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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE FORMIGA UNIFOR - MG

CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO


MARIANA SILVA PIRES EUSTÁCHIO

TRABALHO DE DIREITO PENAL

FORMIGA
2018
Lei de Crimes Ambientais n° 9.605/1998:

INTRODUÇÃO:

Seguindo o paradigma das demais constituições modernas e almejando a conservação do


meio ambiente em prol das futuras gerações a Constituição da República Federativa do Brasil de
1988 reservou atenção especial a temática, ressalvando em capítulo específico os dispositivos
constitucionais para a proteção e preservação dos diversos ecossistemas brasileiros.
Destarte, ressalta-se a necessidade de convivência harmônica com ambiente natural, sem
atropelos em nome do desenvolvimento econômico nacional, fixando, portanto, sanções na esfera
penal para condutas lesivas ao meio ambiente, não se limitando apenas a declaração formal da
tutela.
Devido a essa perspectiva, o ordenamento jurídico brasileiro se destaca na ordem
internacional, apresentando legislações progressistas e eficazes, como a Lei n°9.605/1988, que
unificou e sistematizou em um único diploma legal as infrações contra o meio ambiente, embora
ainda haja previsões de tipos penais em outros textos normativos. .

1. CONCEITO:

O conceito de meio ambiente é totalizador, embora fala-se em meio ambiente marinho


terrestre, urbano e etc. Essas são as nuances de um todo sistematicamente organizado onde as
partes, reciprocamente, dependem umas das outras e onde o todo é comprometido cada vez que uma
parte é agredida.
No direito positivo brasileiro o conceito de meio ambiente está disposto na Lei 6.938/81 que
no art.3.º, I estabeleceu: “meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de
ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. É
preciso acrescentar, ainda, que na Lei 6.938/81 no art. 2º, I, que o meio ambiente deve ser
considerado como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em
vista o uso coletivo.

2. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA:

São divergentes os posicionamentos acerca da aplicação do princípio da insignificância nos


delitos ambientes, compondo duas correntes:
1.ª) Qualquer conduta que atinja o meio ambiente é tida como significante, entende-se que
cada ação direta ou indireta tem capacidade para desequilibrar o ecossistema, portanto, não se pode
falar em princípio da insignificância nos crimes ambientais. Seguindo este entendimento:

“A quantidade de peixes apreendida com o apelante (nove quilos) enseja reconhecer a


lesividade ao bem jurídico tutelado pela Lei 9.605/98, e verificar cuidar-se de ação cujo
resultado não é diminuto, sendo inaplicável o princípio da insignificância.” (TRF-3.ª Reg.,
AC2002.61.02.007674-3, rel. Juiz Henrique Herkenhoff, DJU 29.02.2008,p.561).

“O bem jurídico agredido, nas infrações penais ambientais, é o ecossistema


(constitucionalmente tutelado no art. 225 da CF/88), cuja relevância não pode ser
mensurada, o que resulta na impossibilidade de aplicação da tese do crime de bagatela e,
por consequência, dos princípios de intervenção mínima e da subsidiariedade do Direito
Penal”(TRF- 4ª Reg., ACR 2005.72.00.004759-8, rel. Des. Paulo Afonso Brum Vaz, DE
19.09.2007).

2ª.) Segundo essa corrente, é possível a aplicação do princípio da insignificância, sendo observados
os respectivos requisitos, em matéria de crimes ambientais. Assim entende o Superior Tribunal de
Justiça e o Supremo Tribunal Federal, vejamos os julgados:

“ O corte de dois pinheiros, de um conjunto de sete outras árvores da mesma espécie,


presentes no meio de uma lavoura de soja e milho e que, portanto, não chegam a
compor uma “floresta” (elemento normativo do tipo), não constitui fato relevante para o
direito penal. Não há, em princípio, degradação de toda a flora que compõe o
ecossistema local, objeto de especial preservação, o que torna ilegítima a intervenção do
Poder Público por meio do Direito Penal.” (STF, HC n° 84.412, Rel. Min. Celso de
Mello, DJ 19.11.2004).

“O bem jurídico protegido pela Lei Ambiental diz respeito a áreas cujas as dimensões e
tipo de vegetação efetivamente integrem um ecossistema. A lei de regência não pode ser
aplicada para punir insignificantes ações, sem potencial lesivo à área de proteção
ambiental (...) no caso, um simples levante de cerca, em perímetro diminuto.” ( STJ, HC
35.203/SP, rel. Min. Laurita Vaz, DJU 01.08.2006, p. 464).

3. RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA NO DELITO AMBIENTAL:


3.1 Conflitos doutrinários:

A responsabilidade penal das pessoas jurídicas no campo dos crimes ambientais, configura
uma dissonância de opiniões. Teve como ponto inicial o dispositivo constitucional do art. 225 §3º.
CR/88: “As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão aos infratores,
pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independente da obrigação de
reparar os danos causados”. Sendo a incorporação das pessoas jurídicas no texto constitucional o
fato gerador de diversos posicionamentos que ganharam amplitude com o advento da lei 9.605/98
que, expressamente, prevê a responsabilidade penal das pessoas jurídicas no crimes ambientais.
Segue o pensamento das correntes:
1.ª) A CR/88 não criou a responsabilidade penal da pessoa jurídica, alicerçado em dois
argumentos: a correta exegese do §3.°, do art. 225 da CR/88 não apresenta hipótese de
responsabilidade penal da pessoa jurídica, uma vez que o vocábulo “condutas” referem-se às
pessoas físicas, e o vocábulo “atividades” referem-se às pessoas jurídicas. Concluindo que o texto
constitucional não inovou no tocante à responsabilidade penal das pessoas jurídicas, atribuindo
somente responsabilidade administrativa. Além disso, o art. 5.°, XLV, apresenta o princípio da
pessoalidade da pena impedindo que responsabilização penal recaia sobre a pessoa jurídica.
2.ª) A pessoa jurídica não pode cometer crimes - societas delinquere non potest: com fulcro
na Teoria da Ficção Jurídica às pessoas jurídicas são somente uma ficção do direito, ente inanimado
e irreal, consequentemente não possuem consciência, vontade ou finalidade, não podendo, portanto,
receber o mesmo tratamento jurídico das pessoas físicas quando cometem delito penal. Partindo
desse entendimento são postos outros a argumentos, tais como:
1. Pessoas jurídicas não têm capacidade de ação, não atuam com dolo ou culpa, não podendo
praticar infrações penais. Admitir a responsabilização penal das pessoas jurídicas é o mesmo que
aplicar a responsabilidade penal objetiva, sendo esta vedada ao direito penal brasileiro.
2. As pessoas jurìdicas não agem com culpabilidade, não tem imputabilidade e nem
consciência para entender a ilicitude do fato.
3. As penas somente podem ser aplicadas às pessoas físicas, afirmação que alude o princípio
da personalidade das penas. A sanção penal elege como uma das suas finalidades a reeducação do
infrator sendo impossível reeducar uma pessoa jurídica, por esta não possuir consciência.
Neste sentido segue o pensamento de Mirabete: “ A pessoa jurídica não pode ser sujeito
ativo de crime [...] É impossível a uma ficção a prática de atos criminosos, e aos entes reais
compostos de pessoas físicas não se adapta o conceito penal de dolo ou culpa (puramente
subjetivo)”. (2008, v.1, p.110).
3a) As pessoas jurídicas podem cometer crimes e sofrer penas - societas delinquere potest:
alicerçado na Teoria da Realidade defende que as pessoas jurídicas não são meros entes fictícios,
possuem capacidade e vontade próprias, podendo cometer crimes e consequentemente sofrer
sanções penais. Outro argumento trazido pela corrente é que o texto constitucional do art.225 3 da
CR/88 e o art.3 da lei de crimes ambientais permitem a responsabilidade penal das pessoas
jurídicas. Amparam, também o pensamento centralizado nesta doutrina:
1. As sanções administrativas e civis são insuficientes para coibir as condutas delitivas
das empresas que transgridem a legislação ambiental.
2. As sanções penais são elementos ímpares no combate aos crimes ambientais, sendo
uma grande aliada para a punição daquelas empresas que contribuem para a
destruição do meio ambiente.
3. Não é suficiente punir apenas as pessoas físicas, que muitas vezes não tem nenhum
benefício com a prática delituosa, acabando por se tornar uma espécie de proteção
para as pessoas jurídicas que cometem crimes ambientais e são as verdadeiras
beneficiárias do ato.
Guilherme de Souza Nucci se posiciona favoravelmente:
“ A pessoa jurídica possui vontade própria, mas ainda que não a possuísse é preciso lembrar
que há no direito penal casos de responsabilidade objetiva, inclusive para a pessoa física,
como no caso da embriaguez voluntária não preordenada. As penas privativas de liberdade
não constituem, atualmente, o objetivo principal do direito penal, devendo ser substituída,
cada vez mais, por penas alternativas (que são compatíveis com as pessoas jurídicas),
buscando-se evitar os males do encarceramento das pessoas físicas. Não há violação ao
princípio da personalidade da pena, porque embora as sanções penais sejam
personalíssimas, é preciso lembrar que elas recairão sobre a pessoa jurídica (autora do
delito) e não sobre os sócios. Quanto ao sócio ser indiretamente prejudicado com a sanção
aplicada à pessoa jurídica, tal reflexo é efeito da pena que ocorre em qualquer tipo de
crime. Cremos estar com a razão aqueles que sustentam a viabilidade da pessoa jurídica
responder por crime no Brasil, após a edição da lei 9.605/98, que cuida dos crimes contra o
meio ambiente, por todos os argumentos supracitados. Além disso, é preciso considerar que
a condenação na esfera penal - pouco importando se a pena é somente restritiva de direitos
ou multa - é, moralmente mais efetiva que pronunciamentos judiciais em outras áreas.”
(2014, p.763) (GRIFO MEU)

3.2 Requisitos legais para a responsabilização da pessoa jurídica:


Nos termos da lei em tela são necessários dois requisitos para que possa haver a
responsabilidade penal da pessoa jurídica: decisão do representante legal, contratual ou órgão
colegiado mais interesse ou benefício da empresa, havendo obrigação de se indicar qual foi a
decisão do representante ou órgão colegiado que ensejou a infração penal e qual o interesse ou
benefício da empresa com prática delitiva, quando do oferecimento da denúncia sob pena de
inépcia. Não sendo possível responsabilização da pessoa jurídica a casuística que não se enquadre
nos requisitos anteriormente mencionados.
Assim, se um funcionário de uma empresa, que trabalha com uma motosserra resolve, por
sua conta e risco, avançar em área de preservação permanente e cortar árvores neste local proibido,
não se fala, nesse caso, em responsabilidade penal da pessoa jurídica; da mesma forma, se o gerente
de uma empresa (representante legal ou contratual) resolve autorizar o corte de árvores em área de
preservação permanente, contra os interesses da empresa, causando-lhe prejuízos enormes (perdas
de incentivos fiscais, perda de contratos com a desmoralização pública, etc.), não se cogita de
responsabilidade penal da pessoa jurídica.

3.3 Crimes culposos:

Há provisões de responsabilização penal da pessoa jurídica se restar comprovado que houve


uma decisão culposa (imperita, negligente ou imprudente) do representante legal ou órgão
colegiado viabilizando interesse ou benefício da empresa, sendo imprescindível demonstrar o nexo
causal entre a conduta culposa e o resultado. Dessa maneira, se para reduzir gastos não houve a
instalação de aparelhos de escoamento de resíduos tóxicos e estes transbordam e vão ao encontro do
cursos de rios causando um imenso impacto ambiental, há que se falar em responsabilidade penal da
pessoa jurídica se comprovado o nexo causal.

3.4 Sistema da Dupla Imputação:

O parágrafo único do art. 3° dispõe que a responsabilidade penal das pessoas jurídicas não
exclui a responsabilidade penal das pessoas físicas, autoras, coautoras ou partícipes do mesmo fato
(são responsabilidades independentes). Em outras palavras, é possível, pelo mesmo crime, punir
simultaneamente a pessoa física e a pessoa jurídica. Trata-se do Sistema da Dupla Imputação ou
Teoria das Imputações Paralelas.
Pelo referido dispositivo é possível punir apenas a pessoa física, ou a pessoa física e a
pessoa jurídica concomitantemente. Não é possível, no entanto, punir apenas a pessoa jurídica, já
que o caput do art. 3.° somente permite a responsabilidade do ente moral se identificado o ato do
representante legal ou contratual ou órgão colegiado que ensejou a decisão da prática infracional.
Assim, como já exposto, não é possível denunciar, isoladamente, a pessoa jurídica já que sempre
haverá uma pessoa física (ou diversas) corresponsável pela infração. Em relação aos entes morais,
os crimes ambientais são, portanto, delitos plurissubjetivos ou de concurso necessário.
Em síntese, pode-se concluir que será inevitável a incidência de tal teoria, para que haja a
responsabilização das pessoa jurídicas. Jamais pode a pessoa jurídica isoladamente aparecer no polo
passivo da ação penal, sempre será necessário descobrir quem dentro da empresa praticou o ato
criminoso em seu seu nome e em seu benefício. Destarte, devem ser processados - obrigatoriamente
- a pessoa que praticou o crime e a pessoa jurídica que tenha sido beneficiada com ato, se assim for
o caso.

3.5 Jurisprudência sobre a responsabilidade penal da pessoa jurídica:

No Supremo Tribunal Federal ainda não se manifestou definitivamente, porém integra o


Julgamento do HC 83.301/SP (DJU 06.08.2004 p.41) o ministro Cezar Peluso em voto, colocou
que: “Como o sabe toda a gente, ‘empresas’ não cometem crimes. Em nosso sistema penal, a
despeito do que estatui a Lei 9.605/98 vige o princípio societas delinquere non potest, sendo a
responsabilidade penal pessoal e, mais do que isto, subjetiva”. Neste sentido, todos os ministros,
em seus votos, deixaram anotado, obter dicta, a possibilidade de responsabilização criminal das
pessoas jurídicas, embora não tenha sido esse o objeto julgado.
Por sua vez, o entendimento do Superior Tribunal de Justiça admite a responsabilidade penal
das pessoa jurídicas, entendida esta como uma nova modalidade de responsabilidade social,
dissociada da clássica responsabilidade individual subjetiva.
Ainda em julgados do STF, a 1.ª Turma no RE 548.181/PR, decidiu que é possível a
responsabilização isolada da pessoa jurídica, ou seja, sem a responsabilização concomitante da
pessoa física que a representa. O STJ, ao contrário, admite a responsabilização penal da pessoa
jurídica “desde que haja imputação concomitante com pessoa física que seja responsável
juridicamente, gerencie, atue no nome da pessoa jurídica ou em seu benefício”. (STJ, HC
18842/RS, rel. Min. Laurita Vaz, DJe 25.09.2013).

“Admite-se a responsabilidade penal da pessoa jurídica em crimes ambientais


desde que haja a imputação simultânea do ente moral e da pessoa física que atua em seu
nome ou benefício, uma vez que não se pode compreender a responsabilização do ente
moral dissociada do atuação da pessoa física, que age com elemento subjetivo próprio”.
(REsp 889.528/SC, rel. Min. Felix Fischer, DJU 18.06.2007).
“O § 3.° do art. 225 da Constituição Federal de 1988 previu, em razão de opção
política do legislador, a possibilidade de responsabilidade penal das pessoa jurídicas por
crimes ambientais. O art. 3.° da Lei 9.605/98, que cuida dos crimes contra o meio
ambiente, regulamentou o preceito constitucional em referência, dando-lhe densidade
necessária. Não há qualquer inconstitucionalidade no §3.° do art. 225 da CR/88, fruto de
uma escolha política do legislador, que atende às expectativas por prevenção e proteção
de condutas atentatórias ao meio ambiente, bem jurídico de espectro coletivo, de
enorme relevância para o ser humano na atualidade”. (TRF-1.ª Reg. RSE 2007.
41.00.006063-4/RO, rel. Des. Tourinho Neto).

4. CRITÉRIO GERAIS E ESPECÍFICOS DE APLICAÇÃO DA PENA:

A Lei 9.605/98 inovou no quesito de aplicação das penas, trazendo regras diferenciadas do
Código Penal. Estabelece penas restritivas de direitos para as pessoas físicas totalmente diversas
daquelas previstas no CP, além de impor critérios diferenciados para a substituição (arts. 7.° a 13);
tem suas próprias atenuantes e agravantes (arts. 14 e 15); prevê prazo diferenciado de condenação
para a concessão de sursis(art. 16 e 17); utiliza critério diferenciado para que a multa aplicada no
máximo possa ser triplicada (art.18); prevê penas restritivas de direitos exclusivas das pessoas
jurídicas (arts. 21 a 23). Além disso, a Lei traz algumas novidade, como a possibilidade de perícia
ambiental indicar o valor dos danos causados pela infração e da sentença condenatória estabelecer o
valor dos prejuízos causados pela infração ambiental Arts 19 e 20).

4.1 Fixação da pena:

As expressões “imposição” e “gradação” da penalidade referem-se à fixação da pena, nos


moldes do art. 59, I a IV, do CP, nos crimes ambientais o juiz deve fixar a pena com base nas
circunstâncias judiciais desde art. 6.°, sem olvidar das penas já previstas no art. 59 do CP. Em
outras palavras, o juiz deverá considerar, com preponderância, as circunstâncias judiciais deste art.
6.°, mais aquelas do art. 59, CP.

4.2 Gravidade do fato (motivo e consequência da infração):

O motivo do crime também constitui circunstância judicial prevista no art. 59 do CP,


nenhuma novidade trouxe a lei neste ponto. Quanto às consequências da infração, o juiz deverá
levá-las em conta considerando os prejuízos ao meio ambiente e à saúde pública.
4.3 Antecedentes ambientais:

O juiz deverá levar em conta, preponderantemente, os bons ou maus antecedentes


ambientais do infrator e apenas, supletivamente, os outros antecedentes. Assim, se o infrator tem
bons antecedentes ambientais, mas maus antecedentes em relação a outras infrações, deverão
preponderar os primeiros na fixação da pena. Ressalta-se que os antecedentes ambientais não só se
referem aos crimes ambientais mas, também, ao cumprimento da legislação penal ambiental.

4.4 Situação econômica do infrator:

Quando a pena aplicada for de multa, o juiz terá em conta a situação econômica do infrator,
tal como na sistemática do CP (art. 60, caput). Além da situação econômica, observará o juiz o
valor do prejuízo causado pela infração, uma vez que é previsto no art.19, por provas periciais,
delimitar a dimensão do prejuízo causado.

5. FIXAÇÃO DE PENA PARA AS PESSOAS JURÍDICAS:

O art. 21 da Lei dos crimes ambientais dispõe que as penas aplicáveis são as multas (art. 21,
I) e as restritivas de direitos (art. 21, II e III), com atenção especial à pena de prestação de serviços à
comunidade. O caput do art. 21, traz que tais sanções podem ser aplicadas isolada ou
cumulativamente.
Dispõe, ainda, que essas penas podem ser aplicadas alternativamente. Ocorre que não há
nenhuma norma (no CP ou nesta lei) que disponha sobre a substituição de pena restritiva de direitos
por multa ou vice-versa, de tal modo que o dispositivo é inaplicável neste ponto.
As penas restritivas de direito aplicáveis às pessoa jurídicas são penas principais, ou seja,
não são substitutivas das penas privativas de liberdade, já que estas por razões óbvias não podem
ser aplicadas.

5.1 Pena de multa:


Prevista no art.21 da lei de crimes ambientais, que não traz normas específicas sobre o
cálculo de multa penal aplicada à pessoa jurídica, segue-se o disposto no art. 18, que estabelece que
a pena pecuniária deve ser calculada na forma do CP.
A pena de multa para a pessoa jurídica deverá então ser fixada entre 10 e 360 dias-multa,
atribuindo-se a cada um deles o valor de 1/30 a 5 vezes o salário mínimo vigente na data do fato. Se
a pena, aplicada no máximo, revelar-se insuficiente, poderá ser triplicada tendo em vista o valor da
vantagem econômica auferida com o crime.
Para Evitar que a multa penal da pessoa jurídica ficasse muito aquém do valor auferido com
a infração penal entende-se que o legislador deveria ter utilizado uma unidade padrão para as
pessoas físicas (dias-multa) e outra para as pessoa jurídicas, como, por exemplo, “dia-faturamento”.

5.2 Pena restritiva de direitos aplicáveis às pessoas jurídicas:

As penas aplicáveis às pessoa jurídicas não são substitutivas das penas privativas de
liberdade, como já exposto. Sendo as penas principais deveriam, portanto, estar cominadas nos tipo
incriminadores, mas tambem não estão. Há apenas a previsão genérica delas nos arts. 21 a 23 da lei
9.605/98, que não estabelecem o limite mínimo e máximo cominados (com exceção do art. 22, §3.°.
que prevê o prazo máximo da sanção). Havendo, neste sentido, uma ofensa ao princípio da
legalidade (art. 5.°, XXXIX, CR/88) que dispõe que não haverá penas sem prévia cominação legal.
A única solução, portanto, para tentar superar mais essa incongruência da lei é aplicar a pena
restritiva de direitos de forma direta (não em substituição da pena de prisão) utilizando como limite
máximo da pena privativa de liberdade cominada no tipo penal, observando o critério trifásico do
art.68 do CP.

5.3 Suspensão parcial ou total de atividades:

Com previsão no art.22 da lei de crimes ambientais suspensão parcial ou total das atividades
será aplicada quando estas não estiverem atendendo às normas ambientais. Logicamente uma
conduta criminal ambiental descumpre normas ambientais, mas não é neste sentido a interpretação,
mas sim quando a empresa estiver reiteradamente descumprindo a legislação ambiental.

5.4 Interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade:


Essa sanção será aplicada quando obras, atividades ou estabelecimentos estiverem
funcionando sem devida autorização, ou em desacordo com a concedida, ou ainda com violação ao
dispositivo legal ou regulamentar (art. 22 §2.°).
Como a lei não prevê o prazo (mínimo ou máximo) dessa interdição, o juiz deverá fixá-la
dentro dos parâmetros da pena privativa de liberdade cominada para a infração, considerando ainda
a necessária individualização da pena, para que ela seja aplicada de forma excessiva e além do
limite necessário.

5.5 Proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios,
subvenções ou doações:

A lei, ao contrário, das duas sanções anteriores, não estabelece em qual hipótese será cabível
esta pena restritiva de direitos. Dispõe apenas sobre o prazo máximo da sanção, que não poderá
exceder de 10 anos (art. 22, §3.°). Embora estabeleça o prazo máximo, essa sanção também é de
duvidosa constitucionalidade. uma vez que a imensa maioria dos crimes ambientais não têm pena
privativa de liberdade superior a 03 anos.
A individualização da pena, conforme ensinamento doutrinário e jurisprudencial, faz-se no
plano abstrato ( na cominação) e no plano concreto (na aplicação e na execução da pena). Assim, se
o legislador comina uma pena máxima de 03 anos para determinado delito, entendendo esse
patamar como suficiente para a prevenção e reprovação do crime o que justificaria aplicar, para a
mesma infração, uma pena de 10 anos de restrição de direitos? Em obediência ao princípio da
proporcionalidade e da individualização da pena, acredita-se, portanto, que esse patamar máximo de
10 anos deve ser desconsiderado, devendo esta pena restritiva de direitos seguir os limites máximos
da pena privativa de liberdade cominada para a infração.

5.6 Prestação de serviços à comunidade:

Previsão no art. 23 da Lei de crime ambientais, as penas de prestação de serviço à


comunidade também não têm seus limites cominados na Lei, de tal forma deverão seguir os limites
da pena privativa de liberdade cominada à infração, observada ainda a necessária individualização
da sanção, para que não seja aplicada incorretamente.
Segundo Silvio maciel, “muitos juízes e tribunais, embora indevidamente, aplicam a pena privativa
de liberdade à pessoa jurídica e depois a substitui por restritiva de direito” (2015, p.76). Ressalta-se,
que nos casos em que ocorrem essa aplicação, pode ser observado o art. 46,§4.º do CP, que permite
ao condenado cumprir pena de prestação de serviços à comunidade em tempo menor do que a pena
privativa de liberdade substituída, no caso de condenação superior a um ano.
Observa-se que todas as penas restritivas de liberdade previstas têm relação com a proteção
ao meio ambiente. Não pode o magistrado, portanto, fixar penas, restritivas de direito que nada
tenha haver com o meio ambiente. Na prática, entretanto, no caso de pessoas físicas há o
desvirtuamento da lei ao serem impostas prestações de serviço em locais que não são pertinentes ao
cenário ambiental, espera-se que tal situação não seja presente no contexto das pessoas jurídicas.

5.7 Liquidação forçada pessoa jurídica:

Como sanção a pessoa jurídica ainda há previsão da liquidação forçada, cabível quando a
pessoa moral for constituída e utilizada, preponderantemente, com o fim de permitir, facilitar ou
ocultar prática de crime definido na lei em estudo. A pessoa jurídica que vier, com excelência e
regularidade, a praticar crimes contra o meio ambiente pode ser extinta, com fulcro no art. 24 da
Lei de crimes ambientais.
O patrimônio da pessoa jurídica será considerado instrumento de crime e perdido em favor
do Fundo Penitenciário Nacional. Liquidação causa, portanto, a dissolução da pessoa jurídica, já
que ela perde todo seu patrimônio, correspondendo a uma verdadeira “pena de morte” da empresa,
sendo aplicado com a devida cautela. Passos de Freitas expõe:

“A liquidação é uma autêntica pena acessória e deverá, por isso mesmo, ser
objeto de expresso pedido na denúncia. Se assim não for, não poderá o juiz impô-lo na
sentença, pois estaria prejudicando o direito de ampla defesa da ré. (...) Sea assim não for
feito, restará ao Ministério Público, que èo órgão detentor de legitimidade para tanto,
propor ação própria no juízo cível. À falta de previsão de rito processual cabível poderá
ser aplicado, por analogia, o contido nos arts. 761 a 786 do Código de Processo Civil”.
(2012, p.74).

6. DA APREENSÃO DO PRODUTO E DO INSTRUMENTO DE INFRAÇÃO


ADMINISTRATIVA OU DE CRIME:
A apreensão dos instrumentos e produtos de infração ambiental pode ocorrer pelas
autoridades administrativas ambientais, ou pela polícia se houver indícios de crimes ambientais. O
art. 25 foi alterado pela Lei 13.052/2014 que fez substanciais modificações.
O §1.° dispunha que os animais apreendidos podiam, alternativamente, ser liberados em seu
habitat ou entregues a instituições responsáveis, e não estabelecia qual dessas medidas deveria ser
prioritária. Agora, o referido parágrafo dispõe somente que os animais devem prioritariamente ser
liberados em seu habitat e somente ser entregues a instituições responsáveis caso seja recomendada
a soltura deles na natureza por questões sanitárias. Neste caso, as instituições devem fornecer
condições adequadas de acondicionamento e transporte que garantam o bem-estar animal.

6.1 Confisco dos instrumentos de crime ambiental:

O art. 91,II, a, do CP permite o confisco dos instrumentos do crime apenas quando o


fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito. Já o §5.° do art. 25 desta Lei prevê,
genericamente, o confisco (apreensão e venda) dos instrumento de crimes ambientais,
independentemente de constituírem objetos ilegais. Daí porque setores da doutrina entendem que os
instrumentos de crimes ambientais podem sempre ser apreendidos, ainda que por si só não
constituam objetos ilícitos. Nesse sentido, Capez:

“Embora o Código Penal determine o confisco dos instrumentos do crime no


art. 91, II, a e b, ressalva que não podem ser todos os instrumentos que podem ser
confiscados, mas somente aqueles cujos porte, fabrico ou alienação constituam fato
ilícito. A Lei 9.605/98, no entanto, não faz ressalvas. Deste modo, quaisquer
instrumento utilizados para a prática da infração ambiental pode ser apreendidos, sejam
ou não permitidos o seu porte. fabrico ou alienação”. (2006, v.4 p.67-68).

É preciso ter muita cautela na interpretação deste dispositivo, que não pode receber uma
exegese meramente literal. Os objetos que devem ser confiscados são apenas aqueles usualmente
utilizados na prática de delitos ambientais. Um objeto lícito, que muitas vezes representa o sustento
do agente e sua família, não pode ser confiscado porque, esporadicamente, foi utilizado
irregularmente e caracterizou a prática de delito ambiental. É preciso fazer a distinção, para não
haver injustiças e abuso. Motosserras utilizadas por madeireiras clandestinas, barcos utilizados por
pesqueiros ilegais devem, sem dúvida, ser confiscados; mas o barco de um humilde pescador, que
eventualmente pescou peixes além do permitido, não tem necessidade de ser confiscado; da mesma
forma que não tem necessidade de ser confiscado o caminhão do trabalhador que conseguiu um
serviço de “carreto” e, culposamente, transportou objetos nocivos ao meio ambiente (art. 56 §3.º, da
Lei). Seria no mínimo desproporcional a apreensão do barco e do caminhão dos trabalhadores
nessas hipóteses, pois que tais objetos não constituem instrumentos de crime, mas de instrumentos
de trabalho e subsistência das pessoas.
Neste sentido, o Tribunal Federal da 1.ª Região já decidiu que a regra do art. 25, §5.º, da Lei
Ambiental não é absoluta, podendo ocorrer a restituição do bem, dentro de um juízo de
razoabilidade. Expondo o entendimento:
“Demonstrado o bom direito de propriedade, não mais interessando a apreensão
da coisa para o processo e não sendo o caso de confisco, a restituição da coisa é medida
que se impõe. Não sendo o caminhão coisa cujo fabrico, alienação, uso ou detenção
constitua fato ilícito, não há como considerá-lo, a principio, instrumento de crime, até
porque apenas ocasionalmente referido bem pode ser utilizado na prática de crimes. Não
foi intenção do legislador dirigir a norma do art. 25 §4.º, da Lei 9.605/98 aos bens que
ocasionalmente são utilizados nos delitos ambientais”. (TRF - 1.ª Reg., AC 2164-8/AC,
rel. Des. Hilton Queiroz, DJU 07.11.2003, p.69)”.

“Nos termos do art. 118 do Código de Processo Penal, as coisas apreendidas não
poderão ser restituídas enquanto interessarem ao processo. In casu, o MM. Juízo Federal
a quo demonstrou que os bens apreendidos não são imprescindíveis a persecução
criminal. Não sendo os bens apreendidos coisa, cujo fabrico, alienação ou uso constitua
fato ilícito, não constitui objeto de confisco, razão pela qual não justifica sua apreensão
até trânsito em julgado da sentença. Precedente deste Tribunal Regional Federal. Não se
aplica ao caso o disposto no art. 25, §4.º, da Lei 9.605/98, eis que os veículos apreendidos
constituem mero meio de transporte, que ocasionalmente foi utilizado na prática do crime
ambiental em questão.” (TRF - 1.ª Reg., Des. Ítalo Fioravanti Sabo Mendes, DJU
25.05.2005, p. 50)”.

