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Tema: Diferença entre Isenção e Imunidade Tributária.

Desigualdade Social e Carga


Tributária Brasileira.

Docente: Silva, Elton

Camila Pereira Santiago¹, Edilene Vechiato²

¹Fape, Presidente Epitácio, SP, Discente do 7° Termo de Direito, e-mail: milla-


santiago@outlook.com
²Fape, Presidente Epitácio, SP, Discente do 7° Termo de Direito, e-mail:
edivechiato@gmail.com

Resumo
O presente trabalho visa estudar a distinção entre imunidade e isenção tributária. Uma
análise sobre o arcabouço legal que institui a cobrança de impostos no âmbito nacional, de
caráter compulsório, a fim de arrecadar fundos que voltem como investimento ao bem-estar
social. Abordaremos como a aplicabilidade da cobrança tributária está disposta num país de
extrema desigualdade social, e se os tributos nacionais possuem este viés de Investimento no
Estado de Bem-Estar Social ou carrega um cunho punitivista.

Palavras-chave: imunidade. isenção. tributário. distinção. desigualdade social.

Abstract
The present work aims to study the distinction between immunity and tax exemption.
An analysis of the legal framework that institutes the collection of taxes at the national level,
of a compulsory nature, in order to raise funds that return as an investment to social welfare.
We will discuss how the applicability of tax collection is arranged in a country of extreme social
inequality, and whether national taxes have this investment bias in the Welfare State or a
punitive nature.
Key words: immunity. exemption. tax. distinction. social inequality.

INTRODUÇÃO
Nossa análise inicial irá definir o conceito de tributos mediante a legislação vigente,
bem como a competência de cada ente em tributar. Em seguida, faremos um estudo comparativo
sobre imunidade e isenção tributária, e qual o impacto da carga tributária nacional para a
sociedade brasileira.

