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DIREITO TRIBUTÁRIO II

Prof. Ana Laura Teixeira Martelli Theodoro

E-mail: analaura.martelli@gmail.com

Bibliografia: Eduardo Sabbag / Kiyoshi Harada / Ricardo Alexandre / Luis Eduardo Schoeiri

02/08/2017

RELAÇÃO JURÍDICA DE DIREITO TRIBUTÁRIO

O Estado (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) possui competência para


exigir mediante lei de uma pessoa (que pode ser física ou jurídica) uma prestação. A essa
relação denominamos Relação Jurídica Tributária.

Esta relação é composta por elementos objetivos (lei e prestação), sendo a lei a
responsável por criar o vínculo jurídico entre as partes; e por elementos subjetivos, compostos
pelas partes (Estado e Pessoa).

O Estado possui aptidão para criar o tributo e capacidade para cobra-lo, por essa
razão é denominado como sendo o sujeito ativo da relação, já a pessoa que sofre a obrigação
tributária trata-se do sujeito passivo.

O sujeito ativo encontra-se descrito no Art. 119 do CTN e o sujeito passivo no Art.
121 do CTN. Já a prestação (objeto da relação jurídica) encontra-se prevista no Art. 113 do
CTN, sendo a prestação principal no §1º e a prestação acessória no §2º do referido
dispositivo.

Art. 119, CTN – Sujeito ativo da obrigação é a pessoa jurídica de


direito público, titular da competência para exigir o seu cumprimento.

Art. 121, CTN – Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa


obrigada ao pagamento de tributo ou penalidade pecuniária.
Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação principal diz-se: I -
contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a situação
que constitua o respectivo fato gerador; II - responsável, quando, sem
revestir a condição de contribuinte, sua obrigação decorra de
disposição expressa de lei.

Art. 113, CTN – A obrigação tributária é principal ou acessória. § 1º A


obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por
objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se
juntamente com o crédito dela decorrente. § 2º A obrigação acessória
decorre da legislação tributária e tem por objeto as prestações,
positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadação ou
da fiscalização dos tributos.

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A prestação pode ser composta por 3 modalidades: Dar (dinheiro/pecúnia – obrigação


principal), Fazer (escrituração fiscal, declaração de imposto de renda) ou Não Fazer (praticar
atos que almejem a sonegação fiscal).

*** As obrigações de fazer e de não fazer são tratadas pelo Código


Tributário Nacional como obrigações acessórias, no entanto, como em
Direito Tributário não se aplica o princípio da gravitação jurídica, uma
vez que existem entidades que gozam de imunidade, mas não deixam
de serem obrigadas a realizares a escrituração fiscal, a doutrina
majoritária prefere denomina-las como sendo deveres instrumentais.

 Elementos Objetivos (Lei e Prestação)

o Prestação

Podemos dividi-la em duas relações, sendo uma de Direito Material e outra de Direito
Formal, vejamos:

 Relação Jurídica de Direito Material

Relaciona-se a obrigação principal (Art. 113, §1º do CTN), ou seja, o Tributo


propriamente dito e a multa. Sob esta relação, pragmaticamente aplicamos o previsto no Art.
144 do CTN, ou seja, a lei vigente na data do fato gerador.

Art. 144, CTN - O lançamento reporta-se à data da ocorrência do fato


gerador da obrigação e rege-se pela lei então vigente, ainda que
posteriormente modificada ou revogada.

 Relação Jurídica de Direito Formal

Esta relação compreende as obrigações acessórias ou deveres instrumentais. Nesta


relação, primeiramente nos chama atenção que o §2º do Art. 113 do CTN trouxe a expressão:
“A obrigação acessória decorre da legislação tributária [...]”.

Legislação tributária é definida no Art. 96 do CTN, vejamos:

Art. 96, CTN - A expressão "legislação tributária" compreende as leis,


os tratados e as convenções internacionais, os decretos e as normas
complementares que versem, no todo ou em parte, sobre tributos e
relações jurídicas a eles pertinentes.

Ou seja, o termo “legislação tributária” é muito mais amplo, possibilitando a criação de


obrigações acessórias ou deveres instrumentais por atos infra legais. Em que pese existirem
posicionamentos no sentido de que esse dispositivo não foi recepcionado pela Constituição
por força do inciso II do Art. 5º da CF que determina que “ninguém será obrigado a fazer ou
deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei” o entendimento majoritário é que houve
sim sua recepção e por consequência uma legitimação democrática o que em contrário senso,

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significa “forçar a barra” defender que as obrigações de fazer ou de não fazer só poderiam
advir de lei.

Já no plano pragmático, diferentemente do que ocorre na relação jurídica de direito


material vista acima, aqui aplicamos a regra do Art. 144, § 1º do CTN, ou seja, o tempo rege o
ato.

Art. 144, § 1º, CTN - Aplica-se ao lançamento a legislação que,


posteriormente à ocorrência do fato gerador da obrigação, tenha
instituído novos critérios de apuração ou processos de fiscalização,
ampliado os poderes de investigação das autoridades administrativas,
ou outorgado ao crédito maiores garantias ou privilégios, exceto, neste
último caso, para o efeito de atribuir responsabilidade tributária a
terceiros.

Em suma, o Estado mediante legislação, exige da pessoa (física ou jurídica) uma


prestação (obrigação acessória ou dever instrumental prevista no Art. 113, §2º do CTN).

o Lei (Vínculo Jurídico)

Dentro da relação jurídica de direito material, o vinculo jurídico (que é a lei – elemento
objetivo) é denominada HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA ou FATO GERADOR IN ABSTRATO, uma vez
que ela narra uma situação que se houver subsunção ao fato concreto da vida real ocorrerá o
FATO GERADOR IN CONCRETO ou FATO IMPONÍVEL.

 Elementos Subjetivos

Já em relação aos elementos subjetivos, temos aqueles que possuem competência


para criar o tributo e/ou capacidade para cobra-lo, também denominado de sujeito ativo (Art.
119, CTN) e o sujeito sob qual há a incidência da obrigação, também denominado sujeito
passivo (Art. 121, CTN).

Art. 119, CTN - Sujeito ativo da obrigação é a pessoa jurídica de


direito público, titular da competência para exigir o seu cumprimento.

Art. 121, CTN - Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa


obrigada ao pagamento de tributo ou penalidade pecuniária.
Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação principal diz-se: I -
contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a situação
que constitua o respectivo fato gerador; II - responsável, quando, sem
revestir a condição de contribuinte, sua obrigação decorra de
disposição expressa de lei.

Conforme prevê o Parágrafo único do Art. 121 do CTN elencado acima, o sujeito
passivo pode ser CONTRIBUINTE ou RESPONSÁVEL.

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O CONTRIBUINTE possui relação pessoal e direta com o fato gerador in abstrato


(hipótese de incidência), ou seja, trata-se de quem realiza o verbo mais complemento
descrito na hipótese de incidência (ser proprietário, prestar serviços, praticar ato de comércio,
obter renda);

O RESPONSÁVEL, por sua vez, trata-se de um terceiro que não possui relação pessoal e
direta com o fato gerador in abstrato, mas que de alguma forma esta vinculado ao fato
gerador, em outras palavras, trata-se daquele que realiza o verbo mais complemento descrito
na norma de responsabilidade – pois a responsabilidade também precisa estar prevista na lei.
É o caso, por exemplo, do comprador de um imóvel que possui vários IPTUs atrasados - na
data do lançamento ele não era proprietário, então ele não tinha relação pessoal e direta com
o fato gerador in abstrato, no entanto, ele praticou um ato que gera responsabilidade (adquirir
o imóvel), por isso torna-se responsável pelo débito e mesmo que haja um contrato
estipulando algo em contrario, ele não será oponível contra o fisco, pois a responsabilidade
decorre de lei, enquanto o contrato possui efeitos somente inter partes (há nestes casos
sempre a possibilidade de regresso).

 Questões pertinentes em relação a responsabilidade


tributária

 Regra de Solidariedade

Art. 124, CTN - São solidariamente obrigadas: I - as pessoas que


tenham interesse comum na situação que constitua o fato gerador da
obrigação principal; II - as pessoas expressamente designadas por lei.

O inciso I estabelece uma regra de solidariedade natural (civil) de quem tem interesse
na coisa, cujo exemplo típico é o condomínio. Justamente por tratar-se de uma solidariedade
natural, não há como ser incluída posteriormente. Isso significa que ao iniciar uma Execução
Fiscal o Estado deve desde o início colocar no polo passivo todos os solidários naturais, sob
pena de se depois não conseguir cobrar de um deles, se o outro não constar no polo passivo
deste o inicio da Execução, não poder ser cobrado. Em outras palavras, a solidariedade natural
deve constar na CDA (Certidão de Dívida Ativa), pois esta somente poderá ser alterada para
corrigir erros formais.

Já o inciso II diz respeito “as pessoas expressamente designadas por lei”, tratando-se,
portanto da solidariedade legal. Este inciso deve ser interpretado conjuntamente com o Art.
134 do CTN, vejamos:

Art. 134, CTN - Nos casos de impossibilidade de exigência do


cumprimento da obrigação principal pelo contribuinte, respondem
solidariamente com este nos atos em que intervierem ou pelas
omissões de que forem responsáveis: I - os pais, pelos tributos devidos
por seus filhos menores; II - os tutores e curadores, pelos tributos
devidos por seus tutelados ou curatelados; III - os administradores de

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bens de terceiros, pelos tributos devidos por estes; IV - o


inventariante, pelos tributos devidos pelo espólio; V - o síndico e o
comissário, pelos tributos devidos pela massa falida ou pelo
concordatário; VI - os tabeliães, escrivães e demais serventuários de
ofício, pelos tributos devidos sobre os atos praticados por eles, ou
perante eles, em razão do seu ofício; VII - os sócios, no caso de
liquidação de sociedade de pessoas.

A solidariedade elencada no inciso II trata-se de responsabilidade subsidiária – na


verdade tenta-se receber do contribuinte ou responsável, se não obtiver êxito pode-se incluir
as pessoas descritas nos incisos acima, sempre que se cumprir dois requisitos: 1º esgotamento
das tentativas de recebimento do devedor principal; 2º pratica de ato comissivo ou omissivo
que concorreu para a situação de inadimplência do devedor principal.

*** Há solidariedade horizontal entre os genitores e uma solidariedade


vertical entre genitores e seus filhos. Os genitores possuem dever legal
ou contratual de administrar os bens dos filhos – assim, se tiverem
patrimônio e não pagarem os tributos será em decorrência deste ato
que se gerará a inadimplência – assim preenchido os dois requisitos – é
possível inclui-los no polo passível da execução, ambos os genitores
por uma obrigação cujo devedor principal seja seus filhos menores.
Insta salientar que o devedor principal nunca deixa o polo passivo da
Execução, pois se ele vier a ter patrimônio, ele quem será obrigado a
arcar com os tributos.

03/08/2017

 Efeitos da Solidariedade

Art. 125, CTN - Salvo disposição de lei em contrário, são os seguintes


os efeitos da solidariedade: I - o pagamento efetuado por um dos
obrigados aproveita aos demais; II - a isenção ou remissão de crédito
exonera todos os obrigados, salvo se outorgada pessoalmente a um
deles, subsistindo, nesse caso, a solidariedade quanto aos demais pelo
saldo; III - a interrupção da prescrição, em favor ou contra um dos
obrigados, favorece ou prejudica aos demais.

Inciso I – o pagamento efetuado por um dos obrigados aproveita aos demais

Trata-se de uma regra básica da solidariedade.

Inciso II – a isenção ou remissão de crédito exonera todos os obrigados, salvo se


outorgada pessoalmente a um deles, subsistindo, nesse caso, a solidariedade quanto
aos demais pelo saldo

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- isenção – trata-se de hipótese de não incidência.

- remissão – trata-se de perdão.

A regra então é que a isenção ou remissão concedida a um aproveita aos demais, salvo
se outorgada pessoalmente a um deles – Vejamos o exemplo: Hugo, Luiz e Zezinho são
proprietários de um imóvel, se o Município conceder isenção ao Luiz, a regra é que a isenção
concedida a ele aproveita aos demais, salvo se essa isenção for concedida devido a condições
pessoais do indivíduo (ser aposentado, ser portador de doença grave), hipótese em que será
descontado 1/3 do valor do IPTU e o Hugo e o Zezinho serão responsáveis solidários pelos
outros 2/3.

Inciso III - a interrupção da prescrição, em favor ou contra um dos obrigados,


favorece ou prejudica aos demais

Neste sentido, se Hugo, Luiz e Zezinho possuíam uma dívida fiscal, se um deles a
parcelar, como o parcelamento é causa de interrupção da prescrição, todos serão
prejudicados.

*** A solidariedade só ocorre no polo passivo da relação jurídica de direito


tributário, pois se houvesse solidariedade no polo ativo, seria caso de bis in
idem ou bitributação.

 Capacidade Tributária

Art. 126, CTN - A capacidade tributária passiva independe: I - da


capacidade civil das pessoas naturais; II - de achar-se a pessoa natural
sujeita a medidas que importem privação ou limitação do exercício de
atividades civis, comerciais ou profissionais, ou da administração direta
de seus bens ou negócios; III - de estar a pessoa jurídica regularmente
constituída, bastando que configure uma unidade econômica ou
profissional.

Inciso I - da capacidade civil das pessoas naturais

Isso significa que incapazes também possuem capacidade tributária.

Inciso II - de achar-se a pessoa natural sujeita a medidas que importem privação ou


limitação do exercício de atividades civis, comerciais ou profissionais, ou da
administração direta de seus bens ou negócios

Este dispositivo com certeza sofrerá relativização com Estatuto do Deficiente.


Independentemente se o indivíduo possui capacidade para os atos da vida civil o indivíduo não
perde a capacidade tributária.

Inciso III - de estar a pessoa jurídica regularmente constituída, bastando que


configure uma unidade econômica ou profissional

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Ou seja, não há necessidade de se provar a regularidade administrativa para possuir


capacidade tributária.

 Domicilio Tributário

Art. 127, CTN – Na falta de eleição, pelo contribuinte ou responsável,


de domicílio tributário, na forma da legislação aplicável, considera-se
como tal: I - quanto às pessoas naturais, a sua residência habitual, ou,
sendo esta incerta ou desconhecida, o centro habitual de sua
atividade; II - quanto às pessoas jurídicas de direito privado ou às
firmas individuais, o lugar da sua sede, ou, em relação aos atos ou
fatos que derem origem à obrigação, o de cada estabelecimento; III -
quanto às pessoas jurídicas de direito público, qualquer de suas
repartições no território da entidade tributante.

A regra é que o domicilio tributário é definido por eleição, ou seja, o contribuinte é


quem elegerá seu domicílio tributário. No entanto, nas ocasiões em que o fisco precisar
realizar o cadastro de ofício (p. ex. quando o indivíduo começa a exercer atividade sem a
licença), ele deve seguir a regra disposta nos incisos do dispositivo acima.

 Elementos Quantitativos

A relação jurídica tributária é composta por dois elementos quantitativos, temos a


base de cálculo e a alíquota.

A base de cálculo trata-se do montante sobre o qual incidirá a alíquota, podendo ser o
valor de mercado, valor venal, altura, profundidade, metros cúbicos, valor monetário, salário,
etc.

A Alíquota trata-se da porção que vai ser retirada da base de cálculo, podendo ser ad
valorem, que é um percentual (Ex. Imposto de Renda), ou pode ser específica, tratando-se de
um valor monetário (Ex. CIDE Combustíveis).

Os dois elementos quantitativos trabalham juntos para achar o quanto é devido


(quantum debeatur).

09/08/2017

 Responsabilidade Tributária

Nós vimos que dentro da sujeição passiva, temos o contribuinte (Art. 121, Parágrafo
único, I, CTN) e o Responsável (Art. 121, Parágrafo único, II, CTN) – o responsável é o
terceiro que não possui relação pessoal e direta com o fato gerador, só que ele realiza a
situação jurídica prevista na norma de responsabilidade e, portanto, ele é chamado a tornar
efetiva a prestação, ou seja, ele é chamado a pagar a prestação.

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Podemos definir a responsabilidade tributária, portanto, como sendo o dever de


tornar efetiva a prestação.

A razão de existir da responsabilidade tributária é de facilitar/favorecer a atividade de


fiscalização e arrecadação tributária do Estado, mas para tal, há necessidade de que se cumpra
dois requisitos, quais sejam:

1) existir expressa determinação legal (estrita legalidade – Art. 97, CTN);

Art. 97, CTN – Somente a lei pode estabelecer: I - a instituição de


tributos, ou a sua extinção; II - a majoração de tributos, ou sua
redução, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65; III - a
definição do fato gerador da obrigação tributária principal, ressalvado
o disposto no inciso I do § 3º do artigo 52, e do seu sujeito passivo; IV -
a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo, ressalvado o
disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65; V - a cominação de
penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus dispositivos,
ou para outras infrações nela definidas; VI - as hipóteses de exclusão,
suspensão e extinção de créditos tributários, ou de dispensa ou
redução de penalidades.

2) que esse terceiro de alguma forma esteja vinculado ao fato gerador.

Veremos três espécies de responsabilidade tributária:

Responsabilidade por sucessão ou transferência – Nesta hipótese podemos subdividi-


la em sucessão por ato inter vivos ou causa mortis (herdeiros e cônjuge meeiro e o espólio,
Art. 131, II e III do CTN). Dentre a sucessão por ato inter vivos, teremos a sucessão
imobiliária (Art. 130, CTN), sucessão mobiliária (Art. 131, I, CTN), sucessão empresarial
(Art. 132, CTN) e sucessão comercial (Art. 133, CTN).

Responsabilidade tributária por substituição – No CTN encontraremos previsão dessa


responsabilidade apenas em uma parte do Art. 128, pois na verdade sua disciplina encontra-
se em legislações específicas.

Neste caso, temos a responsabilidade por substituição por retenção na fonte


pagadora; a responsabilidade por substituição regressiva ou para trás e a
responsabilidade por substituição progressiva ou para frente.

Responsabilidade tributária dos terceiros devedores – Neste caso temos terceiros


com atuação regular (Art. 144, CTN) e terceiros com atuação irregular (Art. 135, CTN), no
primeiro a responsabilidade advém de culpa já no segundo do dolo, no primeiro temos
responsabilidade subsidiária e no segundo responsabilidade pessoal e direta.

 Como diferenciar a responsabilidade tributária por sucessão ou


transferência da responsabilidade tributária por substituição

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Precisamos verificar a ocorrência do fato gerador  se a responsabilidade existe antes


mesmo da sua ocorrência, estaremos diante de responsabilidade por substituição, agora se
ela surge após a ocorrência do fato gerador trata-se de responsabilidade por sucessão ou
transferência.

Em outras palavras, na responsabilidade por sucessão o fato regulado na norma de


responsabilidade, ocorre depois do fato gerador do tributo, assim dizemos que trata-se de um
fato superveniente.

Nesta situação, ocorre o fato gerador que incide sobre um contribuinte, no


entanto, devido a ocorrência de um fato superveniente a responsabilidade é
transferida para outro. Neste caso, o fato superveniente enseja a sucessão do
contribuinte, pois o responsável ocupara a posição jurídica anteriormente
ocupada pelo contribuinte.

Com a morte há transferência do patrimônio para os herdeiros “droit


de saisine” – Art. 1.784, CC  isso ocorre, porque com a morte,
alguém tem que ocupar a posição jurídica anteriormente ocupada pelo
de cujus. Assim, neste caso, o fato superveniente é a morte e quem
ocupará o lugar enquanto responsáveis serão os herdeiros, portanto,
estes últimos são os sucessores do contribuinte. Por isso que falamos
tratar-se de responsabilidade por sucessão.

O mesmo ocorre na sucessão imobiliária, mobiliária, empresarial e


comercial – só mudando o fato superveniente.

Já na substituição, antes de ocorrer o fato gerador já existe a obrigação, por exemplo,


o fato gerador do Imposto de Renda ocorre em 31/12 de cada ano, mas o empregador é
obrigado antes da sua ocorrência a reter o imposto de renda no momento do pagamento.

Neste caso, o responsável substitui o próprio contribuinte, porque não será


este último quem recolherá, mas sim o terceiro.

Passaremos agora a estudar cada uma das responsabilidades, vejamos:

RESPONSÁBILIDADE POR SUCESSÃO IMOBILIÁRIA (Art. 130, CTN)

Art. 130, CTN - Os créditos tributários relativos a impostos cujo fato


gerador seja a propriedade, o domínio útil ou a posse de bens imóveis,
e bem assim os relativos a taxas pela prestação de serviços referentes
a tais bens, ou a contribuições de melhoria, subrogam-se na pessoa
dos respectivos adquirentes, salvo quando conste do título a prova de
sua quitação.

São tributos que incidem sobre imóveis, quais sejam: IPTU, ITR, Taxas e Contribuições
de Melhoria, sub-rogam-se ao adquirente.

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O fato superveniente aqui é a aquisição do imóvel. Com a aquisição do imóvel o


adquirente sucede o antigo proprietário, ocupando sua posição jurídica, tornando-se o novo
proprietário. Vejamos o exemplo abaixo:

Gabriel foi proprietário de um imóvel (alienante) entre 2012 a novembro de


2014. Ele o vendeu para a Mirela (adquirente) em Dezembro de 2014 e é a
proprietária até os dias atuais. Agora em 2017, Mirela recebe do oficial a
notícia de que contra ela corre uma execução fiscal que tem por objetivo a
cobrança de dívidas de IPTU relativas ao imóvel de 2012 a 2016.

Neste caso, entre 2012 e 2014 o Gabriel é o contribuinte e a Mirela é


responsável. No ano de 2014, ainda consideramos o Gabriel como contribuinte
porque o fato gerador do IPTU ocorre dia 1º de janeiro de cada ano. Já com
relação aos IPTUs de 2015 e 2016, como a Mirela já era proprietária do imóvel,
ela passa ser a contribuinte.

A causa superveniente aqui se trata da aquisição do imóvel

 Causas excludentes da responsabilidade

A parte final do Art. 130 do CTN exclui a responsabilidade quando conste do título a
prova de sua quitação. Isso porque a natureza jurídica dessa responsabilidade é punitiva, uma
sanção por conta da negligência do adquirente, tendo em vista que todo aquele que adquire
um imóvel deve verificar se há dívidas ou não – em sendo assim, se o adquirente fez essa
verificação e tinha uma CND - Certidão Negativa de Débito, não será oponível este tributo
contra ele posteriormente.

A CND (Certidão Negativa de Débito), no caso do IPTU é obtida no órgão fiscal


do Município, já se envolver ITR a busca de ser na Receita Federal. Nos casos
em que a aquisição for realizada por documento particular, indica-se que a
CND fique anexada ao contrato ou promessa de compra e venda, por outro
lado, se a aquisição do imóvel tiver que ser feita por escritura pública, basta
apresenta-la ao cartorário para que ele deixe registrado na matrícula do
imóvel.

Outra causa excludente, esta no Parágrafo único do Art. 130 do CTN, vejamos:

Art. 130, Parágrafo único, CTN – No caso de arrematação em hasta


pública, a sub-rogação ocorre sobre o respectivo preço.

*** A aquisição em hasta pública, não se confunde com adjudicação (alguém


que fica com um bem como pagamento), no primeiro caso, a excludente de
responsabilidade visa favorecer a alienação de bens em hastas públicas.

Suponhamos que o Tiago seja o exequente e o Wadher o executado. O Wadher tem


uma fazenda, que é penhorada e alienada a um terceiro em hasta pública – este terceiro não
terá qualquer responsabilidade se existir dívidas envolvendo ITR, no entanto, o fisco sub-roga-

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se no valor da alienação, isso significa que o fisco deve realizar uma petição requerendo sua
sub-rogação no valor alienado e não na pessoa do adquirente. Em suma, se a propriedade foi
vendida por R$ 1 milhão de reais e a dívida é de R$ 50 mil reais, o fisco sub-roga-se nesse valor
e é entregue ao proprietário apenas R$ 950 mil reais.

10/08/2017

 Há limites para a responsabilidade?

Imaginemos a situação de alguém que compra um imóvel por R$ 50 mil reais, mas ele
tinha IPTU atrasado, contribuição de melhoria e muitas taxas que acumulavam R$ 65 mil reais.
Sobre o tema, vejamos o que disciplina o Art. 130, caput do CTB.

Art. 130, CTB - Os créditos tributários relativos a impostos cujo fato


gerador seja a propriedade, o domínio útil ou a posse de bens imóveis,
e bem assim os relativos a taxas pela prestação de serviços referentes
a tais bens, ou a contribuições de melhoria, subrogam-se na pessoa
dos respectivos adquirentes, salvo quando conste do título a prova de
sua quitação.

- sub-rogam-se na pessoa do adquirente – O dispositivo é claro ao disciplinar que os


valores dos tributos sub-rogam-se na pessoa do adquirente, no entanto, vejamos o que
disciplina o Parágrafo único do mesmo artigo:

Art. 130, Parágrafo único, CTB – No caso de arrematação em hasta


pública, a sub-rogação ocorre sobre o respectivo preço.

- a sub-rogação ocorre sobre o respectivo preço – Já por este dispositivo temos a sub-
rogação sobre o preço.

Fazendo uma interpretação dos dispositivos acima, uma primeira corrente doutrinaria
defende que não há limites, porque quando o CTN quis impor limites ele disciplinou
expressamente como fez no caso do Parágrafo único, em outras palavras, se o legislador
quisesse impor limites quanto ao disposto no caput ele também teria feito expressamente.

Por outro lado, uma segunda corrente doutrinária defende que há necessidade de
separar aquele que possui o débito (contribuinte – que tem relação pessoal e direta com o fato
gerador) daquele que possui a responsabilidade (terceiro – que realiza a conduta disciplinada
na norma de responsabilidade). No caso da sucessão imobiliária a responsabilidade advém da
aquisição do imóvel, logo ele somente poderia se responsabilizar até o limite do valor da
aquisição.

Não há um posicionamento dominante entre a primeira e segunda correntes – mas


para provas de gabarito a segunda corrente doutrinaria é a mais aceita.

