e a Lei prevendo uma série de condições para a perda do cargo, o membro do
MP, se for réu em uma ação de improbidade administrativa, poderá ser condenado à perda da função pública? O

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membro do MP pode ser réu em uma ação de improbidade de que trata a Lei 8.429/92 e, ao final, ser condenado
à perda do cargo mesmo sem ser adotado o procedimento da Lei 8.625/93 e da LC 75/93?
SIM. O STJ decidiu que é possível, no âmbito de ação civil pública de improbidade administrativa, a condenação
de membro do Ministério Público à pena de perda da função pública prevista no art. 12 da Lei 8.429/92.
A Lei 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do MP) e a LC 75/93 preveem uma série de regras para que possa ser
ajuizada ação civil pública de perda do cargo contra o membro do MP. Tais disposições impedem que o membro
do MP perca o cargo em ação de improbidade?
NÃO. Segundo o STJ, o fato de essas leis preverem a garantia da vitaliciedade aos membros do MP e a necessidade
de ação judicial para a aplicação da pena de demissão não significa que elas proíbam que o membro do MP possa
perder o cargo em razão de sentença proferida na ação civil pública por ato de improbidade administrativa.
Essas leis tratam dos casos em que houve um procedimento administrativo no âmbito do MP para apuração de
fatos imputados contra o Promotor/Procurador e, sendo verificada qualquer das situações previstas nos incisos do
§ 1º do art. 38, deverá obter-se autorização do Conselho Superior para o ajuizamento de ação civil específica.
Desse modo, tais leis não cuidam de improbidade administrativa e, portanto, nada interferem nas disposições da
Lei 8.429/92.
Em outras palavras, existem as ações previstas na LC 75/93 e na Lei 8.625/93, mas estas não excluem (não impedem)
que o membro do MP também seja processado e condenado pela Lei 8.429/92. Os dois sistemas convivem
harmonicamente. Um não exclui o outro.
Se o membro do MP praticou um ato de improbidade administrativa, ele poderá ser réu em uma ação civil e perder
o cargo? Essa ação deverá ser proposta segundo o rito da lei da carreira (LC 75/93 / Lei 8.625/93) ou poderá ser
proposta nos termos da Lei 8.429/92?
SIM. O membro do MP que praticou ato de improbidade administrativa poderá ser réu em uma ação civil e perder
o cargo. Existem duas hipóteses possíveis:
• Instaurar o processo administrativo de que trata a lei da carreira (LC 75/93: MPU / Lei 8.625/93: MPE) e, ao final,
o PGR ou o PGJ ajuizar ação civil de perda do cargo contra o membro do MP.
• Ser proposta ação de improbidade administrativa, nos termos da Lei 8.429/92. Neste caso, não existe legitimidade
exclusiva do PGR ou PGJ. A ação poderá ser proposta até mesmo por um Promotor de Justiça (no caso do MPE)
ou Procurador da República (MPF) que atue em 1ª instância.

 STJ. 1ª Turma. REsp 1766149/RJ, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 08/11/2018. STJ. 2ª Turma.
RMS 32378/SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 05/05/2015.

O que acontece se, no momento do trânsito em julgado, o condenado ocupa cargo diferente daquele que exercia
na prática do ato? Se o agente público tiver mudado de cargo, ele poderá perder aquele que atualmente ocupa?
Ex: em 2012, João, na época Vereador, praticou um ato de improbidade administrativa; o MP ajuizou ação de

83
improbidade contra ele; em 2018, a sentença transitou em julgado condenando João à perda da função pública;
ocorre que João é atualmente Deputado Estadual; ele perderá o cargo de Deputado?
1ª corrente: NÃO. É a posição da 1ª Turma do STJ. O condenado só perde a função pública que ele utilizou
para a prática do ato de improbidade. As normas que descrevem infrações administrativas e cominam penalidades
constituem matéria de legalidade estrita, não podendo sofrer interpretação extensiva. Assim, a sanção de perda da
função pública prevista no art. 12 da Lei nº 8.429/92 não pode atingir cargo público diverso daquele que serviu de
instrumento para a prática da conduta ilícita. STJ. 1ª Turma. REsp 1766149/RJ, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em
08/11/2018.
2ª corrente: SIM. É a posição da 2ª Turma do STJ e da doutrina majoritária. A sanção de perda da função
pública visa a extirpar da Administração Pública aquele que exibiu inidoneidade (ou inabilitação) moral e
desvio ético para o exercício da função pública, abrangendo qualquer atividade que o agente esteja exercendo
no momento do trânsito em julgado da condenação. STJ. 2ª Turma. RMS 32378/SP, Rel. Min. Humberto Martins,
julgado em 05/05/2015.