7. DA AÇÃO E PROCESSO PENAL:

7.1 Aplicação subsidiária do CPP e da Lei 9.099/95 Art.26:

A Lei Ambiental traz pouquíssimas normas processuais, sendo completada, portanto, pelo
Código de Processo Penal e pela Lei 9.099/95, já que muitas infrações são de menor potencial
ofensivo.

7.2 Interrogatório da pessoa jurídica:

Tratando-se de ato personalíssimo, o interrogatório não pode ser prestado senão pelo próprio
autor da infração. Como a pessoa jurídica é um ente fictício surge então a questão sobre quem deve
ser interrogado em nome dela ou se deve haver interrogatório da pessoa jurídica.
Ficou demonstrado que, inicialmente, vislumbrado o interrogatório como meio de prova,
deveria ser aplicado, por analogia, o disposto no art. 843, §1.º, da CLT, que permite o depoimento
do preposto ou gerente da empresa, que tenha conhecimento do fato. Se a finalidade do
interrogatório é levar ao juiz conhecimento do fato, não haveria sentido ser interrogado em lugar da
pessoa jurídica alguém que desconhecesse. Mas com advento da Lei 10.792/2003, que claramente
configura o interrogatório como meio de defesa, mudando-se o ponto de vista, passando a entender
que deve ser interrogado o gestor da empresa, que é quem tem interesse em realizar a defesa do ente
moral acusado, devendo ser aplicadas todas as garantias processuais e constitucionais do
interrogatório (presunção de inocência; devido processo legal; contraditório e ampla defesa, direito
ao silêncio etc).
Caso a pessoa física se torne corré no processo, terá de prestar dois interrogatórios: um em
sua defesa e outro em nome da pessoa jurídica, exceto em versões conflitantes. Não se tratam de
atos repetitivos porquanto a base das responsabilidades da pessoa fisica e jurídica são diferentes. O
gestor da empresa, em seu interrogatório pessoal, poderá dizer que não sabia da conduta que
ensejou a infração e que não tinha como impedi-la, já no interrogatório em nome da empresa poderá
dizer que a infração foi cometida exclusivamente por um funcionário da empresa sem poderes de
representação e que o delito em nada beneficiou a empresa. Não se poderá cogitar um único
interrogatório, viabilizando a economia processual, tendo em vista o disposto no art. 191 do CPP.
Há um precedente Tribunal Federal da 4.ª Região que concorda com os argumentos
aludidos:
“Tratando-se do interrogatório da pessoa jurídica, quem tem esse poder?
Logicamente, aquele que se posicionou como centro da decisão na ocasião dos fatos ou
que ocupa a função contemporaneamente ao processo. Só essa pessoa tem a capacidade
de esclarecer e explicar a motivação da conduta, que importa para a imputação da pessoa
jurídica. Obviamente se houver colidência de interesses entre as defesas da sociedade e do
diretor, este não poderá representá-lo no ato de interrogatório. Todavia, nunca poderá a
presposto o direito de ser interrogado em nome da empresa. Acaso haja incompatibilidade
entre as defesas do diretor do qual emanou a ordem e da pessoa jurídica, por certo nesse
processo a sociedade não será interrogada, a não ser que exista outro administrador
integrante do colegiado, que não tenha sido acusado”. (TRF- 4.ª Reg., MS
2002.04.01.0113843-0, rel. Des. Fábio Bittencourt da Rosa, DJ 26.02.2003, p.914).

7.3 Competência para julgamento dos crimes ambientais:

A Lei de Crimes Ambientais não faz nenhuma disposição acerca da competência dos crimes
nela previstos, ficando sob construção doutrinária, que criou uma regra geral: se o crime causar
dano direto e específico, lesando interesse da união ou das suas entidades, será da competência da
Justiça Federal; se o delito atingir interesse genérico e indireto da União ficará a cargo da
competência da Justiça Estadual. A justificativa para a criação da regra tomou como base o texto
constitucional, que diz ser de competência comum da União, Estados, Municípios e do Distrito
Federal a proteção ao meio ambiente (arts. 23 e 24 da CR/88). Seguindo essa postura:

“Crime previsto no art. 38 da Lei 9.605/98. Competência da Justiça Estadual


Comum. Esta 1.ª Turma, em 20.11.2011, ao julgar o RE 300.244, em caso semelhante
ao presente, decidiu que, não havendo em causa bem da União (a hipótese então em
julgamento dizia a respeito a desmatamento e depósito de madeira proveniente da Mata
Atlântica que se entendeu não ser bem da União), nem interesse direto e específico da
União (o interesse desta na proteção do meio ambiente só é genérico), nem decorre a
competência da Justiça Federal da circunstância de caber ao Ibama, que é órgão federal,
a fiscalização da preservação do meio ambiente, a competência para julgar o crime que
estava em causa (art. 46, parágrafo único, da Lei 9.605/98, na modalidade de manter em
depósito produtos de origem vegetal integrantes da flora nativa, sem licença para
armazenamento) era da Justiça Estadual Comum. Nesse mesmo sentido, posteriormente,
em 18.12.2001, voltou a manifestar-se, no RE 335.929, por decisão eminente Min.
Carlos Velloso da 2.ª Turma. A mesma orientação é de ser seguida no caso presente.
Recurso extraordinário não conhecido”. (STF, RE 349184/TO, rel. Moreira Alves, DJU
07.03.2003, p.2).

7.3.1 Modificação de competência:

Haverá modificação da competência se durante o processo forem notados interesses da


União, que em um primeiro momento não havia, deslocando a competência para a Justiça Federal.

7.3.2 Competência para julgamento dos crimes ocorridos cometidos na Floresta


Amazônica, Mata Atlântica, Serra do Mar, Pantanal e Zona Costeira:

Sendo os locais citados tutelados pela Justiça Estadual ficarão a cargo dessa, apesar de
serem patrimônios nacionais não são tidos como patrimônio da união.

7.3.3 Crimes cometidos em áreas sujeitas à fiscalização do IBAMA ou qualquer


outro órgão federal:

Fiscalização do órgão não irá determinar a competência, não atraindo, portanto, a


competência da Justiça Federal.

7.3.4 Crime cometido em área de preservação permanente ou em área de


cerrado:
Aplica-se a regra geral, não atingindo interesse direto e específico da União a competência
será da Justiça Estadual.

7.3.5 Crime cometido em rio estadual:

Ainda que para a execução do crime sejam utilizados equipamentos proibidos em leis
federais a competência será da Justiça Estadual.

7.3.6 Crime cometido em rio interestadual e em mar territorial:

É de competência da Justiça Federal os crimes que são cometidos em rios que ultrapassam
as fronteiras de um estado, banhando outro estado.

7.3.7 Extração de recursos minerais em propriedade particular:

Por ausência de interesse específico e direto da União, essa categoria de crimes abrange a
competência da Justiça Estadual.

7.3.8 Comercialização irregular de carvão:

Aplica-se a regra geral, portanto, entende-se de competência da Justiça Estadual Comum.

7.3.9 Liberação no meio ambiente de OGM (Organismos Geneticamente Modificados)


sem autorização da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança):

Constata-se ser de competência da Justiça Federal, uma vez que a CTNBio recebeu
tratamento de órgão ligado à Presidência da República, ainda, nota-se, possuir esta conduta uma
grande capacidade de lesividade para a saúde pública.

7.4 Ação penal nos crimes ambientais:


O art. 26 da Lei Ambiental prevê que a Ação será Pública Incondicionada, ressalvado a
hipótese de Ação Penal Subsidiária da Pública havendo vítima direta e inércia do Ministério
Público.

7.5 Transação penal para as infrações de menor potencial ofensivo:

A Lei Ambiental é silente sobre o que venha a ser os crimes ambientais de menor potencial
ofensivo, mas à luz da Lei 9.099/95, art. 61, diz ser crime de menor potencial ofensivo aqueles
delitos cuja a pena máxima seja até dois anos, sendo cabível a suspensão condicional do processo
para os crimes cuja a pena mínima não seja superior a um ano (art. 89 da Lei 9.099/95).
Tendo em vista as aludidas previsões legislativas da Lei 9.099/95, ficou-se entendido que os
crimes ambientais de menor potencial ofensivo serão aqueles cuja a pena máxima não passará de
dois anos, cabendo a suspensão condicional do processo para os delitos dos quais a pena mínima
não seja superior a um ano.
Ainda, no entendimento da Lei 9.099/95, arts. 74 e 76, poderá haver negociação de
transação penal entre o agente ativo e o Ministério Público, observando os requisitos legais, mesmo
que não haja a efetiva composição dos danos entre autor e vítima, se assim for comportado no
suporte fático.
Tal assertiva não foi totalmente recebida na Lei Ambiental, para haver a transação penal nos
crimes ambientais de menor potencial ofensivo é necessário cumprir as disposições do art. 27 da Lei
9.605/98 que prevê a composição civil dos danos ambientais, sendo possível realizá-la, é requisito
para a transação penal, torna-se necessário, também, a observância das exigências do art.76 da Lei
9.099/95. Ressalta-se, que o dispositivo legal (art. 27 da Lei 9.605/98) apenas faz referência aos
“crimes ambientais”, ficando as contravenções penais ambientais isentas do procedimento.

8. PRESCRIÇÃO NO CRIME AMBIENTAL: PRECEDENTES DO TJBA, STJ e STF:

Como já exposto neste estudo, as condutas que prejudicam o meio ambiente podem sofrer
sanções na esfera administrativa, cível e penal, havendo variações das regras de prescrições em cada
esfera. Atendo-se, na esfera da ultima ratio, são usadas as regras prescricionais presentes no Código
Penal, art. 109:
“Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o
disposto no § 1o do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de
liberdade cominada ao crime, verificando-se:
I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze;
II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e não
excede a doze;
III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não
excede a oito;
IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a
quatro;
V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo
superior, não excede a dois;
VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano”.

8.1 Precedentes do Tribunal de Justiça da Bahia:

Ementa: “PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO.


ARTS. 60 E 64 LEI Nº 9.605/98. CRIMES AMBIENTAIS. IRRESIGNAÇÃO
MINISTERIAL CONTRA SENTENÇA QUE RECONHECEU A PRESCRIÇÃO
PUNITIVA ESTATAL. ALEGAÇÃO DE POSSUÍREM OS DELITOS NATUREZA
IMPRESCRITÍVEL E PERMANENTE. PLEITO DE REFORMA DO DECISUM.
IMPROCEDÊNCIA. ART. 60 DA LEI Nº 9.605/98. ÁREA TOTAL DO
EMPREENDIMENTO QUE, À ÉPOCA DA DENÚNCIA, ULTRAPASSAVA O LIMITE
IMPOSTO PELA LEI MUNICIPAL Nº 5.269/1997. SUPERVENIÊNCIA DA LEI
MUNICIPAL Nº 7.014/2006 QUE AUTORIZOU MODIFICAÇÕES QUANTITATIVAS
EM RELAÇÃO À METRAGEM DO ESTABELECIMENTO. SITUAÇÃO
REGULARIZADA. CRIME PERMANENTE. CONSUMAÇÃO QUE SE PROLONGA
NO TEMPO. PERMANÊNCIA CESSADA COM A PUBLICAÇÃO DA NOVA LEI,
OCORRIDA EM 29.06.2006. MARCO INICIAL PARA CONTAGEM DO LAPSO
PRESCRICIONAL. ART. 111, INCISO III, DO CPB. PENA MÁXIMA DE 06 (SEIS)
MESES DE DETENÇÃO COMINADA AO TIPO. FATOS ANTERIORES À LEI Nº
12.234/2010. TRANSCURSO DO PRAZO DE DOIS ANOS ENTÃO PREVISTO NO
ART. 109, INCISO VI DO CP. AUSÊNCIA DE CAUSAS SUSPENSIVAS. DELITO
EFETIVAMENTE PRESCRITO. ART. 64 DA LEI Nº 9.605/98. CRIME
CLASSIFICADO COMO INSTANTÂNEO DE EFEITOS PERMANENTES.
CONSUMAÇÃO IMEDIATA, SEM CONTINUIDADE TEMPORAL.
INAPLICABILIDADE DA REGRA DO ART. 111, INCISO III, DO CPB.
PRECEDENTES. COMINADA AO TIPO A PENA MÁXIMA DE 01 (UM) ANO DE
DETENÇÃO. PRAZO PRESCRICIONAL DE QUATRO ANOS NOS TERMOS DO
ART. 109, INCISO V, DO CPB. DENÚNCIA RECEBIDA EM 16.08.2000. AUSÊNCIA
DE CAUSAS SUSPENSIVAS. PRESCRIÇÃO COMPROVADA. RECURSO
CONHECIDO E IMPROVIDO. (Classe: Recurso em Sentido Estrito,Número do Processo:
0005493-43.2000.8.05.0001, Relator (a): Ivone Ribeiro Gonçalves Bessa Ramos, Primeira
Câmara Criminal - Primeira Turma, Publicado em: 18/02/2016 )
(TJ-BA - RSE: 00054934320008050001, Relator: Ivone Ribeiro Gonçalves Bessa Ramos,
Primeira Câmara Criminal - Primeira Turma, Data de Publicação: 18/02/2016)”.

Ementa:“HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO


AMBIENTAL. ARTS. 67 E 68 DA LEI Nº 9.605/98. RECONHECIMENTO DA
PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA. PENA MÁXIMA EM ABSTRATO, DE
CADA TIPO PENAL. PACIENTE COM MAIS DE SETENTA ANOS. INTELIGÊNCIA
DO ART. 115 DO CP. CONSTRANGIMENTO ILEGAL VERIFICADO. EXTINÇÃO DA
PUNIBILIDADE. ORDEM CONCEDIDA.
(TJ-BA - HC: 03132223020128050000 BA 0313222-30.2012.8.05.0000, Relator: Inez
Maria Brito Santos Miranda, Data de Julgamento: 12/11/2012, Segunda Câmara Criminal -
Segunda Turma, Data de Publicação: 29/11/2012)”.

Ementa:“ACÓRDÃO APELAÇÃO CRIMINAL. SENTENÇA ABSOLUTÓRIA.


CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE. ART. 38 (DESTRUIR OU DANIFICAR
FLORESTA CONSIDERADA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE) E ART. 60
(CONSTRUIR OBRA POTENCIALMENTE POLUIDORA, SEM LICENÇA
AMBIENTAL), AMBOS DA LEI 9.605/98. INSURGÊNCIA MINISTERIAL.
DECLARADA, DE OFÍCIO, A EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE DO APELANTE EM
RELAÇÃO AO CRIME PREVISTO NO ART. 60 DA LEI Nº 9.605/98, DIANTE DO
RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO RETROATIVA. INEXISTÊNCIA NOS
AUTOS DE ELEMENTOS A AUTORIZAR UM JUÍZO CONDENATÓRIO PELO
DELITO PREVISTO NO ART. 38 DA LEI 9.605/98, SOBRETUDO PELA AUSÊNCIA
DE PROVA INEQUÍVOCA DE QUE SE TRATAVA DE FLORESTA ("FORMAÇÃO
ARBÓREA DENSA, DE ALTO PORTE, QUE RECOBRE ÁREA DE TERRA MAIS OU
MENOS EXTENSA" PRECEDENTES DO STJ). LAUDO TÉCNICO DE FLS. 44/48,
EMITIDO PELA SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE DO MUNICÍPIO DE ENTRE
RIOS/BA, QUE FAZ REFERÊNCIA TÃO SOMENTE À SUPRESSÃO DE ALGUNS
DOS "ESPÉCIMES PLANTADOS". TAMBÉM NÃO RESTOU CONFIGURADO O
DELITO PREVISTO NO ART. 38-A DA LEI Nº 9.605/98, COMO SUGERIDO PELA
DOUTA PROCURADORIA DE JUSTIÇA. INEXISTÊNCIA DE PROVA TÉCNICA OU
PROVA INDIRETA SUFICIENTE PARA COMPROVAÇÃO DA MATERIALIDADE
DELITIVA. ABSOLVIÇÃO QUE SE IMPÕE. APELO CONHECIDO E IMPROVIDO.
DECISÃO UNÂNIME. (Classe: Apelação,Número do Processo: 0001157-
71.2014.8.05.0076, Relator (a): Ivete Caldas Silva Freitas Muniz, Segunda Câmara
Criminal - Primeira Turma, Publicado em: 17/03/2017 )
(TJ-BA - APL: 00011577120148050076, Relator: Ivete Caldas Silva Freitas Muniz,
Segunda Câmara Criminal - Primeira Turma, Data de Publicação: 17/03/2017)”.

8.2 Precedentes do Superior Tribunal de Justiça:

Ementa: “RECURSO ESPECIAL Nº 1.567.549 - SC (2015/0295663-8) RELATORA :


MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA RECORRENTE : LAURO
KEMPER ADVOGADOS : JANOR LUNARDI - SC003627 HENRIQUE LAPA
LUNARDI - SC031413 RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PENAL E
PROCESSO PENAL. CRIME AMBIENTAL. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO
PUNITIVA DO ESTADO. AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL. RECURSO
PREJUDICADO. DECISÃO Trata-se de recurso especial, interposto por LAURO
KEMPER com fundamento na alínea c do inciso III do artigo 105 da Constituição Federal,
contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina que manteve a
condenação do recorrente pela prática de crime ambiental à pena de 1 ano de reclusão. A
ementa do aresto foi sintetizada nos termos abaixo: PENAL. PROCESSO PENAL. CRIME
AMBIENTAL. DANOS À UNIDADE DE CONSERVAÇÃO (ARTIGO 40, LEI
9.605/98). MATERIALIDADE, AUTORIA E DOLO COMPROVADOS. 1. Nenhum ato
será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa
(Código de Processo Penal, artigo 563). 2. Demonstrados a materialidade, a autoria e o dolo
na prática do delito previsto no artigo 40 da Lei 9.605/98, em razão da conduta de suprimir
vegetação próxima a curso d'água, em terreno de alta declividade, no interior de Parque
Nacional, e ausentes causas excludentes de ilicitude ou culpabilidade, deve ser mantida a
condenação pelo referido delito. Em seu recurso especial, pleiteia a defesa "seja
reconhecido o cerceamento de defesa do Recorrente e a nulidade processual absoluta, caso
em que deverão ser anulados a sentença e o acórdão recorridos, determinando-se a baixa
dos autos a Vara de origem para instrução do feito." Alternativamente, requer o julgamento
da improcedência do pedido ou a redução do valor da prestação pecuniária imposta.
Apresentadas as contrarrazões e admitido o recurso, manifestou-se o Ministério Público
Federal pela prejudicialidade do apelo especial. É o relatório. Cumpre, inicialmente,
consignar que estes autos foram a mim distribuídos em 24/02/2016, porém foram
encaminhados com vista ao Ministério Público Federal na referida data e somente em
21/02/2018 retornaram conclusos ao meu gabinete com o parecer ministerial. Da análise
acurada dos autos, verifica-se que não há mais interesse nem utilidade no processamento do
feito, pois eventual provimento do recurso especial se mostraria inócuo, haja vista a
pretensão punitiva encontrar-se fulminada pelo implemento da prescrição, considerando-se
a pena concretamente aplicada. Extrai-se dos autos que o recorrente foi condenado pela
prática do delito tipificado no artigo 40 da Lei nº 9.605/98, tendo sido estabelecida a pena
de 01 ano de reclusão, em regime aberto, substituída por uma pena restritiva de direitos. No
caso presente, portanto, considerando a pena fixada, a prescrição se dá em 04 anos, nos
termos do que disciplina o artigo 109, inciso V, do Código Penal, prazo que deve ser
reduzido pela metade pois, quando da prolação da sentença, o réu já contava com mais de
70 anos, nos termos do artigo 115 do Código Penal. Dessarte, tendo a sentença
condenatória sido publicada em 23/01/2014, constata-se a implementação da prescrição da
pretensão punitiva, pois entre o último marco interruptivo e o presente momento já se
passaram mais de 02 anos, sem que tenha ocorrido o trânsito em julgado. Ante o exposto,
declaro a extinção da punibilidade do réu LAURO KEMPER quanto ao delito descrito no
artigo 40 da Lei nº 9.605/98, pela prescrição da pretensão punitiva do Estado com base na
pena aplicada em concreto, e julgo prejudicado o recurso especial. Publique-se. Intime-se.
Brasília, 07 de março de 2018. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA Relatora
(STJ - REsp: 1567549 SC 2015/0295663-8, Relator: Ministra MARIA THEREZA DE
ASSIS MOURA, Data de Publicação: DJ 09/03/2018)”.

Ementa: “AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 888.149 - RJ (2016/0093397-1)


RELATOR : MINISTRO RIBEIRO DANTAS AGRAVANTE : MINISTÉRIO PÚBLICO
FEDERAL AGRAVADO : JOSE DARCY NOGUEIRA ADVOGADO : ANNA
CHRISTINA SOUZA VALLADARES - RJ130711 DECISÃO Trata-se de agravo
interposto pelo MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL contra decisão do Tribunal Regional
Federal da 2ª Região, que não admitiu o recurso especial manejado com apoio no art. 105,
III, a, da Constituição Federal, em oposição a acórdão assim ementado: "PENAL.
EXTRAÇÃO ILEGAL DE AREIA. CRIME AMBIENTAL. PRESCRIÇÃO PELA PENA
EM CONCRETO. CRIME CONTRA O PATRIMÔNIO DA UNIÃO. AUSÊNCIA DE
TIPICIDADE MATERIAL. BAIXO VALOR E AUSÊNCIA DE QUANTIFICAÇÃO DO
MATERIAL EXTRAÍDO. PRINCÍPIOS DA INSIGNIFICÂNCIA E DA
SUBSIDIARIEDADE. RECURSO PROVIDO. 1 . Ocorrência de prescrição retroativa pela
pena em concreto, quanto ao delito do artigo 55 da Lei nº 9.605/98, haja vista o tempo
decorrido entre os fatos e o recebimento da denúncia. 2. A lesão ao patrimônio da União foi
insignificante, tanto que sequer foi quantificada, no laudo pericial. 3. Conduta narrada que,
conquanto formalmente típica, materialmente não o é, porquanto incapaz de lesar, de forma
significativa, o bem jurídico tutelado pela norma. 4. Recurso provido, para declarar a
extinção da punibilidade quanto ao delito do artigo 55 da Lei nº 9.605/98, e absolver o
apelante, quanto ao crime do artigo 2º, caput, da Lei nº 8.176/91, nos termos do artigo 386,
III, do Código de Processo Penal." (e-STJ, fl. 305). O recurso especial aponta violação do
art. 2º, caput, da Lei 8.176/1991 e do art. 386, III, do CPP, pelo argumento de que "o caso
não comporta a incidência do princípio da insignificância". Aduz que "o fundamento de
ausência de quantificação do prejuízo pela perícia, não é suficiente para que se afirme a
insignificância da conduta do agente, mormente no presente caso em que o laudo pericial ao
qual fez referência o acórdão recorrido fez expressa menção à 'grande quantidade de areia
ali depositada (...)' (fl. 10)" (e-STJ, fls. 309-320). Foram apresentadas as contrarrazões (e-
STJ, fls. 326-332). O recurso foi inadmitido com amparo na Súmula 7/STJ (e-STJ, fl. 334).
O agravante afirma que não pretende o reexame do conjunto fático-probatório dos autos (e-
STJ, fls. 339-343). O Ministério Público Federal manifestou-se pelo provimento do agravo
(e-STJ, fls. 368-373). É o relatório. Decido. Inicialmente, esclareça-se que, por força do art.
617 do CPP, a pena fixada na sentença de primeiro grau não poderá ser agravada (1 ano de
detenção, pela prática do crime previsto no art. 2º, caput, da Lei 8.176/1991 e-STJ, fl. 252),
nem mesmo, frise-se, em caso de eventual processo decorrente do reconhecimento de
nulidade (vedação à reformatio in pejus indireta). Nesse sentido: "PENAL. AÇÃO PENAL
ANULADA POR ESTE SODALÍCIO DESDE O OFERECIMENTO DA DENÚNCIA.
PENA IMPOSTA PELO TRIBUNAL LOCAL. RECURSO EXCLUSIVO DA DEFESA.
AGRAVAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. LAPSO PRESCRICIONAL CALCULADO
COM ESPEQUE NA REPRIMENDA FIRMADA PELA CORTE A QUO. CASO.
PROIBIÇÃO DA REFORMATIO IN PEJUS INDIRETA. CONCURSO FORMAL.
SÚMULA N. 497 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. PRESCRIÇÃO DA
PRETENSÃO PUNITIVA DO ESTADO. RECONHECIMENTO. EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO ACOLHIDOS. 1. A doutrina e a jurisprudência desta Corte entendem que
a proibição do agravamento da situação dos acusados, prevista no art. 617 do Código de
Processo Penal, também se estende aos casos em que há a anulação da decisão recorrida,
por intermédio de recurso exclusivo da defesa, de tal sorte que o órgão julgador que vier a
proferir uma nova decisão ficará vinculado aos limites da pena imposta no decisum
impugnado, não podendo piorar a situação do acusado sob pena de operar-se a vedada
reformatio in pejus indireta. 2. Havendo anulação do acórdão, que firmou a reprimenda dos
embargantes em 3 (três) anos e 9 (nove) meses de reclusão, por recurso exclusivo da defesa,
será este o parâmetro para fins de contagem do lapso prescricional, devendo ser excluído o
aumento decorrente do concurso formal conforme Enunciado Sumular n. 497 do Supremo
Tribunal Federal. 3. In casu, levando-se em consideração a reprimenda de 3 (três) anos de
reclusão e a redação do art. 109, IV, do Código Penal, constata-se a incidência da
prescrição, uma vez que, desde a data de consumação do delito em 9 de outubro de 2001
data do lançamento definitivo do tributo houve o transcurso do lapso de 8 (oito) anos, ante a
inexistência de marcos interruptivos da prescrição. 4. Embargos de declaração acolhidos a
fim de se reconhecer a prescrição da pretensão punitiva estatal." (EDcl no REsp
1.100.959/RJ, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 02/02/2012,
DJe 10/02/2012). Ademais, a existência de matéria de ordem pública, demanda a concessão
da ordem, de ofício, para que se declare a extinção da punibilidade do agente. À luz do art.
617 do CPP, observe-se que, na sentença condenatória, fora aplicada a pena de 1 (um) ano
de reclusão, pela prática do crime previsto no art. 2º, caput, da Lei 8.176/1991. Registre-se
que, no acórdão recorrido, foi declarada extinta a punibilidade do recorrido quanto ao delito
do art. 55 da Lei 9.605/1998 (e-STJ, fl. 302). Na espécie, embora não tenha havido o
trânsito em julgado para acusação, em razão da impossibilidade de majoração da
reprimenda aplicada ao recorrido, deve ser reconhecida a prescrição. Assim, sendo aplicada
a pena de um ano de reclusão, pela prática do crime previsto no art. art. 2º, caput, da Lei
8.176/1991, a prescrição da pretensão punitiva ocorre em quatro anos (art. 109, V, do CP).
Transcorrido o referido período desde a data da publicação da sentença condenatória
(11/7/2013 e-STJ, fls. 253 e 299) e não havendo outra causa interruptiva da prescrição,
deve ser declarada extinta a punibilidade do recorrente. Em face do exposto, com base no
art. 109, V, do Código Penal c/c art. 617 do Código de Processo Penal, concedo habeas
corpus, de ofício, para declarar extinta a punibilidade do recorrido JOSE DARCY
NOGUEIRA, no Processo n. 0001271-50.2009.4.02.5169, em relação ao crime previsto no
art. 2º, caput, da Lei 8.176/1991. Consequentemente, julgo prejudicado o agravo em recurso
especial. Publique-se. Intimem-se. Brasília (DF), 29 de setembro de 2017. Ministro
RIBEIRO DANTAS Relator
(STJ - AREsp: 888149 RJ 2016/0093397-1, Relator: Ministro RIBEIRO DANTAS, Data de
Publicação: DJ 10/10/2017)”.