 Responsabilidade quanto as multas impostas


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DIREITO TRIBUTÁRIO II

O Art. 130 do CTN – traz a expressão “créditos tributários”. Neste sentido, quando
falamos especificamente em Tributos, nos referimos as espécies, quais sejam: Impostos, Taxas,
Contribuições de Melhoria, Empréstimos Compulsórios e Contribuições Especiais, já quando
nos referimos ao Crédito Tributário ele é mais amplo, envolvendo as espécies tributárias e as
multas.

Neste sentido, tanto a doutrina como o CTN entendem que crédito tributário, abrange
tributos e multas, no entanto, não podemos nos olvidar que existem multas moratórias e as
punitivas. As moratórias tem natureza jurídica indenizatória pela impontualidade no
pagamento do Tributo, enquanto as punitivas possuem natureza de sanção. Assim a grande
dúvida seria se as multas punitivas alcançariam o responsável ou não?

Muitos autores de peso, como o Paulo de Barros Carvalho, Sacha Calmon Navarro
Coelho e Luiz Eduardo Schoueri, defendem que as multas punitivas não se transmitem ao
responsável – baseado no princípio da intranscendência – cuja pena não passará da pessoa do
condenado. Por outro lado, existem também muitos autores que defendem que como há sub-
rogação no crédito tributário, ele abrangeria tudo inclusive as multas punitivas.

Em relação ao que tem entendido a jurisprudência, a Súmula 554 do STJ embora seja
específica para o Art. 132 do CTN (sucessão empresarial) tem sido utilizada nas demais
situações, no entanto, devemos sempre contestar tal súmula uma vez que seus precedentes
são genéricos, não se pautando em casos que envolviam efetivamente multas punitivas.

Súmula 554, STJ – Na hipótese de sucessão empresarial, a


responsabilidade da sucessora abrange não apenas os tributos devidos
pela sucedida, mas também as multas moratórias ou punitivas
referentes a fatos geradores ocorridos até a data da sucessão.

16/08/2017

RESPONSABILIDADE POR SUCESSÃO MOBILIARIA (Art. 131, I, CTN)

Art. 131, CTN – São pessoalmente responsáveis: I - o adquirente ou


remitente, pelos tributos relativos aos bens adquiridos ou
remidos; [...]

Após a ocorrência do Fato Gerador se ocorrer um fato superveniente definido na


norma de responsabilidade, torna um terceiro responsável. Neste caso o fato superveniente
trata-se da aquisição de bens móveis ou remidos.

*** A remição com cedilha, significa resgatar o bem, em outras palavras


quando um bem é penhorado, o devedor pode depositar o valor da dívida e
resgatá-lo, ou seja, remi-lo (Art. 877 § 3º e 902 CPC) – neste caso, quando um
terceiro resgatar o bem, ele (remitente) torna-se responsável pelo pagamento
de todas as dívidas tributárias que incidirem sobre o referido bem.

Kleber Luciano Ancioto Página 12


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Art. 877, §3º, CPC – No caso de penhora de bem hipotecado, o


executado poderá remi-lo até a assinatura do auto de adjudicação,
oferecendo preço igual ao da avaliação, se não tiver havido licitantes,
ou ao do maior lance oferecido.

Art. 902, CPC – No caso de leilão de bem hipotecado, o executado


poderá remi-lo até a assinatura do auto de arrematação, oferecendo
preço igual ao do maior lance oferecido.

Observações:

O inciso I do Art. 131, CTN disciplina que há responsabilidade – pelos tributos –


portanto, literalmente, abrangeria apenas os impostos, taxas, contribuições de melhoria,
empréstimos compulsórios e contribuições especiais, não incluindo as multas.

No entanto, acerca da inclusão ou não das multas, temos que ter em mente que há
dois entendimentos distintos sobre sua inclusão ou não, vejamos:

Uma primeira corrente toma como base o previsto no Art. 129 do CTN:

Art. 129, CTN - O disposto nesta Seção aplica-se por igual aos
créditos tributários definitivamente constituídos ou em curso de
constituição à data dos atos nela referidos, e aos constituídos
posteriormente aos mesmos atos, desde que relativos a obrigações
tributárias surgidas até a referida data.

Em sendo o dispositivo acima uma norma geral, disciplinando toda a Seção que
cuida da Responsabilidade dos Sucessores e como ele disciplina que o disposto
na referida Seção aplica-se por igual aos créditos tributários, caso em que
abrangeria os tributos e as multas (moratórias e punitivas) – onde lemos
“tributos” no inciso I do Art. 131 do CTN, devemos entender como sendo
“créditos tributários", tendo em vista o Art. 131 do CTN estar inserido dentro
da Seção a que se refere o Art. 129 do CTN.

Já uma segunda corrente (interpretação restritiva), defende que o Art. 130 do


CTN, também esta inserido na Seção a que se refere o Art. 129 do CTN, no
entanto, o legislador a expressão créditos tributários, vejamos:

Art. 130, CTN - Os créditos tributários relativos a impostos cujo fato


gerador seja a propriedade, o domínio útil ou a posse de bens imóveis,
e bem assim os relativos a taxas pela prestação de serviços referentes
a tais bens, ou a contribuições de melhoria, subrogam-se na pessoa
dos respectivos adquirentes, salvo quando conste do título a prova de
sua quitação.

Kleber Luciano Ancioto Página 13


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Sabendo disso, essa corrente entende que onde o legislador quis que
abrangesse os créditos tributários ele foi específico, logo, no que se refere ao
inciso I do Art. 131 do CTN a responsabilidade não abrangeria as multas.

A Professora nos alerta que na pratica a responsabilidade abrange os créditos


tributários, ou seja, inclusive as multas.

Por fim, acerca da sucessão mobiliária, em que pese não haver previsão, as aquisições
que se derem em hasta pública haverá sub-rogação no preço, ou seja, exclusão da
responsabilidade do terceiro. Este entendimento tem por finalidade facilitar a negociação. Em
suma, aplica-se por analogia o que prevê o Parágrafo único do Art. 130 do CTN:

Art. 130, Parágrafo único, CTN - No caso de arrematação em hasta


pública, a sub-rogação ocorre sobre o respectivo preço.

RESPONSABILIDADE POR SUCESSÃO CAUSA MORTIS (Art. 131, II e III, CTN)

Art. 131, CTN - São pessoalmente responsáveis: [...] II - o sucessor a


qualquer título e o cônjuge meeiro, pelos tributos devidos pelo de
cujus até a data da partilha ou adjudicação, limitada esta
responsabilidade ao montante do quinhão do legado ou da meação; III
- o espólio, pelos tributos devidos pelo de cujus até a data da abertura
da sucessão.

Observações:

Inciso II - o sucessor a qualquer título e o cônjuge meeiro, pelos tributos devidos pelo
de cujus até a data da partilha ou adjudicação, limitada esta responsabilidade ao
montante do quinhão do legado ou da meação

Uma primeira impropriedade que precisamos chamar atenção neste inciso é que o
legislador utilizou a expressão “cônjuge meeiro”, no entanto, aqui estamos tratando de
sucessão, ou seja, alguém que ocupa a posição jurídica que antes era ocupada pelo falecido,
assim a expressão correta seria cônjuge sucessor, pois nem sempre o cônjuge meeiro ira
suceder, pois bem sabemos que em se tratando de Regime de Comunhão Parcial de Bens,
quando o cônjuge concorrer com os descendentes onde há meação não há sucessão.

Insta salientar que se o cônjuge for apenas meeiro ele deverá constar desde o início na
Ação Fiscal, por conta da solidariedade tributária que vimos anteriormente.

Por fim, ainda sobre este inciso, nos cumpre chamar atenção que com a declaração de
inconstitucionalidade do Art. 1.790 do CC que tratava das regras de sucessão para os
companheiros que viviam em União Estável, os companheiros passaram a seguir as mesmas
regras aplicadas aos cônjuges dispostas no Art. 1.229 do CC, portanto, podemos afirmar que o
companheiro também é herdeiro necessário, aplicando-se as mesmas regras que se aplicam ao
cônjuge no que tange a sucessão tributária.

Kleber Luciano Ancioto Página 14


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Inciso III – o espólio, pelos tributos devidos pelo de cujus até a data da abertura da
sucessão.

Para melhor entendermos este inciso, vejamos a tabela abaixo que toma como base os
ensinamentos do Prof. Eduardo Sabbag:

TRIBUTO CONTRIBUINTE RESPONSÁVEL TIPO FUNDAMENTO


Fato Gerador
Pessoal
ocorrido antes da
O de cujus Espólio (não há como
morte e descoberto Art. 131, III, CTN
cobrar o de cujus)
na partilha
Fato Gerador Inventariante
Solidária
ocorrido após a (possui o dever
O Espólio (pois pode-se cobrar
morte e descoberto legal de administrar Art. 134, IV, CTN
ambos)**
na partilha o espólio)
Os sucessores
(herdeiros Pessoal na relação
Fato Gerador necessários, entre o Contribuinte
ocorrido antes da testamentários, e o Responsável
O de cujus
morte e descoberto legatários, cônjuge e Art. 131, II, CTN
após a partilha convivente sucessor Solidária entre os
– até o limite da Responsáveis
herança)
Pessoal em relação
Fato Gerador ao Contribuinte e o
ocorrido após a Sucessores – até o Responsável
O Espólio
morte e descoberto limite da herança Art. 131, II, CTN
após a partilha Solidária entre os
Responsáveis
**Requisitos: Espolio tem que estar inadimplente – Demonstrar que esta situação se deu devido a ato culposo daquele que
deveria administrar o bem.

 Dinâmica Tributaria

A Constituição Federal cria as Regras de Competência  Vem a Lei Complementar e


cria as Normas Gerais  Na sequencia vem a Lei Ordinária e Instituí o Tributo  Eis que algo
ocorre no Mundo Real que culmina com o Fato Gerador, fazendo nascer a Obrigação
Tributária que, em princípio, é inexequível.

O ato que confere certeza, liquidez e exigibilidade a Obrigação Tributária é o


Lançamento, que vai dizer o que é devido, quem é o devedor e quanto é devido  fazendo
nascer o Crédito Tributário.

Uma vez realizado o Lançamento, o Contribuinte deve ser Notificado para que ele
possa pagar o valor exigido ou oferecer defesa, iniciando, neste último caso, um Processo
Administrativo.

Caso o Contribuinte não faça nada (ou seja, não pague e nem ofereça defesa), inicia-se
a Fase de Cobrança Judicial, que denominamos Inscrição em Dívida Ativa e a partir dessa fase
é que as Ações do Contribuinte poderão configurar Fraude Contra a Fazenda.

Kleber Luciano Ancioto Página 15


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Uma vez que o Crédito Tributário estiver inscrito na Divida Ativa, gera-se a C.D.A.
(Certidão de Dívida Ativa) que se trata de um Título Executivo Extrajudicial.

Com a C.D.A., o Fisco elabora a Petição Inicial e a ajuíza, iniciando a Execução Fiscal.

Insta salientar que a C.D.A. obrigatoriamente se reporta ao Lançamento e o


Lançamento ao Fato Gerador.

Feito tais considerações, vejamos o exemplo:

Suponhamos que a C.D.A. seja de 2015 e o Fisco ajuíze a Ação no mesmo ano. No
entanto, descobre-se durante a Execução Fiscal que o executado faleceu no ano de 2000.
Ocorre que a C.D.A. cobrava tributos dos anos de 2011 a 2014. Nestes casos, comumente o
Fisco pede o redirecionamento ao Espólio ou aos Sucessores, mas o “Contribuinte” elencado
na C.D.A. não realizou os Fatos Geradores, portanto, o Fisco sequer deveria ter realizado o
Lançamento em seu nome, assim temos uma nulidade do Lançamento. Como a C.D.A. se
reporta obrigatoriamente ao Lançamento, sendo este último nulo, a C.D.A. também será nula
e, sendo o Título Executivo nulo, toda a Execução Fiscal também é considerada nula.

Ocorre que na prática os herdeiros simplesmente procuram o Fisco para parcelarem os


Tributos, sem procurar bons Advogados para defendê-los de tais cobranças, tendo em vista
que o Fisco até poderá lança-los novamente, agora com os dados corretos, no entanto, muitas
vezes boa parte dos Créditos Tributários acabam prescrevendo, o que faz com que a dívida
diminua consideravelmente.

Outro erro muito comum é que o fisco deixa de lançar o Crédito Tributário no nome do
cônjuge meeiro e depois quando percebe que o Contribuinte cujo nome consta no lançamento
faleceu, pede a inclusão do cônjuge meeiro. Ocorre que, como já explicamos o cônjuge
meeiro, muitas vezes não sucede o de cujus, devendo constar seu nome desde o lançamento.
Em outras palavras, quando o Fisco pedir a inclusão posterior pode-se alegar ilegitimidade,
quando o cônjuge meeiro não suceder o de cujus, pois, na verdade, ele era parte desde o início
da Ação Fiscal.

Em suma, o Fisco precisa lançar no nome do Contribuinte certo, no nome do


Responsável certo – pois caso contrário, haverá nulidades. Por essa razão não devemos nos
ater a buscar nulidades apenas dentro da Execução Fiscal, mas no Processo Administrativo
também.

Uma última observação acerca do inciso III do Art. 131 do CTN é que ele utiliza a
expressão Tributos e, neste caso, nos reportamos a mesma discussão doutrinária que
explicamos no inciso I do mesmo artigo.

17/08/2017

RESPONSABILIDADE POR SUCESSÃO EMPRESARIAL

Kleber Luciano Ancioto Página 16


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Art. 132, CTN – A pessoa jurídica de direito privado que resultar de


fusão, transformação ou incorporação de outra ou em outra é
responsável pelos tributos devidos até à data do ato pelas pessoas
jurídicas de direito privado fusionadas, transformadas ou incorporadas.

*** Precisamos incluir também a cisão, que foi incluída


posteriormente na lei das S.A.

Fusão: Sociedade empresária “A” se une a sociedade empresária “B” dando origem a
uma terceira sociedade empresária.

Incorporação (Art. 227, Lei 6.404/76): Sociedade empresária “A” absorve a


sociedade empresária “B”.

Transformação (Art. 220, Lei 6.404/76) – Sociedade empresária era uma LTDA e
agora transformou-se em uma S.A.

Cisão (Art. 229 e 233 Lei 6.404/76) – Sociedade empresária “A” que se divide e da
origem a sociedade empresaria “A” e “B” (cisão parcial) ou “B” e “C” (cisão total).

O Banco Nossa Caixa, tinha patrimônio ativo e passivo, quando o Banco do Brasil o
incorporou, no momento em que há a publicação da ata da assembleia de incorporação,
ocorre o fato superveniente  todos os fatos geradores ocorridos anteriormente, temos como
contribuinte a sucedida e como responsável a sucessora. A partir de então, a sucessora passa a
ser contribuinte. Assim, as execuções fiscais que o Banco Nossa Caixa tinha em curso,
passaram a ter como Executado o Banco Nossa Caixa sucedida pelo Bando do Brasil, conforme
prevê o Art. 132 do CTN.

Neste dispositivo, cabe a mesma discussão acerca dele ter utilizado o termo “tributo” e
não “crédito tributário” e neste caso especifico ainda temos a Súmula 554, STJ.

Súmula 554, STJ – Na hipótese de sucessão empresarial, a


responsabilidade da sucessora abrange não apenas os tributos devidos
pela sucedida, mas também as multas moratórias ou punitivas
referentes a fatos geradores ocorridos até a data da sucessão.

o Extinção da Pessoa Jurídica

Art. 132, Parágrafo único, CTN - O disposto neste artigo aplica-se


aos casos de extinção de pessoas jurídicas de direito privado, quando a
exploração da respectiva atividade seja continuada por qualquer sócio
remanescente, ou seu espólio, sob a mesma ou outra razão social, ou
sob firma individual.

Assim se houver extinção da Pessoa Jurídica o sócio remanescente ou seu espólio que
continuar na exploração da mesma atividade também será responsável.

Kleber Luciano Ancioto Página 17


DIREITO TRIBUTÁRIO II

23/08/2017

RESPONSABILIDADE POR SUCESSÃO COMERCIAL (Art. 133, CTN)

Art. 133, CTN - A pessoa natural ou jurídica de direito privado que


adquirir de outra, por qualquer título, fundo de comércio ou
estabelecimento comercial, industrial ou profissional, e continuar a
respectiva exploração, sob a mesma ou outra razão social ou sob
firma ou nome individual, responde pelos tributos, relativos ao fundo
ou estabelecimento adquirido, devidos até à data do ato: I -
integralmente, se o alienante cessar a exploração do comércio,
indústria ou atividade; II - subsidiariamente com o alienante, se este
prosseguir na exploração ou iniciar dentro de seis meses a contar da
data da alienação, nova atividade no mesmo ou em outro ramo de
comércio, indústria ou profissão.

- adquirir – o caput do dispositivo acima utiliza um verbo específico, isso significa que
para que haja responsabilidade por sucessão comercial, necessariamente precisa envolver
transmissão de propriedade.

- por qualquer título – isso significa que pode tanto ser a título gratuito, como
oneroso.

- fundo de comercio ou estabelecimento comercial – o Código Tributário Nacional,


neste dispositivo da a entender que fundo de comércio e estabelecimento comercial é a
mesma coisa, no entanto, o Prof. Tarcísio Teixeira os distingue da seguinte forma:
Estabelecimento Comercial é o conjunto de bens corpóreos e incorpóreos (estabelecimento
físico, veículos, estoque, prateleiras, marca, ponto), enquanto o fundo de comercio é o valor
atribuído ao estabelecimento, ou seja, é a atribuição econômica do estabelecimento
comercial.

É importante salientar que a responsabilidade aqui ocorre por sucessão, ou seja,


alguém ocupa o lugar que antes era ocupado por outro, assim, em sendo a consequência a
mesma seja para o estabelecimento como para o fundo de comércio, não nos importa muito
distingui-las.

- continuar a respectiva exploração, sob a mesma ou outra razão social ou sob firma
ou nome individual – Insta salientar, que ainda que alguém exerça a mesma atividade no
mesmo imóvel, o fisco precisa demonstrar que houve sucessão de um para o outro, isso
ocorre, por exemplo, demonstrando que há exploração do mesmo nome fantasia ou que um
dos sócios já era sócio da antiga pessoa jurídica.

Em outras palavras, o sucessor aqui deve se valer da estrutura administrativa e


continuar na mesma função.

- responde pelos tributos – vale as mesmas considerações que tecemos nas sucessões
estudadas anteriormente, sobre englobar apenas os tributos ou todo o crédito tributário.
Kleber Luciano Ancioto Página 18
DIREITO TRIBUTÁRIO II

 Forma da Responsabilidade

Aqui nos referimos a responsabilidade do adquirente que é o sucessor. Neste sentido,


o adquirente poderá responder de duas formas distintas pelos tributos do alienante, conforme
dispõe os incisos do Art. 133 do CTN, vejamos:

Inciso I - integralmente, se o alienante cessar a exploração do


comércio, indústria ou atividade

Integralmente, ou seja, de maneira direta e exclusiva, conforme dispõe o inciso acima,


ou subsidiariamente, conforme dispõe o inciso abaixo.

Inciso II - subsidiariamente com o alienante, se este prosseguir na


exploração ou iniciar dentro de seis meses a contar da data da
alienação, nova atividade no mesmo ou em outro ramo de comércio,
indústria ou profissão

Para sabermos se a responsabilidade será integral ou subsidiária, temos que voltar


nossa análise para o comportamento do alienante (sucedido).

Neste sentido, o adquirente (sucessor) responderá integralmente nas hipóteses em


que o alienante (sucedido) cessar a atividade, uma vez que nestes casos não há como o fisco
prosseguir a execução em face dele. Por outro lado, se o alienante prosseguir na exploração da
atividade econômica ou se dentro dos 6 meses contados do fato superveniente (alienação)
iniciar a mesma atividade ou nova atividade, o sucessor também responderá subsidiariamente.
Neste ultimo caso, o fisco tentará receber o credito do alienante e somente se não conseguir é
que vai buscar no adquirente.

o Exceção a Responsabilidade

Art. 133, §1º, CTN - O disposto no caput deste artigo não se aplica na
hipótese de alienação judicial: I – em processo de falência; II – de filial
ou unidade produtiva isolada, em processo de recuperação judicial.

Portanto, em regra, não haverá responsabilidade quando a aquisição do


estabelecimento comercial ou fundo de comércio ocorrer por meio de alienação judicial, nos
autos da Falência ou da Recuperação Judicial – esta regra sem dúvida foi criada pensando na
função social da sociedade empresaria, que traz benefícios a sociedade.

o Exceção da Exceção

Art. 133, §2º, CTN - Não se aplica o disposto no § 1º deste artigo


quando o adquirente for: I – sócio da sociedade falida ou em
recuperação judicial, ou sociedade controlada pelo devedor falido ou
em recuperação judicial; II – parente, em linha reta ou colateral até o
4o (quarto) grau, consangüíneo ou afim, do devedor falido ou em
recuperação judicial ou de qualquer de seus sócios; ou III –

Kleber Luciano Ancioto Página 19


DIREITO TRIBUTÁRIO II

identificado como agente do falido ou do devedor em recuperação


judicial com o objetivo de fraudar a sucessão tributária.

O dispositivo acima elenca uma exceção da exceção, assim, sucederá o empresário


falido ainda que adquirido os bens nas condição do §1º, quando o adquirente for sócio da
sociedade falida ou em recuperação judicial, ou sociedade controlada pelo devedor falido ou
em recuperação judicial, parente, em linha reta ou colateral até o 4º grau, consanguíneo ou
afim, do devedor falido ou em recuperação judicial ou de qualquer de seus sócios ou
identificado como agente do falido ou do devedor em recuperação judicial com o objetivo de
fraudar a sucessão.

*** O inciso II é muito difícil de comprovar se não tiverem o mesmo


sobrenome e o inciso III é ainda mais difícil.

RESPONSABILIDADE DOS TERCEIROS DEVEDORES (Art. 134/135, CTN)

O fundamento encontra-se no dever de zelo, legal ou contratual, que certas pessoas


devem ter com relação ao patrimônio de outrem (incapazes ou despidos de personalidade
jurídica). Em outras palavras, os terceiros elencados nos Arts. 134 e 135 do CTN não são
aleatórios, possuindo deveres que provem da lei ou do contrato de zelar pelo patrimônio do
contribuinte. Assim, a responsabilidade do terceiro se subdivide em responsabilidade em
atuação regular (Art. 134, CTN) e responsabilidade em atuação irregular (Art. 135, CTN).

 Terceiros Com Atuação Regular

Envolve condutas culposas: negligente, imprudente ou imperito.

Art. 134, CTN - Nos casos de impossibilidade de exigência do


cumprimento da obrigação principal pelo contribuinte, respondem
solidariamente com este nos atos em que intervierem ou pelas
omissões de que forem responsáveis: I - os pais, pelos tributos
devidos por seus filhos menores; II - os tutores e curadores, pelos
tributos devidos por seus tutelados ou curatelados; III - os
administradores de bens de terceiros, pelos tributos devidos por estes;
IV - o inventariante, pelos tributos devidos pelo espólio; V - o síndico e
o comissário, pelos tributos devidos pela massa falida ou pelo
concordatário; VI - os tabeliães, escrivães e demais serventuários de
ofício, pelos tributos devidos sobre os atos praticados por eles, ou
perante eles, em razão do seu ofício; VII - os sócios, no caso de
liquidação de sociedade de pessoas.

Segundo Celso Ribeiro de Bastos, esta responsabilidade possui os seguintes elementos:


a) intervenção de terceiro no ato; b) ocorrência de alguma ação ou omissão cuja
responsabilidade seja atribuída ao terceiro; c) impossibilidade do fisco cobrar o crédito
tributário do próprio contribuinte.

Kleber Luciano Ancioto Página 20


DIREITO TRIBUTÁRIO II

*** No entanto, no mundo real, esgotadas todas as tentativas de recebimento


o procurador da fazenda já pede a inclusão do terceiro responsável na
tentativa de receber, ignorando completamente os demais requisitos que o
artigo trouxe, quais sejam: necessidade de demonstrar que houve um ato
culposo (omissivo ou comissivo) praticado pelo terceiro e que há nexo de
causalidade entre este ato culposo e a insolvência do contribuinte.

A regra é que a responsabilidade patrimonial é própria, por essa razão, para


que haja responsabilidade dos pais, por exemplo, há necessidade de se
demonstrar que o contribuinte tinha dinheiro para o pagamento dos tributos,
mas que seus pais acabaram gerindo mal e acabaram por gastar tudo – ou seja,
o contribuinte tinha como pagar os tributos, mas seus responsáveis legais
acabaram perdendo tudo, por culpa.

Renato Lopes Becho defende que no processo de execução fiscal, uma vez esgotadas
as possibilidades de recebimento do contribuinte, o correto seria requerer a suspensão da
execução e abrir um processo administrativo para apurar a responsabilidade dos terceiros,
garantindo-lhes o contraditório e a ampla defesa.

o Quem são os terceiros?

Os terceiros encontram-se elencados nos incisos do Art. 134 do CTN, vejamos:

Inciso I - os pais, pelos tributos devidos por seus filhos menores;

Tal responsabilidade advém do Poder Familiar, conforme dispõe o Art. 1.689 do


Código Civil.

Art. 1.689, CC – O pai e a mãe, enquanto no exercício do poder


familiar: I - são usufrutuários dos bens dos filhos; II - têm a
administração dos bens dos filhos menores sob sua autoridade; [...]

Inciso II – os tutores e curadores, pelos tributos devidos por seus tutelados ou


curatelados

Temos que ter uma especial atenção com relação a este inciso, pois temos várias
pessoas que eram consideradas incapazes e que, com o advento da Lei das Pessoas com
Deficiência, passaram a ser consideradas pessoas capazes – neste caso, surge a dúvida acerca
daqueles que foram responsabilizados em face de contribuintes que não são mais
considerados incapazes – tratar-se-ia de uma extinção da punibilidade, visto que a
responsabilidade aqui tem natureza jurídica punitiva?

