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IBET – Curso de Especialização em Direito Tributário

Módulo III – Exigibilidade do Crédito Tributário


Seminário 03 – Decadência e Prescrição em Matéria Tributária
Discente: Victor Ribeiro da Silva Maia Teixeira

1. Diferençar, se possível: (i) decadência do direito de


lançar, (ii) prescrição do direito do Fisco cobrar o crédito
tributário, (iii) decadência do direito do contribuinte pleitear a
restituição do indébito tributário e (iv) prescrição do direito de
ação do contribuinte repetir o indébito tributário.
R: A (i) decadência do direito de lançar é, segundo o CTN (como
norma), modo de extinção da relação jurídico-tributária em razão a
perda, pela Fazenda, da competência para construir norma
individual e concreta (lançar).

A (ii) prescrição do direito de cobrar o crédito é hipótese de


extinção da exigibilidade do crédito tributário que se volta para o
direito de ação, não para o lançamento. Assim, retira a juridicidade
do débito (da norma individual e concreta) através da extinção da
possibilidade de se ajuizar ação.

A (iii) decadência do direito do contribuinte de pleitear a


restituição do indébito tributário, a seu turno, trata-se da
deslegitimação do contribuinte para, na esfera administrativa, repetir
o indébito.

A (iv) prescrição do direito do contribuinte, por fim, é a


inexigibilidade de seu crédito na via judicial. Todos os conceitos,
obviamente, têm como pressuposto a passagem de determinados
lapsos de tempo e possuem seu regime jurídico próprio.
2. Conjugando o art. 146, III, “b”, da CF e o princípio da
autonomia dos entes federativos, responda: A União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios, por meio de lei
ordinária, podem estabelecer prazo diverso do constante no
CTN para a decadência e prescrição de seus créditos? E
mediante lei complementar estadual ou municipal? (Vide anexo
I e Súmula Vinculante n. 8 do STF).
R: A autonomia do ente é a capacidade de autodeterminação
nos limites do Direito, havendo neste, todavia, um limiar bastante
claro acerca do que se pode dispor quanto a normas gerais de
direito tributário: estas somente podem ser inseridas no sistema por
lei complementar nacional. Com efeito, prazos prescricionais e
decadenciais são normas que versam não sobre qualquer
potestade do ente público, mas acerca dos limiares de uma relação
(a jurídico-tributária) que avança sobre direitos fundamentais
(propriedade, etc), clamando por isonomia e segurança jurídica,
pena até mesmo de romper o próprio equilíbrio federativo caso
assim não fosse.

3. Quando começa a contar o prazo de decadência para o


Fisco lançar nos tributos sujeitos ao lançamento de ofício? E
nos tributos sujeitos ao “lançamento por homologação”? Se
não houver o que homologar, o prazo passa a ser o dos
tributos sujeitos ao lançamento de ofício (vide anexos II e III)?
E no caso de fraude (vide anexo IV)?
R: O prazo decadencial no lançamento de ofício se inicia na
forma do art. 173, I e II, do CTN: do primeiro dia do exercício
seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado ou;
da data em que se tornar definitiva a decisão que houver anulado,
por vício formal, o lançamento anteriormente efetuado.

Nos tributos sujeitos à homologação, a regra é a do art. 150, §


4º, do Código Tributário Nacional: se a lei não fixar prazo à
homologação, será ele de cinco anos, a contar da ocorrência do
fato gerador; expirado esse prazo sem que a Fazenda Pública se
tenha pronunciado, considera-se homologado o lançamento e
definitivamente extinto o crédito, salvo se comprovada a ocorrência
de dolo, fraude ou simulação.

Não havendo constituição da norma individual e concreta pelo


contribuinte, aplicam-se as regras do tributo lançado de ofício, o que
também ocorre no caso da fraude.

São, portanto, duas situações diferentes: a) falta de


recolhimento do tributo, em termos totais ou parciais, todavia sem
dolo, fraude ou simulação: o intervalo temporal, para fins de
lançamento, é de cinco anos, a partir do instante da ocorrência do
evento tributário; e b) falta de recolhimento, integral ou parcial, de
tributo, cometida com dolo, fraude ou simulação: o trato de tempo
para a formalização da exigência e para a aplicação de penalidades
é de cinco anos, contados do primeiro dia do exercício seguinte
àquele em que o lançamento poderia ter sido realizado. (PBC,
Linguagem e Método, 588).

4. Como deve ser interpretado o parágrafo único do art. 173


do CTN? Que se entende por “medida preparatória
indispensável ao lançamento”? Tal medida tem apenas o
condão de antecipar o termo inicial da contagem do prazo
prescrito no inciso I ou pode também postergá-lo? Trata-se de
causa de interrupção do prazo decadencial? (Vide anexo V e
VI).

R: O art. 173, parágrafo único, do CTN traz outro termo inicial nas
hipóteses em que há ciência, pelo particular, de algum fato ou
medida preparatória indispensável ao lançamento. Neste caso,
ocorrerá antecipação do termo inicial para o decurso do prazo
decadencial, contando-se cinco anos a partir da data em que se
tenha por formalizada a notificação do contribuinte a respeito desta
medida. (PBC, Linguagem e Método, 585/586).
As medidas preparatórias indispensáveis podem ser aquelas
relativas à apuração de elementos para positivar a RMIT
(verificações in concreto de critérios), podendo apenas antecipar o
termo inicial, não postergá-lo.