DESENVOLVIMENTO
O que é tributo?
Para iniciarmos nosso estudo se faz necessário esclarecer o que é tributo e quem pode
instituir esta cobrança.
O Art. 3º do Código Tributário Nacional, cito a Lei 5.172, de 25 de outubro de 1966-
CTN preconiza que tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor
nela se possa exprimir, que não se constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada
mediante atividade administrativa plenamente vinculada.
Verificamos então que o princípio da legalidade explicita que o tributo deve ser criado
por lei, e que este não possui caráter de sanção. Não podemos dizer que ao matar alguém você
poderá pagar um tributo, pois não é esta a finalidade destas receitas.
O Sistema tributário Nacional é positivado pela Emenda Constitucional nº18, de 1º de
dezembro de 1965, em leis complementares, em resoluções do Senado federal e, nos limites das
respectivas competências, sejam elas leis de âmbito federal, estadual ou municipal.
O Art. 5º define que tributos são impostos, taxas e contribuições de melhoria.
O Código Tributário Nacional, em seu Art. 16 define que "imposto como o tributo cuja
obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal
específica, relativa ao contribuinte”, ou seja, o valor pago não volta como benefício exclusivo
a quem o pagou, mas sim em benefício coletivo (geral), como o custeio de políticas públicas
por exemplo.
Geralmente os impostos são gerados por fatos como: o patrimônio, a renda e o consumo,
e tem por objetivo atender as despesas gerais do Estado (União, Estado, Distrito Federal e
Município) por isto somente a pessoa jurídica de direito público interno com competência
constitucional pode exigir tal cobrança.
Os impostos chamados de impostos nominais estão descritos na Constituição
Federal nos artigos 153, 154 e 156. Há ainda, os impostos instituídos exclusivamente União
(chamada competência residual) e são chamados de impostos inominados, previstos no artigo
154, também da Magna Carta de 1988.
Há vários tipos de impostos, dentre eles o imposto estadual, o imposto de renda, o
imposto sobre a propriedade de veículos automotores, o imposto sobre circulação de
mercadorias e serviços, o imposto federal, o imposto de exportação, o imposto de importação,
o imposto municipal, o imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana, etc.
Assim como explica o Ministério Público do Paraná, as taxas, por sua vez, têm como
finalidade uma contrapartida específica do poder público. A taxa de iluminação, por exemplo,
só pode ser utilizada especificamente em investimento de iluminação pública, assim como as
taxas de coleta de lixo que destinam-se àquele fim, a de água e esgoto, da mesma maneira. A
competência para cobrança das taxas é do ente que presta ou disponibiliza o serviço.
As contribuições de melhoria (Art. 145, III C.F) são, também, espécies de tributos
vinculados, pois dependem de uma atividade específica do Estado que é a realização de obra
pública que aumente o valor dos imóveis pertencentes aos contribuintes, ou seja, deve gerar
uma valoração imobiliária. Contudo, é importante ressaltar que essa contribuição decorre da
obra pública e não para ela, ou seja, a contribuição não pode ser cobrada a fim de executar uma
obra futura, ela deve estar concluída, e este tributo não pode ser maior a valorização do imóvel
para que não seja caracterizado confisco. A contribuição de melhoria só poderá incindir e ser
dividida entre os contribuintes que se beneficiaram daquela obra, não sendo justa a cobrança
coletiva (de todos).
Imunidade tributária.
A Imunidade tributária é uma norma negativa de competência, está positivada, descrita
na Constituição Federal, e diz respeito ao fato do não dever de tributar. O objetivo é “garantir
direitos sociais e fundamentais, como a liberdade religiosa e de expressão, acesso à cultura e
democracia política”.
A CF de 1988 não institui tributo, mas atribui competência aos entes federativos isso.
Portanto, a União, Estados, Distrito Federal e Municípios fixam leis para instituírem a
arrecadação de tributos em seus territórios de acordo com seus limites de competência, desde
que estejam previstos constitucionalmente.
Contudo, a própria Constituição Federal define limitações ao exercício dessa
competência de tributar, ou seja, preconiza situações que não podem ser objeto de incidência
de tributos. A esta norma negativa de competência, da-se o nome de “imunidade tributária”.
O termo “imunidade” não é citado no texto constitucional em momento algum, mas faz
referência “a não incidência (ex: art. 153, § 3º, III), vedação à instituição ou mesmo ao termo
isenção,” implícito na Carta Magna.
Diferença de imunidade tributária e isenção tributária
Trata-se de dois institutos inseridos distintamente no ordenamento jurídico: a imunidade
tributária possui previsão constitucional, já a isenção possui origem na legislação, ou seja,
origem legal.
No entanto, a diferença mais nítida entre estes dois institutos está na sua natureza: “a
imunidade tributária é norma negativa de competência, já a isenção pode ser descrita como uma
desoneração infraconstitucional”, ou seja, a isenção está preconizada em legislação específica
fora da constituição, mas sem infringi-la.
A imunidade não descreve ao ente federativo em aplicá-la ou não, pois a Constituição
Federal já lhe priva desta competência; enquanto a isenção, em regra, trata-se de uma opção do
ente federativo que, apesar de ter a competência de tributar determinada situação, bem ou
pessoa, opcionalmente decide por não o fazer.
A imunidade tributária só pode ser alterada mediante Emenda Constitucional, já a
isenção, temporariamente ou enquanto vigorar a Lei que a institui.
As imunidades tributárias mais comuns estão previstas O art. 150 VI da CF elenca
taxativamente quais são as principais imunidades tributárias: São elas:
● imunidade tributária recíproca;
● imunidade tributária religiosa;
● imunidade tributária dos partidos políticos, sindicatos de trabalhadores e entidades
educacionais e assistenciais, sem fins lucrativos;
● imunidade tributária cultural.
Quem tem direito à isenção tributária?
As empresas e pessoas físicas podem ser destinatárias da isenção tributária. No caso de
empresa, se trata de um incentivo fiscal concedido por parte do governo, a fim de estimular o
desenvolvimento do empreendimento.
Principais exemplos de isenção tributária e seus destinatários, que têm o direito legal de
concessão deste benefício:
Compra de carro sem impostos, destinados a autistas ou que apresentam deficiência
visual, mental e física severa ou profunda estão isentos do pagamento de tributos como o IPI e
IOF, que incidem sobre o carro zero Km.
Isenção do Imposto de Renda: Alguns indivíduos que apresentam CIDs específicas,
podem requerer a dispensa do pagamento do IR. Dentre elas, as pessoas “que apresentam
quadro clínico de cegueira, cardiopatia, AIDS, alienação mental, mal de Parkinson, esclerose
múltipla, fibrose cística, hanseníase, tuberculose, neoplasia maligna e outras doenças”.
Dispensa do pagamento de ICMS: Pessoas com quadros de deficiência auditiva, física,
visual ou mental, e autistas, têm o direito de pedir a isenção do pagamento do imposto
estadual ICMS para a compra de veículos que não ultrapasse a R$70.000,00. O pedido será
aceito, desde que a Receita Federal já tenha concedido a isenção.
Isenção ou desconto no IPVA: A Receita poderá oferecer descontos e isenção no
pagamento do IPVA para taxistas, autistas e portadores de deficiência grave.
Empresas também podem requerer isenção tributária em alguns casos, a lei de incentivo
mais conhecida no país é a Lei Rouanet.
O que é remissão tributária?
Imunidade e isenção são institutos que não se relacionam com a remissão tributária ,
denominado perdão legal do débito tributário. Este por sua vez, é considerado uma causa
extintiva do crédito tributário.
A remissão tributária é um benefício concedido aos sujeitos que não possuam
condições financeiras para arcar com o pagamento. Também pode “ser oferecida, em caso de
erro ou ignorância escusáveis do sujeito passivo, características do território do ente que cobra
o tributo, condições de equidade, etc”.
Ora, com tantos benefícios tributários a tantos destinatários prioritários, porque o país
ainda vive em meio a um caos social? Vamos tentar entender melhor no próximo título.
A carga Tributária do País e sua correlação com a Desigualdade Social.
Bem vindo ao Brasil, aqui costumamos dizer que bastou nascer e pronto! Já estamos
pagando impostos. Em nosso país pagar taxas ao governo parece tão normal quanto respirar, se
fizermos um levantamento aproximado da quantidade de TRIBUTOS existentes em nosso país
atualmente, podendo ser cobrados licitamente pelo governo, chegamos a um número em torno
de 80[...]. (CREMASCO, 2017. grifo do autor.) O autor completa seu pensamento perguntando:
imagine decorar tudo isso? Eu pergunto mais, e bem pior: imagine pagar tudo isso?
Para entender este panorama, vamos retomar uma breve análise do que são tributos:

