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ESCOLA SUPERIOR DA MAGISTRATURA FEDERAL DE SANTA CATARINA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM JURISDIÇÃO FEDERAL


DISCIPLINA: DIREITO TRIBUTÁRIO I - 2018
PROFESSORA: LUÍSA HICKEL GAMBA

RESUMO 5 - OBRIGAÇÃO TRIBUTARIA

• A OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA é o próprio objeto do Direito Tributário, tido, por isso


mesmo, como direito obrigacional.

• Na teoria geral das obrigações, obrigação é a relação jurídica em que uma pessoa pode
exigir da outra uma prestação de interesse da primeira. Relação jurídica, por sua vez, é toda
situação da vida real em que haja um vínculo entre duas ou mais pessoas, com direitos e
deveres entre elas. Na obrigação uma pessoa tem o direito de exigir o cumprimento da
prestação e a outra tem o dever de prestá-la, em razão de um determinado vínculo.

• A OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA é a relação jurídica estabelecida entre Estado e particular


tendo por objeto o pagamento de prestação pecuniária ou o cumprimento de prestação de
fazer ou não fazer algo no interesse da arrecadação ou fiscalização.

• Da definição extraem-se os elementos da obrigação tributária, que são os mesmos definidos


para as obrigações de direito civil:

SUJEITO ATIVO – quem tem direito à prestação (credor)

SUJEITO PASSIVO – deve o cumprimento da prestação (devedor)

OBJETO – prestação

VÍNCULO – causa que deu origem à obrigação; conjunto de direitos e deveres

OBJETO - ESPÉCIES DE OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS (art. 113 CTN):

• O OBJETO da obrigação tributária pode ser uma prestação pecuniária (pagar dinheiro, que
pode ser tributo ou penalidade por infração fiscal) ou uma prestação de fazer ou deixar de
fazer algo no interesse da arrecadação ou da fiscalização.

• No primeiro caso (prestação pecuniária), diz-se que a obrigação tributária é principal, e, no


segundo, que é acessória ou secundária.
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• As espécies de obrigação tributária se estabelecem, assim, pelo objeto, ou pela natureza da


prestação, podendo ser principal ou acessória.

• O objeto da obrigação tributária principal, a prestação a qual se obriga o sujeito passivo, é


de natureza patrimonial. É sempre uma quantia em dinheiro (pagamento de tributo ou
penalidade pecuniária). Na terminologia do direito privado pode se dizer que a obrigação
principal é uma obrigação de dar. Obrigação de dar dinheiro, em que o dar, obviamente, não
tem o sentido de doar, mas, sim, de adimplir o dever jurídico.

• O objeto da obrigação tributária acessória é sempre não patrimonial. É sempre a exigência


da prática ou abstenção de ato em interesse da arrecadação e fiscalização tributária. Na
terminologia do direito privado pode se dizer que a obrigação acessória é uma obrigação de
fazer ou não fazer. Exemplo: emitir nota fiscal, não receber mercadoria desacompanhada de
nota fiscal, fazer escrituração contábil e fiscal etc.

• O não cumprimento da obrigação acessória implica aplicação de sanção pecuniária, quando


previsto em lei, a qual é exigida como obrigação principal.

• A obrigação principal decorre de lei em sentido estrito. A obrigação acessória decorre da


legislação tributária.

VÍNCULO – QUANDO NASCE A OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA

• As obrigações em geral podem decorrer da lei, do contrato ou de atos ilícitos.

• A obrigação tributária é uma obrigação legal por excelência. Decorre diretamente da lei, sem
que a vontade interfira no seu nascimento. A lei cria o tributo e descreve a hipótese em que
ele é devido. Basta que essa hipótese aconteça, tornando-se concreta, para que surja a
obrigação tributária, sendo absolutamente irrelevante a vontade das pessoas envolvidas.

• As fontes da obrigação tributária são a lei e o fato gerador. A primeira é fonte formal; a
segunda é fonte material. Ambas indispensáveis. Não há obrigação tributária sem a descrição
legal da hipótese de seu surgimento. Mas só a descrição legal não basta. É preciso que ocorra
o fato descrito na hipótese. A previsão legal – hipótese de incidência – mais a concretização
desta – fato gerador – criam a obrigação tributária.

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HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA E FATO GERADOR (arts. 114 e 115 CTN):

• Fato gerador da obrigação tributária principal é a situação definida em lei como


necessária e suficiente à sua ocorrência.

