Você está na página 1de 5

RESPONSABILIZAÇÃO AMBIENTAL

ESTUDO DE PÓS-GRADUAÇÃO – PROFESSOR NILTON COUTINHO

A Constituição Federal em seu art. 225, §3, prevê a sujeição de infratores (pessoas físicas ou
jurídicas) a sanções penais, administrativas ou civis (de reparar danos); chama-se tríplice
responsabilidade.

A Lei 6.938 prevê no art. 14, §1, a responsabilidade objetiva por parte do poluidor em relação ao
dano causado ao meio ambiente e também a terceiros atingidos pela atividade. A
responsabilidade é objetiva haja vista o grau de importância do bem ambiental, e do fato de
serem danos de difícil reparação.

O STJ firmou o objeto de estudo do direito ambiental diferenciando o conceito de macrobem e


microbem ambientais, sendo o primeiro o conjunto harmônico do que define e caracteriza o meio
ambiente global, e microbem os seus componentes isolados, como a fauna, flora e a água.

O dano ambiental é difuso visto que atinge um número indeterminado de pessoas. Vale ressaltar
que direito individual homogêneo é aquele com causa comum a todos os indivíduos e que os que
sofreram o dano são identificados e com solução jurídica diferente para cada indivíduo em razão
da extensão do dano diferente para casa pessoa; direito coletivo é aquele com relação jurídica
comum a todos que compõem a ação, sendo identificáveis e com solução jurídica comum, não
havendo que se falar em extensão do dano diferente; já o direito difuso é aquele com causa
comum mas com sujeitos danados indeterminados, visto que pode afetar as presentes e futuras
gerações e sabe-se lá mais quem, pois é um dano contra a sociedade, e aqui se encaixa o direito
ambiental.

O dano ambiental é transfronteiriço.

A infração administrativa prescinde da demonstração de dano, sendo mero descumprimento por


ação ou omissão de regra ambiental.

A obrigação ambiental é propter rem, ou seja, o ônus quanto ao seu descumprimento recai sobre
o possuidor do imóvel, independente se é o causador ou não (Súmula 623, STJ), garantido o
direito de regresso contra quem provocou o dano.

Proveitoso também mencionar a inaplicabilidade da teoria do fato consumado no direito


ambiental, ou seja, as condutas que geram degradação ambiental não se convalidam no tempo, de
forma que podem ser desfeitas a qualquer momento.

A RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA

O poder de polícia está expresso no art. 78 do CTN, que dá ao poder público a prerrogativa de
limitar os direitos dos indivíduos em razão de preservação do interesse público.
A Responsabilidade administrativa é subjetiva, de forma que exige demonstração da conduta,
nexo causal e dano (RESP 1318051), sendo ainda subjetivamente mais abrangente, podendo ser
cobrado o proprietário anterior que causou o dano (RESP 1251697).

A pergunta que fica é que, como prescinde de dano, a responsabilidade administrativa exige
apenas a demonstração da conduta infracional? (pergunta GC)

De qualquer forma, a infração ambiental presente no art. 51 da Lei de Gestão de Resíduos


Sólidos sujeita o infrator à responsabilidade administrativa ambiental. Válido ressaltar que o
prazo prescricional para a cobrança de multa administrativa por degradação ambiental é de 5
anos a contar do término do processo administrativo, vide a súmula 467 do STJ.

A RESPONSABILIDADE PENAL

A lei de crimes ambientais (Lei 9.605) estabelece que também é cabível a responsabilização
penal em razão de degradação ambiental, elencando no artigo 2º a hipótese de conduta
concorrente da Pessoa Jurídica com o seu responsável, seja diretor, gerente, ou função do gênero
competente para dar voz à pessoa jurídica, sendo a ação penal diante de crime ambiental a
pública incondicionada, dada a relevância do bem jurídico tutelado.