Comentário:

Este assunto ainda possui divergências. Em 2020, o STJ julgou novamente essa temática e teve o seguinte
posicionamento:

“O agente perde a função pública que estiver ocupando no momento do trânsito em julgado, ainda que seja
diferente daquela que ocupava no momento da prática do ato de improbidade. A penalidade de perda da função
pública imposta em ação de improbidade administrativa atinge tanto o cargo que o infrator ocupava quando
praticou a conduta ímproba quanto qualquer outro que esteja ocupando ao tempo do trânsito em julgado da
sentença condenatória. A sanção de perda da função pública visa a extirpar da Administração Pública aquele que
exibiu inidoneidade (ou inabilitação) moral e desvio ético para o exercício da função pública, abrangendo qualquer
atividade que o agente esteja exercendo no momento do trânsito em julgado da condenação”. STJ. EREsp
1701967/RS, Rel. para acórdão Min. Francisco Falcão, julgado em 09/09/2020.

 STJ STJ. 2ª Turma. REsp 1.352.035-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 18/8/2015 (Info
568).

O estagiário que atua no serviço público, ainda que transitoriamente, remunerado ou não, está sujeito a
responsabilização por ato de improbidade administrativa. Isso porque o conceito de agente público para fins
de improbidade abrange não apenas os servidores públicos, mas todo aquele que exerce, ainda que
transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma
de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função na Administração Pública.

84
Além disso, é possível aplicar a lei de improbidade mesmo para quem não é agente público, mas induza ou
concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma, direta ou indireta. É o
caso do chamado "terceiro", definido pelo art. 3º da Lei nº 8.429/92.

 STJ. 1ª Seção. REsp 1177910-SE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 26/8/2015 (Info 577).

A tortura de preso custodiado em delegacia praticada por policial constitui ato de improbidade administrativa
que atenta contra os princípios da administração pública.

 STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.305.905-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 13/10/2015
(Info 574).

Recurso cabível contra a decisão do juiz que rejeita a inicial contra apenas alguns réus
Recursos cabíveis contra a:
1) sentença que rejeita a inicial da ação de improbidade: cabe APELAÇÃO.
2) decisão que recebe a inicial da ação de improbidade: cabe AGRAVO DE INSTRUMENTO.
3) decisão que recebe a inicial contra alguns réus e rejeita para os demais: AGRAVO DE INSTRUMENTO (obs.: caso
o autor da ação de improbidade interponha apelação em vez do AI, será possível receber o recurso, com base no
princípio da fungibilidade, desde que não haja má-fé e tenha sido interposto no prazo do recurso correto).
Segundo decidiu o STJ, pode ser conhecida a apelação que, sem má-fé e em prazo compatível com o previsto para
o agravo de instrumento, foi interposta contra decisão que, em juízo prévio de admissibilidade em ação de
improbidade administrativa, reconheceu a ilegitimidade passiva ad causam de alguns dos réus.

 STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 606.352-SP, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 15/12/2015
(Info 576).

A condenação pela Justiça Eleitoral ao pagamento de multa por infringência às disposições contidas na Lei n.
9.504/1997 (Lei das Eleições) não impede a imposição de nenhuma das sanções previstas na Lei nº 8.429/1992
(Lei de Improbidade Administrativa), inclusive da multa civil, pelo ato de improbidade decorrente da mesma
conduta.

 STJ. 1ª Turma. REsp 1412214-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min.
Benedito Gonçalves, julgado em 8/3/2016 (Info 580).

Ainda que não haja dano ao erário, é possível a condenação por ato de improbidade administrativa que
importe enriquecimento ilícito (art. 9º da Lei nº 8.429/92), excluindo-se, contudo, a possibilidade de aplicação da
pena de ressarcimento ao erário.

85
 STJ. 2ª Turma. REsp 1582014-CE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 7/4/2016 (Info 581).

No caso de condenação pela prática de ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da
administração pública, as penalidades de suspensão dos direitos políticos e de proibição de contratar com o
Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios não podem ser fixadas abaixo de 3
anos, considerando que este é o mínimo previsto no art. 12, III, da Lei nº 8.429/92. Não existe autorização na lei
para estipular sanções abaixo desse patamar.

