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ESCOLA SUPERIOR DA MAGISTRATURA FEDERAL DE SANTA CATARINA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM JURISIDIÇÃO FEDERAL


DISCIPLINA: DIREITO TRIBUTÁRIO I - 2018
PROFESSORA: LUÍSA HICKEL GAMBA

RESUMO 3 – LIMITAÇÕES AO PODER DE TRIBUTAR

. Cada pessoa jurídica de direito público (União, Estados, DF e Municípios) tem sua
competência tributária. O exercício dessa competência, porém, não é absoluto. A Constituição
impõe restrições ao exercício dessa competência, as quais estão contidas nos arts. 150 a 152
da CF. A maioria dessas limitações constitui direito e garantia individual do contribuinte,
estando protegida pelo § 4º do art. 60 CF (cláusulas pétreas). A competência tributária é
atribuída e limitada pela Constituição Federal. A limitação da competência é feita pelo
estabelecimento dos princípios constitucionais tributários e das imunidades.

1. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS TRIBUTÁRIOS

1.1. Princípio da legalidade (art. 150, I, CF)

• É extensão para o Direito Tributário do princípio geral da legalidade, previsto art. 5º, II, da
CF.

• É segurança para o Fisco e para o contribuinte, já que a lei obriga ao pagamento e limita
atuação do Fisco.

• Do princípio da legalidade decorrem dois outros princípios:

Reserva legal: só lei em sentido estrito, ou seja, lei em sentido material (ato jurídico de caráter
hipotético, previsão abstrata e genérica) e em sentido formal (ato jurídico do Legislativo, com
observância do processo legislativo estabelecido constitucionalmente).

Tipicidade: descrever todos os elementos essenciais da hipótese de incidência. Exigir ou


aumentar tributo significa estabelecer todos os elementos necessários à identificação de quem
deve, quanto deve, quando deve e a quem deve ser pago (sujeito passivo, base de cálculo,
alíquota, fato gerador, sujeito ativo), em consonância com o art. 97 do CTN. Esses elementos
inerentes à instituição do tributo não podem ser delegados a ato do Poder Executivo. Não
pode a lei só dizer que fica criado tal tributo.
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• Regulamentado pelo art. 97 do CTN (art. 146, II, CF).

• Exceções: Art. 153, § 1º, CF (alíquotas do II, IE, IPI e IOC, não mais base de cálculo, como
consta do CTN, que, no ponto, não foi recepcionado) e Art. 177, § 4º, b, CF (alíquota CIDE
combustível), este último acrescentado pela EC 33/2001, de discutível constitucionalidade,
em face de os princípios constitucionais tributários configurarem garantia fundamental.

1.2. Princípio da igualdade tributária (Art. 150, II, CF)

• Previsão específica no STN do princípio da isonomia, já consagrado no art. 5º, I, CF.

• Normas jurídicas devem ter caráter hipotético, alcançando a todos indistintamente que se
encontrem na situação nelas descrita.

• Deve se observar, porém, que a isonomia não pode igualar os desiguais, por isso que para se
obter a igualdade reforça-se o conceito de proporcionalidade.

• Pode, então, o legislador estabelecer hipóteses discriminatórias, cabendo ao Judiciário


avaliar se o critério de discriminação foi validamente utilizado.

• Justifica-se a diferenciação tributária quando haja situações efetivamente distintas e se tenha


em vista uma finalidade constitucionalmente amparada, sendo o tratamento diferenciado apto
a alcançar o fim colimado.

• Em matéria tributária, as distinções podem se dar em função da capacidade contributiva ou


por razões extrafiscais que estejam alicerçadas constitucionalmente. A extrafiscalidade
sempre ameniza a igualdade tributária.

• Vale lembrar que o STF tem se pronunciado reiteradamente no sentido de que não é possível
estender, a título de isonomia, os benefícios concedidos por lei que a viole e que, portanto,
possa ser considerada inconstitucional, e, por conseqüência, inválida, pois esta não produz
efeitos.

• Ver regra do § 2º do art. 173 CF (A empresas públicas e sociedades de economia mista não
poderão gozar de privilégios fiscais não extensivos às do setor privado.).

