Você está na página 1de 6

A Religião e o Direito na Antiguidade

"O encontro com o divino constitui uma experiência básica e primordial de vida, que de
modo algum pode ser simplesmente abolido, em prol de um racionalismo estreito e
unilateral. O divino pertence a todos os seres vivos e está presente em uma
multiplicidade de formas e manifestações."
C.G.JUNG. Psicologia e Religião. Petrópolis. 1978. Editora Vozes, p. 21

“Sabe-se há muito tempo que, até um momento relativamente avançado da evolução,


as regras da moral e do direito não se diferenciavam das prescrições rituais. Portanto,
pode-se dizer, resumindo, que quase todas as grandes instituições sociais nasceram da
religião. Ora, para que os principais aspetos da vida coletiva tenham começado por
aspetos variados da vida religiosa, é preciso evidentemente que a vida religiosa seja a
forma eminente e como que uma expressão abreviada da vida coletiva inteira. Se a
religião engendrou tudo o que há de essencial na sociedade, é porque a ideia da
sociedade é a alma da religião.”
DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo. 1974. Companhia Editora Nacional, p. 466

O que é a Antiguidade?
A antiguidade geralmente se refere a um período de tempo que abrange várias civilizações antigas, como
a grega, romana, egípcia, persa e muitas outras. Os historiadores costumam dividir a história em
períodos, e a antiguidade é frequentemente definida como o período que vai do surgimento das
primeiras civilizações escritas até à queda do Império Romano no Ocidente, que geralmente é datado em
476 d.C.

Breve consideração acerca dos povos sem escrita:


Com o desenvolvimento das técnicas agrícolas e os consequentes excedentes de produção, a
complexidade das cidades ascende como nunca antes e a problemática da gestão de recursos leva-nos a
toda uma nova orientação da vida pública e em comunidade. Fruto destes excedentes produtivos criam-
se os primeiros templos. Neles, para além da administração dos ritos religiosos, centralizar-se-á o poder
político.

“Em todos os direitos dos povos sem escrita, a fonte do direito é quase exclusivamente o costume, ou
seja a maneira tradicional de viver na comunidade, a conduta habitual e normal dos membros do grupo.
A obediência ao costume é assegurada pelo temor dos poderes sobrenaturais: por isso, direito e religião
se misturam.”

John Glissen, Introdução Histórica ao Direito, Fundação Calouste Gulbenkian, p.37

(Nota: as leis também já se verificam, sendo sua forma de transmissão essencialmente oral e presente na memória
coletiva de alguns povos antigos. Também o precedente judiciário é comum entre as decisões dos chefes ou anciãos
– uma certa jurisprudência arcaica).

A Mesopotâmia e os primeiros códigos


.”Entre Rios”- Eufrates e Tigre. Atual Iraque, parte da Síria, Turquia e irão. Na Mesopotâmia o Poder
Político e o Direito passam a habitar os Palácios e os Templos dedicam-se exclusivamente à
administração dos ritos religiosos. Não obstante, o divino e o político jamais se dissociam. O Rei, figura
máxima das cidades e, posteriormente, Império, é tido como o “Representante de Deus” e “Sumo
Sacerdote”. Sua função primária é fazer cumprir as normas religiosas, razão pela qual uma cidade se
mantêm estável ou cai na desordem política.
Os primeiros “códigos” e a relação com o religioso:

-Código de Ur-Nammu (2040 a.C): “Se um cidadão acusa um outro de feitiçaria e o leva perante os deus
rio e se o deus rio o declara puro, aquele que o levou será morto.” (Col. VI)

-Código de Hammurabi (1694 a.C): “Se alguém entregou um terreno a um arboricultor para o fazer
frutificar, arboricultor, enquanto tiver o pomar, entregará ao proprietário do pomar dois terços da
produção do pomar; ele mesmo tomará um terço.”

O Antigo Egito
A civilização do Nilo tem uma longa história de cerca de quarenta séculos; a evolução do direito conhece
aí fases ascendentes e fases descendentes, correspondendo mais ou menos às grandes oscilações do
poder dos faraós. O nosso conhecimento do direito egípcio é baseado quase exclusivamente nos atos da
prática: contratos, testamentos, decisões jurídicas, atos administrativos, etc… Os Egípcios quase nada
escreveram de livros de direito, nem deixaram compilações de leis ou costumes Não obstante,
encontram-se constantes referências a uma realidade divina-cosmológica, a saber, o Maât.

