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No livro Cidade Antiga, Aristóteles ensina que se deve procurar, não o

que é conforme ao costume dos antepassados, mas o que é bom em si.


Aristóteles menosprezava absolutamente a origem religiosa da sociedade
humana.
A escola cínicos vai ainda mais longe: ela nega a prátia. O modo de pensar
dos cínicos é apenas mais um dos vários que surgiram no período
helenístico. Juntamente com epicuristas e estoicos, o cinismo é
considerado como escola filosófica e não por ser constituído por uma
doutrina sistemática, mas pela opção de um modo de vida que se
manifestava contra as transformações ocorridas na Grécia no período do
domínio macedônico.
Os estóicos retornaram à política. Zenão, Cleanto e Crísipo escreveram
numerosos tratados sobre o governo dos Estados. Mas seus princípios
estavam muito afastados da política municipal. Eis em que termos um
antigo nos informa a respeito das doutrinas contidas em seus escritos:
“Zenão, em seu tratado sobre o governo, propõe-se demonstrar-nos que
não somos habitantes de tal demo ou de tal cidade, separados uns dos
outros por um direito particular e leis exclusivas, mas que devemos ver
em todos os homens concidadãos, como se todos pertencêssemos à
mesma cidade.
O estoicismo, alargando a associação humana, liberta o indivíduo. Como
rejeita a religião da cidade, rejeita também a servidão. Não quer mais que
a pessoa humana se sacrifique ao Estado.
Seu primeiro rei foi latino; o segundo, de acordo com a tradição, foi
sabino; o quinto era, como se diz, filho de grego; o sexto foi etrusco.
Sua língua era um composto dos elementos mais diversos, dominando o
latim; mas as raízes sabelianas eram numerosas, e nela se encontravam
mais radicais gregos que em qualquer outro dos dialetos da Itália central.
Quanto a seu próprio nome, não se sabia a que língua pertencia. De
acordo com uns, Roma era palavra troiana; segundo outros, era grega; há
razões para julgá-la latina, mas alguns antigos julgavam-na etrusca.
Roma entrou depois na longa série de suas guerras. A primeira foi contra
os sabinos de Tácio; terminou por uma aliança religiosa e política entre os
dois pequenos povos(11). Em seguida lutou contra Alba; os historiadores
dizem que Roma ousou atacar essa cidade, embora fosse uma de suas
colônias. Talvez essa mesma fosse a razão pela qual Roma julgou
necessário à sua grandeza destruí-la. Toda metrópole, com efeito, exercia
sobre as colônias uma supremacia religiosa; ora, a religião tinha então
tanta força, que, enquanto Alba existisse, Roma não podia ser mais que
uma cidade dependente, e seus destinos estavam para sempre
embargados.
Roma é a única cidade que soube aumentar a população por meio da
guerra. Sua política era desconhecida a todo o resto do mundo grego-
itálico; Roma unia a si tudo o que vencia. Trouxe para dentro de seus
muros os habitantes das cidades vencidas, transformando-os pouco a
pouco em romanos. Ao mesmo tempo enviava colonos ao país
conquistado, e dessa maneira Roma se difundia por toda parte, porque
seus colonos, formando cidades distintas sob o ponto de vista político,
conservava com a metrópole a comunidade religiosa; ora, isso era o
bastante para que eles se vissem constrangidos a subordinar sua política
à de Roma, a obedecer-lhe, e ajudá-la em todas as suas guerras.
A vitória do cristianismo marca o fim da sociedade antiga. Com a nova
religião acaba essa transformação social que vimos começar seis ou sete
séculos antes.
Para saber como os princípios e as regras essenciais foram então
mudadas, basta que nos lembremos de que a antiga sociedade havia sido
constituída por uma nova religião, cujo principal dogma era o de que cada
deus protegia exclusivamente uma família ou uma cidade, e não existia
senão para ela. Essa religião havia gerado o direito: as relações entre os
homens, a propriedade, a herança, o processo, tudo foi regulado, não
pelos princípios de eqüidade natural, mas pelos dogmas dessa religião em
vista das necessidades de seu culto. Fora ela também que havia
estabelecido um governo entre os homens: o do pai. na família, o do rei
ou do magistrado na cidade. Tudo viera da religião, isto é, da opinião que
o homem fazia da divindade. Religião, direito, governo confundiam-se;
não eram mais que uma só coisa sob três aspectos diferentes.
Devemos notar apenas que essa espécie de divórcio provinha do desgaste
da antiga religião; se o direito e a política começavam a ser algo
independentes, é porque os homens deixavam de crer; se a sociedade
não era mais governada pela religião, é porque sobretudo a religião não
tinha mais forças. Ora, dia veio em que o sentimento religioso retomou
vida e vigor, e em que, sob a forma cristã, a crença reconquistou o
império sobre a alma.
O estoicismo já havia marcado essa separação, restituindo o homem a si
mesmo, e criando a liberdade interior. Mas, do que não era nada mais
que o esforço da energia de uma seita corajosa, o cristianismo fez a regra
universal e inabalável das gerações seguintes; do que não era senão
consolo de alguns, fez o bem comum da humanidade.

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