• A parte final da norma constitucional que institui o princípio (“proibida qualquer distinção
em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da
denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos”) teve por objetivo específico

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deixar claro que militares, magistrados e parlamentares passassem a pagar IR sobre a


totalidade da remuneração, o que não ocorria na vigência da Constituição anterior.

1.3. Princípio da capacidade contributiva (Art. 145, § 1º, CF)

• O Estado deve repartir a carga tributária de acordo com as possibilidades econômicas de


seus habitantes, de modo geral, e, de modo específico, conforme a capacidade econômica de
cada um. É a divisão proporcional das despesas públicas.

• A instituição do tributo, principalmente a definição da sujeição passiva, deve observar a


capacidade contributiva, para possibilitar o pagamento do tributo por quem efetivamente tem
capacidade de pagamento.

• São extremos da medida da capacidade contributiva a manutenção do mínimo existencial e a


vedação do confisco.

• Está estabelecido para os impostos, mas é aplicável a todos os tributos. A graduação do


tributo (alíquota variável de acordo com a base de cálculo maior) depende de que se cuide de
uma hipótese de incidência efetivamente reveladora de capacidade contributiva.

• Exemplo: alíquotas diferenciadas IR, seletividade IPI etc.

1.4. Princípio da irretroatividade da lei tributária (Art. 150, III, a, CF)

• A CF, no art. 5º, XXXVI, permite a retroatividade da lei, protegendo apenas o direito
adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.

• Em Direito Tributária há norma constitucional expressa estabelecendo a irretroatividade da


lei. Fatos já ocorridos não são alcançados pela lei nova, que institui ou aumenta tributo.

1.5. Princípio da anterioridade (Art. 150, III, b e c, CF)

• Atualmente a CF estabelece a anterioridade de exercício (art. 150, III, b, CF), a


anterioridade mínima (art. 150, III, c, CF) e a anterioridade especial (art. 195, § 6º, CF),
esta última aplicável apenas às contribuições de seguridade social.

• A anterioridade mínima e a anterioridade de exercício são cumulativas, salvo exceções


constitucionais. A anterioridade especial é de aplicação exclusiva.

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• Pela anterioridade de exercício, fica vedada a exigência de tributo no mesmo exercício


financeiro em que publicada a lei que o instituiu ou aumentou. Pela anterioridade mínima,
restou estabelecida uma vacância mínima de 90 dias, de modo que fica vedada a exigência do
tributo antes de 90 dias da data de publicação da lei que o instituiu ou aumentou.

• Não se confundem com o princípio da anualidade, previsto nas CF de 46 e 67, pelo qual a
instituição ou aumento de tributo dependia de autorização orçamentária prévia. Esse princípio
não mais vigora no Direito Brasileiro.

• É expressão do princípio da segurança jurídica, visto que tem a função de garantir ao


contribuinte a possibilidade de planejamento anual da sua atividade.

• Quando se tratar de Medida Provisória: o termo inicial para anterioridade é a edição da


primeira medida provisória, ou quando se tratar de lei que institui ou majora imposto (à
exceção do II, IE, IPI, IOF e Imposto extraordinário de guerra) é o exercício financeiro
seguinte ao que tiver sido convertida em lei (art. 62, § 2º, CF).

• Exceções:

À anterioridade de exercício (Art. 150, § 1º, primeira parte, CF):

Art. 148, I, CF (empréstimo compulsório para despesas decorrentes de calamidade pública ou


guerra externa ou sua iminência)
Art. 153, I, II, IV e V, CF (imposto de importação, imposto de exportação, IPI e IOC);
Art. 154, II, CF (imposto extraordinário de guerra)
Aumentos de alíquotas do ICMS (Art. 155, § 4º, IV, c, CF)
Aumentos de alíquotas da CIDE Combustível (Art. 177, § 4º, I, b, CF)

À anterioridade mínima (Art. 150, § 1º, segunda parte, CF):

Art. 148, I, CF (empréstimo compulsório para despesas decorrentes de calamidade pública ou


guerra externa ou sua iminência)
Art. 153, I, II, III e V, CF (imposto de importação, imposto de exportação, IR e IOC)
Art. 154, II, CF (imposto extraordinário de guerra)
Fixação da base de cálculo do IPVA (Art. 155, III, CF c/c Art. 150, § 1º, CF)
Fixação base de cálculo do IPTU (Art. 156, I, CF c/c Art. 150, § 1º, CF)

1.6. Princípio da vedação do confisco (Art. 150, IV, CF)

• Confisco é a tomada compulsória da propriedade privada pelo Estado, sem indenização.

