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Nasce a obrigação
Não nasce a obrigação Não nasce a obrigação tributária, mas lei isentiva
tributária tributária prevê que o crédito não
será constituído
A doutrina classifica as imunidades com base em diversos critérios, sendo o mais utiliza-
do em provas de concursos, a classificação como base em seu destinatário, que as relaciona
como objetivas, subjetivas ou mistas.
Inobstante isso, há ainda algumas outras classificações correntes na doutrina que, por sua
cobrança eventual, são necessárias para o estudo de provas de alto nível de exigência.
São elas, nas palavras de Francisco Leite Duarte: “Assim, quanto ao seu destinatário, as
imunidades podem ser objetivas, subjetivas ou mistas; quanto ao fato de decorrerem ou
não de princípios (origem), se classificam em imunidades ontológicas e imunidades
políticas; quanto à dependência de norma para lhe dar completude, são condicionadas ou
incondicionadas. Quanto ao alcance, são classificadas em imunidades gerais e
específicas.”
Vamos esmiuçar os aspectos importantes de cada uma dessas classificações.
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
VI – instituir impostos sobre:
d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão.
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I – exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;
VI – instituir impostos sobre:
a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros.
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
VI – instituir impostos sobre:
a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos
cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
Ocorre que, caso não estivesse presente de forma literal no texto constitucional, sua dedu-
ção não seria necessária para a realização do princípio respectivo.
As imunidades são classificadas nesse ponto, segundo a doutrina tradicional, como con-
dicionadas quando necessitam de lei integrativa infraconstitucional para fruição de alguns de
seus aspectos ou incondicionadas quando autoaplicáveis, sem nenhuma necessidade de
lei para sua total implementação.
Assim, normas incondicionadas seriam de eficácia plena e de aplicabilidade imediata,
enquanto as normas condicionadas seriam de eficácia limitada, de acordo com a posição
do STF em julgado antigo no qual analisou a fruição do benefício no que se refere ao imposto
de renda:
EMENTA: IMPOSTO DE RENDA NA FONTE. PROVENTOS. BENEFICIÁRIOS COM IDADE
SUPERIOR A SESSENTA E CINCO ANOS. ART. 153, § 2º, INC. II, DA CONSTITUIÇÃO FEDE-
RAL. LEI N. 7.713/88. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Mandado de
Segurança 22.584 (Sessão do dia 17.04.97), proclamou entendimento no sentido de que
o art. 153, § 2º, II, da Constituição Federal, ao estabelecer que o imposto de renda “não
incidirá, nos termos e limites fixados em lei, sobre rendimentos provenientes de
aposentadoria e pensão, pagos pela previdência social da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios a pessoa com idade superior a sessenta e cinco anos,
cuja renda total seja constituída, exclusivamente, de rendimentos do trabalho”, não é
autoaplicável, estando a depender de lei que fixará os termos e os limites dessa não
incidência. E, até que advenha a lei regulamentando o exercício desse direito, 6
continuam válidos os limites e restrições fixados na Lei n. 7.713/88 com suas
posteriores alterações. Recurso extraordinário conhecido, mas improvido.
(RE 200485, Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO, Primeira Turma, julgado em 09/12/1997,
DJ 20-03-1998 PP-00011 EMENT VOL-01903-06 PP-01087).
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
VI – instituir impostos sobre:
c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sin-
dicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos,
atendidos os requisitos da lei.
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
VI – instituir impostos sobre:
a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;
b) templos de qualquer culto;
c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sin-
dicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos,
atendidos os requisitos da lei;
d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão;
e) fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil contendo obras musicais ou litero-
musicais de autores brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por artistas brasileiros bem como
os suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham, salvo na etapa de replicação industrial
de mídias ópticas de leitura a laser.
§ 2º A vedação do inciso VI, “a”, é extensiva às autarquias e às fundações instituídas e mantidas pelo
Poder Público, no que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados a suas
finalidades essenciais ou às delas decorrentes.
