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"O encontro com o divino constitui uma experiência básica e primordial de vida, que de
modo algum pode ser simplesmente abolido, em prol de um racionalismo estreito e
unilateral. O divino pertence a todos os seres vivos e está presente em uma
multiplicidade de formas e manifestações."
C.G.JUNG. Psicologia e Religião. Petrópolis. 1978. Editora Vozes, p. 21
O que é a Antiguidade?
A antiguidade geralmente se refere a um período de tempo que abrange várias civilizações antigas, como
a grega, romana, egípcia, persa e muitas outras. Os historiadores costumam dividir a história em
períodos, e a antiguidade é frequentemente definida como o período que vai do surgimento das
primeiras civilizações escritas até à queda do Império Romano no Ocidente, que geralmente é datado em
476 d.C.
“Em todos os direitos dos povos sem escrita, a fonte do direito é quase exclusivamente o costume, ou
seja a maneira tradicional de viver na comunidade, a conduta habitual e normal dos membros do grupo.
A obediência ao costume é assegurada pelo temor dos poderes sobrenaturais: por isso, direito e religião
se misturam.”
(Nota: as leis também já se verificam, sendo sua forma de transmissão essencialmente oral e presente na memória
coletiva de alguns povos antigos. Também o precedente judiciário é comum entre as decisões dos chefes ou anciãos
– uma certa jurisprudência arcaica).
-Código de Ur-Nammu (2040 a.C): “Se um cidadão acusa um outro de feitiçaria e o leva perante os deus
rio e se o deus rio o declara puro, aquele que o levou será morto.” (Col. VI)
-Código de Hammurabi (1694 a.C): “Se alguém entregou um terreno a um arboricultor para o fazer
frutificar, arboricultor, enquanto tiver o pomar, entregará ao proprietário do pomar dois terços da
produção do pomar; ele mesmo tomará um terço.”
O Antigo Egito
A civilização do Nilo tem uma longa história de cerca de quarenta séculos; a evolução do direito conhece
aí fases ascendentes e fases descendentes, correspondendo mais ou menos às grandes oscilações do
poder dos faraós. O nosso conhecimento do direito egípcio é baseado quase exclusivamente nos atos da
prática: contratos, testamentos, decisões jurídicas, atos administrativos, etc… Os Egípcios quase nada
escreveram de livros de direito, nem deixaram compilações de leis ou costumes Não obstante,
encontram-se constantes referências a uma realidade divina-cosmológica, a saber, o Maât.
Segundo a mitologia egípcia, Maat era filha de Rá (o deus do sol) e esposa do deus T0068ot (deus da
escrita e sabedoria). Para os antigos egípcios, essa divindade simbolizava a justiça e a verdade. Em sua
balança, o coração do morto era pesado perante o tribunal do deus Osíris, revelando assim as infrações
do morto a uma de suas 42 regras. Se o coração, que representava a consciência – ou era onde ela
estava guardada – fosse mais leve que a pena da deusa, o morto passaria ao paraíso de Osíris. Porém, se
o coração fosse mais pesado que a pena, Ammit, que era uma deusa representada por animais perigosos
da África como o crocodilo, o leão e o hipopótamo, devoraria o coração e o morto desapareceria para
sempre. (Apontar a imagem).
O simbolismo da deusa também estava associado a realeza egípcia e seus princípios deveriam ser
“respeitados” pelos faraós. Cultos diários deveriam ser realizados para Maat. Neste caso, ela também
era considerada a regente do cosmos e, novamente, vista pelos egípcios como a deusa do equilíbrio e da
ordem. Os egípcios acreditavam que se Maat não estivesse satisfeita com os cultos realizados pelos
faraós e sacerdotes, um desequilíbrio poderia ocorrer. Por exemplo, a cheia do rio Nilo não aconteceria e
a população passaria fome.