Situação – fato, conjunto de fatos, situação de fato, situação jurídica. Fato em sentido amplo.
Toda e qualquer ocorrência decorrente ou não da vontade, mas sempre considerada como fato,
quer dizer, sem qualquer relevância dos aspectos subjetivos.

Definida em lei – só a lei em sentido estrito pode definir o fato gerador da obrigação principal
(art. 97, III, CTN).

Necessária e suficiente – sem a situação prevista em lei não nasce a obrigação e a sua
ocorrência é o bastante para o nascimento da obrigação.

• Fato gerador da obrigação tributária acessória é qualquer situação que, na forma da


legislação aplicável, impõe a prática ou a abstenção de ato que não configure obrigação
principal. Nos termos do CTN esse fato gerador pode ser definido pela legislação tributária.
Exemplo: Quem instala estabelecimento comercial faz nascer o dever de requerer inscrição
nos cadastros fiscais correspondentes. É uma situação de fato que, nos termos da legislação
tributária, faz nascer a obrigação acessória de pedir as inscrições correspondentes. A situação
de quem é estabelecido comercialmente faz nascer as obrigações acessórias de não receber
mercadorias sem o documento fiscal correspondente e de permitir a fiscalização em seus
livros e documentos.

• É importante a distinção entre hipótese de incidência e fato gerador. A expressão


hipótese de incidência designa com maior propriedade a descrição, contida na lei, da situação
necessária e suficiente ao nascimento da obrigação tributária, enquanto que a expressão fato
gerador diz da ocorrência, no mundo dos fatos, daquilo que está descrito na lei. A hipótese é
simples descrição, é simples previsão, enquanto que o fato é concretização da hipótese, é o
acontecimento do que fora previsto.

• A HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA engloba 5 ASPECTOS, que devem ser definidos em lei,


embora alguns deles possam estar contidos de forma implícita:
Aspecto temporal
Aspecto espacial
Aspecto material
Aspecto quantitativo
Aspecto pessoal

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1 – ASPECTO TEMPORAL – a lei que cria a hipótese de incidência designa (implícita ou


explicitamente) o momento em que se deve considerar ocorrido o fato gerador. Dispõe o art.
116 CTN:

“Salvo disposição de lei em contrário, considera-se ocorrido o fato gerador e existentes seus
efeitos:

I – tratando-se de situação de fato, desde o momento em que se verifiquem as circunstâncias


materiais necessárias a que produza os efeitos que normalmente lhe são próprios;

II – tratando-se de situação jurídica, desde o momento em que esteja definitivamente


constituída, nos termos do direito aplicável.”

- Como se vê da ressalva contida no início do dispositivo legal, o legislador pode


expressamente mencionar em que circunstância se considera ocorrido o fato gerador, fora das
hipóteses dos incisos I e II do art. 116 do CTN. Se não o fizer, considera-se ocorrido na forma
dos incisos I e II do art. 116 do CTN.

- O art. 117 do CTN complementa o inciso II do art. 116 do CTN, para explicitar quando se
considera ocorrido o fato gerador ligado aos negócios jurídicos condicionais:

Condição suspensiva = doação só produz efeito se donatário casar (imposto de doações só


incide se casar)

Condição resolutória = doação desfeita se casar (imposto é devido desde logo; a condição
aqui não tem relevância tributária no que diz respeito ao momento em que se tem como
consumado o fato gerador, embora possa ensejar restituição do tributo).

- O parágrafo único do art. 116 CTN é novo, introduzido pela LC 104/2001, para
expressamente conferir poderes à fiscalização para dar qualificação jurídica diversa ou
desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de dissimular a
ocorrência do fato gerador do tributo (caso das cooperativas ou fornecedores de mão-de-obra).

- O aspecto temporal da hipótese de incidência, que deve ser fixado em lei (sentido estrito)
e diz respeito ao momento em que se considera ocorrido o fato gerador, nada tem a ver com o
prazo de vencimento do tributo, que pode ser estabelecido na legislação tributária (inclusive
por decreto do Poder Executivo) – art. 160 CTN – não estando sujeito ao princípio da
legalidade.