§ 3º As vedações do inciso VI, “a”, e do parágrafo anterior não se aplicam ao patrimônio, à renda e
aos serviços, relacionados com exploração de atividades econômicas regidas pelas normas apli-
cáveis a empreendimentos privados, ou em que haja contraprestação ou pagamento de preços ou
tarifas pelo usuário, nem exonera o promitente comprador da obrigação de pagar imposto relativa-
mente ao bem imóvel.
§ 4º As vedações expressas no inciso VI, alíneas “b” e “c”, compreendem somente o patrimônio, a
renda e os serviços, relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas mencionadas.
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As imunidades específicas, por sua vez, como a própria classificação informa, relacionam-
-se apenas a um ente político ou a um tributo.
Estão dispersas pelo corpo constitucional e podem aparecer em face de uma contribuição
especial (art. 195, §7º, CF /88) ou até de uma taxa (art. 5º, XXXIV, a, CF/88), por exemplo.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XXXIV – são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos
termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
No que diz com as imunidades genéricas ou gerais, detalharemos o tema nos próxi-
mos tópicos.
De acordo com o disposto na CF/88, art. 150, vi, a, é vedado à União, aos estados, ao
DF e aos municípios instituir impostos sobre patrimônio, renda ou serviços uns dos outros.
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
VI – instituir impostos sobre:
a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros.
Apesar dessa redação, não se pode confundir aqui a incidência relativa ao contribuinte
de fato com aquela atrelada ao contribuinte de direito.
A imunidade protege os entes políticos no que diz com impostos diretos e quando este é
contribuinte de direito de impostos indiretos:
Situação peculiar ocorre, porém, quando da importação realizada pelo ente político. Em tal
caso, confunde-se a situação de contribuinte de direito com a de contribuinte de fato, atraindo,
para a Suprema Corte, a proteção da imunidade.
Mas não só os entes políticos gozam da referida proteção. O próprio texto constitucional, 9
protege, além daqueles, entidades da administração pública indireta, por força da redação de
seu art. 150, §2º.
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
§ 2º A vedação do inciso VI, “a”, é extensiva às autarquias e às fundações instituídas e mantidas pelo
Poder Público, no que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados a suas
finalidades essenciais ou às delas decorrentes.
§ 3º As vedações do inciso VI, “a”, e do parágrafo anterior não se aplicam ao patrimônio, à renda e
aos serviços, relacionados com exploração de atividades econômicas regidas pelas normas apli-
cáveis a empreendimentos privados, ou em que haja contraprestação ou pagamento de preços ou
tarifas pelo usuário, nem exonera o promitente comprador da obrigação de pagar imposto relativa-
mente ao bem imóvel.
Desse modo, é importante ter em mente algumas decisões do STF que, a despeito da
literal redação constitucional, estendeu as benesses da imunidade tributária recíproca a
outras entidades da administração pública indireta, em especial às empresas públicas.
Veja o seguinte julgado, relacionado à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT,
o qual, ainda em 2004, reconheceu a imunidade .
A desoneração não deve ter como efeito colateral relevante a quebra dos princípios da
livre-concorrência e do exercício de atividade profissional ou econômica lícita.
Com esse mesmo argumento, deferiu-se a imunidade a entidades prestadoras de
serviço de saúde e de serviço público de água e esgoto:
Note, entretanto, que quando a sociedade de economia mista não se enquadra nos requi-
sitos apontados ou visa lucro, não será beneficiada com a imunidade. Claramente é o caso
da Petrobras:
Para finalizar o ponto, ainda convém ressaltar importante decisão do STF quanto à imuni-
dade recíproca, a qual versa sobre sua aplicação à OAB:
Note, ainda, que a disposição expressa do item dois ressalta um ponto crucial que decorre
da imposição da imunidade: apesar de não existir a incidência tributária, nem a
ocorrência do fato gerador, é impositiva a necessidade de cumprimento de obrigações
acessórias por parte da entidade beneficiada.
Assim, exigir de entidade imune a manutenção de livros fiscais é compatível com o gozo da
imunidade tributária em face do disposto no Código Tributário Nacional.
O Tribunal explicitou ainda que, no Direito Tributário, inexiste a vinculação de o acessório
seguir o principal, em face de as obrigações acessórias serem autônomas.
