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ANAIS DA VIII MOSTRA CIENTÍFICA DO CESUCA – NOV.

/2014
ISSN – 2317-5915

Breves considerações acerca dos crimes contra a fauna

Maria Dolores Marques Lopes1

Resumo: O presente artigo aborda aspectos doutrinários e legislativos, segundo


entendimentos dos autores pesquisados. Explana o instituto da responsabilidade
penal da pessoa jurídica nos crimes ambientais do Direito brasileiro e comenta
artigos da legislação ambiental vigente na esfera dos crimes contra a fauna,
reportando-se à Carta Magna de 1988 e à Lei n. 9.605/98. O método-base
utilizado foi o legislativo, instrumentalizado por uma pesquisa bibliográfica.

Palavras-Chave: Crimes Ambientais; Responsabilidade penal; Fauna.

Abstract: This article discusses doctrinal and legislative aspects, according


authors’ understandings. Explains the institute of criminal liability of legal entities
in the environmental crimes of Brazilian Law and makes comments about
environmental legislation in the sphere of crimes against fauna articles, referring
to the Constitution of 1988 and the Law 9605/98. The basic method used was the
legislative, instrumentalized by a literature search.

Keywords: Environmental Crimes; Criminal Responsibility; Fauna.

1. INTRODUÇÃO
O Brasil é mundialmente conhecido por suas proporções continentais e pelo imperioso
patrimônio ambiental provido da maior diversidade biológica do planeta. Porém a
manutenção de tão grandioso nicho de recursos exige cada vez mais que o operador do direito
intervenha de forma ferrenha, uma vez que o meio ambiente brasileiro é atacado amiúde, com
grande destaque para a fauna. Os referidos ataques ocorrem motivados pela escala
compreendida entre a simples diversão (caça, pesca) e o famigerado tráfico de animais
silvestres, o qual consiste na captura de animais para o comércio ilegal. A intervenção se dá
através da tutela penal do meio ambiente e da repressão à sua depredação. Dessa forma,
atende a esfera judiciária ao reclame social da proteção prevista no dispositivo constitucional
do art. 225, §3.º, da Carta Magna.
Buscando entender a função da legislação ambiental e seus efeitos na essência do
dispositivo constitucional supracitado, realizou-se pesquisa nas legislações que tratam do
assunto em pauta, tais como doutrinas, Constituição Federal de 1988, e a Lei 9.605, de 12 de
fevereiro de 1998, que regulamenta as disposições constitucionais, nos casos de crimes
praticados contra o Meio Ambiente.

1
Graduanda do Curso de Direito do Complexo de Ensino Superior de Cachoeirinha(CESUCA),
Cachoeirinha/RS, Brasil, madozinhalopes@gmail.com
F A C U L D A D E I N E D I – C E S U C A

Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000 | e-mail: cesuca@cesuca.edu.br

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Embora tenha havido notável evolução jurídico-ambiental através da promulgação da


Lei 9605/98, esta ainda não tem surtido efeitos jurídicos relevantes nem impedido o
desrespeito ao meio ambiente do nosso País com efetividade.

2. RESPONSABILIDADE DOS CRIMES AMBIENTAIS


Aquele que ferir a tutela dos direitos ambientais, conforme prevê a Constituição de
1988, terá tríplice responsabilidade, ou seja, de acordo com o art. 225, § 3º da magna carta o
infrator será responsabilizado na esfera penal, administrativa e civil. Segundo Pacheco
Fiorillo, as três ratios estão inclusas na antijuricidade2.
Porém, na questão da tutela ambiental, dá-se maior ênfase para a responsabilidade
penal, já que de acordo com o penalista Rogério Greco, “a finalidade do Direito Penal é a
proteção dos bens jurídicos mais importantes e necessários para a própria sobrevivência da
sociedade3” e tal situação retrata-se fielmente quando da proteção do meio ambiente. Como
medida efetiva dessa tutela tem-se a sanção, que na linha de entendimento de Fiorillo, está
relacionada à limitação da liberdade, com pena privativa ou restritiva da mesma, bem como
penas alternativas quando da condenação do indivíduo4.
Por haver uma necessidade de intervenção mais severa por parte do poder estatal,
clamado pela própria sociedade, impuseram-se tipos penais a serem respeitados, cominatórios
de sanções penais. Não obstante, o Estado procura intervir precipuamente em situações de
extensa ofensa aos interesses coletivos ambientais. No mais, as sanções civil e administrativa
são suficientes per si para punir aqueles que infringiram a lei. Como nas outras áreas de
infração, na do Direito Ambiental, o Direito Penal também é a última ratio5 para proteger os
bens jurídicos.
A distinção da sanção penal das outras duas é a gravidade do ato, que está fortemente
ligada aos valores atribuídos às condutas pela sociedade6, produzindo uma ideia mais
delineada da retribuição do infrator através do sofrimento advindo do mal imposto a este.
Dessarte, sendo o meio ambiente um direito fundamental7, pois é bem de uso comum
do povo, para pôr em exercício a intenção supracitada, o legislador infraconstitucional criou a
Lei n. 9.605/98, regulando os crimes ambientais, em conforme com o dispositivo do art. 5º,
inciso XLI da Constituição Federal, que prevê:

“XLI — a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e


liberdades fundamentais8”.

A conduta acima é justificada pela natureza dos crimes ambientais, que usualmente
são crimes de perigo abstrato, onde procura-se antecipar a proteção penal, reprimindo-se as
condutas preparatórias. Para tanto foi necessário que a tutela do meio ambiente fosse
implementada de forma mais efetiva em nosso ordenamento jurídico, demonstrada pela

2
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco, Curso de Direito Ambiental Brasileiro, p.137
3
GRECO, Rogerio, Curso de Direito Penal – Parte Geral, p.2
4
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco, Curso de Direito Ambiental Brasileiro, p.137
5
BITTENCOURT, Cezar Roberto, Tratado de Direito Penal, p. 13
6
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco, Curso de Direito Ambiental Brasileiro, p.152
7
Ibidem, p.84
8
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
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formulação da referida lei, que inovou consideravelmente o ordenamento jurídico penal,


trazendo em seu bojo a penalização da pessoa jurídica.

3. A RESPONSABILIDADE PENAL E SEUS SUJEITOS

Os sujeitos do crime ambiental são: ativo e passivo. Nos termos da Lei 9.605/98, o
sujeito ativo pode ser qualquer pessoa física ou a jurídica que “concorra para a prática dos
crimes previstos na Lei9” e o sujeito passivo, conforme verificado na doutrina jurídica, sempre
será a coletividade, titular do bem jurídico ambiental lesado10.

As pessoas físicas são passíveis de cometer crimes ambientais, mas a lei adotou o
princípio da co-autoria necessária entre a pessoa física e a jurídica. Igualmente, o crime
ambiental poderá ser praticado por uma ou mais pessoas, em concurso. Sobre a matéria,
explana José Faleiros, citando a obra do jurista brasileiro Luis Paulo Sirvinkas: “Se praticado
por uma única pessoa, o crime é chamado de monossubjetivo; se várias pessoas concorrem
para a consumação do crime, denomina-se plurissubjetivo11”. Partindo dessa premissa, para
imputar o crime à pessoa jurídica tornando esta co-autora da pessoa física e a conduta
delituosa plurissubjetiva, é necessário haver nexo entre a prática do crime ambiental pelo
funcionário e o proveito ou interesse da empresa para a responsabilização da mesma.

Portanto, a responsabilidade penal, ao contrário do que muitos pensam, também recai


sobre a pessoa jurídica. E para corroborar as considerações anteriores, é importante registrar
expressamente as duas condições necessárias para sua materialização: “A infração penal seja
cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado; A
infração penal seja cometida no interesse ou benefício da entidade12”. Complementando-se o
pensamento do parágrafo anterior, esclarece-se que a prática do crime ambiental deve ser
cometida por representante legal da empresa e em benefício da mesma e não em benefício
próprio para responsabilizá-la. Se um funcionário sem poder de gestão cometer esse ato, por
livre e autônoma vontade, sem ordem da mesma, a empresa não responderá solidariamente.

Embora haja posição entre alguns penalistas brasileiros da defesa da não-


responsabilização da pessoa jurídica, para outros é considerado um avanço político-jurídico,
pois de acordo com as considerações de Pacheco Fiorillo, “(...)as grandes degradações
ambientais não ocorriam por conta de atividades singulares, desenvolvidas por pessoas
físicas. Elas apresentavam-se de forma corporativa13”. Ou seja, se o delito ambiental é
cometido tendo como respaldo a imagem da empresa, torna-se mais eficaz e coerente a
penalização quando aplicada à organização diretamente envolvida e não somente ao indivíduo
pertencente ao seu corpo. Mesmo na ausência de elemento humano, em nosso ordenamento
jurídico está explícita a sua responsabilidade, à luz do § 3º do Art. 225 da Constituição
Federal:

9
Art. 2º da Lei 9.605/98.
10
FALEIROS, José Luiz de Moura, Crimes Ambientais, Instituto LFG Concursos Jurídicos e Pós-Graduação.
11
SIRVINSKAS, Luís Paulo. Tutela Penal do Meio Ambiente. 1ª edição, São Paulo: SARAIVA, 1998. p.
11/29.
12
AMADO, Frederico Augusto Di Trindade, Direito Ambiental Esquematizado, p. 380
13
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco, Curso de Direito Ambiental Brasileiro, p.153
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“§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente


sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados”.

Com tal disposição, o legislador constituinte aludiu a possibilidade de sanção penal à


pessoa jurídica14, coadunando-se com a necessidade de adaptar as sanções infracionais
presentes no diploma da Constituição brasileira às mudanças decorrentes da vida moderna e
da dinâmica perene das relações jurídicas.

Vista disso, em concordância com as disposições do parágrafo anterior, vêm o STJ


entender em jurisprudência:

“EMENTA - CRIMINAL. RESP. CRIME AMBIENTAL PRATICADO POR


PESSOA JURÍDICA. RESPONSABILIZAÇÃO PENAL DO ENTE
COLETIVO. POSSIBILIDADE. PREVISÃO CONSTITUCIONAL
REGULAMENTADA POR LEI FEDERAL. OPÇÃO POLÍTICA DO
LEGISLADOR. FORMA DE PREVENÇÃO DE DANOS AO MEIO-
AMBIENTE. CAPACIDADE DE AÇÃO. EXISTÊNCIA JURÍDICA.
ATUAÇÃO DOS ADMINISTRADORES EM NOME E PROVEITO DA
PESSOA JURÍDICA. CULPABILIDADE COMO RESPONSABILIDADE
SOCIAL. CO-RESPONSABILIDADE. PENAS ADAPTADAS À NATUREZA
JURÍDICA DO ENTE COLETIVO. ACUSAÇÃO ISOLADA DO ENTE
COLETIVO. IMPOSSIBILIDADE. ATUAÇÃO DOS ADMINISTRADORES
EM NOME E PROVEITO DA PESSOA JURÍDICA. DEMONSTRAÇÃO
NECESSÁRIA. DENÚNCIA INEPTA. RECURSO DESPROVIDO(...)(Resp
610.114, de 17.10.2005)15”.

Portanto, não vêm acatando denúncia ambiental apenas contra a pessoa física, mas
também contra a jurídica em co-ação, não excluindo a da pessoa física, pois o parágrafo único
do artigo 3° da lei maior lembra que “a responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a
das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato”.

Em caso de uso da personalidade jurídica para fraudar a lei, também encontra-se


respaldo, pois o artigo 4º dispõe a “possibilidade de desconsideração da pessoa jurídica
sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à
qualidade do meio ambiente16”. Em linhas gerais, o infrator não poderá utilizar a empresa
como escudo para seus ilícitos ambientais.

Tais medidas a respeito da responsabilização penal da pessoa jurídica mostram-se


bastante oportunas, uma vez que atualmente os ilícitos ambientais brasileiros mais
significativos ultrapassam a esfera da pessoa física, a exemplo das empresas que lançam
dejetos químicos nas águas, sendo causadoras de significativa parcela da morte da fauna
marinha.

14
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco, Curso de Direito Ambiental Brasileiro, p.153
15
AMADO, Frederico Augusto Di Trindade, Direito Ambiental Esquematizado, p. 382
16
Art. 4º da Lei 9.605/98.
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A seguir, elenca-se alguns crimes ambientais à luz dos artigos da Lei n. 9.605/98, com
ênfase nos ilícitos contra a fauna para ilustrar a responsabilidade penal. Com base nas
orientações teóricas, ao longo do trabalho expõe-se entendimentos, buscando compartilhar
opiniões sobre o assunto abordado.

4. A LEI 9.605/98 E OS CRIMES CONTRA A FAUNA

O jurista Fernando Capez conceitua o crime através da seguinte assertiva: “(...)crime


pode ser definido como todo fato humano que, propositada ou descuidadamente, lesa ou expõe a
perigo bens jurídicos considerados fundamentais para a existência da coletividade e da paz social17”.