Inciso III – os administradores de bens de terceiros, pelos tributos devidos por estes

Este inciso dispensa maiores explicações, tratando-se do contrato de mandato.

Inciso IV – o inventariante, pelos tributos devidos pelo espólio

Kleber Luciano Ancioto Página 21


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Esta hipótese foi estudada por ocasião do estudo da sucessão causa mortis.

Inciso V – o síndico e o comissário, pelos tributos devidos pela massa falida ou pelo
concordatário

Devemos adequar este inciso a nova nomenclatura trazida pela Lei de Falência, qual
seja: o administrador judicial.

Inciso VI – os tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício, pelos tributos


devidos sobre os atos praticados por eles, ou perante eles, em razão do seu ofício

Por essa razão que os cartorários exigem a CND – Certidão Negativa de Débito para
registar os atos praticados perante ele, em especial os negócios jurídicos envolvendo bens
imóveis.

O fato gerador do ITBI, por exemplo, ocorre no momento do registro na matrícula do


imóvel, visto que a transmissão de propriedade se dá nesse momento, no entanto, o oficial do
cartório exige o pagamento antes mesmo da ocorrência do fato gerador, para evitar ser
responsabilizado posteriormente por uma eventual inadimplência do comprador.

Inciso VII – os sócios, no caso de liquidação de sociedade de pessoas.

Obrigatoriamente temos três espécies de sociedades que tratam-se de sociedades de


pessoas, quais sejam: sociedade simples, sociedade em nome coletivo e comandita simples.

o Responsabilidade apenas sobre as multas moratórias

Art. 134, Parágrafo único, CTN - O disposto neste artigo só se aplica,


em matéria de penalidades, às de caráter moratório.

Este paragrafo resolve alguns de nossos problemas, quando disciplina que a


responsabilidade aqui envolve apenas as multas moratórias, o que em contrário senso ele
exclui a responsabilidade sobre as multas punitivas.

24/08/2017

 Terceiros Com Atuação Irregular

Art. 135, CTN – São pessoalmente responsáveis pelos créditos


correspondentes a obrigações tributárias resultantes de atos
praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social
ou estatutos: I - as pessoas referidas no artigo anterior; II - os
mandatários, prepostos e empregados; III - os diretores, gerentes ou
representantes de pessoas jurídicas de direito privado.

Neste caso, o terceiro que se encontra no exercício da administração dos bens do


contribuinte pratica uma conduta dolosa: atos com excesso de poderes ou infração de lei,
excluindo a própria responsabilidade do contribuinte – uma vez que este é vítima neste caso.

Kleber Luciano Ancioto Página 22


DIREITO TRIBUTÁRIO II

- responsáveis pelos créditos – abrange tanto os tributos como as multas e como se


trata de uma conduta dolosa, aqui não há dúvidas sobre incluir as multas punitivas também.

- atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou


estatutos – Neste sentido, se o contrato social ou estatuto de uma sociedade empresária
prevê a necessidade de aprovação em assembleia geral para a aquisição de um imóvel, caso o
administrador não cumpra com essa exigência, ele terá que arcar com o ITBI pessoalmente. No
mesmo sentido, se os pais requerem judicialmente para alienar um bem imóvel que esta no
nome de um menor e declaram que o imóvel vale R$ 30 mil reais, se no decorrer do processo o
Promotor perceber que eles informaram ao fisco, para fins do recolhimento do ITBI um valor
aquém ao declarado em juízo, o Promotor deverá oficiar o fisco para que os pais deem
explicações e uma vez descoberto a tentativa de sonegação, os pais serão pessoalmente
responsáveis pelo recolhimento do imposto sonegado, por terem agido dolosamente em
desacordo com a Lei. Por fim, se o patrão desconta do empregado a contribuição
previdenciária, mas deixa de repassa-la ao fisco, trata-se de apropriação indébita
previdenciária, nestes casos, o empregado também não poderá ser responsabilizado, mas sim
o empregador que tinha responsabilidade pelo recolhimento e dolosamente deixou de fazê-lo.

Assim, para que exista a responsabilidade de terceiros com atuação irregular são
necessários os seguintes requisitos:

o Requisitos
 Excesso de poderes;
 Infração de lei, contrato social ou estatutos.

30/08/2017

Observação:

Súmula 430 do STJ – o inadimplemento da obrigação tributária pela


sociedade, não gera, por si só, a responsabilidade solidária do sócio
gerente.

Antes de adentrarmos propriamente dito na Súmula, precisamos fazer uma análise


histórica da responsabilidade tributária. Alguns autores apontam que a responsabilidade
tributária tem natureza jurídica de responsabilidade civil, garantindo o recebimento do
Tributo, já outra corrente defende que a responsabilidade tem função de sanção
administrativa, sendo esta última a corrente majoritária.

Tecidas estas considerações, para se entender de onde surgiu a Súmula 430 do STJ,
temos que entender as 5 correntes doutrinárias que tratam da responsabilidade:

1) Teoria objetiva e solidária: para essa corrente doutrinária, para chegar a


responsabilidade do terceiro, não há necessidade de qualquer discussão, bastando

Kleber Luciano Ancioto Página 23


DIREITO TRIBUTÁRIO II

estar prevista em Lei. Somado a isso a responsabilidade entre ele e o contribuinte


é solidária.

Assim, o simples inadimplemento do crédito tributário seria suficiente para ensejar


responsabilidade patrimonial do responsável. Neste contexto, surgiu a Súmula 430 do STJ,
como superação desse paradigma de que, na verdade, a responsabilidade não é objetiva.

Em outras palavras, a Súmula disciplina que a responsabilidade do Art. 135 do CTN


não é objetiva, logo, precisamos de mais elementos, por isso as outras quatro teorias são
subjetivistas.

Dessa forma, somente será possível alcançar o responsável quando haja ocorrência do
Fato Gerador somado aos requisitos do Art. 135 do CTN.

Em suma, não se aplica mais a Teoria Objetiva e para responsabilizar o terceiro haverá
necessidade de se comprovar a ocorrência o Fato Gerador somado aos requisitos do Art. 135
do CTN, mas a doutrina ainda discute de que forma se dá essa responsabilidade, por isso
surgiram outras 4 teorias:

2) Teoria da Pessoalidade ou da Responsabilidade por Substituição: Essa corrente


doutrinária entende que a responsabilidade é exclusiva do Responsável – os
grandes nomes do Direito Tributário se filiam a essa ideia – com fundamento no
fato do Art. 135 do CTN elencar a expressão: “são pessoalmente responsáveis”
acabando por excluir a responsabilidade do Contribuinte, até porque como vimos
ele é vítima nessa relação.

Eles ainda avocam o que disciplina a parte final do Art. 128 do CTN, pois segundo os
defensores dessa teoria aqui trata-se de uma hipótese de exclusão do contribuinte.

Art. 128, CTN - Sem prejuízo do disposto neste capítulo, a lei pode
atribuir de modo expresso a responsabilidade pelo crédito tributário a
terceira pessoa, vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação,
excluindo a responsabilidade do contribuinte ou atribuindo-a a este
em caráter supletivo do cumprimento total ou parcial da referida
obrigação.

Em sendo assim, na hora que o fisco for cobrar, ele deve cobrar o responsável, pois se
ele cobrar o contribuinte haverá nulidade.

3) Responsabilidade subjetiva e subsidiária cuja responsabilidade principal é do


Responsável – essa corrente se filia a natureza jurídica da responsabilidade
tributária como sanção – assim, o fundamento é que não pode haver exclusão da
responsabilidade do contribuinte por ele ter tido culpa, ainda que culpa in
elegendo.

Mas esta teoria deve ser vista com certa parcimônia, pois, por exemplo, os filhos não
elegem os pais, o inventariante judicial dativo também não é eleito pelos sucessores, etc.

Kleber Luciano Ancioto Página 24


DIREITO TRIBUTÁRIO II

4) Responsabilidade subjetiva, subsidiária cuja responsabilidade principal é do


Contribuinte – essa corrente se filia a Teoria que defende que a natureza da
responsabilidade tributária é de garantia do crédito tributário – assim, como quem
realiza o Fato Gerador é o contribuinte e o responsável só advém de uma norma
de extensão – ou seja, ele não realiza a situação jurídica, mas é alcançado pela
norma de responsabilidade sendo chamado ao pagamento – em sendo a finalidade
garantir que o fisco receba o crédito – deve o fisco tentar receber primeiro do
Contribuinte e, se não conseguir buscarem o responsável;

5) Responsabilidade subjetiva, solidária entre contribuinte e responsável – Essa


corrente recebe criticas, pois a solidariedade não se presume, devendo provir de
Lei. Mas os seus seguidores a defendem dizendo que essa regra se aplica no
Direito Civil, já no Direito Tributário, como envolve defesa do interesse público,
não se aplicaria.

A maioria da doutrina defende a segunda corrente (Teoria da Pessoalidade ou da


Responsabilidade por Substituição), já o fisco deseja que seja aplicada a quinta
(Responsabilidade subjetiva, solidária entre contribuinte e responsável), enquanto que na
prática o que se aplica é a quarta (Responsabilidade subjetiva e subsidiária cuja
responsabilidade principal é do Contribuinte), vejamos o exemplo abaixo:

Processo Judicial:

EXECUÇÃO FISCAL C.D.A.

Exequente: Fazenda Pública Deve Ser Instruído com: Contribuinte: Pessoa Jurídica

Executado: Pessoa Jurídica Responsável: Sócio Gerente

Teoria 04

Ocorre que o STJ já decidiu que se o nome do Sócio Gerente se encontrar como
Responsável na C.D.A. há presunção de que ele agiu com excesso de poder, infração a lei,
contrato ou estatuto. Isso porque a C.D.A. trata-se de um ato administrativo e, portanto, goza
de presunção de veracidade.

Nestes casos, precisamos verificar o P.A.F. – Processo Administrativo Fiscal, que deve
ocorrer anteriormente ao Lançamento.

No mundo ideal, para que o fisco possa emitir na C.D.A. o nome do Sócio Gerente, há
necessidade de que no P.A.F. que ocorre antes do lançamento seja averiguada uma
irregularidade do referido sócio, dando a ele a possibilidade de exercer o contraditório e ampla
defesa, no entanto, isso raramente acontece.

E, não acontecendo temos que relembrar o caminho para se chegar no ajuizamento da


Execução fiscal:

Kleber Luciano Ancioto Página 25


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Ocorrência do Fato Gerador  Nasce a Obrigação  Ocorre o Lançamento 


Notificação do Devedor  Inscrição Dívida Ativa  Emissão da C.D.A.  Ajuizamento da Ação

Só que para que o processo seja válido há necessidade que a C.D.A. se reporte a
Inscrição que deve se reportar ao lançamento que tem como base o P.A.F.

Assim, se o nome do Sócio Gerente constar como responsável na C.D.A. é


imprescindível que tenha havido o P.A.F. que tenha discutido a situação jurídica que se
identificou irregular.

Do contrário, sendo nulo o Processo Administrativo, é nulo o Lançamento e por


consequência a Inscrição em Dívida Ativa e a C.D.A.

E uma vez o título sendo nulo, nula é a Execução Fiscal.

Outra situação que pode ocorrer é da C.D.A. constar apenas o nome da Pessoa
Jurídica. Nesta hipótese, se o fisco quiser incluir o Sócio Gerente demandará instrução,
garantindo o contraditório e ampla defesa – portanto, a Execução Fiscal não será o
instrumento adequado para isso devendo ela ser suspensa e abrir um Processo Administrativo
Fiscal, cujo resultado servira de prova para o Processo Judicial  Só que a C.D.A. não pode ser
alterada, assim legalmente o fisco deveria realizar um novo lançamento e reiniciar todo o
processo, o que na maioria das vezes levaria a prescrição de pelo menos parte do que
inicialmente era cobrado. No entanto, na pratica é comum o fisco requerer simplesmente a
inclusão do sócio gerente e o juiz acata o pedido, como se fosse uma responsabilidade
solidária (Teoria 5).

o Quem são os terceiros

Todas as pessoas arroladas no Art. 134 do CTN, além dos mandatários, prepostos,
empregados e os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado,
vejamos:

Art. 134, CTN – Nos casos de impossibilidade de exigência do


cumprimento da obrigação principal pelo contribuinte, respondem
solidariamente com este nos atos em que intervierem ou pelas
omissões de que forem responsáveis: I - os pais, pelos tributos devidos
por seus filhos menores; II - os tutores e curadores, pelos tributos
devidos por seus tutelados ou curatelados; III - os administradores de
bens de terceiros, pelos tributos devidos por estes; IV - o
inventariante, pelos tributos devidos pelo espólio; V - o síndico e o
comissário, pelos tributos devidos pela massa falida ou pelo
concordatário; VI - os tabeliães, escrivães e demais serventuários de
ofício, pelos tributos devidos sobre os atos praticados por eles, ou
perante eles, em razão do seu ofício; VII - os sócios, no caso de
liquidação de sociedade de pessoas.

Kleber Luciano Ancioto Página 26


DIREITO TRIBUTÁRIO II

A regra de ouro é sempre observar o período que esta sendo discutido e ver quem
tinha os poderes de administração neste período.

RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS

Uma das hipóteses de responsabilidade dos sócios ocorre quando há dissolução


irregular da Pessoa Jurídica, conforme dispõe a Súmula 435 do STJ:

Súmula 435, STJ – Presume-se dissolvida irregularmente a empresa


que deixar de funcionar no seu domicílio fiscal, sem comunicação aos
órgãos competentes, legitimando o redirecionamento da execução
fiscal para o sócio-gerente.

*** Insta salientar que para o fisco a Súmula para na primeira vírgula, ou seja, ele
entende que presume-se dissolvida irregularmente a empresa que deixar de funcionar
no seu domicílio fiscal, ocorre que a súmula continua e exige que não haja
comunicação dos órgãos competentes, que nos arremete a Teoria 4 estudada no
tópico anterior.

Vejamos alguns julgados que indicam essa tendência da Administração Pública:

Decidiu-se que, nos termos da lei, os gestores das empresas devem


manter atualizados os cadastros empresariais, incluindo os atos
relativos à mudança de endereço dos estabelecimentos e,
especialmente, os referentes à dissolução da sociedade. O
descumprimento desses encargos por parte dos sócios gerentes
corresponde, irremediavelmente, a infração de lei e enseja, portanto,
a responsabilidade tributária nos termos do art. 135, III, do Código
Tributário Nacional. Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp
312200 / SC, Min. Rel. Mauro Campbell Marques, 2º Turma, Julg.
13/08/2013)

O julgado acima traz um exemplo clássico de subsunção do fato a norma disposta no


Art. 135 do CTN. Já o julgado seguinte demonstra a necessidade de mais elementos, como
por exemplo, o documento na Junta Comercial demonstrando que a Pessoa Jurídica ainda esta
registrada no endereço em que não foi encontrada para ensejar responsabilidade do sócio por
dissolução irregular.

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO – VIOLAÇÃO DO ART. 535, II, DO CPC


INOCORRÊNCIA – EXECUÇÃO FISCAL – REDIRECIONAMENTO –
RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS – INADIMPLEMENTO DE OBRIGAÇÃO
TRIBUTÁRIA – CARTA CITATÓRIA – AVISO DE RECEBIMENTO
DEVOLVIDO – INDÍCIO INSUFICIENTE PARA EVIDENCIAR DISSOLUÇÃO
IRREGULAR. 1. Não há violação do art. 535, II, do CPC quando o
tribunal de origem implicitamente emite juízo de valor sobre a tese do
recurso especial. 2. Esta Corte firmou o entendimento de que a mera

Kleber Luciano Ancioto Página 27


DIREITO TRIBUTÁRIO II

devolução de aviso de recebimento sem cumprimento não basta à


caracterização de dissolução irregular. Precedentes. 3. Recurso
especial não provido. (REsp 1364557 / SE, Min. Rel. Eliana Calmon, 2º
Turma, Julg. 25/06/2013)

 Responsabilidade à luz da Desconsideração da Pessoa Jurídica

O procedimento de Desconsideração da Pessoa Jurídica é tratado entre os Arts. 133 a


137 do NCPC.

No Brasil temos duas Teorias que levam a Desconsideração da Personalidade Jurídica:

Teoria Menor: Exige apenas da insolvência da Pessoa Jurídica – Aplicada pelo


Código de Defesa do Consumidor / Lei Ambiental e, embora sem previsão legal
pela Justiça do Trabalho.

Teoria Maior: Exige que se comprove Desvio de Finalidade ou Confusão


Patrimonial (Art. 50, CC)

A dúvida que surge é se aplicamos ou não o incidente previsto no NCPC nas Execuções
Fiscais? Vejamos o que diz o enunciado abaixo:

Enunciado 53 (ENFAM): O redirecionamento da execução fiscal para


o sócio-gerente prescinde (ou seja, não necessita) do incidente de
desconsideração da personalidade jurídica previsto no artigo 133 do
CPC/2015.

Os argumentos do enunciado, no entanto, são muito ruins:

1) Conforme dispõe o Art. 134, §3º do NCPC o aludido incidente suspende o curso
do processo, já a Execução fiscal somente se suspende se o juízo estiver seguro;

2) O incidente de desconsideração da personalidade jurídica não se configura


hipótese de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, razão pela qual não
suspende a prescrição tributária.

A suspensão da exigibilidade do crédito que consta no (Art. 151, CTN) estudaremos


mais adiante, mas o que importa entendermos aqui é que a prescrição e a decadência advém
de uma punição a parte que tinha a pretensão ou o próprio direito, mas não o exigiu em
tempo hábil, ocorre que quando há suspensão da exigibilidade o fisco não pode cobrar não é
porque não quer, mas sim porque ele não pode, por essa razão, não há que se falar em
punição e, por consequência, em qualquer suspensão da exigibilidade não se conta a
prescrição.

Feito essas primeiras considerações, o argumento se pauta no fato do Incidente de


Desconsideração de Personalidade Jurídica não se tratar de uma suspensão da exigibilidade e
por consequência não suspenderia a prescrição tributária, no entanto, se já estivermos na fase

Kleber Luciano Ancioto Página 28


DIREITO TRIBUTÁRIO II

de Execução Fiscal (Art. 174, CTN), significa que o prazo de 5 anos entre o Lançamento e a
propositura da Ação já deve ter sido respeitada, não havendo mais o que se falar em
prescrição neste momento.

3) Há incompatibilidade do Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica


com a “sistemática e a celeridade” que devem ter as Execuções Fiscais, as quais,
segundo esclareceu, totalizam 30% dos processos em tramitação no Brasil.

Na verdade o argumento para não se aplicar o Incidente é este elencado neste tópico e
trata-se de um argumento meramente político, nada jurídico. Isso porque, se atualmente
30% dos processos em tramitação no país já se tratam de Execuções Fiscais permitindo-se a
aplicação do Incidente esse número aumentaria ainda mais.

Crítica da Profa. Betina Grupenmacher:

O que é certamente incompatível com o rito das Execuções Fiscais e também com o de
todos os demais processos judiciais é a inobservância de garantias fundamentais, entre as
quais o direito ao contraditório, o direito à ampla defesa e o direito à segurança jurídica. É,
sem dúvida, o “fim dos tempos”.

31/08/2017

RESPONSABILIDADE POR SUBSTITUIÇÃO

A responsabilidade por substituição, também conhecida como responsabilidade


originária ou de primeiro grau, corre quando terceira pessoa (substituto) vem e ocupa o lugar
do contribuinte (substituído), antes da ocorrência do Fato Gerador.

A obrigação de pagar, desde o início, é do responsável, desonerando o contribuinte de


seus deveres.

*** Então o dever de pagamento surge desde o inicio para o terceiro,


porque ele substitui o contribuinte antes da ocorrência do próprio Fato
Gerador.

Ricardo Lobo Torres: substituto é aquele que, em virtude de determinação legal (Art.
121, Parágrafo único, inciso II, Art. 97, inciso III, CTN), fica em lugar do contribuinte,
assumindo a responsabilidade pela obrigação tributária.

Art. 121, Parágrafo único, CTN - O sujeito passivo da obrigação


principal diz-se: [...] II - responsável, quando, sem revestir a condição
de contribuinte, sua obrigação decorra de disposição expressa de lei.

Art. 97, CTN - Somente a lei pode estabelecer: [...] III - a definição do
fato gerador da obrigação tributária principal, ressalvado o disposto no
inciso I do § 3º do artigo 52, e do seu sujeito passivo; [...]

Kleber Luciano Ancioto Página 29


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Para este autor, a diferença principal entre o contribuinte e o substituto, reside no fato
de que aquele realiza o Fato Gerador da obrigação tributária, enquanto este realiza o Fato
Gerador da substituição tributária prevista em lei.

*** Isso significa que necessariamente há necessidade de existir uma


previsão legal.

Marçal Justen Filho classifica estas normas em norma tributária principal ou autônoma
e norma de substituição ou não autônoma.

É necessário que o contribuinte e responsável participem do mesmo processo


econômico, no sentido de que haja algum nexo e o substituto pode ingressar com ação de
regresso em face do substituído, a fim de recuperar a importância paga a título do tributo.

*** Ex. o empregado realiza o Fato Gerador tanto da Contribuição


Previdenciária como do Imposto de Renda, mas o empregador é quem
paga os tributos, por realizar a norma de responsabilidade, logo o
empregador tem o dever de descontar do empregado e repassá-lo
para o fisco – assim, participando da cadeia o empregador sequer
desembolsa os valores recolhidos, pois ele sequer chega a pagá-lo ao
empregado.

Em outras palavras, ao invés do empregador pagar ao empregado para


ele gerar a guia e recolher os tributos para a União é mais fácil que o
empregador desconte o valor e repasse diretamente.

Fundamentos da substituição (finalidades):

a) Dificuldade em fiscalizar contribuintes;


b) Concentração da fiscalização – Ex. é mais fácil fiscalizar o empregador que seus
empregados; e
c) Leva a Agilidade, praticidade, economicidade e eficiência da arrecadação.

Sacha Calmon: a substituição tributária possui fundamento no principio da


praticabilidade da tributação

Na Responsabilidade por Substituição temos três modalidades: Retenção na Fonte,


Para Traz ou Regressiva e Progressiva ou Para Frente.

 Retenção na fonte

O agente de retenção na fonte: trata-se de uma retenção, realizada por terceira pessoa
vinculada ao Fato Gerador do tributo devido pelo contribuinte.

 Substituição Regressiva ou Para Trás

Adiamento do recolhimento do tributo com relação ao momento pretérito em que


ocorre o Fato Gerador.

Kleber Luciano Ancioto Página 30


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Por exemplo, em algumas situações adia-se o momento do pagamento do ICMS, pois o


substituído (contribuinte) não tem possibilidade de emitir notas fiscais e manter escrituração
contábil  Pequeno Produtor Rural  Vende para Indústria  que Vende para o Distribuidor
 que Vende ao Comerciante  que Vende para o Consumidor Final. O Pequeno Produtor
Rural não tem estrutura administrativa, por essa razão a Lei atribui responsabilidade a
Indústria pelo recolhimento do ICMS.

Em outras palavras, o Fato Gerador deveria ocorrer no momento que a mercadoria sai
do Produtor Rural, no entanto, o fisco adia o Fato Gerador para a entrada do produto na
Indústria. Devendo a Indústria recolher a operação como substituta e também recolher na
operação própria quando vender.

Assim, esta modalidade é denominada Regressiva ou Para Trás, porque alguém


posterior na cadeia econômica substitui alguém que esta atrás dela na cadeia.

“A atribuição de responsabilidade tributária a terceiro, após a ocorrência do evento


passível de tributação” (Paulo Antônio Fernando Campilongo).

 Substituição para Frente

Como sabemos cada operação de venda gera ICMS, mas para que não aja o efeito
cascata, quando o comerciante compra ele gera um crédito de ICMS para quando ele vender
recolher o ICMS apenas sobre diferença.

No exemplo da Indústria que vende para o Distribuidor que vende para o Comerciante
que vende para o Consumidor Final, nesta substituição quando a Indústria for recolher o ICMS
pela venda do produto, ela recolherá o ICMS próprio e o ICMS por Substituição Tributária,
presumindo a base de cálculo das próximas operações.

Kleber Luciano Ancioto Página 31


DIREITO TRIBUTÁRIO II

A finalidade é a antecipação de arrecadação.

Nas hipóteses em que o produto se perder e acabar não sendo comercializado, como o
valor presumido acaba não sendo praticado, gera-se um crédito do valor antecipado, mas a
Constituição assegura o direito a restituição do valor também.

No mesmo sentido, na hora da efetiva venda se houver algum desconto  o STF já


assegurou o direito a restituição também, mas deixou a cargo de cada Lei estadual estipular a
forma de restituição  Em SP gera crédito.

Por outro lado, se o valor praticado for maior  não se aceita que o fisco cobre a
diferença.

13/09/2017

RESPONSABILIDADE POR INFRAÇÕES TRIBUTÁRIAS (Art. 136 e 137 do CTN)

Art. 136, CTN - Salvo disposição de lei em contrário, a


responsabilidade por infrações da legislação tributária independe da
intenção do agente ou do responsável e da efetividade, natureza e
extensão dos efeitos do ato.

Aqui temos o caso de alguém que agiu em desconformidade com a Lei, seja em relação
a obrigação principal ou aos deveres instrumentais e a consequência será a multa.

O dispositivo acima traz uma responsabilidade objetiva, ou seja, quem terá


responsabilidade pelo pagamento da multa, via de regra, será o contribuinte
independentemente de culpa (elemento subjetivo é irrelevante).

Kleber Luciano Ancioto Página 32


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Ricardo Lobo Torres: Art. 136 CTN – “aderiu o CTN, em princípio, à teoria da
objetividade da infração fiscal. Não importa, para a punição do agente, o elemento subjetivo
do ilícito, isto é, se houve dolo ou culpa na prática do ato”.

No entanto, temos que considerar que o CTN é da década de 70, o que significa que
ele foi elaborado um pouco antes, época de ditadura militar, então quanto mais fechado fosse
a regra, melhor para a imposição estatal. Atualmente na era pós positivismo, temos a
Constituição Federal que irradia seus efeitos em todo ordenamento.