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2 – ASPECTO ESPACIAL – diz respeito à indicação do lugar em que se considera ocorrido o


fato gerador. O fato gerador só produz o efeito de fazer nascer a obrigação tributária se
ocorrido no âmbito territorial de validade da lei, isto é, na área espacial a que se estende a
competência tributária. Normalmente, esse aspecto está implícito na norma, em razão do
princípio da territorialidade. A fixação do lugar do fato gerador tem especial importância para
qualificar incidência ou isenção.

3 – ASPECTO MATERIAL – é o aspecto mais importante da hipótese de incidência, que


enseja fixar a espécie tributária a que o tributo pertence, principalmente aqueles que se
definem pelo fato gerador. É a descrição da situação de fato ou da situação jurídica,
propriamente dita, que faz nascer a obrigação tributária.

- Art. 118 CTN – A invalidade do ato jurídico (agente capaz, objeto lícito e forma prescrita
ou não defesa em lei) não tem relevância para o Direito Tributário. A ilicitude do ato
praticado nada tem a ver com a relação jurídica tributária. Isso não implica, porém, admitir-se
a tributação de fatos ilícitos. O ato ilícito não pode ser hipótese de incidência, mas pode ser
fato gerador do tributo. Também não importa ao Direito Tributário a natureza do objeto dos
atos praticados pelo sujeito passivo nem os efeitos desses atos. Ocorrida a situação prevista
em lei como necessária e suficiente, pouco importa a natureza do objeto ou os efeitos dos atos
praticados. Quer se trate de ato, fato, situação jurídica, conjunto de fatos etc., a hipótese de
incidência é sempre considerada como fato objetivamente.

4 – ASPECTO QUANTITATIVO – permite a verificação do quantum devido, por meio da


definição da base de cálculo e da alíquota.

- BASE DE CÁLCULO:

É a perspectiva dimensional da hipótese de incidência.

Todo tributo tem base de cálculo, por exigência constitucional.

É critério para determinação do quantum debeatur.

É dimensão do aspecto material da hipótese de incidência, de algum modo mensurável: peso,


volume, comprimento, largura, altura, valor, preço, custo, perímetro, capacidade, superfície,
grossura.

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- ALÍQUOTA:

É critério indicativo de uma parte ou fração da base imponível.

Pode ser:

Ad valorem – em percentual progressiva (aumenta c/ aumento base cálculo)


(%) proporcional (não há graduação base cálculo)

Específica – unidade de moeda por medida (peso, volume, metragem ou unidade)


(ex.: R$ 1,00 por quilo de feijão)

5 – ASPECTO PESSOAL – Determina os sujeitos da obrigação tributária. Indica o sujeito


ativo e o sujeito passivo da obrigação tributária.

SUJEITO ATIVO (art. 119 CTN)

• É quem pode exigir o cumprimento da obrigação.

• Não precisa necessariamente ser o titular da competência tributária.

• É quem tem competência para arrecadar e fiscalizar o tributo, funções que o art. 7º CTN
permite sejam delegadas.

• Nos termos dos arts. 7º e 119 do CTN, o sujeito ativo do tributo sempre tem que ser uma
PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO.

• A definição do sujeito ativo pode estar implícita na lei, especialmente quando coincidir com
a entidade política titular da competência tributária. A atribuição das funções de arrecadar e
fiscalizar a outra pessoa jurídica de direito público, porém, só pode constar da lei (em sentido
estrito), visto que é um dos aspectos da hipótese de incidência.

• Relembrar:

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TITULAR DA COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA


(entes políticos)
(competência legislativa)

SUJEITO ATIVO DO TRIBUTO
(pessoa jurídica de direito público)
(arrecadação e fiscalização)

DESTINATÁRIO LEGAL DO PRODUTO DA ARRECADAÇÃO
(pessoa jurídica de direito público ou privada, desde que sem fins lucrativos e com interesse
público)
(recebe produto da arrecadação de tributo com destinação legal)

PARTÍCIPE NA RECEITA
(ente político)
(com participação no produto da arrecadação por distribuição constitucional das receitas
tributárias)

AGENTE ARRECADADOR
(pessoa jurídica de direito público ou privado)
(mero recebedor – ex.: Bancos e lotéricas)

SUJEITO PASSIVO

• É aquele obrigado ao cumprimento da obrigação tributária.

• O sujeito passivo da obrigação principal é aquele obrigado ao pagamento do tributo ou da


penalidade pecuniária (multa por infração fiscal). O sujeito passivo da obrigação acessória é
aquele obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa no interesse da arrecadação ou
fiscalização dos tributos.