Em que pese isso, não podemos concluir que a imunidade conferida à OAB como 14
autarquia de regime especial, com base na CF/88, art. 150, VI, a, é conferida à sua Caixa de
Assistência dos Advogados.
O alcance da imunidade recíproca às referidas caixas está pendente de posicionamento do
STF, no RE 600.010, por meio da sistemática de repercussão geral.
Em 01.12.2009, deparando-se com o tema, a Suprema Corte, ao julgar o RE 233.843,
decidiu que “por não se revelar instrumentalidade estatal, a Caixa de Assistência dos
Advogados, diferentemente da OAB, não é protegida pela imunidade tributária recíproca (art.
150, VI, a)”.
Ocorre que, em 2018, embora ainda não tenha sido julgado o RE de repercussão geral, o
próprio STF, em mudança de posição, reconheceu que a Caixa de Assistência dos
Advogados de Minas Gerais está protegida pela imunidade recíproca:
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
VI – instituir impostos sobre:
b) templos de qualquer culto.
Como se vê, tal imunidade além de genérica é eminentemente subjetiva, política, incondi-
cionada e relacionada aos templos de qualquer culto.
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
§ 4º As vedações expressas no inciso VI, alíneas “b” e “c”, compreendem somente o patrimônio, a
renda e os serviços, relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas mencionadas.
Entretanto, isso não impede a imunidade das rendas obtidas de imóveis alugados, desde
que direcionadas ao financiamento de suas atividades essenciais.
Há, ainda, caso em que o STF entendeu que se a entidade não professa nenhuma
religião, como é o caso da maçonaria, não atrai a proteção da imunidade.
Estabelecida no art. 150, VI, c, a norma constitucional veda à União, aos estados, ao
DF e aos municípios instituir impostos sobre patrimônio, renda ou serviços dos
partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores,
das instituições de educação e de assistência, sem fins lucrativos, atendidos os
requisitos da lei. Note:
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
VI – instituir impostos sobre: 17
b) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sin-
dicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos,
atendidos os requisitos da lei.
Súmula Vinculante n. 52
Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel pertencente a
qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, “c”, da Constituição Federal, desde
que o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades para as quais tais entidades foram
constituídas.
EMENTA: IMUNIDADE TRIBUTÁRIA. ART. 150, VI, C, DA CONSTITUIÇÃO.
INSTITUIÇÃO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL. EXIGÊNCIA DE IMPOSTO SOBRE
SERVIÇO CALCULADO SOBRE O PREÇO COBRADO EM ESTACIONAMENTO DE
VEÍCULOS NO PÁTIO INTERNO DA ENTIDADE.
(...)
Eventual renda obtida pela instituição de assistência social mediante cobrança de
estacionamento de veículos em área interna da entidade, destinada ao custeio
das atividades desta, está abrangida pela imunidade prevista no dispositivo sob
destaque. (...)
(RE 144900, Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO, Primeira Turma, julgado em 22/04/1997).
Note, ademais, que ainda em 2013, o STF também incluiu no campo da imunidade a ma-
nutenção de imóvel vago no patrimônio de entidade beneficiada, pois a constatação de
que um imóvel está vago ou sem edificação não é suficiente, por si só, para destituir a
garantia constitucional da imunidade.
EMENTA Imunidade. Entidade de assistência social. Artigo 150, VI, c, CF. Imóvel vago.
Finalidades essenciais. Presunção. Ônus da prova.
(...)
5. A constatação de que um imóvel está vago ou sem edificação não é suficiente, por si
só, para destituir a garantia constitucional da imunidade. A sua não utilização temporária
deflagra uma neutralidade que não atenta contra os requisitos que autorizam o gozo e a 18
fruição da imunidade. 6. Recurso extraordinário a que se nega provimento.
(RE 385091, Relator(a):Primeira Turma, julgado em 06/08/2013).
Não bastasse isso, o STF possui entendimento no qual exonera a incidência, inclusive
de impostos indiretos, se a entidade imune é o contribuinte de direito do tributo.
Recorde que, mesmo quando o ente ou entidade é imune, mas contribuinte de fato, não
gozará da imunidade.