Comentário:
Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas na legislação específica, está o
responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações, que podem ser aplicadas isolada ou
cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato:
(...)
III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da função pública, suspensão dos
direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração
percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais
ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio
majoritário, pelo prazo de três anos.

 STJ. 1ª Turma. REsp 1413674-SE, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador Convocado do TRF
1ª Região), Rel. para o acórdão Min. Benedito Gonçalves, julgado em 17/5/2016 (Info 584).

Não configura bis in idem a coexistência de título executivo extrajudicial (acórdão do TCU) e sentença
condenatória em ação civil pública de improbidade administrativa que determinam o ressarcimento ao erário
e se referem ao mesmo fato, desde que seja observada a dedução do valor da obrigação que primeiramente
foi executada no momento da execução do título remanescente.

Comentário:
As instâncias judicial e administrativa não se confundem. É possível a formação de dois títulos executivos, mas o
que não se permite é a constrição patrimonial além do efetivo prejuízo apurado.

 STJ. 1ª Turma. RMS 37.151-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Sérgio
Kukina, julgado em 7/3/2017 (Info 609).

É possível a abertura de inquérito civil pelo Ministério Público objetivando a apuração de ato ímprobo
atribuído a magistrado mesmo que já exista concomitante procedimento disciplinar na Corregedoria do
Tribunal acerca dos mesmos fatos, não havendo usurpação das atribuições da Corregedoria pelo órgão ministerial
investigante. A mera solicitação para que o juiz preste depoimento pessoal nos autos de inquérito civil instaurado

86
pelo Ministério Público para apuração de suposta conduta ímproba não viola o disposto no art. 33, IV, da LC nº
35/79 (LOMAN).

Comentário:
Não há incompatibilidade entre a instauração do inquérito do Ministério Público e o procedimento disciplinar na
Corregedoria, posto que o inquérito civil visa apurar possível prática de improbidade e a Corregedoria deflagra o
procedimento para investigar e impor eventual sanção disciplinar.
Inclusive, o art. 12 da Lei nº 8.429/92, prevê, de modo expresso, que tais penalidades serão impostas
“independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas na legislação específica”.

 STJ. 1ª Seção. EREsp 1.220.667-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 24/5/2017 (Info 607).

A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência de ação de improbidade administrativa está
sujeita ao reexame necessário, com base na aplicação subsidiária do CPC e por aplicação analógica da primeira
parte do art. 19 da Lei nº 4.717/65. Assim, quando a sentença da ação popular for procedente, não haverá reexame
necessário. Perceba, portanto, que o art. 19 inverte a lógica da remessa necessária do CPC. Pelo CPC, se a Fazenda
“perde”, haverá reexame. Na ação popular, o reexame necessário ocorre se o cidadão perde. Em virtude disso,
podemos dizer que esse art. 19 traz uma hipótese de duplo grau de jurisdição invertido, ou seja, um duplo grau
que ocorre em favor do cidadão (e não necessariamente da Fazenda Pública).

 STF. Plenário. Pet 3240 AgR/DF, rel. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso,
julgado em 10/5/2018 (Info 901). STJ. Corte Especial. AgRg na Rcl 12514-MT, Rel. Min. Ari
Pargendler, julgado em 16/9/2013 (Info 527).

Os agentes políticos, com exceção do Presidente da República, encontram-se sujeitos a duplo regime
sancionatório, de modo que se submetem tanto à responsabilização civil pelos atos de improbidade
administrativa quanto à responsabilização político-administrativa por crimes de responsabilidade. O foro
especial por prerrogativa de função previsto na Constituição Federal em relação às infrações penais comuns
não é extensível às ações de improbidade administrativa. STF. Plenário. Pet 3240 AgR/DF, rel. Min. Teori Zavascki,
red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 10/5/2018 (Info 901). A ação de improbidade administrativa deve
ser processada e julgada nas instâncias ordinárias, ainda que proposta contra agente político que tenha foro
privilegiado no âmbito penal e nos crimes de responsabilidade. STJ. Corte Especial. AgRg na Rcl 12514-MT, Rel.
Min. Ari Pargendler, julgado em 16/9/2013 (Info 527).

 STJ. 2ª Turma. REsp 1230550/PR, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 20/02/2018.