• Sujeito passivo da obrigação principal e sujeito passivo da obrigação acessória, portanto,


nem sempre coincidem. Não é só o que está obrigado ao pagamento do tributo que pode estar
obrigado ao cumprimento das obrigações acessórias. O sujeito passivo da obrigação acessória
pode nada ter com o pagamento do tributo.

• Na sujeição passiva da obrigação principal, o CTN distingue ainda contribuinte e


responsável (art. 121 CTN):

CONTRIBUINTE é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou penalidade pecuniária, nos


termos da lei, por manter uma relação pessoal e direta com o fato gerador. É quem pratica o
fato gerador.

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RESPONSÁVEL é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou penalidade pecuniária, em


razão de expressa disposição da lei. Não tem relação pessoal e direta com o fato gerador,
como o contribuinte, mas deve ter alguma vinculação com ele, como exige o art. 128 CTN.

Exemplo 1: O contribuinte do imposto de renda é o titular da disponibilidade


econômica ou jurídica da renda ou dos proventos de qualquer natureza (art. 45 CTN). É
aquele que aufere a renda ou os proventos. A lei pode, porém, atribuir à fonte pagadora dessa
renda ou desses proventos a condição de responsável pelo recolhimento do imposto
correspondente (art. 45, parágrafo único, CTN). A fonte pagadora, no caso, é sujeito passivo
da obrigação principal, porque está obrigada a fazer o pagamento do tributo. Não é
contribuinte, porque não auferiu renda ou proventos, mas é responsável, porque a lei lhe
atribuiu a obrigação de efetuar o pagamento do tributo.

Exemplo 2: Aquele que transporta mercadoria desacompanhada dos documentos


legalmente exigíveis assume a responsabilidade pelo pagamento do ICMS porventura
incidente na saída dessas mercadorias. O contribuinte é o comerciante ou o industrial que
promove a saída da mercadoria. O transportador, na condição referida, é o responsável pelo
pagamento do tributo.

• A sujeição passiva tributária é decorrente de lei (em sentido estrito), visto que é um dos
aspectos da hipótese de incidência. A responsabilidade tributária pelo pagamento de tributo,
assim, só pode ser fixada em lei. Bem por isso, as convenções particulares sobre
responsabilidade por pagamento de tributos não podem ser opostas à fazenda (art. 123 CTN).
Observar que o dispositivo ressalva disposição de lei em sentido contrário, de modo que a lei
pode aceitar a convenção, se assim dispuser.

Súmula 614 do STJ: “O locatário não possui legitimidade ativa para discutir a relação
jurídico-tributária de IPTU e de taxas referentes ao imóvel alugado nem para repetir indébito
desses tributos.” (DJe do STJ de 11/05/2018, p. 2083).

• Na sujeição passiva pode haver solidariedade (art. 124 CTN), que é a existência de 2 ou
mais pessoas simultaneamente obrigadas ao cumprimento da obrigação tributária, quer porque
praticaram em conjunto o mesmo fato gerador (2 contribuintes), quer porque a lei assim
determinou (contribuinte + responsável). A solidariedade tributária, como regra geral, não
comporta benefício de ordem (pode cobrar de qualquer um dos coobrigados sem ordem de
execução) e tem os efeitos previstos no art. 125 do CTN (pagamento favorece a todos; isenção

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e remissão favorecem a todos, salvo se pessoal; interrupção da prescrição favorece ou


prejudica a todos).

• Se houver 2 ou mais contribuintes, no pólo passivo da mesma obrigação tributária SEMPRE


haverá solidariedade. A lei não precisa prever essa hipótese.

• Quando estabelece responsabilidade tributária, porém, a lei deve definir se a atribuição de


responsabilidade se dá de forma solidária, com benefício de ordem (subsidiária ou supletiva
do contribuinte – não pacífico na jurisprudência se a lei instituidora de tributo pode), ou
exclusiva. Se a lei estabelecer responsabilidade tributária sem referir benefício de ordem ou
exclusividade, presume-se a solidariedade, sem benefício de ordem, que é a regra geral.

• Em suma, a solidariedade na obrigação tributária é presumida, por força do CTN, mesmo


que não prevista na lei instituidora do tributo, diferentemente do que acontece com a
obrigação civil (art. 265 CC).