Dentre os objetivos da Republica Federativa do Brasil presentes na Constituição, temos


o objetivo da solidariedade, cujo qual extraímos o princípio da boa fé objetiva – e este
princípio também deve ser observado dentro do CTN.

Neste sentido, quando o Art. 136 do CTN diz ser irrelevante a intenção do agente,
temos que considerar algumas situações específicas e a objetividade não poderá ser aplicada,
neste sentido: em Prudente já tivemos dois casos graves envolvendo estabelecimentos
comerciais que pegaram fogo – agora vamos imaginar que os proprietários guardassem os
documentos fiscais no estabelecimento – não haveria como falarmos em responsabilidade
simplesmente objetiva nestes casos.

E ainda temos a previsão do Art. 112, do CTN?

Art. 112, CTN - A lei tributária que define infrações, ou lhe comina
penalidades, interpreta-se da maneira mais favorável ao acusado, em
caso de dúvida quanto: I - à capitulação legal do fato; II - à natureza ou
às circunstâncias materiais do fato, ou à natureza ou extensão dos seus
efeitos; III - à autoria, imputabilidade, ou punibilidade; IV - à natureza
da penalidade aplicável, ou à sua graduação.

Este dispositivo elenca o princípio in dubio pro contribuinte – que foi importado do
Direito Penal, por essa razão ele só se aplica as infrações. Assim, se o fisco tiver dúvida se
aquela conduta se amolda ou não a uma infração não deve multar, ou se estiver em dúvida se
a conduta se amolda a uma infração mais grave ou mais branda, deve aplicar a mais branda.

Pelo Art. 97 do CTN, tanto a infração como a penalidade precisam


estar previstas em Lei.

Vejamos o exemplo da Lei de ISS da Prefeitura de São Paulo:

Art. 12. A partir do primeiro dia do exercício seguinte ao da publicação


desta lei, a falta de recolhimento ou o recolhimento a menor do
Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza – ISS, pelo prestador do
serviço ou responsável, nos prazos previstos em lei ou regulamento, e
desde que não iniciado o procedimento fiscal, implicará a incidência de
multa moratória, calculada à taxa de 0,33% (trinta e três centésimos
por cento), por dia de atraso, sobre o valor do Imposto, até o limite de
20% (vinte por cento).
Kleber Luciano Ancioto Página 33
DIREITO TRIBUTÁRIO II

*** O dispositivo acima não fala nada de intenção ou culpa, assim o simples fato de
deixar de pagar ou pagar a menos do que deveria, haveria responsabilidade.

Art. 13. Independentemente das medidas administrativas e judiciais


cabíveis, iniciado o procedimento fiscal, a falta de recolhimento ou o
recolhimento a menor do imposto Sobre Serviços de Qualquer
Natureza – ISS, pelo prestador do serviço ou responsável, nos prazos
previstos em lei ou regulamento, implicará a aplicação de ofício, das
seguintes multas: [...] II – de 200% (duzentos por cento) do valor do
Imposto devido e não pago, ou pago a menor, nos prazos previstos em
lei ou regulamento, pelo prestador do serviço que: a) simular que os
serviços prestados por estabelecimento localizado no Município de São
Paulo, inscrito ou não em cadastro fiscal de tributos mobiliários,
tenham sido realizados por estabelecimento de outro Município; [...]

*** A previsão do inciso II alínea a do dispositivo acima, busca evitar a concorrência


desleal – mas a cobrança de 200% acaba sendo considerado como efeito confisco, tendo em
vista que já há precedente do STF, fixando que as multas punitivas podem ir até no máximo
em 100% do valor do tributo.

 Personalização ou responsabilidade pessoal do agente

Art. 137, CTN – A responsabilidade é pessoal ao agente: I - quanto às


infrações conceituadas por lei como crimes ou contravenções, salvo
quando praticadas no exercício regular de administração, mandato,
função, cargo ou emprego, ou no cumprimento de ordem expressa
emitida por quem de direito; II - quanto às infrações em cuja definição
o dolo específico do agente seja elementar; III - quanto às infrações
que decorram direta e exclusivamente de dolo específico: a) das
pessoas referidas no artigo 134, contra aquelas por quem respondem;
b) dos mandatários, prepostos ou empregados, contra seus
mandantes, preponentes ou empregadores; c) dos diretores, gerentes
ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado, contra estas.

O dispositivo acima elenca as infrações em que a responsabilidade será pessoal do


agente.

Lembrando que em regra as punições são aplicadas sobre o sujeito passivo e não,
necessariamente, “pessoalmente” ao agente da infração. Assim, podemos afirmar que o
dispositivo acima elenca exceções em que haverá punição pessoal do agente.

Inciso I - quanto às infrações conceituadas por lei como crimes ou contravenções,


salvo quando praticadas no exercício regular de administração, mandato, função,
cargo ou emprego, ou no cumprimento de ordem expressa emitida por quem de
direito

Kleber Luciano Ancioto Página 34


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Haverá responsabilização pessoal quando a infração tributaria for também uma


infração penal, salvo nos casos em que houver alguma excludente de ilicitude ou
culpabilidade.

Mas, as exceções a responsabilização pessoal não excluem a responsabilidade sem si,


pois o contribuinte será responsabilizado, na verdade ela exclui somente a regra da
personificação.

Vejamos alguns exemplos de crimes tributários que também tratam-se de ilícitos


penais:

Art. 1º, da Lei 9.964/00 – Constitui crime contra a ordem tributária


suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e qualquer
acessório, mediante as seguintes condutas: I – omitir informação, ou
prestar declaração falsa às autoridades fazendárias; II – fraudar a
fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo
operação de qualquer natureza, em documento ou livro exigido, pela
lei fiscal; III – falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de
venda, ou qualquer outro documento relativo à operação tributável; IV
elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba
ou deva saber falso ou inexato; V – negar ou deixar de fornecer,
quando obrigatório, nota fiscal ou documento equivalente, relativa a
venda de mercadoria ou prestação de serviço, efetivamente realizada,
ou fornecê-la em desacordo com a legislação. Pena – reclusão de 2
(dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Inciso II - quanto às infrações em cuja definição o dolo específico do agente seja


elementar

Infrações administrativas circunstanciadas com dolo específico (para o fim de) – aqui o
dolo específico trata-se de elementar o tipo. Ex. extravio de documento fiscal para o fim de
frustrar o pagamento do Tributo.

Atualmente dificilmente o fisco consegue comprovar o dolo específico, então


normalmente a responsabilização personalizada é descartada e pune-se o contribuinte.

Inciso III - quanto às infrações que decorram direta e exclusivamente de dolo


específico: a) das pessoas referidas no artigo 134, contra aquelas por quem
respondem; b) dos mandatários, prepostos ou empregados, contra seus mandantes,
preponentes ou empregadores; c) dos diretores, gerentes ou representantes de
pessoas jurídicas de direito privado, contra estas.

Aqui o dolo específico não se trata de elementar do tipo, assim o agente comete uma
infração para obter proveito próprio.

Kleber Luciano Ancioto Página 35


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Trata-se de infrações cometidas pelos gestores de interesses dos representados, com


intenção de prejudica-los e conseguirem vantagens indevidas. Nesse caso o contribuinte é
vitima.

Alcance: Pessoas elencadas no Art. 134 do CTN; os mandatários, prepostos e


empregados; os diretores, gerentes e representantes de pessoa jurídica de direito privado.

Denúncia espontânea (Art. 138 do CTN)

Art. 138, CTN – A responsabilidade é excluída pela denúncia


espontânea da infração, acompanhada, se for o caso, do pagamento
do tributo devido e dos juros de mora, ou do depósito da importância
arbitrada pela autoridade administrativa, quando o montante do
tributo dependa de apuração. Parágrafo único. Não se considera
espontânea a denúncia apresentada após o início de qualquer
procedimento administrativo ou medida de fiscalização, relacionados
com a infração.

Consiste na possiblidade do devedor noticiar a ocorrência da infração e pagar os


tributos atrasados. Necessariamente deve tratar-se de um ato voluntário, por essa razão
somente poderá ser considerada enquanto não iniciada a medida de fiscalização que poderá
conduzir à descoberta da infração.

- condição de espontaneidade – significa que o ato deve ser antes do fisco tomar qualquer
atitude preparatória para fiscalizar, ou seja, antes dele emitir o TIAF (Termo de Inicio da Ação
Fiscal).

Como vimos, a infração tributária pode decorrer do descumprimento da obrigação


principal ou de um dever instrumental. A doutrina diverge se se aplica a denuncia espontânea
só a obrigação principal ou se ela poderia ser aplicada ao descumprimento de deveres
instrumentais também.

Pela leitura do dispositivo como ele traz a seguinte expressão: “acompanhada, se for o
caso, do pagamento do tributo” – pelo “se for o caso” disposto no artigo, há doutrinadores
que defendem que também se aplicaria aos deveres instrumentais, pois se for o caso o
contribuinte acompanhará o pagamento do tributo, o que em contrário senso significa que se
não for o caso ele não pagaria.

Mas o STJ, diz que como a finalidade é retirar o devedor a impontualidade, somente se
aplica a obrigação principal. Até porque, se não fosse assim tiraria a força coercitiva de
cumprimento dos deveres instrumentais porque não haveria qualquer responsabilização.

20/09/2017

CRÉDITO TRIBUTÁRIO

Kleber Luciano Ancioto Página 36


DIREITO TRIBUTÁRIO II

1) Fase constitucional

A Constituição define quem tem competência para o que e se não se trata de uma das
hipóteses de imunidades tributárias.

2) Fase legal

Podemos dividir em duas fases, visto que:

As regras gerais em matéria de Direito Tributário devem ser regidas por Lei
Complementar (CTN que se trata da principal Lei e foi recepcionado pela Constituição com
status de Lei Complementar, além de algumas leis específicas como a LC 87/96, também
conhecida como Lei Kandir – que dispõe sobre o imposto dos Estados e do Distrito Federal
sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de
transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação e a LC 116/03 – que dispõe sobre
imposto sobre serviços de qualquer natureza).

Já a instituição do Tributo propriamente dito, que é instituído através de Lei Ordinária


pela entidade que possui competência tributária para tal (Art. 97, I, CTN).

Art. 97, CTN - Somente a lei pode estabelecer: I - a instituição de


tributos, ou a sua extinção; [...]

3) Fase de constituição da obrigação

Trata-se da fase do surgimento da obrigação propriamente dita – a Lei descreve uma


situação jurídica que traz uma consequência tributária e alguém realiza a situação descrita na
Lei, logo há subsunção do fato a norma e surge a obrigação tributária.

Só que essa obrigação ainda é incerta, ilíquida e inexigível precisando ser formalizada.

Até esta fase o decurso de prazo é decadencial, visto que ainda não há uma pretensão
do fisco, já a partir da próxima fase (formalização), como o fisco passa a ter uma pretensão
inicia-se a contagem de prazo prescricional.

4) Fase de formalização do crédito tributário

A partir desse ato, constitui-se uma pretensão para o fisco, pois essa formalização dirá
o quanto é devido e quem deve, fazendo com que a obrigação torne-se líquida, certa e
exigível.

Sem uma, esta fase resume-se no lançamento.

5) Fase de impugnação administrativa do lançamento (fase não obrigatória)

Após o lançamento o devedor precisa ser notificado para pagar ou impugnar o crédito
tributário.

Kleber Luciano Ancioto Página 37


DIREITO TRIBUTÁRIO II

A impugnação é facultativa porque o sujeito passivo pode optar por pagar o tributo ou
ainda ir direto para a esfera judicial (princípio da inafastabilidade da jurisdição) – até por essa
razão, se o contribuinte impugnar administrativamente e concomitantemente ingressar com
impugnação judicial esta última importa em desistência do processo administrativo.

Administrativamente, os órgãos julgadores são compostos por representantes do fisco


e representantes da sociedade civil.

6) Fase de impugnação judicial

Como vimos, havendo ou não impugnação administrativa, sempre será possível a


impugnação judicial.

Antes do lançamento, temos a possibilidade de ingressar com Mandado de Segurança


Preventivo (cujo prazo decadencial é de 120 dias) ou Ação Declaratória de Inexistência da
Relação Jurídica. Já após o lançamento, será cabível Mandado de Segurança ou ainda Ação
Anulatória de Débito Fiscal ou Ação Anulatória do Lançamento.

7) Fase de cobrança judicial

Não existindo mais pendencias passíveis de discussão na esfera judicial, inicia-se a fase
de cobrança judicial com a inscrição do crédito tributário em dívida ativa, ou seja, a fase de
cobrança judicial inicia-se antes da emissão da C.D.A. (Certidão de Dívida Ativa). Isso ocorre
porque pode ser que o fisco não ajuíze a ação, visto que há uma alçada para o ajuizamento.

Nas hipóteses em que não houver o ajuizamento da Execução Fiscal, o fisco utiliza
como meio de forçar o pagamento o protesto do título, ação essa que é de constitucionalidade
duvidosa.

Em 07 de outubro de 2014 adveio em nosso sistema a Medida Provisória de n.º 656.


Esta medida provisória, dentre outras finalidades positivou, no artigo 10 e incisos, que todo
negócio jurídico que tivesse por finalidade a constituição, transferência ou modificação de
direitos reais são eficazes desde que não tivesse sido registrado ou averbado na matrícula do
imóvel: (1) registro de citação de ações reais ou pessoais reipersecutórias; (2) averbação de
atos de construção judicial; (3) averbação de indisponibilidade ou outros ônus; (4) averbação
de ações judicias que possam reduzir o devedor (proprietário) à insolvência. No parágrafo
único do citado artigo verifica-se ainda a existência de norma proibitiva, ou seja, o que não
constar na matrícula no imóvel, não poderá ser oposto ao terceiro de boa-fé, com a ressalva
dos artigos 129 e 130 da Lei n.º 11.101/05 e as hipóteses de aquisição e extinção de
propriedade que independam de registro do título (exemplo usucapião).

É certo que a referida medida provisória foi convertida na Lei Federal de 13.097, de 19
de janeiro de 2015, sendo o texto do artigo 10 da Medida Provisória in testilha adotado em sua
integra nos termos do artigo 54. Ademais, conforme artigo 168, inciso II da citada lei, esta para
o artigo 54, entrou em vigor após 30 dias da publicação, que ocorreu em 20 de janeiro de
2015.

Kleber Luciano Ancioto Página 38


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Aparentemente não se verifica nenhuma novidade, até porque a Súmula 375 do C.


Superior Tribunal de Justiça já preconizava a tutela do terceiro de boa-fé. A prova desta
boa-fé ocorre de maneira simples: com as certidões. Estas, por sua vez, podem ser das mais
complexas até as mais simples, por isso, destacam-se: certidão de distribuição cível,
trabalhista, criminal, federal; pesquisa perante a Procuradoria da Fazenda Nacional; Protesto,
Serasa/SCPC; Junta Comercial (para saber eventuais empresas e analisar o risco da
desconsideração da personalidade jurídica) e, principalmente, matrícula do imóvel!

Desta forma, o terceiro adquirente de boa-fé verificando que o seu bem poderia ser
excutido em virtude de passivos do anterior proprietário, sem que o título de aquisição tivesse
sido levado a registro, deveria opor os competentes Embargos de Terceiro.

O dispositivo abaixo trata como Fraude contra a Fazenda Pública, qualquer alienação
ou oneração de bens ou rendas após o crédito tributário estar regulamente inscrito em dívida
ativa.

Art. 185, CTN - Presume-se fraudulenta a alienação ou oneração de


bens ou rendas, ou seu começo, por sujeito passivo em débito para
com a Fazenda Pública, por crédito tributário regularmente inscrito
como dívida ativa.

Este dispositivo encontra-se no capítulo que trata das Garantias e Privilégios do


Crédito Tributário o que nos reporta a previsão do Art. 146, inciso III, alínea “b” da CF, que
determina que as garantias do Crédito Tributário devem ser estabelecidas por Lei
Complementar.

Art. 146, CF - Cabe à lei complementar: [...] III - estabelecer normas


gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre: [...] b)
obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários;

Assim, ainda que exista a Lei Ordinária que protege o terceiro de boa fé, ela não
poderá ser oponível ao fisco, por essa razão aqueles que estiverem adquirindo bens de
terceiros ainda que requeiram todas as Certidões Negativas de Débito do alienante, se houver
alienação sem que este último realize reserva de patrimônio que cubra o Crédito Tributário
caracterizará Fraude contra a Fazenda Pública e o terceiro de boa fé poderá ser atingido.

Em suma, a fase de cobrança judicial se inicia com a inscrição em divida ativa,


na sequencia é gerada a C.D.A. (Titulo Executivo Extrajudicial) e se for caso de
ajuizamento é feito a distribuição da Execução Fiscal.

O executado é notificado a pagar em 5 dias ou apresentar Embargos a


Execução Fiscal que requer garantia do juízo – os Embargos ficam apensos aos
autos principais suspendendo-os – até porque quando há garantia do juízo o
CTN determina a suspensão da exigibilidade.

*** Sem garantir o juízo só através de Exceção de Pré Executividade.

Kleber Luciano Ancioto Página 39


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Feito tais considerações, passemos a estudar o CRÉDITO TRIBUTÁRIO propriamente


dito:

Conceito (Harada): O Crédito Tributário nada mais é do que a própria obrigação


tributária principal formalizada pelo lançamento, ou seja, tornada líquida e certa pelo
lançamento (Art. 142, CTN).

LANÇAMENTO

Primeiro, precisamos atentar para o fato de o lançamento tratar-se de ato


administrativo ou de um procedimento administrativo?

Ato administrativo nada mais é que uma declaração do Estado, por exemplo, o Estado
declara que o individuo esta habilitado, declara que o indivíduo esta investido na função
pública, etc. Em outras palavras, como o Estado não fala ele se expressa através dos atos
administrativos. Já o procedimento administrativo trata-se de um conjunto de atos
administrativos.

*** Alguns autores utilizam o termo Processo Administrativo, mas esta


terminologia é errada uma vez que mesmo julgando o mérito o
Procedimento Administrativo não faz Coisa Julgada.

O Prof. Américo Lourenço Masset Lacombe defende que o Lançamento trata-se de um


Ato Administrativo, já aqueles que defendem tratar-se de um Procedimento Administrativo se
baseiam na literalidade do Artigo 142 do CTN. Fato é que o Lançamento pode ser precedido
de um Procedimento Administrativo Anterior denominado Ação Fiscal Preparatória e
Procedimento Administrativo Posterior denominado Fase de Impugnação.

 Modelo de Lançamento:

AUTO DE INFRAÇÃO Nº 001/2014


Ação Fiscal Preparatória nº 055/2013

Data da Lavratura: 07 de Janeiro de 2013


Local da Lavratura:

Contribuinte:
Endereço:
Domicílio Fiscal:
CNPJ nº:

I CAPITULAÇÃO LEGAL: Artigos 1º e 3º da Lei Complementar 116/2003,


combinados com os artigos 24, 25 e 33 da Lei Complementar 042/2003; 48A, 50A, 51A,
56A, 67A e 165 da lei Complementar 146/2009 e artigos 142, 147, 148 e 149 do Código
Tributário Nacional.

Kleber Luciano Ancioto Página 40


DIREITO TRIBUTÁRIO II

II OBJETO: Cobrança de ISS não recolhido no período de janeiro/2008 a


dezembro/2002.
III MOTIVO: Constatou-se diferença no recolhimento do ISS.
IV ALÍQUOTAS: 2% (dois por cento) – Item 8.02 da lista de serviços anexa a Lei
Complementar 042/2003, atualizada pelas leis: LC 137/08 e LC 146/09.
V VALOR APURADO: A apuração dos valores deu-se pela análise das notas
fiscais de prestação de serviços, e todo o histórico do contribuinte junto a esta
municipalidade no referido período. Tendo em vista as informações constantes do
anexo I e II que integram o presente Auto de Infração, apurou-se o ISSQN devido na
importância de R$ 3.494,00 (Três mil, quatrocentos e noventa e quatro reais),
provenientes do imposto sobre serviços que será atualizado na época do seu
pagamento conforme discriminação acima.
VI ANEXOS:
a) No Anexo I segue a relação das notas fiscais emitidas e respectivos
tomadores;
b) No Anexo II seque receita apurada, tabela de correção do imposto,
cálculos dos acréscimos legais e recolhimentos efetuados pelo
contribuinte.
VII ACRÉSCIMOS LEGAIS:
a) Atualização Monetária: inciso I, art. 68A da Lei Complementar
146/2000;
b) Juros Moratórios: a razão de 1% (um por cento) – inciso IV, art.
68A da LC 146/2009;
c) Multa Diária: de 0,2% (Dois décimos por cento) durante o mês de
vencimento e a partir do mês subsequente ao do vencimento,
multa de 10% (dez por cento) sob o valor do débito corrigido:
incisos II e III do art. 68A da LC 146/2009.

Fica o contribuinte notificado a recolher aos cofres municipais no prazo de 30 (trinta)


dias, o débito abaixo apurado:
2.009 R$ 104,00 R$ 16,74 R$ 60,74 R$ 12,00 R$ 192,74
2.010 R$ 520,00 R$ 79,98 R$ 257,07 R$ 60,00 R$ 917,05
2.011 R$ 1.754,40 R$ 269,84 R$ 630,68 R$ 202,42 R$ 2.857,34
2.012 R$ 1.115,60 R$ 171,59 R$ 259,94 R$ 128,72 R$ 1.675,85
TOTAL: R$ 3.494,00 R$ 537,41 R$ 1.208,43 R$ 403,14 R$ 5.642,98
Da ocorrência foi lavrado o presente AIF nº 001/2014
Valor por extenso: Cinco mil, seiscentos e quarenta e dois reais e noventa e oito
centavos.

OBSERVAÇÕES:
Os valores acima serão corrigidos monetariamente a partir da data da
lavratura deste até a data do efetivo pagamento.

Kleber Luciano Ancioto Página 41


DIREITO TRIBUTÁRIO II

No prazo de 30 (trinta) dias contados da data do recebimento da notificação,


as diferenças apuradas de ISSQN em ação fiscal, os lançamentos, arbitramentos e
multas impostas, constantes em auto de infração, poderão ser impugnados.
O recolhimento deverá ser efetuado através de boleto emitido pelo
Departamento de Fiscalização Tributária da Prefeitura de ________________
Para mais esclarecimentos (18) _____________

_________________________

Declaro-me ciente deste Auto de Infração Fiscal, do qual recebi cópia.

Nome:

CPF: Data:

Assinatura:

*** Data de Lavratura: é relevante para verificar se o lançamento foi realizado dentro do prazo decadencial de 5 anos;
*** Contribuinte: há necessidade de identificar se o devedor é o contribuinte ou o responsável;
*** Capitulação Legal: permite o controle de legalidade, irretroatividade e anterioridade e até mesmo em se tratando
de pena o princípio da benegnidade;
*** Objeto: diz o que é devido e a data da ocorrência do fato gerador;
*** Motivo: neste campo há exposição do motivo do ato administrativo, em se tratando de uma diferença no
recolhimento, significa que o contribuinte já pagou parte do tributo – insta salientar que sabermos se houve
recolhimento ou não influenciará no início da contagem do prazo decadencial.
*** Anexos: elenca o discriminativo do débito – incluindo base de calculo, alíquota, o valor pago se já houver algum
recolhimento, o valor da diferença, a correção e a multa;
*** Por fim, há necessidade do nome da autoridade que lavrou o auto e a sua respectiva matrícula – essa identificação
é importante para avaliarmos se a autoridade é competente para lavrar tal ato (controle de competência é feito através
da análise da lei que criou o cargo), seguido da ciência do contribuinte que deverá datar o ato administrativo – a partir
desta data é que verificaremos se o contribuinte pagou ou impugnou dentro do prazo.

 Finalidades do Lançamento (Art. 142, CTN)

Art. 142, CTN - Compete privativamente à autoridade administrativa


constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o
procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato
gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável,
calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e,
sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível.

1) Verificar a ocorrência do Fato Gerador;


2) Determinar a Matéria Tributável;
3) Calcular o montante do Tributo devido;
4) Propor, se caso for, a aplicação da penalidade cabível;
5) Identificar o sujeito passivo (contribuinte ou responsável);
6) Servir de marco distintivo, divisório entre a decadência e a prescrição – antes do
Lançamento como temos uma obrigação inexigível corre decadência (5 anos para o
Kleber Luciano Ancioto Página 42
DIREITO TRIBUTÁRIO II

fisco lançar) após o Lançamento como torna a obrigação liquida, certa e exigível, já
há uma pretensão, iniciando o prazo prescricional.

*** Cumpre-nos informar que o dispositivo apresenta algumas


impropriedades, pois ele utiliza a expressão “constituir o crédito
tributário pelo lançamento” quando na verdade se declara o crédito
tributário pelo lançamento; além disso ele utiliza o termo
procedimento administrativo e como vimos trata-se de um ato
administrativo; por fim ele ainda utiliza a expressão “tendente a
verificar a ocorrência do fato gerador” quando na verdade ele não
tende a verificar nada, na verdade ele somente será realizado após a
análise da ocorrência do Fato Gerador.

 Princípios do Lançamento

1) Vinculação à Lei

Trata-se de ato vinculado, ou seja, há necessidade de seguir a forma prevista em Lei


para realizar o Lançamento.

2) Irretroatividade

O Lançamento sempre nos reportará a uma situação do passado. Assim, se o


Lançamento for realizado hoje, a Autoridade Fiscal estará declarando que no passado ocorreu
Fatos Geradores – ou seja, o Lançamento possui esse efeito retrospectivo – mas ele não pode
ser confundido pela regra da retroatividade – assim, aplicaremos a Lei vigente no momento
em que o Fato Gerador ocorreu, por óbvio existem exceções, mas a regra é que em relação aos
elementos materiais do Tributo normalmente aplica-se a Lei vigente na época da ocorrência
do Fato Gerador.

3) Irrevisibilidade (pela estabilização da Relação Jurídica Tributária) – Exceções (Art.


