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Capítulo 5 - OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA

OBRIGAÇÃO Conceito de Direito Privado (Direito Civil).


y Relação jurídica
y de caráter transitório
y entre devedor e credor
y objeto é uma prestação pessoal econômica*,
y positiva ou negativa (dar/fazer ou não fazer)
y adimplida através do patrimônio do devedor

Obrigação
Relação jurídico-tributária é obrigacional.
tributária

Elementos Polo ativo (credor):


subjetivos y Ente político ou
(sujeitos) y PJ de direito público com capacidade ativa
(delegada)
Polo passivo (devedor):
y PF ou PJ de direito privado
y PJ de direito público (quando não for imune)

Elemento Prestação
objetivo y positiva
(objeto) dar (obrigação principal)
fazer (obrigação acessória)
y negativa
deixar de fazer (obrigação acessória)
O caráter econômico não é essencial à definição de
obrigação. Não precisa ser avaliável em dinheiro.

Principal vs. No Direito Civil, não há acessório sem principal. Ex:


Acessório Se não há débito, não há juros e multa.
OBRIGAÇÃO Pagamento do tributo ou penalidade pecuniária.
TRIBUTÁRIA No Direito Tributário, o enquadramento da
PRINCIPAL obrigação como principal depende exclusivamente
Art. 113. § 1º A
obrigação princi-
do seu conteúdo pecuniário. Assim, o crédito e
pal surge com a respectivos juros e multa são, todos, obrigações
ocorrência do fato
gerador, tem por principais.
objeto o pagamento
de tributo ou pena- Multa tributária não é tributo, mas a obrigação de
lidade pecuniária e pagá-la tem natureza tributária.
extingue-se junta-
mente com o crédi-
to dela decorrente. O objetivo do legislador foi submeter as multas ao
mesmo regime jurídico (quase), mais vantajoso
para o Fisco.

OBRIGAÇÃO Prestações, positivas (fazer) ou negativas (deixar


TRIBUTÁRIA de fazer), no interesse da arrecadação ou da
ACESSÓRIA fiscalização.
§ 2º A obrigação
acessória decor-
Existem várias obrigações acessórias independentes
re da legislação de uma principal. Ex: Entidades de assistência
tributária e tem
por objeto as pres- social devem escriturar receitas e despesas para que
tações, positivas ou gozem da imunidade a impostos; entes imunes ao
negativas, nela
previstas no interes- IR que recolhem IRRF na condição de responsáveis
se da arrecadação
ou da fiscaliza-
apresentam DIRF; etc.
ção dos tributos.
O descumprimento de obrigação acessória pode
§ 3º A obrigação
acessória, pelo dar origem a obrigação principal (pagar multa).
simples fato da
sua inobservân-
O CTN explica isso de forma pouco técnica. Na
cia, converte-se em prática, o surgimento da penalidade não exime do
obrigação princi-
pal relativamen- cumprimento da obrigação acessória.
te à penalidade
pecuniária. + -
DAR FAZER NÃO FAZER

Principal Acessória
natureza natureza
patrimonial não patrimonial
TEORIA DO FATO GERADOR

FG da CTN art. 114. Fato gerador da obrigação principal


obrigação é a situação definida em lei como necessária e
principal suficiente à sua ocorrência.
Tecnicamente, a situação definida em lei (abstrata)
é o “tipo” ou “hipótese de incidência”. FG é a ocorrência
(concreta), no mundo real.
Hipótese de incidência + Fato gerador = Obrigação

Situação Situação necessária é um requisito. Ex: entrada de


necessária e mercadoria no território nacional
suficiente Situação suficiente restringe a hipótese de incidência.
Ex: a mercadoria que entrou ser estrangeira.

FG da Art. 115. Fato gerador da obrigação acessória é


obrigação qualquer situação que, na forma da legislação
acessória aplicável, impõe a prática ou a abstenção de ato
que não configure obrigação principal.
Ex: A legislação do IR define quem deve entregar
declaração de rendimentos no ano-exercício.

