Você está na página 1de 4

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA PARAÍBA

COMARCA DE CAMPINA GRANDE


JUÍZO DA SEGUNDA VARA DA FAZENDA PÚBLICA

Processo nº 0017596-58.2009.815.0011
Excipiente: Farmabarros LTDA
Excepto: Estado da Paraíba

EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE.
ALEGAÇÃO DE PRESCRIÇÃO ANTERIOR A
PROPOSITURA DA AÇÃO. INOCORRÊNCIA.
ART. 173 DO CTN. REJEIÇÃO DE
EXCEÇÃO.

Prescreve em cinco anos a ação de cobrança


do crédito tributário, nos termos do art. 174,
do CTN.

O instituto da prescrição no Direito Tributário


tem como marco inicial para sua configuração
e consequente decretação, a constituição
definitiva do crédito tributário, constituição
esta que se inicia com o lançamento do
tributo, completando-se com o advento de
decisão proveniente de processo
administrativo.

Vistos.

FARMABARROS LTDA, identificada nos autos, através da Defensoria


Pública, apresentou EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE em face da FAZENDA PÚBLICA
DO ESTADO DA PARAÍBA, nos autos da execução fiscal que lhe foi promovida, alegando a
prescrição quinquenal do crédito tributário, descrito na Certidão de Dívida Ativa de n°
0100.031.2009.2180, datada de 20 de julho de 2009 (fls. 03/04), uma vez que, em resumo, a
constância de dívida fiscal proveniente de ICMS, multa e correção, da qual esquivou-se o
executado de pagar no período oportuno, refere-se ao exercício de dezembro 2002 (fls.17/19).

Intimado o excepto para apresentar impugnação (fls. 23/27), arguiu a não


prescrição do referido título, bem como evidenciou a presunção de certeza e liquidez do título
executado, indicando que não poderia recair em extinção da execução, tendo em vista que
entre o ano da decisão proveniente do processo administrativo nº 0184302009-2, datado de 27
de fevereiro de 2009, e o despacho ordinário da citação não decorreram cinco anos.

Vieram-me os autos conclusos.

É O BREVE RELATÓRIO.

DECIDO.

A exceção de pré-executividade como é de conhecimento geral, tem por


finalidade fulminar a execução quando os títulos que a instruem são faltos de certeza, liquidez
e exigibilidade, vale dizer, quando o título instrutivo da execução não preenche seus requisitos
legais. Em tais casos, a prova deve vir pré-constituída extreme a não deixar dúvidas da
ausência de requisitos da execução.

Por outro lado, se não for possível definir-se pelo preenchimento ou não dos
requisitos da execução, com base exclusiva naquela prova apresentada inicialmente, é de ser
rejeitada a exceção, porquanto a matéria deve ser discutida em sede de embargos.

No caso em tela, o Excipiente suscita a prescrição quinquenal de dívida


tributária pleiteada pela Fazenda Pública Estadual, proveniente de ICMS, multa e correção,
cuja importância corrigida monetariamente consta no valor de R$12.701,81 (doze mil,
setecentos e um reais e oitenta e um centavos).

Com efeito, da análise da Certidão de Dívida Ativa acostada aos autos (fls.
03/04), na qual consta o débito suso, verificou-se que, apesar de inscrito em Dívida Ativa à data
de 20 de julho de 2009, o presente débito teve por fato gerador, imposto de ICMS lançado em
dezembro de 2002, cuja apuração operou-se através de processo administrativo datado de 27
de fevereiro de 2009.

Conforme cediço, não há no ordenamento jurídico pátrio a figura de direito,


cujo exercício seja eterno, pressupondo não conferir a seu titular a disponibilidade por tempo
irrestrito sobre sua pretensão.

Outrossim, apesar de existente direito público visando a proteção do sujeito


ativo, decorrido determinado prazo, sem que o mesmo exercite o direito que lhe é garantido,
passa a ser de interesse público que o sujeito passivo não mais venha a ser instado pelo
credor, preservando-se assim a estabilidade das relações jurídicas. Concomitantemente, e
balizado na premissa sobre a qual infere que o “dormientibus non succurrit jus”, eis que se vale
o ordenamento brasileiro do instituto da prescrição.

Notadamente, assim sendo, frente a Teoria Geral do Direito, prescrição


nada mais é que não, a morte do direito de ação pelo decurso de tempo previsto em lei para
este fim. Inobstante permanecer ativo o direito, propriamente dito, sua proteção e possibilidade
para a pretensão jurídica se perde.

Por sua vez, a prescrição no ramo do direito tributário, fundamenta-se na


ideia de determinar um lapso temporal no qual o ente público se encarregue de efetivar a
cobrança dos possíveis débitos fiscais provenientes de fatos geradores predefinidos em norma
legal, tendo em vista que decorrido tal prazo, não haverá mais condições à sua execução.
Pertinente ressaltar, ainda, que nesse ramo, o art. 156, I, CTN revela ainda que, verificada a
prescrição quinquenal, extingue-se o crédito tributário, denotando-se, pois, que em Direito
Tributário a prescrição além de extinguir a ação, excepcionalmente, extingue de mesma monta
o próprio direito.

Ora, pois, tanto os institutos da prescrição como o da decadência têm como


escopo, essencial, a vedação constitucional a penalidade perpétua, proibindo ao executado
figurar eternamente como devedor, bem como não dar azo ao locupletamento do credor, ante a
impossibilidade de exigibilidade do crédito a qualquer tempo e sob qualquer condições.