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• É princípio de difícil aplicação.

• Visa a proteger ao direito de propriedade, assegurado constitucionalmente (art. 5º, caput e


XXII, CF). O Estado deve obter seus recursos sem despojar o particular do bem tributado (não
pode, p. ex., tributar a totalidade da renda ou a totalidade do imóvel).

• Busca-se evitar a tributação excessivamente onerosa, com sentido de penalidade.

• É tido como limite da capacidade contributiva.

• Não se aplica às penalidades, embora o STF tenha várias decisões contraditórias, ora
afirmando a aplicação do princípio às multas tributárias, ora, afastando essa aplicação. A
rigor, às multas aplicam-se os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.

1.7. Princípio da liberdade de tráfego (Art. 150, V, CF)

• Proíbe a instituição de tributos de cuja hipótese de incidência seja elemento essencial a


transposição das divisas do Estado e do Município.

• Não proíbe a cobrança de tributos em operações interestaduais ou intermunicipais, desde que


tal cobrança não tenha como pressuposto de fato indispensável a transposição da divisa. Em
outras palavras, pode ser cobrado imposto em operação interestadual, desde que também
incida em operação interna.

• O que não deve haver é o agravamento do ônus tributário pelo fato de ser interestadual ou
intermunicipal a operação.

• Pedágio:

Havia muita discussão sobre a natureza jurídica do pedágio, se constituiria tributo, da espécie
da taxa, o que o vincularia aos princípios constitucionais tributários, especialmente à
legalidade (instituição por lei), ou se constituiria preço público, o que o vincularia aos
princípios de direito administrativo, especialmente às regras de fixação por meio da política
tarifária e de preços dos contratos administrativos. Havia até mesmo parte da doutrina que
reconhecia natureza jurídica híbrida ao pedágio, o qual seria taxa quando houvesse
compulsoriedade do serviço, representada pela falta de oferecimento de via alternativa sem
ônus, e quando fosse cobrada pela Administração que oferecesse o serviço; e seria preço,
quando não houvesse compulsoriedade do serviço, representada pelo oferecimento de via
alternativa, e quando fosse cobrado por particular.
Com o julgamento da ADIn 800/RS pelo STF, em junho de 2014, a discussão perdeu o
sentido, tendo o STF decidido definitivamente pela atribuição de natureza de preço público ao
pedágio. Em resumo o STF decidiu:
Pedágio é preço público;

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para sua cobrança, é indispensável o uso de vias conservadas;


pressupõe uso e serviço de conservação ou melhoramento;
dispensa o oferecimento de via alternativa, em qualquer hipótese.

Segue o resumo da notícia do julgamento no Informativo do STF:

ADI: pedágio e preço público - 1


O pedágio cobrado pela efetiva utilização de rodovias não tem natureza tributária, mas de
preço público, consequentemente, não está sujeito ao princípio da legalidade estrita. Com base
nesse entendimento, o Plenário julgou improcedente pedido formulado em ação direta
ajuizada contra o Decreto 34.417/1992, do Estado do Rio Grande do Sul, que autoriza a
cobrança de pedágio em rodovia estadual. O Tribunal recordou que a Constituição autoriza a
cobrança de pedágio (“Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte,
é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: …V - estabelecer
limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou
intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo
Poder Público”). Rememorou que essa norma reproduziria, em linhas gerais, regra semelhante
contida nas Constituições de 1946 e 1967. Ressalvou, contudo, que a EC 1/1969 não repetira
a parte final dessa disposição (“Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e
aos Municípios: ... II - estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou mercadorias, por meio
de tributos interestaduais ou intermunicipais”). Ressaltou que a falta de referência à cobrança
de pedágio, no regime constitucional precedente despertara a controvérsia a respeito da
natureza dessa exação — se tributária ou não tributária —, divergência que persistiria,
especialmente no âmbito doutrinário. Afirmou que os defensores da natureza tributária, da
subespécie taxa, o fariam sob os seguintes fundamentos: a) a referência ao pedágio, nas
limitações constitucionais ao poder de tributar; b) o pagamento de um serviço específico ou
divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição; e c) a impossibilidade de
remunerar serviços públicos por meio outro que não o de taxa. Aludiu, entretanto, que os
defensores da natureza contratual da exação como preço público o fariam com base nas
seguintes considerações: a) a inclusão no texto constitucional apenas esclareceria que, apesar
de não incidir tributo sobre o tráfego de pessoas ou bens, poderia, excepcionalmente, ser
cobrado o pedágio, espécie jurídica diferenciada; b) a ausência de compulsoriedade na
utilização de rodovias; e c) a cobrança se daria em virtude da utilização efetiva do serviço, e
não seria devida com base no seu oferecimento potencial.
ADI 800/RS, rel. Min. Teori Zavascki, 11.6.2014. (ADI-800)