Conforme o art. 3 da Lei, Pessoa Jurídica também é passível de ter imputação penal, mediante a
teoria da realidade, que entende que a pessoa jurídica é uma pessoa que pratica condutas e
determina atos, e da teoria da ficção, que reputa a impossibilidade da pessoa jurídica cometer
crime mas que por uma presunção legal o permite.

Nesse ínterim, vê-se a teoria da dupla imputação penal, prevista no art. 3, parágrafo único da Lei,
que fixa a punição de todos os envolvidos no crime, e não apenas a pessoa jurídica. E na hipótese
de não se identificar a pessoa física responsável pelo ato, a pessoa jurídica será punida mesmo
assim.

Válido ressaltar que a teoria menor da desconsideração da personalidade jurídica também tem
aplicação no direito ambiental sempre que se obstar o pagamento da indenização ambiental em
razão da pessoa jurídica (art. 4)

A responsabilidade penal ambiental é subjetiva, tal qual a administrativa (RESP 1251697).

A Lei 9.605 prevê sanções a condutas lesivas ao meio ambiente, incluindo as lesivas a “relevante
interesse ambiental”, acarretando detenção de um a três anos e multa (art. 68). A Lei 12.305, em
seu artigo 52, explica o que é lesão a relevante interesse ambiental, fixando se trata de falta na
conduta de autoridade responsável pelo gerenciamento do plano de gerenciamento de resíduos
sólidos em âmbito municipal (art. 23, L12305) e falta na conduta de pessoa jurídica responsável
pelo manuseio de resíduos perigosos (art. 39, §2 L12305).
A Lei de Crimes Ambientais também prevê a possibilidade de se substituir a pena privativa de
liberdade por uma restritiva de direitos quando se tratar de crime culposo (aquele praticado por
negligência, imprudência ou imperícia) ou pena aplicada menor que quatro anos, ou quando as
circunstâncias do crime além da culpabilidade, antecedentes, conduta social e personalidade do
condenado indicarem idoneidade da substituição. Válido dizer que a pena de PRD terá a mesma
duração que a PPL teria.

Entre as PRD estão a prestação de serviços comunitários, a interdição temporária de direitos, a


suspensão parcial ou total de atividades, a prestação pecuniária ou a recolhimento domiciliar. Há
também PRD para pessoa jurídica, como a suspensão das atividades da empresa, interdição de
estabelecimento, proibição de contratar com o poder público (até 10 anos) e prestação de
serviços comunitários.

Há a previsão de atenuantes para crimes ambientais, como o baixo grau de instrução, o


arrependimento posterior do infrator mediante espontânea reparação ou redução significativa do
dano ambiental, a comunicação prévia pelo agente de perigo iminente de degradação ambiental.
Além disso, há a previsão de agravantes, como a reincidência e ter praticado o crime para obter
vantagem financeira, ou coagindo terceiro, ou afetando a saúde/meio ambiente de forma grave,
ou concorrendo para danos a propriedade de outrem, ou atingindo área de conservação ou
urbana, ou em período de defeso à fauna (vulnerabilidade dos animais), além de outros previstos
no art. 15, II, L9605.

Existe crimes formais no direito ambiental e que o dano concreto serve como agravante da pena.

São condições penais favoráveis ao acusado presentes no Direito Ambiental o sursis, a aplicação
imediata de PRD ou multa ...

O sursis é a suspensão condicional da pena privativa de liberdade por dois a quatro anos,
aplicável no Código Penal a todo aquele condenado a pena não superior a dois anos. No entanto,
no Direito Ambiental, a benesse é maior, pois a substituição pode ocorrer em pena de até três
anos.

A aplicação imediata de PRD ou multa somente é possível nas hipóteses em que há prévia
composição do dano ambiental, salvo comprovada impossibilidade.

Crimes ambientais em espécie

O tipo da caça ilegal considera como núcleo, em linhas diretas, a morte do animal, e nesse artigo
inclui-se a destruição de ninho, impedimento da procriação e venda de animais da fauna silvestre
sem a devida autorização. Está dentro do conceito de fauna silvestre até mesmo os animais que
transitam em território nacional apenas a intuito migratório.