Diante disso, uma vez que o meio ambiente é “bem de uso comum do povo e essencial
à qualidade de vida18”, infere-se que qualquer degradação causada ao meio ambiente e seus
componentes - estes tutelados pela legislação - considera-se crime ambiental. O principal
diploma legislativo brasileiro que dispõe sobre sanções penais aplicadas às atividades lesivas
ao sistema ambiental é a Lei nº 9.605/98.

A Lei 9.605/98 veio dispor não só sobre as sanções penais, mas também sobre as
administrativas advindas de condutas e atos lesivos ao meio ambiente, sendo que estas últimas
ainda demandam regulamentação. Para tanto, organizou a defesa ambiental em tópicos, que
são: a) crimes contra a fauna; b) crimes contra a flora; c) crimes de poluição; d) crimes contra
a administração ambiental; e) outros Crimes Ambientais. São suas penas previstas:

“No tocante às pessoas físicas as penas que poderão ser aplicadas são:
a) pena privativa de liberdade;
b) penas restritivas de direitos;
c) pena de multa;
d) “pena” de indenização.
Para as pessoas jurídicas as penas possíveis são:
a) pena de multa;
b) penas restritivas de direitos;
c) prestação de serviços à comunidade;
d) dissolução da pessoa jurídica19”.

Sob seu pálio, o conceito de fauna abarcou os animais silvestres, domésticos ou


domesticados, nativos ou exóticos (ou em rota migratória) em determinada região, atendendo,
dessa forma, à intenção ampliativa do legislador constitucional, já que, segundo Fiorillo, a
legislação anterior limitava a tutela do bem ambiental à fauna silvestre, excluindo, por
exemplo, animais domésticos ou domesticados20.

17
CAPEZ, Fernando, Curso de direito penal, volume 1 p.134
18
Art. 225 da Constituição Federal de 1988, caput.
19
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco, Crimes Ambientais, p.48
20
Ibidem, p.168
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Ela dá ênfase aos crimes contra a fauna em seus artigos 29 a 37, uma vez que, embora
os animais não sejam sujeitos de direito, sua manutenção e proteção favorecem o próprio
homem21 e as demais espécies do ecossistema.

Constituem crimes contra a fauna, conforme a Lei supracitada, em seu artigo 29:

“Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna


silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou
autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida:
Pena - detenção de seis meses a um ano, e multa
§ 1º Incorre nas mesmas penas:
I - quem impede a procriação da fauna, sem licença, autorização ou em
desacordo com a obtida;
II - quem modifica, danifica ou destrói ninho, abrigo ou criadouro natural;
III - quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em
cativeiro ou depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da
fauna silvestre, nativa ou em rota migratória, bem como produtos e objetos
dela oriundos, provenientes de criadouros não autorizados ou sem a devida
permissão, licença ou autorização da autoridade competente.
§ 2º No caso de guarda doméstica de espécie silvestre não considerada
ameaçada de extinção, pode o juiz, considerando as circunstâncias, deixar
de aplicar a pena.
§ 3° São espécimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às
espécies nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres,
que tenham todo ou parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites
do território brasileiro, ou águas jurisdicionais brasileiras.
§ 4º A pena é aumentada de metade, se o crime é praticado:
I - contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção, ainda que
somente no local da infração;
II - em período proibido à caça;
III - durante a noite;
IV - com abuso de licença;
V - em unidade de conservação;
VI - com emprego de métodos ou instrumentos capazes de provocar
destruição em massa.
§ 5º A pena é aumentada até o triplo, se o crime decorre do exercício de
caça profissional.
§ 6º As disposições deste artigo não se aplicam aos atos de pesca”.

Esse dispositivo penal elenca a definição de espécimes da fauna silvestre em seu § 3º,
limitando-se apenas aos animais que se desenvolveram ou estão se desenvolvendo dentro do
território brasileiro. Nele não coube a proteção aos animais importados que não se adaptaram
ao clima daqui, muitas vezes indo esses animais ao óbito por esse motivo. E também mostra-
se falho na menção da “devida permissão, licença ou autorização da autoridade
competente”, pois mesmo com a anuência do poder estatal, tais atitudes continuam
configurando o delito.