145, CTN):

A regra é de que o Lançamento é irreversível, salvo nas hipóteses elencadas nos incisos
do Art. 145 do CTN, vejamos:

Art. 145, CTN - O lançamento regularmente notificado ao sujeito


passivo só pode ser alterado em virtude de: I - impugnação do sujeito
passivo; II - recurso de ofício; III - iniciativa de ofício da autoridade
administrativa, nos casos previstos no artigo 149.

Inciso I - impugnação do sujeito passivo

Por óbvio se após a notificação do sujeito passivo ele impugnar o Lançamento, pode
acontecer do lançamento ser revisto, caso contrário não haveria lógica na impugnação.

Inciso II - recurso de ofício

Kleber Luciano Ancioto Página 43


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Equivale ao reexame necessário existente no Processo Civil, o Conselho Administrativo


de Recursos Fiscais (CARF) determina que os Lançamentos de Tributos com valores superiores
a 1 milhão devem ser revistos de ofício; já o Tribunal de Impostos e Taxas (TIT) do Estado de
São Paulo determina que os Lançamento superiores a 5 mil UFESP (aproximadamente 25 mil
reais) deverão ser revistos de ofício.

Inciso III - iniciativa de ofício da autoridade administrativa, nos casos previstos no


artigo 149.

O Lançamento pode ser revisto de oficio pela própria Administração. A razão disto é o
princípio da autotutela – uma vez o Lançamento estando vinculado a Lei – se a Administração
perceber que há algo em descordo, ela mesmo deve rever seu ato.

Neste sentido, os fiscais que recebiam propina para lançar um valor menor do que era
devido – quando a Administração descobriu o esquema, desde que estivesse dentro do prazo
decadencial ela deve revê-los.

 Modalidades de Lançamento

Nós temos três modalidades de lançamento, que são definidas de acordo com a
participação das partes:

1) Direto ou de ofício

Não há participação por parte do devedor. O Fisco já tem todas as informações


necessárias para realização do lançamento. Ex. IPTU, IPVA (ressalvada a hipótese de carro
zero).

Lançamento de Ofício Originário trata-se do Lançamento direto ou de ofício


propriamente dito e o Lançamento de Ofício Não Originário trata-se do Lançamento de ofício,
mas que somente é realizado diante de uma omissão por parte do devedor. Fazer essa
distinção é importante, pois haverá diferença quanto a regra de decadência a ser aplicada, se
especial ou geral.

2) Misto ou por declaração

O Fisco realiza o Lançamento, mas ele não tem todas as informações.

Ex. O Fisco sabe da existência do imóvel, suas características e metragens, mas não
sabe se o imóvel foi alienado, para quem foi alienado e por quanto foi alienado, sendo assim, é
necessário a atuação tanto do Fisco como do Devedor para lançar o ITBI (Art. 147, CTN)

Art. 147, CTN - O lançamento é efetuado com base na declaração do


sujeito passivo ou de terceiro, quando um ou outro, na forma da
legislação tributária, presta à autoridade administrativa informações
sobre matéria de fato, indispensáveis à sua efetivação.

3) Autolançamento, por homologação ou tributo sem lançamento

Kleber Luciano Ancioto Página 44


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Aqui não há participação do Fisco (Art. 150 CTN).

Art. 150, CTN - O lançamento por homologação, que ocorre quanto


aos tributos cuja legislação atribua ao sujeito passivo o dever de
antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade
administrativa, opera-se pelo ato em que a referida autoridade,
tomando conhecimento da atividade assim exercida pelo obrigado,
expressamente a homologa.

Nesta hipótese temos o Sujeito Passivo fazendo tudo, ou seja, ele apura a ocorrência
do Fato Gerador, surge a Obrigação Tributária, ele a Declara (dizendo que é devedor e quanto
deve – e o Fisco possui um prazo de 5 anos, para realizar a homologação da atividade do
individuo) – insta salientar que neste caso na verdade não há Lançamento – até por isso alguns
criticam a terminologia de autolançamento ou lançamento por homologação.

A declaração do sujeito passivo, no entanto, é importantíssima, pois ela apura o an


debeatur e o quantum debeatur, marcando o fim do período de decadência e o início do
período prescricional – assim, podemos afirmar que ela equivale ao Lançamento, conforme
dispõe a súmula abaixo:

Súmula 436 STJ – Recurso especial repetitivo. Recurso especial


representativo da controvérsia. Tributário. Crédito tributário. Entrega
de declaração pelo contribuinte reconhecendo débito fiscal.
Desnecessidade de qualquer outra providência por parte do fisco.
Recurso especial repetitivo. CPC, art. 543-C. CTN, art. 150. Lei
9.779/99, art. 16.

Em outras palavras, uma vez que o sujeito passivo tenha declarado reconhecendo o
débito fiscal, este ato equivale a formalização do Crédito Tributário, como se houvesse um
Lançamento, sendo desnecessário qualquer outra ação do Fisco.

21/09/2017

 Observação sobre prescrição e decadência.

No Lançamento por homologação o sujeito passivo faz tudo, ou seja, ele apura, ele
declara e ele recolhe e o Fisco apenas fiscaliza essa atividade dentro de um prazo de 5 anos,
podendo homologar, lançar a diferença ou se ele ficar inerte haverá a decadência do direito de
lançar a diferença.

Ao Declarar o sujeito passivo reconhece ser devedor, o quanto deve, e o tributo que
deve, na sequencia basta gerar a guia de recolhimento e realizar o pagamento. Se o Fisco
perceber que a Declaração não esta correta, ele precisará realizar o Lançamento (de Ofício Não
Originário), assim, se o Fisco ainda precisar lançar para fazer surgir a pretensão, significa que o
prazo é decadencial.

Kleber Luciano Ancioto Página 45


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Por outro lado há Tributos que podem ser pagos em cotas, como por exemplo, o
Imposto de Renda que pode ser pago em até 8 cotas, assim se o Contribuinte realiza a
Declaração corretamente, mas deixa de pagar uma das cotas, o prazo é prescricional, pois o
valor já pode ser exigido, já havendo uma pretensão.

 Observação sobre o Art. 148 do CTN

Art. 148, CTN - Quando o cálculo do tributo tenha por base, ou tome
em consideração, o valor ou o preço de bens, direitos, serviços ou atos
jurídicos, a autoridade lançadora, mediante processo regular, arbitrará
aquele valor ou preço, sempre que sejam omissos ou não mereçam fé
as declarações ou os esclarecimentos prestados, ou os documentos
expedidos pelo sujeito passivo ou pelo terceiro legalmente obrigado,
ressalvada, em caso de contestação, avaliação contraditória,
administrativa ou judicial.

Alguns Autores defendem a existência de 4 modalidades de Lançamento – incluindo a


modalidade de Lançamento por Arbitramento, mas na verdade, o Lançamento por
Arbitramento elencado no dispositivo acima trata-se de uma técnica empregada, pois na
verdade a Modalidade de Lançamento é de Ofício Não Originário.

Neste sentido, se houver omissão ou se não merece fé as informações repassadas pelo


sujeito passivo, o Fisco irá arbitrar um valor – assim, a modalidade trata-se de Lançamento de
Ofício Não Originário, pois normalmente seria Lançamento por Homologação, mas a técnica
empregada será por arbitramento, pois o Fisco não confia ou não dispõe das informações
necessárias para Lançar o valor correto.

Requisitos: Omissão por parte do sujeito passivo ou não sendo omisso fornecer
informações inidônea sou que não merecem fé (por exemplo, fornecer informações que estão
muito aquém do que a atividade costuma faturar) ou se houver rasuras  nestes casos, o
Fisco poderá arbitrar o valor com base em critérios objetivos.

*** Insta salientar que o Fisco sempre deverá garantir o direito ao


contraditório e a ampla defesa, havendo também a possibilidade do
individuo fornecer a informação correta.

Os Municípios sempre entendem pela má-fé do Contribuinte – como, por exemplo,


pressupor que uma sociedade empresária que não esta movimentando, esta sonegando –
realizando por essa razão o Lançamento de Ofício Não Originário por Arbitramento  ocorre
que isso é ilegal, pois a má fé não pode ser presumida, devendo ser provada. Em outras
palavras, já que o Fisco esta alegando que a informação não merece fé ou que é inidônea, há
necessidade de fundamentar as razões para essa conclusão.

 Causa de Suspensão da Exigibilidade do Crédito Tributário (Art. 151,


CTN)

Kleber Luciano Ancioto Página 46


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Art. 151, CTN - Suspendem a exigibilidade do crédito tributário: I -


moratória; II - o depósito do seu montante integral; III - as
reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do
processo tributário administrativo; IV - a concessão de medida liminar
em mandado de segurança; V – a concessão de medida liminar ou de
tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial; VI – o
parcelamento.

Ocorrendo uma das situações elencadas nos incisos acima, o Fisco fica engessado e
não pode prosseguir na atividade de cobrança, em outras palavras, ele não pode inscrever em
Divida Ativa, não pode emitir a CDA ou mesmo Executar, pois se realizar qualquer atividade
padecerá de nulidade.

Há discussão sobre se o rol do dispositivo acima ser taxativo ou exemplificativo, mas


pela leitura do Art. 141 do CTN, podemos concluir que somente nas hipóteses previstas no
próprio CTN o crédito tributário pode ser sua exigibilidade suspensa ou excluída, vejamos:

Art. 141, CTN – O crédito tributário regularmente constituído


somente se modifica ou extingue, ou tem sua exigibilidade suspensa
ou excluída, nos casos previstos nesta Lei, fora dos quais não podem
ser dispensadas, sob pena de responsabilidade funcional na forma da
lei, a sua efetivação ou as respectivas garantias.

Somado a isso, o Art. 146, III, “b” da CF, determina que somente Lei Complementar
pode dispor sobre obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência de tributos,
portanto, fica difícil sustentar a possibilidade da existência de outras possibilidades de
suspensão da exigibilidade do crédito tributário além das previstas nos incisos do Art. 151 do
CTN.

Art. 146, CF - Cabe à lei complementar: [...] III - estabelecer normas gerais em
matéria de legislação tributária, especialmente sobre: [...] b) obrigação,
lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários;

Insta salientar que quando se suspende a exigibilidade do credito, suspende-se


também o prazo de prescrição.

Por fim, cumpre-nos chamar a atenção, para o fato da suspensão da exigibilidade do


crédito tributário impedir ou não o Fisco de realizar o Lançamento – Sobre o assunto,
imaginemos que alguém ingresse com um Mandado Preventivo e o Juiz conceda uma Liminar
antes da realização do Lançamento – Se entendemos que a Liminar impede o Lançamento – se
o Fisco lançar haverá nulidade, por outro lado, se entendemos que a Liminar não alcança o
Lançamento porque somente haverá crédito propriamente dito após a realização do
Lançamento, estará correndo o prazo decadencial podendo o Fisco não poder Lançar
posteriormente (pois, a suspensão da exigibilidade suspende apenas o prazo prescricional e
não o decadencial) – assim, nestas situações, o Fisco deverá lançar e tentar a sorte – mas, a

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DIREITO TRIBUTÁRIO II

tendência é que não impede a realização do Lançamento, pois se não eternizaríamos essas
situações (Certidão Positiva com Efeito Negativo).

28/09/2017

Passemos agora a análise de cada uma das causas que suspendem a exigibilidade do
Crédito Tributário, previstos nos incisos no Art. 151 do CTN:

Inciso I - moratória;

Trata-se da postergação no vencimento do tributo – ou seja, em razão de uma Lei


temos a prorrogação do vencimento. A postergação no vencimento pode ter como
fundamento situações de catástrofes naturais ou situações econômicas desfavoráveis.

No Rio de Janeiro, quando houve vários deslizamentos, em razão da situação caótica


que se instalou – situação de excepcional emergência – o Governador concedeu uma
moratória no vencimento do IPVA. Assim, tínhamos um vencimento inicial, que em razão de
Lei houve o diferimento para outro momento – nestas hipóteses, por óbvio, haverá suspensão
da exigibilidade porque antes do advento do novo vencimento o valor não é exigível.

Temos a Moratória Geral que alcança todos os Contribuintes independentemente de


requisitos específicos e a Moratória Individual em que é necessário o Contribuinte ingressar
com um requerimento demonstrando que preenche os requisitos.

O CTN disciplina que a moratória pode ser revogada – no entanto, a moratória


decorre de Lei e devendo ser deferida sempre que cumpridos os requisitos – tratando-se,
portanto de Ato Administrativo Vinculado que não pode ser revogado. Em se comprovando
dolo, fraude ou simulação o ato será invalidado (por exemplo, se se identificar a ausência de
requisitos) – a consequência será o retorno do vencimento anterior e a incidência dos
encargos da mora.

Inciso II - o depósito do seu montante integral;

Importante salientar que não é o valor que o Contribuinte entende ser devido, mas sim
o que o fisco entende ser devido – nestes casos, quando o Contribuinte deposita o valor para
discuti-lo suspende-se a exigibilidade – a vantagem é que suspende a fruição de juros e
correção monetária.

Se a parte sair vencedora ela poderá levantar a quantia ou o excesso da quantia


depositada, por outro lado, se o Tributo for reconhecido como devido, o deposito servirá para
o seu pagamento.

Inciso III - as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo
tributário administrativo;

Kleber Luciano Ancioto Página 48


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Suspende a exigibilidade do crédito porque quando há impugnação, o Crédito


Tributário poderá ser revisto (exceção a regra de que ele não pode ser revisto), assim quando
não há certeza do crédito o fisco não poderá seguir com a execução.

Inciso IV – a concessão de medida liminar em mandado de segurança;

Tanto o Mandado de Segurança Preventivo como o Incidental, uma vez demonstrados


a fumaça do bom direito e o periculum in mora o Juiz poderá deferir liminarmente o pedido do
Autor para suspender a exigibilidade do Crédito Tributário.

Inciso V – a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras


espécies de ação judicial;

Idem ao anterior.

Inciso VI - o parcelamento.

Foi incluída em 2001, porque antes o parcelamento não era regulamentado e o


tratávamos como uma modalidade de moratória, por conta do diferimento do vencimento.

Mas o que o difere da moratória é que este último há necessidade de uma Lei que
disciplina o diferimento do pagamento de Tributos vincendos, enquanto que o parcelamento é
realizado a partir de Tributos vencidos – neste caso, como há novos vencimentos, também não
haverá como o fisco exigir tais valores antes dos respectivos vencimentos.

Todas as hipóteses de suspensão da exigibilidade do crédito suspendem também o


prazo prescricional – isso porque o Fisco não deixa de exigir por inercia, mas sim porque ele
não pode (Art. 174, Parágrafo único, inciso IV, CTN).

Art. 174, Parágrafo único, CTN - A prescrição se interrompe: [...] IV -


por qualquer ato inequívoco ainda que extrajudicial, que importe em
reconhecimento do débito pelo devedor.

CERTIDÕES

 CND – Certidão Negativa de Débitos

Quando não há debito em nome do Contribuinte.

 Certidão de Regularidade

Nesta hipótese existem débitos, porem eles estão regulares. Por exemplo, o
pagamento do Imposto de Renda Pessoa Física pode ser pago em quotas, assim enquanto não
forem todas pagas o Contribuinte tem a prerrogativa de obter uma Certidão de Regularidade.

 Certidão Positiva com Efeito Negativo

Neste caso, existem débitos, porém eles estão com a exigibilidade suspensa (Art. 206
do CTN).

Kleber Luciano Ancioto Página 49


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Art. 206, CTN – Tem os mesmos efeitos previstos no artigo anterior a


certidão de que conste a existência de créditos não vencidos, em curso
de cobrança executiva em que tenha sido efetivada a penhora, ou cuja
exigibilidade esteja suspensa.

EXTINÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO (Art. 156 do CTN)

Art. 156, CTN - Extinguem o crédito tributário: I - o pagamento; II - a


compensação; III - a transação; IV - remissão; V - a prescrição e a
decadência; VI - a conversão de depósito em renda; VII - o pagamento
antecipado e a homologação do lançamento nos termos do disposto
no artigo 150 e seus §§ 1º e 4º; VIII - a consignação em pagamento,
nos termos do disposto no § 2º do artigo 164; IX - a decisão
administrativa irreformável, assim entendida a definitiva na órbita
administrativa, que não mais possa ser objeto de ação anulatória; X - a
decisão judicial passada em julgado; XI – a dação em pagamento em
bens imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei.

A maior parte da doutrina entende que as hipóteses de extinção do Crédito Tributário


prevista no Art. 156 do CTN são taxativas, por conta da previsão do Art. 141 do mesmo
diplima. No entanto, em sentido contrário o doutrinador Ricardo Lobo aponta uma hipótese
que não esta prevista no rol, qual seja: a Confusão – neste sentido, se o Poder Público
desapropriar um bem imóvel, trata-se de hipótese de sucessão imobiliária – se ele tiver um
débito vai se confundir o credor e o devedor, extinguindo-se o Crédito. Outro exemplo são os
casos de estatizações – hipótese de sucessão empresarial – neste caso, o Poder Público
assumiria todos os débitos e em havendo débitos com ele próprio, também extinguiria o
Crédito.

Inciso I – pagamento;

Por óbvio o pagamento extingue o crédito – importante salientar a questão da


Consulta Fiscal – a Lei que regulamenta o Processo Administrativo elenca a possibilidade do
Contribuinte realizar uma Consulta Fiscal e pelo Art. 161, §2º, CTN se a Consulta for realizada
antes do vencimento não fruirá juros e correção até o advento da resposta, ainda que ela
venha muito depois do vencimento – essa consulta é vinculativa, ou seja, vincula o fisco em
relação ao seu entendimento.

Art. 161, CTN - O crédito não integralmente pago no vencimento é


acrescido de juros de mora, seja qual for o motivo determinante da
falta, sem prejuízo da imposição das penalidades cabíveis e da
aplicação de quaisquer medidas de garantia previstas nesta Lei ou em
lei tributária. [...] § 2º - O disposto neste artigo não se aplica na
pendência de consulta formulada pelo devedor dentro do prazo legal
para pagamento do crédito.

Kleber Luciano Ancioto Página 50


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Outra coisa importantíssima diz respeito ao pagamento indevido (Art. 165 a 169 do
CTN) – como o Tributo decorre de Lei, quem paga mal paga algo ilegal, por isso cabe a
repetição do indébito. Para tal há necessidade demonstrar o pagamento (comprovante de
recolhimento) e apontar o porque ele é ilegal (pagamento mais do que o devido, em
duplicidade, etc).

Neste sentido, o Art. 165 do CTN elenca as hipóteses de cabimento da Ação de


Repetição do Indébito, vejamos:

Art. 165, CTN – O sujeito passivo tem direito, independentemente de


prévio protesto, à restituição total ou parcial do tributo, seja qual for a
modalidade do seu pagamento, ressalvado o disposto no § 4º do artigo
162, nos seguintes casos: I - cobrança ou pagamento espontâneo de
tributo indevido ou maior que o devido em face da legislação tributária
aplicável, ou da natureza ou circunstâncias materiais do fato gerador
efetivamente ocorrido; II - erro na edificação do sujeito passivo, na
determinação da alíquota aplicável, no cálculo do montante do débito
ou na elaboração ou conferência de qualquer documento relativo ao
pagamento; III - reforma, anulação, revogação ou rescisão de decisão
condenatória.

Outra coisa importante diz respeito a previsão do Art. 166 do CTN que disciplina
acerca dos Tributos Indiretos, vejamos:

Art. 166, CTN - A restituição de tributos que comportem, por sua


natureza, transferência do respectivo encargo financeiro somente será
feita a quem prove haver assumido o referido encargo, ou, no caso de
tê-lo transferido a terceiro, estar por este expressamente autorizado a
recebê-la.

Para ter legitimidade para requerer a repetição do indébito, há necessidade de se


demonstrar que não transferiu o encargo ou uma vez tendo-o transferido esta expressamente
autorizado a recebê-lo.

Neste sentido, se uma indústria vender para o comerciante varejista que vende para o
consumidor final, quanto ao ICMS nós vimos que todas as vezes que a mercadoria sai ela gera
uma obrigação e quando ela entra gera um crédito até chegar ao consumidor final, em sendo
assim, se a Indústria transferiu a responsabilidade pelo recolhimento ao Varejista, será este
último quem terá legitimidade para requerer a repetição do indébito, salvo nos casos em que
o comerciante autorizar a indústria a requer (juntar declaração de anuência).

Em sentido contrário, no entanto, dispõe a Súmula abaixo:

Súmula 546 do STF - Cabe a restituição do tributo pago


indevidamente, quando reconhecido por decisão, que o contribuinte

Kleber Luciano Ancioto Página 51


DIREITO TRIBUTÁRIO II

"de jure" não recuperou do contribuinte "de facto" o "quantum"


respectivo.

Em suma, a Súmula acima, em contrário senso, diz que quem tem competência para
requerer a repetição é o Contribuinte de Fato, não o Contribuinte de Direito.

*** Acerca da referida Súmula, inicialmente cumpre-nos chamar


atenção para o detalhe de ter sido o STF a edita-la e não o STJ que é o
órgão responsável por regular matérias infraconstitucionais, o que
significa que ela é anterior a existência do próprio STJ, portanto bem
antiga.

Assim, se a Súmula fosse aplicada, quem na verdade suporta o


pagamento do Tributo cujo valor esta em desacordo será sempre o
Consumidor Final (contribuinte de fato) – então, somente ele teria
legitimidade para requerer a repetição do indébito, no entanto, o
entendimento é que ele não é legitimado por não ter sido ele quem
recolheu o Tributo, tendo o consumidor, na verdade, pago a
mercadoria – o que impediria o controle dos órgãos administrativos,
pois imaginemos a situação de todos os consumidores ingressando
com Ações de Repetição de Indébito contra a Fazenda Pública, sem
dúvida seria um caos. Em outras palavras, o Estado não pode exigir o
pagamento do Tributo do consumidor final, tendo em vista ele não ser
o Contribuinte de Direito, assim o entendimento é que ele também
não é legitimado para requerer a repetição do indébito.

Feito estas considerações há necessidade de se adequar a interpretação da Súmula –


mas se fizermos uma pesquisa jurisprudencial, veremos que o entendimento é que quem tem
legitimidade é o Consumidor final por causa da literalidade da Súmula – na prática, no entanto,
não há como o fisco restituir todos os contribuintes de fato.

04/10/2017

Seguindo com a discussão acerca da repetição do indébito, passemos agora as regras


de imputação do pagamento previsto no Art. 167 do CTN:

Art. 167, CTN – A restituição total ou parcial do tributo dá lugar à


restituição, na mesma proporção, dos juros de mora e das penalidades
pecuniárias, salvo as referentes a infrações de caráter formal não
prejudicadas pela causa da restituição. Parágrafo único. A restituição
vence juros não capitalizáveis, a partir do trânsito em julgado da
decisão definitiva que a determinar.

Kleber Luciano Ancioto Página 52


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Atualmente não faz muito sentido porque as guias são eletrônicas, diferente de
quando o contribuinte chegava no balcão e escolhia o crédito que iria pagar.

Prazo para ingressar com Ação de Repetição de Indébito

Art. 168, CTN – O direito de pleitear a restituição extingue-se com o


decurso do prazo de 5 (cinco) anos, contados: I - nas hipóteses dos
incisos I e II do artigo 165, da data da extinção do crédito tributário; II -
na hipótese do inciso III do artigo 165, da data em que se tornar
definitiva a decisão administrativa ou passar em julgado a decisão
judicial que tenha reformado, anulado, revogado ou rescindido a
decisão condenatória.

Passemos a análise de cada um dos incisos do dispositivo acima:

Inciso I - nas hipóteses dos incisos I e II do artigo 165, da data da extinção do crédito
tributário;

Como se trata de uma pretensão, o prazo aqui é prescricional. Neste sentido a Ação de
Repetição do indébito prescreve em 5 anos, conforme prevê o inciso acima contados da
extinção do crédito.

Assim, nos casos em que o Lançamento ocorrer de Ofício ou por Declaração, não
haverá problema, tendo em vista a extinção do crédito se confundir com o pagamento. O
problema ocorre quando estamos diante do Lançamento por Homologação.

Isto porque nesta modalidade de Lançamento o sujeito passivo é quem faz tudo e o
fisco somente fiscaliza a referida atividade. Ao longo do período que o fisco tem para fiscalizar
(5 anos) podem ocorrer três coisas distintas: Homologação Expressa (quando o fisco fiscaliza e
expressamente homologa o Lançamento realizado pelo sujeito passivo); Homologação Tácita
(quando o fisco deixa transcorrer o prazo de 5 anos que ele possui para fiscalizar in albis) ou
ainda o Lançamento da Diferença Apurada (que se trata de um Lançamento de Ofício Não
Originário).

Em sendo assim, podemos afirmar que o pagamento realizado pelo sujeito passivo por
si só não extingue o crédito, estando sujeito a uma condição resolutiva, qual seja:
homologação expressa ou tácita do fisco. Em outras palavras, somente haverá os efeitos da
extinção do crédito se houver homologação, sendo que estes efeitos retroagem a data do
recolhimento.

Ocorre que o inciso I do Art. 168 do CTN disciplina que o prazo de 5 anos consta-se
da extinção do credito – assim, fez surgir a dúvida, pois em havendo duas datas: a data do
recolhimento e a data da homologação, qual delas devia ser considerada como termo inicial
para contagem do prazo?

Com isso, a princípio o STF solidificou o entendimento de que haveria 5 anos para o
fisco homologar e depois outros 5 anos para o sujeito passivo ingressar com a Ação de

Kleber Luciano Ancioto Página 53


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Repetição do Indébito. Mas o legislador, muito espertamente editou a LC 118/05, cujo Art.
3º esta transcrito abaixo:

Art. 3º, LC 118/05 – Para efeito de interpretação do inciso I do art.


168 da Lei no 5.172, de 25 de outubro de 1966 – Código Tributário
Nacional, a extinção do crédito tributário ocorre, no caso de tributo
sujeito a lançamento por homologação, no momento do pagamento
antecipado de que trata o § 1º do art. 150 da referida Lei.

