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ESTADO DA PARAÍBA

PODER JUDICIÁRIO
COMARCA DE AROEIRAS

Processo nº 047.2009.000.200-8
Autor: O Ministério Público
Ré: Maria Margarida de Melo Araújo

SENTENÇA

PENAL E PROCESSUAL PENAL. CRIME DE


CORRUPÇÃO PASSIVA. AUSÊNCIA DE PROVA DA
EXISTÊNCIA DO FATO TÍPICO. AUSÊNCIA DE
VANTAGEM PESSOAL OU DE TERCEIRO.
IMPROCEDÊNCIA DA DENÚNCIA. ABSOLVIÇÃO.
- Não estando suficientemente comprovada a existência
do fato típico narrado na exordial, impõe-se a
absolvição da acusada, na forma do art. 386, VII, do
Código de Processo Penal.

Vistos etc.

O Ministério Público, oficiante neste Juízo, denunciou


Maria Margarida de Melo Araújo, qualificada nos autos, como incursa nas sanções do art.
317 do Código Penal, em concurso de crimes, por ter supostamente cometido fato delituoso
narrado na vestibular, consistente em solicitar vantagem indevida de duas professoras
municipais. Pediu recebimento e processamento nos termos legais.

Procedida a citação, realizou-se a audiência de instrução,


oitiva da vítima, testemunhas e interrogatórios (fl. 167/171 e 180/186).

A representante do Ministério Público, fulcrando-se na


legislação em vigor, pugnou, em suas razões finais, pela condenação da acusada diante da
existência de prova suficiente para condenação.

Por outro lado, a defesa, em seus articulados, pugnou


pela improcedência da acusação e absolvição da ré pela figura imputada.

É o relatório. Decido.
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Trata-se de ação penal instaurada com o desiderato de


apurar responsabilidade criminal da ré Maria Margarida de Melo Araújo, indiciada por ter
realizado, supostamente, a conduta típica do art. 317 do Código Penal.

A tese defensiva, em dissonância com o esboçado pelo


parquet, deve prosperar, pois, analisando-se detidamente os autos, vê-se que não há prova
da existência do fático típico penal, na figura imputada.

Em minuciosa análise do conjunto probatório aportado


ao caderno processual, constato que os elementos produzidos na instrução processual
demonstram que não há provas de que tenha a ré praticado o delito imputado.

Isso é assim porque as testemunhas ouvidas em juízo


deixaram claro que os valores solicitados indevidamente pela ré não foram para benefício
próprio ou de um terceiro, sem contar o fato de que a acusação das vitimas envolve
desavenças motivadas apenas pela política local.

Ressalto que a própria materialidade resta prejudicada


com relação ao crime imputado, dada a inexistência de provas testemunhais no sentido de
demonstrar que o fato ilícito realmente tenha existido.

Compulsando os autos, constata-se que a denunciada


realmente solicitou valores indevidos das vítimas, mas tais recursos remuneratórios não
visavam uma vantagem pessoal da ré ou de um terceiro, mas a realização de obras e
serviços de reforma no prédio escolar.

Veja-se:
“Que realmente houve uma conversa entre os
professores efetivos, na qual ficou acordado que eles
iriam propor que as professoras contratadas
temporariamente fizessem uma doação para a reforma
da escola, haja vista que elas não teriam trabalhado por
três meses em virtude de reformas no prédio da escola;
Que a doação seria voluntária e não atingiria
professores efetivos pois estes sim estavam trabalhando
[...] Que, antes de fazer a denúncia, as professoras
Alcineide e Josicleide já eram adversárias políticas da
acusada” (testemunha arrolada pela denúncia – fl. 169).

Ainda mais:
“Que na época foi sugerido a Josicleide e Alcineide
doassem R$600,00 para a melhoria da escola (pintura
dedetização, encanação)” (testemunha arrolada pela
denúncia – fl. 169).
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As testemunhas de fls. 182 e 183 ratificam tal


posicionamento e reafirmam a tese da defesa de que, embora tenha havido a solicitação
indevida, tais valores não seriam e não foram revertidos em vantagem pessoal da ré ou de
um terceiro, mas ás obras a serem realizadas no prédio do estabelecimento de ensino.
A respeito do tema, a jurisprudência nacional se
posiciona do seguinte modo:
CORRUPÇÃO PASSIVA. ART.  317 DO  CP.
INSUFICIÊNCIA DE PROVAS. ABSOLVIÇÃO
QUE DEVE SER MANTIDA.
1. Se do conjunto probatório produzido nos autos
não há elementos suficientes para averiguar a
verdade e formar o convencimento do juiz sobre a
certeza do fato e de sua autoria, deve o réu ser
absolvido por insuficiência de provas
(artigo 386, VI, do CPP).
2. Apelação do Ministério Público a que se nega
provimento. (TRF 1ª Região - Apelação Criminal:
ACR nº 22286 BA 92.01.22286-6, Relator Juiz
Olindo Menezes).

É justamente o caso dos autos, porquanto não há


elementos suficientes que apontem para a ocorrência de todos os elementos do tipo penal
imputado, o qual exige a finalidade peculiar (dolo específico) de locupletamento à custa do
cargo público, visando a vantagem para o próprio agente ou um terceiro (na dicção legal,
“para si ou para outrem”), o que inocorre nos autos.
Em suma, restando ausentes os requisitos de tipicidade
para a viabilidade da acusação, não há que se considerar a hipótese de condenação, razão
por que o decreto condenatório mostra-se inadmissível.
Ante o exposto, considerando que não há prova
suficiente acerca da existência do fato típico, JULGO IMPROCEDENTE a denúncia, para
ABSOLVER a ré Maria Margarida de Melo Araújo, qualificada nos autos da ação penal, da
imputação que lhe foi feita no presente processo, com fundamento no art. 386, VII, do
Código de Processo Penal e, em consequência, julgo extinta a sua punibilidade.
Transitada em julgado, preencha-se o boletim individual,
remetendo-o à Secretaria de Segurança Pública do Estado da Paraíba, dê-se baixa no Siscom
e arquivem-se os autos.
P. R. I. Sem custas.
Aroeiras, 11 de novembro de 2011.

ALEX MUNIZ BARRETO


JUIZ DE DIREITO

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