Segundo a mitologia egípcia, Maat era filha de Rá (o deus do sol) e esposa do deus T0068ot (deus da
escrita e sabedoria). Para os antigos egípcios, essa divindade simbolizava a justiça e a verdade. Em sua
balança, o coração do morto era pesado perante o tribunal do deus Osíris, revelando assim as infrações
do morto a uma de suas 42 regras. Se o coração, que representava a consciência – ou era onde ela
estava guardada – fosse mais leve que a pena da deusa, o morto passaria ao paraíso de Osíris. Porém, se
o coração fosse mais pesado que a pena, Ammit, que era uma deusa representada por animais perigosos
da África como o crocodilo, o leão e o hipopótamo, devoraria o coração e o morto desapareceria para
sempre. (Apontar a imagem).

O simbolismo da deusa também estava associado a realeza egípcia e seus princípios deveriam ser
“respeitados” pelos faraós. Cultos diários deveriam ser realizados para Maat. Neste caso, ela também
era considerada a regente do cosmos e, novamente, vista pelos egípcios como a deusa do equilíbrio e da
ordem. Os egípcios acreditavam que se Maat não estivesse satisfeita com os cultos realizados pelos
faraós e sacerdotes, um desequilíbrio poderia ocorrer. Por exemplo, a cheia do rio Nilo não aconteceria e
a população passaria fome.

“A todo o instante se torna necessário velar por essa ordem (Maât) não se desvaneça, impedindo por
meio de apropriados agentes mediadores o sempre iminente princípio apocalíptico. Eis uma das
importantes funções a que se dedica um poderoso e complexo grupo sacerdotal, que não é por acaso que
se ocupa o vértice da pirâmide social pois, em certa medida, é responsável pela sustentação dos alicerces
cósmicos.”

-Levi Malho, Elogio de Deméter. Sobre o problema das origens, in O Deserto da Filosofia, Porto, Rés, 1987, p.165.

O Direito Hebraico
Os Hebreus eram um povo nômade que conviveu com os babilônicos, egípcios, e hititas. Após seu
estabelecimento geográfico, predominou um sistema com forte autoridade de um rei sobre as tribos —
o reino de Israel — sobretudo na época de Davi e Salomão. Posteriormente, dividiram-se entre o povo
de Israel, no norte, e de Judá no sul. Ambos foram ocupados por diversas civilizações.

A principal fonte de Direito Hebraico é as Sagradas Escrituras. Thora – “Lei Escrita” (Atenção ao termo
Bíblia que compreende o Novo Testamento). Para os Judeus, era no Pentateuco (os cincos primeiros
livros da nossa Bíblia, a saber: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronómio) que se encontrava a
vontade de Deus para os homens. Dentre esses 613 mandamentos, 248 são considerados os
ensinamentos positivos, que guiam o povo judeu ao que deve ser feito e os outros 365 são
ensinamentos negativos, que os instruem ao que não deve ser feito.
A Thora conservou uma autoridade considerável, mesmo nos nossos dias; qualquer interpretação do
direito hebraico funde-se num versículo da Bíblia. Mas foi necessário adaptá-la à evolução da sociedade
hebraica, o que foi feito pelos padre chamados rabinos, comentadores da lei escrita. As suas
interpetações e aadaptações formaram a lei oral; Esta desenvolve-se, essencialmente, na época do
Segundo Templo ( volta do cativeiro da Babilônia – 515 a.C- e a diáspora- 70 d.C.). Pois na sua volta para
a Judeia, os Hebreus tiveram de se adaptar a novos modos de vida para os quais o velho direito bíblico
não era suficiente. Daqui surge o famoso Talmude (=Estudo) ou a Michna, que longe de serem códigos
que apresentam matérias jurídicas de uma forma metódica, visam a recolha relativamente confusa de
opiniões dos rabinos sobre matérias religiosas e jurídicas. Neles encontramos capítulos como o “Seder
Naschime” (Das Mulheres) que tratam de assuntos de elevada relevância social e jurídica à luz da lei
divina como o casamento, o divórcio e outros problemas relacionados com os esposos.