Legalidade Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer


alguma coisa senão em virtude de lei. Mas o poder
regulamentar do chefe do Executivo permite a
criação de obrigações acessórias que possibilitam
o cumprimento das previstas em lei, ainda que
gerem custos ao contribuinte (ex: certificado digital,
escrituração por contador, etc)

Selos do IPI O STJ considerou ilegítima a cobrança pelos selos de


controle de IPI antes da vigência da lei que o instituiu
pois, embora a afixação do selo seja obrigação
acessória, a exação configura taxa de polícia e,
portanto, obrigação principal, sujeita à legalidade.
MOMENTO DO y Situação jurídica: já definida em outros ramos
FATO GERADOR do Direito. Ex: propriedade urbana.
Art. 116. Salvo desde o momento em que o direito aplicável
disposição de lei em
contrário, conside- a considere definitivamente constituída.
ra-se ocorrido o fato
gerador e existentes
salvo disposição em contrário.
os seus efeitos: (...)
y Situação de fato: não definida em outro ramo.
Ex: entrada de mercadoria estrangeira em
território nacional.
desde o momento em que se verifiquem
as circunstâncias materiais necessárias à
produção de seus efeitos próprios
salvo disposição em contrário (ex: legislação
aduaneira considera ocorrido o FG do II na
data do registro da DI de mercadoria sujeita a
despacho para consumo.
O momento do FG determinará a legislação
material aplicável e, se for o caso, a taxa de câmbio.

Negócios Condição é a cláusula que subordina o efeito do


jurídicos negócio a um evento futuro e incerto.
condicionados y Suspensiva: o implemento faz surgir o efeito.
Art. 117. Para os
efeitos do inciso II do
salvo disposição de lei em contrário, reputam-
artigo anterior e se perfeitos e acabados desde o implemento da
salvo disposição de
lei em contrário, os condição suspensiva (CTN art. 117, I).
atos ou negócios ju-
rídicos condicionais y Resolutória: o implemento faz cessar o efeito,
reputam-se perfeitos desmancha o negócio.
e acabados: (...)
salvo disposição de lei em contrário, reputam-
se perfeitos e acabados desde a prática do ato ou
celebração do negócio (CTN art. 117, II). Ou seja, o
implemento é um irrelevante tributário.
ELISÃO, EVASÃO e ELUSÃO TRIBUTÁRIA

São formas de “fugir” da tributação ou de torná-la menos onerosa.

ELISÃO FISCAL Conduta lícita, de planejamento tributário.


Em regra, ocorre antes do FG.
Exemplo de elisão depois do FG: na declaração do IR, o
contribuinte pode escolher um modelo de declaração
que seja mais favorável ao seu caso concreto.

EVASÃO FISCAL Conduta ilícita, podendo configurar crime contra a


ordem tributária. Busca esconder o FG ou torná-lo
menos oneroso.
Em regra, ocorre depois do FG.
Exemplo de evasão antes do FG: contribuinte pode
emitir notas fiscais fraudulentas antes do FG para
esconder sua futura ocorrência ou diminuir seu
montante.

ELUSÃO FISCAL Conduta formalmente lícita, com abuso de forma.


(Elisão ineficaz, Dissimula a ocorrência do FG usando formas legais
Elisão abusiva) atípicas para o resultado almejado.
Pode ser antes ou depois do FG.
Ex: Uso da imunidade ao ITBI nas operações de
integralização e extinção da PJ, dissimulando um
negócio de compra e venda de imóvel.

Norma geral Deveria se chamar antielusão, pois elisão é lícito.


antielisão A autoridade administrativa poderá desconsiderar
fiscal (LC 104) atos ou negócios praticados com a finalidade de
Inseriu o § único
no CTN art. 116
dissimular o FG ou a natureza dos elementos
constitutivos da obrigação (procedimentos em LO).
Legalidade, Parte da doutrina contesta a constitucionalidade
segurança da norma, dada a rigidez da legalidade e da
jurídica VS. segurança jurídica em Direito Tributário.
isonomia e Porém, o combate à elisão abusiva (planejamento
capacidade tributário abusivo) é tendência internacional. O
contributiva abuso de forma deve ser coibido, por ofender a um
sistema criado sob as bases constitucionais da
isonomia e capacidade contributiva.

Teoria da con- Doutrina alemã que defende que os fatos não devem
sideração (con- ser interpretados segundo sua forma jurídica,
sistência) eco- mas a partir dos efeitos econômicos efetivamente
nômica do FG produzidos (interpretação econômica do FG).

Teoria do Doutrina americana que defende a investigação


Business da finalidade pretendida no negócio. Demonstrada
Purpose Test a ausência de finalidade extratributária, deverá
prevalecer a substância sobre a forma.

Regulamenta- A norma demanda regulamentação, em lei de


ção e eficácia cada ente. A União tentou duas vezes, por medida
da norma provisória, mas o CN rejeitou, dada a dificuldade
de identificar o que seja um planejamento abusivo.
Mesmo assim, a norma tem sido aplicada em
todas as esferas, mediante procedimentos já
existentes, como a revisão do lançamento.

