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CONTAGEM - MG
2023
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
CONTAGEM - MG
2023
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 4
5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 26
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 27
1 INTRODUÇÃO
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34.772 ocorrências no mesmo período. São apenas dois Estados, o que assusta ainda
mais e nos faz questionar sobre a eficácia das leis ambientais em nosso país.
Não é demais destacar que, infelizmente, existe uma banalização dos crimes
ambientais tidos, por muitos, como infrações de menor importância. A banalização das
leis ambientais pela população é um catalisador do aumento da criminalidade, mas
não podemos deixar de destacar que a proteção do meio ambiente é dever do Estado
e somente a ele cabe a imputação de culpa pelos referidos números. O que se verifica
é uma falta de respeito pelo legislador ambiental por parte do poder judiciário que tem
flexibilizado cada vez mais artigos da lei de crimes ambientais, sob o pretexto de
adequação ao caso concreto. Ocorre que a interpretação da lei deve ser à luz de todo
o ordenamento jurídico brasileiro e não considerando apenas casos isolados.
Como exemplo da falta de respeito com a legislação ambiental, podemos citar
o caso da capivara Filó que ganhou grande proporção na mídia e que foi tratado de
forma ineficaz e em total inobservância do ordenamento jurídico brasileiro. O judiciário
se rendeu ao apelo da população e deixou de aplicar integralmente as disposições
dos arts. 29 e 72 da Lei 9.605/1998. O animal foi devolvido ao infrator.
Ocorre que a jurisprudência vem decidindo da mesma forma em casos
concretos. Mas o que aparentemente tem feito o judiciário é ignorar o dever de
interpretar a lei de forma sistêmica. Referidos artigos tratam sobre a proteção da fauna
contra o tráfico e a criação ilegal e não podem, de maneira alguma, serem
banalizados.
Qual a justificativa do judiciário para não aplicar com seriedade os arts. 29 e 72
da Lei ambiental e quais são as repercussões negativas dessa conduta e m nosso
país? Essas são as questões que serão respondidas ao final da presente pesquisa.
Para realizar o presente estudo foram delimitados os seguintes objetivos
específicos: apresentar brevemente as disposições constitucionais sobre a proteção
do meio ambiente; apresentar resumidamente leis infraconstitucionais de proteção do
meio ambiente; descrever a importância da proteção da fauna brasileira à luz da lei
9.605/1998; apresentar os arts. 29 e 72 da Lei 9.605/1998; explicar brevemente sobre
a eficácia da lei; analisar decisões que caminham em direção contrária aos
dispositivos 29 e 72 da Lei 9.605/1998; analisar se a inaplicabilidade das sanções
penais e administrativas estimula a guarda e criação de animais silvestres e provoca
a banalização da lei ambiental.
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Para efetuar o presente estudo será utilizada a pesquisa bibliográfica,
elaborada a partir de teses, livros, legislação, bem como de materiais publicados que
versem sobre o tema em estudo.
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2 A PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE COMO DEVER DO ESTADO
BRASILEIRO
2.1 A PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA
O meio ambiente deixou de ser protegido por ser importante para a efetivação
de outros direitos e passou a ser tutelado por seu valor individual:
Ocorre que o interesse em tutelar o meio ambiente como bem individual surge
com a ideia de que proteger a vida do ser humano não é mais importante do que
proteger a qualidade de vida que este terá. A respeito da eleição do meio ambiente
como bem a ser tutelado pelo Estado brasileiro, destaca Rômulo Sampaio:
Com base na ideia de tratar o meio ambiente como bem individual a ser
tutelado, o constituinte incluiu artigos para garantir que a proteção ambiental fosse
foco do Estado, assim como outros bens extremamente importantes. Como já foi dito
outrora, a Constituição da República de 1988 deu “nova vida” à proteção do meio
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ambiente. A Carta Maior elevou o patamar dessa tutela dentro de nosso ordenamento,
dando-lhe status constitucional (ABELHA, 2018).