Assim, numerosas instituições hebraicas sobrevivem no Direito Medieval e mesmo moderno, sobretudo
pelo canal do direito canónico. Entre as sobrevivências, citam-se nomeadamente o pagamento do dízimo
e a sagração (rito de coroação do Rei à luz do Espírito de Deus - Inglaterra p.exemplo). Em adição, o
direito hebraico exerceu também uma grande influência sobre o Direito muçulmano, nomeadamente no
domínio da organização da família, bem como das formas e das condições do casamento.

O Direito na Antiga Grécia


Não se conhecem relativamente bem senão as instituições de três cidades: Atenas, pelos numerosos
escritos literários, Esparta e Gortina, graças à epigrafia. O direito das cidades gregas não parece ter sido
formulado nem sob a forma de textos legislativos, nem sob a forma de textos legislativos, nem sob a de
comentários de juristas; o direito derivaria mais duma noção mais ou menos vaga de justiça que estaria
difusa na consciência coletiva. Principais fontes históricas são algumas fontes escritas, como as grandes
epopeias de Homero para o período arcaico, alguns discursos do fim da época clássica do direito
ateniense 1, numerosos documentos literários e filosóficos (Platão e Aristóteles como principais) e
numerosas inscrições jurídicas.

Como se prevê, o direito e a religião partilhavam uma ligação muito especial. O exemplo cabal é a
relação que se estabelecia entre os templos gregos e os tribunais. a relação entre templos e tribunais ia
além da espiritualidade. Os tribunais gregos frequentemente se reuniam nos arredores dos templos.
Este arranjo simbolizava a crença de que a justiça deveria ser fundamentada nos princípios d

ivinos. Juramentos eram feitos diante dos altares, invocando os


deuses como testemunhas e garantindo que a verdade fosse revelada durante
os julgamentos. A própria legislação em muitas cidades-estado gregas era
influenciada por princípios religiosos. Os legisladores consultavam
frequentemente os oráculos divinos em busca de orientação sobre como as
leis deveriam ser formuladas. O caso mais famoso e central na vida política da
Grécia é o Oráculo de Delfos.

Assim, a lei era vista como derivada das vontades dos deuses, e seu não cumprimento era considerado
um desrespeito tanto à autoridade divina quanto à humana. Crimes que envolviam desrespeito aos
deuses ou aos rituais religiosos eram considerados graves na Grécia Antiga. Além disso, a imoralidade e a
blasfêmia eram punidas de acordo com as leis e crenças religiosas. (Falar do caso de Sócrates).

.O Direito Romano

“Estudando-se comparativamente a formação do Direito, sob o ponto de vista religioso, e a


evolução das ideias religiosas dos imperadores, descobre-se nitidamente uma fase pagã, outra
estoica e outra cristã.
– A. Cunha Lobo, Curso de Direito Romano, Edições do Senado Federal, p.262
A Monarquia de Roma

“Em Roma, verificava-se uma confusão inicial entre religião e Direito. O Direito começou por
estar em estreita relação com a religião e falava no ius divinum para designar prescrições que
pertenciam aos ritos religiosos de que se ocupavam os antigos sacerdotes, ao mesmo tempo
juristas.” - - Paulo M. Adragão. Lições de História do Direito Romano, Peninsular e Português.
Almedina, p. 34

“O direito era então, como a religião, o culto e a vida pública, privilégio exclusivo de um grupo
social restrito, a cidade; e daí vinha justamentce a esse direito o a esse direito o nome do
direito civil (jus civile) , isto é direito de uma cidade.” – Cabral da Moncada, Elementos de
História do Direito, Coimbra Editora, p.26