Ou seja, o legislador passou a prever que para efeitos do que prevê o inciso I do Art.
168 do CTN, considera-se extinto o crédito na data do recolhimento indevido. E mais, sob
alegação de se tratar de uma norma interpretativa e, portanto uma exceção a irretroatividade
da norma tributária, o fisco começou a aplica-la a todos os Fatos Geradores passados e,
aqueles casos em que o recolhimento tinha ocorrido a mais de 5 anos estavam, sob este
entendimento, prescritos.

O STF, no entanto, pacificou o entendimento de que embora se tratasse de uma norma


interpretativa ela estava alterando um entendimento anterior consolidado, por essa razão,
seus efeitos não poderiam retroagir.

Em sendo assim, a LC 118/05 foi publicada em 09/02/2005 e teve uma vaccacio de


120 dias, portanto entrou em vigor em 09/06/2005 – assim se o Fato Gerador tiver ocorrido
até 08/06/05 aplicamos a regra dos 5 + 5, já se o Fato Gerador ocorrer a partir de 09/06/05
aplicamos 5 anos da data do pagamento.

Passemos agora a hipótese do inciso II:

Inciso II - na hipótese do inciso III do artigo 165, da data em que se tornar definitiva a
decisão administrativa ou passar em julgado a decisão judicial que tenha reformado,
anulado, revogado ou rescindido a decisão condenatória.

Este inciso diz respeito aos casos em que se esta discutindo a legalidade do Tributo,
neste caso, o prazo para ingresso de Ação de Repetição do Indébito será de 5 anos contados
do transito em julgado do procedimento judicial.

Aqui precisamos chamar atenção para o Tributo declarado inconstitucional, nestes


casos o STJ fixou o entendimento de que o prazo contar-se-ia do pagamento indevido, o que
pode ser um problema, tendo em vista, que o tempo até que se declare o Tributo
inconstitucional pode ultrapassar esse prazo e, portanto, por ocasião da declaração o prazo
para propositura da Ação já estaria prescrita. Por essa razão o STF fixou dois entendimentos,
uma para o caso da norma ser declarada inconstitucional pelo sistema difuso, onde o termo
inicial seria a publicação do acórdão e terá efeito inter partes, salvo se houver resolução do
Senado suspendendo a vigência da norma, ocasião em que o termo inicial será a data de
publicação desta resolução e terá efeito erga omnes. No caso da norma ser declarada
inconstitucional pelo sistema concentrado, primeiramente temos que verificar se há
modulação dos efeitos e, caso não haja o termo inicial será a data da publicação do acórdão.

Kleber Luciano Ancioto Página 54


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Neste prazo é possível ingressar com a Repetição do Indébito tanto na esfera


Administrativa como na Judicial. Uma vez ingressando com pedido na esfera administrativa,
sobrevirá uma decisão administrativa deferindo ou indeferindo o pedido. Se o pedido for
deferido, o processo termina, por outro lado se ele for indeferido, não haverá outros 5 anos a
contar dessa decisão para se ingressar com pedido na esfera judicial, pois neste caso, o que se
almeja é a anulação da decisão administrava e, portanto, aplicaremos a previsão do Art. 169
do CTN que disciplina um prazo de 2 anos da decisão administrativa que denegara restituição.

Art. 169, CTN – Prescreve em dois anos a ação anulatória da decisão


administrativa que denegar a restituição.

Neste caso, o dispositivo utiliza impropriamente termo “prescreve”, pois aqui não se
trata de prescrição, tendo em vista tratar-se de um direito potestativo e não uma pretensão.
Feito essa observação vejamos o que prevê o Parágrafo único do mesmo dispositivo:

Art. 169, Parágrafo único, CTN – O prazo de prescrição é


interrompido pelo início da ação judicial, recomeçando o seu curso,
por metade, a partir da data da intimação validamente feita ao
representante judicial da Fazenda Pública interessada.

Na verdade tínhamos um direito (ingressar com Ação Anulatória), que foi exercido e,
portanto ele se esgotou – quanto a previsão do Parágrafo único trata-se de um caso de
prescrição intercorrente, ele também apresenta uma impropriedade por utilizar o termo
intimação quando na verdade trata-se de citação. Feito estas considerações a norma veiculada
pelo dispositivo diz respeito ao prazo de 1 ano para que o Juiz sentencie após a citação válida.
Muitos autores defendem que este dispositivo não foi recepcionado, pois ele estaria
imputando uma punição a alguém por fato de terceiro além de colocar prazo para o exercício
do acesso a justiça.

*** Mas precisamos atentar para o fato de que quando se fala em


prescrição intercorrente pró-fisco estamos nos referindo ao Art. 169,
Parágrafo único do CTN.

Prosseguindo nas causas de extinção do crédito tributário, passemos a análise dos


demais incisos do Art. 156 do CTN:

Inciso II – a compensação;

A possibilidade de compensação esta prevista no Art. 170 do CTN, vejamos:

Art. 170, CTN – A lei pode, nas condições e sob as garantias que
estipular, ou cuja estipulação em cada caso atribuir à autoridade
administrativa, autorizar a compensação de créditos tributários com
créditos líquidos e certos, vencidos ou vincendos, do sujeito passivo
contra a Fazenda pública.

Kleber Luciano Ancioto Página 55


DIREITO TRIBUTÁRIO II

No Direito Civil a compensação ocorre de pleno direito, mas no Direito Tributário é


dependente de Lei, conforme prevê o dispositivo acima, neste sentido a compensação do
Crédito Tributário normalmente é realizada com Precatórios.

*** Os créditos em face da União que ultrapassem 60 salários


mínimos, os em face dos Estados que ultrapassem 40 salários mínimos
e os em face dos Municípios que ultrapassem 30 salários mínimos
transmutam-se em precatórios – os valores abaixo disso podem ser
recebidos através de RPV – Requisição de Pequeno Valor, cujo
pagamento ocorre em 60 dias.

Por outro lado, se o crédito se transmutar em precatórios, se eles


forem apresentados até 1º de julho de cada ano, ele já ingressará na
Lei Orçamentária do referido ano para ser pago no exercício fiscal
seguinte, já se for apresentado após esta data, ele somente entrará na
Lei Orçamentária do ano seguinte, para pagamento no outro ano.

Em sendo assim, muitos titulares de precatórios os negociam com terceiro – realizando


uma cessão de direitos – normalmente aqueles que compram esses precatórios pagam de 10 a
40% do valor real estampado no Título – e isso é interessante principalmente em sede de
Direito Tributário, pois se este comprador tiver débitos tributários, poderá compensar o valor
estampado no Título.

Por óbvio o Fisco não queria essa possibilidade de compensação, pois para ele é muito
mais vantajoso adotar medidas expropriatórias contra o contribuinte e paga-lo somente
posteriormente – só que, como seus argumentos não se sustentam, atualmente temos a
possibilidade de compensação, neste sentido, vejamos o que prevê o Art. 105 do ADCT.

Art. 105, ADCT – Enquanto viger o regime de pagamento de


precatórios previsto no art. 101 deste Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias, é facultada aos credores de precatórios,
próprios ou de terceiros, a compensação com débitos de natureza
tributária ou de outra natureza que até 25 de março de 2015 tenham
sido inscritos na dívida ativa dos Estados, do Distrito Federal ou dos
Municípios, observados os requisitos definidos em lei própria do ente
federado.

Então aqui temos a possibilidade de Compensação de precatórios com Débitos


Tributários, desde que estes débitos tenham sido inscritos até 25/03/2015, podendo o
precatório ser próprio ou de terceiros (na hipótese de cessão de direitos) – insta salientar que
como o dispositivo fala em Crédito Tributário, podemos incluir as multas – no entanto, ele
também disciplina a necessidade de Lei, assim se não houver Lei haverá necessidade de se
ingressar com Mandado de Injunção.

Kleber Luciano Ancioto Página 56


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Por fim acerca da compensação, cumpri-nos destacar que conforme a previsão abaixo
não cabe Compensação se um dos Créditos for objeto de litígio, até porque lhe faltará a
certeza.

Art. 170-A, CTN – É vedada a compensação mediante o aproveitamento de


tributo, objeto de contestação judicial pelo sujeito passivo, antes do trânsito
em julgado da respectiva decisão judicial.

Inciso III - a transação;

Transação se encontra no Art. 171 do CTN, que elenca inclusive um conceito para
transação.

Art. 171, CTN – A lei pode facultar, nas condições que estabeleça, aos
sujeitos ativo e passivo da obrigação tributária celebrar transação que,
mediante concessões mútuas, importe em determinação de litígio e
conseqüente extinção de crédito tributário.

Assim, podemos definir a transação como sendo concessões mútuas.

Um exemplo bem usual de transação é o que ocorre todo inicio do ano nos Municípios
que concedem descontos de 10 a 15% no valor do IPTU para os Sujeitos Passivos que pagarem
o referido imposto em quota única. Trata-se de uma transação tendo em vista o Fisco ter
direito a receber a quota integral do imposto, mas ele abre mão de parcela desse valor e o
Contribuinte que tem direito a parcelar o imposto, abre mão dessa possibilidade pagando-o a
vista.

Inciso IV - remissão;

A remissão encontra-se disciplinada no Art. 172 do CTN, vejamos:

Art. 172, CTN - A lei pode autorizar a autoridade administrativa a


conceder, por despacho fundamentado, remissão total ou parcial do
crédito tributário, atendendo: I - à situação econômica do sujeito
passivo; II - ao erro ou ignorância excusáveis do sujeito passivo,
quanto a matéria de fato; III - à diminuta importância do crédito
tributário; IV - a considerações de eqüidade, em relação com as
características pessoais ou materiais do caso; V - a condições
peculiares a determinada região do território da entidade tributante.

O Lançamento trata-se de um “divisor de águas”, o caput do Art. 156 do CTN é claro


em tratar da extinção do crédito, assim, se formos levar pela literalidade o dispositivo se refere
a situações ocorridas após o Lançamento, pois antes teremos apenas a Obrigação Tributária.

Neste sentido, antes do Lançamento temos a Isenção (que se trata de uma hipótese de
não incidência – incidindo sobre o Tributo) e a Anistia (que se trata do perdão, mas específico
para condutas ilícitas tributárias – assim, uma vez perdoada a conduta ilícita a consequência é

Kleber Luciano Ancioto Página 57


DIREITO TRIBUTÁRIO II

que não incidirá multa). Logo no caso da Isenção o Estado sequer lança o Tributo, já na Anistia
não se lança a multa, por alguma um erro o CTN trata ambas como hipóteses de exclusão do
crédito, no entanto, ele sequer chega a nascer.

Já a Remissão como extingue o Crédito Tributário (portanto, após o Lançamento),


pode alcançar tanto o Tributo e/ou Multa, neste sentido, a Remissão pode ser Total ou Parcial,
abrangendo todo o credito ou só parcela dele.

No REFIS (Programa de Recuperação Fiscal) podemos encontrar Anistia, Remissão além


do Parcelamento.

Inciso VI - a conversão de depósito em renda;

Trata-se de uma das causas de suspensão da exigibilidade do crédito tributário,


conforme prevê o inciso II do Art. 151 do CTN.

Nesta hipótese se o Sujeito Passivo vencer a disputa em litígio ele próprio levantará a
quantia depositada, já se sair perdedor o depósito será convertido em renda e utilizado para o
pagamento do Tributo extinguindo-se o Crédito Tributário.

Inciso VII - o pagamento antecipado e a homologação do lançamento nos termos do


disposto no artigo 150 e seus §§ 1º e 4º;

O dispositivo nos leva a problematização que levantamos acerca do momento em que


se considera extinto o crédito tributário no caso do Lançamento pro Homologação, neste
sentido, conforme dispõe o inciso acima é necessário o pagamento e a homologação, seja ela
expressa ou tácita para considerar o Crédito Tributário extinto.

Inciso VIII - a consignação em pagamento, nos termos do disposto no § 2º do artigo


164;

A Consignação em Pagamento ocorre nos termos do que prevê o Art. 164 do CTN.

Art. 164, CTN - A importância de crédito tributário pode ser


consignada judicialmente pelo sujeito passivo, nos casos: I - de recusa
de recebimento, ou subordinação deste ao pagamento de outro
tributo ou de penalidade, ou ao cumprimento de obrigação acessória;
II - de subordinação do recebimento ao cumprimento de exigências
administrativas sem fundamento legal; III - de exigência, por mais de
uma pessoa jurídica de direito público, de tributo idêntico sobre um
mesmo fato gerador. § 1º A consignação só pode versar sobre o
crédito que o consignante se propõe pagar. § 2º Julgada procedente a
consignação, o pagamento se reputa efetuado e a importância
consignada é convertida em renda; julgada improcedente a
consignação no todo ou em parte, cobra-se o crédito acrescido de
juros de mora, sem prejuízo das penalidades cabíveis.

Kleber Luciano Ancioto Página 58


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Inciso I - de recusa de recebimento, ou subordinação deste ao pagamento de outro


tributo ou de penalidade, ou ao cumprimento de obrigação acessória;

Assim, caberá Consignação em Pagamento, sempre que houver recursa de


recebimento ou sempre que este recebimento estiver subordinado ao pagamento de outro
tributo ou penalidade, ou ainda ao cumprimento de um dever instrumental.

Inciso II - de subordinação do recebimento ao cumprimento de exigências


administrativas sem fundamento legal;

Esta hipótese ocorre com muita frequência, principalmente quando o indivíduo vai
tentar recolher um Tributo que já foi executado e não consegue por vincularem o pagamento
ao recolhimento de honorários e custas processuais – ocorre que o Titular destes outros
recolhimentos não é o Fisco, tratando-se, portanto, de uma exigência infundada.

Inciso III - de exigência, por mais de uma pessoa jurídica de direito público, de tributo
idêntico sobre um mesmo fato gerador.

Quando dois entes públicos estão discutindo a competência para receber o tributo, o
Sujeito Passivo poderá consigna-lo em pagamento para não incorrer nos encargos de mora
enquanto a situação não se resolve.

Voltando soa incisos do Art. 165 do CTN:

Inciso IX - a decisão administrativa irreformável, assim entendida a definitiva na


órbita administrativa, que não mais possa ser objeto de ação anulatória;

Assim, se o sujeito passivo impugnar o Crédito Tributário administrativamente e for


julgado procedente para o fim de anular o Auto de Infração, desde que não caiba mais
discussão na esfera administrativa ou ação anulatória o Crédito é considerado extinto.

Inciso X - a decisão judicial passada em julgado;

Vale as mesmas considerações tecidas em relação ao inciso anterior, só que aqui diz
respeito a esfera judicial.

Inciso XI - a dação em pagamento em bens imóveis, na forma e condições


estabelecidas em lei.

Depois de certo o valor do debito e o valor do imóvel, há necessidade de se


encaminhar um Projeto de Lei autorizando o se recebimento em dação em pagamento.
Devemos tomar cuidado para se valer dessa técnica, pois entre o oferecimento e o
recebimento do bem costuma passar certo tempo e o ente público não esta autorizado a
restituir valores – assim, se exceder o valor da dívida o individuo irá perde-lo.

05/10/2017

Kleber Luciano Ancioto Página 59


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Por fim, resta-nos comentar acerta do inciso V do Art. 156 do CTN, vejamos:

Inciso V - A prescrição e decadência.

Quanto a decadência nós já sabemos que ela ocorre antes do Lançamento, uma vez
que a decadência aqui trata-se do perecimento do direito do fisco em formalizar o Crédito
Tributário por deixar transcorrer o prazo de 5 anos.

Acerca do termo inicial para contagem do prazo, precisamos atentar para duas regras,
uma prevista no Art. 173, inciso I do CTN e outra prevista no Art. 150, §4º do CTN.

Regra Geral:

Art. 173, CTN - O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito


tributário extingue-se após 5 (cinco) anos, contados: I - do primeiro
dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter
sido efetuado; [...]

Por esta regra, todos os Fatos Geradores que ocorrerem em determinado exercício
fiscal terão como termo inicial para contagem do prazo decadencial o dia 1º de janeiro do
exercício seguinte a sua ocorrência.

Assim, se temos um Fato Gerador que ocorra em 15 de Janeiro de 2017, por esta regra
geral o termo inicial para contagem do prazo decadencial será dia 1º de janeiro de 2018, o que
significa que os 5 anos findarão em 1º de janeiro de 2023 – ocasião em que o direito já terá
decaído, assim, o Fisco terá até dia 31/12/2022 para realizar o Lançamento.

Regra Especial:

Art. 150, §4º, CTN - Se a lei não fixar prazo a homologação, será ele
de cinco anos, a contar da ocorrência do fato gerador; expirado esse
prazo sem que a Fazenda Pública se tenha pronunciado, considera-se
homologado o lançamento e definitivamente extinto o crédito, salvo se
comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação.

Por esta regra, o termo inicial para contagem do prazo se dá com a ocorrência do Fato
Gerador.

Assim, se pegarmos o mesmo Fato Gerador utilizado acima, ocorrido em 15 de Janeiro


de 2017, por esta regra especial a contagem do prazo se inicia com a sua ocorrência, portanto
os 5 anos findarão em 15 de Janeiro de 2023 – ocasião em que o direito já terá decaído, assim,
o Fisco terá até dia 14/01/2022 para realizar o Lançamento.

Feito estas considerações se formos tomar como base a Regra Geral,


pouco importa a data exata, dentro do exercício fiscal, que o Fato
Gerador tenha ocorrido, pois sempre o termo inicial para contagem do
prazo decadencial será no 1º de Janeiro do exercício fiscal seguinte;
por outro lado, pela Regra Especial, será de suma importância
Kleber Luciano Ancioto Página 60
DIREITO TRIBUTÁRIO II

observarmos a data exata da ocorrência do Fato Gerador, pois o termo


inicial para contagem do prazo decadencial será esta data.

Dessa forma, já sabemos a partir de quando passaremos a contar o prazo decadencial,


agora precisamos atentar para quando aplicaremos uma regra ou a outra. Para tal,
precisaremos atentar para as modalidades de lançamentos.

Em se tratando de:

Lançamento de Ofício Originário, aplicaremos a Regra Geral (Art. 173, I,


CTN);

Lançamento por Declaração, aplicaremos a Regra Geral (Art. 173, I, CTN);

Lançamento por Homologação, dependerá, pois o §4º esta inserido no Art.


150 do CTN que trata do Lançamento por Homologação, assim, somente
neste caso, haverá uma situação em que utilizaremos a Regra Especial,
vejamos:

Só aplicaremos a Regra Especial no caso em que o Sujeito Passivo fizer a declaração e o


recolhimento abaixo do valor devido, isto se explica porque como houve uma antecipação do
recebimento, o Fisco tomou conhecimento da ocorrência do Fato Gerador e terá 5 anos da sua
ocorrência para lançar eventual diferença (Lançamento de Ofício, Não Originário), já no caso
do Sujeito Passivo ser omisso (ou seja, não realizar a declaração e nem tão pouco recolher o
Tributo), o fisco terá que Lança-lo de Ofício, Não Originário também, no entanto, como haverá
a necessidade dele diligenciar, porque ele não foi informado da ocorrência do Fato Gerador,
ele ganhará um prazo maior aplicando-se o prazo da Regra Geral, assim no:

Lançamento de Ofício Não Originário, aplicaremos a Regra Geral (Art. 173, I,


CTN) quando o Sujeito Passivo for omisso quanto a Declaração e Recolhimento
do Tributo; ou a Regra Especial (Art. 150, §4º, CTN) quando houver a
Declaração e Recolhimento Antecipado, mas existir diferença entre o valor
declarado e recolhido e o valor realmente devido.

Por fim, chamamos atenção para a exceção prevista no final do §4º do Art. 150 do
CTN, qual seja: “salvo se comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação.” – assim,
nestas hipóteses, aplicaremos a Regra Geral e o fisco ganhará um prazo maior para realizar o
Lançamento.

Em suma, só utilizaremos a Regra Especial, nos casos em que houver


apuração de diferença entre o valor declarado e recolhido pelo Sujeito
Passivo e o valor real que deveria ter sido declarado e recolhido.

Feito estas considerações precisamos atentar para outras duas regras que se
encontram no inciso II e no Parágrafo único do Art. 173 do CTN, vejamos:

Kleber Luciano Ancioto Página 61


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Art. 173, Parágrafo único, CTN - O direito a que se refere este artigo
extingue-se definitivamente com o decurso do prazo nele previsto,
contado da data em que tenha sido iniciada a constituição do crédito
tributário pela notificação, ao sujeito passivo, de qualquer medida
preparatória indispensável ao lançamento.

Temos que tomar muito cuidado com essa regra – pois muitos a aplicam como causa
de interrupção do prazo decadencial, no entanto, ela nunca poderá ser aplicada como causa
dessa forma, devendo ser aplicada apenas como forma de antecipação do termo inicial da
contagem do prazo decadencial.

Assim, suponhamos que o Fato Gerador tenha ocorrido em Janeiro de 2017, o prazo
decadencial começaria a contar em 1º de Janeiro de 2018, no entanto, se o fisco em setembro
de 2017 expede a TIAF – Termo de Inicio da Ação Fiscal (Medida Preparatória) – não tem
porque esperar 1º de janeiro do exercício para começar a contar o prazo decadencial, visto
que o Fisco já iniciou o exercício de seu direito.

Em suma, a regra veiculada pelo Parágrafo único do Art. 173 do


CTN, aplica-se tão somente como causa de antecipação do termo
inicial para contagem do prazo decadencial, nunca como causa de
interrupção.

Passemos agora para análise do previsto no inciso II do Art. 173 do CTN:

Art. 173, CTN - O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito


tributário extingue-se após 5 (cinco) anos, contados: [...] II - da data
em que se tornar definitiva a decisão que houver anulado, por vício
formal, o lançamento anteriormente efetuado.

Após a realização do lançamento o sujeito passivo deve ser notificado para pagar ou
impugnar. Se ele impugnar inicia o processo administrativo. O inciso II disciplina que se houver
anulação por um vício de forma (Ex. o fisco deveria ter lançado uma alíquota de 5% mas lançou
50%), conta-se um novo prazo de decadência, ou seja, mais 5 anos a partir da decisão que
anulou o lançamento.

Em sendo assim, se um Fato Gerador ocorreu em 2005 e o Fisco iniciou a TIAF em


Ago/2008 e realizou o lançamento em Dez/2008 e o indivíduo impugnou em Jan/2009
apontando um vício de forma, suponhamos que a decisão demore mais alguns meses e saia
em Jul/2009 julgando procedente para o fim de anular o lançamento por reconhecer o vício de
forma – o Fisco terá outros 5 anos dessa decisão para realizar o lançamento novamente – ou
seja, este inciso acaba privilegiando o Fisco que deveria prestar o serviço com eficiência,
eternizando a possibilidade de lançamento, uma vez que, se ao realizar o novo lançamento,
novamente cometer um vício de forma, o prazo seria renovado e assim sucessivamente – por
isso alguns autores apontam a incompatibilidade dessa previsão com o próprio instituto da
decadência.

Kleber Luciano Ancioto Página 62


DIREITO TRIBUTÁRIO II

11/10/2017

Exercício 1:

Em 15/05/2004, a Fazenda do Estado Alfa notificou a empresa ABC a respeito do início


de Ação fiscal, medida preparatória para realização do lançamento, com vistas a realizar
fiscalização a respeito do ICMS referente aos exercícios de 1999 a abril de 2004. Finalizando o
procedimento fiscalizatório, a Fazenda Pública pode perceber que o contribuinte havia
declarado o ICMS referente aos meses de agosto e setembro de 1999, no entanto, não havia
realizado o respectivo pagamento. Em relação aos exercícios de outubro a dezembro de 1999,
o Fisco apurou uma diferença no valor de R$ 15.869,00 (quinze mil oitocentos e sessenta e
nove reais) e, finalmente, no que toca aos demais períodos (exercício de 2000 a abril de 2004),
o fiscal pode verificar que o sujeito passivo não declarou nem recolheu o Tributo. A lavratura
do auto de infração deu-se em 1º de janeiro de 2005.

Examine as questões envolvidas e responda o item a seguir, utilizando argumentos


jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso: Analise a constituição do
crédito tributário pelo Fisco, referindo se ocorreu de forma regular ou não, bem como se
adveio dentro do prazo legal.

Informações Importantes:

Medida Preparatória  15/05/2004

Lançamento  01/01/2005

Fato Gerador  Exercícios de 1999 a abril de 2004.

Agosto a Setembro de 1999  Declarado e não pago

Prazo prescricional  Art. 174 do CTN e Súmula 436


do STJ.

Súmula 436, STJ - A entrega de declaração pelo contribuinte,


reconhecendo o débito fiscal, constitui o crédito tributário, dispensada
qualquer providencia por parte do Fisco.

Art. 174, CTN - A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve


em cinco anos, contados da data da sua constituição definitiva.

O dispositivo utiliza o termo “constituição definitiva” – o que significa quando não


couber mais discussão, devendo ser contado do vencimento do Tributo ou da Declaração,
sempre a maior data.

Outubro a Dezembro de 1999  Fisco apurou diferença

Como ele precisa lançar a diferença (Lançamento de


Ofício Não Originário)  Prazo decadencial

Kleber Luciano Ancioto Página 63


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Aqui se aplica a regra especial  5 anos a contar do FG


 Art. 150, §4º do CTN

FG Out/1999  Out/2000 (1 ano)  Out/2001 (2 anos)  Out/2002 (3 anos)  Out/2003 (4


anos)  Out/2004 (5 anos)  ou seja, o direito do Fisco lançar decaiu em Out/2004, como ele
lançou em 01 de janeiro de 2005.

O mesmo se aplica aos FGs ocorridos em Novembro e Dezembro de 1999, pois este
último decaiu o direito do Fisco Lançar em Dezembro de 2004.

Exercício de 2000 a Abril de 2004  Não declarado e não


pago.

Como houve omissão total aplica-se a regra geral (Art.


173, I, CTN) para contagem do prazo decadencial para
o Lançamento de Ofício Não Originário.