• Para ser sujeito passivo da obrigação tributária basta que a lei assim estabeleça. Independe
da vontade daquele eleito como sujeito passivo. Por isso mesmo, a capacidade tributária, ou
seja, a capacidade para ser sujeito passivo da obrigação tributária independe da capacidade
civil das pessoas naturais ou de outras limitações que impeçam a prática do fato gerador. (art.
126 CTN, compatível com o art. 118 CTN).

• O sujeito passivo da obrigação tributária deve ter um domicílio tributário, como local onde
cumprirá as obrigações e receberá avisos e notificações. A regra geral é que o sujeito passivo
é quem elege seu domicílio tributário; somente quando não houver eleição do foro ou quando
recusado o foro eleito é que a Administração fazendária pode fixar o domicílio tributário do
sujeito passivo, atendidas as regras do art. 127 do CTN.

SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA

• A doutrina clássica, a respeito da sujeição passiva, dispunha que sua eleição poderia se dar
de forma:

1. Direta = contribuinte (com relação de fato com fato tributável)

2. Indireta, sendo esta:

a) por transferência = responsável (não está de fato relacionado com fato gerador, mas está
por lei obrigado ao pagamento do tributo, juntamente com contribuinte)

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b) por substituição = substituto legal tributário (não está de fato relacionado com fato gerador,
mas está por lei obrigado ao pagamento do tributo, excluído o contribuinte)

• As formas de sujeição passiva continuam a existir, mas o CTN classificou-as em apenas


duas categorias: contribuinte e responsável (artigo 121 CTN).

• Para o CTN, responsável é tanto aquele que é solidária ou sucessivamente responsável pelo
tributo devido pelo contribuinte, como aquele que sozinho, excluída a figura do contribuinte,
deve o tributo apenas por disposição de lei, sem ter relação direta com o fato tributável.

• Com efeito, no art. 128, o CTN dispõe que, além dos eleitos responsáveis, de forma
genérica, no capítulo, para todos os tributos, a lei instituidora de cada tributo pode atribuir, de
modo expresso, a responsabilidade tributária a terceira pessoa, vinculada ao fato gerador da
respectiva obrigação, excluindo a responsabilidade do contribuinte ou atribuindo-a a este em
caráter supletivo do cumprimento total ou parcial da referida obrigação.

• O dispositivo legal prevê expressamente a atribuição de responsabilidade por substituição,


permitindo que ao responsável (substituto legal tributário) seja atribuída responsabilidade
exclusiva pelo pagamento do tributo (excluindo o contribuinte) ou que a responsabilidade do
contribuinte seja apenas supletiva.

• Assim, embora não nomeie expressamente, o CTN admite a responsabilidade por


substituição, própria da figura do substituto legal tributário.

• Como não é adotada no CTN, atualmente, a expressão “substituição tributária” tem sido
utilizada para identificar os casos em que o legislador, ao definir a hipótese de incidência,
coloca desde logo o responsável (substituto legal tributário) como primeiro obrigado pelo
pagamento do tributo, mantendo a obrigação do contribuinte (substituído), solidariamente,
com ou sem benefício de ordem. A obrigação surge diretamente para o substituto, a quem
cabe recolher o tributo devido pelo contribuinte substituído, mas com recursos alcançados
pelo próprio contribuinte ou dele retidos. A substituição é estabelecida em benefício da
fiscalização e arrecadação.

• Ponto polêmico na substituição tributária era a possibilidade de a obrigação do substituto ser


exigida antes da ocorrência do fato gerador, sobre base de cálculo presumida. Para vencer o
questionamento, foi acrescentado o § 7º ao art. 150 da CF, com o seguinte teor:

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“§ 7.º A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária a condição de


responsável pelo pagamento de imposto ou contribuição, cujo fato gerador deva ocorrer
posteriormente, assegurada a imediata e preferencial restituição da quantia paga, caso não
se realize o fato gerador presumido.” (Incluído pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993)

• O STF, porém, independentemente do § 7º do art. 150 da CF, sempre se manifestou pela


legalidade da substituição tributária, mesmo quando exigida a obrigação por fato gerador e
base de cálculo presumidos. Recentemente, no julgamento de tema sob repercussão geral
(Repercussão Geral - Tema 302: Natureza jurídica da retenção de 11% sobre os valores brutos
dos contratos de prestação de serviço por empresas tomadoras de serviços. RE 603.191/MT,
Rel. Min. Ellen Gracie, julgado em 01/08/2011) fixou os seguinte pressupostos para a
validade da substituição tributária:

1. Instituição em lei em sentido estrito;

2. Eleição de substituto legal tributário que possa fazer cumprir a obrigação do contribuinte,
mediante exigência prévia, retenção ou ressarcimento;

3. Possibilidade de utilização de presunção para definição do tributo devido pelo contribuinte;

4. Garantia de restituição ou ajuste (mediante compensação) pelo contribuinte substituído do


valor a maior pago pelo substituto legal tributário, quando a operação seguinte não se verificar
ou dela resultar tributo em valor inferior;

5. Razoabilidade e proporcionalidade na definição do valor devido pelo substituto legal


tributário (presumido); e

6. Instituição em benefício da fiscalização e arrecadação.

• Cabe anotar que o art. 128 do CTN exige, para a atribuição de responsabilidade tributária,
que o responsável esteja vinculado ao fato gerador. Não vinculação pessoal e direta, de fato,
pois essa é exigida apenas do contribuinte, mas, sim, vinculação indireta, jurídica ou
econômica (possibilidade retenção para o substituto legal tributário).

• Se não houve retenção nem recolhimento e há previsão legal de solidariedade ou não


exclusão do contribuinte, o valor pode ser cobrado tanto do substituto como do substituído.
Dispensa da multa para o contribuinte.

• Se houve retenção, mas não houve recolhimento, o valor só pode ser cobrado do substituto.

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• Ainda há polêmica na jurisprudência federal (1) sobre a qualificação da retenção do IR pela


fonte pagadora (substituta tributária ou agente retentor) e seus efeitos e (2) sobre a
legitimidade para impugnação ou repetição do tributo.

• Diferenciação entre substituto tributário, contribuinte de direito e de fato e mero agente


retentor.

RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA DEFINIDA NO CTN

• As disposições dos arts. 129 a 138 são auto-aplicáveis a todos os tributos,


independentemente de previsão específica na lei instituidora do tributo. Por outro lado, as
atribuições de responsabilidade nos referidos artigos não podem ser alteradas pelas leis
instituidoras de tributos, já que constam de lei complementar de norma geral (STF, RE
562.276, sob rep. geral, julgado em 11/2010 e STJ, 1ª Seção, REsp 757.065/SC, Rel. Min.
José Delgado, julgado em 09/2005, ambos sobre art. 13 da L. 8.620/93, que pretendeu colocar
todos os sócios como responsáveis pelo pagamento das contribuições para Seguridade Social).

1. RESPONSABILIDADE DOS SUCESSORES

• Art. 129 CTN – No que se refere à atribuição de responsabilidade aos sucessores, importante
é saber a data de ocorrência do fato gerador. Se o fato gerador ocorreu antes do ato que
implicou sucessão, aplicáveis são as regras que disciplinam a responsabilidade do sucessor.

Créditos tributários ou tributos?

• Art. 130 CTN – Responsabilidade tributária do adquirente de bem imóvel quanto aos
tributos sobre ele incidentes. O adquirente de bem imóvel se torna responsável pelo
pagamento de quaisquer tributos e penalidades incidentes sobre o imóvel antes da aquisição,
salvo se constar do título a prova de sua quitação. (problema da CND que faz ressalva a
outros débitos não apurados).

• Parágrafo único do art. 130 CTN – Responsabilidade do arrematante quanto aos tributos
incidentes sobre o bem arrematado. Se o bem á adquirido em arrematação em hasta
pública, o arrematante não é responsável, mas o preço fica vinculado ao pagamento dos
tributos incidentes sobre o bem.

• Art. 131, I, CTN – Responsabilidade do adquirente ou remitente de qualquer bem.


Aquele que adquire bem móvel ou imóvel fica responsável pelos tributos sobre eles

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incidentes. A doutrina combina o disposto no art. 131, I, com o disposto no art. 130 do CTN.
Aquele que faz remição do bem (paga a dívida e resgata o bem dado em garantia) também
fica responsável pelo pagamento dos tributos sobre ele incidentes.