SUJEITO ATIVO Art. 119. Sujeito ativo da obrigação é a pessoa


CTN Art. 119 jurídica de direito público, titular da competência
para exigir o seu cumprimento.
y Ente federado titular da competência ou
y PJ de direito público que recebeu por delegação
as funções de arrecadar, fiscalizar e executar
a legislação tributária.
É o agente O STJ entende que a delegação da capacidade
arrecadador tributária ativa modifica o sujeito ativo do tributo.
e fiscalizador

Titular dos A destinação do recurso a entidade específica não


recursos não lhe confere a posição de sujeito ativo. O ingresso, no
necessaria- sujeito ativo, é receita tributária, no destinatário
mente é o dos recursos é transferência.
sujeito passivo Por isso, o STJ decidiu que os serviços sociais
autônomos não podem figurar no polo passivo
de ações judiciais em que se discute a relação
jurídico tributária, pois são meros destinatários de
subvenção econômica.

Sujeito ativo é PJ de direito privado pode ser, apenas, destinatário


sempre PJ de dos recursos, nunca sujeito passivo.
direito público No entanto, o STJ sumulou (antes de a contribuição
sindical perder sua natureza tributária):
STJ Súmula 396: A Confederação Nacional da
Agricultura tem legitimidade ativa para cobrança
da contribuição sindical rural.
Obs.: Considerar apenas se cobrada a literalidade da súmula.

SUJEITO PASSIVO y Da obrigação principal: pessoa obrigada ao


CTN Arts. 121 e 122 pagamento do tributo ou penalidade.
CONTRIBUINTE (de direito): relação pessoal e
2 modalidades ou direta com o fato gerador.

RESPONSÁVEL: não é o contribuinte, tendo


a obrigação imposta por lei. É uma terceira
pessoa vinculada ao fato gerador.
y Da obrigação acessória: pessoa obrigada às
prestações que constituam seu objeto.
Convenções Art. 123. Salvo disposições de lei em contrário, as
particulares convenções particulares, relativas à responsabilidade
pelo pagamento de tributos, não podem ser opostas
à Fazenda Pública, para modificar a definição
legal do sujeito passivo das obrigações tributárias
correspondentes.
Tanto o contribuinte quanto o responsável são
definidos por lei, o que não se altera por acordo entre
particulares, salvo se a lei assim permitir (o que
dificilmente aconteceria na prática).
Dessa forma, se um particular assume, por
contrato, a obrigação de pagar um tributo do
qual ele não é o sujeito passivo, caso não pague, a
cobrança e penalidades não recairá sobre ele, que,
no máximo, poderá sofrer uma ação regressiva, se
o sujeito passivo assim quiser (de direito civil).

SOLIDARIEDADE Quando, na mesma obrigação, há:


Código Civil Art. 264 y ≥1 credor com direito ao crédito todo
Inaplicabilidade
parcial do pa- (solidariedade ativa).
rágrafo único y ≥1 devedor com obrigação pela dívida toda
(solidariedade passiva).
Na obrigação tributária, a solidariedade sempre
resulta de lei, nunca da vontade das partes.

SOLIDARIEDADE A doutrina majoritária considera que a repartição


ATIVA de competências tributárias não deixa espaço à
solidariedade ativa.
Mas, no caso peculiar do Simples Nacional, as
autoridades fiscais federais, estaduais e municipais
têm competência para efetuar o lançamento de
todos os tributos incluídos na sistemática.
SOLIDARIEDADE y DE FATO (NATURAL):
PASSIVA Pessoas com interesse comum no FG da
CTN Art. 124 obrigação principal. Decorre do próprio CTN.
y DE DIREITO (LEGAL)
Pessoas expressamente designadas por lei.
Prevista na lei relativa ao tributo.

Solidariedade Quando todas as pessoas com interesse comum


de fato estão no polo passivo (são sujeitos passivos).
Ex: Se um imóvel tem 3 proprietários, mesmo que
um deles tenha uma quota de 1% do imóvel, o IPTU
poderá ser exigido integralmente de todos.

Solidariedade STJ: Em se tratando de ISS, a solidariedade pressupõe


no pagamento a prestação, por mais de uma pessoa, de um único
do ISS serviço a um único tomador. Por isso, em operação
de arrendamento mercantil, o banco, PJ distinta,
não pode ser considerado responsável solidário
pelo simples fato de fazer parte do mesmo grupo
econômico da arrendadora.

Solidariedade O STJ entende que o fato de os cônjuges optarem pela


dos cônjuges declaração conjunta de IR não configura, por si só,
com declara- interesse comum no FG. A solidariedade, nesse caso,
ção conjunta dependeria de ambos participarem ativamente,
lado a lado, na percepção dos rendimentos.