FG Exercício de 2000  Inicia a contagem do prazo decadencial em 1º de Janeiro de 2001 


1º de Janeiro de 2002 (1 ano)  1º de Janeiro de 2003 (2 anos)  1º de Janeiro de 2004 (3
anos)  1º de Janeiro de 2005 (4 anos)  1º de Janeiro de 2006 (5 anos)  ou seja, o direito
do Fisco lançar decairá apenas em 1º de Janeiro de 2006, assim como ele lançou em 1º de
Janeiro de 2005 não houve decadência, assim, se não houve decadência do período mais
antigo, também não haverá dos mais novos (insta salientar que o Fisco poderia lançar até
31/12/2005).

Em relação ao exercício de 2004, nós teremos que antecipar o início da contagem para
o início da Medida Preparatória conforme prevê o Art. 173, Parágrafo único do CTN.

Exercício 2:

O Fisco Municipal realizou Fiscalização Tributária do Banco X, com vistas a apurar o


valor devido de ISS sobre as operações de prestação de serviço de leasing cujos Fatos
Geradores ocorreram entre o período de 2003 a 2010. Considerações pertinentes:

O imposto não foi declarado e nem pago, apesar de ser dever do sujeito passivo.

Ação fiscal foi iniciada em setembro de 2010 e o lançamento ocorreu em novembro do


mesmo ano.

Notificado em dezembro de 2010, o sujeito passivo alegou prescrição em relação aos


fatos geradores ocorridos entre o período de janeiro de 2003 a dezembro de 2005, dentre
outras defesas.

Informações Importantes:

Medida Preparatória  Setembro/2010

Lançamento  Novembro/2010

Kleber Luciano Ancioto Página 64


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Fato Gerador  2003 a 2010 – Declarado e Não Pago (Regra Geral –


Art. 173, I, CTN).

FG Exercício de 2003  Inicia a contagem do prazo decadencial em 1º de Janeiro de 2004 


1º de Janeiro de 2005 (1 ano)  1º de Janeiro de 2006 (2 anos)  1º de Janeiro de 2007 (3
anos)  1º de Janeiro de 2008 (4 anos)  1º de Janeiro de 2009 (5 anos)  ou seja, o Fisco
poderia lançar até 31 de Dezembro de 2008, como ele lançou em Novembro de 2010, em
relação ao FG de 2003 houve decadência.

FG Exercício de 2004  Inicia a contagem do prazo decadencial em 1º de Janeiro de 2005 


1º de Janeiro de 2006 (1 ano)  1º de Janeiro de 2007 (2 anos)  1º de Janeiro de 2008 (3
anos)  1º de Janeiro de 2009 (4 anos)  1º de Janeiro de 2010 (5 anos)  ou seja, o Fisco
poderia lançar até 31 de Dezembro de 2009, como ele lançou em Novembro de 2010, em
relação ao FG de 2004 também houve decadência.

FG Exercício de 2005  Inicia a contagem do prazo decadencial em 1º de Janeiro de 2006 


1º de Janeiro de 2007 (1 ano)  1º de Janeiro de 2008 (2 anos)  1º de Janeiro de 2009 (3
anos)  1º de Janeiro de 2010 (4 anos)  1º de Janeiro de 2011 (5 anos)  ou seja, o Fisco
poderia lançar até 31 de Dezembro de 2010, como ele lançou em Novembro de 2010, em
relação ao FG de 2004 não houve decadência.

Então, se 2005 não houve decadência, 2006, 2007, 2008, 2009 também não houve.

Já em relação ao exercício de 2010, devemos contar a partir da Medida Preparatória


(Set./2010) conforme prevê o Art. 173, Parágrafo único do CTN.

Pergunta-se:

A pretensão defensiva do sujeito passivo deve ser acolhida? Fundamente.

Não porque se trata de prazo decadencial e não prazo prescricional

Ainda em relação ao caso acima proposto analise:

Caso se tratasse de Tributo declarado e não pago, haveria alteração do tratamento


jurídico para os fatos narrados? Fundamente.

Sim, pois Tributo declarado e não pago, conta-se Prazo Prescricional (Súmula 436 do
STF + Art. 174, CTN) – isso porque como houve declaração, há formalização do crédito, assim
temos prazo prescricional de cinco anos, contados ou do vencimento do Tributo ou da
declaração, considerando sempre a ultima data.

Em se tratando de lançamento de diferença apurada, qual seria o termo a quo para


constituir o crédito tributário? Fundamente.

Agora se declarou e pagou menos que devido  como o fisco terá que lançar o prazo é
decadencial, e a contagem segue a regra especial (Art. 150, §4º, CTN), ou seja, da ocorrência
do FG vejamos:

Kleber Luciano Ancioto Página 65


DIREITO TRIBUTÁRIO II

FG Jan/2003  Jan/2004 (1 ano)  Jan/2005 (2 anos)  Jan/2006 (3 anos)  Jan/2007 (4


anos)  Jan/2008 (5 anos)  ou seja, o direito do Fisco lançar o FG ocorrido em Jan/2003
decaiu em Jan/2008, como ele lançou em Nov/2010 o lançamento foi ilegal. Se Jan/2003
decaiu em Jan/2008, Dez/2003 decaiu em Dez/2008, assim todo o exercício de 2003 houve
decadência.

FG Jan/2004  Jan/2005 (1 ano)  Jan/2006 (2 anos)  Jan/2007 (3 anos)  Jan/2008 (4


anos)  Jan/2009 (5 anos)  ou seja, o direito do Fisco lançar o FG ocorrido em Jan/2004
decaiu em Jan/2009, como ele lançou em Nov/2010 o lançamento foi ilegal. Se Jan/2004
decaiu em Jan/2009, Dez/2004 decaiu em Dez/2009, assim todo o exercício de 2004 houve
decadência.

FG Jan/2005  Jan/2006 (1 ano)  Jan/2007 (2 anos)  Jan/2008 (3 anos)  Jan/2009 (4


anos)  Jan/2010 (5 anos)  ou seja, o direito do Fisco lançar o FG ocorrido em Jan/2005
decaiu em Jan/2010, como ele lançou em Nov/2010 o lançamento foi ilegal.

FG Nov/2005  Nov/2006 (1 ano)  Nov/2007 (2 anos)  Nov/2008 (3 anos)  Nov/2009 (4


anos)  Nov/2010 (5 anos)  ou seja, o direito do Fisco lançar o FG ocorrido em Nov/2005
decaiu em Nov/2010, como ele lançou em Nov/2010 o lançamento foi poderá ter sido ilegal a
depender do dia do FG e do Lançamento.

Então, os FG ocorridos até Out/2005 houve decadência, os de Nov/2006 dependerá do


dia, já os FG ocorridos a partir de Dez/2005 não houve decadência. Insta salientar que a
Medida Preparatória só aplicaremos na Regra Geral e se for para antecipar a contagem e
nunca para interrompe-lo.

18/10/2017

 Prescrição Tributária

Alguém se obriga a uma prestação que pode ser dar ou entregar, fazer ou não fazer e
se não houver cumprimento ocorrerá uma lesão ao direito do credor. Por isso, já no Direito
Romano se dizia que para toda lesão surge o Direito de Ação, para exigir o cumprimento da
obrigação, por essa razão trata-se de uma pretensão.

A prescrição atinge a pretensão e não o direito propriamente dito.

Prescrição: Causa de extinção do Crédito Tributário, perda da pretensão em virtude da


inércia do seu titular no prazo fixado em Lei, que reflete na impossibilidade de ajuizamento da
Execução Fiscal.

Em que pese argumentos contrários, aquele que paga Crédito Tributário prescrito faz
jus à sua repetição, bem como consumada, sujeito passivo poderá pleitear a CND – Certidão
Negativa de Débito.

Somente ocorre após o lançamento.


Kleber Luciano Ancioto Página 66
DIREITO TRIBUTÁRIO II

A pretensão esta descrita no Art. 174 do CTN, no entanto, a prescrição em Direito


Tributário não atinge apenas a pretensão, mas também o direito, por conta do previsto no Art.
156, IV, do CTN – que elenca a expressão “extingue o crédito tributário” – que só passa a
existir após o lançamento.

Art. 174, CTN - A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve


em cinco anos, contados da data da sua constituição definitiva.

Art. 156, CTN - Extinguem o crédito tributário: [...] V – a prescrição e a


decadência; [...]

Por essa razão no Direito Civil, quem paga uma dívida prescrita ela é extinta
naturalmente, pois a prescrição extingue a pretensão e não o direito, já em Direito Tributário,
como ela extingue o próprio direito quem paga um Tributo prescrito, pode requerer a
repetição do indébito.

Obs.: Entre o lançamento e o prazo para interposição de impugnação não corre prazo
prescricional e, em havendo reclamação ou defesa administrativa, até a última decisão
administrativa da qual não couber mais recurso.

Temos que analisar a prescrição juntamente com Art. 151 do CTN, pois como a
prescrição tem caráter de sanção pelo não exercício do direito, quando estivermos diante de
alguma das hipóteses previstas no referido artigo há o engessamento provisório do Fisco, não
podendo tomar qualquer medida para o recebimento do crédito – assim, se ele não pode
exigir o direito por imposição legal, não é certo correr a prescrição que é uma punição pela
inércia do exercício do direito.

Assim, enquanto estiver presente qualquer uma das hipóteses do Art. 151 do CTN
também não correrá a própria prescrição, sendo que, em algumas situações o prazo poderá
ser suspenso e em outras ele sequer inicia (impedimento).

Somente a partir da data em que o contribuinte é notificado do resultado do recurso


ou da sua revisão é que tem início a contagem do prazo prescricional.

Termo de início da contagem do prazo: Art. 174 do CTN – “constituição definitiva do


crédito tributário. Entende-se por definitiva quando não for mais possível a alteração do
lançamento (em sede administrava). “Eficácia que torna indiscutível o crédito tributário”.

a) A contar do decurso do prazo de impugnação do lançamento, in albis;

Somente há definitividade quando passa a data estabelecida para o vencimento e/ou


apresentação de impugnação do lançamento e o sujeito passivo não pagar ou impugnar.
Assim, tecnicamente, se foi fixado 30 dias para o pagamento e/ou impugnação, a prescrição
passa a contar a partir do 31º dia, quando o Tributo passa a ser exigível.

b) Da notificação da decisão administrativa final;

Kleber Luciano Ancioto Página 67


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Aqui se refere aos casos em que o sujeito passivo realizou a impugnação – houve
suspensão da exigibilidade do Crédito Tributário – e o prazo então só volta a correr quando
houver decisão administrativa irrecorrível.

c) Em caso de lançamento por homologação, declarado e não pago, conta-se da data


do vencimento do tributo. Obs. Súmula 436 do STJ.

Súmula 436, STJ - Recurso especial repetitivo. Recurso especial


representativo da controvérsia. Tributário. Crédito tributário. Entrega
de declaração pelo contribuinte reconhecendo débito fiscal.
Desnecessidade de qualquer outra providência por parte do fisco.
Recurso especial repetitivo. CPC, art. 543-C. CTN, art. 150. Lei
9.779/99, art. 16.

No entanto, os Tributos em que se recolhe primeiro e depois se realiza a declaração é


utilizada a data de declaração para computo do prazo prescricional.

Em suma, nos casos de lançamento por homologação iniciaremos a


contagem do prazo do vencimento ou da declaração, sendo sempre
considerado o último.

Observação:

Súmula 106 do STJ: Proposta a ação no prazo fixado para o seu


exercício, a demora na citação, por motivos inerentes ao mecanismo
da Justiça, não justifica o acolhimento da arguição da prescrição ou
decadência.

Se olharmos o Parágrafo único do Art. 174 do CTN, ele elenca as hipóteses de


interrupção do prazo prescricional, o inciso I, elenca como causa de interrupção o despacho do
Juiz que determina a citação – antes, no entanto, interrompia-se o prazo apenas com a citação
efetiva do executado, assim, ao perceber que o executado muitas vezes se esquivada da
citação visando a ocorrência da prescrição houve a alteração legislativa pela Lei
Complementar 118/2005 – a súmula acima, no entanto, foi editada quando o prazo
interrompia-se apenas pela citação efetiva.

Causas de interrupção do prazo prescricional (Art. 174, Parágrafo único, inciso I a


IV do CTN):

Art. 174, Parágrafo único, CTN – A prescrição se interrompe: I –


pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal; II -
pelo protesto judicial; III - por qualquer ato judicial que constitua em
mora o devedor; IV - por qualquer ato inequívoco ainda que
extrajudicial, que importe em reconhecimento do débito pelo devedor.

Inciso I - pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal;

Kleber Luciano Ancioto Página 68


DIREITO TRIBUTÁRIO II

A Prescrição está ligada ao exercício do Direito de Ação por parte do Fisco. Então, a
primeira e principal causa de interrupção da prescrição é o despacho do Juiz que ordenar a
citação do devedor na execução fiscal.

No entanto, como essa redação foi dada pela Lei Complementar 118/05 que entrou
em vigor em 09/06/2005, para os processos ajuizados até 08/06/2005, ainda vale a regra
antiga de que ela somente se interromperia pela citação válida, já os processos ajuizados a
partir de 09/06/2005 a regra aplicada será a de que a interrupção se dá com o despacho do
juiz para citação do executado.

Não é o ajuizamento da Ação de Execução Fiscal que interrompe a prescrição, mas a


data do despacho do juiz que ordenar a citação do devedor na execução fiscal.

Esse dispositivo deve ser interpretado em conjunto com o Art. 240, § 1º do Código de
Processo Civil, de sorte que a interrupção da prescrição deve retroagir à data da propositura
da Ação.

O §1º do Art. 240 do CPC disciplina que a interrupção da prescrição retroagirá à data
de propositura da ação, salvo se houver culpa do próprio Autor na ausência de citação do Réu,
conforme prevê o §2º do mesmo artigo.

Art. 240, § 1º, CPC - A interrupção da prescrição, operada pelo


despacho que ordena a citação, ainda que proferido por juízo
incompetente, retroagirá à data de propositura da ação. [...] § 3º A
parte não será prejudicada pela demora imputável exclusivamente ao
serviço judiciário.

Então, por exemplo, se a prescrição ocorreria no dia 2 de janeiro, o Ente propõe a Ação
de Execução Fiscal no dia 1º de janeiro, mas o juiz somente profere despacho no dia 5 de
janeiro, logo, não haveria consumação da prescrição ainda.

Inciso II - pelo protesto judicial

A prescrição é interrompida pelo protesto judicial. No Código Processo Civil, esta


prevista no Art. 726, vejamos:

Art. 726, CPC – Quem tiver interesse em manifestar formalmente sua


vontade a outrem sobre assunto juridicamente relevante poderá
notificar pessoas participantes da mesma relação jurídica para dar-lhes
ciência de seu propósito. § 1º Se a pretensão for a de dar
conhecimento geral ao público, mediante edital, o juiz só a deferirá se
a tiver por fundada e necessária ao resguardo de direito. [...]

A Lei de Registros Públicos normatiza que o prazo prescricional também se interrompe


pelo protesto extrajudicial, mas como o Art. 146, III, “b” da CF exige Lei Complementar para
regular normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre prescrição, a

Kleber Luciano Ancioto Página 69


DIREITO TRIBUTÁRIO II

previsão da Lei de Registros Públicos, por tratar-se de uma Lei Ordinária não se aplica aos
Créditos Tributários.

Art. 146, CF - Cabe à lei complementar: [...] III - estabelecer normas


gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre: [...] b)
obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários;
[...]

Inciso III - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor

Podemos mencionar a citação, ou despacho que ordenar a citação, do devedor em


outra espécie de ação diferente da Ação de Execução Fiscal como ato judicial que constitui em
mora o devedor.

Existe a possibilidade do Fisco promover, em situações excepcionais, uma Medida


Cautelar Fiscal (Lei 8.397/92). Neste sentido, à citação do devedor, nesta Ação, será também
causa de interrupção da prescrição. Vejamos as hipóteses:

Art. 2º, Lei 8.397/92 – A medida cautelar fiscal poderá ser requerida
contra o sujeito passivo de crédito tributário ou não tributário, quando
o devedor: I - sem domicílio certo, intenta ausentar-se ou alienar bens
que possui ou deixa de pagar a obrigação no prazo fixado; II - tendo
domicílio certo, ausenta-se ou tenta se ausentar, visando a elidir o
adimplemento da obrigação; III - caindo em insolvência, aliena ou
tenta alienar bens; IV - contrai ou tenta contrair dívidas que
comprometam a liquidez do seu patrimônio; V - notificado pela
Fazenda Pública para que proceda ao recolhimento do crédito fiscal: a)
deixa de pagá-lo no prazo legal, salvo se suspensa sua exigibilidade; b)
põe ou tenta por seus bens em nome de terceiros; VI - possui débitos,
inscritos ou não em Dívida Ativa, que somados ultrapassem trinta por
cento do seu patrimônio conhecido; VII - aliena bens ou direitos sem
proceder à devida comunicação ao órgão da Fazenda Pública
competente, quando exigível em virtude de lei; VIII - tem sua inscrição
no cadastro de contribuintes declarada inapta, pelo órgão fazendário;
IX - pratica outros atos que dificultem ou impeçam a satisfação do
crédito.

Inciso IV - por qualquer ato inequívoco ainda que extrajudicial, que importe em
reconhecimento do débito pelo devedor.

O exemplo mais comum é o parcelamento. O parcelamento é formalizado por meio de


um documento, sendo praxe que o termo de acordo de parcelamento tenha uma cláusula de
confissão de dívida. Esse reconhecimento de dívida será causa de interrupção da prescrição.

Então o parcelamento além de interromper o prazo prescricional ele também impede


a contagem do prazo, por tratar-se de uma das hipóteses de suspensão da exigibilidade

Kleber Luciano Ancioto Página 70


DIREITO TRIBUTÁRIO II

previstas no Art. 151 do CTN, voltando a contagem somente se ocorrer a rescisão do


parcelamento.

Obs. Suspensão prevista no Art. 2º, §3º da Lei 6.830/80 (Lei de Execução Fiscal).

Art. 2º, §3º, Lei 6.830/80 - A inscrição, que se constitui no ato de


controle administrativo da legalidade, será feita pelo órgão
competente para apurar a liquidez e certeza do crédito e suspenderá a
prescrição, para todos os efeitos de direito, por 180 dias, ou até a
distribuição da execução fiscal, se esta ocorrer antes de findo aquele
prazo.

O Fisco, as vezes, ajuíza a Execução Fiscal referente a um período que já esta prescrito
e alega que houve a suspensão do prazo por 180 dias, conforme prevê o dispositivo acima.

Em outras palavras, uma vez decorrido o prazo para o pagamento ou para a


impugnação, o próximo passo é a inscrição em divida ativa, o artigo acima disciplina que da
inscrição da divida ativa, há suspensão do prazo por 180 dias ou até a data do ajuizamento se
realizada antes desse prazo – no entanto, para regular o prazo prescricional é necessário Lei
Complementar e a Lei de Execução Fiscal trata-se de uma Lei Ordinária, assim esse §3º do Art.
2º da LEF não foi recepcionado pela Constituição no que diz respeito aos Créditos Tributários.

Já para créditos não tributários não há exigência de Lei Complementar, assim ele ainda
é aplicável – Ex. Multa por vender bebidas a menores de 18 anos – geralmente quando há
condenação ao pagamento de multa o Ministério Público pede para ser revertido ao Fundo
Social Municipal de Proteção da Criança e Adolescente – neste caso o valor é encaminhado
para o Município que o inscreve em Divida Ativa e cobra – neste caso, como não se trata de
Credito Tributário, pode-se aplicar a regra de suspensão do prazo por 180 dias.

o Prescrição Intercorrente

Atualmente, existe uma situação que pode levar à prescrição intercorrente da


obrigação. Entretanto, é preciso destacar que o tempo, a demora na solução do processo de
execução não é causa de prescrição.

A interrupção da prescrição, que se dá com o despacho do juiz que ordena a citação,


não produz o efeito de abrir, imediatamente, um novo prazo de prescrição. Sendo assim, o
Fisco não precisa “correr” para tentar terminar o processo o mais rápido possível.

A Execução Fiscal, que se caracteriza como uma execução frustrada, é que pode levar à
extinção por prescrição intercorrente da obrigação tributária.

Súmula 314 do STJ: Em execução fiscal, não localizados bens


penhoráveis, suspende-se o processo por um ano, findo o qual inicia-se
o prazo de prescrição quinquenal intercorrente.

Kleber Luciano Ancioto Página 71


DIREITO TRIBUTÁRIO II

O Art. 40 da Lei 6.830/80 traz as hipóteses de configuração de inefetividade da


execução fiscal.

Art. 40, Lei 6.830/80 - O Juiz suspenderá o curso da execução,


enquanto não for localizado o devedor ou encontrados bens sobre os
quais possa recair a penhora, e, nesses casos, não correrá o prazo de
prescrição.

Quando não localizado o devedor, ou quando não localizados bens necessários, a


execução fiscal pode ser suspensa, nos termos do Art. 40 da Lei 6.830/80, caracterizando-se
como frustrada.

Não há tempo definido para se descobrir se uma execução é ou não frustrada. Em


outras palavras, é possível que o Estado litigue por 10 anos para somente depois descobrir que
está presente qualquer das causas do Art. 40 da Lei 6.830/80.

Acontece que verificadas as situações do Art. 40 da Lei 6.830/80, a execução assume


a condição de frustrada, devendo o Juiz decretar a suspensão da execução fiscal por 1 (um)
ano.

Art. 40, §1º, Lei 6.830/80 - Suspenso o curso da execução, será


aberta vista dos autos ao representante judicial da Fazenda Pública.

Uma vez suspenso o curso da execução o Juiz intimará a Fazenda, que normalmente
não toma qualquer atitude, permanecendo inerte  insta salientar que esse prazo se presta
justamente para que a Fazenda tente localizar bens, no entanto, ela normalmente o utiliza
como uma folga.

Decorrido 1 (um) ano sem que se tenha localizado o devedor, ou sem que se tenham
sido localizados bens suficientes para garantir a execução, abre-se vista para o representante
da Fazenda Exequente e se comprovada a condição de execução frustrada, o Juiz determina o
arquivamento provisório dos autos.

Art. 40, § 2º, Lei 6.830/80 - Decorrido o prazo máximo de 1 (um)


ano, sem que seja localizado o devedor ou encontrados bens
penhoráveis, o Juiz ordenará o arquivamento dos autos.

Veja que embora o Juiz determine o arquivamento dos autos, não se tem a extinção da
execução fiscal. Em termos práticos, está a se dizer que não há baixa no distribuidor.

Em 2004, foi criado o §4º do Art. 40 da Lei 6.830/80, que disciplina uma causa
formal de abertura de prazo prescricional intercorrente da execução fiscal.

Art. 40, § 4º, Lei 6.830/80 - Se da decisão que ordenar o


arquivamento tiver decorrido o prazo prescricional, o juiz, depois de
ouvida a Fazenda Pública, poderá, de ofício, reconhecer a prescrição
intercorrente e decretá-la de imediato.

Kleber Luciano Ancioto Página 72


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Assim, a causa que abre o prazo prescricional é o despacho que ordena o


arquivamento. Desta sorte, não havendo tal despacho, não começa a correr o prazo da
prescrição intercorrente.

19/10/2017

EXCLUSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO

Abrange a isenção e a anistia, que impedem a feitura do lançamento, logo, não haverá
crédito tributário.

Isenção – leva-se em consideração as circunstâncias socioeconômicas da realidade


social.

Anistia – retira a impontualidade do inadimplente da obrigação tributária.

Obs. Art. 175, Parágrafo único, do CTN – mesmo com a exclusão do crédito
tributário, não se dispensa o cumprimento das obrigações acessórias. Ex. Isenção de ICMS, não
dispensa a emissão da Nota Fiscal.

Art. 175, Parágrafo único, CTN – A exclusão do crédito tributário


não dispensa o cumprimento das obrigações acessórias dependentes
da obrigação principal cujo crédito seja excluído, ou dela
consequente,

 Isenção

Concepção Tradicional: dispensa legal de pagamento de Tributo devido, logo, haveria


incidência da norma e o legislador optou por dispensar o pagamento.

Concepção Moderna: (Alfredo A. Becker, José Souto Maior Borges) hipótese de não
incidência da norma tributária. Sacha Calmon Coelho – norma de tributação não incide por
faltar-lhe tipicidade.

Partindo-se dessa concepção, há suspensão da norma de incidência da norma jurídica


de tributação, assim, a isenção excluiria a própria obrigação tributária, impedindo o
surgimento do fato gerador.

 Anistia

Inserida no campo das infrações tributárias, consiste no perdão por meio dos efeitos
de sua lei de incidência.

Celso Ribeiro Bastos – perdão da falta cometida pelo contribuinte, bem como da
penalidade a ele imposta.

Perdão legal das penalidades pecuniárias, antes do lançamento da multa.

Kleber Luciano Ancioto Página 73


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Paulo de Barros Carvalho – perdão pelo ilícito e perdão da multa.

Impede que surja o crédito tributário relativo à multa exigível.

Abrange apenas as infrações cometidas antes da vigência da Lei que a concede – efeito
retrospectivo.

Nos casos de ocorrência do lançamento somente poderá ser alcançada pela remissão.

Não alcança os atos qualificados como crime, contravenção, dolo, fraude ou simulação
(Art. 180, CTN).

Art. 180, CTN - A anistia abrange exclusivamente as infrações


cometidas anteriormente à vigência da lei que a concede, não se
aplicando: I - aos atos qualificados em lei como crimes ou
contravenções e aos que, mesmo sem essa qualificação, sejam
praticados com dolo, fraude ou simulação pelo sujeito passivo ou por
terceiro em benefício daquele; II - salvo disposição em contrário, às
infrações resultantes de conluio entre duas ou mais pessoas naturais
ou jurídicas.

GARANTIAS E PRIVILÉGIOS DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO

Garantias – Tratam-se de mecanismos (instrumentos que garantem o recebimento)


que a Lei disponibiliza ao Fisco para o recebimento do Crédito Tributário.

Privilégios – o Crédito Tributário tem um grau mais elevado quando comparado a


outros créditos.

 Garantias

Art. 183, CTN – A enumeração das garantias atribuídas neste Capítulo


ao crédito tributário não exclui outras que sejam expressamente
previstas em lei, em função da natureza ou das características do
tributo a que se refiram.

