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/2014
ISSN – 2317-5915
1. INTRODUÇÃO
O Brasil é mundialmente conhecido por suas proporções continentais e pelo imperioso
patrimônio ambiental provido da maior diversidade biológica do planeta. Porém a
manutenção de tão grandioso nicho de recursos exige cada vez mais que o operador do direito
intervenha de forma ferrenha, uma vez que o meio ambiente brasileiro é atacado amiúde, com
grande destaque para a fauna. Os referidos ataques ocorrem motivados pela escala
compreendida entre a simples diversão (caça, pesca) e o famigerado tráfico de animais
silvestres, o qual consiste na captura de animais para o comércio ilegal. A intervenção se dá
através da tutela penal do meio ambiente e da repressão à sua depredação. Dessa forma,
atende a esfera judiciária ao reclame social da proteção prevista no dispositivo constitucional
do art. 225, §3.º, da Carta Magna.
Buscando entender a função da legislação ambiental e seus efeitos na essência do
dispositivo constitucional supracitado, realizou-se pesquisa nas legislações que tratam do
assunto em pauta, tais como doutrinas, Constituição Federal de 1988, e a Lei 9.605, de 12 de
fevereiro de 1998, que regulamenta as disposições constitucionais, nos casos de crimes
praticados contra o Meio Ambiente.
1
Graduanda do Curso de Direito do Complexo de Ensino Superior de Cachoeirinha(CESUCA),
Cachoeirinha/RS, Brasil, madozinhalopes@gmail.com
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A conduta acima é justificada pela natureza dos crimes ambientais, que usualmente
são crimes de perigo abstrato, onde procura-se antecipar a proteção penal, reprimindo-se as
condutas preparatórias. Para tanto foi necessário que a tutela do meio ambiente fosse
implementada de forma mais efetiva em nosso ordenamento jurídico, demonstrada pela
2
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco, Curso de Direito Ambiental Brasileiro, p.137
3
GRECO, Rogerio, Curso de Direito Penal – Parte Geral, p.2
4
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco, Curso de Direito Ambiental Brasileiro, p.137
5
BITTENCOURT, Cezar Roberto, Tratado de Direito Penal, p. 13
6
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco, Curso de Direito Ambiental Brasileiro, p.152
7
Ibidem, p.84
8
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
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Os sujeitos do crime ambiental são: ativo e passivo. Nos termos da Lei 9.605/98, o
sujeito ativo pode ser qualquer pessoa física ou a jurídica que “concorra para a prática dos
crimes previstos na Lei9” e o sujeito passivo, conforme verificado na doutrina jurídica, sempre
será a coletividade, titular do bem jurídico ambiental lesado10.
As pessoas físicas são passíveis de cometer crimes ambientais, mas a lei adotou o
princípio da co-autoria necessária entre a pessoa física e a jurídica. Igualmente, o crime
ambiental poderá ser praticado por uma ou mais pessoas, em concurso. Sobre a matéria,
explana José Faleiros, citando a obra do jurista brasileiro Luis Paulo Sirvinkas: “Se praticado
por uma única pessoa, o crime é chamado de monossubjetivo; se várias pessoas concorrem
para a consumação do crime, denomina-se plurissubjetivo11”. Partindo dessa premissa, para
imputar o crime à pessoa jurídica tornando esta co-autora da pessoa física e a conduta
delituosa plurissubjetiva, é necessário haver nexo entre a prática do crime ambiental pelo
funcionário e o proveito ou interesse da empresa para a responsabilização da mesma.
9
Art. 2º da Lei 9.605/98.
10
FALEIROS, José Luiz de Moura, Crimes Ambientais, Instituto LFG Concursos Jurídicos e Pós-Graduação.
11
SIRVINSKAS, Luís Paulo. Tutela Penal do Meio Ambiente. 1ª edição, São Paulo: SARAIVA, 1998. p.
11/29.
12
AMADO, Frederico Augusto Di Trindade, Direito Ambiental Esquematizado, p. 380
13
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco, Curso de Direito Ambiental Brasileiro, p.153
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Portanto, não vêm acatando denúncia ambiental apenas contra a pessoa física, mas
também contra a jurídica em co-ação, não excluindo a da pessoa física, pois o parágrafo único
do artigo 3° da lei maior lembra que “a responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a
das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato”.
14
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco, Curso de Direito Ambiental Brasileiro, p.153
15
AMADO, Frederico Augusto Di Trindade, Direito Ambiental Esquematizado, p. 382
16
Art. 4º da Lei 9.605/98.
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A seguir, elenca-se alguns crimes ambientais à luz dos artigos da Lei n. 9.605/98, com
ênfase nos ilícitos contra a fauna para ilustrar a responsabilidade penal. Com base nas
orientações teóricas, ao longo do trabalho expõe-se entendimentos, buscando compartilhar
opiniões sobre o assunto abordado.
Diante disso, uma vez que o meio ambiente é “bem de uso comum do povo e essencial
à qualidade de vida18”, infere-se que qualquer degradação causada ao meio ambiente e seus
componentes - estes tutelados pela legislação - considera-se crime ambiental. O principal
diploma legislativo brasileiro que dispõe sobre sanções penais aplicadas às atividades lesivas
ao sistema ambiental é a Lei nº 9.605/98.