“A todo o instante se torna necessário velar por essa ordem (Maât) não se desvaneça, impedindo por
meio de apropriados agentes mediadores o sempre iminente princípio apocalíptico. Eis uma das
importantes funções a que se dedica um poderoso e complexo grupo sacerdotal, que não é por acaso que
se ocupa o vértice da pirâmide social pois, em certa medida, é responsável pela sustentação dos alicerces
cósmicos.”
-Levi Malho, Elogio de Deméter. Sobre o problema das origens, in O Deserto da Filosofia, Porto, Rés, 1987, p.165.
O Direito Hebraico
Os Hebreus eram um povo nômade que conviveu com os babilônicos, egípcios, e hititas. Após seu
estabelecimento geográfico, predominou um sistema com forte autoridade de um rei sobre as tribos —
o reino de Israel — sobretudo na época de Davi e Salomão. Posteriormente, dividiram-se entre o povo
de Israel, no norte, e de Judá no sul. Ambos foram ocupados por diversas civilizações.
A principal fonte de Direito Hebraico é as Sagradas Escrituras. Thora – “Lei Escrita” (Atenção ao termo
Bíblia que compreende o Novo Testamento). Para os Judeus, era no Pentateuco (os cincos primeiros
livros da nossa Bíblia, a saber: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronómio) que se encontrava a
vontade de Deus para os homens. Dentre esses 613 mandamentos, 248 são considerados os
ensinamentos positivos, que guiam o povo judeu ao que deve ser feito e os outros 365 são
ensinamentos negativos, que os instruem ao que não deve ser feito.
A Thora conservou uma autoridade considerável, mesmo nos nossos dias; qualquer interpretação do
direito hebraico funde-se num versículo da Bíblia. Mas foi necessário adaptá-la à evolução da sociedade
hebraica, o que foi feito pelos padre chamados rabinos, comentadores da lei escrita. As suas
interpetações e aadaptações formaram a lei oral; Esta desenvolve-se, essencialmente, na época do
Segundo Templo ( volta do cativeiro da Babilônia – 515 a.C- e a diáspora- 70 d.C.). Pois na sua volta para
a Judeia, os Hebreus tiveram de se adaptar a novos modos de vida para os quais o velho direito bíblico
não era suficiente. Daqui surge o famoso Talmude (=Estudo) ou a Michna, que longe de serem códigos
que apresentam matérias jurídicas de uma forma metódica, visam a recolha relativamente confusa de
opiniões dos rabinos sobre matérias religiosas e jurídicas. Neles encontramos capítulos como o “Seder
Naschime” (Das Mulheres) que tratam de assuntos de elevada relevância social e jurídica à luz da lei
divina como o casamento, o divórcio e outros problemas relacionados com os esposos.
Assim, numerosas instituições hebraicas sobrevivem no Direito Medieval e mesmo moderno, sobretudo
pelo canal do direito canónico. Entre as sobrevivências, citam-se nomeadamente o pagamento do dízimo
e a sagração (rito de coroação do Rei à luz do Espírito de Deus - Inglaterra p.exemplo). Em adição, o
direito hebraico exerceu também uma grande influência sobre o Direito muçulmano, nomeadamente no
domínio da organização da família, bem como das formas e das condições do casamento.
Como se prevê, o direito e a religião partilhavam uma ligação muito especial. O exemplo cabal é a
relação que se estabelecia entre os templos gregos e os tribunais. a relação entre templos e tribunais ia
além da espiritualidade. Os tribunais gregos frequentemente se reuniam nos arredores dos templos.
Este arranjo simbolizava a crença de que a justiça deveria ser fundamentada nos princípios d
Assim, a lei era vista como derivada das vontades dos deuses, e seu não cumprimento era considerado
um desrespeito tanto à autoridade divina quanto à humana. Crimes que envolviam desrespeito aos
deuses ou aos rituais religiosos eram considerados graves na Grécia Antiga. Além disso, a imoralidade e a
blasfêmia eram punidas de acordo com as leis e crenças religiosas. (Falar do caso de Sócrates).