21
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco, Curso de Direito Ambiental Brasileiro, p.823
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Em análise do seu § 2º, mostra deficiência quando se exime de aplicar a pena em caso
de guarda de animal doméstico silvestre quando na condição de “não-extinto”. Sobre a
matéria, colaciona-se precedente jurisprudencial no STJ:

“EMENTA HABEAS CORPUS CRIME AMBIENTAL. GUARDA, EM


RESIDÊNCIA, DE AVES SILVESTRES NÃO AMEAÇADOS DE EXTINÇÃO
(UMA ARARA VERMELHA, UM PASSARINHO CONCRIZ E UM XEXÉU,
DOIS GALOS DE CAMPINA E UM PAPAGAIO). FLAGRANTE DURANTE
BUSCA E APREENSÃO REALIZADA POR DETERMINAÇÃO JUDICIAL
EM OUTRO PROCESSO, QUE APURAVA CRIME TRIBUTÁRIO
(OPERAÇÃO CEVADA). INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS DO
PACIENTE DESAUTORIZADAS, NAQUELES AUTOS, POR FALTA DE
CONDIÇÃO OBJETIVA DE PUNIBILIDADE (LANÇAMENTO
DEFINITIVO DE CRÉDITO TRIBUTÁRIO). CONTAMINAÇÃO DAS
PROVAS. FRUTOS DA ÁRVORE ENVENENADA. INEXISTÊNCIA.
DESNECESSIDADE DE MANDADO JUDICIAL. CRIME PERMANENTE.
ESTADO DE FLAGRÂNCIA. ART. 5, XI DA CF. PRECEDENTES DO STJ.
TRANCAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL. FALTA DE JUSTA CAUSA.
APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA PENAL.
IMPOSSIBILIDADE DE LESÃO AO BEM JURÍDICO PROTEGIDO PELA
NORMA PENAL DE PROTEÇÃO À FAUNA. ORDEM CONCEDIDA,
PARA TRANCAR O INQUÉRITO POLICIAL INSTAURADO CONTRA O
PACIENTE.
(...)
5. A própria lei relativiza a conduta do paciente, quando, no § 2o. do
art. 29, estabelece o chamado perdão judicial, conferindo ao Juiz o
poder de não aplicar a pena no caso de guarda doméstica de espécie
silvestre não ameaçada de extinção, como no caso, restando evidente,
por conseguinte, a ausência de justa causa para o prosseguimento do
Inquérito Policial, pela desnecessidade de movimentar a máquina
estatal, com todas as implicações conhecidas, para apurar conduta
desimportante para o Direito Penal, por não representar ofensa a
qualquer bem jurídico tutelado pela Lei Ambiental. (...)
STJ - HC Nº 72.234 de 09.10.2007- PE (2006/0272965-2)”

Em suma, avigorada a assertiva anterior referida à extinção da punibilidade por guarda


de animal silvestre caso não esteja em extinção, pelo caso concreto apresentado, no qual foi
aplicado o Princípio da Insignificância22, o que nesse âmbito colabora para a livre
continuidade deste tipo de non grata prática ambiental.

Apresentadas as observações, cumpre salientar existir significativa referência ao meio


ambiente no âmbito constitucional, através do dispositivo contido na Constituição Federal que
trata sobre competências comuns dos entes federativos dentro da matéria. Na forma do inciso
VI do artigo 24, o dispositivo suscita o ato de legislar “sobre”, mas não é preceito legalizador
da caça. Depreende-se então, que a legislação a ser criada deve entrar em concordância com o
disposto no art. 225 e com todos os valores atrelados à sua essência, procurando assegurar a
efetividade da tutela ambiental.

22
AMADO, Frederico Augusto Di Trindade, Direito Ambiental Esquematizado, p. 413
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Tendo por superado o comentário expendido acima, analisa-se os arts. 30 e 31 do


mesmo diploma:

“Art. 30. Exportar para o exterior peles e couros de anfíbios e répteis em


bruto, sem a autorização da autoridade ambiental competente:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa
Art. 31. Introduzir espécime animal no País, sem parecer técnico oficial
favorável e licença expedida por autoridade competente:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa”.

Nestes dispositivos o legislador se referiu precipuamente aos interesses comerciais


decorrentes da exploração da fauna. Porém, percebe-se pelos elementos textuais utilizados,
ser este bastante limitado, pois peca quando não cita rol mais completo de itens da fauna
silvestre, cujo leque de produtos e subprodutos é bastante procurado neste tipo de
comercialização ilícita.