Sem benefício CTN Art. 124 § único: A solidariedade referida neste


de ordem artigo não comporta benefício de ordem.
Tecnicamente, o instituto da solidariedade não se
coaduna com o benefício de ordem, mas, no art.
134, o CTN trata como responsabilidade solidária o
que deveria ter chamado de subsidiária.
Efeitos da solidariedade (salvo disposição em contrário)

1. O pagamen- Mesmo que um dos devedores quite o valor


to efetuado por proporcional à sua quota, continuará obrigado
um aproveita quanto ao saldo restante.
aos demais

2. A isenção A dispensa legal do pagamento e o perdão legal da


ou remissão dívida são benefícios que podem ser concedidos de
exonera todos* forma real (objetiva) ou pessoal (subjetiva).
*salvo se O benefício objetivo favorece a todos.
outorgada O benefício subjetivo favorece apenas quem cumpre
pessoalmente os requisitos, na proporção de sua quota. Os demais
a um deles continuam solidariamente responsáveis pelo saldo.

3. A interrup- São 2 os casos de prescrição:


ção da 1. A que extingue o direito da Fazenda de promover
prescrição a ação de execução fiscal para receber crédito
favorece ou tributário (5 anos). Nesse caso a interrupção devolve
prejudica os 5 anos, prejudicando os solidários.
a todos
STJ: A citação de um dos sócios em execução fiscal
de empresa irregular já dissolvida interrompe a
prescrição a favor do Fisco e alcança não só o
citado, mas os demais solidários.
2. A que extingue o direito do sujeito passivo de
promover ação anulatória contra decisão que
denegar pedido administrativo de restituição (2
anos). Nesse caso, a interrupção devolve metade do
prazo, favorecendo os solidários.
Ex: A citação do procurador do Estado em
ação anulatória contra decisão denegatória
de restituição de IPTU interrompe a prescrição a
favor dos sujeitos passivos.
CAPACIDADE TRIBUTÁRIA PASSIVA

Para o Direito Tributário, são irrelevantes:

1. Se a pessoa O Código Civil restringe a validade dos atos


natural tem praticados pelas pessoas conforme sua capacidade
capacidade civil. Há os capazes, os relativamente incapazes
civil (que precisam estar assistidos) e os absolutamente
incapazes (que precisam estar representados).

2. Se a pessoa Sujeição medidas de privação ou limitação:


natural está y do exercício de atividades civis, comerciais ou
sujeita a profissionais
limitação y da administração de seus bens ou negócios

3. Se a pessoa Basta que configure uma unidade econômica ou


jurídica* está profissional. Tecnicamente, se não está constituída,
regularmente a unidade econômica não é uma PJ.
constituída. Apesar da redação, o que se extrai é que a
irregularidade não a exime de pagar os tributos que
lhe caberiam em situação regular (inclusive IRPJ).
Na prática, por não ter CNPJ, os tributos não serão
recolhidos, mas se a irregularidade for descoberta,
os sócios serão cobrados pelos tributos e penalidades,
pois não havendo PJ, não há separação dos
patrimônios..

DOMICÍLIO TRIBUTÁRIO

REGRA GERAL: Escolha pelo contribuinte ou responsável.


ELEIÇÃO O STJ entende que não procede o argumento de
que a escolha do endereço residencial dificultaria
a atuação dos agentes fiscais por ser inviolável o
domicílio da pessoa física.
Tem-se admitido a restrição a esse direito, por lei. Ex: A Lei impôs
o município de localização do imóvel, como domicílio tributário
do contribuinte do ITR.

REGRAS y Na falta de eleição*


SUPLETIVAS y Na recusa, pela autoridade administrativa, do
domicílio eleito, quando impossibilite ou dificulte
a arrecadação ou a fiscalização do tributo
(motivada e demonstrada a dificuldade).

1) Pessoa 1. Residência habitual


natural Se incerta ou
2. Centro habitual desconhecida
de sua atividade

2) PJ de direito y Lugar de sua sede


privado y Cada estabelecimento
ou firmas Em relação aos atos ou fatos que derem
individuais origem à obrigação (princípio da autonomia
(“empresários”) dos estabelecimentos)

3) PJ de direito Quaisquer de suas repartições no


público território da entidade tributante.

CND de O STJ decidiu que, ainda que filiais e matriz façam


estabelecimento parte de um todo indissolúvel denominado “pessoa
(autonomia jurídica”, a existência de diferentes CNPJ caracteriza
dos estabeleci- a autonomia patrimonial, administrativa e
mentos) jurídica de cada um dos estabelecimentos, o que
justifica a expedição de CND individual.

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