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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS


FACULDADE DE DIREITO

GUSTAVO HENRIQUE MACHADO DA SILVA


REBECA PYETRA SANTOS VALÕES
REBECA CRISTINA C. L. MARTINS
MARINA KETILLY SILVA MACIEL
BEATRIZ PAIVA LOPES

RELATÓRIO: “DIREITO EGÍPCIO E MESOPOTÂMICO”

JOÃO PESSOA
MARÇO DE 2024

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GUSTAVO HENRIQUE MACHADO DA SILVA
REBECA PYETRA SANTOS VALÕES
REBECA CRISTINA C. L. MARTINS
MARINA KETILLY SILVA MACIEL
BEATRIZ PAIVA LOPES

RELATÓRIO: “DIREITO EGÍPCIO E MESOPOTÂMICO”

Trabalho da disciplina de História e Antro-


pologia Jurídica da Faculdade de Direito da
Universidade Federal da Paraíba, em que será
apresentado um relatório acerca do Direito
Egípico e Mesopotâmico.

JOÃO PESSOA
MARÇO DE 2024

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SUMÁRIO

1. Sociedade egípcia…..………….…….……….…………………………………….…..3
2. Sistema Jurídico egípcio…..……….……….………………………………………....5
3. Sociedade mesopotâmica….….…….……….………………………………………..7
4. Sistema Jurídico mesopotâmico…….…….……….……………….....……………10
5. Aspectos egípcios semelhantes aos dias atuais….…………...………………...13
6. Aspectos mesopotâmicos semelhantes aos dias atuais…..…………………...15
7. Referências…..…………………….…….……….…………………………………….16