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ADI: pedágio e preço público - 2


A Corte realçou que essa discussão teria sido contaminada pela figura do denominado “selo-
pedágio”, prevista na Lei 7.712/1988, reconhecido como taxa pelo STF. Lembrou, porém, que
essa exação seria compulsória a todos os usuários de rodovias federais, por meio de
pagamento renovável mensalmente, independentemente da frequência de uso, cobrada
antecipadamente, como contrapartida a serviço específico ou divisível, prestado ao
contribuinte ou posto à sua disposição. Consignou haver profundas diferenças entre o citado
“selo-pedágio” e o pedágio, na forma em que atualmente disciplinado. Asseverou que esse
último somente seria cobrado se, quando e cada vez que houvesse efetivo uso da rodovia, o
que não ocorreria com o “selo-pedágio”, que seria exigido em valor fixo, independentemente
do número de vezes que o contribuinte fizesse uso das estradas durante o mês. Destacou que o
enquadramento do pedágio como taxa ou preço público independeria de sua localização
topológica no texto constitucional, mas seria relacionado ao preenchimento, ou não, dos
requisitos previstos no art. 3º do CTN (“Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em
moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída
em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada”).
ADI 800/RS, rel. Min. Teori Zavascki, 11.6.2014. (ADI-800)
ADI: pedágio e preço público - 3
O Plenário sublinhou que seria irrelevante também, para a definição da natureza jurídica do
pedágio, a existência, ou não, de via alternativa gratuita para o usuário trafegar. Reconheceu
que a cobrança de pedágio poderia, indiretamente, limitar o tráfego de pessoas. Observou,
todavia, que essa restrição seria agravada quando, por insuficiência de recursos, o Estado não
construísse rodovias ou não conservasse adequadamente as existentes. Ponderou que, diante
dessa realidade, a Constituição autorizara a cobrança de pedágio em rodovias conservadas
pelo Poder Público, inobstante a limitação de tráfego que essa cobrança pudesse
eventualmente acarretar. Registrou, assim, que a contrapartida de oferecimento de via
alternativa gratuita como condição para a cobrança de pedágio não seria uma exigência
constitucional, tampouco estaria prevista em lei ordinária. Consignou que o elemento nuclear
para identificar e distinguir taxa e preço público seria o da compulsoriedade, presente na
primeira e ausente na segunda espécie. Nesse sentido, mencionou o Enunciado 545 da Súmula
do STF (“Preços de serviços públicos e taxas não se confundem, porque estas, diferentemente
daqueles, são compulsórias e têm sua cobrança condicionada à prévia autorização
orçamentária, em relação à lei que as instituiu”).
(ADI 800/RS, rel. Min. Teori Zavascki, 11.6.2014)

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1.8. Princípio da uniformidade geográfica (Art. 151, I, CF)

1.9. Princípio da carga tributária idêntica (Art. 151, II, CF)

1.10. Vedação à instituição de isenção pela União (Art. 151, III, CF)

Ver súmula 278 STJ: “O INSS não goza de isenção do pagamento de custas e emolumentos
nas ações acidentárias e de benefícios propostas na Justiça Estadual.” – isenção concedida
pela Lei federal 8.620/93.