Aqui houve posição diferente, mas relacionada com o tema que requer especial atenção,
tendo em conta ser consolidação de posição do Tribunal solucionando divergência entre suas
duas turmas.
Nesse caso, houve prevalência da tese extensiva da imunidade, com o fim de
preservação, proteção e estímulo às instituições beneficiadas, em detrimento da igualdade de
concorrência no mercado:
O Plenário do Supremo Tribunal Federal, ao apreciar o RE 210.251 – EDv/SP, fixou
entendimento segundo o qual as entidades de assistência social são imunes em
relação ao ICMS incidente sobre a comercialização de bens por elas produzidos,
nos termos do art. 150, VI, “c” da Constituição. ...
(RE 186175 ED-EDv, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em
23/08/2006).
Em que pese toda a excepcionalidade das situações estudadas, o principal ponto de con-
trovérsia do dispositivo está na necessidade de regulamentação, por lei, de requisitos para
sua obtenção.
É que, por ser imunidade condicionada, requer para sua fruição plena integração
infraconstitucional por meio de lei.
Como se sabe, a visão do Supremo, no que diz com a reserva de lei complementar,
passa necessariamente pela previsão no texto constitucional de tal espécie normativa, caso
que, como se observa, não ocorre na parte final do dispositivo ora estudado.
Menciona-se no art. 150, VI, c, os requisitos da lei.
Por outro lado, quando a Constituição fala em regulamentação de imunidades – como
espécie de limitação ao poder de tributar – exige, expressamente, a norma complementar, de
acordo com o disposto em seu art. 146, II:
Tendo isso por base, muito se discutiu se as entidades beneficentes deveriam observar
requisitos de lei ordinária ou complementar para fins de obtenção da imunidade.
O nosso Tribunal Constitucional trilhou, no caso, caminho “conciliatório” – nas palavras
de Leandro Paulsen – ao adotar a posição que exige norma complementar no que diz com
as condições materiais para o gozo do benefício e norma ordinária quando apenas
tratar de requisitos formais para a constituição e funcionamento de tais entidades.
Superada a questão, resta saber qual é a lei complementar aplicável ao tema da ma- 19
terialidade.
Com efeito, na inexistência de norma complementar específica, adotaram-se as regula-
ções do Código Tributário Nacional que, como se sabe, foi recepcionado pela ordem de 1988
com estatura de lei complementar.
Note, outrossim, os requisitos do Código para a fruição da imunidade:
Art. 14. O disposto na alínea c do inciso IV do artigo 9º é subordinado à observância dos seguintes
requisitos pelas entidades nele referidas:
I – não distribuírem qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas rendas, a qualquer título;
II – aplicarem integralmente, no País, os seus recursos na manutenção dos seus objetivos institu-
cionais;
III – manterem escrituração de suas receitas e despesas em livros revestidos de formalidades ca-
pazes de assegurar sua exatidão.
§ 1º Na falta de cumprimento do disposto neste artigo, ou no § 1º do artigo 9º, a autoridade compe-
tente pode suspender a aplicação do benefício.
§ 2º Os serviços a que se refere a alínea c do inciso IV do artigo 9º são exclusivamente, os direta-
mente relacionados com os objetivos institucionais das entidades de que trata este artigo, previstos
nos respectivos estatutos ou atos constitutivos.
Por derradeiro, convém enfrentar ainda a situação das entidades fechadas de previdência
complementar. Com efeito, a imunidade conferida às instituições de assistência social, sem
fins lucrativos, não alcança todas as entidades privadas de previdência social.
Para que o ponto fique claro, é importante entender a distinção entre Seguridade Social e
Previdência Social. A Seguridade Social é termo mais amplo que abarca não só a
previdência social, mas também a assistência social e a saúde.
Como se vê, o artigo 150, VI, c da Constituição apenas menciona, para fins de imunidade,
as entidades de assistência social. Note que são conceitos distintos.
Até por isso, o STF entende que, regra geral, as entidades de previdência social não
estão abrangidas pela imunidade ali explicitada, mantendo posição delimitada anteriormente
à promulgação da Constituição de 1988:
– Entidade de previdência privada. Sendo mantida por expressiva contribuição dos empre-
gados, ao lado da satisfeita pelos patrocinadores, não lhe assiste o direito ao reconheci-
mento da imunidade tributária, prevista no art. 19, III, “c”, da Constituição de 1967, visto
não se caracterizar, então, como instituição de assistência social. Recurso extraordinário
de que, por maioria, não se conhece.