É crime ainda a venda para o exterior de pele de anfíbios ou répteis sem autorização, além da
introdução de nova espécie no país sem a devida autorização. Também é crime atentar contra a
vida marinha mediante despejamento de substância mortal (lixo industrial). De forma
semelhante, é proibido pescar em período defeso, além de pescar vide uso de explosivo ou
substância venenosa.

A prática de maus tratos possui tipo qualificado quando a agressão é dirigida a cão ou gato. Eu
acho isso no mínimo esquisito. Por que não uma pena ampliada para todas as espécies? Enfim...
Há aumento da pena em 1/6 a 1/3 se há morte do animal.

Há excludente de ilicitude em relação a crimes contra a fauna se o abate: i) em estado de


necessidade para saciar fome sua/família; ii) para impedir ação predatória possuindo autorização
expressa; iii) quando o animal for nocivo.

O meio ambiente cultural também é levado em consideração na L9605. Válido lembrar que se
incluem no conceito de meio ambiente o natural, artificial, cultural e do trabalho.

É crime contra o meio ambiente cultural destruir, deteriorar ou inutilizar i) bem protegido por
lei/ato executivo/decisão judicial; e ii) biblioteca/arquivo. Muito legal que crimes culturais estão
na lei de crimes ambientais. O tipo prevê pena para conduta dolosa e outra para conduta culposa.

Alterar a estrutura de local protegido por lei/ato/decisão judicial, ou construir onde não se podia
também é considerado crime ambiental. Isso me lembra a construção do hotel altão na frente do
mussulo.

A pichação é crime ambiental também, amém. E dobra se é realizada em bem tombado. O grafite
é exceção (havendo autorização de quem é competente para dá-la).

A RESPONSABILIDADE CIVIL

Sabe-se que no Direito Ambiental a regra é a responsabilidade objetiva na modalidade risco


integral, não servindo a tese de caso fortuito ou força maior para escusar a incidência da
necessidade de reparação (art. 14, §1, L6.938).

A jurisprudência quanto à responsabilidade civil se consolida no sentido de reafirmar a


responsabilidade objetiva por dano ambiental, informada pela teoria do risco integral, sendo o
nexo de causalidade o fator que aglutina a conduta e o dano, não servindo as excludentes de
responsabilidade civil para afastar a obrigação de indenizar (TEMA 681 e 707, a, STJ).

Ao prestar atenção no julgado, vemos que há um “elo perdido” em toda conduta capaz de ter
gerado dano ambiental, sendo o nexo de causalidade, ônus comprobatório que pode set invertido
em ações de natureza ambiental (Súmula 618, STJ).

Por exemplo, digamos que uma barragem de uma mineradora se rompeu, e a água que continha
desceu em força tamanha que destruiu um vale de árvores. A única forma da mineradora afastar a
própria responsabilidade seria comprovando que a água que devastou o vale não veio de sua
barragem, mas de outra fonte. Nesse caso, é improvável afastar o nexo de causalidade, ainda
mais porque não importa qualquer outra justificativa como alegar chuva forte, ou culpa de
terceiro ou até mesmo bem semovente (animal que danificou a estrutura da barragem).
Importante levantar que o prazo para reparação ambiental no âmbito civil é imprescritível. Não
se confunde com eventual bem pessoal danificado na conduta que gerou degradação ambiental;
por exemplo, o prazo para mover ação de reparação contra a mineradora hipotética em razão de
ter sua casa destruída prescreve, mas o ressarcimento ao dano difuso é imprescritível (Tema 999,
STF no RE 654833). Válido esclarecer que essa determinação quanto à imprescritibilidade
possui retroatividade máxima, ou seja, abarca até mesmo acontecimentos anteriores à
constituição de 1988.

A obrigação ambiental

FECHAR AULA 20

Você também pode gostar