Não se trata de causa de interrupção do prazo decadencial,


apenas de termo inicial para sua fluência, pois a leu assim não o
prevê.

5. A Lei n. 11.051/04 trouxe previsão de prescrição


intercorrente no processo judicial. Quanto ao processo
administrativo fiscal, existe prescrição intercorrente no seu
curso? E no decorrer do processo executivo fiscal? Qual é o
tratamento mais adequado em caso de falta de intimação da
Fazenda Pública sobre o despacho que determina sua
manifestação antes da decisão que decreta a prescrição
intercorrente? É possível que a decretação da prescrição
intercorrente seja ilidida? Justificar (vide anexos VII, VIII e IX e
X).
R: Não existe prescrição intercorrente no processo administrativo
fiscal, pois duas das/dos condições/elementares do fenômeno
prescricional é a existência de direito de ação exercível, sendo cero
que, durante o processo administrativo fiscal, a exigibilidade do
crédito tributário se encontra suspensa.

Aplica-se a prescrição intercorrente no processo executivo


fiscal, visto tratar-se também de processo judicial.

A ausência de intimação da Fazenda para se manifestar


acerca do acolhimento da prescrição é patente error in procedendo,
culminando na nulidade do ato sentencial a ser reconhecida após o
provimento de recurso da exequente. Não possui o condão, todavia,
de suprimir o fenômeno prescricional, apenas de retirar do mundo
jurídico a norma individual e concreta constituída pela sentença e
ordenar seus refazimentos (de ato e norma), respeitado o
procedimento contraditório. As únicas formas de ilidir a prescrição
são as interruptivas e, relativamente à intercorrente, não figura a
intimação em tal rol. Igualmente, a intimação da Fazenda pode ser
requisito essencial para se exarar sentença (diante das normas
impositivas da não-surpresa e do contraditório), mas não é requisito
essencial para manifestação da fazenda que obstaria efetivamente
a prescrição intercorrente – ou seja, intimada ou não, a Fazenda
poderia impedir a prescrição intercorrente se manifestando.

6. Qual o marco inicial da contagem do prazo para


redirecionamento da execução fiscal contra os sócios? Trata-
se de prazo decadencial ou prescricional? É possível
compreender que o mesmo fato jurídico "dissolução irregular"
seja considerado ilícito suficiente ao redirecionamento da
execução fiscal de débito tributário e não o seja para a
execução fiscal de débito não-tributário. (Vide anexos XI, XII e
XIII)

R: Redirecionamento de execução fiscal contra os sócios que não


constam do título exequendo é modalidade de desconsideração da
personalidade jurídica, só pode ter espaço quando presentes os
elementos do art. 50 do CC, aferidos através do procedimento do
art. 133 e ss. do CPC. Desta feita, o marco inicial do prazo é do
momento em que a Fazenda poderia instaurar o incidente, ou seja,
de quando passa a ter ciência da configuração do abuso de
personalidade jurídica. Trata-se de prazo prescricional.

A dissolução irregular é abuso de personalidade marcada pela


confusão patrimonial (podendo incluir, às vezes, desvio de
finalidade). Explica-se:

Para haver dissolução de sociedade é essencial que seja


realizada sua liquidação por um dos diversos procedimentos
previstos em lei e/ou estatuto, a depender do caso. É comum aos
procedimentos, todavia, a liquidação do ativo, pagamento do
passivo e distribuição entre os sócios do patrimônio remanescente.
No caso da dissolução irregular, especialmente com execução fiscal
em curso, comezinho que não fora quitado o passivo e/ou fora
subvertida sua ordem de pagamento, configurando confusão
patrimonial essa gestão dos ativos ao arrepio da lei (faculdade de
dispor exercida ao talante da pessoa física, não da jurídica). Nesse
caso, independentemente da modalidade de execução (ou de
processo), caberá o redirecionamento.

7. Sobre a decadência/prescrição do direito de repetir o


indébito tributário pergunta-se:
a) Quais indébitos estão sujeitos ao art. 3º da LC n.
118/05: todos, independente da data do pagamento indevido;
aqueles cuja restituição seja requerida depois do termo inicial
de sua vigência; ou somente os pagamentos efetuados após
iniciada sua vigência? Justificar (vide anexos XIV e XV).
b) No caso de lei tributária julgada inconstitucional em
ADIN (sem modulação de efeitos), como fica o prazo para
repetir o indébito tributário? Conta-se do pagamento indevido
ou o termo inicial seria a “data da declaração de
inconstitucionalidade da lei que fundamentou o gravame”?
(Vide anexos XVI e XVII).

R: a) Somente os pagamentos iniciados após sua vigência, tendo


em vista que ao julgar o EREsp n. 435.835, a Primeira Seção do
Superior Tribunal de Justiça pacificou o entendimento em termos de
que o prazo para interposição de ações que versem sobre a
repetição de tributos sujeitos a “lançamento por homologação” é de
cinco anos, contados da efetiva homologação, seja ela expressa ou
tácita (PBC, Linguagem e método, 591) e, assim, o art. 3º da LC
118/05, ao condicionar a extinção apenas ao pagamento, constitui
verdadeira inovação no sistema. Tratando-se de inovação, há de
respeitar o lapso de 120 dias após a publicação para surtir efeitos.
b) Conta-se da data do pagamento indevido em razão da
inconstitucionalidade representar apenas a causa de pedir da
repetição, sendo passível de ser deduzida tal “pretensão”
independentemente do resultado da ADIn.

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