Além disso, deveria penalizar mais severamente o tráfico de animais silvestres, pois
segundo dados do Ibama,“o comércio de vida silvestre é considerado a terceira maior
atividade ilegal no mundo, atrás apenas do tráfico de armas e de drogas23”. E os dados
estatísticos fornecidos por este órgão confirmam essa lamentável constatação, uma vez ser
estimado que cerca de 38 milhões de exemplares sejam retirados anualmente da natureza e
que aproximadamente quatro milhões deles sejam vendidos em virtude do tráfico de animais
silvestres no Brasil.

Portanto, o operador do direito que produziu estes artigos deveria ter sido mais
cuidadoso e ter concedido a relevância necessária para o assunto, pois diante de tão frágil
forma de coibição da conduta lesiva, torna-se mais vantajoso para os infratores uma transação
penal ou o risco de condenação a uma pena não tão severa do que deixarem de obter o lucro
proporcionado pelo tráfico de animais silvestres.

5. CONSIDERAÇÕES GERAIS

Analisando a legislação do Direito Ambiental Brasileiro, nota-se que a Lei 9.605/98


sistematiza a matéria e consolida a fauna como bem de classificação “difusa” e pertencente à
coletividade, organizando as normas que devem ser obedecidas pela população e tendo como
arcabouço a Constituição Federal. Porém é preciso aperfeiçoá-la e sanar suas obscuridades,
dando mais efetividade aos mandamentos de suas normas.

É importante lembrar que a captura de animais na natureza faz parte da tradição e


cultura popular, portanto urge uma legislação mais limitadora de tais atos, que os atenuem de
forma contumaz, auxiliando na proteção e manutenção do ambiente. Pois a ineficácia desta
definitivamente compromete um direito que não é só nosso, mas sim das futuras gerações de
brasileiros e a deficiência da lei ambiental incorre não em uma só vítima, mas na pluralidade
delas.

23
IBAMA, Diversos autores - Esforços para o combate ao tráfico de animais silvestres no Brasil
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Durante o estudo contextual do Direito Ambiental e de sua legislação foi possível


identificar que sob o prisma de diversos estudiosos, que este ainda não protege devidamente o
patrimônio ambiental brasileiro e ainda muito lhe falta. Mas aqui cabe considerar que
independente do ritmo de desenvolvimento nesta esfera, o imprescindível é continuar
defendendo o interesse da nação à frente de qualquer projeto e promovendo ações afirmativas
a esse respeito, direcionando-as para a senda da manutenção da biodiversidade e do progresso
brasileiro em todos os âmbitos.

REFERÊNCIAS

AMADO, Frederico Augusto Di Trindade, Direito Ambiental Esquematizado, 2ª ed. Rio de


Janeiro: Forense, São Paulo: Método, 2011

BITTENCOURT, Cezar Roberto, Tratado de Direito Penal, volume l, parte geral,13 ed. São
Paulo: Saraiva, 2008.

CAPEZ, Fernando, Curso de direito penal, volume 1, parte geral 15. ed. São Paulo : Saraiva,
2011.

FALEIROS, José Luiz de Moura, Crimes Ambientais, Instituto LFG Concursos Jurídicos e
Pós-Graduação – Arquivos Unama
Disponível em:
http://arquivos.unama.br/professores/iuvb/AulasAnteriores/CienciasCriminais/TUTELA_PENAL_DO
S_INTERESSES_DIFUSOS_E_COLETIVOS/CCTD_Aula05_Extra.pdf
Acesso em: 22.04.2014 - 11:15

FIORILLO, Celso Antonio Pacheco, Curso de Direito Ambiental Brasileiro 14.ed. São Paulo:
Saraiva, 2013.

FIORILLO, CONTE. Celso Antonio Pacheco, Christiany Pegorari. Crimes Ambientais – São
Paulo : Saraiva, 2012.

GRECO, Rogerio, Curso de Direito Penal – Parte Geral 14.ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2012.

IBAMA
DESTRO, Guilherme Fernando Gomes Destro; PIMENTEL, Tatiana Lucena SABAINI;
Raquel Monti, BORGES; Roberto Cabral, BARRETO; Raquel Barreto Esforços para o
combate ao tráfico de animais silvestres no Brasil
Disponível em:
https://www.ibama.gov.br/sophia/cnia/periodico/esforcosparaocombateaotraficodeanimais.pdf
Acesso em: 25.04.2014 - 10:18

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141
ANAIS DA VIII MOSTRA CIENTÍFICA DO CESUCA – NOV./2014
ISSN – 2317-5915

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, Casa Civil. Lei 9.605, de 12 de Fevereiro de 1998.


Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm
Acesso em: 25.04. 2014, 12:46

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