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1. SOCIEDADE EGÍPCIA

O Egito Antigo foi uma das grandes civilizações da Idade Antiga - período que se
inicia com o advento da escrita. Com a complexidade de sua sociedade, durou mais de 3
milênios e trouxe diversas contribuições para a sociedade atual.
No berço da sua formação, o Egito antigo era formado por vários povos. Nesse viés,
os monos funcionavam como Estados independentes e cada um deles tinha uma organização
singular. Contudo, por volta do ano 3500 a.C., alguns nomos se fundiram, formando dois
reinos. Ao Norte foi criado o Baixo Egito e ao Sul, o Alto Egito. Mas, por volta de 3200 a.C.,
Menés, o rei do Alto Egito, unificou esses dois reinos e criou o Egito Antigo, se tornando o
primeiro faraó e criando a primeira dinastia egípcia.
A sociedade egípcia era hierarquicamente organizada, existindo diversas divisões
sociais e praticamente não existia mobilidade social. Ela pode ser representada por uma
pirâmide, na qual o faraó ocupava o topo, e os escravos a base. O Faraó era o senhor de todas
as terras e governava o Egito. Era considerado um deus vivo, filho de deuses e intermediário
entre eles e a população, por isso a forma de governo pode ser chamada de monarquia
teocrática. Além disso, o poder dos faraós era passado de pai para filho, ou seja, de forma
hereditária.
Ademais, os sacerdotes organizavam todas atividades religiosas do Egito Antigo,
tinham grande conhecimento sobre os deuses e administravam os bens do templo. Os escribas
registravam os principais fatos da sociedade e principalmente da vida do faraó, cobravam
impostos e organizavam as leis, isso se dava porque todos os escribas sabiam ler, escrever e
contar. Além disso, existiam os nobres, pessoas importantes que geralmente comandavam
províncias ou tinham postos altos no exército.
Pessoas como os artesãos, comerciantes e lavradores eram a maior parte da sociedade
egípcia, eles trabalhavam muito para sobreviver, mas ainda eram convocados pelo faraó para
trabalhar em obras públicas. Além disso, ainda existiam os escravos que eram, em sua
maioria, presos de guerra, eles faziam o trabalho mais pesado, mas ainda tinham alguns
direitos (casar com pessoas livres e possuir bens, por exemplo).
O Egito Antigo ficava localizado no Norte da África, em uma região chamada
crescente fértil. Além disso, eles eram uma sociedade hidráulica, ou seja, se desenvolveram
em volta do rio Nilo e é por isso que mesmo estando em uma região desértica (no deserto do
Saara) os solos eram férteis. Após as cheias do Nilo, eles plantavam trigo, cevada, frutas,
legumes, papiro e algodão. Os egípcios também praticavam a pecuária, criando bois, aves,
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porcos e outros animais. Por causa do Nilo, a pesca também era uma atividade muito usual e
usavam o rio para fazer comércio exterior. Além disso, o rio Nilo era usado para a garantia da