Ementa: “RECURSO ESPECIAL Nº 1.367.580 - RS (2013/0044410-4) RELATOR :


MINISTRO ANTONIO SALDANHA PALHEIRO RECORRENTE : VALMIRO
PADILHA ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO RECORRIDO :
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL DECISÃO Trata-se de recurso especial interposto por
VALMIRO PADILHA, com fulcro no art. 105, III, alínea a, da Constituição Federal, contra
acórdão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região. A controvérsia tratada nos autos foi
bem relatada no parecer ministerial às e-STJ fls. 665/667, in verbis: Trata-se de recurso
especial interposto por VALMIRO PADILHA, com fundamento no alínea a do inciso III do
art. 105 da Constituição Federal, contra acórdão da Sétima Turma do Tribunal Regional
Federal da 4a Região que negou provimento à apelação interposta pela defesa e, de ofício,
reduziu a pena privativa de liberdade aplicada ao réu. Eis a ementa do acórdão: Penal e
processual. Usurpação do patrimônio público. Extração de arenito sem autorização legal.
Art. 20 da Lei 8.176/91. Princípio da Insignificância. Subsidiariedade do Direito Penal.
Inaplicáveis. Materialidade, autoria e dolo comprovados. Afastamento da majorante de
concurso formal. Diminuição da pena privativa de liberdade. Multa. Substituição. 1.
Impossível aplicar o princípio da bagatela aos fatos ora em julgamento, tanto em razão da
reiteração da prática delitiva, quanto diante da indissociabilidade do bem jurídico protegido
pelo art. 2o da Lei 8.176/91 com o bem jurídico ambiental. 2. Considerando que a atuação
da esfera penal foi imprescindível para coibir a extração mineral irregular e, ainda, que a
conduta perpetrada atinge bens jurídicos relevantes, não há se falar em atipicidade em razão
do caráter subsidiário do Direito Penal. 3. Comprovado que o réu explorou matéria-prima
pertencente à União sem autorização legal, a manutenção da condenação, por ofensa ao art.
20 da Lei 8.176/91, é medida que se impõe. 4. Tendo em conta a extinção da punibilidade
em relação ao crime do art. 55 da Lei 9.605/98, necessário afastar a majorante do concurso
formal reconhecida em sentença e, por conseqüência, reduzir a pena privativa de liberdade
para o mínimo legal. 5. Totalizando a sanção 1 (um) ano de detenção e, presentes os demais
requisitos legais, adequada a substituição da corporal por uma restritiva de direitos, (fl. 600
e-STJ) Consta dos autos que VALMIRO PADILHA foi denunciado, juntamente com outros
corréus, pela prática, em concurso formal, dos delitos tipificados no art. 55 da Lei 9.605/98,
c/c art. 15, II, alínea 'a', e art. 2º da Lei 8.176/91, pois constatou-se "a extração de recursos
minerais sem a competente licença em área de propriedade de David Inácio dos Santos" (fl,
109 e-STJ). Finda a instrução, o Juízo da Vara Federal Ambiental, Agrária e Residual de
Porto Alegre julgou parcialmente procedente a ação penal, condenando VALMIRO
PADILHA, por infração ao art. 2º da Lei 8.176/91 e ao art. 55 da Lei 9.605/98, em
concurso formal, ao cumprimento da pena de 1 (um) ano e 2 (dois) meses de detenção e ao
pagamento de 20 (vinte) dias-multa; a pena privativa de liberdade foi substituída pela
prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas (fls. 483-501 e-STJ).
Inconformada com a condenação, a defesa interpôs recurso de apelação objetivando o
reconhecimento da atipicidade do fato pela aplicação dos princípios da insignificância e da
subsidiariedade do Direito Penal (fls. 516-528 e-STJ). A Sétima Turma do Tribunal
Regional Federal, à unanimidade de votos, declarou, de ofício, extinta a punibilidade do réu
com relação ao delito previsto no art. 55 da Lei 9.605/98 e determinou a remessa dos autos
à origem para que o Ministério Público se manifestasse sobre a possibilidade do
oferecimento do benefício da suspensão condicional do processo com relação ao crime do
art. 2º da Lei 8.176/91, restando, na ocasião, prejudicado o exame do mérito do apelo da
defesa (e-STJ fls. 555-562). Com o retorno dos autos, o Ministério Público Federal,
verificando a existência de processo em curso na Justiça Estadual pela prática do crime
tipificado no art. 55 da Lei 9.605/95, manifestou-se pela inviabilidade do oferecimento do
sursis processual (e-STJ fls. 577-578). Sendo inviável a suspensão condicionar do processo,
o Tribunal Regional Federal da 4ª Região retomou o julgamento da apelação e negou
provimento ao recurso, pois não vislumbrou, no caso, a insignificância penal da conduta a
justificar a absolvição do réu; e, de ofício, reduziu a pena final pela prática do crime
previsto no art. 2º da Lei 8.176/91 para 1 (um) ano de detenção, pois afastada a majoração
da pena em razão do concurso formal com o delito do art. 55 da Lei 9.605/98, cuja
punibilidade foi extinta pela prescrição (e-STJ fls. 584-601). Daí o presente recurso
especial por meio do qual a defesa, inconformada com a manutenção da condenação,
insiste, em primeiro lugar, no pedido de absolvição do réu pela aplicação dos princípios da
fragmentariedade e da insignificância; subsidiariamente, requer a redução da pena em
patamar abaixo do mínimo legal reconhecendo-se a. atenuante da confissão espontânea (e-
STJ fls. 608-641). Opinou-se, ao final, pelo conhecimento parcial do recurso e, nessa
extensão, pelo seu desprovimento (e-STJ fls. 665/670). É o relatório. Decido. A insurgência
está prejudicada. Com efeito, configurada está a prescrição da pretensão punitiva do delito
imputado ao recorrente. Senão, vejamos. Consoante dispõe o art. 110, § 1º, do Código
Penal, "a prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a
acusação ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada, não podendo,
em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa" (redação
dada pela Lei n. 12.234, de 2010). No caso, tendo em vista que a pena imposta ao
recorrente não excede a 2 anos, a pretensão punitiva prescreve em 4 anos, conforme prevê o
art. 109, inciso V, do Código Penal, in verbis: Art. 109. A prescrição, antes de transitar em
julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1º do art. 110 deste Código, regula-se pelo
máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se: (Redação dada
pela Lei nº 12.234, de 2010). [...] V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um
ano ou, sendo superior, não excede a dois. Dessa forma, tendo em vista que entre o dia da
publicação da sentença condenatória (21/1/2010, conforme e-STJ fl. 502) e a presente data
transcorreu prazo superior a 4 anos, forçoso reconhecer a prescrição da pretensão punitiva
estatal, na modalidade intercorrente. Ante o exposto, com fulcro no art. 107, IV, do Código
Penal, c/c o art. 61 do Código de Processo Penal, declaro extinta a punibilidade do
recorrente pela prescrição da pretensão punitiva, em relação ao delito que lhe é ora
imputado, e julgo prejudicado o recurso especial. Publique-se. Intimem-se. Brasília, 22 de
novembro de 2017. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO Relator
(STJ - REsp: 1367580 RS 2013/0044410-4, Relator: Ministro ANTONIO SALDANHA
PALHEIRO, Data de Publicação: DJ 24/11/2017)”.

8.3 Precedentes do Supremo Tribunal Federal:

Ementa: “HABEAS CORPUS. PENAL. IMPETRAÇÃO CONTRA ACÓRDÃO QUE


DEU PROVIMENTO A RECURSO ESPECIAL INTERPOSTO PELO MINISTÉRIO
PÚBLICO. EXISTÊNCIA DE ELEMENTOS QUE INDICAM A PRESCRIÇÃO DA
PRETENSÃO PUNITIVA: OCORRÊNCIA. HABEAS CORPUS CONHECIDO
PARCIALMENTE E, NESSA PARTE, DEFERIDO PARA RECONHECER A
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE DO CRIME PREVISTO NO ART. 48 DA LEI N.
9.605/98.
(STF - HC: 93339 SC, Relator: CÁRMEN LÚCIA, Data de Julgamento: 18/03/2008,
Primeira Turma, Data de Publicação: DJe-070 DIVULG 17-04-2008 PUBLIC 18-04-2008
EMENT VOL-02315-04 PP-00967)

Ementa: “Decisão: Trata-se de habeas corpus em que se postula o reconhecimento do


conflito aparente de normas entre o art. 55 da Lei nº 9.605/98 e o art. 2º, caput, da Lei
8.176/91, com a condenação do paciente tão somente pelo delito previsto na lei dos crimes
ambientais em sua pena mínima e, em seguida, declarada extinta a punibilidade em razão
da prescrição retroativa. Decido. Não há como deixar de reconhecer o prejuízo da
impetração. A página oficial do Tribunal Regional Federal na internet (Processo nº
00062458320104036102) noticia a extinção da punibilidade do paciente pela ocorrência da
prescrição da pretensão executória. Diante do exposto, com base no art. 38 da Lei nº
8.038/90 e no art. 21, IX, do RI/STF, julgo prejudicado o pedido formulado neste habeas
corpus. Publique-se. Intime-se. Brasília, 27 de junho de 2014.Ministro Luís Roberto
BarrosoRelatorDocumento assinado digitalmente
(STF - HC: 107257 SP, Relator: Min. ROBERTO BARROSO, Data de Julgamento:
27/06/2014, Data de Publicação: DJe-148 DIVULG 31/07/2014 PUBLIC 01/08/2014)”.

Ementa: “RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PENAL E PROCESSUAL PENAL.


CRIME AMBIENTAL. EXTRAÇÃO ILEGAL DE RECURSOS MINERAIS.
PRESCRIÇÃO. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. PREJUDICIALIDADE. PERDA DO
OBJETO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. Decisão: Trata-se de recurso
extraordinário interposto contra acórdão prolatado pelo Tribunal de Justiça do Estado de
São Paulo, que manteve a decisão de 1ª instância, por meio da qual o magistrado
sentenciante julgou procedente a denúncia formulada, para condenar Vladimir de Cássio
Moisés, à pena de prestação pecuniária de trinta salários-mínimos e de prestação de
serviços à comunidade por seis meses, além de trinta e cinco dias-multa à razão unitária de
um salário-mínimo, como incurso nas sanções do art. 55, c/c art. 15, II, a, da Lei nº
9.605/98. É o relatório. DECIDO. O recurso extraordinário está prejudicado. Da leitura dos
autos, observo que a publicação da sentença condenatória ocorreu em 16/3/2011. Nesse
ínterim, transcorreu o lapso temporal de 2 (dois) anos completado em 16/3/2013, logo,
consumada a prescrição da pretensão punitiva do Estado, nos termos do inciso VI do artigo
109 da legislação vigente na época, tendo em vista que o crime ocorreu em 16/8/2007, logo,
anterior à Lei 12.234/10. Em face do exposto, declaro EXTINTA a punibilidade de
VLADIMIR DE CÁSSIO MOISÉS, com fulcro no artigo 61, caput, do CPP, e julgo
PREJUDICADO o presente recurso, com fundamento no artigo 38 da Lei 8.038/1990 e no
inciso IX do art. 21 do RISTF. Publique-se. Brasília, 21 de maio de 2014.Ministro Luiz
FuxRelatorDocumento assinado digitalmente
(STF - RE: 682564 SP, Relator: Min. LUIZ FUX, Data de Julgamento: 21/05/2014, Data de
Publicação: DJe-099 DIVULG 23/05/2014 PUBLIC 26/05/2014)”.

9. SUSPENSÃO DAS ATIVIDADES:


Com fulcro no art. 22, I e §1.º da Lei de crimes ambientais, prevê a pena de suspensão
parcial ou total da atividades, não possuindo previsão semelhante no CP, sendo aplicada quando as
atividades não estiverem observando as prescrições da lei ambiental, portanto aplicando-se às
pessoa jurídicas, estando entendida como pena substitutiva da pena privativa de liberdade
direcionada às pessoas físicas.

10. CIRCUNSTÂNCIAS ATENUANTES E AGRAVANTES:

10.1 Atenuantes genéricas ambientais:

Considerando-se o sistema trifásico de fixação da pena, as atenuante genéricas devem ser


aplicadas na segunda fase do cálculo da pena, sendo possível a aplicação das atenuantes previstas
nos arts. 65 e 66 do CP in bonam partem. Previsão do art. 14 da Lei n.º 9.605/98:

“Art. 14. São circunstâncias que atenuam a pena:


I - baixo grau de instrução ou escolaridade do agente;
II - arrependimento do infrator, manifestado pela espontânea reparação do dano, ou
limitação significativa da degradação ambiental causada;
III - comunicação prévia pelo agente do perigo iminente de degradação ambiental;
IV - colaboração com os agentes encarregados da vigilância e do controle ambiental”.

10.1.1 Baixo grau de instrução ou escolaridade:

O baixo grau de escolaridade não pode ser utilizado como argumento que justifique a
conduta lesiva, mas pode diminuir a reprovabilidade da ação, por consequência diminui a pena. O
Por sua vez, o baixo grau de instrução poderá constituir uma excludente de ilicitude do fato,
aplicando-se o dispositivo do erro de proibição, caso seja erro escusável ou acarretar diminuição de
pena se constituir um erro inescusável (art. 21 do CP).
10.1.2 Arrependimento:

Configura-se a atenuante se após o dano causado há reparação, entendo ocorrer a reparação


depois do recebimento da denúncia. Havendo reparação antes do recebimento da denúncia,
determina tese do arrependimento posterior (art.16 do CP), por consequência diminui-se a pena em
ambos casos.

10.1.3 Comunicação prévia do perigo de degradação:

Se antes da ação lesiva o agente comunicou às autoridades competentes sobre o perigo de


danos ao meio ambiente, aplica-se a atenuante.

10.1.4 Colaboração com os agentes ambientais:

Tratada como uma espécie de “delação premiada ambiental”, se o agente colaborar com as
investigações haverá motivos para atenuar a pena.

10.2 Agravantes genéricas ambientais:

O art. 15 da Lei de Crimes Ambientais traz um rol das agravantes, devendo ser aplicadas na
segunda fase do cálculo da pena, se tiverem tratamento de elementares, qualificadoras ou causas de
aumento de pena não serão aplicadas. São elas:
“Art. 15. São circunstâncias que agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o
crime:
I - reincidência nos crimes de natureza ambiental;
II - ter o agente cometido a infração:
a) para obter vantagem pecuniária;
b) coagindo outrem para a execução material da infração;
c) afetando ou expondo a perigo, de maneira grave, a saúde pública ou o meio ambiente;
d) concorrendo para danos à propriedade alheia;
e) atingindo áreas de unidades de conservação ou áreas sujeitas, por ato do Poder Público, a
regime especial de uso;
f) atingindo áreas urbanas ou quaisquer assentamentos humanos;
g) em período de defeso à fauna;
h) em domingos ou feriados;
i) à noite;
j) em épocas de seca ou inundações;
l) no interior do espaço territorial especialmente protegido;
m) com o emprego de métodos cruéis para abate ou captura de animais;
n) mediante fraude ou abuso de confiança;
o) mediante abuso do direito de licença, permissão ou autorização ambiental;
p) no interesse de pessoa jurídica mantida, total ou parcialmente, por verbas públicas ou
beneficiada por incentivos fiscais;
q) atingindo espécies ameaçadas, listadas em relatórios oficiais das autoridades
competentes;
r) facilitada por funcionário público no exercício de suas funções”.

Ressalta-se que não poderam ser aplicadas, por analogia, as agravantes dos arts. 61 e 62 do
CP, pois seria in malam partem.

10.2.1 Reincidência específica:

Exige-se que seja cometido, especificamente, um crime ambiental, não sendo possível
incluir as contravenções penais ambientais uma vez que o tipo não as menciona, resguardando o
instituto apenas aos crimes ambientais.

10.2.2 Finalidade de lucro:

Sendo elementar do tipo penal não se aplicará a agravante sob pena de bis in idem.

10.2.3 Coação por terceiro:

A coação poderá ser a moral ou física, configurando a coação física ou moral irresistível o
coagido não sofrerá sanções, respondendo pelo crime somente o coator. Sendo a coação moral
resistível ambos responderão pelo crime.

10.2.4 Perigo grave à saúde pública ou ao meio ambiente:

Este título já constitui circunstâncias judiciais desfavoráveis, entretanto, se o crime praticar


expor a perigo de maneira grave o meio ambiente ou a saúde pública deverá ser entendida como
agravante, não mais se aplicando ao cálculo da pena como uma circunstância judicial
desfavorável.

10.2.5 Dano à propriedade alheia:


Quase sempre os crimes ambientais causam danos à propriedade alheia, dificilmente serão
tratados como agravante sob pena de bis in idem.

10.2.6 Dano em Unidade de Conservação:

Não poderá incidir a agravante se esta for elementar do tipo penal, a título de exemplo
verifica-se no texto do art. 40 da Lei em tela “dano direto ou indireto à Unidades de Conservação”.
No mesmo sentido, não se aplicará a agravante se o tipo penal trazer “áreas sujeitas a regime
especial”.

10.2.7 Áreas urbanas e assentamentos humanos:

Não se aplicará se enquadrar como elementar, qualificadora ou causa de aumento de pena do


tipo penal.

10.2.8 Período de caça ou pesca proibida:

Tal agravante se aplicará nos crimes contra a Fauna, elencados nos arts. 29 a 35 da Lei
Ambiental. Há o entendimento majoritário que a caça é proibida em todo o território nacional
durante o ano todo, de forma que terá aplicação automática nos delitos contra a fauna brasileira.
Porém, o art. 29 da Lei traz como causa de aumento de pena proibição de caça ou pesca
(art.29,§4.°, II); da mesma forma, não se aplicará no art.34 por se tratar a pesca proibida como
elementar do tipo penal.

10.2.9 Domingos e feriados/período noturno:

Não se aplicará em nenhum crime contra a flora, pois a prática do crime em domingos e
feriados constitui causa de aumento de pena desse rol de infrações (art. 53, II, e), tal como a
prática delituoso em período noturno (art. 53, II, e)

10.2.10 Período de secas e inundações:


Não se aplicará em nenhum crime contra a flora (arts.38 a 52), pois a prática de
crimes contra a flora durante período de seca ou inundações recebe tratamento de causa de
aumento de pena (art.53, II, d).

10.2.11 Métodos crueis:

Entende-se por método cruel expor o animal morto ou capturado a desnecessário


sofrimento, aplicando-se a agravante aos crimes contra a fauna.

10.2.12 Abuso de licença, autorização ou permissão:

Se o agente possuir licença, autorização ou permissão para a prática da atividade


não ensejará conduta criminosa mas se exceder os limites impostos pela licença, autorização ou
permissão poderá atrair a agravante.

10.2.13 Pessoa jurídica mantida com recursos públicos ou beneficiada com incentivos
fiscais:

A agravante comporta a justificativa que para a prática do crime fora utilizado incentivos
fiscais e o erário, motivo para uma rígida repressão.

10.2.14 Espécies oficialmente ameaçadas de extinção:

Não se aplicará aos crimes contra fauna e flora previsto nesta lei ambiental, pois enseja
aumento de pena dos arts. 29, §4.°,I (espécies raras ou em extinção da flora) e art. 53, II, c
(espécie rara ou em extinção da fauna).
CONCLUSÃO:

Buscou-se centralizar em um só documento a criminalização de ações lesivas à


biodiversidade brasileira como forma de preservação da mesma. Assim como nas legislações
internacionais, inovou quando trouxe dispositivos que promovem a reparação do dano causado, da
mesma forma apresentou natureza ressocializadora no momento em que trouxe formas de
cabimento da substituição de pena. Procurou enfrentar divergências doutrinárias quanto à
responsabilização das pessoas jurídicas, o que gerou diversas críticas tornando-se um dos pontos
mais polêmicos da lei. Sendo muito elogiada quando, numa perspectiva social, conseguiu atenuar a
culpa das pessoas menos instruídas.
Foi possível concluir que criação da legislação de crimes ambientais foi um grande passo na
percepção jurídica dos direitos da coletividade, tratando o meio ambiente com a devida importância,
um bem comum, portanto, inerente ao patrimônio jurídico de todos os cidadãos, merecedor de
deferência numa leitura jurídica.
LEI DE CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO N.° 9.613/98
INTRODUÇÃO:

O crime de lavagem de dinheiro há muito é considerado uma preocupação mundial,


problema que se percebe desde de as épocas das grandes navegações com as práticas de pirataria, na
contemporaneidade, com o fenômeno da globalização a prática de lavagem de dinheiro se
fortificou. Em busca de combater tal prática as Nações Unidas promoveu a Convenção de Viena de
1988, em que os presentes assinaram uma resolução que obrigava a criminalizar nos seus
respectivos países o crime de lavagem de dinheiro advindo do tráfico de entorpecentes.
Seguindo a esteira das legislações internacionais o Brasil sancionou no dia 03 de março de
1998 a Lei n.º 9.613, que combate o crime de crime de lavagem de dinheiro, punindo penalmente os
envolvidos na atividade criminosa, sendo um dos dispositivos que mais trouxe inovações foi a
criação da COAF Conselho de Controle das Atividade Financeiras, órgão ligado ao Ministério da
Fazenda que busca identificar as atividade financeiras suspeitas de crime de lavagem de dinheiro.
1. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA NO ART 4.°, §2.°DA LEI 9.613 de 03.03.1998 -
CONSTITUCIONALIDADE:

Seguindo as diretrizes do direito processual penal é sabido que não é regra a inversão do
ônus da prova, porém no âmbito desta lei, ocorre a inversão do ônus da prova, como previsto no art.
4.º §2.º condicionando a comprovação da ilicitude dos bens para liberação parcial ou total dos
mesmos, consoante à concepção segue o entendimento de Távora:

“Entretanto, é possível falar em inversão do ônus da prova em medidas cautelares


assecuratórias regradas pela Lei de Lavagem de Capitais (Lei nº 9.613/1998). Em processo
penal, inversão do ônus da prova é atribuir à defesa da pessoa imputada o encargo de
desconstituir a evidência de relação entre o fumus comissi delicti (o lastro que denota a
materialidade da infração penal) e um determinado bem valioso (dinheiro, valores, bens).
Para tal providência assecuratória e para a manutenção consoante princípio rebus sic
standibus, não se aplica a regra do in dubio pro reu, inversamente, a do in dubio pro
societate”. (2018, p.649).

Torna-se necessário evidenciar que o entendimento majoritário a respeito do dispositivo é


em favor da sua constitucionalidade, contrariando a afirmação de ofensa ao princípio da presunção
de inocência. A presunção de inocência trata-se, logicamente, de uma suposição que alude o réu,
havendo um condão com outro princípio constitucional, o do devido processo legal (art. 5.º, LIV,
CR/88) “Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”,
portanto, não há que se falar em inconstitucionalidade se o próprio princípio, que abarca o princípio
da presunção de inocência, traz essa disposição. Posto que a comprovação da ilicitude dos bens
poderá ocorrer em qualquer momento processual, havendo apenas a ordem de comparecimento
pessoal (3.º), do contrário, haverá decretação do perdimento dos bens em favor da União, como
efeito da sentença, não sendo o réu condenado haverá a restituição dos seus bens.

2. LAVAGEM DE DINHEIRO - DELITOS ANTECEDENTES AMPLIADOS PELA LEI


12.683/2012 - PRECEDENTES DO STF, STJ e TJSC:

O entendimento anterior a Lei 12.683/2012 expressa que o crime de lavagem de dinheiro


estava ligado a um rol taxativo (art.1.º da Lei 9.613/98), caracterizador de outras condutas delitivas
que seriam circunstâncias para a existência do crime de lavagem de dinheiro, sem a prática desses
tipos penais trazidos pela antiga Lei, não poderia se falar em crime de lavagem de dinheiro. Assim
era a redação do art. 1.º da Lei 9.613/98:

“Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição,


movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou
indiretamente, de crime:
I - de tráfico ilícito de substâncias entorpecentes ou drogas afins;
II – de terrorismo e seu financiamento;
III - de contrabando ou tráfico de armas, munições ou material destinado à sua produção;
IV - de extorsão mediante seqüestro;
V - contra a Administração Pública, inclusive a exigência, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, de qualquer vantagem, como condição ou preço para a prática ou omissão de
atos administrativos;
VI - contra o sistema financeiro nacional;
VII - praticado por organização criminosa.
VIII – praticado por particular contra a administração pública estrangeira.
Pena: reclusão de três a dez anos e multa.
§ 1º Incorre na mesma pena quem, para ocultar ou dissimular a utilização de bens, direitos
ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste artigo:
I - os converte em ativos lícitos;
II - os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou recebe em garantia, guarda, tem em depósito,
movimenta ou transfere;
III - importa ou exporta bens com valores não correspondentes aos verdadeiros.
§ 2º Incorre, ainda, na mesma pena quem:
I - utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, direitos ou valores que sabe serem
provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste artigo;
II - participa de grupo, associação ou escritório tendo conhecimento de que sua atividade
principal ou § 3º A tentativa é punida nos termos do parágrafo único do art. 14 do Código
Penal.
§ 4º A pena será aumentada de um a dois terços, nos casos previstos nos incisos I a VI do
caput deste artigo, se o crime for cometido de forma habitual ou por intermédio de
organização criminosa.
secundária é dirigida à prática de crimes previstos nesta Lei.
§ 5º A pena será reduzida de um a dois terços e começará a ser cumprida em regime aberto,
podendo o juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la por pena restritiva de direitos, se o autor,
co-autor ou partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando
esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais e de sua autoria ou à
localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime.”

Com o advento da Lei 12.683/2012 verificou-se mudanças significativas na leitura da Lei de


lavagem de dinheiro. O crime de lavagem de dinheiro não mais estaria ligado a prática dos crimes
elencados no Art. 1º da Lei 9.613/98, havendo um substancial alargamento do cenário de
reconhecimento da prática de lavagem de dinheiro podendo ocorrer diante de qualquer infração
penal, seja a conduta receptora de tratamento jurídico de crime ou contravenção penal. Em suma, o
crime de lavagem de dinheiro passou a ter uma óptica autônoma do ponto de vista jurídico.
Ressalta-se a aplicação do princípio da irretroatividade da lei mais gravosa, considerando
que as alterações apresentadas pela Lei 12.683/2012 são menos benéficas aos réus, não aplicar-se-á
antes da data de início da produção de efeitos legais: 09 de julho de 2012. fica assim o art 1.° da Lei
9.613/98:

“Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação


ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de
infração penal.

I - (revogado);

II - (revogado);

III - (revogado);

IV - (revogado);

V - (revogado);

VI - (revogado);

VII - (revogado);

VIII - (revogado).

Pena: reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e multa.

§ 1o Incorre na mesma pena quem, para ocultar ou dissimular a utilização de bens, direitos
ou valores provenientes de infração penal:

§ 2º Incorre, ainda, na mesma pena quem:

I - utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, direitos ou valores provenientes de


infração penal;

§ 4º A pena será aumentada de um a dois terços, se os crimes definidos nesta Lei forem
cometidos de forma reiterada ou por intermédio de organização criminosa.

§ 5o A pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser cumprida em regime aberto ou
semiaberto, facultando-se ao juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la, a qualquer tempo, por
pena restritiva de direitos, se o autor, coautor ou partícipe colaborar espontaneamente com
as autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais, à
identificação dos autores, coautores e partícipes, ou à localização dos bens, direitos ou
valores objeto do crime”.

2.1 Precedentes do Supremo Tribunal Federal:

Ementa:“Recurso ordinário em habeas corpus. Penal. Crimes formação de quadrilha (CP,


art. 288) e lavagem de dinheiro (art. 1º, incisos V e VII, da Lei nº 9.613/98). Trancamento
da ação penal. Inépcia da denúncia. Não caracterização. Atendimento aos requisitos do art.
41 do Código Penal. Inexistência de dolo específico para a configuração do delito de
quadrilha (CP, art. 288). Necessidade de revolvimento de provas. Inadmissibilidade na via
do habeas corpus. Inviabilidade da denúncia quanto ao delito de lavagem de dinheiro
fundado na participação em organização criminosa (art. 1º, inciso VII, da Lei nº 9.613/98,
com a redação anterior à Lei nº 12.683/12). Ausência de definição jurídica na legislação
pátria à época dos fatos. Ressalva de entendimento contrário do Relator (HC nº 108.715/RJ,
Primeira Turma, DJe de 29/5/14). Definição jurídica não suprida pela Convenção
Internacional de Palermo, incorporada ao direito positivo brasileiro pelo Decreto nº
5.015/04. Precedente. Recurso parcialmente provido. Extensão dos efeitos a corréus (CPP,
art. 580). 1. O trancamento da ação penal em habeas corpus constitui medida excepcional,
somente sendo aplicável quando se demonstrar, mediante inequívoca prova pré-constituída,
que não houve justa causa ou que ocorreu flagrante ilegalidade. Precedentes. 2. Na hipótese
em exame, não restou evidenciada nenhuma ilegalidade no oferecimento da denúncia, a
qual preencheu todos os requisitos previstos no art. 41 do Código de Processo Penal. 3. O
debate acerca da inexistência de dolo específico para a configuração do delito de quadrilha
(CP, art. 288), em sede de habeas corpus, é inadequado, pois demanda incursão no domínio
da prova. 4. Ressalvado o entendimento do Relator, é atípica a conduta capitulada no art. 1º,
inciso VII, da Lei nº 9.613/98 - a qual foi imputada ao recorrente -, pois, à época dos fatos
narrados na denúncia (1998 a 2005), não havia definição jurídica na legislação pátria para
organização criminosa. 5. A Convenção Internacional de Palermo, incorporada ao direito
positivo brasileiro pelo Decreto nº 5.015/04, não supriu essa omissão, conforme assentado
majoritariamente pela Corte no julgamento da AP nº 470/MG. 6. Recurso ordinário
parcialmente provido, concedendo-se a ordem de habeas corpus para trancar a ação penal
proposta contra o recorrente no tocante ao art. 1º, inciso VII, da Lei nº 9.613/98. 7.
Extensão dos efeitos dessa decisão aos demais corréus que respondem pelo mesmo delito
(CPP, art. 580).
(STF - RHC: 124082 DF, Relator: Min. DIAS TOFFOLI, Data de Julgamento: 09/12/2014,
Primeira Turma, Data de Publicação: DJe-025 DIVULG 05-02-2015 PUBLIC 06-02-
2015)”.