Tributo é tudo aquilo que o governo arrecada para si para que possa prestar serviços
públicos essenciais aos seus cidadãos, como educação, saúde, segurança, entre outros.
Esta arrecadação ocorre por meio de alguns tipos de cobranças que o Estado tem o
direito de fazer sobre seus cidadãos, como Imposto de Renda, INSS, IPTU, IPVA,
Imposto sobre Importação, entre muitos outros. Estas cobranças são subdivididas em
três tipos: impostos, taxas e contribuições. (CREMASCO, 2017. Grifo do autor).

Vale ressaltar que imposto é uma cobrança obrigatória, por exemplo, se você possui
uma casa, você é obrigado a pagar IPTU anualmente, (Imposto predial territorial urbano) apenas
pelo simples fato de possuí-la, sob pena de execução da dívida e perca do bem/patrimônio. Os
impostos incidem sobre o patrimônio, sobre a renda (imposto de renda) ou sobre o consumo.
Ou seja, está presente em tudo, desde o local que você mora, até o que você come, usa, veste.
Por toda parte os impostos perseguem os brasileiros e não há como escapar (pelo menos para
os pobres não há) de suas custas. Já as taxas são cobradas de acordo com os “serviços
prestados”:

[...]Essa espécie tributária apenas se caracteriza como tal quando é cobrada e


instituída pelo Poder Público (União, Estados, DF e Municípios). Assim, excluímos
de pronto as taxas bancárias, as taxas de matrícula e quaisquer outras que decorram
da prestação de um serviço privado. A taxa, como um tributo, sempre pressupõe a
existência de uma atividade pública, ou seja, que tenha iniciativa do Poder Público.
(ZAPPELINI, 2015. grifo do autor).