Não impede que a República Federativa do Brasil conceda isenção por tratado internacional –
STF, plenário, RE 229.096/RS, ago/2007 – isenção de ICMS para produtos de países
signatários do GATT, quando goza do mesmo favor o similar nacional.

1.11. Princípio da não-discriminação tributária em razão de sua procedência ou destino


(Art. 152 CF)

2. IMUNIDADES

• Art. 150, VI e §§ 2º, 3º e 4º, da CF.

• Imunidade é o obstáculo constitucional à incidência da regra jurídica da tributação. É uma


supressão do poder de tributar, quando configurados certos pressupostos, situações ou
circunstâncias definidas na Constituição. É uma limitação ao poder de tributar, consistente em
impedir que a lei instituidora do tributo defina como hipótese de incidência certas situações
definidas na Constituição.

• Só a CF pode estabelecer imunidade, mas lei complementar, nos termos do art. 146, II, da
CF, pode regulamentá-las ou explicitá-las, não, porém, ampliá-las ou reduzi-las.

• Há muita discussão na doutrina se a imunidade é privativa de impostos ou se ela pode


referir-se a outros tributos. A tese mais moderna afirma que a imunidade pode (e no atual
STN refere-se mesmo) a tributos. É importante assinalar, porém, que o inciso VI do art. 150
da CF estabelece imunidade referente apenas a impostos. Em outros dispositivos, porém, a
Constituição trata de imunidade referente a outros tributos (art. 5º, XXXIV, com referência às
taxas; e art. 195, § 7º, relativamente às contribuições para seguridade social).

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• A imunidade é estabelecida pelo constituinte para resguardar determinados valores que o


próprio constituinte considerou fundamentais à sociedade. Dessa forma, assegura-se o valor,
retirando do legislador infraconstitucional a possibilidade de, por meio da tributação, atingi-
los.

• A imunidade estabelecida na CF de 1988 resguarda o equilíbrio federativo, a liberdade


política, religiosa, de associação, de pensamento e expressão, a expansão da cultura, o
desenvolvimento econômico etc., e, assim, não deve ser considerada um benefício ou favor
fiscal, uma renúncia à competência tributária ou um privilégio, mas uma forma de resguardar
e garantir os valores da comunidade e do indivíduo.

• A doutrina apresenta a seguinte classificação para as imunidades:

Pessoal ou subjetiva = quando leva em conta a qualidade da pessoa;


Material ou objetiva = quando atinge um bem determinado
Mista

2.1. Imunidade recíproca (Art. 150, VI, a, CF)

• As entidades políticas da federação (União, Estados, DF e Municípios) não podem instituir


impostos umas sobre as outras.

• A imunidade recíproca é uma forma de expressão do princípio federativo. Não se pode


conceber uma federação sem a imunidade tributária recíproca. Assim, a regra da imunidade
recíproca está protegida contra eventual EC (art. 60, § 4º, I, CF). Qualquer emenda que por
ventura autorizar a União a cobrar imposto dos Estados ou dos Municípios, ou autorizar
qualquer destes a cobrar impostos da União, ou de qualquer outro Estado ou Município, é
inconstitucional. (STF, Plenário, ADIn 939 – contra EC 3/93 que afastou imunidade recíproca
para o IPMF.)

• Estão protegidos pela imunidade recíproca, que se refere apenas a IMPOSTOS, o


patrimônio, a renda e os serviços dessas entidades e de suas autarquias e fundações (§ 2º
do art. 150 CF).

• Pela ausência de referência expressa no texto constitucional, a imunidade recíproca, em


princípio, não abrangeria empresas públicas ou sociedades de economia mista.

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ESMAFESC

Com efeito, a regra da imunidade recíproca não refere empresas públicas e sociedades de
economia mista, porque estas entidades estão normalmente direcionadas ao desenvolvimento
de atividade econômica, sob regime de direito privado, e a Constituição Federal
expressamente veda o tratamento fiscal diferenciado que prejudique a livre concorrência (art.
174, § 2º, da CF). No mesmo sentido é a primeira parte do § 3º do artigo 150 da Constituição
Federal, que veda a aplicação da imunidade recíproca ao patrimônio, renda e serviços
relacionados com a exploração de atividades econômicas regidas pelas normas aplicáveis aos
empreendimentos privados.