Ementa: “Decisão: 1. Trata-se de Inquérito instaurado no âmbito do Supremo Tribunal


Federal, com objetivo de apurar a prática, em tese, de crimes de corrupção e lavagem de
capitais nos quais estaria envolvido o Deputado Federal José Carlos Becker de Oliveira e
Silva. 2. O Procurador-Geral da República, com vista do caderno indiciário, manifesta-se às
fls. 230-239 pelo arquivamento dos autos com relação ao precitado parlamentar, em parecer
assim ementado: INQUÉRITO. OPERAÇÃO LAVA JATO. PRÁTICA DOS CRIMES DE
CORRUPÇÃO E LAVAGEM DE DINHEIRO. INSUFICIÊNCIA DE ELEMENTOS
PARA A FORMAÇÃO DA OPINIO DELICTI E PARA A CONTINUIDADE DO
APURATÓRIO. ARQUIVAMENTO, COM EXPRESSA RESSALVA DO DISPOSTO
NO ART. 18 DO CPP C/C SÚMULA 524 DO STF. 1. Remessa pela primeira instância de
elementos de convicção, obtidos em medida de busca e apreensão, fazendo referência ao
recebimento de doação eleitoral, por Deputado Federal, em suposto esquema criminoso de
corrupção e lavagem de dinheiro. Abertura de inquérito perante a Corte Suprema. 2.
Ausência, por ora, de corroboração suficiente dos elementos iniciais, após a realização das
diligências pertinentes. Inexistência, neste momento, de vetores persecutórios para o avanço
das investigações. 3. Arquivamento, com a expressa ressalva de reabertura, conforme
dispõe o art. 18 do CPP c/c a Súmula 524 do STF. 3. De acordo com o Ministério Público,
os depoimentos prestados pelo colaborador Milton Pascowitch noticiavam a celebração de
contratos superfaturados entre a Diretoria de Serviços da Petrobras, à época liderada por
Renato Duque, e a empresa Hope Recursos Humanos S/A, por meio dos quais se
operacionalizou um esquema de pagamento de propinas. Após a execução de medidas
busca e apreensão autorizadas pelo Juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba/PR, surgiram
elementos indiciários de que parte desses valores espúrios destinavam-se à campanha ao
cargo de Deputado Federal de José Carlos Becker de Oliveira e Silva (Zeca Dirceu), filho
do ex-Ministro José Dirceu. Conforme relatório elaborado pela Polícia Federal a partir de
dados extraídos do material apreendido, houve trocas de mensagens entre Roberto Marques,
amigo do genitor do investigado, e o então Diretor Presidente da Hope Recursos Humanos
S/A, Wilson da Costa Ritto Filho, por meio das quais foram ajustados repasses de recursos
a pretexto de doações eleitorais oficiais em favor de José Carlos Becker de Oliveira e Silva
(fls. 13 a 18). Evidenciados dois repasses de sócios da precitada empresa à campanha, tal
como narrado pelo colaborador, a Procuradoria-Geral da República aventou a hipótese de
que esses créditos não consistiram em atos de liberalidade, mas destinar-se-iam ao
branqueamento de valores provenientes de crimes de corrupção, daí o pedido de
deflagração de inquérito para apurar o envolvimento do aludido parlamentar. Após
realização das diligências propostas e oitivas dos envolvidos, assevera a autoridade
ministerial não terem sido coligidos elementos probatórios suficientes a demonstrar a
efetiva adesão subjetiva do investigado nas práticas ilícitas que constituem objeto desse
caderno apuratório. 4. À exceção das hipóteses em que o Procurador-Geral da República
formula pedido de arquivamento de Inquérito sob o fundamento da atipicidade da conduta
ou da extinção da punibilidade, é pacífico o entendimento jurisprudencial desta Corte
considerando obrigatório o deferimento da pretensão, independentemente da análise das
razões invocadas. Trata-se de decorrência da atribuição constitucional ao Procurador-Geral
da República da titularidade exclusiva da opinio delicti a ser apresentada perante o
Supremo Tribunal Federal. Nesse sentido, cito trecho de ementa que bem resume a questão,
a qual não leva grifos no original: () 4. Na hipótese de existência de pronunciamento do
Chefe do Ministério Público Federal pelo arquivamento do inquérito, tem-se, em princípio,
um juízo negativo acerca da necessidade de apuração da prática delitiva exercida pelo órgão
que, de modo legítimo e exclusivo, detém a opinio delicti a partir da qual é possível, ou
não, instrumentalizar a persecução criminal. 5. A jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal assevera que o pronunciamento de arquivamento, em regra, deve ser acolhido sem
que se questione ou se entre no mérito da avaliação deduzida pelo titular da ação penal.
Precedentes citados: INQ nº 510/DF, Rel. Min. Celso de Mello, Plenário, unânime, DJ
19.4.1991; INQ nº 719/AC, Rel. Min. Sydney Sanches, Plenário, unânime, DJ 24.9.1993;
INQ nº 851/SP, Rel. Min. Néri da Silveira, Plenário, unânime, DJ 6.6.1997; HC nº
75.907/RJ, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, 1ª Turma, maioria, DJ 9.4.1999; HC nº
80.560/GO, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, 1ª Turma, unânime, DJ 30.3.2001; INQ nº
1.538/PR, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Plenário, unânime, DJ 14.9.2001; HC nº
80.263/SP, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Plenário, unânime, DJ 27.6.2003; INQ nº
1.608/PA, Rel. Min. Marco Aurélio, Plenário, unânime, DJ 6.8.2004; INQ nº 1.884/RS,
Rel. Min. Marco Aurélio, Plenário, maioria, DJ 27.8.2004; INQ (QO) nº 2.044/SC, Rel.
Min. Sepúlveda Pertence, Plenário, maioria, DJ 8.4.2005; e HC nº 83.343/SP, 1ª Turma,
unânime, DJ 19.8.2005. 6. Esses julgados ressalvam, contudo, duas hipóteses em que a
determinação judicial do arquivamento possa gerar coisa julgada material, a saber:
prescrição da pretensão punitiva e atipicidade da conduta. Constata-se, portanto, que apenas
nas hipóteses de atipicidade da conduta e extinção da punibilidade poderá o Tribunal
analisar o mérito das alegações trazidas pelo PGR. 7. No caso concreto ora em apreço, o
pedido de arquivamento formulado pelo Procurador-Geral da República lastreou-se no
argumento de não haver base empírica que indicasse a participação do parlamentar nos
fatos apurados. 8. Questão de ordem resolvida no sentido do arquivamento destes autos, nos
termos do parecer do MPF (Inq 2341 QO, Rel. Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno,
julgado em 28/06/2007). Na espécie, concluiu o Procurador-Geral da República que,
embora hajam fatos criminosos a serem apurados, não se vislumbrou, a priori, a
participação do Deputado Federal JOSÉ CARLOS BECKER DE OLIVEIRA E SILVA nos
possíveis delitos de corrupção passiva (art. 317 do CP) e de lavagem de dinheiro (art. 1º da
Lei 9.613/98) nem se verificam novos rumos investigatórios que possibilitem outras
medidas investigativas que possam ser adotadas para para (sic) o integral esclarecimento da
hipótese levantada (fl. 238). Ressalto, todavia, que o arquivamento deferido com
fundamento na ausência de provas suficientes não impede o prosseguimento das
investigações caso futuramente surjam novas evidências. 4. Ante o exposto, defiro o pedido
de arquivamento do Inquérito instaurado em relação a José Carlos Becker de Oliveira e
Silva, com base no art. 3º, I, da Lei n. 8.038/90 e art. 21, XV, e 231, § 4º do RISTF, com a
ressalva do art. 18 do Código de Processo Penal. Determino, ainda, o subsequente envio
dos autos à 13ª Vara da Seção Judiciária de Curitiba/PR, a fim que sejam adotadas as
providências necessárias com relação aos envolvidos não detentores de foro por
prerrogativa de função no Supremo Tribunal Federal, apontados pelo Ministério Público
Federal à fl. 239 (Milton Pascowitch, José Adolfo Pascowitch, Wilson da Costa Ritto Filho,
Raul Andres Ortuzar Ramires, Júlio Gerin de Almeida Camargo, Roberto Marques e José
Dirceu de Oliveira e Silva). Cessada a competência desta Suprema Corte, mantenho o feito
sob segredo de justiça, cumprindo ao foro processante, se assim o entender, reavaliar essa
questão. Publique-se tão somente este despacho, restringindo-se o acesso às peças
digitalizadas do procedimento às partes e a seus defensores constituídos. Intimem-se.
Cumpram-se as determinações com a necessária diligência e, feita a remessa, providencie-
se a baixa definitiva na distribuição. Brasília, 4 de outubro de 2017. Ministro Edson Fachin
Relator Documento assinado digitalmente
(STF - Inq: 4322 DF - DISTRITO FEDERAL 0058095-75.2016.1.00.0000, Relator: Min.
EDSON FACHIN, Data de Julgamento: 04/10/2017)”.

2.2 Precedentes do Superior Tribunal de Justiça:

Ementa: “HABEAS CORPUS Nº 433.342 - CE (2018/0008805-7) RELATOR :


MINISTRO ROGERIO SCHIETTI CRUZ IMPETRANTE : FRANCISCO AIRTON
AMORIM DOS SANTOS E OUTRO ADVOGADOS : FRANCISCO AIRTON AMORIM
DOS SANTOS - CE005255 JEAN EFFERTON RIBEIRO AMORIM DOS SANTOS -
CE030960 IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO CEARÁ
PACIENTE : ANTONIO GERLANDO SAMAPIO VIANA (PRESO) DECISÃO Vistos.
Cuida-se de habeas corpus, com pedido de liminar, impetrado em favor de ANTONIO
GERLANDO SAMAPIO VIANA (PRESO) contra suposta demora no julgamento do
Recurso de Apelação n. 0046014-51.2013.8.06.0064 pelo Tribunal de Justiça do Estado do
Ceará. Narram os impetrantes que (fls. 3/4, e-STJ): "O paciente foi denunciado, nas sanções
do tipo penal entabulados nos artigos 33 e 35 da Lei nº 11.343/2006 Lei de Drogas; art. 2º,
caput, § 2º e § 3º da Lei nº 12.850/2013 Lei das Organizações Criminosas e art. 1º da Lei nº
9.613/1998 Lei de Lavagem de Dinheiro. Dando origem a Ação Penal de nº 46014-
51.2013.8.06.00064/0, que tramita na 2ª Vara Criminal da Comarca de Caucaia/CE. (anexo
01). 2. Inconformado com a sentença repressora, o paciente aviou recurso apelatório
buscando a reforma do decisum do Juízo processante. Salienta-se ainda, que o presente
recurso apelatório foi protocolando em 26/08/2016, acompanhado das razões recursais, não
podendo atribuir ao paciente qualquer emperramento processual. (anexo 02). 3. Ocorre que a
paciente sofre gravíssimo constrangimento ilegal por excesso de prazo na delonga excessiva
no julgamento do recurso apelatório, pois o referido remédio foi interposto em 26/08/2016 e,
até a presente data, os autos estão estagnados no Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, sem
haver previsão do trânsito em julgado da ação penal. 4. DEMORA INJUSTIFICADA: já
decorreu o lapso temporal de mais de 1 (um) ano 4 (quatro) meses e 21 (vinte e um) dias da
interposição do recurso apelatório e os autos permanecem sob a Relatoria do Eminente
Desembargador Haroldo Correia de Oliveira Máximo, sem que a defesa tenha dado causa,
não se sabendo quando será remetido à Procuradoria para parecer de segundo grau, inclusão
em pauta e, por fim, julgamento definitivo do feito que com certeza não se realizará logo.
(anexo 03). A delonga é excessiva no julgamento do recurso, porém, isso tudo sem contar
com o período que a paciente permaneceu custodiado antes da sentença repressora. 6.
Eminente Desembargador Relator Haroldo Correia de Oliveira Máximo extrapolou os
LIMITES DA RAZOABILIDADE na entrega da prestação jurisdicional, tendo em vista, os
autos foram processados, autuado e distribuído em 20 de outubro de 2016. O caso sub judice
é de TOTAL DESCASO DO APARELHO JUDICIÁRIO em cumprir o direito do cidadão a
um processo definido em tempo razoável. Isso, permissa vênia, não há como negar!". Pedem,
liminarmente, que a substituição da prisão preventiva por outras medidas cautelares previstas
no art. 319, incisos I, II, III, V e IX, todos do Código de Processo Penal. É, no essencial, o
relatório. Conforme orientação do Superior Tribunal de Justiça, o excesso de prazo
injustificável e desarrazoado configura constrangimento ilegal, apto a ensejar concessão da
eventual medida cautelar pleiteada. Entretanto, não se verifica, primo ictu oculi, demora
injustificada, tampouco, desídia estatal na condução da apelação criminal interposta, o que
impede o reconhecimento, ao menos por ora, do alegado excesso de prazo sustentado. Nesse
sentido: "HABEAS CORPUS. FORMAÇÃO DE QUADRILHA E ESTUPRO EM
CONTINUIDADE DELITIVA. NEGATIVA DE AUTORIA. TRANCAMENTO DA
AÇÃO PENAL. EXCESSO DE PRAZO. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. INEXISTÊNCIA
DE ILEGALIDADE MANIFESTA. PARECER ACOLHIDO. 1. O remédio constitucional
tem suas hipóteses de cabimento restritas e não deve ser utilizado em substituição ao recurso
adequado. E, na espécie, os temas ora levantados nem sequer foram objeto de análise pelo
Tribunal local. 2. A avaliação da tese de negativa de autoria, no caso, implicaria o
revolvimento fático-probatório, o que é inadmissível em habeas corpus, devendo a questão
ser enfrentada na ação penal, após a dilação probatória. 3. Na via eleita, o trancamento da
ação penal somente é possível em situações excepcionais, nas quais se denote, de plano,
ausência de justa causa, inexistência de elementos demonstrativos da autoria e da
materialidade do delito ou, ainda, presença de alguma causa excludente de punibilidade, o
que não é o caso destes autos. 4. O constrangimento ilegal por excesso de prazo - que não
resulta de um critério aritmético, mas de uma aferição realizada pelo julgador, à luz dos
princípios da razoabilidade e proporcionalidade e das peculiaridades do caso concreto -
somente se caracteriza em hipóteses excepcionais, decorrente da evidente desídia do órgão
judicial, de exclusiva atuação da parte acusadora, ou de outra situação incompatível com o
princípio da razoável duração do processo, situações inevidentes na espécie. 5. Writ não
conhecido." (HC 354.348/MS, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA
TURMA, julgado em 25/10/2016, DJe 18/11/2016, grifo meu.) "HABEAS CORPUS.
PROCESSO PENAL. ROUBO CIRCUNSTANCIADO E FORMAÇÃO DE QUADRILHA.
SENTENÇA CONDENATÓRIA. APELAÇÃO. EXCESSO DE PRAZO NO
JULGAMENTO. INOCORRÊNCIA. 1. Segundo pacífico entendimento doutrinário e
jurisprudencial, a configuração de excesso de prazo não decorre da soma aritmética de
prazos legais. A questão deve ser aferida segundo critérios de razoabilidade, tendo em vista
as peculiaridades do caso. 2. Em consulta ao sítio eletrônico do Tribunal de Justiça de São
Paulo, constata-se que o recurso de apelação foi cadastrado naquela Corte de Justiça em
29/6/2011, encaminhado ao Ministério Público estadual em 14/9/2011, retornado com
parecer em 19/12/2011, estando concluso ao Desembargador Relator desde 9/1/2012. 3. No
caso, não foram extrapolados os limites da razoabilidade, e a apelação está tendo regular
processamento, sendo certo que o transcurso de pouco mais de um ano para a apreciação do
recurso de apelação, em especial no âmbito da Justiça paulista, não configura excesso de
prazo. 4. Ordem denegada." (HC 229.387/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR,
SEXTA TURMA, julgado em 19/11/2012, DJe 28/11/2012, grifo meu.) "HABEAS
CORPUS. FORMAÇÃO DE QUADRILHA ARMADA E RECEPTAÇÃO
QUALIFICADA. EXCESSO DE PRAZO NO JULGAMENTO DA APELAÇÃO. NÃO
OCORRÊNCIA. RAZOABILIDADE. RECURSO QUE TRAMITA DE FORMA
REGULAR. ORDEM DENEGADA. 1. Conforme entendimento pacífico desta Corte
Superior, eventual excesso de prazo deve ser analisado à luz do princípio da razoabilidade,
permitido ao Juízo, em hipóteses excepcionais, ante as peculiaridades da causa, a
extrapolação dos prazos previstos na lei processual penal, visto que essa aferição não resulta
de simples operação aritmética. 2. No caso, verificada que a insurgência foi recebida pelo
Tribunal Estadual há menos de 1 (um) ano, não se vislumbra delonga excessiva e
desarrazoada a ensejar a concessão da ordem, notadamente se considerado que o recurso vem
tramitando de forma regular. 3. Ademais, é cediço que eventual excesso de prazo no
julgamento da apelação deve ser aferido com base na quantidade de pena imposta na
sentença condenatória, a qual foi fixada em 6 (seis) anos, 9 (nove) meses e 20 (vinte) dias de
reclusão. 4. Habeas corpus denegado." (HC 239.132/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, QUINTA TURMA, julgado em 7/8/2012, DJe 31/8/2012, grifo meu.) In casu,
do que consta dos autos, não verifico delonga a ensejar a concessão da ordem nos moldes
pleiteado pelo impetrante, notadamente se considerado o andamento processual em que o
recurso vem tramitando de forma regular. Desse modo, não foram extrapolados os limites da
razoabilidade e proporcionalidade. Ademais, segundo o verbete n. 52 da Súmula do STJ,
encerrada a instrução criminal, fica superada a alegação de constrangimento por excesso de
prazo. Assim, a espécie em análise não se enquadra nas hipóteses excepcionais passíveis de
deferimento do pedido em caráter de urgência, por não veicular situação configuradora de
abuso de poder ou de manifesta ilegalidade sanável no presente exame perfunctório.
Reserva-se, portanto, ao Colegiado, órgão competente para o julgamento do mandamus, a
apreciação definitiva da matéria, depois de devidamente instruídos os autos. Ante o exposto,
INDEFIRO o pedido de liminar. Solicitem-se informações do Tribunal a quo e do Juízo de
primeira instância, notadamente acerca da situação pessoal do paciente. Após, remetam-se os
autos ao Ministério Público Federal para o parecer. Publique-se. Intimem-se. Brasília (DF),
18 de janeiro de 2018. MINISTRO HUMBERTO MARTINS Vice-Presidente, no exercício
da Presidência
(STJ - HC: 433342 CE 2018/0008805-7, Relator: Ministro HUMBERTO MARTINS,
Data de Publicação: DJ 02/02/2018)”.

3. COLABORAÇÃO PREMIADA:

O instituto da delação premiada oportuniza ao réu colaborar com a investigação criminal,


denunciando, no sentido processual, outra pessoa que o ajudou na prática do criminosa.

3.1 Requisitos para a colaboração premiada:

a) quando o autor, coautor ou partícipe colaborar com as autoridades, prestando


esclarecimentos contundentes acerca da materialidade da ação criminosa;
b) da mesma forma, esclareça os demais concorrentes do crime;
c) esclareça, também, a localização dos bens, direitos ou valores objetos da empreitada
criminosa;
d) deve ser a colaboração espontânea, sem evasivas ou utilização de subterfúgios.

3.2 Momento para a concessão do benefício:

A Lei 12.683/2012 inovou trazendo no art.1.° §5.° a possibilidade da colaboração ser feita a
qualquer tempo. Portanto, a colaboração premiada poderá surtir efeitos, tanto, na fase do processo
de conhecimento, ocorrido antes da condenação, quanto, na fase do processo de execução, ocorrido
depois do trânsito em julgado da condenação. Segue o art.1§5.° da Lei 12.683/2012:

“§ 5o A pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser cumprida em regime aberto ou
semiaberto, facultando-se ao juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la, a qualquer tempo, por
pena restritiva de direitos, se o autor, coautor ou partícipe colaborar espontaneamente com
as autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais, à
identificação dos autores, coautores e partícipes, ou à localização dos bens, direitos ou
valores objeto do crime”.

3.3 Opções pelos benefícios e combinação de leis:

Os benefícios poderão ser:


a) Redução de um a dois terços da pena mais cumprimento em regime aberto ou semiaberto;
b) Perdão judicial (extinção da punibilidade);
c) substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos.

A maior redução deverá ser combinada com o mais benéfico regime; a menor redução com
o regime menos benéfico. Seguindo outro prisma, deverá ser analisado se o tempo de pena fixado
caberá o regime aberto ou semiaberto.
A colaboração premiada almeja: a apuração da materialidade do crime; identificação dos
concorrentes e a localização dos bens, direitos e valores frutos do crime, se satisfeito os três
requisitos aplicar-se-á o perdão judicial, ensejando a extinção da punibilidade, portanto, se aplicado
antes da sentença condenatória, com trânsito em julgado, atinge a pretensão punitiva do Estado; se
aplicado após o trânsito em julgado da sentença condenatória afetará a pretensão executória do
Estado. Se apenas dois dos requisitos forem alcançados ocorrerá a substituição de pena por
restritiva de direitos. Preenchido apenas um requisito provocará a diminuição da pena (um a dois
terços) e a escolha entre regime aberto ou semiaberto, a fração de diminuição de pena terá como
balizadora a pertinência da colaboração, por exemplo, se foi possível identificar todos os agentes
concorrentes do crime, incidirá na diminuição de dois terços da pena, se apenas alguns agentes
concorrentes foram identificados dentre vários diminui a pena em um terço, depois há escolha do
regime.
Tratando-se de premiação por parte do Estado, deverá ser observado o art.33, §2.º do CP.
Ressalta-se, que neste contexto, a título de ser concedido o perdão judicial, o juiz não poderá
homologar sanção fora dos padrões legais, não sendo cabível, por exemplo, uma diminuição de
pena que exceda dois terços.
No tocante à combinação de leis elucida Nucci:

“Em várias oportunidades, tanto o STF quanto o STJ têm demonstrado a inviabilidade da
combinação de leis, para que o juiz não se transforme em legislador, criando uma legislação
inexistente. Portanto, há de se acolher a premiação desta Lei na integralidade ou de outra
qualquer. Exemplo: se a lavagem de dinheiro se der no cenário de organização criminosa, é
fundamental optar pela delação predominante, vale dizer, a existente nesta Lei ou a
constante da Lei 12.850/2013. Mesclar leis ou inventar prêmios, em nosso entendimento, é
ilegal”. (2017, p.601).

4. A QUESTÃO DO “CRIME ORGANIZADO” NA NOVA LEI:


A Lei 9.613/98 trazia a expressão “organização criminosa”, que pautados nas atividades
ilícitas desta, haveria o processamento do crime de lavagem de dinheiro. Mas, a aplicação do
dispositivo não ocorria por falta de definição do que vinha a ser a organização criminosa. A Lei
12.850/2013 no art.1.°, §1.° trouxe a conceituação legal para a organização criminosa:

“§ 1o Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas


estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente,
com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a
prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que
sejam de caráter transnacional”.

Com base na elucidação apresentada na nova Lei, é possível aplicar a hipótese de


punibilidade agravada do art.1.º §4.º da Lei 9.613/98, aumentando-se a pena de um a dois terços
com a prática de atividade de organização criminosa, se o juiz entender que que as atividades de
trazem as características necessárias para se configurar a organização criminosa, caso contrário não
aplicará o dispositivo por ausência das características necessárias, mas não poderá rejeitar a
denúncia com base somente neste aspecto, Mendroni ainda acrescenta: “Importante não perder de
vista que toda discussão a respeito da importância do combate à lavagem de dinheiro emergiu,
exatamente, na comunidade jurídica internacional, no intuito de se punir as organizações
criminosas”. (2015,p.121).
Em razão de probidade intelectual, se faz necessário, elaborar com profundidade os
meandros manifestados pelas organizações criminosas. São variadas as características e o âmbito de
atuação de cada grupo, que age de forma ilícita em busca de captação de recursos, entretanto, de
forma geral elenca-se:
a) Estrutura hierárquico-piramidal: presença de personagens: chefe, subchefe, gerente e
executores. havendo hierarquia entre as posições e relação de fidelidade. Os chefes
são aqueles possuidores de muito dinheiro, ocupam cargos públicos importantes e
tem posição social privilegiada, delegam as decisões aos subchefes que as
transmitem aos gerentes, e a função de execução dos serviços ficam à cargo dos
executores. Por vezes, os gerentes servem de “testas-de-ferro” ou “laranjas”.
b) Divisão direcionada das tarefas: a divisão das tarefas variam concomitantemente
com a posição do integrante e ramo das atividades da organização criminosa.
c) Membros restritos: este requisito resguarda a sobrevivência e manutenção da
organização, os membros são indicados de acordo com suas habilidades criminosas,
seu parentesco e disposição para a prática de crimes.
d) Agentes públicos participantes ou envolvidos: muito comum no cenário brasileiro,
agentes públicos viabilizam a execução das atividades, as organizações que atingem
certo grau de evolução não conseguem executar as tarefas sem o auxílio dos agentes
públicos.
e) Orientação para a obtenção de dinheiro e poder: é a característica mais marcante da
organização, tem como fim o acúmulo de capital ilícito.
f) Domínio territorial: uma organização criminosa atuante precisa estabelecer um
domínio territorial, é chamado, portanto, de “QG” (quartel general), que implicará
àquela área as ações criminosas, mas, não impede que a organização busque ampliar
sua área de atuação, consequentemente, gerando conflitos políticos ou armados com
outras organizações criminosas.
g) diversificação das atividades: atividades como tráfico de entorpecentes, roubo de
carga e carros, desmanche, fraudes, falsificações, extorsão, ameaça, concussão,
corrupção, receptação, uso de armas de fogo, etc.
h) Mescla de atividades lícitas com atividades ilícitas: a mescla dos lucros auferidos
com atividades legais e ilegais é essencial para o sucesso da organização criminosa,
considerando a necessidade de “lavar o dinheiro” sujo.
i) Uso de violência: é aceitável o uso de violência para que os objetivos sejam
alcançados.

5. ACESSO DA AUTORIDADE POLICIAL E MP AOS DADOS CADASTRAIS:

Com as modificações trazidas com a Lei 12.683/2012 encontra-se o art.17-B, possibilitando,


em nome da celeridade das investigações, acesso aos dados cadastrais do investigado sem
autorização judicial, na Justiça Eleitoral, empresas telefônicas, instituições financeiras, provedores
de internet e administradoras de cartão de crédito.
Tal dispositivo é deveras criticado, tendo questionado a constitucionalidade Nucci afirma:
“Cadastros sigilosos, estejam onde estiverem, com qualquer conteúdo, somente podem ser
acessados por ordem judicial. Há muito se consolidou o entendimento pelo STF. [...] De
tempos em tempos, por lei ordinária, surge alguma tentativa de violação da intimidade ou
privacidade do indivíduo, por organismos estranhos ao Judiciário, como o Ministério
Público e a polícia [...] Aliás, não se compreende o motivo pelo qual não pode a polícia ou
o MP dirigir-se ao juiz e pedir o acesso a tais dados. Há magistrados 24 horas por dia a
disposição dos órgãos policiais [...] Enfim, permitir o livre acesso, sem autorização judicial,
é abrir perigoso precedente, incompatível com as garantias individuais básicas do cidadão”.
(2017, p.624). (GRIFO MEU).

6. PREVISÃO DA ALIENAÇÃO ANTECIPADA:

Pela complexidade das investigações que envolve os crimes de lavagem de dinheiro


implicam necessaria demora, destarte havendo “bens apreendidos ou sequestrados, em nome do
suspeito, acusado ou terceiro, nos termos em aplicação nessa lei, podem ser alienados
antecipadamente, para a preservação do seu valor”, respectivas regras legais estão alocadas nos arts.
4.º-A, 5.º e 6.º da Lei 9.613/98 com as modificações da Lei 12.683/12. Portanto, havendo bens que
podem sofrer com a depreciação como automóveis, joias, equipamentos eletrônicos ou necessitam
de cuidados específicos para sua manutenção, como animais, por exemplo, poderão ser alienados
antecipadamente.
O procedimento da alienação antecipada tramita em autos apartados, pode ser instaurada por
decreto, de ofício pelo juiz, requerido pelo MP, pelo acusado, ou terceiro que tenha interesse
jurídico. Sobrevindo sentença condenatória com trânsito em julgado, os bens são definitivamente
confiscados em favor da União ou do Estado, como disposto no art. 4.º-A§10. Sendo os recursos
decorrentes da alienação antecipada nos casos de tráfico de drogas são submetidos à disciplina da
Lei 11.343/06. Segue o entendimento jurisprudencial do STF:

Ementa:“AGRAVO REGIMENTAL. OFENSA AO PRINCÍPIO DO


CONTRADITÓRIO. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA
SE MANIFESTAR ACERCA DE DOCUMENTOS JUNTADOS PELO AGRAVADO.
NÃO DEMONSTRAÇÃO DO PREJUÍZO. PRELIMINAR REJEITADA. PEDIDO DE
RESTITUIÇÃO DE COISAS APREENDIDAS. DEFERIMENTO. BENS NÃO
ESSENCIAIS À ELUCIDAÇÃO DOS FATOS INVESTIGADOS E QUE NÃO
CONSTITUEM, EM SI MESMO, BENS ILÍCITOS. DEVOLUÇÃO AUTORIZADA
PELO ART. 120, § 5º, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. ALIENAÇÃO
ANTECIPADA DAS COISAS APREENDIDAS (ART. 4º, § 1º, DA LEI 9.613/1998).
MEDIDA GRAVE QUE NÃO SE MOSTRA IMPRETERÍVEL, NESTE MOMENTO
PROCESSUAL. APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DO DEVIDO PROCESSO LEGAL E
DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA. 1. Enquanto não restituídos ou alienados os bens
apreendidos, cumpre “determinar a prática de atos necessários à [sua] conservação” (art. 4º,
§ 3º da Lei 9.613/1998), nada impedindo que, para esse efeito, e em se tratando de bens que
não configurem coisa ilícita per si, fique nomeado o terceiro que os detinha como fiel
depositário, com a finalidade de proteção e preservação, a teor do art. 120, § 5°, do Código
de Processo Penal. 2. Na hipótese em exame, os bens cuja restituição se postulou não
constituem coisa ilícita per si e nem se mostram essenciais à elucidação dos fatos
investigados, não havendo óbice à sua devolução ao agravado. A restituição, mais que
possível, mostra-se recomendável, uma vez que se trata de veículos de luxo, que
naturalmente exigem maiores cuidados de manutenção e conservação, sob pena de perda
significativa do valor. 3. Embora o art. 4º, § 1º da Lei 9.613/1998 determine a alienação
antecipada dos bens sob constrição quando sujeitos “a qualquer grau de deterioração ou
depreciação”, tal dispositivo deve ser interpretado à luz dos princípios constitucionais do
devido processo legal e da presunção da inocência. Esses preceitos, por óbvio, não obstam a
decretação de quaisquer medidas constritivas sobre o patrimônio ou a liberdade dos
investigados, durante o curso da persecução penal, quando o interesse público assim
demandar, mas impõe cautela na exegese do art. 4º, § 1º, da Lei 9.613/1998. Afinal, em
regra, todo o bem está sujeito a algum grau de deterioração ou depreciação. Assim, a
aplicação não ponderada desse dispositivo legal acabaria por acarretar a alienação
antecipada de todos os bens dos acusados sobre os quais recaísse alguma medida
constritiva. 4. No caso, sequer houve ainda recebimento da denúncia oferecida contra o
agravado. Ademais, conforme já observado, a anotação da indisponibilidade dos bens
restituídos no órgão de trânsito já torna extremamente improvável que o investigado deles
se desfaça antes do advento do trânsito em julgado de possível sentença condenatória que
determine seu perdimento (art. 91, II, b, do Código Penal). Não se constata, por outro lado,
que os bens restituídos ao parlamentar sujeitem-se a grau anormalmente elevado de
deterioração ou depreciação que justifique a decretação da grave medida de alienação
antecipada neste momento processual. 5. Agravo regimental a que se nega provimento”.
(Pet 5740 AgR, 2.ª T. Rel. Teori Zavascki, 16.02.2016, v.u.).

7. O DEVER DO ADVOGADO DE COMUNICAR ATIVIDADE SUSPEITA DE


“LAVAGEM DE DINHEIRO” - CONSTITUCIONALIDADE:

Em busca da concretude da persecução penal a Lei 12.683/12 trouxe novos mecanismo,


entre eles o art. 9.º, que diz:
“Art. 9º Sujeitam-se às obrigações referidas nos arts. 10 e 11 as pessoas físicas e jurídicas
que tenham, em caráter permanente ou eventual, como atividade principal ou acessória,
cumulativamente ou não:

Parágrafo único.

I – as bolsas de valores, as bolsas de mercadorias ou futuros e os sistemas de negociação do


mercado de balcão organizado;

X - as pessoas físicas ou jurídicas que exerçam atividades de promoção imobiliária ou


compra e venda de imóveis;

XII - as pessoas físicas ou jurídicas que comercializem bens de luxo ou de alto valor,
intermedeiem a sua comercialização ou exerçam atividades que envolvam grande volume
de recursos em espécie;

XIII - as juntas comerciais e os registros públicos;

XIV - as pessoas físicas ou jurídicas que prestem, mesmo que eventualmente, serviços de
assessoria, consultoria, contadoria, auditoria, aconselhamento ou assistência, de qualquer
natureza, em operações:

a) de compra e venda de imóveis, estabelecimentos comerciais ou industriais ou


participações societárias de qualquer natureza;

b) de gestão de fundos, valores mobiliários ou outros ativos;

c) de abertura ou gestão de contas bancárias, de poupança, investimento ou de valores


mobiliários;

d) de criação, exploração ou gestão de sociedades de qualquer natureza, fundações, fundos


fiduciários ou estruturas análogas;

e) financeiras, societárias ou imobiliárias; e

f) de alienação ou aquisição de direitos sobre contratos relacionados a atividades


desportivas ou artísticas profissionais;
XV - pessoas físicas ou jurídicas que atuem na promoção, intermediação, comercialização,
agenciamento ou negociação de direitos de transferência de atletas, artistas ou feiras,
exposições ou eventos similares;

XVI - as empresas de transporte e guarda de valores;

XVII - as pessoas físicas ou jurídicas que comercializem bens de alto valor de origem rural
ou animal ou intermedeiem a sua comercialização; e

XVIII - as dependências no exterior das entidades mencionadas neste artigo, por meio de
sua matriz no Brasil, relativamente a residentes no País.”

