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CONTAGEM - MG
2023
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
CONTAGEM - MG
2023
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................4
5 CONCLUSÃO.........................................................................................................26
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 27
1 INTRODUÇÃO
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34.772 ocorrências no mesmo período. São apenas dois Estados, o que assusta ainda mais e
nos faz questionar sobre a eficácia das leis ambientais em nosso país.
Não é demais destacar que, infelizmente, existe uma banalização dos crimes
ambientais tidos, por muitos, como infrações de menor importância. A banalização das leis
ambientais pela população é um catalisador do aumento da criminalidade, mas não podemos
deixar de destacar que a proteção do meio ambiente é dever do Estado e somente a ele cabe a
imputação de culpa pelos referidos números. O que se verifica é uma falta de respeito pelo
legislador ambiental por parte do poder judiciário que tem flexibilizado cada vez mais artigos
da lei de crimes ambientais, sob o pretexto de adequação ao caso concreto. Ocorre que a
interpretação da lei deve ser à luz de todo o ordenamento jurídico brasileiro e não
considerando apenas casos isolados.
Como exemplo da falta de respeito com a legislação ambiental, podemos citar o caso
da capivara Filó que ganhou grande proporção na mídia e que foi tratado de forma ineficaz e
em total inobservância do ordenamento jurídico brasileiro. O judiciário se rendeu ao apelo da
população e deixou de aplicar integralmente as disposições dos arts. 29 e 72 da Lei
9.605/1998. O animal foi devolvido ao infrator.
Ocorre que a jurisprudência vem decidindo da mesma forma em casos concretos. Mas
o que aparentemente tem feito o judiciário é ignorar o dever de interpretar a lei de forma
sistêmica. Referidos artigos tratam sobre a proteção da fauna contra o tráfico e a criação ilegal
e não podem, de maneira alguma, serem banalizados.
Qual a justificativa do judiciário para não aplicar com seriedade os arts. 29 e 72 da Lei
ambiental e quais são as repercussões negativas dessa conduta e m nosso país? Essas são as
questões que serão respondidas ao final da presente pesquisa.
Para realizar o presente estudo foram delimitados os seguintes objetivos específicos:
apresentar brevemente as disposições constitucionais sobre a proteção do meio ambiente;
apresentar resumidamente leis infraconstitucionais de proteção do meio ambiente; descrever a
importância da proteção da fauna brasileira à luz da lei 9.605/1998; apresentar os arts. 29 e 72
da Lei 9.605/1998; explicar brevemente sobre a eficácia da lei; analisar decisões que
caminham em direção contrária aos dispositivos 29 e 72 da Lei 9.605/1998; analisar se a
inaplicabilidade das sanções penais e administrativas estimula a guarda e criação de animais
silvestres e provoca a banalização da lei ambiental.
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Para efetuar o presente estudo será utilizada a pesquisa bibliográfica, elaborada a partir
de teses, livros, legislação, bem como de materiais publicados que versem sobre o tema em
estudo.
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2 A PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE COMO DEVER DO ESTADO
BRASILEIRO
2.1 A PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA
O meio ambiente deixou de ser protegido por ser importante para a efetivação de
outros direitos e passou a ser tutelado por seu valor individual:
Ocorre que o interesse em tutelar o meio ambiente como bem individual surge com a
ideia de que proteger a vida do ser humano não é mais importante do que proteger a qualidade
de vida que este terá. A respeito da eleição do meio ambiente como bem a ser tutelado pelo
Estado brasileiro, destaca Rômulo Sampaio:
Com base na ideia de tratar o meio ambiente como bem individual a ser tutelado, o
constituinte incluiu artigos para garantir que a proteção ambiental fosse foco do Estado, assim
como outros bens extremamente importantes. Como já foi dito outrora, a Constituição da
República de 1988 deu “nova vida” à proteção do meio
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ambiente. A Carta Maior elevou o patamar dessa tutela dentro de nosso
ordenamento, dando-lhe status constitucional (ABELHA, 2018).