A proteção do meio ambiente foi consagrada por meio do art. 225 da
Constituição da República o qual preceitua em seu caput que “Todos têm direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial
à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Além de fixar na
constituição o direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, a CF/88 cuidou
de traçar conceitos fundamentais para nortear as normas infraconstitucionais que
viriam em momento posterior. Conforme explica Abelha:
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administrativo e judicial do ordenamento. Do legislador, espera-se que aprove
novas leis e aperfeiçoe as existentes, vedada a redução das garantias
ambientais; do Poder Judiciário, uma enérgica e rápida aplicação da lei e
interpretação conforme a melhor solução de proteção do meio ambiente. Por
último, há um leque de deveres explícitos e especiais, exigíveis de
particulares ou do Estado (art. 225, § § 2° e 3°), em que este passa a ocupar
a posição de degradador potencial ou real (como minerador, p. ex.)
Esta Lei proporcionou medidas de proteção à fauna. Ela classifica como crime
o uso, perseguição, captura de animais silvestres, caça profissional, comércio
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de espécies da fauna silvestre e produtos originários de sua caça, além de
proibir a importação de espécie exótica e a caça amadora sem autorização
do IBAMA. Criminaliza também a exportação de peles e couros de anfíbios e
répteis.
Em segundo lugar temos a lei que trata sobre áreas de proteção Ambiental (Lei
6.902 – 1981), também anterior à Constituição de 1998. Segundo o Instituto Brasileiro
de Florestas:
Estabelece as diretrizes para a criação das Estações Ecológicas e as Áreas
de Proteção Ambiental (APA’s). As Estações Ecológicas são áreas
representativas de diferentes ecossistemas do Brasil que precisam ter 90%
do território inalteradas e apenas 10% podem sofrer alterações para fins
acadêmicos. Já as APA’s, compreendem propriedades privadas que podem
ser regulamentadas pelo órgão público competente em relação às atividades
econômicas para proteger o meio ambiente.
Temos ainda a lei da Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9.433 – 1997),
a qual estabelece as responsabilidades dos estados brasileiros no gerenciamento dos
seus recursos hídricos. Explica o IBF que a Lei 9.433/1997:
Por fim, citamos a Lei de Crimes ambientais (Lei 9.605 – 1998) que sedia o
objeto da presente pesquisa. A lei 9.605/1998 é instrumento importantíssimo para a
efetivação da proteção do meio ambiente, a ser promovida pelo Estado Brasileiro.
A Lei de Crimes ambientais visa coibir os infratores e punir caso adotem
condutas criminosas que atentem contra as normas ambientais. Além de punir as
pessoas que transgridem seus comandos, a Lei de Crimes ambientais também
promove a proteção do meio ambiente, mediante determinações que visam a
preservação e recuperação das áreas, afetadas e intocadas, e dos animais que
compõem o nosso ecossistema. Segundo o IBF a Lei de Crimes ambientais:
Não é demais afirmar que a Lei de Crimes ambientais é o braço forte do Estado
na luta contra os atentados ao nosso ecossistema e deve ser considerada como um
mecanismo de garantia para um meio ambiente saudável para nossa geração e
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gerações futuras. É na Lei de Crimes ambientais que encontramos sanções
administrativas e penais para os criminosos que atentam contra o meio ambiente e
todos os seus elementos que encontram-se descritos e amparados em nossa
Constituição. A respeito dos elementos que compõem o meio ambiente, explica
Marcos Paulo de Souza Miranda, coordenador da Promotoria Estadual de Defesa do
Patrimônio Cultural de Minas Gerais:
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3 A PROTEÇÃO DA FAUNA NA LEI 9.605/1998
3.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O CAPÍTULO V, SEÇÃO I DA LEI 9.605/98
Conforme já exposto, essa lei confere aos animais proteção penal ao elencar,
na seção I do capítulo V, os crimes contra a fauna, proibindo, dentre outras
condutas, o maus-tratos aos animais, que teve sua pena recentemente
aumentada em se tratando de cães ou gatos, passando de três meses a um
ano para dois a cinco anos. Destaca-se, ainda, a possibilidade de
responsabilização da pessoa jurídica, previamente consagrada pela
Constituição Federal, desde que satisfeitos os requisitos impostos pelo artigo
3 da referida Lei. (GALVÃO, pág. 215)
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Existe um grande equívoco do homem médio comum, que não conhece o
funcionamento de um ecossistema, quando imagina ser um grande serviço adotar e
ter em sua guarda animais silvestres retirados do meio em que vivem. Para Fernando
Galvão Rocha:
A biodiversidade é fundamental para o funcionamento e o equilíbrio dos
ecossistemas, além de ser fonte de alimento e matéria-prima para os seres
humanos, sendo a sua conservação, por isso, tão importante. Felizmente,
essa importância vem sendo reconhecida pelos Estados, o que permitiu a
ratificação, nas últimas décadas, de diversos tratados internacionais que
visam a proteção do meio ambiente e dos elementos que o compõem, bem
como a implementação de um modelo de desenvolvimento sustentável.