Tem por característica a prestação de serviços, como por exemplo a taxa de coleta de
lixo, a taxa bancária, taxa de matrícula, etc. Pressupõe que para ter seu lixo recolhido você deve
pagar por isso, caso não queira pagar, “fique com seu lixo e se vire com ele”. E este tipo de
serviço não pode ser pago com recursos de tributos, com o dinheiro que todos pagam, pois
pressupõe que nem todos têm este serviço disponível, portanto quem tem que pague. Soa mais
como uma forma de ter o direito de cobrar do brasileiro algo mais que possa lhe ser “arrancado”;

[...]no serviço de coleta de lixo, conseguimos verificar que o beneficiado é o


proprietário da residência em que se recolhem os dejetos. Da mesma maneira o serviço
de coleta de esgoto e os serviços notariais, em que são beneficiados o proprietário do
imóvel e o destinatário dos serviços notariais, respectivamente. A ideia que está por
trás da taxa de serviço é a de que, como apenas uma pessoa em particular é beneficiada
por aquela atuação, não seria justo utilizar o dinheiro advindo dos impostos, que são
pagos por todos sem nenhum retorno específico, para beneficiar apenas um cidadão.
Também por isso, a taxa apenas é exigida daquela pessoa que se beneficiar de um
serviço público específico e divisível. Quem não for, não precisará pagar nenhuma
taxa. Como exemplos temos a taxa de coleta de lixo, a taxa de coleta de esgoto, taxa
judiciária, os emolumentos pagos a um cartório, entre outros que se encaixarem nos
requisitos apresentados. ( ZAPPELINI, 2015. grifo do autor. Disponível em
http://www.politize.com.br/taxa-especies-tributarias/. Acesso em 20 de março 2022).

...Ora são os impostos, ora são as taxas e ainda, como se restasse algo que ficasse livre
de impostos no Brasil, existem as contribuições para não escapar nada mesmo das garras do
“leão”. É, pois bem, aqui na “terra do carnaval”o brasileiro samba o ano todo para tentar pagar
seus impostos. Quem é que nunca ouviu isto não é mesmo? seria cômico se não fosse trágico.
As contribuições nos remetem a pensar que, se trata de um valor pago por contribuir de livre e
espontânea vontade para se ter algum benefício em troca. Neste caso podemos citar as
contribuições anuais de interesse das categorias profissionais, as Sindicais, de Classes,
Conselhos, CRM, CRO, CFESS (Conselho Federal de Serviço Social), dentre muitos outros
como PIS, PASEF, COFINS, CPMF que foi extinta e que tanto assombra em retornar.

As Contribuições pressupõem sempre uma atuação do Poder Público em algum setor


específico. Ou seja, para que se crie uma Contribuição é essencial que haja alguma
contrapartida do Estado, mas nesse caso a atuação é genérica, diferente do que ocorre
com a Taxa. Aqui o contribuinte é um beneficiário mediato, indireto, da atuação do
Poder Público. [...]Como consequência lógica do pressuposto finalístico, todos os
recursos arrecadados pelas Contribuições devem, impreterivelmente, ser destinados à
atuação pela qual ela se fundamentou. Trata-se de outra característica peculiar dessa
espécie, denominada de afetação de recursos. ( ZAPPELINI, 2016. grifo do autor).