Pode outra Lei dispor outras garantias, no entanto, há necessidade se ser Lei
Complementar, conforme dispõe o Art. 146, III, “b”, CF.

O Art. 184 do CTN elenca a primeira garantia, ou seja, o primeiro instrumento que visa
garantir o recebimento do Crédito Tributário, vejamos:

Art. 184, CTN – Sem prejuízo dos privilégios especiais sobre


determinados bens, que sejam previstos em lei, responde pelo
pagamento do crédito tributário a totalidade dos bens e das rendas, de
qualquer origem ou natureza, do sujeito passivo, seu espólio ou sua
massa falida, inclusive os gravados por ônus real ou cláusula de
inalienabilidade ou impenhorabilidade, seja qual for a data da

Kleber Luciano Ancioto Página 74


DIREITO TRIBUTÁRIO II

constituição do ônus ou da cláusula, excetuados unicamente os bens e


rendas que a lei declare absolutamente impenhoráveis.

Então todo o patrimônio do devedor responderá pelo Crédito Tributário, excetuando


os bens e rendas que a Lei considere absolutamente impenhoráveis.

Ocorre que atualmente o Art. 833 do CPC traz a designação apenas de que “são
impenhoráveis” e faz uma descrição de bens, enquanto seu antecessor no Código de 73 trazia
a expressão “são absolutamente impenhoráveis”, vejamos:

Art. 833, CPC - São impenhoráveis: I - os bens inalienáveis e os


declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução; II - os móveis,
os pertences e as utilidades domésticas que guarnecem a residência do
executado, salvo os de elevado valor ou os que ultrapassem as
necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida; III
- os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado,
salvo se de elevado valor; IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos,
os salários, as remunerações, os proventos de aposentadoria, as
pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas
por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de
sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de
profissional liberal, ressalvado o § 2º; V - os livros, as máquinas, as
ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros bens móveis
necessários ou úteis ao exercício da profissão do executado; VI - o
seguro de vida; VII - os materiais necessários para obras em
andamento, salvo se essas forem penhoradas; VIII - a pequena
propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela
família; IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas
para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social;
X - a quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite de 40
(quarenta) salários-mínimos; XI - os recursos públicos do fundo
partidário recebidos por partido político, nos termos da lei; XII - os
créditos oriundos de alienação de unidades imobiliárias, sob regime de
incorporação imobiliária, vinculados à execução da obra.

Por essa razão, há autores que defendem que mantem-se o mesmo entendimento e os
bens descritos acima continuam sendo absolutamente impenhoráveis e, portanto, inatingíveis
pela Execução Fiscal, mas por outro lado existem aqueles, da qual nos concordamos, que
defendem que há diferença no entendimento do passado para o atual, tanto é que já se
permite a penhora de até 30% da renda do indivíduo ou ainda penhorar valores da poupança
que ultrapassem um determinado limite.

Em resumo, temos que analisar que o Art. 184 do CTN que elenca uma garantia do
Credito Tributário, excetuando apenas aquilo que a Lei define como absolutamente

Kleber Luciano Ancioto Página 75


DIREITO TRIBUTÁRIO II

impenhoráveis – neste sentido, temos que analisar se estes bens no novo CPC são exceções
aplicáveis ao Fisco ou não.

Outro aspecto a ser considerado é que o Art. 184 do CTN normatiza que somente os
bens declarados por Lei como sendo absolutamente impenhoráveis é que excetuam-se a regra.
Sabendo disso, se verificarmos o que dispõe o inciso I do Art. 833 do CPC possibilita que o
individuo declare voluntariamente um imóvel como bem de família, será que esta
impenhorabilidade volitiva seria oponível ao Fisco.

Leandro Paulsen defende que nos termos da Constituição, Art. 146, III, “d” –
compete a Lei Complementar dispor sobre garantia de crédito – assim, como o Código de
Processo Civil trata-se de uma Lei Ordinária – o bem de família volitivo não seria oponível ao
Fisco.

Mas há autores como Virgílio Castelo Branco que defende que na verdade a Lei (CPC)
já normatiza que é impenhorável, então importaria a data da constituição – em outras
palavras, se houver a inscrição em Divida Ativa e após isso o indivíduo institui o bem de família
presume-se a má fé, sendo ineficaz perante aquela execução fiscal, agora se for anterior ao
início da execução, este doutrinador entende que é oponível.

Já o Art. 185 do CTN, traz a segunda garantia, que é a presunção de Fraude Contra a
Fazenda.

Art. 185, CTN - Presume-se fraudulenta a alienação ou oneração de


bens ou rendas, ou seu começo, por sujeito passivo em débito para
com a Fazenda Pública, por crédito tributário regularmente inscrito
como dívida ativa.

Assim, a venda, doação, renúncia a herança, ou oneração de bens ou rendas (instituir


hipoteca, penhor, anticrese), após a inscrição de dívida ativa, presume-se fraudulentas.

*** Em havendo inscrição de divida ativa (inicia a cobrança judicial do


crédito), uma vez notificado se o sujeito passivo começa a alienar ou
impor gravames ao seu patrimônio, o negocio jurídico perante o fisco
não terá efeitos.

Essa presunção é relativa, o próprio Parágrafo único do Art. 185 do CTN permite o
afastamento dessa presunção se o indivíduo tiver mais patrimônio garantindo a dívida.

Art. 185, Parágrafo único, CTN - O disposto neste artigo não se


aplica na hipótese de terem sido reservados, pelo devedor, bens ou
rendas suficientes ao total pagamento da dívida inscrita.

A terceira garantia, encontra-se prevista no Art. 185-A do CTN, qual seja: a Penhora
On Line.

Kleber Luciano Ancioto Página 76


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Art. 185-A, CTN - Na hipótese de o devedor tributário, devidamente


citado, não pagar nem apresentar bens à penhora no prazo legal e não
forem encontrados bens penhoráveis, o juiz determinará a
indisponibilidade de seus bens e direitos, comunicando a decisão,
preferencialmente por meio eletrônico, aos órgãos e entidades que
promovem registros de transferência de bens, especialmente ao
registro público de imóveis e às autoridades supervisoras do mercado
bancário e do mercado de capitais, a fim de que, no âmbito de suas
atribuições, façam cumprir a ordem judicial.

Trata-se de uma medida muito mais grave que as pesquisas no BACENJUD, por essa
razão se trata do último recurso, e há requisitos, para sua imposição:

a) O Sujeito Passivo ser citado;


b) Não pagar e não nomear bens a penhora; e
c) Não ser encontrado bens penhoráveis (o que significa que por enquanto a
execução é frustrada)

É medida última, pois ela é muito mais grave, tendo em vista que ela permanece por
um bom tempo.

 Privilégios ou Preferencias

Art. 186 CTN – O crédito tributário prefere a qualquer outro, seja qual
for sua natureza ou o tempo de sua constituição, ressalvados os
créditos decorrentes da legislação do trabalho ou do acidente de
trabalho.

Então aqui tratamos de uma posição de superioridade que o Crédito Tributário possui
em relação a outros créditos – mas essa regulação é aplicada ao Juízo Comum, pois no Juízo da
Falência, além dos Créditos Trabalhistas (até 150 salários mínimos), os credores de Garantia
Real (até o limite da garantia) e os extraconcursais tem preferência aos Créditos Tributários.

Art. 186, Parágrafo único, CTN - Na falência: I – o crédito tributário


não prefere aos créditos extraconcursais ou às importâncias passíveis
de restituição, nos termos da lei falimentar, nem aos créditos com
garantia real, no limite do valor do bem gravado; II – a lei poderá
estabelecer limites e condições para a preferência dos créditos
decorrentes da legislação do trabalho; e III – a multa tributária prefere
apenas aos créditos subordinados.

No entanto, o Fisco se coloca em uma condição de credor extraconcursal em relação


aos Fatos Geradores ocorridos no curso do processo de falência, como verificamos abaixo:

Art. 188, CTN - São extraconcursais os créditos tributários decorrentes


de fatos geradores ocorridos no curso do processo de falência.

Kleber Luciano Ancioto Página 77


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Por fim o Art. 187 do CTN regulamenta que a cobrança judicial do crédito tributário
não esta sujeito a concurso de credores ou prazos para habilitação na falência, recuperação
judicial, concordata, inventario ou arrolamento, podendo inclusive continuar com os atos
expropriatórios, e após consegui-los submete-los para o Juízo da Falência.

Art. 187, CTN - A cobrança judicial do crédito tributário não é sujeita a


concurso de credores ou habilitação em falência, recuperação judicial,
concordata, inventário ou arrolamento

A única forma de concorrência é a prevista no Parágrafo único do Art. 187 do CTN,


vejamos:

Art. 187, Parágrafo único, CTN - O concurso de preferência somente


se verifica entre pessoas jurídicas de direito público, na seguinte
ordem: I - União; II - Estados, Distrito Federal e Territórios,
conjuntamente e pró rata; III - Municípios, conjuntamente e pró rata.

Isso significa que se alguém deve para a Fazenda Pública Federal, Estadual e Municipal,
quem tem preferencia para recebimento será a União, depois os Estados, e se houver mais de
um Estado será rateado entre eles e somente depois os Munícipios e se houver mais de um
Município o valor será rateado entre eles.

Existem Autores que defendem que este dispositivo não foi recepcionado pela
Constituição, pois ele coloca uma hierarquia entre os entes – mas na verdade ele é aplicado e
tem lógica, pois a União repassa verbas para os Estados e os Estados aos Municípios.

25/10/2017

Exercícios:

1) Em 21/02/2001, a Fazenda do Estado Beta notificou a sociedade empresária FDE a


respeito do início de Ação Fiscal, medida preparatória para realização do
lançamento, com vistas a realizar fiscalização a respeito do ICMS referente aos
exercícios de 1999 a janeiro/2001. Finalizando o procedimento fiscalizatório, a
Fazenda Pública pode perceber que o contribuinte havia declarado o ICMS
referente aos meses de janeiro a agosto de 1999, no entanto, não havia realizado
o respectivo pagamento. Em relação aos exercícios de setembro de 2009 a maio de
2000, o Fisco apurou uma diferença no valor de R$ 89.567,98 e, finalmente, no que
toca aos demais períodos, o fiscal pode verificar que o sujeito passivo não declarou
nem recolheu o tributo. A lavratura do auto de infração deu-se em 25/05/2002.
Notificado, apresentou impugnação, sobrevindo decisão irrecorrível em
04/09/2004, sendo notificado da respectiva decisão na mesma data. Em
05/01/2005 aderiu ao parcelamento dos débitos, entretanto pagou apenas seis
parcelas, tornando-se inadimplente quanto às demais, havendo sua rescisão em

Kleber Luciano Ancioto Página 78


DIREITO TRIBUTÁRIO II

05/12/2005. Examine as questões envolvidas e responda aos itens a seguir,


utilizando argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente
ao caso. Analise a constituição do crédito tributário pelo Fisco, referindo se
ocorreu de forma regular ou não, bem como se adveio dentro do prazo legal e o
prazo para ajuizamento da demanda executiva.

Medida Preparatória  21/02/01  Termo de início do prazo decadencial para fins de


adiantar o prazo (Art. 173, Parágrafo único, CTN);

Fato Gerador  De 1999 a Jan/01.

De Jan/99 a Ago/99  Tributo Declarado e Não Pago

De Set/99 a Maio/00  Diferença Apurada

De Junho/00 a Jan/01  Tributo Não Declarado e Não Pago

Lavratura do Auto de Infração  Trata-se do Lançamento  25/05/02

Notificado apresentou impugnação  Decisão Administrativa Irrecorrível 


04/09/2004

Parcelamento  05/01/2005  que foi rescindido em 05/12/2005

Período de Jan/99 a Ago/99  O Tributo declarado e não pago, conta-se Prazo


Prescricional (Súmula 436 do STF + Art. 174, CTN) – isso porque como houve declaração, há
formalização do crédito, assim temos prazo prescricional de cinco anos, contados do
vencimento do Tributo ou da declaração, considerando sempre a ultima data.

Período de Set/99 a Maio/00  Declarou e pagou menos que devido  como o fisco
terá que lançar o prazo é decadencial, e a contagem segue a regra especial (Art. 150, §4º,
CTN), ou seja, da ocorrência do FG vejamos:

FG Set/1999  Set/2000 (1 ano)  Set/2001 (2 anos)  Set/2002 (3 anos)  Set/2003 (4


anos)  Set/2004 (5 anos)  ou seja, o direito do Fisco lançar o FG ocorrido em Set/1999
decairia em Set/2004, como ele lançou em 25/05/2002 o lançamento foi legal. Assim, se o
período mais antigo não decaiu, obviamente os mais recentes também não descaíram.

Jun/00 a Jan/01  Já no caso do Tributo Não Declarado e Não Pago, como houve
omissão total aplica-se a regra geral (Art. 173, I, CTN) para contagem do prazo decadencial
para o Lançamento de Ofício Não Originário.

FG Exercício de 2000  Inicia a contagem do prazo decadencial em 1º de Janeiro de 2001 


1º de Janeiro de 2002 (1 ano)  1º de Janeiro de 2003 (2 anos)  1º de Janeiro de 2004 (3
anos)  1º de Janeiro de 2005 (4 anos)  1º de Janeiro de 2006 (5 anos)  ou seja, o direito
do Fisco lançar decairia apenas em 1º de Janeiro de 2006, assim como ele lançou em
25/05/2002 não houve decadência, assim, se não houve decadência do período mais antigo,

Kleber Luciano Ancioto Página 79


DIREITO TRIBUTÁRIO II

também não haverá dos mais novos (insta salientar que o Fisco poderia lançar até
31/12/2005).

Em relação ao exercício de 2001, nós teremos que antecipar o início da contagem para
o início da Medida Preparatória (21/02/2001) conforme prevê o Art. 173, Parágrafo único
do CTN  isto porque a decadência é a punição pela inercia no exercício de um direito, se ele
já iniciou o exercício, não há que se falar em inércia, por isso antecipamos para a data da
Medida Preparatória.

Até quando pode haver o ajuizamento?

Quando falamos em data do ajuizamento, nos referimos a prazo prescricional. O Art.


174 do CTN, determina que a contagem do prazo inicia da constituição definitiva do crédito.
No nosso exemplo o termo inicial será da decisão administrativa irrecorrível (04/09/2004).

Só que ele realizou o parcelamento em (05/01/05) interrompe o prazo e o suspende


(Art. 174, Paragrafo único, IV e Art. 151, VI, CTN), só voltando a contar quando há rescisão
do parcelamento (05/12/05)  assim 5 anos desta data a prescrição se dará em 05/12/2010.

2) Iluminar S/A empresa de energia elétrica, sediada em Manaus/AM venceu, por


meio de procedimento licitatório, a concessão para a distribuição de energia
elétrica para abastecer todos os Municípios do Estado manauara durante 4 anos. O
contrato encerrou-se no mês passado e a empresa não conseguiu vencer a nova
licitação. Durante o contrato de concessão de serviço público, a empresa efetuou o
recolhimento do ISS sobre os serviços prestados. Após a realização de uma
auditoria, foi elaborado um parecer no qual se concluiu que a Empresa não deveria
realizar os recolhimentos relativos ao ISS. Diante dessa afirmação e, tendo em vista
que perdeu a licitação, a empresa o procura para que seja proposta medida
judicial. Emita seu parecer.

Repetição do Indébito (Art. 165 e 168 do CTN), no prazo de 5 anos. Tributo pago
indevidamente trata-se de Tributo ilegal, portanto cabe Repetição do Indébito.

3) Determinado contribuinte recebeu, via correio, citação de execução fiscal ajuizada


em fevereiro de 2004, referente à cobrança de IPTU relativo ao exercício de 2001.
Analisando a questão, verifica-se que entre o período de março de 2003 a outubro
de 2004 o débito estava suspenso decorrente de liminar em Mandado de
Segurança que, ao final, teve decisão transitada em julgada cassando a liminar e
denegando a segurança. Pergunta-se: como advogado (a) de tal contribuinte qual a
tese defensiva?

A Ação foi distribuída em fevereiro de 2004, período em que havia suspensão de


março de 2003 a outubro de 2004  E conforme prevê o Art. 151, IV, CTN, como há
suspensão da exigibilidade o Fisco não pode cobrar (pois o Título não é exigível)  Assim há
que se alegar nulidade, através de uma Exceção de Pre-Executividade.

Kleber Luciano Ancioto Página 80


DIREITO TRIBUTÁRIO II

26/10/2017

4) Em 18/09/1998, a Fazenda do Município de Tão Tão Distante notificou a empresa


ABC a respeito do início de Ação Fiscal, medida preparatória para realização do
lançamento, com vistas a realizar fiscalização a respeito do ISS referente aos
serviços prestados em 15/05/1998. Notificada a empresa, esta impetrou Mandado
de Segurança Preventivo, com pedido liminar, alegando a ilegalidade da exação. A
liminar foi deferida pela autoridade judicante, a fim de determinar a suspensão da
exigibilidade do crédito tributário, nos moldes do artigo 151, inciso IV do CTN,
sendo que e a Fazenda foi cientificada em 31/12/1998, mesma data da decisão
que deferiu. Em 14/03/1999, sobreveio sentença judicial denegando a ordem,
tendo em vista a legalidade da exigência tributária. No dia 13/03/2004, o agente
fiscal procedeu ao lançamento, notificando o sujeito passivo na mesma data,
sendo advertido do prazo de 15 dias para oferecimento de defesa, mas quedou-se
inerte.
Examine as questões envolvidas e responda aos itens a seguir, utilizando
argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso.

Medida Preparatória  18/09/98  Termo de início do prazo decadencial para fins de


adiantar o prazo (Art. 173, Parágrafo único, CTN);

Fato Gerador  15/05/1998.

Suspensão da Exigibilidade do Crédito  31/12/1998 (Art. 151, IV, CTN)

Decisão Judicial Denegando a Ordem  14/03/1999

Lançamento  13/03/2004

Prazo de 15 dias para apresentar impugnação  Quedou-se Inerte

A) Analise a constituição do crédito tributário pelo Fisco, referindo se ocorreu de


forma regular ou não, bem como se adveio dentro do prazo legal.

Como se trata de Tributo Não Declarado e Não Pago, aplica-se a regra geral (Art. 173,
I, CTN) para contagem do prazo decadencial para o Lançamento, que normalmente ocorreria
em 1º de janeiro do exercício seguinte (1999), no entanto, no caso em tela, como houve
medida preparatória em 18/09/98, adianta-se o início da contagem do prazo decadencial para
esta data (Art. 173, Parágrafo único, CTN).

MP 18/09/98  18/09/99 (1 ano)  18/09/00 (2 anos)  18/09/01 (3 anos)  18/09/02 (4


anos)  18/09/03 (5 anos)  para termos de decadência não levamos em consideração a
suspensão da exigibilidade do credito pois a tendência é de que ele não impede o lançamento,
assim, como o lançamento foi realizado em 13/03/2004 trata-se de um lançamento ilegal.

B) Houve, na hipótese, interrupção ou suspensão do prazo de cobrança do


crédito fiscal?

Kleber Luciano Ancioto Página 81


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Não, pois o Crédito Fiscal somente passa a ser exigível a partir da constituição
definitiva (Art. 174, CTN), que neste caso se deu após passado in albis o período de 15 dias
para o Sujeito Passivo impugnar o Crédito.

C) Na hipótese do lançamento ter ocorrido de maneira regular, qual a data limite


para a propositura da execução fiscal?

Lançamento 13/03/2004  15 dias para impugnar  29/03/04  29/03/05 (1 ano) 


29/03/06 (2 anos)  29/03/07 (3 anos)  29/03/08 (4 anos)  29/03/09 (5 anos)  nesta
data a pretensão do Fisco em propor a Execução Fiscal estaria prescrita, assim ele teria até
27/03/09 para propor a Execução (Art. 174, CTN)

5) Considere que a autoridade fazendária tenha constatado, em junho de 2005


(equivale ao lançamento), que fiscais efetuaram, entre julho de 1998 e maio de
1999, lançamento de ICMS a menor em diversas empresas, em troca de dinheiro, e
que as empresas pagaram ao fisco os tributos exigidos pelos fiscais. Nesse caso, a
autoridade administrativa fiscal poderá de ofício, determinar a revisão de todos os
lançamentos efetuados?

O Art. 145, do CTN, elenca as três hipóteses em que o fisco pode rever o lançamento,
quais sejam: impugnação do sujeito passivo, recurso de ofício ou por iniciativa de ofício da
autoridade administrativa, nos casos previstos no Art. 149 do CTN, e entre as hipóteses
previstas neste dispositivo encontra-se a previsão de quando se comprovar que, no
lançamento anterior, ocorreu fraude ou falta funcional da autoridade que o efetuou, ou
omissão, pela mesma autoridade, de ato ou formalidade especial (inciso IX).

` Assim, conforme dispõe a primeira parte do Art. 150, §4º do CTN, quando o
contribuinte declara e paga valor menor que o devido, como o fisco terá que lançar a
diferença, o prazo será decadencial e segue a regra especial, ou seja, contagem da ocorrência
do Fato Gerador, no entanto, de acordo com a parte final do mesmo dispositivo, tal regra não
se aplica quando houver fraude na operação de lançamento, aplicando-se então a regra geral
prevista no Art. 173, inciso I, do CTN, qual seja: o prazo decadencial para lançamento da
diferença será contado do primeiro dia do exercício seguinte ao do fato gerador.

Assim, a decadência se deu em 01/01/04 quanto aos fatos geradores ocorridos no ano
de 1998 e em 01/01/05 quanto aos fatos geradores do ano de 1999, o que significa que a
autoridade não poderia ter lançado de ofício (não originário), tendo em vista que tomou
conhecimento da fraude apenas em junho de 2005.

6) Em 15 de julho de 2004, o sujeito passivo de IPTU realizou parcelamento


administrativo em relação aos débitos desse tributo referentes aos anos de 2000 a
2003, mediante 13 parcelas mensais e consecutivas, sendo a primeira com
vencimento em 16/08/2004 e a última para 16/09/2005. No entanto, o devedor
pagou apenas as três primeiras parcelas e em novembro de 2004 foi notificado da
rescisão do acordo. Considerando que a execução fiscal foi proposta em 2009, com

Kleber Luciano Ancioto Página 82


DIREITO TRIBUTÁRIO II

despacho que determina a citação em 03/08/2009, aponte se houve ou não


extinção do crédito tributário. Fundamente.

Fato Gerador  Anos de 2000 a 2003

Parcelamento Administrativo  15/07/2004 (causa de interrupção e suspenção da


exigibilidade do crédito)  Art. 174, Parágrafo único, IV, c.c 151, VI do CTN.

Rescisão: Nov/04

Execução Fiscal proposta em 2009  Despacho que determina a citação em


03/08/2009.

O parcelamento interrompe e suspende o curso do prazo prescricional, conforme


disciplina os artigos abaixo:

Art. 174, Parágrafo único, CTN - A prescrição se interrompe: [...] IV -


por qualquer ato inequívoco ainda que extrajudicial, que importe em
reconhecimento do débito pelo devedor.

Art. 151, CTN - Suspendem a exigibilidade do crédito tributário: [...] VI


– o parcelamento.

A contagem somente retorna se ocorrer a rescisão do parcelamento, que no caso se


deu em Nov/2004, assim a Ação de Execução prescreveria em Nov/2009, como a Ação foi
proposta em 2009 com despacho de citação 03/08/2009, não se verificou a prescrição, tendo
em vista que ele interrompe o prazo prescricional e retroage a data de propositura da ação.

*** Pode haver duas causas de interrupção da prescrição quando uma


for administrativa e outra for judicial.

01/11/2017

Em 15/08/2008 a empresa “ASSEM TOS” realizou a venda de 300 cadeiras executivas,


sendo que não declarou tal operação à Fazenda Estadual e, tampouco promoveu o
recolhimento do ICMS sobre a referida operação. Em 23/10/2009 teve início fiscalização
tributária estadual na empresa, sendo que em 25/03/2010 foi lavrado o auto de infração,
promovendo o lançamento sobre a mencionada operação. Em análise à legislação tributária,
constata-se que a alíquota de ICMS incidente sobre tais operações sofreu variações, sendo de
12% para o ano de 2008; 17% para o ano de 2009 e 7% para o ano de 2010. Da mesma forma,
em 2008 vigia uma Lei que determinava um processo de investigação das autoridades
administrativas que posteriormente após o início da fiscalização, mas antes da lavratura do
auto de infração, através de um decreto (ato infra-legal) tornou o processo de investigação
mais rigoroso.

Kleber Luciano Ancioto Página 83


DIREITO TRIBUTÁRIO II

Com base em tais informações, a imposição tributária deve se dar com a aplicação de
qual alíquota e qual processo de investigação? Fundamente sua resposta.

Na relação jurídica de direito material, que envolve o tributo propriamente dito e a


multa, aplicaremos o que dispõe o Art. 144 do CTN, ou seja, o lançamento reporta-se à data da
ocorrência do fato gerador da obrigação e rege-se pela lei então vigente, assim no caso em
tela aplicaremos a alíquota de 12%.

Quanto ao processo de investigação, primeiro temos que chamar atenção que o §2º do
Art. 113 do CTN, expressamente normatiza que “a obrigação acessória decorre da legislação
tributária”, legislação tributária é definida pelo Art. 96 do mesmo diploma, incluindo dentre
outras coisas a possibilidade dela ser instituída por decreto, ato infra legal. Assim, em que pese
alguns entendimentos contrários de que tal dispositivo não teria sido recepcionado pela
Constituição por força do que prevê o inciso II do Art. 5º, que normatiza que ninguém será
obrigado a fazer ou deixar de fazer nada senão em virtude de lei o entendimento majoritário é
de que houve sim sua recepção.

Assim, conforme prevê o §1º do Art. 144 do CTN, em se tratando da relação jurídica de
direito formal, o tempo rege o ato e, portanto, o fisco poderá aplicar o processo de
investigação vigente no momento do lançamento, ainda que mais rigoroso.

analaura.martelli@gmail.com

Kleber Luciano Ancioto Página 84

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