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A razão para tanto, em suma, decorre do fato de que uma parte mais tradicional da
doutrina tem-se apegado ao dogma romano-germânico do societas delinquere non
potest. Segundo este princípio, em conformidade com a chamada teoria da ficção
legal de Savigny, a pessoa jurídica é totalmente destituída de uma personalidade e,
logo, incapaz de manifestar vontade. Desta forma, seria impossível que este mesmo
ente, puramente ficto, viesse a praticar uma conduta que gerasse efeitos na esfera
penal, pois, para isso, é necessário exatamente o atributo da vontade, requisito
essencial para que haja, aliás, também, a culpabilidade.
René Ariel Dotti, contrário à responsabilização penal da pessoa jurídica, afirma que
só a pessoa humana tem capacidade genérica de entender e querer, sendo a
potencial consciência de ilicitude, isto é, a culpabilidade em si, uma qualidade
exclusiva da pessoa física e impossível de ser encontrada no ente jurídico . Assim,
por ser desprovida da capacidade de ação, a pessoa coletiva não seria, então,
capaz de praticar uma conduta infratora, pois não poderia ser a ela atribuída a
culpabilidade inerente à pessoa natural.
Contudo, há um fator que deixa dúvidas por esta fração mais conservadora da
doutrina. Primeiramente, destaque-se que o artigo 3º da Lei dos Crimes Ambientais -
o qual regularizou especificamente a aplicação do instituto na legislação brasileira –
ao responsabilizar a pessoa jurídica pelos crimes ambientais, não menciona em
nenhum momento o termo conduta enfocado por esses doutrinadores. Destarte, o
parágrafo 3º do artigo 225 da Carta Magna, trouxe em seu texto uma inovação ainda
não suficientemente ressaltada, qual seja, a responsabilização da pessoa jurídica,
não necessariamente em razão de uma conduta por esta praticada, mas sim, em
decorrência de suas próprias atividades.
No caso dos crimes de menor potencial ofensivo, estes são regulados pela Lei dos
Crimes Ambientais em seus artigos 27 e 28 e, também, pela Lei 9.099/95. O artigo
27 estabelece a possibilidade da transação penal (consistente na aplicação imediata
da pena de multa ou restritiva de direitos) sempre quando houver a prévia reparação
do dano ambiental. De acordo com o artigo 28, poderá ocorrer, inclusive, a
declaração de extinção de punibilidade, desde que haja laudo de constatação de
reparação do dano ambiental.
FREITAS, Vladimir Passos de; FREITAS, Gilberto Passos de. Crimes contra a
natureza (de acordo com a lei 9.605/98). 6ª ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2000.
MARCHESAN, Ana Maria Moreira. Alguns aspectos sobre a lei dos crimes
ambientais. Revista de Direito Ambiental, São Paulo, n. 19, p. 67-81, jul./set. 2000.