A proteção do meio ambiente foi consagrada por meio do art. 225 da Constituição da
República o qual preceitua em seu caput que “Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para
as presentes e futuras gerações”. Além de fixar na constituição o direito a um meio ambiente
ecologicamente equilibrado, a CF/88 cuidou de traçar conceitos fundamentais para nortear as
normas infraconstitucionais que viriam em momento posterior. Conforme explica Abelha:
Mais que isso: a CF/88 ocupou algumas lacunas e espaços existentes na proteção do
meio ambiente; ratificou, agora com índole constitucional, alguns institutos basilares
do Direito Ambiental, tais como a responsabilidade civil objetiva, a responsabilidade
penal da pessoa jurídica, a visão ecocêntrica e holística do meio ambiente, o
EIA/RIMA, 57 fixou a proteção do meio ambiente como princípio da atividade
econômica, etc. (ABELHA, 2018, pág. 78)
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administrativo e judicial do ordenamento. Do legislador, espera-se que aprove novas
leis e aperfeiçoe as existentes, vedada a redução das garantias ambientais; do Poder
Judiciário, uma enérgica e rápida aplicação da lei e interpretação conforme a melhor
solução de proteção do meio ambiente. Por último, há um leque de deveres
explícitos e especiais, exigíveis de particulares ou do Estado (art. 225, § § 2° e 3°),
em que este passa a ocupar a posição de degradador potencial ou real (como
minerador, p. ex.)
Esta Lei proporcionou medidas de proteção à fauna. Ela classifica como crime o uso,
perseguição, captura de animais silvestres, caça profissional, comércio
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de espécies da fauna silvestre e produtos originários de sua caça, além de proibir a
importação de espécie exótica e a caça amadora sem autorização do IBAMA.
Criminaliza também a exportação de peles e couros de anfíbios e répteis.
Em segundo lugar temos a lei que trata sobre áreas de proteção Ambiental (Lei 6.902 –
1981), também anterior à Constituição de 1998. Segundo o Instituto Brasileiro de Florestas:
Estabelece as diretrizes para a criação das Estações Ecológicas e as Áreas de
Proteção Ambiental (APA’s). As Estações Ecológicas são áreas representativas de
diferentes ecossistemas do Brasil que precisam ter 90% do território inalteradas e
apenas 10% podem sofrer alterações para fins acadêmicos. Já as APA’s,
compreendem propriedades privadas que podem ser regulamentadas pelo órgão
público competente em relação às atividades econômicas para proteger o meio
ambiente.
Temos ainda a lei da Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9.433 – 1997), a
qual estabelece as responsabilidades dos estados brasileiros no gerenciamento dos seus
recursos hídricos. Explica o IBF que a Lei 9.433/1997:
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Neste ponto, daremos um salto no tempo para falar sobre o Novo Código Florestal
Brasileiro (Lei 12.651 – 2012) e depois retornaremos para 1998, ano em que foi promulgada a
Lei que guarda os artigos em foco neste trabalho. O art. 1°A do Novo Código Florestal
explica que este “estabelece normas gerais sobre a proteção da vegetação, áreas de
Preservação Permanente e as áreas de Reserva Legal; a exploração florestal, o suprimento de
matéria-prima florestal, o controle da origem dos produtos florestais e o controle e prevenção
dos incêndios florestais, e prevê instrumentos econômicos e financeiros para o alcance de seus
objetivos. Segundo o IBF:
Por fim, citamos a Lei de Crimes ambientais (Lei 9.605 – 1998) que sedia o objeto da
presente pesquisa. A lei 9.605/1998 é instrumento importantíssimo para a efetivação da
proteção do meio ambiente, a ser promovida pelo Estado Brasileiro.
A Lei de Crimes ambientais visa coibir os infratores e punir caso adotem condutas
criminosas que atentem contra as normas ambientais. Além de punir as pessoas que
transgridem seus comandos, a Lei de Crimes ambientais também promove a proteção do meio
ambiente, mediante determinações que visam a preservação e recuperação das áreas, afetadas
e intocadas, e dos animais que compõem o nosso ecossistema. Segundo o IBF a Lei de Crimes
ambientais:
Trata das questões penais e administrativas no que diz respeito às ações nocivas ao
meio ambiente, concedendo aos órgãos ambientais mecanismos para punição de
infratores, como em caso de crimes ambientais praticados por organizações. A
pessoa jurídica, autora ou co-autora da infração, pode ser penalizada, chegando à
liquidação da empresa, se ela tiver sido criada ou usada para facilitar ou ocultar um
crime ambiental. A punição pode ser extinta caso se comprove a recuperação do
dano.