87
Em caso de ação de improbidade administrativa que envolva dois ou mais réus, o prazo prescricional de 5 anos
previsto no art. 23 da Lei nº 8.429/92 deve ser contado de forma individual. O art. 23 é claro no sentido de
que o início do prazo prescricional ocorre com o término do exercício do mandato ou cargo em comissão, sendo
tal prazo computado individualmente, mesmo na hipótese de concurso de agentes, haja vista a própria natureza
subjetiva da pretensão sancionatória e do instituto em tela.

 STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1643337/MG, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 19/04/2018. STJ.
2ª Turma. AgInt no REsp 1628455/ES, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 06/03/2018.

O art. 12 da Lei nº 8.429/92 não prevê a cassação de aposentadoria como sanção. Mesmo assim, é possível a sua
imposição? O indivíduo que praticar ato de improbidade administrativa poderá receber, como punição, a
cassação de sua aposentadoria? 1ª corrente: NÃO. É a posição da 1ª Turma do STJ. O art. 12 da Lei nº 8.429/92,
quando cuida das sanções aplicáveis aos agentes públicos que cometem atos de improbidade administrativa,
não prevê a cassação de aposentadoria, mas tão só a perda da função pública. As normas que descrevem
infrações administrativas e cominam penalidades constituem matéria de legalidade estrita, não podendo sofrer
interpretação extensiva. STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1643337/MG, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 19/04/2018.
2ª corrente: SIM. É a posição da 2ª Turma do STJ. É possível a aplicação da pena de cassação de aposentadoria,
ainda que não haja previsão expressa na Lei nº 8.429/92. Isso porque se trata de uma decorrência lógica da
perda de cargo público, sanção essa última expressamente prevista no referido texto legal. julgado da
condenação. STJ. 2ª Turma. RMS 32378/SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 05/05/2015.

Comentário:
Vamos resumir esse julgado com tabela do site Dizer o Direito, de Márcio André 36:

É possível aplicar cassação de aposentadoria como sanção por ato de improbidade?

O art. 12 da Lei nº 8.429/92 não prevê a cassação de aposentadoria como sanção.


Mesmo assim, é possível a sua imposição? O indivíduo que praticar ato de
improbidade administrativa poderá receber, como punição, a cassação de sua
aposentadoria?

NÃO SIM

Posição da 1ª Turma do STJ Posição da 2ª Turma do STJ

36
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É possível aplicar cassação de aposentadoria como sanção por ato de improbidade?.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/405075699f065e43581f27d67bb68478 . Acesso em:
23/12/2020
88
O art. 12 da Lei nº 8.429/92, quando cuida É possível a aplicação da pena de cassação
das sanções aplicáveis aos agentes públicos de aposentadoria, ainda que não haja
que cometem atos de improbidade previsão expressa na Lei nº 8.429/92. Isso
administrativa, não prevê a cassação de porque se trata de uma decorrência lógica
aposentadoria, mas tão só a perda da da perda de cargo público, sanção essa
função pública. última expressamente prevista no referido
texto legal.
As normas que descrevem infrações
administrativas e cominam penalidades
constituem matéria de legalidade estrita,
não podendo sofrer interpretação extensiva.

STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1643337/MG, STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1628455/ES,
Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em
19/04/2018. 06/03/2018.

 STJ. 1ª Seção. CC 142354/BA, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 23/09/2015. STJ. 1ª
Seção. AgRg no CC 133.619/PA, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 09/05/2018.

Nas ações de ressarcimento ao erário e improbidade administrativa ajuizadas em face de eventuais irregularidades
praticadas na utilização ou prestação de contas de valores decorrentes de convênio federal, o simples fato de as
verbas estarem sujeitas à prestação de contas perante o Tribunal de Contas da União, por si só, não justifica
a competência da Justiça Federal. Igualmente, a mera transferência e incorporação ao patrimônio municipal
de verba desviada, no âmbito civil, não pode impor de maneira absoluta a competência da Justiça Estadual.
Se houver manifestação de interesse jurídico por ente federal que justifique a presença no processo, (v.g.
União ou Ministério Público Federal) regularmente reconhecido pelo Juízo Federal nos termos da Súmula
150/STJ, a competência para processar e julgar a ação civil de improbidade administrativa será da Justiça
Federal. As Súmulas 208 e 209 do STJ provêm da 3ª Seção do STJ e versam hipóteses de fixação da competência
em matéria penal, em que basta o interesse da União ou de suas autarquias para deslocar a competência para a
Justiça Federal, nos termos do inciso IV do art. 109 da CF. Logo, não podem ser utilizadas como critério para as
demandas cíveis. Diante disso, é possível afirmar que a competência cível da Justiça Federal deve ser definida em
razão da presença das pessoas jurídicas de direito público previstas no art. 109, I, da CF/88 na relação processual,
seja como autora, ré, assistente ou oponente e não em razão da natureza da verba federal sujeita à fiscalização do
TCU. Assim, em regra, compete à Justiça Estadual processar e julgar agente público acusado de desvio de
verba recebida em razão de convênio firmado com o ente federal, salvo se houver a presença das pessoas
jurídicas de direito público previstas no art. 109, I, da CF/88 na relação processual.