unidade política do Egito Antigo, haja vista que ele era usado para se comunicar com outros
pontos do território. Vale ressaltar que outros rios, como o Tigre, o Eufrates e o Jordão
também faziam parte do Egito Antigo e colaboravam com a economia junto com o Nilo.
Os egípcios eram politeístas, ou seja, acreditavam em vários deuses, podendo variar de
região para região. Contudo, a unidade política egípcia organizou todos os grandes deuses que
a sociedade deveria cultuar, como Rá (deus do Sol), Anúbis (deus dos mortos e do
submundo), Bastet (deusa da fertlidade e protetora das mulheres grávidas), Seth (deus da
tempestade, do mal, da destruição e da violência) e Osíris (deus da vida após a morte).
Os egípcios acreditavam na continuidade da vida após a morte. Os atos realizados em
vida definiriam o destino de cada pessoa. Nesse contexto, quando uma pessoa morria ela seria
julgada em um tribunal presidido por Osíris e seu coração seria pesado em uma balança com
uma pena (que representava a justiça), se ele fosse mais pesado que essa pena, ele não poderia
ter acesso ao paraíso e seria comido por Ammit.
Ademais, a mumificação era importante porque o corpo precisava estar conservado
para a continuidade da sua vida no pós vida. Esse processo era muito demorado e era restrito
apenas a nobreza. Durante a mumificação os órgãos eram retirados, o corpo era limpo e
banhado em conservantes e era enfaixado. No túmulo eram colocados alimentos, joias, ouro e
estátuas para que o morto pudesse manter sua riqueza mesmo depois da morte. Nos dias
atuais, muitos desses túmulos foram roubados. Vale ressaltar que as pirâmides serviam como
túmulos para os faraós.
Ademais, as mulheres no Egito Antigo tinham certos direitos que não existiam em
outras sociedades da época. Apesar do homem ainda ser visto como o chefe da família, as
mulheres eram consideradas como iguais aos homens, podendo trabalhar como escribas,
sacerdotisas, médicas e várias outras profissões. Elas podiam ter propriedades, fazer contratos,
entrar com ações contra a corte e outros. Essa liberdade, porém, dependia do apoio e
aprovação dos homens. Mas, o que realmente dividiam as pessoas era a classe social, haja
vista que, mesmo com certos limites, a mulher tinha algum poder e independência e, além
disso, eram muito respeitadas, como no caso da Cleópatra e de Nesferati.
Os egípcios contribuiram muito para as ciências e as artes. Como na criação dos
sistemas de escrita hieroglífica, hierática e a demótica e no uso do precursor do papel, o
papiro. Também fizeram grandes avanços na arquitetura, como em estátuas e túmulos, à
exemplo das pirâmides de Gizé. Aprimoraram muito a matemática e a usaram para observar
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os astros e criar o calendário de 24 horas e 365 dias (com 12 meses), a partir dos movimentos
da Terra.