Não é demais afirmar que a Lei de Crimes ambientais é o braço forte do Estado na luta
contra os atentados ao nosso ecossistema e deve ser considerada como um mecanismo de
garantia para um meio ambiente saudável para nossa geração e
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gerações futuras. É na Lei de Crimes ambientais que encontramos sanções administrativas e
penais para os criminosos que atentam contra o meio ambiente e todos os seus elementos que
encontram-se descritos e amparados em nossa Constituição. A respeito dos elementos que
compõem o meio ambiente, explica Marcos Paulo de Souza Miranda, coordenador da
Promotoria Estadual de Defesa do Patrimônio Cultural de Minas Gerais:
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3 A PROTEÇÃO DA FAUNA NA LEI 9.605/1998
3.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O CAPÍTULO V, SEÇÃO I DA LEI 9.605/98
Conforme já exposto, essa lei confere aos animais proteção penal ao elencar, na
seção I do capítulo V, os crimes contra a fauna, proibindo, dentre outras condutas, o
maus-tratos aos animais, que teve sua pena recentemente aumentada em se tratando
de cães ou gatos, passando de três meses a um ano para dois a cinco anos. Destaca-
se, ainda, a possibilidade de responsabilização da pessoa jurídica, previamente
consagrada pela Constituição Federal, desde que satisfeitos os requisitos impostos
pelo artigo 3 da referida Lei. (GALVÃO, pág. 215)
Nota-se, portanto, que a proteção à vida animal ganhou status constitucional. Cumpre
destacar que são vários os tipos penais encontrados no referido capítulo do código penal
ambiental, mas somente um nos interessa, haja vista ser ele o foco da presente pesquisa que
tem por objetivo investigar sobre a banalização do crime de guarda e criação em cativeiro de
animais silvestres sem a devida autorização (art. 29 da Lei 9.605/98).
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Existe um grande equívoco do homem médio comum, que não conhece o
funcionamento de um ecossistema, quando imagina ser um grande serviço adotar e ter em sua
guarda animais silvestres retirados do meio em que vivem. Para Fernando Galvão Rocha:
A biodiversidade é fundamental para o funcionamento e o equilíbrio dos
ecossistemas, além de ser fonte de alimento e matéria-prima para os seres humanos,
sendo a sua conservação, por isso, tão importante. Felizmente, essa importância vem
sendo reconhecida pelos Estados, o que permitiu a ratificação, nas últimas décadas,
de diversos tratados internacionais que visam a proteção do meio ambiente e dos
elementos que o compõem, bem como a implementação de um modelo de
desenvolvimento sustentável. (GALVÃO, pág. 208)
A interação dos animais com os demais seres vivos que compartilham de um mesmo
ambiente é imprescindível para a manutenção e para o equilíbrio dos ecossistemas.
A título de exemplo, pode-se citar a polinização das flores que é realizada, em
grande parte, pelas abelhas, borboletas, beija-flores e aves. Além disso, a fauna
também realiza a importante função de ciclagem de
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nutrientes, por meio do qual a matéria orgânica é decomposta em outras substâncias
que serão utilizadas novamente para o desenvolvimento de novos organismos.
(GALVÃO, pág. 210)
Existe uma crítica e uma observação por parte dos ativistas das causas animais, a
respeito da ausência de garantia constitucional à saúde física e ao bem- estar dos animais em
si. O que percebe-se das disposições constitucionais é uma preocupação na preservação do
meio ambiente como forma de garantir o bem estar dos seres humanos. Sobre o tema, dispõe
Fernando Galvão Rocha:
Na elaboração do Código Penal Ambiental este princípio foi basilar e a proteção à fauna foi
mitigada em algumas situações. Dispõe o art. 37 do Código Penal Ambiental:
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ainda que o objetivo por trás de tanta proteção seja garantir aos seres humanos um ambiente
saudável, o CPA preocupou-se em limitar este direito e proibir que o homem abuse de sua
liberdade em situações comuns. Nesta linha de raciocínio, o legislador preocupou-se e tornou
crime a criação de animais silvestres como animais domésticos, sem a devida autorização.