.O Direito Romano
“Em Roma, verificava-se uma confusão inicial entre religião e Direito. O Direito começou por
estar em estreita relação com a religião e falava no ius divinum para designar prescrições que
pertenciam aos ritos religiosos de que se ocupavam os antigos sacerdotes, ao mesmo tempo
juristas.” - - Paulo M. Adragão. Lições de História do Direito Romano, Peninsular e Português.
Almedina, p. 34
“O direito era então, como a religião, o culto e a vida pública, privilégio exclusivo de um grupo
social restrito, a cidade; e daí vinha justamentce a esse direito o a esse direito o nome do
direito civil (jus civile) , isto é direito de uma cidade.” – Cabral da Moncada, Elementos de
História do Direito, Coimbra Editora, p.26
A antiguidade romana teve três autoridades sagradas, cuja origem se atribui a Rómulo,
Numa*e Acus Martius, isto é, è mais antiga época, e que formaram os colégios dos áugures,
dos pontífices e dos feciais. Os magistrados civis conservaram sempre, é certo, as funções
religiosas indispensáveis ao exercício de seus cargos, por exemplo, os auspícios e os sacrifícios;
mas as dúvidas, controvérsias e transgressões de órdem religiosa, eram da competência
exclusiva dos sacerdotes (282) . Es possível que as funções dêstes fossem, em sua origem, mais
consultivas; mas os seus conselhos adquirem logo, como frequèntemente sucede, a autoridade
da sentença judiciária. O colégio dos pontífices é o único que, para o nosso assunto, apresenta
interesse direto, pelo que trataremos de esboçar o quadro de sua ação e de suas faculdades,
na vida. jurídica (^83) Póde considerarse esse colégio como um tribunal eclesiástico, e
recordando, também, os tribunais dessa espécie, na Idade Média, não devemos retroceder
ante uma comparação, que não póde ser mais direta nem exata. Com efeito, é um fenômeno
surpreendente, que, pouco mais ou mênos, as mêsmas matérias de direito civil, das quais
conheceu a Idade Média a autoridade legislativa do su m u s * p o n tife x de Roma moderna, e
cuja aplicação se reservava aos tribunais eclesiásticos, se achassem confiadas, dez séculos
antes, aos cuidados dos p o n tife x m axim u s (284 *), e que, depois de ter sido desenvolvida
na prática do colégio dos pontífices, passassem com o mesmo procedimento, aos tribunais da
Idade Média
Ius e Faz
Desde os primeiros tempos da República Romana, uma distinção fundamental surge: o direito
sagrado e o profano, o ius e o faz.
Fas é o direito religioso, santo ou revelado, e compreende tanto a religião, quando toma uma
fórma jurídica (em nossa linguá gem atual, direito eclesiástico), como o direito privado e
público, em carater religioso. O jus é de instituição humana, e, portanto, variável; a sua força
obrigatória reside no acordo geral do povo e a sua inobservância só prejudica interesses
puramente humanos. O fas, ao contrário, é imutável: funda-se na vontade dos deuses, a estes
somente compete o direito de modificá-lo. Quem infringe o fas, ultraja a divindade;
● Res Sacrae – “Os templos, as estátuas dos deuses e outras dessa natureza.”