E o que dizer da INSTITUIÇÃO da COSIP, Contribuição de custeio do Serviço de


Iluminação Pública? Segundo Zappelini (2016), “O Congresso Nacional se sensibilizou com a perda
de receita das Prefeituras e resolveu constitucionalizar aquilo que foi declarado inconstitucional pelo Supremo
Tribunal Federal, editando Emenda Constitucional que criou a COSIP.” Constitucionalizar o que é
inconstitucional é algo hediondo, saber que os representantes legais do povo em nosso país
aprovam tão facilmente, leis que agridem o direito da população quando o assunto é “inventar”
novos impostos, taxas e contribuições além de todas já existentes.
O problema é que muito se paga de impostos no Brasil e muito pouco retorna em
investimentos e benefícios ao trabalhador, que é o que mais sofre com a desigual taxa cobrada
no país. Se correlacionarmos o que tantos impostos trazem de benefício ou prejuízo aos
brasileiros, podemos afirmar que “carga tributária no Brasil é muito mais desigual do que propriamente
alta, quando se comparada a outros países. E os pobres, que arcam com a maior parte dos tributos, desconhecem
que pagam a conta que os ricos tanto rejeitam (ANJOS e FARIA, 2015). Não estamos dizendo que é
possível gerir uma nação sem instituir impostos. Pagar impostos faz parte de um país que
busca instituir a cidadania plena, desde que haja retorno à sua população em relação ao
que se paga. “Pagar impostos é um ato de cidadania – não há cidadania plena sem pagamento de impostos
(POCHMMAN apud ANJOS e FARIA, 2015). A problemática é que existe uma “suposta ineficiência
estatal em prover serviços que correspondam à quantidade de recursos advindos dos tributos.”(JOÃO SICSÚ
apud ANJOS E FARIA, 2015).
Aprofundando o tema no que diz respeito a desigualdade social, segundo Laporta
(2017), a parcela mais pobre da população gasta 32% de tudo que recebe em tributos, já os mais
ricos gastam apenas 21% de sua renda para este fim. No que diz respeito a outros impostos,
28% de tudo que “ganham” os mais pobres é consumido em impostos indiretos (cobrados sobre
produtos e serviços), já os mais ricos pagam apenas 10% do seu rendimento com este tipo de
imposto.
Lembrando que segundo o autor, os negros e as mulheres são os mais penalizados por essa
diferença, mostra o estudo da Oxfam, já que eles somam três de cada quatro brasileiros na faixa menos favorecida.
Na outra ponta, os homens brancos são dois em cada três dos 10% mais ricos do Brasil.
Este estudo aponta, que a desigualdade social é agravada para negros e mulheres que se
encontram na classe menos favorecidas dentro da pirâmide social brasileira. No que diz respeito
a impostos sobre bens e patrimônio o abismo da desigualdade social também se revela:

[...]Quem ganha 320 salários mínimos por mês paga a mesma alíquota efetiva
de Imposto de Renda (após descontos, deduções e isenções) de quem recebe cinco
salários mínimos, aponta a Oxfam. Isso acontece porque a alíquota do IR pára de
crescer para quem ganha acima de 40 salários mínimos. Os mais ricos – boa parte
empresários e acionistas – são também os mais beneficiados com as isenções sobre
lucros de empresas e dividendos de ações. Na prática, apesar de ser uma renda, eles
não precisam pagar imposto sobre estes ganhos,[...] O estudo aponta, ainda, citando
dados da Receita Federal de 2016, que quem tem renda acima de 80 salários mínimos
mensais (R$ 63.040) é beneficiado com isenção média de 66%. Para os que ganham
320 salários (R$ 252.160), o benefício vai a 70%.Na outra ponta, a isenção para a
classe média – quem recebe entre R$ 2.364 e R$ 15.760 é de 17%, e cai para 9% para
quem ganha entre 1 e 3 salários mínimos mensais (R$ 788,00 a R$ 2.364,00), segundo
o estudo. ( LAPORTA, 2017. Grifo do autor).

No caso do empresariado, ele ainda repassa o valor dos impostos no valor final de seus
produtos ofertados no mercado, tendo um “reembolso do que se paga, ou boa parte dele”. Já no
caso da população trabalhadora, alienada de bens e serviços, estes impostos “saem de seus
míseros salários”:

Justamente por conta da principal forma de tributação sobre os brasileiros mais pobres
estar relacionada ao consumo, não se percebe a quantidade de impostos pagos. São as
chamadas taxas “invisíveis”. “Uma tarefa do movimento sindical é mostrar para o
trabalhador que é ele quem paga o imposto. 42% do total de impostos são referentes
à habitação, junto com alimentação e transporte dá em torno de 70% da carga
tributária sobre os itens básicos da vida humana entre os trabalhadores que recebem
até dois salários mínimos”[...] ( HUERTAS, ANJOS e FARIA, 2015).