Podemos dizer que esta conduta tem por objetivo proibir que o homem desequilibre o meio
ambiente e prejudique o funcionamento do ecossistema para satisfazer ambições e pretensões
pessoais.
Após esta breve disposições sobre a proteção da fauna no código penal ambiental,
poderemos agora mergulhar mais profundamente no crime de guarda e manutenção em
cativeiro de animais silvestres, para posteriormente escancarar as decisões contraditórias que
o judiciário vem adotando, quando deixa de aplicar sanções administrativas de caráter
pedagógico contidas no art. 72 do referido diploma lega, o que vem tornando totalmente
inócuas as sanções penais contidas no art. 29 do Código Penal Ambiental.
O capítulo V, seção I da Lei 9.605/98 contém vários crimes que têm por objeto
práticas inaceitáveis do homem contra animais silvestres e animais domésticos. No art. 29 do
referido diploma legal encontramos o crime de guarda e manutenção em cativeiro de animais
silvestres sem autorização. Vejamos o que dispõe o art. 29 da Lei 9.605/98:
Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre,
nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da
autoridade competente, ou em desacordo com a obtida: Pena - detenção de seis
meses a um ano, e multa.
§ 1º Incorre nas mesmas penas:
I - quem impede a procriação da fauna, sem licença, autorização ou em
desacordo com a obtida;
II - quem modifica, danifica ou destrói ninho, abrigo ou criadouro natural;
III- quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro ou
depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou
em rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de
criadouros não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização da
autoridade competente.
§ 2º No caso de guarda doméstica de espécie silvestre não considerada ameaçada de
extinção, pode o juiz, considerando as circunstâncias, deixar de aplicar a pena.
§ 3° São espécimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às espécies nativas,
migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que
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tenham todo ou parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território
brasileiro, ou águas jurisdicionais brasileiras.
§ 4º A pena é aumentada de metade, se o crime é praticado:
I - contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção, ainda que somente
no local da infração;
II - em período proibido à caça;
III- durante a noite;
IV - com abuso de licença;
V - em unidade de conservação;
VI - com emprego de métodos ou instrumentos capazes de provocar
destruição em massa.
§ 5º A pena é aumentada até o triplo, se o crime decorre do exercício de caça
profissional.
§ 6º As disposições deste artigo não se aplicam aos atos de pesca.
Verifica-se do §1º, inciso III do supracitado artigo que é crime contra a fauna adquirir,
guardar ou manter em cativeiro/depósito “espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota
migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em
desacordo com a obtida”. O agente que pratica tais condutas incorrem na pena de detenção de
seis meses a um ano, e multa. Além da sanção penal prevista no art. 29, dispõe o art. 72 do
mesmo diploma legal que o agente sofrerá ainda sanção administrativa, que na espécie em
questão, é a apreensão do animal adquirido e guardado em cativeiro.
Os artigos são de fácil interpretação e contém comandos simples e práticos que
traduzem com clareza a intenção do legislador de evitar que espécies da fauna silvestre sejam
retiradas do meio ambiente e levadas para cativeiros para serem domesticados e criadas fora
de seu habitat, satisfazendo apenas o interesse egoísta do ser humano e prejudicando todo o
ecossistema e o futuro das gerações que ainda virão.
Muitas pessoas são surpreendidas quando descobrem que as aludidas práticas são
criminosas e se revoltam com a possibilidade de sofrerem as sanções penais e administrativas
impostas pelo Estado. Ocorre que a lei de crimes ambientais não é tão falada nos meios de
telecomunicações e por ser a prática de domesticar animais silvestres comum em nosso
território, a população se sente livre e encorajada para investidas criminosas como captura e
compra de tais seres vivos.