“Os ritos fúnebres mostram claramente que quando colocavam um corpo na sepultura
acreditavam enterrar algo vivo. Dessa crença primitiva derivou-se a necessidade do
sepultamento. Para que a alma se mantivesse nessa morada subterrânea, necessária para sua
segunda vida, era preciso que o corpo, ao qual permanecia ligada, fosse coberto de terra. A
alma que não possuía sepultura não possuía morada, e ficava errante. Em vão aspirava ao
repouso, que deveria desejar depois das agitações e trabalhos desta vida; e era obrigada a errar
sempre, sob a forma de larva ou de fantasma, sem se deter jamais, e sem receber nunca as
ofertas e alimentos de que necessitava. Como era infeliz, logo se tornava perversa. Atormentava
os vivos, provocava-lhes doenças, destruía colheitas, assustava-os com aparições lúgubres, a fim
de fazer com que dessem sepultura a seu corpo e a si mesma. Daí se originou a crença nas
almas do outro mundo(9). Toda a antiguidade estava persuadida de que, sem sepultura, a alma
era miserável, e que pela sepultura tornava-se feliz”- Fustel de Coulanges, A cidade Antiga, Cap
I (Crenças a respeito da alma e da morte)
● Res Sanctae – “As muralhas e tudo o que se relacionava com os limites das cidades: as suas
portas, as divisões dos campos agrícolas, sob a proteção dos deuses.”
O fim desta ordem era o de atrair o povo ao culto dos deuses, não livremente, em termos que
o homem incrédulo pudesse subtrair-se à essa obrigação, deixando em seu lugar os sacerdotes,
para que orassem e oferecessem sacrifícios, mas por meio da imposição jurídica, de tal forma,
que cada qual se visse forçado a cumprir os atos que se lhe impunha. 0 serviço divino era uma
instituição pública que, como outra qualquer, era protegida pela obrigação jurídica. O povo,
com efeito, é responsável perante os deuses até pelo indivíduo isolado; é no povo inteiro que
eles se vingam das faltas, negligências e ultrajes de cada um. Assim, este regime não se limita
às sacra do povo em geral e do conjunto de indivíduos, que a compunham, mas penetra no
próprio seio das famílias.
“Antes de expor a influência das sacra sobre o direito penal, devemos recordar que a religião
inúmeras vezes, amenizou o rigor das penas. Os deuses de Roma vingavam com uma das mãos
as injúrias que lhes eram feitas, mas estendiam a outra para proteger os perseguidos e
indefesos. Havia lugares e templos sagrados em que a perseguição e a pena ficavam
suspensas. Ante a cólera do chefe da família, seus subordinados refugiavam-se no altar
doméstico; ante a vingança do lesado, o culpado abrigava-se no templo, ou num asilo. A idéia
do asilo ligava-se á da prígem de Roma, e ainda que o asilo fosse um meio de conseguir um
objetivo político, a religião, entretanto, tornava-o inviolável (276) . Nos lectisternes, quando se
dava trégua ao ódio e às dissensões, se tiravam as cadeias dos prisioneiros- e havia escrúpulo
em novamente repô-las (277). Durante as saturnais, festas do deus que espargia as bênçãos e
os gozos da vida, permitia-se aos escravos e aos delinqüentes tomar parte na alegria universal.
Os primeiros gozavam por um instante as doçuras da liberdade e os segundos viam, para
sempre, quebradas as suas correntes, que como gratidão tinham o costume de oferecê-las ao
deus que lhes dera liberdade (278) . Quando um sacerdote de Jupiter (flamen dialis) entrava na
casa em que se achava um detido, o fas m andava libertá-lo e fazê-lo sair da casa pelo telhado;
e se um condenado, conduzido á flagelação, o vê e cáe a seus pés, a execução devia suspender-
se .
O direito privado e o processo civil, dos quais vamos agora nos ocupar, foram, por sua própria
natureza, muito menos accessiveis ás influências da religião que o direito público e o direitò
criminal. Com efeito, exceto o direito da família, todas as relações do direito privado guardam,
por sua própria natureza, um carater essêncialmente profano. As questões do meu e do téu, de
propriedade e de obrigação, não têm por si mêsmas náda de comum com os deuses; e é só
indiretamente, na hipótese de serem afetados interesses das sacra9 que o interesse religioso
exeúce uma reação sôbre os direitos, quaiíto aos herís (28° ) . Tais relações de interesse
material, podiam apresentar ainda um carater religioso, e, deste mòdo, veñtilarem-se nos
tribunais satgrados.”
O Cristianismo e Roma