Desta forma os assalariados e as pessoas que possuem como rendimentos apenas o


bolsa família, deixa quase todo orçamento familiar comprometido em impostos, ameaçando
ainda mais a sobrevivência dos pobres nesta perspectiva neoliberal, que conforme já dizia a
música:

[...]Analisando
Essa cadeia hereditária
Quero me livrar
Dessa situação precária
Analisando
Essa cadeia hereditária
Quero me livrar
Dessa situação precária
Onde o rico cada vez
Fica mais rico
E o pobre cada vez
Fica mais pobre
E o motivo todo mundo já conhece[...]
(AS MENINAS, 15 de maio de 1999)

Se o país continuar com esta lógica desigual de cobranças de impostos, onde quem mais
paga e menos recebe é o pobre, iremos cada vez mais aprofundar o abismo da desigualdade
social no Brasil, principalmente no que diz respeito a direitos sociais como educação, saúde,
previdência, que forma o tripé da Seguridade Social, fortemente desestruturada devido aos
“desvios legais de recursos destinados a estas políticas públicas”.Transformar este cenário não
parece nada fácil, entretanto é completamente possível, através de uma reforma tributária
urgente:

O Brasil deve buscar um modelo tributário que assegure a sustentação do Estado e


que priorize os Direitos Humanos, Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais
(DHESCAs). A reforma tributária deveria começar pela reafirmação de diversos
princípios tributários já estabelecidos na Constituição brasileira e que nos últimos
anos não vêm sendo observados. O pilar do sistema tributário deve ser o Imposto de
Renda, pois é o mais importante dos impostos diretos, capaz de garantir o caráter
pessoal e a graduação de acordo com a capacidade econômica do contribuinte, além
da expansão da tributação sobre o patrimônio. O sistema tributário não pode conceder
tratamento privilegiado à renda dos capitalistas, de forma que todos os rendimentos
de pessoa física devam ser feitos obrigatoriamente na tabela progressiva do IR, que
deveria ser ampliada em números de faixas e alíquotas. A política tributária há de ser,
antes de tudo, um instrumento de distribuição de renda e indutora do desenvolvimento
econômico e social do país. (SALVADOR, Evilásio. 2018).

CONCLUSÃO
A carga tributária é de extrema importância para gerar riquezes e distribuição de bens e
serviços para a nação, sobretudo, a um país territorialmente grande e de classes extremamente
desiguais. Contudo, percebemos que no Brasil, os tributos contribuem para agravar estes
problemas de desigualdade social. Segundo o relatório de desenvolvimento humano das Nações
Unidas, o Brasil apresenta uma das dez piores posições do mundo no ranking que estuda a
questão da distribuição de renda . Isto nos faz refletir que embora o país tenha uma carga
tributária, a nação não possui investimentos suficientes para seu desenvolvimento econômico e
social. Não é justo que quem vive de uma renda inferior pague mais impostos, taxas e
contribuições. Ora o direito nasce das demandas dos cidadãos e de sua complexidade. Portanto
o direito deve atender aos anseios da sociedade a que pertence. Destarte, o debate sobre a
Reforma Tributária é urgente e deve ser pautado nos princípios da Justiça Social, com equidade
e capacidade contributiva visando priorizar a distribuição de renda, assegurando direitos e o
estado do Bem-Estar Social. Só desta forma será possível uma vida mais justa e digna a
população brasileira, sobretudo, àqueles que mais necessitam dos serviços públicos.
REFERÊNCIAS

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- TROSTER, Roberto Luís. Xibom bombom. Economia. O Estado de S.Paulo


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http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,xibom-bombom-imp-,1549095; acesso em 24
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Presidente Epitácio – SP
2022

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