A Lei 9.605/98 veio dispor não só sobre as sanções penais, mas também sobre as
administrativas advindas de condutas e atos lesivos ao meio ambiente, sendo que estas últimas
ainda demandam regulamentação. Para tanto, organizou a defesa ambiental em tópicos, que
são: a) crimes contra a fauna; b) crimes contra a flora; c) crimes de poluição; d) crimes contra
a administração ambiental; e) outros Crimes Ambientais. São suas penas previstas:
“No tocante às pessoas físicas as penas que poderão ser aplicadas são:
a) pena privativa de liberdade;
b) penas restritivas de direitos;
c) pena de multa;
d) “pena” de indenização.
Para as pessoas jurídicas as penas possíveis são:
a) pena de multa;
b) penas restritivas de direitos;
c) prestação de serviços à comunidade;
d) dissolução da pessoa jurídica19”.
17
CAPEZ, Fernando, Curso de direito penal, volume 1 p.134
18
Art. 225 da Constituição Federal de 1988, caput.
19
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco, Crimes Ambientais, p.48
20
Ibidem, p.168
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Ela dá ênfase aos crimes contra a fauna em seus artigos 29 a 37, uma vez que, embora
os animais não sejam sujeitos de direito, sua manutenção e proteção favorecem o próprio
homem21 e as demais espécies do ecossistema.
Constituem crimes contra a fauna, conforme a Lei supracitada, em seu artigo 29:
Esse dispositivo penal elenca a definição de espécimes da fauna silvestre em seu § 3º,
limitando-se apenas aos animais que se desenvolveram ou estão se desenvolvendo dentro do
território brasileiro. Nele não coube a proteção aos animais importados que não se adaptaram
ao clima daqui, muitas vezes indo esses animais ao óbito por esse motivo. E também mostra-
se falho na menção da “devida permissão, licença ou autorização da autoridade
competente”, pois mesmo com a anuência do poder estatal, tais atitudes continuam
configurando o delito.
21
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco, Curso de Direito Ambiental Brasileiro, p.823
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Em análise do seu § 2º, mostra deficiência quando se exime de aplicar a pena em caso
de guarda de animal doméstico silvestre quando na condição de “não-extinto”. Sobre a
matéria, colaciona-se precedente jurisprudencial no STJ:
22
AMADO, Frederico Augusto Di Trindade, Direito Ambiental Esquematizado, p. 413
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Além disso, deveria penalizar mais severamente o tráfico de animais silvestres, pois
segundo dados do Ibama,“o comércio de vida silvestre é considerado a terceira maior
atividade ilegal no mundo, atrás apenas do tráfico de armas e de drogas23”. E os dados
estatísticos fornecidos por este órgão confirmam essa lamentável constatação, uma vez ser
estimado que cerca de 38 milhões de exemplares sejam retirados anualmente da natureza e
que aproximadamente quatro milhões deles sejam vendidos em virtude do tráfico de animais
silvestres no Brasil.
Portanto, o operador do direito que produziu estes artigos deveria ter sido mais
cuidadoso e ter concedido a relevância necessária para o assunto, pois diante de tão frágil
forma de coibição da conduta lesiva, torna-se mais vantajoso para os infratores uma transação
penal ou o risco de condenação a uma pena não tão severa do que deixarem de obter o lucro
proporcionado pelo tráfico de animais silvestres.
5. CONSIDERAÇÕES GERAIS
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IBAMA, Diversos autores - Esforços para o combate ao tráfico de animais silvestres no Brasil
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REFERÊNCIAS
BITTENCOURT, Cezar Roberto, Tratado de Direito Penal, volume l, parte geral,13 ed. São
Paulo: Saraiva, 2008.
CAPEZ, Fernando, Curso de direito penal, volume 1, parte geral 15. ed. São Paulo : Saraiva,
2011.
FALEIROS, José Luiz de Moura, Crimes Ambientais, Instituto LFG Concursos Jurídicos e
Pós-Graduação – Arquivos Unama
Disponível em:
http://arquivos.unama.br/professores/iuvb/AulasAnteriores/CienciasCriminais/TUTELA_PENAL_DO
S_INTERESSES_DIFUSOS_E_COLETIVOS/CCTD_Aula05_Extra.pdf
Acesso em: 22.04.2014 - 11:15
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco, Curso de Direito Ambiental Brasileiro 14.ed. São Paulo:
Saraiva, 2013.
FIORILLO, CONTE. Celso Antonio Pacheco, Christiany Pegorari. Crimes Ambientais – São
Paulo : Saraiva, 2012.
GRECO, Rogerio, Curso de Direito Penal – Parte Geral 14.ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2012.
IBAMA
DESTRO, Guilherme Fernando Gomes Destro; PIMENTEL, Tatiana Lucena SABAINI;
Raquel Monti, BORGES; Roberto Cabral, BARRETO; Raquel Barreto Esforços para o
combate ao tráfico de animais silvestres no Brasil
Disponível em:
https://www.ibama.gov.br/sophia/cnia/periodico/esforcosparaocombateaotraficodeanimais.pdf
Acesso em: 25.04.2014 - 10:18
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