2. SISTEMA JURÍDICO EGÍPCIO

A sociedade egípcia, diferentemente do abordado nos estudos acerca das antigas


civilizações, possuía estruturas socias bastante avançadas para a sua época, inclusive no que
se refere ao judiciário. É importante destacar que o ordenamento jurídico do Egito Antigo é
responsável por estabelecer um marco histórico que exerceu influência na evolução de
sistemas legais em diferentes culturas que se estabeleceram posteriormente, ou seja, o Direito
egípcio não apenas configurou as dinâmicas sociais e econômicas do período como também
promoveu as bases para os próximos sistemas jurídicos, sendo essencial para apreciar a
trajetória e a variedade do pensamento jurídico ao longo da história.
Ao abordar o Direito egípcio, é imprescindível evidenciar a importância do rio Nilo na
constituição de uma sociedade estruturada, tanto no vale quanto no delta, e na instauração de
uma cosmovisão religiosa fundamentada na morte e renascimento, na perpetuidade da
existência e na restauração da ordem diante do caos. Logo, a religião foi a base elementar
daquela sociedade, manifestando-se pela veneração de diversos deuses, os quais assumiam
formas antropozoomórficas (uma fusão entre características humanas e animais), tal conjunto
de divindades que essencialmente personificava os fenômenos naturais.
Diante disso, todos os estudos feitos a respeito dessa civilização deixam claro a
influência direta da religião em todos os outros aspectos civis, principalmente no judiciário.
Para tratar desse assunto é importante ressaltar a figura da deusa Maat, símbolo da justiça e da
verdade, representada pelos egípcios com a aparência de uma jovem mulher com uma pena de
avestruz em sua cabeça. Na mitologia egípcia, Maat, filha de Rá (o deus do sol) e esposa de
Thot (o deus da escrita e sabedoria), utilizava sua balança para pesar o coração dos falecidos
perante o tribunal de Osíris, revelando as eventuais transgressões em relação às 42 regras- as
quais o povo egípcio entendia que todas as suas ações deveriam seguir à essas 42
regras/confissões- Caso o coração, símbolo da consciência, fosse mais leve que a pena da
deusa, o falecido alcançaria o paraíso de Osíris, no entanto, se o coração fosse mais pesado,
Ammit, deusa representada por animais perigosos como o crocodilo, o leão e o hipopótamo,
devoraria o coração, levando o morto a desaparecer para sempre.
No mais, a deusa Maat era extremamente respeitada e cultuada, pois, segundo a
mitologia, sem ela sobraria apenas o caos primordial. Assim, a justiça emanava de Maat,
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sendo o faraó (deus vivo) responsável por aplicar, manter e renovar a mesma, estando o
monarca sujeito a uma regra maior de ética, justiça e retidão. Isso acontecia em razão do faraó
ser a personificação das crenças e práticas ancestrais que evoluíram ao longo do tempo. Com
isso, as instituições jurídicas foram idealizadas no Império Antigo e permaneceram, durante
altos e baixos, ao longo de toda a história do Egito Antigo, tendo, portanto, as leis
originando-se de uma ordem natural fundamentada na busca por um equilíbrio perfeito e
justiça que ultrapassava a relação entre o humano e o sobrenatural.
As leis eram aplicáveis a todos, independente do sexo, posição social ou quantidade de
bens, promulgadas pelo Faraó com base em um parecer do Conselho de Legislação e não
deviam contrariar o princípio da justiça divina da deusa Maat, mesmo sendo o Faraó detentor
de todo o poder. Existia, também, muitos avanços e semelhanças com o sistema jurídico atual,
como, por exemplo, uma desenvolvida ideia de propriedade privada e uso de contratos,
preservação da dignidade da pessoa humana, o direito a vida, à integridade física e mental,
enfim, uma infinidade de conceitos que a partir de uma ótica eurocêntrica acabam, muitas
vezes, sendo apagadas em detrimento de uma ideia simplista e errônea sobre os povos
arcaicos.
O judiciário do Egito Antigo já possuia uma espécie de divisão em instâncias, com
características similar à do ordenamento jurídico brasileiro. A primeira instância era chamada
de kenbett, onde um conselho de anciãos era responsável por decidir acerca das pequenas
causas civis ou tributárias; já sobre a segunda instância, funcionava como um tipo de
Supremo Tribunal onde apenas o Faraó ou o Vizir (cargo mais alto entre os funcionários do
faraó, comandava a polícia, a justiça e a arrecadação de impostos) eram os responsáveis pelas
decisões de causas civis mais complexas e todos os casos penais.
Tanto acusadores quanto acusados se representavam, sendo obrigados a argumentar
sob juramento de falar a verdade. Para os casos recorrentes ou muito sérios, os escribas da
corte documentavam a denúncia e o veredito, guardando para referência futura, lembrando,
assim, o conceito de jurisprudência. Também se tem registros de como funcionava o processo
egípcio, na qual a acusação era dever das testemunhas do fato, a polícia (repressiva) auxiliava
a instrução que por sua vez era pública e escrita, diferentemente do julgamento que era
secreto. Sobre as penas, pode-se considerar que possuíam um certo teor de crueldade visto
que variavam de mutilações faciais até afogamento, decapitação ou empalamento com estaca.
Em suma, no Egito Antigo encontrava-se uma variedade de organizações complexas,
baseadas na religião e na crença da vida após a morte cujas bases foram assentadas sob
preceitos éticos e morais, moldando essa civilização tão importante para a história da
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humanidade. O ordenamento jurídico egípcio era rico na sua estrutura escalonada em
instâncias e, de certa forma, possuía uma faísca do princípio de igualdade visto que as leis
valiam para todos, sem exceção.