O Supremo Tribunal Federal, porém, tem conferido interpretação ampla, no ponto, admitindo
o alcance da imunidade recíproca a empresas públicas ou sociedades de economia mista que
exerçam serviço público exclusivo ou sob monopólio do Estado ou não tenham intuito de
lucro, porque nesse caso não restaria violado o dispositivo que protege a livre concorrência e
presente estaria o valor constitucionalmente protegido pela imunidade em questão.

Na linha da extensão da imunidade recíproca às entidades que desenvolvem atividade sob


monopólio estatal, sejam elas empresas públicas ou sociedades de economia mista, há
precedentes em relação aos Correios (ACO 819 AgR, Relator Min. DIAS TOFFOLI,
Tribunal Pleno, julgado em 17/11/2011; AI 748027 AgR, Relator(a): Min. JOAQUIM
BARBOSA, Segunda Turma, julgado em 25/09/2012). Cabe ressaltar que em relação a
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos houve reconhecimento de repercussão geral
(Tema 235 - Imunidade tributária das atividades exercidas pela Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos - ECT.), cujo mérito foi julgado no recurso extraordinário 601.392/PR,
representativo da controvérsia, em março de 2013, com a seguinte ementa:

Recurso extraordinário com repercussão geral. 2. Imunidade recíproca. Empresa


Brasileira de Correios e Telégrafos. 3. Distinção, para fins de tratamento normativo,
entre empresas públicas prestadoras de serviço público e empresas públicas
exploradoras de atividade. Precedentes. 4. Exercício simultâneo de atividades em
regime de exclusividade e em concorrência com a iniciativa privada. Irrelevância.
Existência de peculiaridades no serviço postal. Incidência da imunidade prevista no
art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal. 5. Recurso extraordinário conhecido e
provido. (RE 601392, Relator(a):  Min. JOAQUIM BARBOSA, Relator(a) p/
Acórdão:  Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 28/02/2013,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-05-06-2013)

Também há precedente sobre o monopólio estatal em relação a INFRAERO (RE 542454


AgR, Relator(a): Min. AYRES BRITTO, Segunda Turma, julgado em 06/12/2011). Também

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para a INFRAERO houve reconhecimento de repercussão geral (Tema 412 - Extensão da


imunidade tributária recíproca às empresas públicas prestadoras de serviços públicos.), cujo
mérito já foi julgado no recurso extraordinário representativo da controvérsia, conforme
segue:

RECURSO. Extraordinário. Imunidade tributária recíproca. Extensão. Empresas


públicas prestadoras de serviços públicos. Repercussão geral reconhecida. Precedentes.
Reafirmação da jurisprudência. Recurso improvido. É compatível com a Constituição a
extensão de imunidade tributária recíproca à Empresa Brasileira de Infraestrututa
Aeroportuária – INFRAERO, na qualidade de empresa pública prestadora de serviço
público. (ARE 638315 RG, Relator(a): Min. MINISTRO PRESIDENTE, julgado em
09/06/2011, DJe-167 DIVULG 30-08-2011 PUBLIC 31-08-2011 EMENT VOL-02577-
02 PP-00183 )

Por sua vez, em relação às sociedades de economia mista, os precedentes também seguem na
linha de estender a imunidade recíproca quando presente a prestação de serviço público sem
intuito de lucro (RE 580264, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Relator(a) p/ Acórdão:
Min. AYRES BRITTO, Tribunal Pleno, julgado em 16/12/2010; AI 558682 AgR, Relator(a):
Min. JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma, julgado em 29/05/2012;

• O § 3º do art. 150 CF exclui da regra de imunidade o patrimônio, a renda e os serviços das


entidades políticas, suas autarquias e fundações em 2 hipóteses:

a) quando estiverem relacionados com a exploração de atividades econômicas regidas pelas


normas aplicáveis a empreendimentos privados = para evitar tratamento privilegiado,
contrário ao princípio da liberdade de iniciativa;

b) quando estiverem relacionados com a exploração de atividades econômicas em que haja


contraprestação ou pagamento de tarifas ou preços públicos pelo usuário.