A antiguidade romana teve três autoridades sagradas, cuja origem se atribui a Rómulo,
Numa*e Acus Martius, isto é, è mais antiga época, e que formaram os colégios dos áugures,
dos pontífices e dos feciais. Os magistrados civis conservaram sempre, é certo, as funções
religiosas indispensáveis ao exercício de seus cargos, por exemplo, os auspícios e os sacrifícios;
mas as dúvidas, controvérsias e transgressões de órdem religiosa, eram da competência
exclusiva dos sacerdotes (282) . Es possível que as funções dêstes fossem, em sua origem, mais
consultivas; mas os seus conselhos adquirem logo, como frequèntemente sucede, a autoridade
da sentença judiciária. O colégio dos pontífices é o único que, para o nosso assunto, apresenta
interesse direto, pelo que trataremos de esboçar o quadro de sua ação e de suas faculdades,
na vida. jurídica (^83) Póde considerarse esse colégio como um tribunal eclesiástico, e
recordando, também, os tribunais dessa espécie, na Idade Média, não devemos retroceder
ante uma comparação, que não póde ser mais direta nem exata. Com efeito, é um fenômeno
surpreendente, que, pouco mais ou mênos, as mêsmas matérias de direito civil, das quais
conheceu a Idade Média a autoridade legislativa do su m u s * p o n tife x de Roma moderna, e
cuja aplicação se reservava aos tribunais eclesiásticos, se achassem confiadas, dez séculos
antes, aos cuidados dos p o n tife x m axim u s (284 *), e que, depois de ter sido desenvolvida
na prática do colégio dos pontífices, passassem com o mesmo procedimento, aos tribunais da
Idade Média

Ius e Faz

Desde os primeiros tempos da República Romana, uma distinção fundamental surge: o direito
sagrado e o profano, o ius e o faz.

Fas é o direito religioso, santo ou revelado, e compreende tanto a religião, quando toma uma
fórma jurídica (em nossa linguá gem atual, direito eclesiástico), como o direito privado e
público, em carater religioso. O jus é de instituição humana, e, portanto, variável; a sua força
obrigatória reside no acordo geral do povo e a sua inobservância só prejudica interesses
puramente humanos. O fas, ao contrário, é imutável: funda-se na vontade dos deuses, a estes
somente compete o direito de modificá-lo. Quem infringe o fas, ultraja a divindade;

O comentarista de Virgílio, Servius, explicando o versículo 269 do primeiro “Geórgico” que


contém estas palavras: “Fas et jura sinunt”: “O fas e a lei permite”, explica: “Id est divina
humanaque jura permit tunt: nam ad Religionem, fas, ad homines jura, pertinente”. Isso é para
dizer o direito divino e o direito humano permitem, porque o fas diz respeito à religião, a lei diz
respeito aos homens.
Nem todo o direito tem carater religioso; nem a substância religiosa penetra, se assim nos é
ºlicito exprimir, em todo o seu organismo; Deus e os homens, a religião e o Estado
estabeleceram as suas respetivas fronteiras.

0 carater desse dualismo do direito, conservado na linguagem, isto é, impresso na consciência


mesma do povo, que encontramos em nossos primeiros passos, nesta matéria, já prova a força
analítica do espírito romano. Relativamente, à história da civilização, determina um
acontecimento notável, que assinala os mais notáveis progressos da consciência humana.

Res Divini Juris


"Res Divini Juris" é uma expressão em latim que pode ser traduzida como "coisa de direito divino" ou
"coisa de direito divino". No contexto do direito romano, isso se refere a bens ou propriedades que eram
considerados como pertencentes aos deuses. Os romanos acreditavam em uma variedade de deuses e
deusas, e certos bens ou terras eram dedicados a esses deuses e considerados como propriedade divina.
Mais que a terra, importa aos deuses o mundo moral que nela se agita, e, sobretudo, o que se
refere ao serviço imediato da divindade, ou seja ao culto e à constituição da Igreja, se é
permitido valer-nos dessas expressões modernas.
Em relação aos bens divinos, o direito romano estabelecia regras específicas para o seu uso e
manutenção, e qualquer uso inadequado ou dano a essas propriedades podia ser considerado uma
ofensa religiosa. Portanto, o respeito pelos bens divinos era uma parte importante da vida cotidiana e do
sistema legal romano.

● Res Sacrae – “Os templos, as estátuas dos deuses e outras dessa natureza.”

● Res Religiosae – “Os túmulos e tudo o que se dedicava aos mortos.”