3. SOCIEDADE MESOPOTÂMICA

Mesopotâmia, do grego Μεσοποταμία; composto por μέσος, que significa meio, e


ποταμός, que significa rio, quer dizer terra entre rios. Considerado o berço das civilizações,
era a região entre os rios Tigres e Eufrates, região hoje compreendida, majoritariamente, pelos
territórios do Iraque e da Síria.
Situada numa região de muitas planícies aluviais, entre dois rios, a região sofria com
inundações períodicas que depositavam sedimentos ricos em material orgânico, contribuindo
para um solo fértil e ideal para a agricultura. Essa caracterísca tornou a região conhecida
como o Crescente Fértil.
Com as características geográficas ideais, a região favoreceu o surgimento de
pequenas aldeias. Isso permitiu o surgimento das primeiras civilizações, com o sedentarismo e
uma localização fixa, iniciou-se as construções das primeiras cidades e, consequentemente, a
região se tornou o berço das civilizações humanas. A sedentarização do ser humano quebrou
com a tradição nômade, e trouxe o desenvolvimento da agricultura, da pesca, da caça e coleta.
É nessa região que temos notícias das primeiras experiênicas com a agricultura, da irrigação, a
invenção da escrita, das matemáticas e da astronomia.
Os sumérios foram uma das civilizações mais antigas a habitar a Mesopotâmia.
Fundaram as principais cidades por volta de 5.000 a.C., sendo: Ur, Uruk, Lagash, Eridu e
Nipur. Todas essas cidades eram cidades-Estados, e guerrearam por disputas comercais e
políticas.
Foram povos inteligentíssimos, criaram a roda, lidaram com as cheias dos rios
inventando as barragens, criaram sistemas de irrigação – fortalecendo a agricultura – e,
criaram o sistema de reservatório de água, também. Além dessas contruibuições, atribui-se
aos súmerios o desenvolvimento do primeiro método de escrita: a escrita cuneiforme. A
escrita cuneiforme era feita em blocos de argilas com uma cunha afiada, daí o nome
cuneiforme. Criado para manter o controle sobre a contabilidade dos palácios reais.
Os Acádios, conhecidos como os guerreiros de arco e flecha, eram povos da cidade de
Acad. Por volta de 2.300 a.C, acádios dominaram cidades da Súmeria, pois essas cidades
ocupavam as melhores terras da região, o que chamou a atenção dos demais povos. Com
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tropas a pé, com escudos e lanças, os súmerios foram derrotados pelas tropas ágeis dos
Acádios, que utilizavam arco e flechas.
Essa dominação, comandada pelo rei acádio Sargão I, unificou as cidades súmericas,
criando o primeiro império da história da humanidade, o Império Acádio. Entretanto essa
dominação durou pouco tempo e logo foi substituído pelos amoritas, povo predominante na
Mesopotâmia.
Os Amorritas, originários do deserto arábico, migraram para a Mesopotâmia por volta
de 2000 a.C. e estabeleceram-se na região da Babilônia, tornando-se conhecidos como
babilônicos. Sob o reinado de Hamurábi (1728-1686 a.C.), o mais proeminente rei amorrita, o
poder político e econômico da Babilônia expandiu-se significativamente. Hamurábi é famoso
por ter criado um dos primeiros códigos de leis escrito, o Código de Hamurábi, possuia 282
artigos, que regulava a vida econômica, a propriedade da terra na região, além de lidar com
questões de famílias e crimes. Este código incluía o princípio da Lei de Talião, que
determinava que a punição por um crime deveria ser proporcional ao crime cometido. Após a
morte de Hamurábi, o Império Babilônico entrou em declínio e foi invadido por vários povos,
incluindo os hititas e cassitas.
Os Assírios, localizados ao norte da Mesopotâmia em uma região chamada Assur,
desenvolveram-se como guerreiros formidáveis devido à sua localização estratégica e aos
constantes ataques que enfrentavam. Eles organizaram um dos primeiros exércitos
permanentes do mundo e, liderados por reis como Sargão II, Senequerib e Assurnipal,
estabeleceram um vasto império que dominou a Mesopotâmia, o Egito e a Síria entre os
séculos VIII e VI a.C. Os assírios eram conhecidos por sua crueldade, praticando massacres e
torturas brutais contra seus inimigos.
Os Caldeus, também conhecidos como neobabilônicos, dominaram a Babilônia após o
declínio do Império Assírio. Sob o reinado de Nabucodonosor, a Babilônia foi reconstruída e
se tornou uma das cidades mais opulentas da antiguidade. Nabucodonosor é conhecido por
suas conquistas militares, incluindo a tomada de Jerusalém em 586 a.C., quando os judeus
foram submetidos à escravidão. No entanto, o domínio caldeu foi breve, pois em 539 a.C., os
persas liderados por Ciro conquistaram e anexaram a Babilônia.
Pela complexidade das civilizações mesopotâmicas, devido ao desenvolvimento das
suas aldeias, do comércio e disputas político-territoriais, surgia a necessidade de codificações.
Seja por razões imperiais, de dominação de terrítório, ou para se estabelecer um parâmetro de
ordem, baseado nos costumes e tradição dos povos.