Mesmo a Lei não mencionando, expressamente, a categoria dos advogados, suscitou-se que
a redação os abarcava, no momento que estabelece a figura das pessoas físicas que prestam,
eventualmente ou não, serviços de assessoria, aconselhamento e consultoria. É sabido que a relação
entre advogado e cliente é permeada pelo sigilo profissional, abrigado, inclusive, na CR/88,
associados no art. 5.º caput, art.5.º, XIII e art.133, centralizando a discussão: o dispositivo do art.9.º
da Lei 12.683/12 é inconstitucional?

Fundamentando o posicionamento que não há nenhuma inconstitucionalidade, a doutrina


explica que há uma classificação de acordo com o tipo de serviço advocatício prestado:
profissionais de atuação contencioso judicial ou extrajudicial, trabalham dando pareceres sobre a
situação jurídica do cliente; e os profissionais que atuam como advogados de operação, colaboram
materialmente nas transações comerciais, sem que tal atividade tenha relação direta com a situação
fática analisada. Estando, a primeira categoria mencionada (advogados que atuam no contencioso
judicial ou extrajudicial) desobrigados do dever de comunicação, no sentido de haver respeito entre
o princípio da confidencialidade que rege a relação advogado e cliente.

O entendimento aludido anteriormente, tornou-se superado no ponto de vista da OAB, pois


se a vontade do legislador era integrar os advogados ao rol dos obrigados de comunicação assim
deveria ter redigido ao texto da Lei 12.683/12, como não o fez, recorreu-se aos ensinamentos da
hermenêutica que sustenta que lei genérica só revoga os efeitos de lei especial se trazer
modificações expressas, pondo fim ao aparente conflito de normas que havia entre a Lei de
Lavagem de Dinheiro e o Estatuto da Advocacia, Lei 8.906/1994, art. 34, VII, que diz haver um
dever de sigilo e confidencialidade entre advogado e cliente, para fomentar a discussão, apresenta-
se, ainda, o CP que no art. 154 traz como figura típica a revelação de segredo profissional. Seguindo
a exposição de motivos que denotam a inconstitucionalidade da norma, ressalta-se o ferimento ao
princípio de devido processo legal, uma vez que denunciado pelo próprio advogado, depositário
legal da confiança do réu ou investigado, configura tamanha desobservância do seu direito a ampla
defesa. Entretanto, torna-se necessário, validar que não a exigência de comunicação por parte dos
advogados não torna o exercício da advocacia um mecanismo facilitador das condutas criminosas,
não significando a ausência de punição para aqueles advogados que contribuem com a prática das
ações criminosas.

8. NOVOS DESAFIOS DA MODERNA LEGISLAÇÃO SOBRE O TEMA:

A lei de lavagem de capitais é detentora de inúmeros instrumentos para punir aqueles que
acumulam montantes de dinheiro que tem como origem condutas ilícitas, muito lesivas ao meio
social, como a corrupção, tráfico de entorpecentes, sonegação fiscal, muitas vezes estão por trás
das atividades ilícitas organizações criminosas chefiadas por pessoas que possuem grande prestígio
social ou ocupam cargos públicos, tornado a organização criminosa cada vez mais complexa e
difícil de ser compreendida, portanto, um dos desafios a serem enfrentados pelas legislações é
conseguir punir os grandes criminosos, que movimentam o contexto de crimes no Brasil.

9. MEDIDAS ASSECURATÓRIAS E SUA FINALIDADE:

Reside neste item um dos instrumentos mais eficientes da Lei. Haverá a apreensão do objeto
do crime ou o sequestro quando os bens adquiridos forem frutos do crime, como previsto no art.
125 do CPP, respeitando as demais balizadoras presente em tal artigo, tendo a finalidade de
assegurar a reparação do dano causado, pagamento das despesas processuais, reparação da infração
penal antecedente ao crime em tela, pagamento de multa (pena pecuniária) ou prestação pecuniária
(pena restritiva de direitos), tornando indisponíveis os bens do acusado ou suspeito, podendo ser
instaurado de ofício pelo juiz, a requerimento do MP ou mediante representação do delegado,
havendo cabimento no momento da investigação ou durante o processo, exige-se prova suficiente
quanto a materialidade do crime.

Uma inovação trazida pela novel legislação foi a hipótese de apreensão ou sequestro de
bens que estejam em nome de “laranjas” ou “testas-de-ferro”, cabendo embargos se constar a boa-fé
do terceiro. Tida como outra inovação, presente no arts. 4.º - A, §12 e 4.º - caput, poderão os bens
apreendidos ou sequestrados, enquanto não alienados ou objeto de alienação antecipada, guardam
disponibilidade para o uso do MP ou polícia.
Durante o processo ou investigação só poderá ser realizada a restituição do bens se o
acusado ou o terceiro que diz ser proprietário comparecer pessoalmente ao órgão competente
munido de provas que comprovem a origem lícita do bem e seu direito de propriedade. Se não for
comprovada a origem lícita dos bens, advindo sentença condenatória, será imposto o perdimento
dos bens em favor da União. Sendo instrumento processual adequado para questionar o sequestro e
alienação de bens o mandado de segurança.

Neste sentido, as medidas assecuratórias da Lei de Lavagem de Dinheiro foi deveras


criticada por sua rigidez, mas tendo em vista sua importante finalidade social, coibindo não somente
o crime de lavagem de dinheiro mas outros crimes que deveriam e originam este, num ciclo que
sustenta redes criminosas, muitas internacionais, encontra-se alicerce para o uso de tais dispositivos.

10. AÇÃO CONTROLADA:

A ação controlada não é regra, trata-se de uma tática específica de averiguação, um


instrumento conveniente para lidar com alguns tipos de infrações penais. Normalmente a ação
controlada apresenta um retardamento temporal intencional, almejando ampla colheita de provas,
identificação dos agentes concorrentes, recuperação do produto e proveito do delito e resgatar
possíveis vítimas.

A ação controlada foi incluída pela Lei 12.683/12 no contexto do crime de lavagem de
dinheiro, abrangendo o art. 4.º- B. Tendo pertinência legal na Lei de Tóxicos e Lei de Crimes
Organizados.

Para se instaurar a ação controlada nos crimes de lavagem de dinheiro é necessária a prévia
autorização judicial, entretanto, se houver a configuração de organização criminosa que pratique o
crime de lavagem de dinheiro, a autoridade policial estará investigando uma organização criminosa,
neste sentido caberá o disposto na Lei de crime organizado n.º 12.850/2013 “art. 8º § 1º O
retardamento da intervenção policial ou administrativa será previamente comunicado ao juiz
competente que, se for o caso, estabelecerá os seus limites e comunicará ao Ministério Público”.

11. EFEITOS DA CONDENAÇÃO:

Além das previstas no art. 91 do CP a condenação definitiva pelo crime de lavagem de


dinheiro provoca a perda em favor da União, ou do Estado, conforme a competência, a perda dos
bens direitos ou valores tornando-os indisponíveis. Cabe ao juiz deixar essa situação bem clara no
momento da sentença.

Inseriu-se a previsão de tomar os bens dos terceiros considerados laranjas. Como o previsto
no art. 7.º:

“Art. 7º São efeitos da condenação, além dos previstos no Código Penal:


I - a perda, em favor da União - e dos Estados, nos casos de competência da Justiça
Estadual -, de todos os bens, direitos e valores relacionados, direta ou indiretamente, à
prática dos crimes previstos nesta Lei, inclusive aqueles utilizados para prestar a fiança,
ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé; (Redação dada pela Lei nº 12.683,
de 2012)”.
CONCLUSÃO:

Buscou-se com a Lei 9.613/98 combater o crime de lavagem de dinheiro, muito difícil de ser
identificado, levando em consideração, que as ações criminosas permeiam-se nas transações
econômicas lícitas, se passando por uma delas, além disso estão por trás grandes organizações
criminosas chefiadas por cidadão influentes, aumentando mais ainda a apuração do crime.

Neste sentido, foi editada outra lei que busca mais eficaz na persecução penal ao identificar
e punir os crimes de lavagem de dinheiro, a Lei nº 12.683/2012 que inovou trazendo o importante
dispositivo da ação colaboração premiada, aumentando as chances de identificar os demais
criminosos, onde está o dinheiro lavado e como era o procedimento da empreitada criminosa. Deste
modo, conclui-se que para enfrentar o crime de lavagem de dinheiro deve ser feito uma perspicaz da
interpretação da lei, em busca de desmantelar crime do colarinho branco.
LEI DE CRIMES DE DROGAS N.º 11.343 de 2006
INTRODUÇÃO:

Sancionada no dia 23 de agosto de 2006 a Lei Antidrogas, foi produto de longas discussões
no congresso nacional, teve como relator do projeto Paulo Pimenta, na época deputado federal,
sendo medida integrante do Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre as Drogas.
O legislador tratou o tema com uma nova perspectiva, antes as legislações de combate às
tinham uma visão criminalista, devido à complexidade da problemática social que acompanha o
tema do consumo e tráfico de drogas, viu-se a necessidade da tomada de uma nova perspectiva,
neste sentido a Lei buscou pautar-se no prisma sociológico para encarar um problema persistente na
sociedade brasileira.
1. PRINCIPAIS MODIFICAÇÕES DECORRENTES DA LEI 11.343/2006:

Com vista à complexidade dos problemas trazidos pelo consumo de drogas, ultrapassando
os limites do mundo jurídico, incidindo de forma direta e muito nociva na sociedade, o legislador
viu a necessidade de criação de programa de combate às drogas, com um olhar mais crítico, foi
englobado a nova lei políticas públicas, medidas no âmbito de assistência social, modificações dos
critérios criminológicos, em nome do novo posicionamento instaurado.
Desta forma, uma das mudanças apresentadas foi a modificação do tratamento legal do
usuário de drogas. Na antiga legislação, na Lei 6.368/76 o usuário de drogas era apenado, o que
desapareceu com o advento da novel legislação, dando lugar à novos posicionamentos que visam
advertir o usuário dos males trazidos pelo consumo de drogas. Vejamos o dispositivo do art. 28:

“Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para
consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar será submetido às seguintes penas:

I - advertência sobre os efeitos das drogas;

II - prestação de serviços à comunidade;

III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo”.

Outra modificação, foi o entendimento do venha a ser a figura do traficante e a variação das
penas atribuídas. O art. 12 da antiga legislação (Lei 6.368/76) deu lugar ao art. 33 da nova Lei. De
modo preciso a pena em abstrato do crime foi aumentada de três (antiga Lei) para o mínimo de
cinco anos (nova Lei) atingindo o máximo de quinze anos. Seguida pela modificação do aumento
da pena de multa, alterando mínimo de cinquenta para quinhentos dias-multa, sendo o máximo de
trezentos e sessenta aumentado para um mil e quinhentos dias-multa. Verificou-se, também, a
introdução de novos tipos penais equiparados no §1º e seus incisos. Os novos tipo penais foram
dispostos nos arts. 36, 37 e 39 da Lei 11.343/2006.

2. ANÁLISE HISTÓRICA, JURÍDICA E LEITURA CRÍTICA:

A Lei 11.343/2006 adotou uma visão diferente das legislações anteriores (Lei nº 6.368/76 e
Lei nº 10.409/02), antes uma visão predominantemente penalista abarcava a temática, devido a
complexidade social presente no consumo e venda de drogas o legislador percebeu que a visão
penalista não mais comportava, mudando para uma visão sociológica, com base nisso trouxe vários
dispositivos legais que inovam em nome da persecução penal e ao mesmo tempo mostram a
preocupação com problemática social. Sendo uma das mudanças mais significativas o tratamento
dado ao usuário de drogas, sendo visto como um problema de saúde pública e não mais podendo ser
preso pelo consumo de drogas, na antiga lei era previsto a internação compulsória dos dependentes.
Nota-se que desde o projeto intitulado como Política Nacional de Drogas havia a preocupação de
separar e tratar de forma diferente o traficante e o usuário de drogas. A Lei de drogas é tida por
muitos como proibicionista, por criminalizar ainda o porte e o plantio para consumo próprio.
Os mais críticos dizem que o texto da lei não é tão claro, que cabe ao juiz, subjetivamente,
basear-se na natureza e quantidade de droga que é apreendida, variando muito de acordo com cada
decisão. Outra crítica a ser feita, é a escolha legislativa sobre quais substâncias foram
criminalizadas, que não foram consideradas práticas culturais e hábitos da população, se as
proibições de certas substâncias foram alicerçadas em nome da saúde pública outras substâncias que
também são nocivas deveriam ter sido proibidas como é o caso das bebidas alcoólicas.

3. RETROATIVIDADE DA CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA DO § 4º DO ART. 33 DA


LEI 11.343 AOS DELITOS PRATICADOS NA VIGÊNCIA DA LEI 6.368/76:
PRECEDENTES DO STF, STJ e TJPR:

3.1 Precedentes do Superior Tribunal de Justiça:

Ementa: “AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. TRÁFICO DE


ENTORPECENTES. ART. 12 DA LEI Nº 6.368/1976. CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE
PENA. ART. 33, § 4º,DA LEI Nº 11.343/2006. APLICAÇÃO RETROATIVA.
POSSIBILIDADE. 1 - A Sexta Turma desta Corte, com a ressalva do ponto de vista do
relator, tem reiteradamente proclamado que o artigo 33, § 4º, da nova Lei de Drogas, Lei nº
11.343/2006, por se tratar de norma de direito material, sem previsão na legislação anterior,
que beneficia o réu dada a possibilidade de redução da pena, deve ser aplicado
retroativamente, preenchidos pelo agente os requisitos ali previstos. 2 - Agravo regimental
a que se nega provimento.
(STJ - AgRg no REsp: 1125592 SP 2009/0126863-3, Relator: Ministro HAROLDO
RODRIGUES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/CE), Data de Julgamento:
19/10/2010, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 16/11/2010)”.

Ementa: “CONSTITUCIONAL PENAL HABEAS CORPUS TRÁFICO DE


DROGAS CRIME PRATICADO SOB A ÉGIDE DA LEI 6.368/1976 REDUÇÃO DO
ARTIGO 33, § 4º DA LEI 11.343/2006 NOVATIO LEGIS IN MELLIUS
RETROATIVIDADE IMPERATIVO CONSTITUCIONAL ORDEM CONCEDIDA. 1. É
imperativa a aplicação retroativa da causa de diminuição de pena contida no parágrafo 4º do
artigo 33 da Lei 11.343/2006 feita sob a pena cominada na Lei 6.368/1976, em obediência
aos comandos constitucional e legal existentes nesse sentido. Precedentes. 2. Ordem
concedida
(STJ - HC: 94151 RS 2007/0264405-8, Relator: Ministra JANE SILVA
(DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG), Data de Julgamento: 25/03/2008,
T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: --> DJe 04/08/2008)”.

3.2 Precedentes do Supremo Tribunal Federal:

Ementa: “HABEAS CORPUS. TRÁFICO INTERNACIONAL DE ENTORPECENTE.


CRIME COMETIDO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 6.368/76. RETROATIVIDADE DO § 4º
DO ART. 33 DA LEI Nº 11.343/06. COMBINAÇÃO DE LEIS. INADMISSIBILIDADE.
PRECEDENTE DO STF. PACIENTE QUE OSTENTA MAUS ANTECEDENTES.
AUSÊNCIA DOS REQUISITOS LEGAIS. ORDEM DENEGADA. 1. A paciente foi
condenada à pena de 4 (quatro) anos e 4 (quatro) meses de reclusão, pela prática da conduta
tipificada no art. 12, caput, c/c o art. 18, I, ambos da Lei 6.368/76. 2. Requer o impetrante a
concessão da ordem de habeas corpus para a aplicação retroativa da causa de diminuição de
pena prevista no § 4º, do art. 33, da Lei nº 11.343/06. 3. O Supremo Tribunal Federal tem
entendimento fixado no sentido de que não é possível a combinação de leis no tempo.
Entende a Suprema Corte que agindo assim, estaria criando uma terceira lei (lex tertia). 4.
Com efeito, extrair alguns dispositivos, de forma isolada, de um diploma legal, e outro
dispositivo de outro diploma legal, implica alterar por completo o seu espírito normativo,
criando um conteúdo diverso do previamente estabelecido pelo legislador. 5. No caso
concreto, ainda que se entendesse pela aplicação da Lei nº 11.343/06, não se encontram
presentes os requisitos do § 4º do art. 33 do referido diploma legal, visto que, de acordo
com as informações de fls. 34/36, a paciente ostenta maus antecedentes, por ter cumprido
pena de 1 (um) ano por fraude bancária na África do Sul. 6. Diante do exposto, denego a
ordem.
(STF - HC: 96430 SP, Relator: Min. ELLEN GRACIE, Data de Julgamento: 09/12/2008,
Segunda Turma, Data de Publicação: DJe-025 DIVULG 05-02-2009 PUBLIC 06-02-2009
EMENT VOL-02347-05 PP-00891)”.

Ementa:“RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL E PENAL.


CONJUGAÇÃO DE NORMAS BENÉFICAS CONTIDAS EM LEIS DIVERSAS (LEIS
NS. 6.368/76 E 11.343/06): INCONSTITUCIONALIDADE. PRECEDENTES. RECURSO
PROVIDO.Relatório1. Recurso extraordinário interposto com base no art. 102, inc. III,
alínea a, da Constituição da República contra o seguinte julgado do Tribunal de Justiça de
Santa Catarina:Com a redução da fração do aumento especial da pena quanto ao
narcotráfico em estabelecimento prisional (artigo 18, IV, da Lei n. 6.368/76) pela nova Lei
Antidrogas (Lei n. 11.343/06), deve ser reduzida tal majorante para a fração prevista na
nova lei,com base no princípio da retroatividade da lei mais benéfica (fl. 174).2. O
Recorrente afirma que o Tribunal a quo teria contrariado o art. 5º, inc. XL, da Constituição
da República e o princípio da separação de Poderes.Alega que:Havendo confronto de leis
penais no tempo, é lícito ao juiz escolher a mais favorável, aplicando-a integralmente, não
lhe sendo permitida, no entanto, a combinação da norma revogada com a nova legislação
vigente para fazer criar preceito híbrido mais favorável ao agente, sob pena de se conceber
uma terceira norma diversa, produto da atividade jurisdicional, e não do legislador (fl.
232).Apreciada a matéria trazida na espécie, DECIDO.3. Em preliminar, é de se realçar
que, apesar de ter sido o Recorrente intimado depois de 3.5.2007 e constar no recurso
extraordinário capítulo destacado para a defesa da repercussão geral da questão
constitucional, não é o caso de se iniciar o procedimento para a aferição da sua existência,
pois, nos termos do art. 323, § 1º, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal com
a redação determinada pela Emenda Regimental n. 21/2007 -, esta se presume quando o
recurso (...) impugnar decisão contrária a súmula ou a jurisprudência dominante.4. O
Supremo Tribunal Federal consolidou o entendimento de que a lei penal deve ser
considerada em sua totalidade, para efeito de aplicação do princípio do art. 5º, inc. XL, da
Constituição da República, e de que é inconstitucional a combinação de normas penais mais
benéficas contidas em leis diversas. Nesse sentido:HABEAS CORPUS. CONTROVÉRISA
REFERENTE À APLICAÇÃO DA CAUSA DE DIMINUIÇÃO PREVISTA NO ART. 33,
§ 4º, DA LEI 11.343/06 AOS CRIMES COMETIDOS NA VIGÊNCIA DA LEI 6.368/76.
IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES. 1. O entendimento deste Supremo Tribunal é no
sentido de que não é possível aplicar a causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei
11.343/06 à pena-base relativa à condenação por crime cometido na vigência da Lei
6.368/76, sob pena de se estar criando uma nova lei que conteria o mais benéfico dessas
legislações. Precedentes. 2. Ordem denegada (HC 94.848, de minha relatoria, Primeira
Turma, DJe 15.5.2009 grifos nossos).Recurso ordinário recebido como habeas corpus
substitutivo. Tráfico ilícito de entorpecentes. Crime cometido sob a vigência da Lei nº
6.368/76. Impossibilidade de aplicação da redução de pena prevista no § 4º do art. 33 da
nova Lei Antidrogas (Lei nº 11.343/06). Ordem denegada (...). 4. Nos termos do parecer do
Ministério Público Federal, é "inadmissível utilizar a pena-base prevista na Lei nº 6.368/76
e a causa de diminuição contida na Lei nº 11.343, visto que, agindo assim, o juiz criaria
uma terceira lei, o que é vedado pelo nosso ordenamento jurídico". 5. Habeas corpus
denegado (RHC 95.615, Rel. Min. Menezes Direito, Primeira Turma, DJe 13.3.2009 grifos
nossos).HABEAS CORPUS. DOSIMETRIA PENAL. QUANTIDADE DE
ENTORPECENTES. LEGITIMIDADE PARA ELEVAÇÃO DA PENA BASE.
APLICAÇÃO PARCIAL DE LEI POSTERIOR, NA PARTE EM QUE BENEFICIA O
RÉU. INVIABILIDADE. ORDEM DENEGADA. 1. É legítimo o aumento da pena base
com fundamento na elevada quantidade de entorpecente encontrada em poder da paciente.
2. Não é permitida, nem mesmo para beneficiar o réu, a combinação de dispositivos de leis
diversas, criando uma terceira norma não estabelecida pelo legislador, sob pena de violação
aos princípios da legalidade, da anterioridade da lei penal (art. 1º do Código Penal) e da
separação de poderes. 3. Ordem denegada (HC 96.844, Rel. Min. Joaquim Barbosa,
Segunda Turma, DJe 5.2.2010 grifos nossos).HABEAS CORPUS. TRÁFICO
INTERNACIONAL DE ENTORPECENTE. CRIME COMETIDO NA VIGÊNCIA DA
LEI Nº 6.368/76. RETROATIVIDADE DO § 4º DO ART. 33 DA LEI Nº 11.343/06.
COMBINAÇÃO DE LEIS. INADMISSIBILIDADE. PRECEDENTE DO STF.
PACIENTE QUE OSTENTA MAUS ANTECEDENTES. AUSÊNCIA DOS
REQUISITOS LEGAIS. ORDEM DENEGADA. 1. A paciente foi condenada à pena de 4
(quatro) anos e 4 (quatro) meses de reclusão, pela prática da conduta tipificada no art. 12,
caput, c/c o art. 18, I, ambos da Lei 6.368/76. 2. Requer o impetrante a concessão da ordem
de habeas corpus para a aplicação retroativa da causa de diminuição de pena prevista no §
4º, do art. 33, da Lei nº 11.343/06. 3. O Supremo Tribunal Federal tem entendimento fixado
no sentido de que não é possível a combinação de leis no tempo. Entende a Suprema Corte
que agindo assim, estaria criando uma terceira lei (lex tertia). 4. Com efeito, extrair alguns
dispositivos, de forma isolada, de um diploma legal, e outro dispositivo de outro diploma
legal, implica alterar por completo o seu espírito normativo, criando um conteúdo diverso
do previamente estabelecido pelo legislador (HC 96.430, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda
Turma, DJe 6.2.2009 grifos nossos).5. Dessa orientação jurisprudencial divergiu o julgado
recorrido.6. Pelo exposto, dou provimento ao recurso extraordinário (art. 21, § 2º, do
Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal) para determinar ao Tribunal de origem
que refaça a dosimetria da pena imposta aos Recorridos com base em apenas uma lei penal
(Lei n. 6.368/76 ou 11.343/06).Publique-se.Brasília, 23 de fevereiro de 2010.Ministra
CÁRMEN LÚCIA Relatora
(STF - RE: 608466 SC, Relator: Min. CÁRMEN LÚCIA, Data de Julgamento: 23/02/2010,
Data de Publicação: DJe-045 DIVULG 11/03/2010 PUBLIC 12/03/2010)”.

3.3 Precedentes do Tribunal de Justiça do Paraná:

Ementa:“DECISÃO: ACORDAM os Senhores Desembargadores integrantes da Quarta


Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, no
sentido de conhecer e dar provimento ao recurso de apelação interposto, nos termos do voto
do Desembargador Relator. EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - TRÁFICO DE
ENTORPECENTES (ART. 12, CAPUT, C/C ART. 18, III, AMBOS DA LEI Nº 6.368/76)-
INSURGÊNCIA MINISTERIAL - PLEITO DE AFASTAMENTO DO BENEFÍCIO
APLICADO NA SENTENÇA, PREVISTO NO § 4º, DO ART. 33, DA LEI Nº 11.343/06 -
DIREITO INTERTEMPORAL - EQUIVOCADA CONJUGAÇÃO DOS PRECEITOS DA
REVOGADA LEI Nº 6.368/76 COM A CAUSA ESPECIAL DE REDUÇÃO DA PENA
ADVINDA DA LEI Nº 11.343/06 - IMPOSSIBILIDADE DE ADOÇÃO DE LEI
ANTERIOR DE COMPLEMENTO ESPECÍFICO PRÓPRIO DE LEI NOVA MAIS
GRAVOSA - REDIMENSIONAMENTO DA CARGA PENAL COM O
AFASTAMENTO DO BENEFÍCIO APLICADO NA SENTENÇA - RECURSO
CONHECIDO E PROVIDO (TJPR - 4ª C.Criminal - AC - 1250863-7 - Terra Boa - Rel.:
Carvilio da Silveira Filho - Unânime - - J. 23.07.2015)

(TJ-PR - APL: 12508637 PR 1250863-7 (Acórdão), Relator: Carvilio da Silveira Filho,


Data de Julgamento: 23/07/2015, 4ª Câmara Criminal, Data de Publicação: DJ: 1632
20/08/2015)”.

Ementa: “Apelante: MINISTÉRIO PÚBLICO Apelado: ADRIANA FRAGAIS Relator:


Des. MIGUEL PESSOA TRÁFICO DE DROGAS. AUTORIA E MATERIALIDADE
INCONTROVERSAS. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DO § 4º DO ART. 33 DA
LEI N. 11.343/06 AO RÉU CONDENADO COM BASE NAS PENAS DA LEI N.
6.368/76. INVIÁVEL A APLICAÇÃO CUMULADA DE REGRAS DE LEIS
SUCESSIVAS NO TEMPO SOB PENA DE CRIAÇÃO DE UMA TERCEIRA NORMA
JURIDICA E EXERCER ATRIBUIÇÃO DO PODER LEGISLATIVO. READEQUAÇÃO
DA CARGA PENAL OPERADA. RECURSO PROVIDO. Não é permitido ao julgador,
sob o fundamento de aplicação de fragmentos de leis mais benéficas ao réu, criar nova lei a
partir da conjugação de duas normas em conflito no tempo, sob pena de exercer
competência do poder legislativo. No que se refere à aplicação das Leis de tóxico, seja a
Lei n. 6368/76 ou a Nova Lei de Drogas 11.343/06 (retroatividade da Lei mais benéfica),
há que se ter em mente a impossibilidade de conjugação de ambas à formação de uma
terceira hipótese legal. Em momento algum é possível aplicar- se a pena estabelecida na Lei
n. 6.368/76 com a seguinte redução prevista no § 4º do art. 33 da Lei n. 11.343/06.
(TJ-PR 8775904 PR 877590-4 (Acórdão), Relator: Miguel Pessoa, Data de Julgamento:
02/08/2012, 4ª Câmara Criminal)”.

4. DIFERENÇA ENTRE ASSOCIAÇÃO E CONCURSO DE AGENTES:

O vocábulo utilizado no dispositivo do art. 35 da Lei 11.343/2006, é “associar-se”


entendendo que para haver associação é necessário apresentação de um elo estável entre os agentes,
não sendo razoável o entendimento de configuração associação para a prática de um único delito,
neste sentido é ressalvado o concurso de agentes. Segue o entendimento de Greco:

“Para incidência do caput do delito agora comentado, em virtude da cláusula


“reiteradamente ou não”, poder-se-ia entender que também configuraria o crime o simples
concursos de agentes, porque bastaria o entendimento de duas pessoas para a prática de
uma conduta punível. Parece-nos, todavia, que não será toda vez que ocorrer concurso que
ficará caracterizado o crime em tela. Haverá necessidade de um animus associativo, isto é,
um ajuste prévio no sentido da formação de um vínculo associativo de fato, uma verdadeira
societas sceleris, em que a vontade de associar seja separada da vontade necessária à prática
do crime visado. Excluído, pois, está o crime, no caso de convergência ocasional de
vontades para a prática de determinado delito, que estabeleceria a coautoria. O tipo é
especial em relação ao art. 288 do Código Penal (…). O conteúdo do crime, porém, é igual
ao do seu similar”. (2011, p.209).
5. DESPENALIZAÇÃO OU DESCRIMINALIZAÇÃO DA POSSE PARA USO:

Após a publicação da Lei 11.343/2006 parte da doutrina afirma ter havido a


descriminalização da figura do art.28, podendo afirmar que o usuário de drogas ilícitas não seria
mais tratado juridicamente como criminoso. Centraliza-se essa afirmação nos seguintes argumentos:
a) a ação criminosa deve acarretar aplicação de pena e esta não pode fugir completamente da
privação da liberdade;
b) a Lei de introdução ao Código Penal prevê, no art. 1.º que crime é infração penal que é
sancionada com pena de reclusão ou detenção, alternativa, isolada ou cumulada com multa e
a contravenção penal é punida com prisão simples ou multa, podendo aplicar a pena
alternativamente ou cumulativamente;
c) entende-se ser a medida mais adequada a fim de não condenar moralmente o usuário de
drogas, afastando-o mais ainda da sociedade.
Ainda nesta discussão surge outra tese, defendendo que a posse de drogas para consumo
próprio se trata de uma infração sui generis, não sendo crime nem contravenção penal, mas não
perdendo a ação o conteúdo ilícito. Não podendo afirmar que se trata de uma infração
administrativa uma vez que o juiz de direito deve aplicar a sanção.
O posicionamento do STF vai de encontro com os argumentos apresentados, rejeitando a
tese de abolitio criminis e infração sui generis, dizendo haver a despenalização no momento em que
o art.28 da Lei Antidrogas ressalvou como pena medidas educativas a serem aplicadas aos usuários
de drogas, mesmo que seja portada pelo usuário uma pequena quantidade drogas haverá tipicidade
material do crime, aplicando nesses casos, penas mais brandas com o fins educativos e de
reinserção social do dependente.