Não é demais retomar o assunto da proteção constitucional aos animais neste ponto, ao
passo que esta vem sido utilizada como justificativa para interpretações equivocadas dos
aludidos comandos legais, o que será tratado mais adiante. Registre- se que não foi ignorado
neste trabalho o dever do judiciário de fazer uma interpretação
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sistêmica dos artigos e que a linha de raciocínio adotada para concluir esta pesquisa levou em
consideração não somente a interpretação literal dos comandos do legislador ambiental, mas
sim a interpretação dos artigos em consonância com todo o cenário do Estado brasileiro e
ainda das disposições constitucionais.
Assim, conforme interpretação do art. 29, §1º, III, da Lei 9.605/98, quem compra,
captura, sequestra ou retira animais silvestres de seu habitat natural para criarem como
animais domésticos comete crime ambiental. Nos referidos artigos não existe qualquer
disposição sobre a qualidade da criação ou sobre o “amor” dos agentes pelos referidos
animais, sendo o legislador firme ao determinar que o crime se aperfeiçoa com a conduta do
agente.
A Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro (LINDB) traz artigos iniciais que
dispõem sobre a obrigatoriedade, vigência, eficácia, início e fim da produção das leis. A
dinâmica normativa apresenta a interação de termos que pontuam princípios básicos no
campo da atuação da lei e da norma jurídica, tais como: vigor, vigência, eficácia, validade e
existência. Neste capítulo, aprofundaremos sobre a eficácia da Lei.
Quando analisamos a validade de qualquer lei, adentramos na existência da norma
jurídica. A vigência da lei reside no lapso temporal de observância obrigatória por parte de
todos os seus destinatários. Já a eficácia diz respeito ao plano de produção dos efeitos
normativos. Importante ainda destacar que há distinção da eficácia jurídica e da eficácia
social da norma jurídica. A eficácia da lei consiste na aptidão da norma de produzir efeitos
jurídicos quando invocada sua aplicação perante a autoridade competente. Por sua vez, a
eficácia social diz respeito à espontaneidade dos indivíduos em agir conforme o disposto na
norma. Assim, é possível afirmar que toda norma jurídica é juridicamente eficaz, embora
possa não ser socialmente eficaz. O jusfilósofo brasileiro Miguel Reale afirma que toda norma
jurídica, uma vez vigente, pode torna-se eficaz, mesmo quando já revogada. Logo, toda
norma jurídica é juridicamente eficaz, ou seja, está apta a produzir efeitos jurídicos.
Assim, se a
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Constituição da República se constitui de um conjunto de normas jurídicas que disciplinam o
exercício do poder, conferindo proteção aos direitos fundamentais, podemos afirmar que o
complexo normativo é todo dotado de eficácia jurídica.
Feitas tais considerações, é possível identificar que os artigos 29 e 72 da Lei 9.605/98
estão se tornando ineficazes juridicamente e socialmente, haja vista que não tem produzido
efeitos jurídicos relevantes para os agentes criminosos o que tem promovido a banalização
social dos tipos penais anteriormente retratados.
A respeito da eficácia do direito, dispõe o Professor Giovani Clark em seu artigo “O
fetiche das Leis”:
A eficácia (Getung) do direito depende do fato de sua observância no meio social no
qual é vigente. Eficaz é o direito efetivamente observado e que atinge a sua
finalidade. É assim, um fato, consistindo na observância efetiva da norma por parte
de seus destinatários e, no caso de inobservância, na sua aplicação compulsória
pelos órgãos com competência para aplicá-la (Judiciário, Administração Pública,
Polícia, etc). Significa, com palavras de Kelsen, direito que é “realmente aplicado e
obedecido”. (p. 59)
Assim, podemos dizer que eficaz é a lei que produz os efeitos esperados pelo
legislador na esfera jurídica e social.
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apreensão dos referidos animais, o art. 72 não traz hipóteses de relativização da aplicação da
sanção administrativa, mas mesmo assim, o judiciário tem aplicado decisões que vão em
direção ao disposto neste artigo. Vejamos a seguir, julgados em que não foi adotado pelo juízo
a aplicação da pena de apreensão dos animais silvestres encontrados em posse ilegal de
agentes criminosos.