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Um dos mais importantes códigos mesopotâmicos, já citado antes, foi o código de
Hamurabi, mas não foi o único. Foi antecedido pelo código de Ur-nammu, criado pelo rei
Ur-Nammu, que governou a cidade-estado de Ur por volta de 2100-2050 a.C., durante a
Terceira Dinastia de Ur, na antiga Mesopotâmia.
O Código de Ur-Nammu é conhecido por suas disposições relacionadas à justiça
social e proteção dos direitos dos cidadãos. Ele incluía leis sobre casamento, propriedade,
herança, dívidas e crimes, estabelecendo penas proporcionais para diferentes tipos de ofensas.
Infelizmente, o Código de Ur-Nammu não chegou até nós em sua forma completa.
No entanto, fragmentos deste código foram descobertos em tabuinhas de argila na
antiga cidade de Ur e em outros locais na Mesopotâmia, fornecendo compreensão valiosa
sobre a organização social e jurídica da época.

4. SISTEMA JURÍDICO MESOPOTÂMICO

Nesse contexto, surge a necessidade, advinda das novas formas de organização


comerciais e urbanas das sociedades Mesopotâmicas, da criação de um direito novo,
complexo e mais abstrato do que aquele apresentado pelos povos arcaicos. Porém, deve-se
deixar claro que os sistemas jurídicos da Mesopotâmia possuíam sim forte influência
religiosa, sua característica base era a “ideia da revelação divina”, assim, usavam do
argumento religioso para dar razão às normas, o imperador era a voz dos Deuses e expressava,
mediante tal sistema normativo, suas vontades.
Isto posto, foram os primeiros povos a criar um sistema jurídico escrito codificado,
observa-se, no entanto, que tais “códigos” mesopotâmicos não possuíam o mesmo sentido do
termo jurídico dos códigos de base napoleônica. O mais antigo registro normativo escrito
descoberto pelos arqueólogos data de 2350 a.C., decretado pelo rei Urukagina na cidade de
Lagash, Antiga Mesopotâmia. Denominado “Código de Urukagina”, promulgou ações
contrárias à opressão de poder pela tirania, vislumbrou uma ideia de justiça para se viver de
forma digna e, por fim, foi a primeira vez em que aparece um padrão de “liberdade” - por
meio do termo “amargi”, que significa, de modo estritamente epistemológico, “retorno para
mãe”.
Apesar de ter tido uma vigência relativamente curta e, provavelmente, sem realmente
ter algum efeito prático, foi um texto normativo historicamente importante, uma vez que
possuía um claro caráter reformista no âmbito legislativo de várias cidades sumérias no
âmbito da promoção da justiça, afirmando já em seu prólogo: “o poderoso não oprimirá o
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órfão e a viúva, pois que tal pacto foi estabelecido [...]” Posteriormente, surge o primeiro
código aplicável como um corpo de leis, denominado “Código de Ur-Nammu”. Este
documento data de 2100 a.C., fora promulgado pelo fundador do novo império sumério, o rei
Ur-Nammu.
Sua forma estrutural é, de certo modo, um meio termo entre o direito arcaico concreto
e as modernas abstrações gerais que compõem o direito moderno, assim, o sistema possuía
tanto costumes reduzidos a escrito, como decisões proferidas em casos concretos.
Tratando-se do texto, tem-se descrito a forma estrutural da sociedade no código: uma
classe de homens livres, uma classe intermediária e com liberdade limitada - majoritariamente
composta por subalternos - e, por fim, uma classe de escravos. Observa-se no texto normativo
um destaque para as penas pecuniárias ao invés de punições físicas, mas ambas são presentes,
observa-se alguns exemplos:
“22. Se um homem arrancar o dente de outro homem, deverá pagar dois siclos de
prata.”
Após Ur-Nammu, surgiu na Mesopotâmia o “Código de Eshnunna”, que data de 1930
a.C., é considerado um dos mais completos ordenamentos jurídicos da antiga Mesopotâmia.
Tal texto normativo era composto por sessenta artigos, já trazia uma simbiose entre
materiais penais e civis do futuro ordenamento escrito por Hammurabi, além de que também
tratava de institutos complexos à responsabilidade civil, ao direito familiar e à
responsabilidade dos donos pelas ações de seus animais.
Em seguida, cerca de 1934-1924 a.C., foi promulgado o “Código de Lipit-Ishtar”,
composto por um prólogo, epílogo e 43 artigos.
Foi decretado pelo 5° rei da Primeira Dinastia de Isin, já tratando de assuntos como
direitos pessoais, relativos ao matrimônio, à sucessão, à penalidade, à contrato e às
propriedades. Têm-se exemplos:
29. Se um homem renuncia a sua primeira esposa… (a) ela não saiu de casa, então
sua esposa, tomada por ele como sua amada, é sua segunda esposa; ele é obrigado a
cuidar de sua primeira esposa.
Por fim, o mais famoso dos ordenamentos jurídicos escritos da história da
humanidade, o “Código de Hammurabi” foi decretado por volta de 1694 a.C., no período de
apogeu do império Babilônico, pelo rei Hammurabi.
Em seu apogeu, o rei Hammurabi foi senhor de uma unificação que incluía
aproximadamente toda a região da Mesopotâmia e seus adjacentes. Além disso, organizou a
sociedade babilônica a partir da propriedade privada, utilizando-se de um sistema hierárquico,