6. POSSIBILIDADE DE SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR


RESTRITIVA DE DIREITOS: CONSTITUCIONALIDADE DO ART. 44 DA LEI 11.343/06:

A Lei 9.714/98 trouxe a concessão de pena restritiva de direitos em substituição da restritiva


de liberdade quando não excedesse quatro anos para os crimes dolosos e não houvesse emprego de
violência ou grave ameaça a pessoa, suscitou-se, portanto, se haveria aplicação na Lei de Tóxicos,
uma vez que a pena mínima em abstrato era de três anos, concretizando posicionamentos a favor da
substituição e em contrário a substituição.
A partir do advento da lei 11.343/06 o impasse ganhou novas formas, a nova legislação
aumentou a pena mínima do tráfico de drogas para cinco anos excedendo os limites para a aplicação
da substituição prevista no art. 44, I do CP; trouxe também a possibilidade de diminuição de um
sexto a dois terços da pena se o réu fosse primário, com bons antecedentes e sem envolvimento com
organização criminosa, cabendo novamente a substituição da pena privativa de liberdade por
privativa de direitos.
Entretanto, à luz do art. 44, caput da nova Lei, vedou-se a possibilidade da substituição da
pena privativa de liberdade por privativa de direitos nos crimes dispostos no arts. 33, caput, §1.º, 34
a 37 da Lei Antidrogas, não sendo vista nenhuma inconstitucionalidade no dispositivo, tratando-se
de individualização legislativa que não dispõem benefícios aos agentes ativos do tipo penal,
buscando dar um tratamento jurídico mais rigoroso.
Porém o STF se posicionou no julgamento do HC 97.256-RS, de maneira que declarou de
forma incidental a inconstitucionalidade da vedação contida nos arts. 33,§4.º, e 44 da Lei
11.343/2006. Por esse motivo, o Senado Federal editou a resolução n.º 5/2012 seguindo a
declaração de inconstitucionalidade do STF de forma que suspendeu a eficácia do texto normativo
da Lei de Drogas que proibiam a substituição de pena restritiva de liberdade por restritiva de
direitos, sendo assim é autorizada tal substituição, mas não é imposto aos magistrados o
entendimento, devendo ser analisado a partir de cada suporte fático, avaliando-se inclusive os
atributos pessoais do réu. Ressalta-se ainda que deverá ser considerado as disposições do art. 44 do
CP. Por fim, nomeou-se como tráfico privilegiado de entorpecentes, quando for possível incidir as
minorantes, ocorrendo a substituição de penas.

7. NATUREZA HEDIONDA DO TRÁFICO PRIVILEGIADO:

O legislador constituinte ao compor o art. 5.º XLIII, ressalvou um tratamento mais rígidos à
certas condutas delitivas, proibindo a liberdade provisória mediante pagamento de fiança, aplicação
de graça e anistia, elencando alguns tipos penais: tortura, terrorismo, tráfico ilícito de entorpecentes.
Não sendo possível adicionar mais tipos penais ao texto constitucional o legislador tratou desses
outros com a expressão “e os definidos como crimes hediondos”, deixando ao entendimento do
legislador ordinário (Lei de crimes Hediondos 8.072/90) a composição dos tipos penais tão graves e
impactantes que podem ser equiparados aos hediondos.
O STF, durante o julgamento do HC 118533, entendeu que o crime de tráfico privilegiado
de entorpecentes não tem natureza hedionda, no momento em que se enquadra o tráfico privilegiado
de entorpecentes aos crimes hediondos, tendo o tratamento normativo imposto pela Lei 8.072/90,
ocorreria constrangimento ilegal, pois as infrações deste tipo trazem proporções menos gravosas.
Seguindo o posicionamento do STF o STJ cancelou a súmula 512 por contrariar o novo
entendimento.

8. REGIME INICIAL FECHADO OBRIGATÓRIO NO TRÁFICO:

O art. 2.º,§1.º traz a seguinte redação: “a pena prevista neste artigo será cumprida
inicialmente em regime fechado”, porém, no HC 111.840/ES declarou a inconstitucionalidade do
parágrafo, dizendo haver afronta ao princípio constitucional da individualização da pena art. 5.º,
XLVI da CR/88, dessa forma, empreende-se que as penas impostas aos traficantes poderão ser
iniciadas em qualquer regime inicial, sendo justificado pelo juiz que considerará o art.59 do CP.
Nesta lógica, a jurisprudência do STF e STJ tem colocado que diante da quantidade de pena
fixada para as infrações da Lei de Drogas cometidas é cabível o regime aberto como o regime de
início, conforme o art.33 do CP, entretanto, o juiz não fica obrigado a sentenciar o regime mais
benéfico, devendo-se embasar nas circunstâncias judiciais (art.42 da Lei de Drogas e art.59 do CP).

9. MARCHAS, PASSEATAS E MANIFESTAÇÕES EM PROL DA LIBERAÇÃO DO USO


DE DROGAS E POSIÇÃO DO STF:
Tratou-se o tema como uma das particularidades da liberdade de expressão e reunião,
garantias constitucionais, não podendo falar-se em ação criminosa, consequentemente não
configurando a infração de incitação ao crime, art.286, CP, apologia ao crime, art.287, CP, ou o
art.33,§2.º da Lei 11.343/06.
Não havendo comprovação de dolo que afetasse a paz pública ou a saúde pública, não
ficando evidenciado o incentivo ao uso de drogas, por se tratar de coletivo de cidadãos que
encontraram nas manifestação oportunidade de trazer a tona seu pensamento a respeito da
criminalização das drogas, concretizando mero posicionamento político que visa a
descriminalização da conduta, não incitando ou fazendo apologia ao crime.
É necessário ressaltar que há algumas condições para realizar tais movimentos, não será
tolerado o uso de drogas e armas, a presença de menores de idade, devem ser pacíficas e
previamente avisada às autoridades competentes. A matéria foi objeto de discussão da ADPF 187,
que assim ficou decidido:
“O Tribunal, por unanimidade, rejeitou as preliminares de não-conhecimento da argüição e
a de ampliação do objeto da demanda. No mérito, também por unanimidade, o Tribunal
julgou procedente a argüição de descumprimento de preceito fundamental, para dar, ao
artigo 287 do Código Penal, com efeito vinculante, interpretação conforme à Constituição,
“de forma a excluir qualquer exegese que possa ensejar a criminalização da defesa da
legalização das drogas, ou de qualquer substância entorpecente específica, inclusive através
de manifestações e eventos públicos” (ADPF 187. Rel. Min. Celso de Mello. 15/06/2011)”.

CONCLUSÃO:

Umas da principais inovações legislativas apresentadas pela Lei a diferenciação entre o


traficante e usuário despenalizado o segundo e aumentando a pena do primeiro, fato que gerou
muitas críticas a Lei de Drogas, pois neste sentido, de elevação das penas, o número da população
carcerária brasileira cresceu criticamente, o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias -
Infopen, Junho/2016 apresentou dados alarmantes, 26% dos presos brasileiros cometeram o crime
de tráfico de drogas, entre as presas brasileiras o número ainda é maior 62% da mulheres que
cumprem pena privativa de liberdade devido à prática de tráfico de drogas, entre os menores
infratores o crime de tráfico de drogas é o que mais aparece nos dados levantados pelo CNJ, quase
60 mil guias ativas expedidas pelas Varas de Infância e Juventude do país.
Neste sentido foi possível concluir que o modelo proibicionista não bastou para coibir o
tráfico de drogas, um crime que cada vez mais torna-se profundo na sociedade, consequentemente
sendo gerador de outros problemas como a segurança e saúde pública, crimes de organização
criminosa e lavagem de capitais.
LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE N.° 4.898/65:

INTRODUÇÃO:

Sancionada no dia 9 de dezembro de 1965 a Lei de Abuso de Autoridade é um


desdobramento do art. 5.º, inciso XXXIV, alínea a da Constituição da República Federativa do
Brasil, que prevê o direito de peticionar, neste sentido, o direito de representação contra os Poderes
Públicos em caso de ilegalidade ou abuso de poder.
Dessa forma, busca punir autoridade que abuse do poder inerente ao cargo público que
ocupa, pois a força do aparelho estatal é desproporcional em face do cidadão. Para punir qualquer
conduta que configure o desvio ou abuso de poder por parte da autoridade a Lei trouxe dispositivos
que podem aplicar sanções na esfera administrativa, civil e penal.
1. O QUE CONSTITUI O ABUSO DE AUTORIDADE:

O abuso de autoridade consiste no fato de o agente público 1, detentor de poder atribuída a


sua função, excede na conduta havendo a desobservância de garantias constitucionais de outro
cidadão, obrigando que faça algo que não tem fundamento legal. Cabendo sanções administrativas,
civis ou penais para o agente da ação. A lei de Abuso de Autoridade 4.898/65 elenca as ações que
configura o abuso de autoridade:

“Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:


a) à liberdade de locomoção;
b) à inviolabilidade do domicílio;
c) ao sigilo da correspondência;
d) à liberdade de consciência e de crença;
e) ao livre exercício do culto religioso;
f) à liberdade de associação;
g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto;
h) ao direito de reunião;
i) à incolumidade física do indivíduo;
j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional.

Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:

1 Lei de Abuso de Autoridade n.º 4.898/65 Art. 5º Considera-se “autoridade”, para os efeitos desta lei, quem
exerce cargo, emprego ou função pública, de natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e sem
remuneração
a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades legais
ou com abuso de poder;
b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não
autorizado em lei;
c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a prisão ou detenção de
qualquer pessoa;
d) deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe seja
comunicada;
e) levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança, permitida em lei;
f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carceragem, custas, emolumentos ou
qualquer outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei, quer quanto à espécie
quer quanto ao seu valor;
g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo de importância recebida a
título de carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa;
h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado
com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal;
i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de segurança, deixando
de expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberdade.”

Classificado, portanto, como crime: próprio, formal, instantâneo, unissubjetivo,


unissubsistente ou plurissubsistente. Visa a proteção de dois objetos, sendo um material e outro
jurídico, material é a pessoa lesada pelo abuso da autoridade e o jurídico é a lisura da função
pública.

2. FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL:

Diz o art. 5.º, XXXIV, a, da CR/88: “são a todos assegurados, independentemente do


pagamento de taxas: a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra a
ilegalidade ou abuso de poder”. Alicerçado no texto constitucional o art 1.º da Lei 4.898/65 o direito
de representar juridicamente contra autoridade que no exercício de suas funções venham a cometer
os abusos previstos nesta Lei. A responsabilidade poderá ser acionada tanto na seara administrativa,
civil ou penal, sendo a última o objeto de estudo deste trabalho.

3. ESPÉCIES DE ABUSO DE AUTORIDADE E AS RESPECTIVAS SANÇÕES:

3.1.1 Atentado à liberdade de locomoção art. 3.º, a, Lei 4.898/65:

Tem fundamento constitucional o art. 5.º, XV, CR/88, que diz: “ é livre a locomoção no
território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar
permanecer ou dele sair com seus bens”. Neste sentido é necessário que a autoridade limite, sem
suporte legal, com intenção de abusar do poder investido na suas funções públicas. Para haja o
delito não é necessário que se consume a privação de liberdade, bastando a turbação do direito de
permanência em local público ou locomoção.

3.1.2 Atentado à inviolabilidade do domicílio art. 3.º, b, Lei 4.898/65:

Garantia fundamental do art.5.º, XI, CR/88 “ a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém
nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia por determinação judicial”. Além de ser crime
tipificado no art.150 do CP, é fundamental o respeito a casa como o asilo de cada cidadão, razão
pela qual deve ser respeitada pela autoridades, salvo as próprias exceções apresentadas pelo texto
constitucional.

3.1.3 Atentado ao sigilo de correspondência art. 3.º, c, Lei 4.898/65:

Tem como fundamento constitucional Art.5º. XII, CR/88 “é inviolável o sigilo da


correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo,
no último caso por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
investigação criminal ou instrução processual penal”. Sendo o cidadão comum que tentasse violar
ou violasse a correspondência alheia iria praticar os crimes previstos nos art. 151 e 152 do CP, no
entanto, se tratando de autoridade atrai a lei especial que configura o crime do art 3.º, c, da Lei
4.898/65. A análise se centraliza na interpretação que deve ser feita quanto ao ao fundamento
constitucional, pois não foi dado uma imunidade total a qualquer correspondência, se assim fosse as
cartas enviadas e recebidas pelos condenados a pena privativa de liberdade não poderiam ser lidas
pelos agentes prisionais, situação que ocorre e é tida como válida pelos tribunais superiores,
justificada pela segurança dos estabelecimentos prisionais.

3.1.4 Atentado à liberdade de consciência e de crença art.3.º, d, Lei 4.898/65:

Fundamento constitucional art. 5.º, VIII, CR/88, “ninguém será privado de direitos por
motivo de crença religiosa ou convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de
obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei”. A
consciência consiste na forma que cada um situa sua visão do mundo, sendo essa liberdade
absoluta, pois o Estado não deve interferir na subjetividade do sujeito, salvo a manifestação
expressa de pensamento arbitrário, incitadores de ações criminosas, como o caso das práticas
racistas, segregacionistas e separatistas. Dada as exceções qualquer ação de autoridade que vise
coibir a liberdade de crença e consciência é ilegal.

3.1.5 Atentado à liberdade de culto religioso art.3.º, e, Lei 4.898/65:

Fundamento constitucional art.5.º, VI, CR/88 “ inviolável a liberdade de consciência e de


crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a
proteção aos locais de culto e suas liturgias”. O culto é produto da crença, tendo a mesma leitura
do tópico anterior, referente à liberdade de consciência e crença.

3.1.6 Atentado à liberdade de associação art.3.º, f, Lei 4.898/65:

Fundamento constitucional art.5.º, XVII, CR/88 “é plena a liberdade de associação para fins
lícitos, vedada a de caráter paramilitar”. Há hipótese de criação de associação que comporte fins
lícitos, ninguém é obrigado a pertencer a uma associação nem é obrigado a manter-se sócio.
Ocorrendo a violação desse direito, por parte de agente público, estará configurado o abuso de
autoridade.

3.1.7 Atentado ao exercício do voto art. 3.º, g, Lei 4.898/65:

Fundamento constitucional art. 14 da CR/88 “a soberania popular será exercida pelo


sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei,
mediante: I - plebiscito; II - referendo; III - iniciativa popular”. O direito ao sufrágio é a maior
garantia a um Estado democrático, pois viabiliza a participação popular na feitura das leis e
administração do Estado. A autoridade que atentar contra esse direito comete a infração do abuso de
autoridade.

3.1.8 Atentado ao direito de reunião art. 3.º, h, Lei 4.898/65:


Fundamento constitucional art.5.º, XVI, CR/88 “todos podem reunir-se pacificamente, sem
armas, em locais abertos ao público, independente de autorização, desde que não frustrem outra
reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à
autoridade competente”. O comparecimento ao ato ou manifestação deve ser voluntário é lícito e
constitucionalmente assegurado. Sendo que a manifestação não pode ser violenta e não precisa ser
autorizada por autoridades. Se autoridade tentar impedir que a manifestação ocorra será abuso da
autoridade, cabendo habeas corpus para garantir o direito de ir, vir e ficar.

3.1.9 Atentado à incolumidade física do indivíduo art.3.º, i, Lei 4.898/65:

Entende-se por incolumidade física a integridade física do cidadão, tem-se que nenhuma
pessoa deva ser submetida a tratamento que coloque em voga sua integridade física. Atenta-se ao
fato que se a agressão for violenta ao ponto de configurar lesão corporal grave ou gravíssima aplica-
se o art.129 do CP, em concurso formal com o crime previsto nesta Lei.

3.1.10 Atentado aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional art.
3.º, j, Lei 4.898/65:

Fundamento constitucional no art.7.º da CR/88. É necessário que se conheça as disposições


da CLT e outras leis especiais que abarque a temática para enquadrar o que passa a ser as figuras
típicas, se tratando, portanto, de norma penal em branco.
Destaca-se nessa ótica, a necessidade de abordar sobre a autoridade que nega ao advogado
acesso aos autos de investigação ou processo, pode constituir abuso de autoridade. Caso o advogado
seja constituído pela parte poderá ter acesso mesmo que o sigilo seja decretado pelo juiz, caso ainda
não seja advogado constituído pela parte terá acesso aos autos de investigação ou processo se o
sigilo não for determinado, assim diz a súmula 14 do STF. É válido o argumento que algumas
diligências para ter sucesso é necessário o devido sigilo, mas após recolhidos os resultados e
colocados no autos do inquérito policial pode o advogado ter acesso ao conteúdo daquilo que fora
produzido sob pena de inobservância do princípio da ampla defesa.

3.1.11 Ordenar ou executar medida privativa de liberdade individual, sem as


formalidades legais ou com abuso de poder. Art. 4.º, a, Lei 4.898/65:
Fundamentos constitucionais art. 5.º: “LXI - ninguém será preso senão em flagrante
delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos
casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei”; “LXIII - o
preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe
assegurada a assistência da família e advogado.”; “LXIV - o preso tem direito à
identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial”.
Este tipo penal constitui prisões realizadas de maneira irregular, respondendo pelo
abuso de autoridade quem ordena e quem executa a prisão ilegal ou abusiva. O Código de
Processo Penal dita as diretrizes legais para a realização das prisões (art. 282 a 300), como
também é verificado na Lei 7.960/89 que regula as prisões temporárias, sendo indispensável
a observância de todas as regras nelas previstas. Por exemplo, o policial que age de forma
violenta no momento da prisão da pessoa que se comporta de forma pacífica incidirá no tipo
penal, ainda que, neste caso, a prisão fosse legítima, o policial não seguiu as formalidades
legais.
3.1.12 Submeter pessoa sob guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento
não autorizado em lei. Art.4.º, b, Lei 4.898/65:

Fundamento constitucional art. 5.º CR/88: “III - ninguém será submetido à tortura
nem a tratamento desumano ou degradante”; “XLIX - é assegurado aos presos o respeito à
integridade física e moral”. O tipo penal almeja evitar que o custodiado seja exposto à
situações vergonhosas ou sofra alguma coação, de forma ilegal. Há que se ressaltar que
situações vexatórias e vergonhosas, infelizmente, estão inerentes à condição do encarcerado,
mas, centraliza-se, a figura no aumento ou criação de novas situações que não tem amparo
legal. Exemplo disso é a inserção do preso no Regime Disciplinar Diferenciado (art. 54,
caput, Lei 7.210/84) sem a prévia ordem judicial, o diretor ou agente de estabelecimento
prisional que assim se portar estará cometendo crime de abuso de autoridade.

3.1.13 Deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a prisão ou


detenção de qualquer pessoa. Art.4.º, c, Lei 4.898/65:
Fundamento constitucional art. 5.º, LXII “a prisão de qualquer pessoa e o local onde
se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à
pessoa por ele indicada”. Deixar de comunicar é conduta omissiva, assim comete o crime de
abuso de autoridade quem ao realizar a prisão não comunica ao magistrado competente,
acaso a família não seja avisada trata-se infração funcional. A interpretação dada a
expressão “imediatamente” é cabível vinte e quatro horas.

3.1.14 Deixar o juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que


lhe seja comunicada. Art. 4.º, d, Lei 4.898/65:

Fundamento constitucional art.5.º, LXV, CR/88: “a prisão ilegal será imediatamente


relaxada pela autoridade judiciária” . Centraliza-se a conduta em uma omissão, quando
deixa de proferir o cessamento de prisão irregular, que caberia o habeas corpus de ofício por
parte do magistrado. Quem manter alguém preso sem necessidade, comete o tipo penal.

3.1.15 Levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança,
permitida em lei. Art. 4.º, e, Lei 4.898/65:

Fundamento constitucional art.5.º, LXVI, CR/88: “ninguém será levado à prisão ou


nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança”. Retirar a
liberdade de alguém que poderia valer-se do instituto da fiança, neste sentido o delegado ou
juiz que deixa de oferecer a fiança, quando juridicamente cabível, comete o crime, ou a
autoridade que mesmo após o pagamento de fiança não libera o réu ou acusado.

3.1.16 Cobrar, o carcereiro ou agente de autoridade policial de carceragem, custas,


emolumentos ou qualquer outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei, quer
quanto à espécie, quer quanto ao seu valor. Art. 4.º, f, Lei 4.898/65:

No Brasil não há cobrança de taxas para manter alguém detido, se alguém o fizer
estará cometendo o crime de concussão art. 316, CP ou corrupção passiva art. 317 CP.
3.1.17 Recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo de
importância recebida pelo título de carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer
outra despesa. Art. 4.º, g, Lei 4.898/65:

Os pertences do preso são deixados sob tutela do Estado, enquanto ele estiver detido,
será dado o recibo desses pertences que são registrados no livro próprio, se houver
necessidade será depositado em bancos, devendo assim se portar as autoridades.

3.1.18 O ato lesivo da honra, ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica,


quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal. art.4.º, h,
Lei 4.898/65:

Consta-se conduta ofensiva ilegal contra a moral ou os bens da pessoa física ou


jurídica que venham a ser prejudicados. Se a hipótese de prejuízo for legal não há crime. Por
exemplo algum juiz incompetente (o feito a ser executado é estranho a sua vara) realiza o
sequestro dos bens está desviando seu poder, portanto, cometendo o crime.

3.1.19 Prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de


segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente
ordem de liberdade. Art. 4.º, Lei 4.898/65:

Entende-se por adiar o cumprimento da prisão temporária, que tem a finalidade de


assegurar a investigação policial quando se tratar de infração penal grave, assim que cessar o
tempo imposto da prisão temporária a autoridade policial deverá soltar a pessoa mesmo que
não haja ordem expressa do juiz, se assim não proceder comete o crime de abuso de
autoridade.

3.2 Sanções para os crimes de abuso de autoridade:

O art. 6.º da Lei 4.898/65 estabelece as sanções a serem aplicadas nos casos em que
haja o crime de abuso de autoridade:
“Art. 6º O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção administrativa civil e penal.
§ 1º A sanção administrativa será aplicada de acordo com a gravidade do abuso cometido e
consistirá em:
a) advertência;
b) repreensão;
c) suspensão do cargo, função ou posto por prazo de cinco a cento e oitenta dias, com perda
de vencimentos e vantagens;
d) destituição de função;
e) demissão;
f) demissão, a bem do serviço público.
§ 2º A sanção civil, caso não seja possível fixar o valor do dano, consistirá no pagamento
de uma indenização de quinhentos a dez mil cruzeiros.
§ 3º A sanção penal será aplicada de acordo com as regras dos artigos 42 a 56 do Código
Penal e consistirá em:
a) multa de cem a cinco mil cruzeiros;
b) detenção por dez dias a seis meses;
c) perda do cargo e a inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública por
prazo até três anos.
§ 4º As penas previstas no parágrafo anterior poderão ser aplicadas autônoma ou
cumulativamente.
§ 5º Quando o abuso for cometido por agente de autoridade policial, civil ou militar, de
qualquer categoria, poderá ser cominada a pena autônoma ou acessória, de não poder o
acusado exercer funções de natureza policial ou militar no município da culpa, por prazo de
um a cinco anos”.

Como pode ser observado, a sanção poderá ocorrer na esfera administrativa, civil ou penal,
podendo ser aplicadas de forma autônoma ou cumulativa, mas cada uma delas deverá ser analisada
pelo órgão competente, se por exemplo, policial cometer abuso na esfera administrativa cabe a
averiguação pela Corregedoria da Polícia Civil ou Militar; a sanção civil dependerá do ajuizamento
de ação correspondente na vara civil; a sanção penal será buscada pelo MP em denúncia na vara
criminal. Portanto, o agente poderá sofrer as três sanções cumulativamente mas cada uma será
aplicada pela esfera competente.

4. POSSIBILIDADE DE PRISÃO REALIZADA POR GUARDAS MUNICIPAIS:

Será considerada legal e correta se ocorrer em flagrante delito. Qualquer um do povo pode
dar voz de prisão a quem estiver cometendo uma infração penal conforme o art. 302 do CPP:

“Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:


I - está cometendo a infração penal;
II - acaba de cometê-la;
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em
situação que faça presumir ser autor da infração;
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam
presumir ser ele autor da infração.
I - está cometendo a infração penal;
II - acaba de cometê-la;
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em
situação que faça presumir ser autor da infração;
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam
presumir ser ele autor da infração”.

Portanto, não se fala em abuso de autoridade para os guardas municipais, que não detém poder de
Polícia Militar, se deram voz de prisão à alguém que esteja cometendo infração. Segue o
entendimento jurisprudencial do STJ:

Ementa: “PROCESSUAL PENAL E PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO


DE RECURSO ESPECIAL, ORDINÁRIO OU DE REVISÃO CRIMINAL. NÃO
CABIMENTO. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. TRANCAMENTO DA AÇÃO
PENAL BASEADA EM PROVAS ILÍCITAS. AVENTADA NULIDADE ABSOLUTA.
INCOMPETÊNCIA DOS GUARDAS MUNICIPAIS PARA EFETUAR PRISÃO EM
FLAGRANTE. PERMISSIVO DO ART. 301 DO CPP. INOCORRÊNCIA. ALEGADA
INVASÃO À INTIMIDADE. CONCLUSÃO DA ORIGEM EM SENTIDO CONTRÁRIO.
INFIRMAR A PREMISSA DEMANDA REEXAME DE PROVA. INVIABILIDADE.
COAÇÃO NÃO CONFIGURADA. ORDEM NÃO CONHECIDA. 1. Ressalvada pessoal
compreensão diversa, uniformizou o Superior Tribunal de Justiça ser inadequado o writ em
substituição a recursos especial e ordinário, ou de revisão criminal, admitindo-se, de ofício,
a concessão da ordem ante a constatação de ilegalidade flagrante, abuso de poder ou
teratologia. 2. Pode a Guarda Municipal, inobstante sua atribuição constitucional (art. 144,
§ 8º, CF), bem como qualquer um do povo, prender aquele encontrado em flagrante delito
(art. 301, CPP). 3. O acórdão de origem reconheceu que as drogas avaliadas no auto de
constatação preliminar foram capturadas na posse do comprador e em via pública, fora do
domínio de propriedade do paciente. 4. Nesse contexto, contrariar a conclusão do Tribunal
a quo, é revolvimento probatório, vedado na via do remédio heroico. 5. Não estando a ação
penal pautada em prova ilícita, descabe o pleito de trancamento da ação penal. 6. Habeas
corpus não conhecido.
(STJ - HC: 344085 SP 2015/0308396-1, Relator: Ministro NEFI CORDEIRO, Data de
Julgamento: 30/06/2016, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 01/08/2016)”.
(GRIFO MEU).

5. PRISÃO DE PESSOA EMBRIAGADA:

A detenção (reter em lugar determinado), pode configurar o mero exercício do poder de


polícia como o caso de “Blitz” no trânsito para análise de documentação. Na situação de prisão
(detenção prolongada que insere o sujeito no cárcere) entende que não poderá existir exceção e
quem o faz comete crime de abuso de autoridade, no sistema jurídico brasileiro não há previsões
para que não se observe as formalidade legais no momento de qualquer prisão, devendo haver
ordem escrita por autoridade competente ou o sujeito ser pego em flagrante delito.
Em resumo, não há possibilidade jurídica para a prisão pra averiguação desde que a CR/88 a
extinguiu. Segue entendimento jurisprudencial do STF:

Ementa: “HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL PENAL.


CONDUÇÃO DO INVESTIGADO À AUTORIDADE POLICIAL PARA
ESCLARECIMENTOS. POSSIBILIDADE. INTELIGÊNCIA DO ART. 144, § 4º, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL E DO ART. 6º DO CPP. DESNECESSIDADE DE
MANDADO DE PRISÃO OU DE ESTADO DE FLAGRÂNCIA. DESNECESSIDADE
DE INVOCAÇÃO DA TEORIA OU DOUTRINA DOS PODERES IMPLÍCITOS.
PRISÃO CAUTELAR DECRETADA POR DECISÃO JUDICIAL, APÓS A CONFISSÃO
INFORMAL E O INTERROGATÓRIO DO INDICIADO. LEGITIMIDADE.
OBSERVÂNCIA DA CLÁUSULA CONSTITUCIONAL DA RESERVA DE
JURISDIÇÃO. USO DE ALGEMAS DEVIDAMENTE JUSTIFICADO. CONDENAÇÃO
BASEADA EM PROVAS IDÔNEAS E SUFICIENTES. NULIDADE PROCESSUAIS
NÃO VERIFICADAS. LEGITIMIDADE DOS FUNDAMENTOS DA PRISÃO
PREVENTIVA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA E CONVENIÊNCIA DA
INSTRUÇÃO CRIMINAL. ORDEM DENEGADA. I A própria Constituição Federal
assegura, em seu art. 144, § 4º, às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de
carreira, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais. II O art. 6º do
Código de Processo Penal, por sua vez, estabelece as providências que devem ser tomadas
pela autoridade policial quando tiver conhecimento da ocorrência de um delito, todas
dispostas nos incisos II a VI. III Legitimidade dos agentes policiais, sob o comando da
autoridade policial competente (art. 4º do CPP), para tomar todas as providências
necessárias à elucidação de um delito, incluindo-se aí a condução de pessoas para prestar
esclarecimentos, resguardadas as garantias legais e constitucionais dos conduzidos. IV
Desnecessidade de invocação da chamada teoria ou doutrina dos poderes implícitos,
construída pela Suprema Corte norte-americana e e incorporada ao nosso ordenamento
jurídico, uma vez que há previsão expressa, na Constituição e no Código de Processo Penal,
que dá poderes à polícia civil para investigar a prática de eventuais infrações penais, bem
como para exercer as funções de polícia judiciária. V A custódia do paciente ocorreu por
decisão judicial fundamentada, depois de ele confessar o crime e de ser interrogado pela
autoridade policial, não havendo, assim, qualquer ofensa à clausula constitucional da
reserva de jurisdição que deve estar presente nas hipóteses dos incisos LXI e LXII do art. 5º
da Constituição Federal. VI O uso de algemas foi devidamente justificado pelas
circunstâncias que envolveram o caso, diante da possibilidade de o paciente atentar contra a
própria integridade física ou de terceiros. VII Não restou constatada a confissão mediante
tortura, nem a violação do art. 5º, LXII e LXIII, da Carta Magna, nem tampouco as
formalidade previstas no art. 6º, V, do Código de Processo Penal. VIII Inexistência de
cerceamento de defesa decorrente do indeferimento da oitiva das testemunhas arroladas
pelo paciente e do pedido de diligências, aliás requeridas a destempo, haja vista a inércia da
defesa e a consequente preclusão dos pleitos. IX A jurisprudência desta Corte, ademais,
firmou-se no sentido de que não há falar em cerceamento ao direito de defesa quando o
magistrado, de forma fundamentada, lastreado nos elementos de convicção existentes nos
autos, indefere pedido de diligência probatória que repute impertinente, desnecessária ou
protelatória, sendo certo que a defesa do paciente não se desincumbiu de indicar,
oportunamente, quais os elementos de provas pretendia produzir para levar à absolvição do
paciente. X É desprovido de fundamento jurídico o argumento de que houve inversão na
ordem de apresentação das alegação finais, haja vista que, diante da juntada de outros
documentos pela defesa nas alegações, a magistrada processante determinou nova vista dos
autos ao Ministério Público e ao assistente de acusação, não havendo, nesse ato, qualquer
irregularidade processual. Pelo contrário, o que se deu na espécie foi a estrita observância
aos princípios do devido processo legal e do contraditório. XI A prisão cautelar se mostra
suficientemente motivada para a garantia da instrução criminal e preservação da ordem
pública, ante a periculosidade do paciente, verificada pela gravidade in concreto do crime,
bem como pelo modus operandi mediante o qual foi praticado o delito. Ademais, o paciente
evadiu-se do distrito da culpa após a condenação. XII Ordem denegada.
(STF - HC: 107644 SP, Relator: Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Data de Julgamento:
06/09/2011, Primeira Turma, Data de Publicação: DJe-200 DIVULG 17-10-2011 PUBLIC
18-10-2011)”.