• Art. 131, II e III, CTN – Responsabilidade do sucessor pela morte. O sucessor a qualquer
título (herdeiro, testamentário) e o cônjuge meeiro são responsáveis pelos tributos devidos
pelo de cujus até a data da partilha, limitada essa responsabilidade ao montante do quinhão,
legado ou meação. E o espólio responde pelos tributos devidos pelo de cujus até a data da
abertura da sucessão. O espólio paga os tributos devidos pelo de cujus antes de sua morte até
a partilha. Partilhados os bens, os herdeiros e o meeiro respondem pelos tributos devidos até a
partilha, no limite do quinhão e meação.

• Art. 132 CTN – Responsabilidade na sucessão de empresas por fusão, transformação ou


incorporação. (Obs.: conforme Lei S/A e CCivil – arts. 1.113, 1.116 e 1.119: fusão é a
operação pela qual se unem duas ou mais sociedades, para formar uma sociedade nova, que
lhes sucederá em todos os direitos e obrigações; transformação é a mudança de forma
societária, é a operação pela qual uma sociedade passa, sem dissolução e liquidação, de um
tipo para outro de sociedade; incorporação é a operação pela qual uma ou mais sociedades são
absorvidas por outra que lhes sucede em todos os direitos e obrigações; e cisão é a operação
pela qual a sociedade transfere parcelas de seu patrimônio para uma mais sociedades
constituídas para esse fim ou já existentes: a sociedade cindida pode subsistir ou não,
conforme tenha havido transferência parcial ou total de seu patrimônio, e as que absorveram
parcelas do seu patrimônio respondem solidariamente pelas obrigações da cindida.) A pessoa
jurídica de direito privado que suceder outra por fusão, transformação, incorporação e,
acrescente-se, por cisão, responde pelos tributos devidos até a data do ato pelas pessoas
jurídicas fusionadas, transformadas, incorporadas e cindidas.

• Art. 132, parágrafo único, CTN – Responsabilidade do sócio que dá continuidade a


atividade da empresa extinta. Sucessão de fato. Responde pelas dívidas tributárias da
empresa extinta (distrato, dissolução) o sócio que dá continuidade às atividades, ainda que sob
outra razão social.

• Art. 133 CTN – Responsabilidade do adquirente de fundo de comércio ou


estabelecimento comercial. Sucessão da atividade empresarial. Aquele que adquire fundo de
comércio ou estabelecimento comercial e dá continuidade à atividade, ainda que sob outra
razão social, responde pelos tributos incidentes. O Fisco exigirá diretamente os débitos

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anteriores à alienação do adquirente, se o alienante retirar-se do negócio ou atividade e não


iniciar outra nos 6 meses seguintes; mas os exigirá diretamente do próprio alienante em caso
contrário, reservando-se a cobrá-los do adquirente se aquele for insolvente, desaparecer ou
tornar impraticável a cobrança. A responsabilidade é solidária no primeiro caso e subsidiária
no segundo.

Não se aplica ao adquirente dos bens que integram a massa falida, salvo exceções (§§ 1º e 2º
acrescentados pela LC 118/2005).

• Relativamente ao art. 132 CTN, observar o teor da recente súmula 554 do STJ: “Na hipótese
de sucessão empresarial, a responsabilidade da sucessora abrange não apenas os tributos
devidos pela sucedida, mas também as multas moratórias ou punitivas referentes a fatos
geradores ocorridos até a data da sucessão.” (aprovada em 09/12/2015)

2. RESPONSABILIDADE DE TERCEIROS

• Art. 134 CTN – O CTN torna responsáveis solidariamente (ou subsidiariamente? – STJ, 1ª
Seção, EREsp 446.955/SC, Rel. Min. Luiz Fux, j. em 04/2008) com o contribuinte várias
categorias de pessoas que, por diferentes razões de direito, o representam ou praticam atos
jurídicos em nome e por conta dele: pais, tutores, curadores, administradores de bens de
terceiro, inventariante, síndico, comissário, tabeliães, escrivães, serventuários da Justiça,
sócios. A responsabilidade aqui pressupõe duas condições: a primeira é que o contribuinte não
possa cumprir sua obrigação, e a segunda é que o terceiro tenha participado do ato que
configure o fato gerador do tributo ou em relação a este tenha indevidamente se omitido. De
nenhum modo se pode concluir que os pais sejam sempre responsáveis pelos tributos devidos
pelos seus filhos menores, nem que os tutores ou curadores sejam sempre responsáveis pelos
tributos devidos pelos seus tutelados ou curatelados etc. É preciso que exista uma relação
entre a obrigação tributária e o comportamento daquele a quem a lei atribui responsabilidade.
Se, temerariamente, nos atos praticados por elas ou nas omissões que cometerem, tornarem
impossível o cumprimento da obrigação principal (o pagamento no prazo do tributo), pagarão
solidariamente não só este tributo, senão também juros de mora e mais a multa de caráter
moratório.