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 STF. 1ª Turma. Rcl 28024 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 29/05/2018.

A nomeação do cônjuge de prefeito para o cargo de Secretário Municipal, por se tratar de cargo público de
natureza política, por si só, não caracteriza ato de improbidade administrativa. STF. 2ª Turma. Rcl 22339 AgR/SP,
Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/9/2018 (Info 914). Em regra, a proibição
da SV 13 não se aplica para cargos públicos de natureza política, como, por exemplo, Secretário Municipal.
Assim, a jurisprudência do STF, em regra, tem excepcionado a regra sumulada e garantido a permanência de
parentes de autoridades públicas em cargos políticos, sob o fundamento de que tal prática não configura
nepotismo. Exceção: poderá ficar caracterizado o nepotismo mesmo em se tratando de cargo político caso
fique demonstrada a inequívoca falta de razoabilidade na nomeação por manifesta ausência de qualificação
técnica ou inidoneidade moral do nomeado.

Comentário:

Vamos relembrar a Súmula Vinculante 13 do STF: “A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta,
colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa
jurídica, investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de
confiança, ou, ainda, de função gratificada na Administração Pública direta e indireta, em qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas,
viola a Constituição Federal”.

A vedação ao nepotismo independe de previsão expressa em diploma legislativo, tendo em vista que decorre dos
princípios constitucionais da impessoalidade, eficiência, igualdade e moralidade.

O Min. Dias Toffoli definiu quatro critérios objetivos nos quais haverá nepotismo: a) ajuste mediante designações
recíprocas, quando inexistente a relação de parentesco entre a autoridade nomeante e o ocupante do cargo de
provimento em comissão ou função comissionada; b) relação de parentesco entre a pessoa nomeada e a autoridade
nomeante; c) relação de parentesco entre a pessoa nomeada e o ocupante de cargo de direção, chefia ou
assessoramento a quem estiver subordinada e d) relação de parentesco entre a pessoa nomeada e a autoridade
que exerce ascendência hierárquica ou funcional sobre a autoridade nomeante. STF. 2ª Turma. Rcl 18564, Relator
p/ Acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em 23/02/2016.

Voltando ao caso, a nomeação de cônjuge ou parente para cargo público de natureza política, por si só, não
configura ato de improbidade administrativa. Cabe ressaltar que a simples dissonância entre a área de formação e
a área fim do cargo não é suficiente para concluir a inequívoca ausência de razoabilidade da nomeação. Assim, o
STF entendeu que não houve nepotismo.

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 STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1542025/MG, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 05/06/2018.

Em regra, para a configuração dos atos de improbidade administrativa previstos no art. 10 da Lei nº 8.429/92
exige-se a presença do efetivo dano ao erário. Exceção: no caso da conduta descrita no inciso VIII do art. 10,
VIII não se exige a presença do efetivo dano ao erário. Isso porque, neste caso, o dano é presumido (dano in
re ipsa). STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1542025/MG, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 05/06/2018. Art. 10
(...) VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo seletivo para celebração de parcerias com
entidades sem fins lucrativos, ou dispensá-los indevidamente.

Comentário:

O prejuízo decorrente da dispensa indevida de licitação é presumido (dano in re ipsa).