O STJ no julgamento do REsp 1.650.672 / SC, proferiu o seguinte acórdão:
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Cível da SJAM decidiu conceder a guarda provisória do animal ao Sr. Agenor e determinou
que o IBAMA entregasse a capivara imediatamente ao autor. Abaixo, segue um trecho da
referida decisão:
Percebe-se, portanto, que não é a Filó que mora na casa de Agenor. É o autor que
vive na floresta, como ocorre com outros milhares de ribeirinhos da Amazônia,
realidade muito difícil de ser imaginada por moradores de outras localidades urbanas
do Brasil. Ante o exposto, concedo a tutela provisória de urgência para que, até o
desfecho da lide, seja deferida a guarda provisória da capivara Filó a Agenor Bruce
Tupinambá. Como consequência, determino que o IBAMA seja compelido a fazer a
entrega do animal ao autor, imediatamente.
Fica autorizado o transporte de Filó, pelo requerente, para que retorne ao seu habitat
natural, desde que se comprove que esse transporte se fará com meios seguros e
adequados, o que deverá ser atestado por Médico Veterinário e/ou Biólogo.
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3. Rechaçadas as afirmações do Ibama relativas à eventual desvirtuamento da
finalidade da Lei Ambiental atribuídas a este Relator e, por conseguinte, desta Casa
de Justiça. A prestação jurisdicional que se exige volta-se exclusivamente ao caso
concreto - esse suficientemente examinado e decidido à luz do direito aplicável e
com base em jurisprudência consolidada desta Corte Superior.
4. O entendimento contrário a tese do insurgente não autoriza a conclusão de que os
institutos legais protetivos à fauna e flora tenham sido maculados, tampouco que
haja chancela ou mesmo autorização para o cativeiro ilegal de aves silvestres como
aduz o agravante. Tais argumentações, além de digressivas, revelam-se inoportunas
pois evocam temas e debate alheio ao presente feito, a não merecer amparo
porquanto evidentemente desprovidas de fundamentação concreta.
5. Agravo interno a que se nega provimento. AgInt no RECURSO ESPECIAL Nº
1.389.418 - PB (2013/0211324-4)
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Vimos, então, que, apesar da disposição clara do art. 72 do Código Penal Ambiental, a
respeito da obrigatoriedade da apreensão dos animais silvestres mantidos sob guarda
doméstica, o STJ e Tribunais vêm adotando entendimento diverso do objetivado pelo
legislador. As implicações destas decisões é o que pretendemos discutir ao final deste
capítulo.
O que se verifica, após uma breve pesquisa sobre a aplicação da legislação ambiental,
é uma banalização da população acerca das disposições contidas no referido diploma legal.
Esta impressão não está embasada em pesquisas com dados, mas de uma observação empírica
da realidade. Não é incomum nos deparar com pessoas que acham uma grande bobagem a
existência de normas sobre pescaria, caça e desmatamento. “Qual o problema de pescar na
piracema? qual o problema de matar um veado ou um tatu para comer? por quê proibir a
extração de madeira para fazer móveis, casas e papel? Enquanto pessoas de “bem” são presas,
os verdadeiros bandidos estão por aí”. Todos nós já ouvimos frases desta natureza. A pergunta
é: Por quê? Seria a falta de uma legislação que versa sobre os crimes ambientais e sobre a
importância do meio ambiente ou pela inaplicabilidade com rigor da lei das disposições
contidas nos diplomas legais que tratam sobre o tema?
A presente pesquisa cuidou de trazer à tona a existência de normas ambientais que
criminalizam a guarda, a manutenção em cativeiro e a criação de animais silvestres como
animais domésticos e de trazer ainda decisões judiciais que “preencheram lacunas existentes
na legislação ambiental”. É clarividente que os arts. 29 e 72 da Leis 9.605/98 contêm
comandos diretos e que não se tratam de normas em branco ou imperfeitas que necessitam de
complementação pelo judiciário e do preenchimento de lacunas. O legislador foi objetivo em
suas determinações e a interpretação da lei de crimes ambientais, em consonância com todo o
ordenamento infraconstitucional sobre o tema, nos leva à conclusão de que a aplicabilidade
fiel do texto normativo é a opção mais correta.