“Os ritos fúnebres mostram claramente que quando colocavam um corpo na sepultura
acreditavam enterrar algo vivo. Dessa crença primitiva derivou-se a necessidade do
sepultamento. Para que a alma se mantivesse nessa morada subterrânea, necessária para sua
segunda vida, era preciso que o corpo, ao qual permanecia ligada, fosse coberto de terra. A
alma que não possuía sepultura não possuía morada, e ficava errante. Em vão aspirava ao
repouso, que deveria desejar depois das agitações e trabalhos desta vida; e era obrigada a errar
sempre, sob a forma de larva ou de fantasma, sem se deter jamais, e sem receber nunca as
ofertas e alimentos de que necessitava. Como era infeliz, logo se tornava perversa. Atormentava
os vivos, provocava-lhes doenças, destruía colheitas, assustava-os com aparições lúgubres, a fim
de fazer com que dessem sepultura a seu corpo e a si mesma. Daí se originou a crença nas
almas do outro mundo(9). Toda a antiguidade estava persuadida de que, sem sepultura, a alma
era miserável, e que pela sepultura tornava-se feliz”- Fustel de Coulanges, A cidade Antiga, Cap
I (Crenças a respeito da alma e da morte)

● Res Sanctae – “As muralhas e tudo o que se relacionava com os limites das cidades: as suas
portas, as divisões dos campos agrícolas, sob a proteção dos deuses.”

O fim desta ordem era o de atrair o povo ao culto dos deuses, não livremente, em termos que
o homem incrédulo pudesse subtrair-se à essa obrigação, deixando em seu lugar os sacerdotes,
para que orassem e oferecessem sacrifícios, mas por meio da imposição jurídica, de tal forma,
que cada qual se visse forçado a cumprir os atos que se lhe impunha. 0 serviço divino era uma
instituição pública que, como outra qualquer, era protegida pela obrigação jurídica. O povo,
com efeito, é responsável perante os deuses até pelo indivíduo isolado; é no povo inteiro que
eles se vingam das faltas, negligências e ultrajes de cada um. Assim, este regime não se limita
às sacra do povo em geral e do conjunto de indivíduos, que a compunham, mas penetra no
próprio seio das famílias.

O Direito Penal, Civil e Privado

“Antes de expor a influência das sacra sobre o direito penal, devemos recordar que a religião
inúmeras vezes, amenizou o rigor das penas. Os deuses de Roma vingavam com uma das mãos
as injúrias que lhes eram feitas, mas estendiam a outra para proteger os perseguidos e
indefesos. Havia lugares e templos sagrados em que a perseguição e a pena ficavam
suspensas. Ante a cólera do chefe da família, seus subordinados refugiavam-se no altar
doméstico; ante a vingança do lesado, o culpado abrigava-se no templo, ou num asilo. A idéia
do asilo ligava-se á da prígem de Roma, e ainda que o asilo fosse um meio de conseguir um
objetivo político, a religião, entretanto, tornava-o inviolável (276) . Nos lectisternes, quando se
dava trégua ao ódio e às dissensões, se tiravam as cadeias dos prisioneiros- e havia escrúpulo
em novamente repô-las (277). Durante as saturnais, festas do deus que espargia as bênçãos e
os gozos da vida, permitia-se aos escravos e aos delinqüentes tomar parte na alegria universal.
Os primeiros gozavam por um instante as doçuras da liberdade e os segundos viam, para
sempre, quebradas as suas correntes, que como gratidão tinham o costume de oferecê-las ao
deus que lhes dera liberdade (278) . Quando um sacerdote de Jupiter (flamen dialis) entrava na
casa em que se achava um detido, o fas m andava libertá-lo e fazê-lo sair da casa pelo telhado;
e se um condenado, conduzido á flagelação, o vê e cáe a seus pés, a execução devia suspender-
se .

O direito privado e o processo civil, dos quais vamos agora nos ocupar, foram, por sua própria
natureza, muito menos accessiveis ás influências da religião que o direito público e o direitò
criminal. Com efeito, exceto o direito da família, todas as relações do direito privado guardam,
por sua própria natureza, um carater essêncialmente profano. As questões do meu e do téu, de
propriedade e de obrigação, não têm por si mêsmas náda de comum com os deuses; e é só
indiretamente, na hipótese de serem afetados interesses das sacra9 que o interesse religioso
exeúce uma reação sôbre os direitos, quaiíto aos herís (28° ) . Tais relações de interesse
material, podiam apresentar ainda um carater religioso, e, deste mòdo, veñtilarem-se nos
tribunais satgrados.”

Rudolf Von Jhering, O Esprito do Direito Romano., p. 208

O Jurista como sacerdote

Ver página 24, 25 e 26 do Anti-Leviatã de Paulo Ferreira da Cunha

O Cristianismo e Roma

Tu sabes explicar isto…

Você também pode gostar