 Pet 3240 AgR, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ROBERTO BARROSO,
Tribunal Pleno, julgado em 10/05/2018, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-171 DIVULG 21-08-2018
PUBLIC 22-08-2018

Ementa: Direito Constitucional. Agravo Regimental em Petição. Sujeição dos Agentes Políticos a Duplo Regime
Sancionatório em Matéria de Improbidade. Impossibilidade de Extensão do Foro por Prerrogativa de Função à Ação
de Improbidade Administrativa. 1. Os agentes políticos, com exceção do Presidente da República, encontram-
se sujeitos a um duplo regime sancionatório, de modo que se submetem tanto à responsabilização civil pelos
atos de improbidade administrativa, quanto à responsabilização político-administrativa por crimes de
responsabilidade. Não há qualquer impedimento à concorrência de esferas de responsabilização distintas, de modo
que carece de fundamento constitucional a tentativa de imunizar os agentes políticos das sanções da ação de
improbidade administrativa, a pretexto de que estas seriam absorvidas pelo crime de responsabilidade. A única
exceção ao duplo regime sancionatório em matéria de improbidade se refere aos atos praticados pelo Presidente
da República, conforme previsão do art. 85, V, da Constituição. 2. O foro especial por prerrogativa de função
previsto na Constituição Federal em relação às infrações penais comuns não é extensível às ações de improbidade
administrativa, de natureza civil. Em primeiro lugar, o foro privilegiado é destinado a abarcar apenas as infrações
penais. A suposta gravidade das sanções previstas no art. 37, § 4º, da Constituição, não reveste a ação de
improbidade administrativa de natureza penal. Em segundo lugar, o foro privilegiado submete-se a regime de
direito estrito, já que representa exceção aos princípios estruturantes da igualdade e da república. Não comporta,
portanto, ampliação a hipóteses não expressamente previstas no texto constitucional. E isso especialmente porque,
na hipótese, não há lacuna constitucional, mas legítima opção do poder constituinte originário em não instituir
foro privilegiado para o processo e julgamento de agentes políticos pela prática de atos de improbidade na esfera
civil. Por fim, a fixação de competência para julgar a ação de improbidade no 1o grau de jurisdição, além de
constituir fórmula mais republicana, é atenta às capacidades institucionais dos diferentes graus de jurisdição para

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a realização da instrução processual, de modo a promover maior eficiência no combate à corrupção e na proteção
à moralidade administrativa. 3. Agravo regimental a que se nega provimento.

 STF. 1ª Turma. Rcl 28024 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 29/05/2018.

A nomeação do cônjuge de prefeito para o cargo de Secretário Municipal por se tratar de cargo público de
natureza política por si só não caracteriza ato de improbidade administrativa STF. 2ª Turma. Rcl 22339 AgR/SP,
Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/9/2018 (Info 914). Em regra, a proibição da
SV 13 não se aplica para cargos públicos de natureza política como, por exemplo, Secretário Municipal. Assim, a
jurisprudência do STF, em regra, tem excepcionado a regra sumulada e garantido a permanência de parentes de
autoridades públicas em cargos políticos, sob o fundamento de que tal prática não configura nepotismo. Exceção:
poderá ficar caracterizado o nepotismo mesmo em se tratando de cargo político caso fique demonstrada a
inequívoca falta de razoabilidade na nomeação por manifesta ausência de qualificação técnica ou inidoneidade
moral do nomeado.

 STF. 1ª Turma. Rcl 29033 AgR/RJ, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/9/2019 (Info 952).

O STF tem afastado a aplicação da SV 13 a cargos públicos de natureza política, como são os cargos de
Secretário Estadual e Municipal. Mesmo em caso de cargos políticos, será possível considerar a nomeação indevida
nas hipóteses de: • nepotismo cruzado; • fraude à lei e • inequívoca falta de razoabilidade da indicação, por
manifesta ausência de qualificação técnica ou por inidoneidade moral do nomeado.

 STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1366180/RS, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em
17/09/2019. STJ. 1ª Turma. REsp 1536573/RS, Rel. Min. Napoleão Nunes, Rel. p/ Acórdão
Ministro Sérgio Kukina, julgado em 19/03/2019.

A contratação de empresa pertencente a familiar próximo (Prefeito que contrata a empresa do filho) viola princípios
administrativos, razão pela qual, deve ser estabelecida a condenação por improbidade administrativa, nos
termos do art. 11 da Lei n. 8.429/1992.