Veja-se que é preciso a configuração do exercício de atividade econômica. Bem por isso, o
Supremo Tribunal Federal também aqui tem adotado interpretação branda, quando
configurada a prestação de serviço público essencial e afastado o intuito de lucro (entidades
que prestam serviço de água e esgoto - RE 631309 AgR, Relator(a): Min. AYRES BRITTO,

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Segunda Turma, julgado em 27/03/2012; RE 598912 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI,
Primeira Turma, julgado em 05/02/2013). Por todos:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO.


IMUNIDADE RECÍPROCA. ABRANGÊNCIA. AUTARQUIA. PRESTAÇÃO DE
SERVIÇO PÚBLICO ESSENCIAL E EXCLUSIVO DO ESTADO. FORNECIMENTO
DE ÁGUA. ATIVIDADE REMUNERADA POR TARIFA. POSSIBILIDADE.
AGRAVO IMPROVIDO. I – A imunidade do art. 150, VI, a, da CF alcança as
autarquias e empresas públicas que prestem inequívoco serviço público. A cobrança de
tarifas, isoladamente considerada, não descaracteriza a regra imunizante. Precedentes. II
– Agravo regimental improvido. (RE 482814 AgR, Relator(a): Min. RICARDO
LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 29/11/2011, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-236 DIVULG 13-12-2011 PUBLIC 14-12-2011)

Por outro lado, o STF afastou a imunidade em relação a bem da entidade cedido ou objeto de
concessão a empresa privada exploradora de atividade econômica com fins lucrativos (STF,
RE 601.720/RJ, Rel. p/ ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 06/04/2017).

Pertinente e merecedor de registro são ainda os julgados, em controle concentrado e difuso,


que afastaram a aplicação da imunidade recíproca aos serviços notarias e de registro, das
serventias extrajudiciais, sob regime privado (ADI 3089, Relator(a): Min. CARLOS
BRITTO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado em
13/02/2008; RE 599527 AgR, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma,
julgado em 15/03/2011; RE com repercussão geral 756.915, julgado em 09/12/2013).

• O § 3º do art. 150 da CF explicitou ainda que a imunidade estabelecida no inciso VI, a, não
exonera o promitente comprador da obrigação de pagar imposto relativamente ao bem imóvel.
A explicitação se fez necessária para afastar divergências. Houve quem sustentasse a tese de
que o imóvel objeto de promessa de compra e venda, continuando como propriedade do
promitente vendedor, integrando, pois, o patrimônio da entidade imune, não podia ser
tributado. O próprio STF tinha decisão pela imunidade do imóvel transcrito no RI em nome
da autarquia, embora objeto de promessa de compra e venda a particulares (Súmula 74). Daí a
necessidade da regra expressa na CF de 1988.

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• Imunidade recíproca e impostos indiretos IPI e ICMS – incide o IPI e o ICMS nas compras
efetuadas pelos entes políticos, porque o contribuinte é o industrial ou o que promove a saída
da mercadoria.

(Súmula 591 STF: “A imunidade ou a isenção tributária do comprador não se estende ao


produtor, contribuinte do IPI.”)

2.2. Imunidade dos templos de qualquer culto (Art. 150, VI, b, CF)

• Nenhum imposto incide sobre templos de qualquer culto. O valor protegido é a liberdade
religiosa. Ver precedentes: maçonaria (RE 562351, Relator(a): Min. RICARDO
LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em 04/09/2012), onde não foi reconhecido o
direito à imunidade, e cemitérios de entidades religiosas, em que a imunidade foi aplicada
(RE 578562, Relator(a): Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 21/05/2008).

• Templo não significa apenas a edificação, mas tudo que seja ligado ao exercício da atividade
religiosa: não pode haver imposto sobre missa, batizado ou qualquer outro ato religioso, nem
sobre qualquer bem que esteja a serviço do culto.

• Pode, porém, haver incidência sobre bem pertencente à Igreja, desde que não seja
instrumento desta ou o rendimento não esteja sendo aplicado em suas finalidades.

(Súmula 724 STF: “Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel
pertencente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, c, da Constituição, desde
que o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades essenciais de tais entidades.”)