Com efeito, conceitua-se o instituto da prescrição na seara do Direito


Tributário da seguinte forma:

“(...) se esgota o prazo dentro do qual o sujeito ativo deve lançar [o débito
fiscal], diz-se que decaiu de seu direito; este se extingue pela decadência
(ou caducidade). Se em tempo oportuno, o lançamento [do crédito fiscal] é
feito, mas o sujeito ativo, à vista do inadimplemento do devedor, deixa
transcorrer o lapso de tempo que tem para ajuizar a ação de cobrança, sem
promovê-la, dá-se a prescrição da ação.1”

1
AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro, 15ªed. – São Paulo, Saraiva, 2009,p.333.
Sendo assim, o Código Tributário Nacional, dispõe em seu art. 174 que a
prescrição de crédito tributário ocorre em cinco anos, tendo por marco inicial a data da
constituição definitiva, com a notificação regular do lançamento.

Os arts. 173 e 174 do Código Tributário Nacional assim disciplinam:

Art. 173. O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário


extingue-se após 5(cinco)anos, contados

I – do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento


poderia ter sido efetuado
II – da data em que se tornar definitiva a decisão que houver anulado, por
vício formal, o lançamento anteriormente efetuado.

Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco


anos, contados da data da sua constituição definitiva.

Parágrafo único. A prescrição se interrompe:

I – pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal;


(Redação dada pela Lcp nº 118, de 2005)
II – pelo protesto judicial;
III – por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
IV – por qualquer ato inequívoco ainda que extrajudicial, que importe em
reconhecimento do débito pelo devedor.

Nesse prumo, aduz Paulo de Barros Carvalho e Eurico Marcos Diniz de


Santi que “a constituição definitiva do crédito decorre com a notificação válida do lançamento,
pois, é neste momento que se constata a publicidade do ato administrativo” 2.

Ainda, imperioso anotar que, o crédito tributário torna-se exequível não


exclusivamente, por ventura da ocorrência de seu fato gerador, propriamente, mas sim, após
sua constituição definitiva, operada através de seu lançamento, seguido de decisão
proveniente de processo administrativo de competência do Fisco.

Por oportuno, é a lição de Luciano Amaral:

“A ocorrência do fato gerador dá nascimento à obrigação tributária. Em


diversas situações, porém, embora ocorrido o fato gerador, a lei tributária
não requer do sujeito passivo nenhum pagamento se e enquanto não
houver, por parte do sujeito ativo, a prática de um específico ato jurídico,
que se reflete num escrito formal (isto é, um documento escrito na forma
prevista em lei), do qual se deve dar ciência ao sujeito passivo, a fim de que
este fique adstrito a, no prazo assinalado (no próprio documento ou na lei),
satisfazer o direito do credor, sob pena de serem desencadeados os
procedimentos tendentes à cobrança via constrição judicial. 3”

Ressalte-se, ainda, que o ato do lançamento do débito não se confunde em


nada com sua Inscrição em CDA, isto pois, aquela primeira, nada mais é que o meio pelo qual
torna o crédito tributário em condições de ser efetivamente exigido pelo credor, porquanto que
esta última, tem o condão tão somente de conferir prova de certeza e liquidez do mesmo.
Registre-se, portanto, que a prescrição da ação não se conta da inscrição do débito em Dívida
Ativa, mas apenas a partir de sua constituição definitiva, conforme aludido supra.

É o que leciona, Sascha Calmon Navarro Coelho:

2
CARVALHO Paulo de Barros. Direito tributário – fundamentos jurídicos da incidência : 8. ed. São Paulo : Saraiva, 2010.
3
AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro, 15ªed. – São Paulo, Saraiva, 2009,p.333.
“Este ato vinculado [a inscrição em Dívida Ativa] não se confunde com o
lançamento e tem natureza distinta. Diz respeito à certeza e liquidez do
débito já constituído, devendo apurar se este é líquido legalmente (se
cobra-se o que a lei permite) e se é exato legalmente (se a obrigação foi
constituída legalmente).”4

No caso em comento, portanto, a exceção de pré-executividade pleiteada se


baseia em crédito não prescrito, conforme depreende-se da análise da CDA acostada aos
autos, haja vista que, malgrado ter sido inscrito o débito em dívida ativa à data de 20 de julho
de 2009, este resultou de ICMS referente ao exercício de 2002, apurado em processo
administrativo em 27 de fevereiro de 2009, em cuja a prescrição foi interrompida em 08 de
setembro de 2009, quando ocorreu o despacho de citação da execução fiscal base desta
exceção de pré-executividade.

Concluindo, por oportuno, que a constituição definitiva do crédito tributário,


advinda de decisão proveniente de processo administrativo, só ocorreu em 2009 e, portanto,
não vislumbra esta magistrada plausibilidade ao deferimento da presente exceção, tendo em
vista que este prescreve em cinco anos, a contar da data de sua constituição definitiva, nos
termos do art. 174 do Código Tributário Nacional.

Mediante tais considerações, considerando o mais que dos autos consta e


os princípios de direito aplicáveis à espécie, rejeito a presente exceção de pré-
executividade, e por via de consequência determino o prosseguimento da execução.

Publique-se. Intime-se

Campina Grande, 22 de junho de 2016.

Giovanna Lisboa Araújo de Souza


Juíza de Direito

4
COELHO Sacha Calmon Navarro. Curso de direito tributário brasileiro : 10. ed. Rio de Janeiro : Forense, 2009.

Você também pode gostar