6. USO DE ALGEMAS:
Pode configurar o crime de abuso de autoridade, a regra é que todas as prisões devem ser
realizadas sem emprego de força ou violência, salvo quando for necessário, como tentativa de fuga
ou resistência. O uso indiscriminado de algemas caracteriza aplicação de pena privativa de
liberdade de forma irregular. Atente-se que a matéria é de entendimento sumular do STF, que diz:

“Súmula Vinculante 11:


Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de
perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a
excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do
agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem
prejuízo da responsabilidade civil do Estado”.

7. PRISÃO DE PESSOA EMBRIAGADA:

Como toda e qualquer prisão só poderá ser executada mediante a observação das
formalidades legais, no caso de flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada do magistrado
competente.
Contudo, parte da doutrina e jurisprudência afirma ser legal deter o sujeito até que se
recupere da intoxicação, tendo em vista sua própria segurança e a de terceiros, se a embriaguez é
tamanha, que gera escândalos ou perigo, deve ser considerado o art. 62 da Lei de Contravenções
Penais n.º 3.688/41:

“Art. 62. Apresentar-se publicamente em estado de embriaguez, de modo que cause


escândalo ou ponha em perigo a segurança própria ou alheia:
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de duzentos mil réis a
dois contos de réis.
Parágrafo único. Se habitual a embriaguez, o contraventor é internado em casa de
custódia e tratamento”.

Lavrando o termo circunstanciado, ou recorrendo-se a prisão em flagrante se o embriagado


não estiver em condições de concordar com o comparecimento no Juizado Especial Criminal, como
o previsto no art.69 da Lei 9.099/95. Afastado essas situações, poderá configurar o crime de abuso
de autoridade.

8. APURAÇÃO DA RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA, CIVIL, E PENAL -


RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO E SERVIDOR:

8.1 Apuração da responsabilidade administrativa:


É previsto no art. 7.º da Lei em comento:
“Art. 7º recebida a representação em que for solicitada a aplicação de sanção
administrativa, a autoridade civil ou militar competente determinará a instauração de
inquérito para apurar o fato.
§ 1º O inquérito administrativo obedecerá às normas estabelecidas nas leis municipais,
estaduais ou federais, civis ou militares, que estabeleçam o respectivo processo.
§ 2º não existindo no município no Estado ou na legislação militar normas reguladoras do
inquérito administrativo serão aplicadas supletivamente, as disposições dos arts. 219 a 225
da Lei nº 1.711, de 28 de outubro de 1952 (Estatuto dos Funcionários Públicos Civis da
União).
§ 3º O processo administrativo não poderá ser sobrestado para o fim de aguardar a decisão
da ação penal ou civil”.

Sendo assim, recebida a representação, que deve conter os fatos e o pedido de providências,
à autoridade superior competente, impõe procedimento para a apuração dos fatos. O termo técnico a
ser utilizado nesses casos não é “inquérito” mas sim “sindicância” ou “investigação preliminar”. Se
for comprovado motivos legítimos será aplicada a sanção administrativa. Caso seja ignorado a
representação da vítima, sem justo motivo aparente, poderá configurar o crime de condescendência
criminosa, art. 320, CP ou prevaricação art. 319, CP.
Em caso de inexistência de lei específica a ser aplicada será observada os arts. 143 a 182 da
Lei 8.112/90 Estatuto dos Funcionários Públicos da União. Deve ser assegurados o direito à ampla
defesa e contraditório, e aplicação de sanção cabível se comprovada a culpa da autoridade. Por
exemplo se o servidor sofre na esfera administrativa sanção que resultou em sua demissão e for
absolvido na esfera penal com base em inexistência do fato (art.368, I, CPP) deverá voltar a exercer
o cargo, no entanto se for absolvido na vara criminal por insuficiência de provas (art. 386, VII,
CPP), não poderá retornar ao cargo, pode ainda, ser a conduta somente reprovável na esfera
administrativa, resultando na permanência da sanção administrativa.

8.2 Apuração de responsabilidade civil, responsabilidade civil do Estado e servidor:

Na esfera civil deverá ocorrer o ajuizamento de ação por meio do advogado, com vista no
Código Civil e Código de Processo Civil, sendo a pessoa considerada hipossuficiente deverá
recorrer ao advogado do Estado.
No caso de responsabilidade civil do Estado haverá a responsabilização de forma objetiva,
quando não há análise de culpa, pelos erros de seu servidor, sendo melhor direcionar as pretensões
da vítima ao Estado, mas sendo possível alocar no polo passivo da demanda concomitantemente o
servidor e o Estado, ou somente um deles. Mais tarde, poderá o Estado ajuizar ação contra o
servidor pedindo o reembolso (direito de regresso) do que foi indenizado à vítima.

8.3 Apuração da responsabilidade penal:


Diz o art.12 da Lei em estudo:
“Art. 12. A ação penal será iniciada, independentemente de inquérito policial ou
justificação por denúncia do Ministério Público, instruída com a representação da vítima do
abuso”.

Procede-se mediante ação pública incondicionada à representação da vítima, cabendo ao MP


ingressar com a ação penal. Sendo cabível, também, a ação privada subsidiária da pública, quando
houver inércia do MP. Neste sentido, já foram produzidas as provas dando seguimento ao processo
penal. O texto legal dispensa do inquérito policial em nome da celeridade, caso que é muito
criticado, pois sem provas como poderá proceder o MP? Na atualidade, algumas legislações
apresentam a hipótese de defesa preliminar, o acusado pode se defender de forma que impeça que o
juiz receba a denúncia, também muito criticado. Portanto, entende-se que só se dispensa o inquérito
policial se houver provas legais o suficiente para acusar a autoridade, como por exemplo cópia do
processo administrativo.

9. OBEDIÊNCIA HIERÁRQUICA:

A doutrina, de forma majoritária, trata a obediência hierárquica como uma excludente de


culpabilidade, sendo uma nuance do erro de proibição, tem que a ação do subalterno é entremeada
pela incompreensão da ilegalidade. Sendo a determinação ilegal, mas não obviamente, quem a
cumprir não agiu com culpabilidade, pela análise errônea, sendo assim uma variação do erro de
proibição. Ressalta-se que sendo uma ordem de um superior hierárquico a ordem possui um certo
grau de coação irresistível, dirimindo a culpabilidade.
No entanto, se a ordem é manifestamente ilegal não excluirá a culpabilidade, respondendo
tanto quem deu a ordem ilegal como quem a cumpriu. Tem-se que para configurar uma relação
legítima de hierarquia deve ter algum tipo de ligação administrativa, não podendo falar em
obediência hierárquica no âmbito familiar, religioso ou trabalhista. Acaso a ordem seja legal, mas
quem executou excedeu na conduta causando prejuízos a outra pessoa não haverá possibilidade de
aplicação da excludente.
10. CAUSA EXCLUDENTE DE CULPABILIDADE:

Sem a culpabilidade não terá aplicação de pena. A exclusão da culpabilidade está atrelada a
noção de reprovabilidade, sem nenhuma justificativa comporta-se de forma criminosa. A
culpabilidade será afastada em três hipóteses: inexigibilidade de conduta diversa, ausência da
potencial consciência da ilicitude do fato e a imputabilidade penal.
A imputabilidade penal, atinge quem não tem capacidade mental de discernimento,
menoridade penal e quem está em estado de embriaguez completa e fortuita.
A inexigibilidade de conduta diversa consiste no fato de que a pessoa esteja sob coação
moral irresistível, quando não é possível exigir que a pessoa proceda de forma diferente daquela que
procedeu.
A ausência da potencial consciência da ilicitude do fato será configurada quando o agente
não tem aptidão para saber que trata-se de fato ilícito excluindo a culpabilidade, caso do erro de
proibição inevitável.

11. PERDA DO CARGO E DA FUNÇÃO OU MANDATO: PRECEDENTES DO STF, STJ E


TJRS:

11.1 Precedentes do STF:


Ementa: “Decisão: Vistos. Por intermédio das Petições/STF nsº 8.148/14 e 8.149/14,
pleiteia o recorrente a extinção da sua punibilidade, tendo em vista a consumação da
prescrição. Decido. Anto de início, que a prescrição em Direito Penal é matéria de ordem
pública e, por isso, pode ser arguida e reconhecida a qualquer tempo (art. 61 do Código de
Processo Penal). Nesse sentido vai o magistério de Guilherme de Souza Nucci: () tendo em
vista que a prescrição é considerada matéria de ordem pública, deve ser decretada de ofício
(...) ou sob provocação das partes, inclusive em ações de impugnação ou por meio de
recursos (habeas corpus, revisão criminal e outros).Trata-se de matéria preliminar, ou seja,
impede a análise do mérito (Código Penal comentado 7 ed., 2ª tir. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2007. p. 514). Destaco ainda: HC nº 87.898/BA, Segunda Turma, Relator o
Ministro Eros Grau, DJ de 28/4/06; RHC nº 85.847/SP, Segunda Turma, Relator o Ministro
Gilmar Mendes, DJ de 11/11/06; e HC nº 80.601/SC, Primeira Turma, Relator o Ministro
Ilmar Galvão, DJ de 23/3/01. Em termos de técnica jurídica, a questão é elucidada por
Nelson Nery, ao tratar do efeito translativo dos recursos da seguinte forma: (...) O efeito
devolutivo do recurso tem sua gênese no princípio dispositivo, não podendo o órgão ad
quem julgar além do que lhe foi pedido na esfera recursal. Aplicam-se na instância recursal
os arts. 128 e 460 do CPC. Caso o órgão destinatário do recurso extrapole o pedido de nova
decisão, constante das razões do recurso, estará julgando extra , ultra ou citra petita,
conforme o grau e a qualidade do vício em que incorrer. Casos há, entretanto, em que o
sistema processual autoriza o órgão ad quem a julgar fora do que consta das razões ou
contra-razões do recurso, ocasião em que não se pode falar em julgamento extra, ultra ou
infra petita. Isto ocorre normalmente com questões de ordem pública, que devem ser
conhecidas de ofício pelo juiz e a cujo respeito não se opera a preclusão (...) (NERY JR.,
Nelson. Princípios fundamentais teoria geral dos recursos. 5. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2000. p. 415). Diante desse panorama, não é possível repelir o exame da questão.
Cumpre assentar que o marco inicial para fins de contagem do prazo prescricional não é a
publicação em cartório da sentença proferida pelo Juízo de primeiro grau que, naquela
oportunidade, condenou o recorrente nas sanções do art. 4º da Lei nº 4.898/65 à pena de 20
(vinte) dias-multa, mas, sim, a publicação do acórdão proferido pela 1ª Turma Recursal da
Seção Judiciária do Rio de Janeiro, que, dando provimento ao recurso de apelação
interposto pela acusação, majorou a pena aplicada com a determinação da perda do cargo
público e a inabilitação para o exercício de qualquer outro cargo pelo prazo de 3 (três) anos.
Não se cuida, portanto, de mero acórdão confirmatório da sentença, já que essa foi
reformada, como visto, para majorar a pena aplicada pelo juízo de piso. Nesse contexto,
entendo que se aplica a jurisprudência desta Corte, preconizada no sentido de que o acórdão
confirmatório da condenação, que aumenta a pena, interrompe a prescrição. Nova contagem
a partir do julgamento e não da publicação do aresto (HC nº 85.556/RS-ED, Segunda
Turma, Relatora a Ministra Ellen Gracie, DJ de 2/5/05). No mesmo sentido destaco o AI nº
759.450/RJ-ED, Segunda Turma, Relatora a Ministra Ellen Gracie, DJe de 18/12/09. Com
efeito, na hipótese vertente, por força do art. 12 do Código Penal, considera-se, para efeito
de prescrição do crime de abuso de autoridade, o máximo da pena privativa de liberdade a
ele cominada (CP, art. 109, parágrafo único,), ou seja, 6 (seis) meses (alínea b do § 3º do
art. 6º da Lei nº 4.898/65), cujo lapso prescricional, no caso, é de 2 (dois) anos (CP, art.
109, inciso IV, com redação anterior à publicação da Lei nº 12.234/10), contando-se o
prazo a partir da publicação do acórdão condenatório. Nesses termos, considerando que o
referido acórdão condenatório foi tornado público em 23/02/11 (fl. 16 do doc. 26), sem que
tenha havido recurso do Parquet federal, este foi último marco interruptivo (CP, art. 117,
inciso IV) no presente caso. A par dessas circunstâncias, conclui-se que a consumação da
prescrição da pretensão punitiva teria sido alcançada em 22/2/13 (prescrição intercorrente).
Porém, relevante questão ainda merece ser analisada. É que contra o acórdão proferido pela
Turma Recursal o ora agravante opôs embargos de declaração, os quais foram desprovidos,
sendo certo que o recurso extraordinário interposto não foi admitido em seu juízo primeiro.
Por fim, já nesta Suprema Corte, em 6/9/13, conheci do agravo para negar seguimento ao
extraordinário, em razão da falta de prequestionamento e por tratar-se de matéria de índole
infraconstitucional. Assim, considerando o insucesso dos recursos manejados, o feito não
escapa à jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal de que recurso extraordinário e
recuso especial indeferidos na origem, por inadmissíveis, em decisão mantida por ambas as
Cortes, não têm o condão de empecer a formação da coisa julgada. Confira-se julgado
específico sobre o tema: HABEAS CORPUS. PRESCRIÇÃO PENAL. PRETENSÃO
PUNITIVA. RECURSOS ESPECIAL E EXTRAORDINÁRIO INDEFERIDOS.
AGRAVOS IMPROVIDOS. 1. Não tendo fluído o prazo de dois anos (CP, art. 109, VI)
entre os vários marcos interruptivos (data do crime, recebimento da denúncia e sentença
condenatória recorrível) e sobrevindo acórdão confirmatório da condenação, antes do
decurso do período fixado em lei, está exaurida a chamada prescrição da pretensão punitiva.
2. Recursos especial e extraordinário indeferidos na origem, porque inadmissíveis, em
decisões mantidas pelo STF e pelo STJ, não têm o condão de empecer a formação da coisa
julgada. 3. HC indeferido (HC nº 86.125/SP, Segunda Turma, Relatora a Ministra Ellen
Gracie, DJ de 2/9/05). Conforme bem asseverou a eminente relatora daquele julgamento:
(...) o trânsito em julgado, da condenação é marco divisório de duas espécies de prescrição.
Com o trânsito em julgado termina a fase da pretensão punitiva. E tem início a fase da
prescrição executória. Mas o condenado pode, sim, impedir e obstar a formação da coisa
julgada. Basta interpor recursos especial e extraordinário. Indeferidos, porque
inadmissíveis, pode o condenado lançar mão dos agravos de instrumento. E até mesmo dos
agravos regimentais, caso tenham o seguimento negado. Pode, ainda, manejar embargos de
declaração. Porém, não pode ser olvidado que o recurso capaz de impedir a coisa julgada é
o recurso admissível. E, se o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça
reconhecem a inadmissibilidade, confirmando o que decidido no juízo de admissibilidade,
os efeitos desse reconhecimento retroagem. Perfilhando esse raciocínio, destaco de minha
relatoria, o seguinte julgado: Agravo regimental no agravo de instrumento. Matéria
criminal. Ausência de peças de traslado obrigatório. Precedentes. Crime de apropriação
indébita previdenciária. Artigo 168-A do Código Penal. Débito previdenciário incluído no
programa de parcelamento ordinário de débitos tributários. Lei nº 11.941/09. Suspensão da
pretensão punitiva estatal e do prazo prescricional. Artigo 68 da lei de regência.
Impossibilidade. Ocorrência anterior do trânsito em julgado. Precedentes. Regimental não
provido. 1. As cópias do acórdão recorrido e do acórdão do embargos de declaração são
peças de traslado obrigatório, nos termos do art. 544, § 1º, do Código de Processo Civil.
Incidência da Súmula nº 288/STF. 2. É da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal que
incumbe exclusivamente ao agravante a responsabilidade pela correta formação do
instrumento com o completo traslado das peças, não se admitindo o suprimento de
eventuais falhas ou a realização de diligências junto a esta Corte. 3. Na espécie, diante da
jurisprudência desta Corte, preconizada no sentido de que recursos especial e extraordinário
indeferidos na origem, porque inadmissíveis, em decisões mantidas pelo STF e pelo STJ,
não têm o condão de empecer a formação da coisa julgada. 3. HC indeferido (HC nº
86.125/SP, Segunda Turma, Relatora a Ministra Ellen Gracie, DJ de 2/9/05), o feito
definitivamente transitou em julgado em 15/10/09, antes, portanto, de 19/11/09, data do
pagamento da primeira parcela, momento que o parcelamento começou a produzir seus
efeitos. Assim, não há falar em suspensão da pretensão punitiva. 4. Agravo regimental ao
qual se nega provimento (AI nº 788.612/SP-AgR, Primeira Turma, DJe de 16/11/12 grifei).
Dessa forma, extraem-se dos autos que o último recurso de que, devidamente, se conheceu
foram aqueles embargos de declaração, julgados em 11/5/11 (doc. 2). Por consequência,
atesta-se que o presente feito transitou em julgado com o exaurimento do prazo para a
interposição do apelo extraordinário, isto é, em 30/5/11. Portanto, muito antes de 22/2/13,
caso fosse considerado tão somente o último marco interruptivo. Não há falar, por
conseguinte, em consumação da prescrição da pretensão punitiva no caso em apreço.
Entretanto, as circunstâncias do caso pressupõem a prescrição da pretensão executória, que
passo a analisar. Ressalto que a jurisprudência da Primeira Turma sedimentou-se no sentido
de que, vedada a execução provisória da pena não é suficiente, para o início do prazo da
pretensão executória, o trânsito em julgado para a Acusação. É necessário reinterpretar o
art. 112, I, do Código Penal, à luz do entendimento do Supremo Tribunal Federal, adotado
no HC 84.078, em relação ao princípio constitucional da presunção de inocência (ARE nº
682.013, Relatora a Ministra Rosa Weber, DJe de 6/2/13). Nesse contexto, o fato de a
formação da coisa julgada para a defesa ter se aperfeiçoado com o exaurimento do prazo
para a interposição do apelo extraordinário, em 30/5/11, atrelado à notícia de que o acórdão
proferido nos embargos de declaração transitou em julgado para a acusação em 18/7/11,
permite a conclusão de que a prescrição da pretensão executória, que como dito é de 2
(dois) anos, foi alcançada em 17/7/13. Registro, por oportuno, que os autos foram conclusos
ao meu gabinete com o parecer da Procuradoria-Geral da República em 14/8/13. Diante
desse contexto, concedo ordem de habeas corpus, de ofício, para julgar extinta a
punibilidade do requerente, em virtude da consumação da prescrição da pretensão
executória (art. 110 do Código Penal). Publique-se. Brasília, 28 de março de 2014.Ministro
Dias ToffoliRelatorDocumento assinado digitalmente
(STF - ARE: 664961 RJ, Relator: Min. DIAS TOFFOLI, Data de Julgamento: 28/03/2014,
Data de Publicação: DJe-064 DIVULG 31/03/2014 PUBLIC 01/04/2014)”.

Ementa:“Decisão: Cuida-se de petição, nominada Representação, recebida como ação


originária, proposta por Anderson Adriano Reis e Silva, contra a prefeita de Boa Vista-RR,
Maria Teresa Saenz Surita, e o Senador da República Romero Jucá, por apontado abuso de
autoridade, que estaria configurado em um esquema de corrupção, assim descrito na
exordial: A PREFEITA DE BOA VISTA TERESA JUCA- Roraima, liderou um mega
esquema de nomeação e contratação de pessoas no âmbito da prefeitura de Boa Vista no
ano de 2004 com o fim de se eleger a deputada federal e o que realmente ocorreu nas
eleições de 2010, para beneficiar eleitores e parentes de autoridades locais que fazem parte
de todos os poderes e instituições do estado de RORAIMA () O esquema dos gafanhotos
chegou a contratar quase 40.000 mil servidores comissionados e autoridades locais ficavam
com parte da renda dos trabalhadores. Vários trabalhadores aprovados e classificados em
concursos ingressavam com ações na Justiça com o fim de tomarem posse nos referidos
cargos mas eram estranhamente indeferidos os mandados de segurança dos impetrantes
para beneficiarem parentes de autoridades locais e eleição para deputado federal da senhora
Teresa Juca e do Senhor Romero Juca, SENADOR, COMPROMETENDO AS FINANÇAS
DO MUNICÍPIO, inclusive o fundo de participação dos municípios-FPM. Requer o autor a
condenação dos requeridos nos termos do art. 6º § 1º, letra f e § 3º, letra c da Lei de abuso
de autoridade. É o relatório. Decido. De início, defiro os benefícios da assistência judiciária
gratuita (lei nº 1060/50). O pleito autoral, em resumo, se dirige à demissão dos réus, como
sanção administrativa (art. 6º § 1º, f, da Lei nº 4.989/65) e à perda do cargo e à inabilitação
para o exercício de qualquer outra função pública por prazo de até três anos (art. 6º, § 3º,c,
da Lei nº 4.989/65), a título de sanção penal. Imagina-se que em virtude da natureza do
mandato recebido democraticamente pelo Senador Romero Jucá, tenha a parte autora
dirigido esta ação à Suprema Corte. Todavia, a legitimidade ativa para instauração de
processo criminal contra membro do Congresso Nacional é do Procurador-Geral da
República, razão pela qual carece o autor de legitimidade ativa para a propositura desta
demanda quanto a esse ponto. Relativamente à sanção administrativa pleiteada, não é da
competência originária deste Supremo Tribunal Federal o processo e julgamento da
presente ação. De fato, a competência desta Corte se submete a regime de direito estrito e
não contempla a apreciação de representação para responsabilização administrativa,
qualquer que seja a autoridade apontada no polo passivo. Destaco julgado do Plenário que
bem pontua a natureza restritiva da competência deste Supremo Tribunal: "A
COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - CUJOS FUNDAMENTOS
REPOUSAM NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA - SUBMETE-SE A REGIME DE
DIREITO ESTRITO. () O regime de direito estrito, a que se submete a definição dessa
competência institucional, tem levado o Supremo Tribunal Federal, por efeito da
taxatividade do rol constante da Carta Política, a afastar, do âmbito de suas atribuições
jurisdicionais originárias, o processo e o julgamento de causas de natureza civil que não se
acham inscritas no texto constitucional (ações populares, ações civis públicas, ações
cautelares, ações ordinárias, ações declaratórias e medidas cautelares), mesmo que
instauradas contra o Presidente da República ou contra qualquer das autoridades, que, em
matéria penal (CF, art. 102, I, b e c), dispõem de prerrogativa de foro perante a Corte
Suprema ou que, em sede de mandado de segurança, estão sujeitas à jurisdição imediata do
Tribunal (CF, art. 102, I, d). Precedentes." (Pet nº 1.738-MG (AgRg), Rel. Min. Celso de
Mello, Pleno, DJ de 1/9/99). Ressalte-se que a própria lei nº 4.898/65 indica que a
representação por abuso de autoridade, para fins de responsabilização administrativa, deve
ser dirigida à autoridade superior que tiver competência legal para aplicar as sanções ali
previstas e, de igual modo, indica que a representação para responsabilização penal deve ser
direcionada ao órgão do parquet com competência para iniciar o processo criminal em face
da autoridade representada. Vide: Art. 2º O direito de representação será exercido por meio
de petição: a) dirigida à autoridade superior que tiver competência legal para aplicar, à
autoridade civil ou militar culpada, a respectiva sanção; b) dirigida ao órgão do Ministério
Público que tiver competência para iniciar processo-crime contra a autoridade culpada. Pelo
exposto, com fulcro no art. 21, § 1º, do RISTF, nego seguimento à presente ação. Sem
custas, ante o deferimento da assistência judiciária gratuita (lei nº 1060/50). Publique-se.
Brasília, 12 de fevereiro de 2015. Ministro Dias Toffoli Relator Documento assinado
digitalmente
(STF - AO: 1971 DF - DISTRITO FEDERAL 8620572-72.2015.1.00.0000, Relator: Min.
DIAS TOFFOLI, Data de Julgamento: 12/02/2015, Data de Publicação: DJe-032
19/02/2015)”.

Ementa:“PRESCRIÇÃO RETROATIVA (SÚMULA 146). SEU RECONHECIMENTO


EM CASO DE CONDENAÇÃO IMPOSTA EM SEGUNDA INSTÂNCIA.
JURISPRUDÊNCIA FIRME DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ABUSO DE
AUTORIDADE (LEI N. 4.898, DE 09.12.65). A SUSPENSÃO DO CARGO COM
PERDA DE VENCIMENTOS E VANTAGENS NÃO CONSTITUI PENA ACESSORIA
QUE POSSA SER APLICADA PELO PODER JUDICIARIO, MAS SANÇÃO
ADMINISTRATIVA IMPONIVEL EM PROCESSO REGULAR PELA AUTORIDADE
CIVIL OU MILITAR COMPETENTE. "HABEAS CORPUS" CONCEDIDO E
PARCIALMENTE ESTENDIDO AOS DEMAIS CONDENADOS.
(STF - HC: 58315 SP, Relator: XAVIER DE ALBUQUERQUE, Data de Julgamento:
25/11/1980, PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJ 19-12-1980 PP-10941 EMENT
VOL-01197-02 PP-00505 RTJ VOL-00095-03 PP-01092)

11.2 Precedentes do STJ:

Ementa: “HABEAS CORPUS Nº 34.914 - MS (2004/0053675-5) RELATOR :


MINISTRO NEFI CORDEIRO IMPETRANTE : MÁRIO SÉRGIO ROSA ADVOGADO :
JOSÉ DO ESPÍRITO SANTO IMPETRADO : SEGUNDA TURMA CRIMINAL DO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL PACIENTE :
CARLOS ROBERTO DE SOUZA DECISÃO Trata-se de habeas corpus, substitutivo de
revisão criminal, com pedido de liminar, impetrado em favor de Carlos Roberto de Souza,
em que aponta como autoridade coatora a 2ª Turma Criminal do Tribunal de Justiça do
Mato Grosso do Sul. Consta dos autos que o paciente foi condenado à pena de 2 anos e 11
meses de reclusão, a ser cumprida inicialmente no regime fechado, como incurso no art. 1o,
inciso I, a, c/c o seu § 4o, inciso I, da Lei nº 9.455/97 e decretada a perda do cargo de
policial militar, conforme dispõe o § 5o do art. 1o do mesmo diploma legal, tendo a
sentença transitado em julgado. Alega o impetrante, em síntese, que o decreto condenatório
é nulo por faltar fundamentação e por ser inaceitável o laudo de exame pericial que se
apresenta inconclusivo, mostrando-se equivocada a condenação pela prática do crime de
tortura, pois, em casos semelhantes, a jurisprudência tem afirmado tratar-se de abuso de
autoridade. Sustenta, ainda, ser ilegal a decretação da perda do cargo de policial militar,
uma vez que seria necessária a instauração de procedimento próprio, a ser submetido à
apreciação do tribunal competente. Aduz, ao final, que a dosimetria da pena não atendeu
aos requisitos legais, notadamente os do art. 59 do Código Penal, na fixação da pena-base
do mínimo previsto, além de ressaltar que o aumento em razão de ser o réu funcionário
público estadual é nulo "porquanto tal critério se confunde com os fatores elementares do
crime de tortura". O pedido de liminar foi indeferido (e-STJ fls. 348/349). Manifestou-se o
órgão ministerial pela denegação da ordem (e-STJ fls. 352/360). É o relatório. DECIDO. O
Juízo da 1ª Vara da Comarca de Aparecida do Taboado, prestou informações com o
seguinte teor (e-STJ fl. 394): Em atenção ao ofício em epígrafe, tenho a lhe informar que a
ação penal ajuizada pelo Ministério Público Estadual foi julgada procedente, condenando o
paciente à pena de 02 (dois) anos e 11 (onze) meses de reclusão, em regime inicial fechado,
pela prática do artigo 1º, inciso I, alínea a c/c o § 4º, inciso I e § 5º da Lei n.º 9.455/97,
sendo que, na sentença, ainda foi decretada a perda do cargo de policial militar, bem como
a interdição para exercício do cargo público pelo dobro do prazo da pena cominada. O
Tribunal de Justiça do Estado negou provimento ao recurso de apelação, bem como
seguimento ao recurso especial interposto em face do acórdão Com o trânsito em julgado,
foi elaborado o cálculo de pena, bem assim expedida a competente guia de recolhimento,
após o que os autos da ação penal foram arquivados. Em relação à execução de pena,
registrada sob o n.º 0500443-70.2004, tenho a lhe informar que a pena não chegou a ser
aplicada porquanto o paradeiro do paciente era desconhecido e, por conta desse fato. foi
decretada, em 07 de agosto de 2012, a extinção da punibilidade pela prescrição da
pretensão executória com base nos artigos 107. inciso IV; 109. inciso IV; 110 e 114, inciso
II. todos do Código Penal, tendo sido determinado a devolução dos mandados de prisão
expedidos para a captura do paciente. Assim, com a extinção da punibilidade, restam
prejudicadas as alegações trazidas no presente writ quanto à ausência de fundamentação do
decreto condenatório, imprestabilidade do laudo pericial, ausência de provas para a
condenação e às questões relativas à dosimetria da pena. Por sua vez, rebela-se o paciente
contra a determinação da sentença que decretou a perda do cargo de policial militar. Aduz
que não é possível a perda imediata do cargo, porque há necessidade de procedimento
específico. Referida questão não pode ser debatida em habeas corpus, por força do que
dispõe a súmula 694 do STF, in verbis: Não cabe habeas corpus contra a imposição da pena
de exclusão militar ou de perda de patente ou de função pública. Igualmente, a
jurisprudência desta Corte orienta-se no sentido da inviabilidade da impetração de habeas
corpus objetivando discussão acerca de eventual perda de cargo público, por não se tratar
de ato que diga respeito à liberdade de locomoção. Nesse mesmo sentido: AGRAVO
REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. WRIT SUBSTITUTIVO DE RECURSO
PRÓPRIO. IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA. NÃO CONHECIMENTO. AUSÊNCIA
DE PATENTE ILEGALIDADE. PERDA DE CARGO PÚBLICO. SÚMULA 694/STF.
CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. INDEFERIMENTO
DE PROVA PERICIAL FUNDAMENTADO. I - Acompanhando o entendimento firmado
pela 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal, nos autos do Habeas Corpus n. 109.956, de
relatoria do Excelentíssimo Ministro Marco Aurélio, a 5ª Turma deste Superior Tribunal de
Justiça passou a adotar orientação no sentido de não mais admitir o uso do writ como
substituto de recurso ordinário, previsto nos arts. 105, II, a, da Constituição da República e
30 da Lei n. 8.038/1990, sob pena de frustrar a celeridade e desvirtuar a essência desse
instrumento constitucional. II - O entendimento desta Corte evoluiu para não mais se
admitir o manejo do habeas corpus em substituição ao recurso próprio, bem assim como
sucedâneo de revisão criminal. Precedentes. III - Inviável a impetração de habeas corpus
objetivando discussão acerca de eventual perda de cargo público, em decorrência de
sentença condenatória, por não existir lesão ou ameaça ao direito de locomoção, condição
indispensável para o manejo dessa ação constitucional. Súmula 694/STF e precedentes
desta 5ª Turma. IV - O indeferimento da perícia restou fundamentado diante da sua
desnecessidade para a formação da convicção, bem como pela ausência de dúvida relativa
aos fatos. V - Agravo Regimental improvido. (AgRg no HC 277.504/MG, Rel. Ministra
REGINA HELENA COSTA, QUINTA TURMA, julgado em 04/02/2014, DJe 11/02/2014)
HABEAS CORPUS. FACILITAÇÃO DE FUGA DE PRESO. NULIDADE DA
SENTENÇA CONDENATÓRIA. PERDA DA FUNÇÃO PÚBLICA. POLICIAL
MILITAR. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. SÚMULA 694, DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. 1. "Não cabe habeas corpus contra a imposição da pena de
exclusão de militar ou de perda de patente ou de função pública" (Súmula 694 STF) 2. A
discussão a respeito da nulidade da decretação da perda de cargo público, em decorrência
de sentença condenatória, é inviável na via estreita do habeas corpus, uma vez que ausente
qualquer violação ou ameaça à garantia do direito à liberdade de locomoção. 3. Ordem
denegada. (HC 111.343/MS, Rel. Ministro ADILSON VIEIRA MACABU
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RJ), QUINTA TURMA, julgado em
20/10/2011, DJe 16/12/2011) REPRESENTAÇÃO DA PROCURADORIA-GERAL DE
JUSTIÇA PARA APLICAR A PENA ACESSÓRIA DE PERDA DA PATENTE.
DESCABIMENTO DE HABEAS CORPUS PARA DISCUTIR A IMPOSIÇÃO DE
PERDA DA GRADUAÇÃO. SÚMULA 694 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO QUANTO AO PONTO. 1. O habeas corpus não
constitui meio idôneo para se discutir a ilegalidade da decretação da perda de cargo público
em decorrência de sentença condenatória, uma vez que ausente qualquer violação ou
ameaça à garantia do direito à liberdade de locomoção . 2. A matéria já foi, inclusive,
sumulada pelo Supremo Tribunal Federal, cujo verbete 694 preceitua que "não cabe 'habeas
corpus' contra a imposição da pena de exclusão de militar ou de perda de patente ou de
função pública". 3. Recurso parcialmente conhecido e, nessa parte, provido para anular o
processo desde descumprimento do despacho do Juiz Auditor Militar que declinou da
competência para a Justiça Comum, devendo o feito ser remetido a uma das Varas
Criminais de Guarapari/ES. (RHC 25.384/ES, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA
TURMA, julgado em 07/12/2010, DJe 14/02/2011). Ante o exposto, com fundamento nos
arts. 38 da Lei 8.038/90 e 34, XVIII, do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça,
nego seguimento ao presente habeas corpus. Publique-se. Intimem-se. Brasília, 19 de
novembro de 2014. MINISTRO NEFI CORDEIRO Relator
(STJ - HC: 34914 MS 2004/0053675-5, Relator: Ministro NEFI CORDEIRO, Data de
Publicação: DJ 28/11/2014)”.