(GALVÃO, pág. 208)
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nutrientes, por meio do qual a matéria orgânica é decomposta em outras
substâncias que serão utilizadas novamente para o desenvolvimento de
novos organismos. (GALVÃO, pág. 210)
Existe uma crítica e uma observação por parte dos ativistas das causas
animais, a respeito da ausência de garantia constitucional à saúde física e ao bem-
estar dos animais em si. O que percebe-se das disposições constitucionais é uma
preocupação na preservação do meio ambiente como forma de garantir o bem estar
dos seres humanos. Sobre o tema, dispõe Fernando Galvão Rocha:
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ainda que o objetivo por trás de tanta proteção seja garantir aos seres humanos um
ambiente saudável, o CPA preocupou-se em limitar este direito e proibir que o homem
abuse de sua liberdade em situações comuns. Nesta linha de raciocínio, o legislador
preocupou-se e tornou crime a criação de animais silvestres como animais
domésticos, sem a devida autorização. Podemos dizer que esta conduta tem por
objetivo proibir que o homem desequilibre o meio ambiente e prejudique o
funcionamento do ecossistema para satisfazer ambições e pretensões pessoais.
Após esta breve disposições sobre a proteção da fauna no código penal
ambiental, poderemos agora mergulhar mais profundamente no crime de guarda e
manutenção em cativeiro de animais silvestres, para posteriormente escancarar as
decisões contraditórias que o judiciário vem adotando, quando deixa de aplicar
sanções administrativas de caráter pedagógico contidas no art. 72 do referido diploma
lega, o que vem tornando totalmente inócuas as sanções penais contidas no art. 29
do Código Penal Ambiental.
O capítulo V, seção I da Lei 9.605/98 contém vários crimes que têm por objeto
práticas inaceitáveis do homem contra animais silvestres e animais domésticos. No
art. 29 do referido diploma legal encontramos o crime de guarda e manutenção em
cativeiro de animais silvestres sem autorização. Vejamos o que dispõe o art. 29 da Lei
9.605/98:
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tenham todo ou parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do
território brasileiro, ou águas jurisdicionais brasileiras.
§ 4º A pena é aumentada de metade, se o crime é praticado:
I - contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção, ainda que
somente no local da infração;
II - em período proibido à caça;
III - durante a noite;
IV - com abuso de licença;
V - em unidade de conservação;
VI - com emprego de métodos ou instrumentos capazes de provocar
destruição em massa.
§ 5º A pena é aumentada até o triplo, se o crime decorre do exercício de caça
profissional.
§ 6º As disposições deste artigo não se aplicam aos atos de pesca.
Verifica-se do §1º, inciso III do supracitado artigo que é crime contra a fauna
adquirir, guardar ou manter em cativeiro/depósito “espécimes da fauna silvestre,
nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da
autoridade competente, ou em desacordo com a obtida”. O agente que pratica tais
condutas incorrem na pena de detenção de seis meses a um ano, e multa. Além da
sanção penal prevista no art. 29, dispõe o art. 72 do mesmo diploma legal que o
agente sofrerá ainda sanção administrativa, que na espécie em questão, é a
apreensão do animal adquirido e guardado em cativeiro.
Os artigos são de fácil interpretação e contém comandos simples e práticos que
traduzem com clareza a intenção do legislador de evitar que espécies da fauna
silvestre sejam retiradas do meio ambiente e levadas para cativeiros para serem
domesticados e criadas fora de seu habitat, satisfazendo apenas o interesse egoísta
do ser humano e prejudicando todo o ecossistema e o futuro das gerações que ainda
virão.
Muitas pessoas são surpreendidas quando descobrem que as aludidas práticas
são criminosas e se revoltam com a possibilidade de sofrerem as sanções penais e
administrativas impostas pelo Estado. Ocorre que a lei de crimes ambientais não é tão
falada nos meios de telecomunicações e por ser a prática de domesticar animais
silvestres comum em nosso território, a população se sente livre e encorajada para
investidas criminosas como captura e compra de tais seres vivos.