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basicamente feudal, e regulamentou as irregularidades do seu império, originando o famoso
código, o qual recebeu influências de seus antecessores durante a elaboração.
O ordenamento é composto por 282 artigos, escritos em quase 3600 linhas de texto,
das quais o trecho mais conhecido é a “Lei de Talião”: “olho por olho, dente por dente”.
Assim, percebe-se que é mais completo e extenso do que os seus antecessores, além de
também possuir um efeito mais autoritário, observa-se em seu prólogo o caráter divino para
dar tal autoridade ao ordenamento, afirmando que o imperador está representado no texto
normativo as vontades divinas:
“[...] Anu e Bel chamaram por meu nome, Hamurabi, o príncipe exaltado, que temia
a deus, para trazer a justiça na terra [...]”
Em seu texto, mantinha basicamente a mesma divisão social exposta no “Código de
Ur-Nammu”, uma divisão em três classes: Awilum (indivíduos livres, ricos ou pobres, com
direito de cidadania), Muskenum (indivíduos com personalidade jurídica) e os escravos
(tratados como bem alienável).
Deve-se destacar certos elementos inéditos que surgiram neste código, com foco no
direito da família, no direito econômico, direito penal e direito privado.
Com relação à família, a mulher era dotada de personalidade jurídica, possuindo a
liberdade de uso do seus bens após o casamento e tendo em vista que era previsto no código a
possibilidade de repúdio da mulher pelo marido, a recíproca também era verdadeira; além
disso, o ordenamento também discorre neste tópico familiar sobre a possibilidade e
consequências jurídicas da adoção.
Com relação à economia, elabora acerca de possíveis intervenções nas atividades
privadas, com relação aos salários e preços.
No direito penal, ocorre a centralização do poder para o rei, como foi demonstrado no
prólogo do código, consagrou aos delitos e as penas um caráter em partes sobrenatural e em
outras os princípios e autotutela e retaliação e, também, penas ligadas à mutilação e ao castigo
físico.
Por fim, a verdadeira inovação do código foi a regulamentação do direito privado, na
qual a responsabilidade civil é elevada e a possibilidade de empréstimos a juros, títulos de
crédito, operações de caráter bancário e outras possibilidades surgem. Conclui-se que, a partir
desses escritos, conservados em tabletes de argila ou cilindros de pedra, ocorriam os
processos de aplicação do direito na Antiga Mesopotâmia.

5. ASPECTOS EGÍPCIOS SEMELHANTES AOS DIAS ATUAIS

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Estrutura do mundo jurídico: Acerca do sistema legal egípcio, há de se nortear pelo
pensamento da egiptologista Rosalie David:

“Comparada com outras civilizações antigas, a lei egípcia produziu poucas


evidências de suas instituições. Ela era, no entanto, claramente governada por
princípios religiosos: acreditava-se que a Lei tinha sido transmitida à humanidade
pelos deuses na Primeira Ocasião (o momento da criação), e os deuses eram
responsáveis por estabelecer e perpetuar a lei.”

Ou seja, os detalhes estruturais mais detalhados não são conhecidos na atualidade, não
foram encontrados códigos egípcios complexos e unificados como o Código de Hamurabi,
mas mas arqueólogos e estudiosos defendem a existência deles, tendo em vista os precedentes
legais para julgar casos no Egito, como na Época Tinita, no Império Antigo e Império Médio.
Nesse sentido, a Lei Egípcia Antiga se assemelha com países contemporâneos em sua gênese,
uma vez que era regida por um conjunto de regras formuladas por homens (especialistas no
assunto), em um sistema jurídico que ponderava as evidências de infrações a essas regras,
além de agentes aplicadores dessas regras, que levavam os transgressores à justiça.

Além disso, o meio jurídico também era hierarquizado, claro que com suas diferenças,
já que no topo estava o faraó, representando os deuses e, consequentemente, a justiça divina,
seguido pelo vizir, com responsabilidades na administração prática da justiça, ouvindo casos,
nomeando magistrados e se envolvendo em tribunais locais.

Aspectos específicos do mundo jurídico: 42 Confissões Negativas para Maat (Papiro


de Ani) são uma espécie de mandamentos de retidão para os egípcios, como o decálogo o é
para judeus, cristãos e muçulmanos. Há ênfase a direitos individuais patrimoniais, morais,
físicos e voltados à dignidade, ou seja, se assemelham aos direitos humanos contemporâneos.

As normas egípcias, em que pesem emanarem de faraó, não poderiam contrariar a


regra de Maat. Assim o sistema jurídico egípcio apresentava-se de forma deveras
humanizado. O faraó não pode definir como bem queria, assim como há, hoje, normas
constitucionais imutáveis.

Mulher: Em relação ao período apresentado, a figura feminina se assemelha ao


período Moderno ao gozar dos mesmo direitos que homens, não havendo relação de
subordinação, além de disporem de patrimônio próprio, o administrando como queriam, assim
como o casamento, que se dava de livre escolha.