Ementa: “RECURSO ESPECIAL Nº 1.424.458 - SC (2013/0406893-0) RELATOR :


MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR RECORRENTE : SANDRO ROBSON
FERNANDES ADVOGADO : CLAUDIO GASTÃO DA ROSA E OUTRO (S)
RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA PENAL
E PROCESSO PENAL. RECURSO ESPECIAL. TORTURA. INEXISTÊNCIA DE
PROVA E CERCEAMENTO DE DEFESA. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DE
DISPOSITIVO DE LEI VIOLADO. FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. SÚMULA
284/STF. PERDA DO CARGO. INVIABILIDADE DE ANÁLISE DE MATÉRIA
CONSTITUCIONAL. EFEITO AUTOMÁTICO DA CONDENAÇÃO. SÚMULA 83/STJ.
Recurso especial a que se nega seguimento. DECISÃO Trata-se de recurso especial
interposto por Sandro Robson Fernandes, com fundamento na alínea a do permissivo
constitucional, contra acórdão do Tribunal de Justiça de Santa Catarina proferido na
Apelação Criminal n. 2012.021121-5 (fls. 432/449): APELAÇÃO CRIMINAL.
TORTURA (ART. 1º, INCISO I, ALÍNEA 'A', C/C O § 4º, INCISO I, DA LEI N.º
9.455/1997). SENTENÇA CONDENATÓRIA. RECURSO DEFENSIVO.
PRELIMINARES. I) ALEGADA NULIDADE DECORRENTE DA INCOMPETÊNCIA
DO JUÍZO SENTENCIANTE. NÃO OCORRÊNCIA. CIRCUNSTANCIAL FÁTICO
ATINENTE À DISTRIBUIÇÃO DOS PROCESSOS NA COMARCA DE ORIGEM
DEVIDAMENTE ESCLARECIDO PELO MAGISTRADO. II) SUSTENTADA
NULIDADE DECORRENTE DE CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO
ACOLHIMENTO. INDEFERIMENTO DE INDAGAÇÕES ÀS TESTEMUNHAS
JURIDICAMENTE CONFORME. APONTAMENTO DA PROCURADORIA-GERAL
DE JUSTIÇA EM SENTIDO CONVERGENTE. DEFENSOR QUE, ADEMAIS,
EXERCEU DE MODO PLENO AS FACULDADES INERENTES AO PATROCÍNIO NO
CURSO DA INSTRUÇÃO CRIMINAL. MÉRITO. PRETENSÃO ABSOLUTÓRIA.
REFERIDA ATIPICIDADE DA CONDUTA. IMPROPRIEDADE. MATERIALIDADE E
AUTORIA DEVIDAMENTE COMPROVADAS. ACUSADO QUE CONFIRMA E
JUSTIFICA AS AGRESSÕES PERPETRADAS. ESCUSA DEFENSIVA
JURIDICAMENTE INÓCUA. DEPOIMENTOS JUDICIAIS DE TESTEMUNHAS
UNÍSSONOS, CONFORMES E CONTUNDENTES, AO DELINEAR A
RESPONSABILIDADE CRIMINAL DO RECORRENTE. DEMANDANTE QUE
CONSTRANGEU O OFENDIDO, MEDIANTE VIOLÊNCIA, CAUSANDO-LHE
INTENSO SOFRIMENTO FÍSICO E MENTAL, COM O DESIDERATO DE OBTER
INFORMAÇÃO, DECLARAÇÃO OU CONFISSÃO. ELEMENTARES DO TIPO
PROCESSADO ROBUSTAMENTE DEMONSTRADAS. PETITÓRIO
DESCLASSIFICATÓRIO. TESE INFÉRTIL. RECONHECIMENTO DA PRÁTICA DE
LESÃO CORPORAL OU ABUSO DE AUTORIDADES TECNICAMENTE
INADEQUADA. ESFORÇO DEFENSIVO PELO RECONHECIMENTO DA TORTURA
NA MODALIDADE TENTADA. IMPROPRIEDADE. CRIME DE NATUREZA
FORMAL, QUE PRESCINDE DE QUALQUER RESULTADO, CONSUMANDO-SE NO
MOMENTO DO ATO. ENTENDIMENTO DO STJ. CONDENAÇÃO CONFIRMADA.
DOSIMETRIA. PRIMEIRA FASE. PENA-BASE ESTABELECIDA NO MÍNIMO
LEGAL. SEGUNDA ETAPA. POSTULADO RECONHECIMENTO DA ATENUANTE
DO ART. 65, III, 'A', DO CP. NÃO CABIMENTO. PRÁTICA DELITIVA QUE NÃO
AUTORIZA, EM ABSOLUTO, O RECONHECIMENTO DA CIRCUNSTÂNCIA DO
RELEVANTE VALOR MORAL. SANÇÃO MANTIDA. IMPOSSIBILIDADE,
ADEMAIS, DE REDUÇÃO ABAIXO DA PENA MÍNIMA COMINADA AO TIPO.
TERCEIRA FASE. PLEITO DE AFASTAMENTO DA CAUSA ESPECIAL DE
AUMENTO DE PENA DO ART. 1º, § 4º, I, DA LEI DE TORTURA. INVIABILIDADE.
CONDIÇÃO DE AGENTE PÚBLICO CONSIGNADA NA EXORDIAL ACUSATÓRIA.
AUSÊNCIA DE OFENSA AOS PRINCÍPIOS ELENCADOS EM SEDE RECURSAL.
ORIENTAÇÃO DESTA CORTE. REPRIMENDA, AO FINAL, MANTIDA. REGIME
INICIAL PARA CUMPRIMENTO DE PENA. ALTERAÇÃO, DE OFÍCIO, DO
FECHADO PARA O ABERTO. APLICAÇÃO DE ORIENTAÇÃO DO STF, COM
RESERVA DESTE RELATOR. DECLARAÇÃO INCIDENTAL DE
INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 2º, § 1º, DA LEI N.º 8.072/90 COM EFEITO
VINCULANTE. OFENSA À GARANTIA CONSTITUCIONAL DA
INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA. SUBSTITUIÇÃO DA PENA CORPORAL POR
RESTRITIVAS DE DIREITOS. OPERAÇÃO JURIDICAMENTE INADEQUADA.
OFERECIMENTO DE SURSIS. MANEJO TECNICAMENTE IMPERTINENTE.
INSURGÊNCIA PELO AFASTAMENTO DO ART. 1º, § 5º, DA LEI N.º 9.455/97.
IMPROPRIEDADE. CRIME DE NATUREZA COMUM. PERDA DO CARGO QUE
PRESCINDE DE PROCEDIMENTO ESPECÍFICO. APONTAMENTO CONFORME DA
PGJ. SANÇÃO EXTRAPENAL DE EFEITO AUTOMÁTICO POR CONDENAÇÃO
PELA PRÁTICA DO DELITO DE TORTURA. AUSÊNCIA DE OFENSA AOS
ARTIGOS 125, § 4º, E 142, § 3º, VI E VII, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.
ENTENDIMENTO DO STF. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. No presente
recurso (fls. 453/468), alega-se, em síntese: a) inexistência de prova para fundamentar a
condenação; b) cerceamento de defesa; c) negativa de vigência aos arts. 93, IX da
Constituição Federal, 1º, § 5º da Lei n. 9.455/1998 e 92, I do Código Penal, sob o
fundamento de que a perda do cargo não é efeito automático da condenação. Oferecidas
contrarrazões (fls. 473/477), o recurso foi admitido na origem (fls. 480/481). O Ministério
Público Federal opina pelo não provimento do recurso (fls. 492/506). É o relatório. As
pretensões recursais direcionam-se aos seguintes aspectos: a) reconhecimento da
inexistência de prova para fundamentar a condenação e cerceamento de defesa Nos tópicos,
o recorrente afirma o seguinte (fls. 458/459): [...] Registre-se, inicialmente, que inexiste
material cognitivo capaz de impor um decreto condenatório em face do Recorrido. Os fatos
se deram de forma diversa muito embora a materialidade se fez presente, não se pode dizer
o mesmo com relação a autoria, vez que e os fatos do exposto na Exordial acusatória, na
sentença prolatada e no acórdão recorrido. Importante aduzir que a inobservância relativo à
sentença prolatada não foi motivada de forma efetiva como exige a Lei, primeiro ocorreu
cerceamento de defesa com indeferimento de indagação das testemunhas arroladas.
Saliente-se que a parte quando arrola uma testemunha possui o direito de indagar pontos
que entende importante para a defesa o que não foi permitido no caso dos autos, pois as
testemunhas arroladas não puderam responder certas indagações que poderiam esclarecer
os fatos em prol do recorrido. Sendo assim, ocorreu sim cerceamento de defesa em prejuízo
do recorrido, procedimento que foi ignorado pelo Tribunal de Justiça no julgamento da
Apelação confirmando a sentença e asseverando que não ocorreu cerceamento de defesa.
[...] Todavia, sobre os temas, não foi apontado em lugar algum do recurso o (s) dispositivo
(s) de lei que se reputa (m) contrariado (s). Portanto, assim o fazendo, o insurgente incorre
em deficiência de fundamentação, atraindo a incidência do entendimento firmado na
Súmula 284/STF, aplicável por analogia: [...] 3. A ausência de indicação do dispositivo
violado enseja a aplicação do enunciado nº 284 da Súmula do Pretório Excelso, pois
caracteriza deficiência na fundamentação, o que dificulta a compreensão da controvérsia.
[...] (AgRg no AREsp n. 218.585/AL, Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta
Turma, DJe 3/9/2013 - grifo nosso) b) afastamento da perda do cargo De acordo com o
recorrente, outro ponto importante que merece destaque e especial atenção refere-se "a
perda do cargo, função ou emprego público, nos termos do § 5º do art. 1º da Lei nº
9.455/98, note que não é automática, a perda do cargo, dependendo de motivação
específica. A falta de motivação específica afronta e viola ao disposto, inclusive, no"Artigo
93, inciso IX, da Constituição Federal"(fl. 459). Primeiramente, incumbe asseverar que a
alegada violação do art. 93, IX da Constituição Federal não pode ser conhecida, uma vez
que o recurso especial não é a via adequada à análise de fundamento constitucional, matéria
reservada à competência do Supremo Tribunal Federal. Quanto à alegada violação da lei
federal, observo que não assiste razão ao recorrente. Com efeito, essa Corte Superior tem
entendimento reiterado no sentido que a perda do cargo, função ou emprego público é
efeito automático da condenação pela prática do crime de tortura, não sendo necessária
fundamentação concreta para a sua aplicação (AgRg no Ag n. 1.388.953/SP, Ministra
Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, DJe 28/6/2013). Em igual sentido: HC n.
131.828/RJ, Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma, DJe 2/12/2013; HC n. 47.846/MG,
Ministro Og Fernandes, Sexta Turma, DJe 22/2/2010. Não é outro o entendimento
manifestado por ambas as Turmas do Supremo Tribunal Federal: Ementa: SEGUNDO
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.
PENAL E PROCESSUAL PENAL. CRIME DE TORTURA. POLICIAIS MILITARES.
PERDA DO POSTO E DA PATENTE COMO CONSEQUÊNCIA DA CONDENAÇÃO.
APLICABILIDADE DO ARTIGO 1º, § 5º, DA LEI 9.455/1997. ALEGADA VIOLAÇÃO
DO ARTIGO 125, § 4º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. INOCORRÊNCIA.
PRECEDENTE. 1. A condenação de policiais militares pela prática do crime de tortura, por
ser crime comum, tem como efeito automático a perda do cargo, função ou emprego
público, por força do disposto no artigo 1º, § 5º, da Lei 9.455/1997. É inaplicável a regra do
artigo 125, § 4º, da Carta Magna, por não se tratar de crime militar. Precedentes. 2. In casu,
o acórdão recorrido assentou: PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO DO
MINISTÉRIO PÚBLICO. TORTURA. AUTORIA E MATERIALIDADE
COMPROVADAS QUANTUM SATIS. CONDENAÇÃO DOS APELADOS QUE SE
IMPÕE. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA, MODALIDADE RETROATIVA,
ARTIGO 109, INCISO V, C/C ARTIGO 110, AMBOS DO CÓDIGO PENAL, EM
RELAÇÃO AOS APELANTES ANTÔNIO MARCOS DE FRANÇA E ELENILSON
NUNES DA SILVA. CONHECIMENTO E PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO. 3.
Agravo regimental DESPROVIDO. (ARE n. 799102 AgR-segundo, Ministro Luiz Fux,
Primeira Turma, DJe 9/2/2015 - grifo nosso) EMENTA: CRIME DE TORTURA
CONDENAÇÃO PENAL IMPOSTA A OFICIAL DA POLÍCIA MILITAR PERDA DO
POSTO E DA PATENTE COMO CONSEQUÊNCIA NATURAL DESSA
CONDENAÇÃO (LEI Nº 9.455/97, ART. 1º, § 5º) INAPLICABILIDADE DA REGRA
INSCRITA NO ART. 125, § 4º, DA CONSTITUIÇÃO, PELO FATO DE O CRIME DE
TORTURA NÃO SE QUALIFICAR COMO DELITO MILITAR PRECEDENTES
SEGUNDOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO INOCORRÊNCIA DE
CONTRADIÇÃO, OBSCURIDADE OU OMISSÃO PRETENSÃO RECURSAL QUE
VISA, NA REALIDADE, A UM NOVO JULGAMENTO DA CAUSA CARÁTER
INFRINGENTE INADMISSIBILIDADE PRONTO CUMPRIMENTO DO JULGADO
DESTA SUPREMA CORTE, INDEPENDENTEMENTE DA PUBLICAÇÃO DO
RESPECTIVO ACÓRDÃO, PARA EFEITO DE IMEDIATA EXECUÇÃO DAS
DECISÕES EMANADAS DO TRIBUNAL LOCAL POSSIBILIDADE EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO NÃO CONHECIDOS. TORTURA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
COMUM PERDA DO CARGO COMO EFEITO AUTOMÁTICO E NECESSÁRIO DA
CONDENAÇÃO PENAL. - O crime de tortura, tipificado na Lei nº 9.455/97, não se
qualifica como delito de natureza castrense, achando-se incluído, por isso mesmo, na esfera
de competência penal da Justiça comum (federal ou local, conforme o caso), ainda que
praticado por membro das Forças Armadas ou por integrante da Polícia Militar. Doutrina.
Precedentes. - A perda do cargo, função ou emprego público que configura efeito
extrapenal secundário constitui consequência necessária que resulta, automaticamente, de
pleno direito, da condenação penal imposta ao agente público pela prática do crime de
tortura, ainda que se cuide de integrante da Polícia Militar, não se lhe aplicando, a despeito
de tratar-se de Oficial da Corporação, a cláusula inscrita no art. 125, § 4º, da Constituição
da República. Doutrina. Precedentes. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO UTILIZAÇÃO
PROCRASTINATÓRIA EXECUÇÃO IMEDIATA POSSIBILIDADE. - A reiteração de
embargos de declaração, sem que se registre qualquer dos pressupostos legais de
embargabilidade (CPP, art. 620), reveste-se de caráter abusivo e evidencia o intuito
protelatório que anima a conduta processual da parte recorrente. - O propósito revelado
pelo embargante, de impedir a consumação do trânsito em julgado de decisão que lhe foi
desfavorável valendo-se, para esse efeito, da utilização sucessiva e procrastinatória de
embargos declaratórios incabíveis , constitui fim que desqualifica o comportamento
processual da parte recorrente e que autoriza, em consequência, o imediato cumprimento da
decisão emanada desta Suprema Corte, independentemente da publicação do acórdão
consubstanciador do respectivo julgamento. Precedentes. (AI n. 769.637 AgR-ED-ED,
Ministro Celso de Mello, Segunda Turma, DJe 16/10/2013 - grifo nosso) Por conseguinte,
ao afirmar que a perda do cargo é efeito automático da condenação pela prática do ilícito
(fl. 449), o Tribunal de origem manifestou o mesmo entendimento consolidado no âmbito
do Superior Tribunal de Justiça, o que atrai, inclusive, a incidência da compreensão firmada
na Súmula 83/STJ. Ante o exposto, nego seguimento ao recurso especial. Publique-se.
Brasília, 24 de junho de 2015. Ministro Sebastião Reis Júnior Relator
(STJ - REsp: 1424458 SC 2013/0406893-0, Relator: Ministro SEBASTIÃO REIS
JÚNIOR, Data de Publicação: DJ 26/06/2015)

Ementa: PENAL E PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. OPERAÇÃO


SATIAGRAHA.PARTICIPAÇÃO IRREGULAR, INDUVIDOSAMENTE
COMPROVADA, DE DEZENAS DE FUNCIONÁRIOS DA AGÊNCIA BRASILEIRA
DE INFORMAÇÃO (ABIN) E DE EX-SERVIDOR DO SNI, EM INVESTIGAÇÃO
CONDUZIDA PELA POLÍCIA FEDERAL.MANIFESTO ABUSO DE PODER.
IMPOSSIBILIDADE DE CONSIDERAR-SE A ATUAÇÃO EFETIVADA COMO
HIPÓTESE EXCEPCIONALÍSSIMA, CAPAZ DE PERMITIR COMPARTILHAMENTO
DE DADOS ENTRE ÓRGÃOS INTEGRANTES DO SISTEMA BRASILEIRO DE
INTELIGÊNCIA. INEXISTÊNCIA DE PRECEITO LEGAL AUTORIZANDO-A.
PATENTE A OCORRÊNCIA DE INTROMISSÃO ESTATAL, ABUSIVA E ILEGAL
NA ESFERA DA VIDA PRIVADA, NO CASO CONCRETO. VIOLAÇÕES DA
HONRA, DA IMAGEM E DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. INDEVIDA
OBTENÇÃO DE PROVA ILÍCITA, PORQUANTO COLHIDA EM
DESCONFORMIDADE COM PRECEITO LEGAL. AUSÊNCIA DE RAZOABILIDADE.
AS NULIDADES VERIFICADAS NA FASE PRÉ-PROCESSUAL, E
DEMONSTRADAS À EXAUSTÃO, CONTAMINAM FUTURA AÇÃO PENAL.
INFRINGÊNCIA A DIVERSOS DISPOSITIVOS DE LEI. CONTRARIEDADE AOS
PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE, DA IMPARCIALIDADE E DO DEVIDO PROCESSO
LEGAL INQUESTIONAVELMENTE CARACTERIZADA. A AUTORIDADE DO JUIZ
ESTÁ DIRETAMENTE LIGADA À SUA INDEPENDÊNCIA AO JULGAR E À
IMPARCIALIDADE.UMA DECISÃO JUDICIAL NÃO PODE SER DITADA POR
CRITÉRIOS SUBJETIVOS,NORTEADA PELO ABUSO DE PODER OU
DISTANCIADA DOS PARÂMETROS LEGAIS.ESSAS EXIGÊNCIAS DECORREM
DOS PRINCÍPIOS DEMOCRÁTICOS E DOS DIREITOS E GARANTIAS
INDIVIDUAIS INSCRITOS NA CONSTITUIÇÃO. NULIDADE DOS
PROCEDIMENTOS QUE SE IMPÕE, ANULANDO-SE, DESDE O INÍCIO, A AÇÃO
PENAL. 1.Uma análise detida dos 11 (onze) volumes que compõem o HC demonstra que
existe uma grande quantidade de provas aptas a confirmar, cabalmente, a participação
indevida, flagrantemente ilegal e abusiva, da ABIN e do investigador particular contratado
pelo Delegado responsável pela chefia da Operação Satiagraha. 2. Não há se falar em
compartilhamento de dados entre a ABIN e a Polícia Federal, haja vista que a hipótese dos
autos não se enquadra nas exceções previstas na Lei nº 9.883/99. 3. Vivemos em um Estado
Democrático de Direito, no qual, como nos ensina a Profª. Ada Pellegrini Grinover, in
"Nulidades no Processo Penal", "o direito à prova está limitado, na medida em que constitui
as garantias do contraditório e da ampla defesa, de sorte que o seu exercício não pode
ultrapassar os limites da lei e, sobretudo, da Constituição."4. No caso em exame, é
inquestionável o prejuízo acarretado pelas investigações realizadas em desconformidade
com as normas legais, e não convalesce, sob qualquer ângulo que seja analisada a
questão,porquanto é manifesta a nulidade das diligências perpetradas pelos agentes da
ABIN e um ex-agente do SNI, ao arrepio da lei.5. Insta assinalar, por oportuno, que o juiz
deve estrita fidelidade à lei penal, dela não podendo se afastar a não ser que
imprudentemente se arrisque a percorrer, de forma isolada, o caminho tortuoso da
subjetividade que, não poucas vezes, desemboca na odiosa perda da imparcialidade. Ele não
deve, jamais, perder de vista a importância da democracia e do Estado Democrático de
Direito.6. Portanto, inexistem dúvidas de que tais provas estão irremediavelmente
maculadas, devendo ser consideradas ilícitas e inadmissíveis, circunstâncias que as tornam
destituídas de qualquer eficácia jurídica, consoante entendimento já cristalizado pela
doutrina pacífica e lastreado na torrencial jurisprudência dos nossos tribunais.7. Pelo
exposto, concedo a ordem para anular, todas as provas produzidas, em especial a dos
procedimentos nº 2007.61.81.010208-7 (monitoramento telefônico), nº 2007.61.81.011419-
3 (monitoramento telefônico), e nº 2008.61.81.008291-3 (ação controlada), e dos demais
correlatos, anulando também, desde o início, a ação penal, na mesma esteira do bem
elaborado parecer exarado pela douta Procuradoria da República.
(STJ - HC: 149250 SP 2009/0192565-8, Relator: Ministro ADILSON VIEIRA MACABU
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RJ), Data de Julgamento: 07/06/2011, T5 -
QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 05/09/2011)

11.3 Precedentes do TJ-RS:

Ementa: “APELAÇÃO CÍVEL. SERVIDOR PÚBLICO. MONITOR. ABRIGO


MUNICIPAL DE CERRO GRANDE DO SUL. PRÁTICA DE MAUS TRATOS
PSICOLÓGICOS, NEGLIGÊNCIA E ABUSO DE AUTORIDADE. PERDA DO CARGO.
1. A proteção dada pela Constituição Federal à criança e ao adolescente é prioritária,
devendo a sociedade e o Estado envidar esforços para colocá-los a salvo de "toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão", conforme dicção
do art. 227. 2. Tais normas preveem um modo de atuação do agente público direcionado ao
respeito às garantias e direitos fundamentais da criança e do adolescente, esperando-se
desempenho compatível com os melhores resultados na formação do menor, com o fito de
resguardá-lo de qualquer forma de violência física ou moral. 3. Apurada pela prova
testemunhal e documental a ocorrência de negligência no cuidado dos internos, bem como
conduta inadequada e aplicação de castigos não condizentes com o exercício das
atribuições do cargo de Monitora. 4. Descumprimento do dever de garantir o cuidado,
proteção e assistência ao menor, acarretando a perda do cargo, observados os arts. 194 a
197 do Estatuto da Criança e do Adolescente. DERAM PROVIMENTO À APELAÇÃO.
(Apelação Cível Nº 70057289563, Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Matilde Chabar Maia, Julgado em 25/08/2016).
(TJ-RS - AC: 70057289563 RS, Relator: Matilde Chabar Maia, Data de Julgamento:
25/08/2016, Terceira Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia
23/09/2016)”.

Ementa: “MANDADO DE SEGURANÇA. DEMISSAO DE FUNCIONARIOS


PUBLICOS. SENDO MANIFESTO QUE DESCABIA A AUTORIDADE MUNICIPAL A
DEMISSAO DO FUNCIONARIO PÚBLICO QUE JA ADQUIRIRA A
ESTABILIDADE,SEM O COMPETENTE PROCESSO ADMINISTRATIVO E SEM
QUE SE LHE DEFERISSE AMPLA DEFESA E SENDO EVIDENTE QUE A
CONDICAO DE CELETISTA DO IMPETRANTE E PRODUTO DE ERRO
ADMINISTRATIVO,HOUVE VIOLACAO A DIREITO LIQUIDO E CERTO SEU POR
ABUSO DE PODER, REMEDIAVEL PELO MANDADO DE SEGURANÇA. APELO
PROVIDO. (Apelação Cível Nº 584051106, Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do
RS, Relator: Gervásio Barcellos, Julgado em 20/06/1985)
(TJ-RS - AC: 584051106 RS, Relator: Gervásio Barcellos, Data de Julgamento:
20/06/1985, Terceira Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia)”.

Ementa: “PENAL PROCESSUAL PENAL. CRIME DE ABUSO DE AUTORIDADE.


LEIS Nº 9.099/95 E 10.259/01. CONCEITO DE INFRACAO PENAL DE MENOR
POTENCIAL OFENSIVO. CONFLITO DE COMPETENCIA. A LEI Nº 10.259/01
AMPLIOU O CONCEITO DE INFRACAO PENAL DE MENOR POTENCIAL
OFENSIVO ANTERIORMENTE DEFINIDO NA LEI Nº 9.099/95 ESTABELECENDO
QUE COMO TAL DEVEM SER CLASSIFICADAS AS CONTRAVENCOES PENAIS E
OS CRIMES A QUE A LEI COMINE PENA MAXIMA NAO SUPERIOR A DOIS
ANOS. O CRIME DE ABUSO DE AUTORIDADE DEFINIDO NO ARTIGO 3.º, LETRA
¿I¿ DA LEI Nº 4.898/65 E INFRACAO PENAL DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO,
PORQUE PUNIDO COM DETENCAO DE DEZ DIAS E SEIS MESES OU MULTA,
COMPETINDO AO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL SEU PROCESSO E
JULGAMENTO A PARTIR DE 14-02-02, DEVENDO-SE ENTENDER REVOGADA A
LETRA ¿C¿ DO § 3.º DO ARTIGO 6.º DA MESMA LEI QUE PREVIA A
POSSIBILIDADE DE O JUIZ SUJEITAR O CONDENADO A PERDA DO CARGO,
COMO PENA APLICADA AUTONOMA OU CUMULATIVAMENTE COM A PENA
PRIVATIVA DE LIBERDADE. APLICACAO DA REGRA INSCRITA NO ARTIGO 2.º,
§ 1.º, ULTIMA HIPOTESE, DA LEI DE INTRODUCAO AO CODIGO CIVIL E
INCIDENCIA DO PRINCIPIO CONSTITUCIONAL DA IGUALDADE, ISONOMIA OU
PROPORCIONALIDADE. CONFLITO DE COMPETENCIA CONHECIDO PARA
PROCLAMAR COMPETENTE O JUIZO SUSCITADO. (10 FLS) (Conflito de
Competência Nº 70004413951, Quarta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Vladimir Giacomuzzi, Julgado em 20/06/2002)”.
CONCLUSÃO:

Uma das críticas enfrentadas pela Lei de Abuso de Autoridade é acerca da sua pouca
utilidade, muitos cidadãos não têm conhecimento dos direitos e garantias fundamentais,
consequentemente não tendo ciência do direito de poder representar contra os Poderes Públicos, não
sabendo sequer que a atitude da autoridade tem limites e pode estar infringindo regras impostas no
ordenamento jurídico brasileiro. Portanto, muitas autoridades que atuam de forma a desviar ou
abusar de seu poder não são sancionados, como efeito da falta de conhecimento do cidadão comum.

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