A proteção à fauna disposta no art. 225 da CF/98 não diz respeito a casos isolados,
mas sim a todo o ecossistema nacional. Dito isso, é mais do que razoável
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concluir que a devolução de animais para o convívio com os agentes criminosos e a
possibilidade de reaver a posse dos animais mediante recursos dirigidos ao judiciário
representa risco imensurável à fauna brasileira, haja vista que a impunidade é sempre um
estímulo para a transgressões da lei. Segundo reportagem publicada no site Gazeta do Povo,
após a entrevista a vários especialistas, a conclusão é que a impunidade estimula a violência.
Sendo assim na esfera criminal, por que não fazer uma analogia com a lei de crimes
ambientais? ambos os diplomas legais, Código Penal Brasileiro e Código Ambiental Penal,
tratam sobre crimes e criminosos. A normalização da criação de animais silvestres como
animais domésticos é estímulo para que mais pessoas se sintam encorajadas para capturar,
adquirir e até traficar animais.
Segundo o sociólogo Sérgio Adorno, coordenador do Núcleo de Estudos da Violência
da Universidade de São Paulo (USP), o judiciário tem aceitado vários recursos dos réus e isto,
somado à falta de investigação séria e efetiva da polícia, culmina na falta de responsabilização
dos agentes criminosos. Se no caso dos crimes positivados no código penal a impunidade
resulta de uma soma de erros do judiciário e da polícia, no caso da lei de crimes ambientais o
resultado é responsabilidade apenas do judiciário que, por diversas vezes, utiliza a faculdade
de intérprete da lei para ampliar conceitos e preencher lacunas que não existem nos
dispositivos legais, desrespeitando o legislador e causando uma deturpação do sentido original
atribuído pelo legislador aos dispositivos.
Interessante reflexão sobre esta atitude do judiciário foi realizada pela ministra Regina
Helena Costa, que no julgamento do recurso REsp 1797365/RS, que tinha por objeto a análise
sobre a estabilização da tutela de urgência antecipada antecedente. A ministra votou pela
interpretação restritiva do art. 304 do CPC e proferiu a seguinte crítica ao judiciário: a
interpretação ampliada do conceito, efetuada pelo tribunal de origem, caracterizaria indevida
extrapolação da função jurisdicional. Entendemos que a interpretação adotada atualmente pelo
judiciário na inaplicabilidade da sanção administrativa disposta no art. 72 da Lei 9.605/98
revela clara usurpação do poder de legislar. Não pode o judiciário aplicar seu entendimento e
ignorar totalmente as disposições do legislador. O princípio da legalidade ficou no passado?
Em conclusão, entendemos que o correto nos casos de guarda e manutenção de
animais silvestres como domésticos é a aplicação de todas as sanções penais e
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administrativas, a fim de garantir a eficácia jurídica e social da lei de crimes ambientais, haja
vista que a penalização servirá como um desestímulo para a prática de novos crimes da
mesma natureza. Somente assim será atingido o fim precípuo do art. 225, 1º, VII da
Constituição Federal e a fauna será protegida de práticas que provocam a extinção de espécies
e a exposição de animais a maus tratos e condições degradantes.
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5 CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 5.197 de 03 de janeiro de 1967. Dispõe sobre a proteção à fauna e dá outras
providências. Disponível em <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5197.htm>. Acesso em 02 out. 2023.
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no país. Agência Brasil, 2023. Disponível em: <
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2023-06/pesquisa-traca-conexoes- entre-
narcotrafico-e-crimes-ambientais-no-pais>. Acesso em: 02/10/2023.
27
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https://s3.amazonaws.com/mestre-portal/news/home/material_apoio/Rodrigo_varela-
Leis_especiais/Lei_Crimes_Ambientais_total.pdf>. Acesso em: 02/10/2023.
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NALINI, José Renato. Direito Penal Ambiental. In Revista dos Tribunais. São Paulo: RT. 2ª
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Globo Online: Impunidade estimula violência, dizem especialistas. Gazeta do Povo, 2023.
Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/impunidade- estimula-
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