 STF. Plenário. RE 976566, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 13/09/2019 (repercussão
geral – Tema 576)

Ementa: CONSTITUCIONAL. AUTONOMIA DE INSTÂNCIAS. POSSIBILIDADE DE RESPONSABILIZAÇÃO PENAL E


POLÍTICA ADMINISTRATIVA (DL 201/1967) SIMULTÂNEA À POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA,
DEVIDAMENTE TIPIFICADO NA LEI 8.429/92. INEXISTÊNCIA DE BIS IN IDEM. 1. "Fazem muito mal à República os

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políticos corruptos, pois não apenas se impregnam de vícios eles mesmos, mas os infundem na sociedade, e não
apenas a prejudicam por se corromperem, mas também porque a corrompem, e são mais nocivos pelo exemplo
do que pelo crime” (MARCO TÚLIO CÍCERO. Manual do candidato às eleições. As leis, III, XIV, 32). 2. A norma
constitucional prevista no § 4º do art. 37 exigiu tratamentos sancionatórios diferenciados entre os atos ilícitos
em geral (civis, penais e político-administrativos) e os atos de improbidade administrativa, com determinação
expressa ao Congresso Nacional para edição de lei específica (Lei 8.429/1992), que não punisse a mera ilegalidade,
mas sim a conduta ilegal ou imoral do agente público voltada para a corrupção, e a de todo aquele que o auxilie,
no intuito de prevenir a corrosão da máquina burocrática do Estado e de evitar o perigo de uma administração
corrupta caracterizada pelo descrédito e pela ineficiência. 3. A Constituição Federal inovou no campo civil para
punir mais severamente o agente público corrupto, que se utiliza do cargo ou de funções públicas para enriquecer
ou causar prejuízo ao erário, desrespeitando a legalidade e moralidade administrativas, independentemente das já
existentes responsabilidades penal e político-administrativa de Prefeitos e Vereadores. 4. Consagração da
autonomia de instâncias. Independentemente de as condutas dos Prefeitos e Vereadores serem tipificadas
como infração penal (artigo 1º) ou infração político-administrativa (artigo 4º), previstas no DL 201/67, a
responsabilidade civil por ato de improbidade administrativa é autônoma e deve ser apurada em instância
diversa. 5. NEGADO PROVIMENTO ao Recurso Extraordinário. TESE DE REPERCUSÃO GERAL: “O processo e
julgamento de prefeito municipal por crime de responsabilidade (Decreto-lei 201/67) não impede sua
responsabilização por atos de improbidade administrativa previstos na Lei 8.429/1992, em virtude da
autonomia das instâncias”.

Comentário:
A responsabilidade do prefeito pode ser dividida em quatro âmbitos: civil, administrativo, política e penal.

Essa responsabilidade pode ser prevista no Código Penal, no Decreto-Lei nº 201/67 e na Lei nº 8.429/92, existindo
a possibilidade de algumas condutas encaixarem em mais de uma espécie de responsabilização, o que não acarreta
bis in idem, tendo em vista a independência entra as esferas.

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MAPA MENTAL

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO FILHO, JOSÉ DOS SANTOS. MANUAL DE DIREITO ADMINISTRATIVO. 32 ED. SÃO PAULO: ATLAS, 2018.

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OLIVEIRA, RAFAEL CARVALHO REZENDE. CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO. 6 ED. RIO DE JANEIRO: FORENSE;
SÃO PAULO: MÉTODO, 2018.

DI PIETRO, MARIA SYLVIA ZANELLA. DIREITO ADMINISTRATIVO. 32. ED. REV. ATUAL E AMPL. – RIO DE JANEIRO:
FORENSE, 2019.

ALEXANDRE, RICARDO; DEUS, JOÃO DE. DIREITO ADMINISTRATIVO ESQUEMATIZADO – 1. ED. – RIO DE
JANEIRO: FORENSE; SÃO PAULO: MÉTODO, 2015.

MAZZA, ALEXANDRE. MANUAL DE DIREITO ADMINISTRATIVO – 9. ED. – SÃO PAULO: SARAIVA EDUCAÇÃO, 2019.

MELLO, CELSO ANTONIO BANDEIRA DE. CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO - 34 ED - RIO DE JANEIRO:
FORENSE, 2019.

MEIRELLES, HELY LOPES. DIREITO ADMINISTRATIVO BRASILEIRO. 43. ED. SÃO PAULO: MALHEIROS, 2018

JUSTEN FILHO, MARÇAL. CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO. 3ª ED. SÃO PAULO: SARAIVA, 2008

SCATOLINO, GUSTAVO; TRINDADE, JOÃO. MANUAL DE DIREITO ADMINISTRATIVO. 5. ed. rev. atual e ampl. –
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ALEXANDRINO, MARCELO; PAULO, VICENTE. DIREITO ADMINISTRATIVO DESCOMPLICADO. 25. ED SÃO PAULO:
MÉTODO, 2017.

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