O regime de bens poderia ser pactuado e existia certa proteção a mulher no que se
refere ao divorcio, podendo ser estipulado pelo vizir ou acordado entre as partes uma espécie
de pensão em caso de divórcio, muito parecido com o que se observa nos dias atuais.

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Burocracia: O sistema notarial e de registro também era muito evoluído e no caso dos
registros de contratos formais como a compra e venda de imóveis os procedimentos eram
similares aos de hoje. Primeiro registrava-se o contrato de compra e venda no cartório de
notas e depois se transferia a propriedade pelo registro do imóvel.

O Judiciário era igualmente moderno. Composto de órgãos escalonados formavam um


sistema judiciário que, como demonstrado, é muito similar ao nosso. O vizir era o
representante máximo do judiciário, subordinado apenas ao rei, e possuía um enorme aparato
estatal sob seu cuidado. A administração pública contava com 42 tribunais locais que se
subordinavam a tribunais regionais que por sua vez se subordinavam a um Tribunal Supremo.

6. ASPECTOS MESOPOTÂMICOS SEMELHANTES AOS DIAS ATUAIS

Estrutura do mundo jurídico: “Política de Estado, não de governo”. Para manter a


ordem nas relações sociais, era preciso criar um código unificado que fosse reconhecido e
aplicado pela população. Ao invés das leis serem transmitidas oralmente ao longo do tempo, o
código se destacou pela escrita, com imutabilidade das leis, não modificado ao gosto de reis.

Aspectos específicos do mundo jurídico.

Casamento: Código de Hamurabi 128º - Se alguém toma uma mulher, mas não conclui
um contrato com ela, esta mulher não é esposa.

Dessa maneira, o Código de Hammurabi inova em seu contexto histórico e


assemelha-se ao regime do casamento brasileiro, no que se refere à presença de um
contrato celebrado para a efetivação do vínculo conjugal perante a lei (BOUZON,
1976).

Entende-se que é condição sine qua non, para o Código de Hammurabi, a celebração
do contrato de casamento para obtenção da validade legal, como posto no parágrafo
128 do código (HAMMURABI, 1976)

Formalização da monogamia: Código de Hamurabi: Adotou a monogamia, com rígida


fidelidade conjugal. O adultério era punido com a morte por afogamento no rio.

Código Civil Brasileiro de 2002: O Princípio da Monogamia proíbe o matrimônio com


mais de uma pessoa e determina que haja fidelidade recíproca do homem com a esposa e vice-
versa. Dessa forma, é imposto que todas as relações de afeto, comunhão, carnais, de deveres e
obrigações sejam realizadas com apenas um cônjuge. Portanto, há grande semelhança entre os
códigos, no sentido da, a conjugação entre homem e mulher, por regra, ser monogâmica, com
responsabilidade mútua entre as partes, além da mulher ser possuidora de direitos, a
protegendo de arbitrariedades de marido e filhos.

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Partilha de bens no divórcio: O marido que pedisse o divórcio deveria devolver o dote
a sua esposa.

Tal situação se assemelha ao artigo 1.575 do Código brasileiro, o qual afirma que a
separação judicial provoca a partilha de bens. No entanto, na Babilônia apenas a mulher
recebia o dote, enquanto no Brasil ambos devem compartilhar os bens diante da proposta
acordada pelos cônjuges.

Morte do cônjuge:

[...] parágrafo 171, o qual aborda a questão do falecimento do marido. Nesse sentido,
a esposa poderá ficar com o seu dote e com o presente nupcial, além da casa familiar
que futuramente servirá de herança para os filhos (HAMMURABI, 1976).

Esse parágrafo recorda o artigo 1.788 do Código Civil, o qual expressa que: Morrendo
a pessoa sem testamento, transmite a herança aos herdeiros legítimos; o mesmo ocorrerá
quanto aos bens que não forem compreendidos no testamento; e subsiste a sucessão legítima
se o testamento caducar, ou for julgado nulo.

7. REFERÊNCIAS

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Direito No Egito Antigo e Sua Comparação Com os Dias Atuais. Londrina: Thoth, 2018.
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WOLKMER, Antonio Carlos (org.). Fundamentos de História do Direito. 3. ed.
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