• Art. 135 CTN – Aqui o CTN torna responsável pelo pagamento do tributo terceiros que
agirem com excesso de poderes, infração à lei, contrato social ou estatuto. Exige-se a prática

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de atos irregulares na realização do fato gerador ou depois, de modo a prejudicar o


cumprimento da obrigação. A responsabilidade é solidária (ou exclusiva?) e alcança créditos
tributários (tributo mais penalidade). Não inclui sócios, mas apenas os gerentes, com poderes
de administração. Aplica-se inclusive para os administradores de S/A e Ltda., atingindo bens
pessoais. Admite-se o redirecionamento da execução fiscal, conste ou não o nome do
administrador na notificação fiscal de lançamento de débito ou na certidão de dívida ativa
(questão do ônus da prova – STJ, REsp 1.104.900/ES, sob o rito dos recursos repetitivos). No
STJ prevalece o entendimento de que a simples falta de pagamento não configura infração à
lei ou a contrato ou estatuto (súmula 430 STJ), salvo se se tratar de tributo retido e não
recolhido. A extinção de fato ou dissolução irregular da sociedade antes era tratada no art.
135, III, CTN, atribuindo responsabilidade aos administradores; atualmente aplica-se a teoria
da desconsideração da personalidade jurídica (art. 50 Novo Código Civil), para atingir
patrimônio de todos os sócios (confusão patrimonial) e não só dos administradores. Mas ainda
vigora a súmula 435 do STJ: Presume-se dissolvida irregularmente a empresa que deixar de
funcionar no seu domicílio fiscal, sem comunicação aos órgãos competentes, legitimando o
redirecionamento da EF para o sócio-gerente.

3. RESPONSABILIDADE POR INFRAÇÕES

• Art. 136 CTN - O agente responde pelas infrações tributárias que praticar,
independentemente de sua intenção, ou da existência, natureza e extensão dos efeitos do ato.

• Pode ou não a responsabilidade pelo pagamento de penalidade pecuniária por infração à


legislação tributária ser repassada a terceiro? Divergência na doutrina e na jurisprudência. A
CF assegura que a pena não pode passar da pessoa do infrator (art. 5º, XLV, CF), por isso o
responsável (terceiro) deveria responder apenas pelos tributos (e pelas penalidades das
infrações que ele próprio cometer, como é o caso do art. 135 CTN em que o tributo e a
penalidade são decorrentes de ato praticado com excesso de poder ou infração à lei, não por
infrações praticadas pelo contribuinte). A questão não é pacífica e o CTN tem vários
dispositivos que estabelecem a responsabilidade pelo pagamento de tributo e de crédito
tributário (tributo + penalidade), disciplinando no art. 137 os casos em que só o agente
responde.

• Art. 138 CTN – Denúncia espontânea. A denúncia espontânea da infração, acompanhada


do pagamento do tributo, exclui a cobrança da penalidade pecuniária. Para ser espontânea, a
denúncia deve ser feita antes do início de qualquer procedimento de fiscalização (antes da

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lavratura do termo de início de fiscalização). Como deve vir acompanhada do pagamento do


tributo, a denúncia da prática de infração acompanhada de pedido de parcelamento não
configura denúncia espontânea e, assim, não exclui a cobrança de multa (súmula 208 do
extinto TFR e STJ, EDiv REsp 166.911/SC, julgado em janeiro de 2003). Pela denúncia
espontânea estão excluídas quaisquer penalidades, inclusive as moratórias. Há divergência na
doutrina e na jurisprudência (STJ não dá aplicabilidade, TRF4R dá aplicabilidade) se a
denúncia espontânea alcança as obrigações acessórias (caso da declaração de bens e
rendimentos do IR). Está pacificado no âmbito do STJ que a entrega dos documentos de
informações sobre o débito de tributo sujeito a lançamento por homologação sem a realização
do respectivo pagamento não configura denúncia espontânea (súmula 360 do STJ), mas, ao
contrário, permite desde logo a imediata inscrição em dívida ativa, para a respectiva
execução.

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