2.3. Imunidades dos partidos políticos, entidades sindicais, instituições de educação e de


assistência social, sem fins lucrativos (Art. 150, VI, c, CF)

• Não pode haver incidência de imposto sobre o patrimônio, a renda ou os serviços dos
partidos políticos, entidades sindicais dos trabalhadores (também dos empregadores?) e das
instituições de educação e de assistência social, estas condicionadas a finalidade não lucrativa
(observar art. 14 CTN).

• Não ter fins lucrativos não significa, absolutamente, ter receitas limitadas aos custos
operacionais. Essas entidades, na verdade, podem e devem ter sobras financeiras, até para que
possam progredir, investindo em suas instalações. O que não podem é distribuir lucros. Suas
disponibilidades são aplicadas na manutenção dos seus objetivos institucionais.

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• STF vinha exigindo LC tão somente para definição dos limites materiais da imunidade, não
para a fixação de normas de constituição e funcionamento dos entes imunes (ADInMC 1.802
e ADI 2028). No julgamento de mérito das ADIn 2028, 2036, 2228 e 2621, porém, o STF
declarou a inconstitucionalidade das leis ordinárias que criavam regras para o enquadramento
das entidades beneficentes para fim de isenção (imunidade) de contribuições previdenciárias.

2.4. Imunidade dos livros, jornais e periódicos e do papel destinado à sua impressão (Art.
150, VI, d, CF)

• A imunidade, aqui, é tipicamente objetiva: não importa a pessoa a quem pertença o livro, o
jornal ou periódico, ou o papel, este condicionado apenas à sua destinação. O valor protegido
é a disseminação da cultura.

O STF tem ampliado a interpretação para incluir qualquer livro, jornal ou periódico e
qualquer insumo necessário ou agregado ao papel (álbum de figurinhas: RE 656203 AgR,
Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma, julgado em 25/09/2012; maquinário:
RE 202149, Relator(a): Min. MENEZES DIREITO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. MARCO
AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 26/04/2011; tinta: RE 504615 AgR, Relator(a): Min.
RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em 03/05/2011).

Recentemente, decidiu o STF pela imunidade do livro digital (e-book) e dos aparelhos
eletrônicos (e-readers) confeccionados exclusivamente para esse fim, ainda que
eventualmente equipados com funcionalidades acessórias e rudimentares que auxiliam a
leitura digital (dicionários, marcadores, acesso a internet para download dos livros digitais) ou
outros suportes como o CD-Rom. Não, porém, os aparelhos multifuncionais, como tablets,
smartphones e laptops (STF, RE 330.817/RJ e 595.676/RJ, julgados em 08/03/2017).

Por outro lado, o STF tem sido restritivo fora da interpretação do objeto da imunidade, como
se pode constatar dos precedentes que se referem a serviços de distribuição e serviços
gráficos prestados a terceiros (RE 530121 AgR, Relator(a): Min. RICARDO
LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em 09/11/2010; RE 630462 AgR, Relator(a):
Min. AYRES BRITTO, Segunda Turma, julgado em 07/02/2012; AI 723018 AgR, Relator(a):
Min. JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma, julgado em 06/03/2012).

2.5. Imunidade dos fonogramas e videogramas musicais produzidos no Brasil (Art. 150,
VI, e, da CF)

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Acrescentada pela EC 75/2013.

A imunidade, aqui, é tipicamente objetiva: não importa a pessoa a quem pertença. Os valores
protegidos são a disseminação da cultura e a liberdade de expressão artística. Também
protege a indústria nacional e visa a evitar a “pirataria”.

2.6. Outras imunidades:

Impostos

Art. 153, § 3º, III, CF (IPI)


Art. 153, § 4º, II, CF (ITR)
Art. 155, § 2º, X, CF (ICMS)
Art. 156, § 2º, I, CF (ITBI)
Art. 184, § 5º, CF (ITBI)

Taxas

Art. 5º, XXXIV, CF (certidões e direito de petição)


Art. 5º, LXXVII, CF (gratuidade do HC e HD)
Súmula vinculante 12 STF: A cobrança de taxa de matrícula nas universidades públicas viola
o disposto no art. 206, IV, da CF. (DJe 22.08.2008) – Em suma, serviço que a CF diz ser
gratuito não pode ser fato gerador de taxa.

Contribuições

Art. 149, § 2º, I, CF


Art. 195, § 7º, CF

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