(RE 136332, Relator(a): Min. OCTAVIO GALLOTTI, Primeira Turma, julgado em 24/11/1992).
Imunidade estabelecida no art. 150, VI, d, CF/88 define que é vedado à União, aos
Estados, ao DF e aos Municípios instituir impostos sobre livros, jornais, periódicos e o
papel destinado à sua impressão.
Como se vê, tal imunidade além de genérica é eminentemente objetiva, política,
incondicionada e relacionada aos livros, jornais, periódicos e papel destinado à sua
impressão.
A base valorativa de tal imunidade política é a proteção da livre manifestação do pensa-
mento e da expressão da atividade intelectual, artística e científica; da livre comunicação e do
acesso à informação, todos direitos fundamentais elencados no art. 5º da Constituição Federal.
Por estar classificada como imunidade objetiva, não se cobra o imposto em face de ope-
rações realizadas com seus objetos, como em uma saída de livros. Aí não irá incidir o ICMS.
Inobstante isso, poderá existir tributação por meio do imposto de renda para a editora res-
ponsável pelo ato anterior que estava ao abrigo da imunidade, pois este incide sobre a
pessoa, e não sobre o objeto.
EMENTA: TRIBUTÁRIO. ANISTIA DO ART. 150, VI, D, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
IPMF. EMPRESA DEDICADA À EDIÇÃO, DISTRIBUIÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE
LIVROS, JORNAIS, REVISTAS E PERIÓDICOS. Imunidade que contempla,
exclusivamente, veículos de comunicação e informação escrita, e o papel destinado a
sua impressão, sendo, portanto, de natureza objetiva, razão pela qual não se estende
às editoras, autores, empresas jornalísticas ou de publicidade – que permanecem
sujeitas à tributação pelas receitas e pelos lucros auferidos. (...)
(RE 206774, Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO, Primeira Turma, julgado em 03/08/1999).
Ademais, como está o objeto abrangido pela imunidade, não pode o intérprete restringir a
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sua aplicação em face de qualquer valoração de seu conteúdo. Nesse passo, tanto álbuns de
figurinhas quanto as apostilas também estão abarcadas pelo instituto.
Mais do que isso. O STF entende também que listas telefônicas, por “sua inegável utilidade
pública”, estão também ao abrigo da proteção constitucional.
TRIBUTÁRIO. MUNICÍPIO DE SÃO PAULO. EXIGÊNCIA DE IMPOSTO SOBRE
SERVIÇOS (ISS) SOBRE A EDITORAÇÃO, COMERCIALIZAÇÃO, PRODUÇÃO
INDUSTRIAL E DISTRIBUIÇÃO DE LISTAS TELEFÔNICAS. INQUINADA OFENSA AO
ART. 19, III, D, DA CARTA DE 1969.
Orientação jurisprudencial do STF, no sentido de que não estão excluídos da imunidade
constitucional as publicações “que cuidam de informações genéricas ou especificas,
sem caráter noticioso, discursivo, literário, poético ou filosófico, mas de inegável utilidade
pública, como e o caso das listas telefônicas”.
(...)
(RE 134071, Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO, Primeira Turma, julgado em 15/09/1992).
Decorre também da redação constitucional a imunidade ao papel destinado à impres-
são dos livros, jornais e periódicos. Nesse quesito, o STF não tem vazado julgamentos tão
extensivos.
Aqui a regra é a limitação da benesse apenas ao papel e aos materiais a ele relacionados,
como os filmes e papéis fotográficos necessários à impressão de jornais e periódicos.
O ponto de partida dessa interpretação é a expressa menção apenas ao papel no
dispositivo constitucional.
De qualquer forma, ainda assim, o STF entendeu que há certa abrangência no que diz com
os insumos assimiláveis ao papel, com exceção da “tinta para jornal”.
Note a redação da súmula 657: 22
Houve certa divergência, por um tempo, nos julgados do Supremo Tribunal Federal, se a
interpretação do dispositivo que prevê imunidade a livros, jornais e periódicos deveria ser
restritiva ou extensiva, já tendo, inclusive, a Corte Maior reconhecido a imunidade para
equipamentos de preparo e acabamento de chapas de impressão offset para jornais.
Atualmente, o posicionamento do STF é de que a interpretação do 150, VI, d, deve
mesmo ser restritiva, conforme se depreende da ementa do julgamento do AI 735.816 AgR:
Perceba que no julgado destacou-se que esse entendimento não é aplicável aos
aparelhos multifuncionais, como tablets, smartphone e laptops, por entender que vão muito
além de meros equipamentos utilizados para a leitura de livros digitais.
Para fins de concurso é MUITO importante fixar as teses delimitadas pela Corte Maior:
1) RE 330817: “A imunidade tributária constante do artigo 150, VI, “d”, da Constituição
Federal, aplica-se ao livro eletrônico (e-book), inclusive aos suportes exclusivamente
utilizados para fixá-lo.”
2) RE 595676 “A imunidade tributária da alínea “d” do inciso VI do artigo 150 da Consti-
tuição Federal alcança componentes eletrônicos destinados exclusivamente a integrar
unidades didáticas com fascículos”.
Por fim, ainda em 2020, a tese relacionada no RE 330.817 acabou por ser base para a pu-
blicação da súmula vinculante número 57:
Súmula Vinculante n. 57
A imunidade tributária constante do art. 150, VI, d, da CF/88 aplica-se à importação e
comercialização, no mercado interno, do livro eletrônico (e-book) e dos suportes exclusi-
vamente utilizados para fixá-los, como leitores de livros eletrônicos (e-readers), ainda que
possuam funcionalidades acessórias.
1.7.5. Imunidade das Obras Musicais e Literomusicais
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
VI – instituir impostos sobre: ...
e) fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil contendo obras musicais ou litero-
musicais de autores brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por artistas brasileiros bem como
os suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham, salvo na etapa de replicação industrial
de mídias ópticas de leitura a laser.
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A norma estabelece que não poderão incidir impostos sobre determinados tipos de fono-
gramas ou videofonogramas musicais produzidos no Brasil.
Perceba que a referida imunidade só se refere a impostos. E mais, ela somente vale para
impostos relativos à comercialização ou produção dos discos, como IPI, ICMS e ISS.
Portanto, as gravadoras não estão imunes ao IR, IPVA, IPTU, taxas, contribuições etc.
Apesar de na Lei Complementar 116/2003 (Lista de Serviços sujeitos ao ISS), constar como
passível de cobrança do ISS as atividades descritas em seu item 13.02 – “Fonografia ou gra-
vação de sons, inclusive trucagem, dublagem, mixagem e congêneres”, a partir da EC
75/2013, quem executa essas atividades de produção não está mais obrigado ao
recolhimento do ISS.
Salientamos que fonograma é todo som reproduzido em CD, DVD ou nas antigas fitas-
cassete. Já o videofonograma é quando há ao mesmo tempo som e imagem, como filmes em
DVD, blu-ray ou fitas VHS.
A imunidade abrange somente obras musicais ou literomusicais (músicas com letra), logo,
não abrange um CD/DVD de um curso, documentário ou recitação de poesias, por exemplo.
Organizando os requisitos, temos que serão imunes:
Como se vê, tal imunidade além de genérica é eminentemente mista, política, incondicio-
nada e relacionada a fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil contendo
obras musicais ou literomusicais de autores brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por
artistas brasileiros bem como os suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham.
Há que se ressaltar que a norma imunizante é considerada mista por parte relevante da
doutrina concurseira, em especial Ricardo Alexandre, mas que existem vozes divergentes –
como a de Eduardo Sabbag – que a consideram apenas objetiva com interessantes
argumentos:
Nesse passo, é fácil perceber que a imunidade musical é objetiva, e não subjetiva, significando
que apenas os objetos afetos à arte musical (fonogramas e videofonogramas; CDs e DVDs) serão
protegidos e não as próprias pessoas responsáveis pela produção dessa arte (v.g., os artistas e
grupos musicais).
Por ser norma relativamente recente no sistema constitucional, não há manifestação so-
bre o tema dos tribunais superiores, estando pendente de julgamento desde 2014 a ADI 25
5.058 interposta pelo estado do Amazonas que alega ser inconstitucional a instituição de tal
imunidade. Ressalte-se que existe manifestação de improcedência nos autos exarada pelo
Ministério Público.
De qualquer forma, algumas ideias são consensuais: é vedada a instituição de impostos
sobre fonogramas ou videofonogramas musicais contendo obras musicais ou literomusicais
de autores brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por artistas brasileiros, desde que
produzidas no Brasil, independente do meio de propagação.
Assim, tanto CDs, DVDs, cassetes ou até o disco em vinil estão protegidos pela
imunidade,
desde que contenham músicas.
No caso dos arquivos digitais (transferência eletrônica de dados) houve certa celeuma,
mas atualmente a doutrina entende que também nesses casos não poderá haver a
incidência de impostos. Logo, serão imunes as músicas obtidas por meio do Spotify, por
exemplo.
Ponto importante para se salientar é a necessária observância da produção da obra se
dar no território nacional, sendo as obras nacionais ou estrangeiras interpretadas por
autores nacionais.
Ainda, é crucial entender a parte final do dispositivo, que exclui do âmbito da imunidade
a replicação industrial de mídias ópticas de leitura a laser.
Logo, quando da produção pela indústria de CD ou DVD virgem, haverá a incidência normal.
Note que no caso do VHS, vinil ou fitas cassetes, não há essa exceção.
Para não confundirmos quais impostos incidem em cada etapa de produção de um CD,
DVD ou Blu-ray musical, vejamos o que dizem Alexandre Meirelles e Daniel Petitinga na obra
“Manual de Legislação Tributária Estadual”, Ed. Juspodivm, pg. 191:
Para entendermos essa forma de imunidade, antes devemos compreender esse segmento do
mercado. Inicialmente (primeira etapa), o artista vai a um estúdio musical gravar seu fonograma
(apenas som) ou seu videofonograma (som e imagem). Em seguida (segunda etapa), grava-se a
obra musical no meio que será utilizado (CD, DVD ou Blu-Ray). Assim, por exemplo, o CD que
estava virgem, após essa gravação, conterá o fonograma a ser reproduzido. Por fim, parte-se para a
terceira etapa, que é a distribuição e revenda do material gravado para o consumidor final.
Antes da EC 75/2013, na primeira etapa incidia ISS, na segunda havia a incidência do ICMS e do
IPI e na terceira etapa era permitida a cobrança do ICMS. Após a referida Emenda Constitucional,
não há mais a incidência do ISS sobre a primeira etapa e ICMS sobre a terceira etapa.
E na segunda etapa, há incidência do ICMS e do IPI? Sim, afinal a alínea é clara na expressão:
“salvo na etapa de replicação industrial de mídias ópticas de leitura a laser”, que nada mais é que a
segunda etapa mencionada. Quando a fábrica vende ou remete para as revendedoras o produto
resultante da sua industrialização (CDs, DVDs e Blu-Rays), há incidência normalmente. Já a venda
da revendedora para o consumidor final é imune.
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Base Constitucional Imunidade Tributo alcançado
Contribuições sociais
Art. 149, §2º, I Receitas decorrentes de exportação. e de intervenção no
domínio econômico
Exportação de produtos
Art. 153, §3º, III IPI
industrializados.
operações de transferência de
Art. 184, §5º imóveis desapropriados para fins de Impostos
reforma agrária.
“A imunidade musical possui característica objetiva, pois afeta apenas os objetos relacio-
nados à música, a saber, o ICMS, entre outros. Aqueles tributos incidentes sobre a gravadora
(IPTU, IPVA, Taxas, Contribuições) continuarão a existir normalmente, porquanto a norma
imunizante é clara ao desonerar apenas as obras musicais e os objetos afetos a ela”
(Eduardo Sabbag, em Manual de Direito Tributário, 9ª Edição, página 412, Saraiva Jur
Editora).