Não é demais retomar o assunto da proteção constitucional aos animais neste
ponto, ao passo que esta vem sido utilizada como justificativa para interpretações
equivocadas dos aludidos comandos legais, o que será tratado mais adiante. Registre-
se que não foi ignorado neste trabalho o dever do judiciário de fazer uma interpretação
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sistêmica dos artigos e que a linha de raciocínio adotada para concluir esta pesquisa
levou em consideração não somente a interpretação literal dos comandos do
legislador ambiental, mas sim a interpretação dos artigos em consonância com todo o
cenário do Estado brasileiro e ainda das disposições constitucionais.
Assim, conforme interpretação do art. 29, §1º, III, da Lei 9.605/98, quem
compra, captura, sequestra ou retira animais silvestres de seu habitat natural para
criarem como animais domésticos comete crime ambiental. Nos referidos artigos não
existe qualquer disposição sobre a qualidade da criação ou sobre o “amor” dos
agentes pelos referidos animais, sendo o legislador firme ao determinar que o crime
se aperfeiçoa com a conduta do agente.
Assim, podemos dizer que eficaz é a lei que produz os efeitos esperados pelo
legislador na esfera jurídica e social.
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apreensão dos referidos animais, o art. 72 não traz hipóteses de relativização da
aplicação da sanção administrativa, mas mesmo assim, o judiciário tem aplicado
decisões que vão em direção ao disposto neste artigo. Vejamos a seguir, julgados em
que não foi adotado pelo juízo a aplicação da pena de apreensão dos animais
silvestres encontrados em posse ilegal de agentes criminosos.
O STJ no julgamento do REsp 1.650.672 / SC, proferiu o seguinte acórdão:
Percebe-se, portanto, que não é a Filó que mora na casa de Agenor. É o autor
que vive na floresta, como ocorre com outros milhares de ribeirinhos da
Amazônia, realidade muito difícil de ser imaginada por moradores de outras
localidades urbanas do Brasil. Ante o exposto, concedo a tutela provisória de
urgência para que, até o desfecho da lide, seja deferida a guarda provisória
da capivara Filó a Agenor Bruce Tupinambá. Como consequência, determino
que o IBAMA seja compelido a fazer a entrega do animal ao autor,
imediatamente.
Fica autorizado o transporte de Filó, pelo requerente, para que retorne ao seu
habitat natural, desde que se comprove que esse transporte se fará com
meios seguros e adequados, o que deverá ser atestado por Médico
Veterinário e/ou Biólogo.
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3. Rechaçadas as afirmações do Ibama relativas à eventual desvirtuamento
da finalidade da Lei Ambiental atribuídas a este Relator e, por conseguinte,
desta Casa de Justiça. A prestação jurisdicional que se exige volta-se
exclusivamente ao caso concreto - esse suficientemente examinado e
decidido à luz do direito aplicável e com base em jurisprudência consolidada
desta Corte Superior.
4. O entendimento contrário a tese do insurgente não autoriza a conclusão
de que os institutos legais protetivos à fauna e flora tenham sido maculados,
tampouco que haja chancela ou mesmo autorização para o cativeiro ilegal de
aves silvestres como aduz o agravante. Tais argumentações, além de
digressivas, revelam-se inoportunas pois evocam temas e debate alheio ao
presente feito, a não merecer amparo porquanto evidentemente desprovidas
de fundamentação concreta.
5. Agravo interno a que se nega provimento. AgInt no RECURSO ESPECIAL
Nº 1.389.418 - PB (2013/0211324-4)
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Vimos, então, que, apesar da disposição clara do art. 72 do Código Penal
Ambiental, a respeito da obrigatoriedade da apreensão dos animais silvestres
mantidos sob guarda doméstica, o STJ e Tribunais vêm adotando entendimento
diverso do objetivado pelo legislador. As implicações destas decisões é o que
pretendemos discutir ao final deste capítulo.
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concluir que a devolução de animais para o convívio com os agentes criminosos e a
possibilidade de reaver a posse dos animais mediante recursos dirigidos ao judiciário
representa risco imensurável à fauna brasileira, haja vista que a impunidade é sempre
um estímulo para a transgressões da lei. Segundo reportagem publicada no site
Gazeta do Povo, após a entrevista a vários especialistas, a conclusão é que a
impunidade estimula a violência. Sendo assim na esfera criminal, por que não fazer
uma analogia com a lei de crimes ambientais? ambos os diplomas legais, Código
Penal Brasileiro e Código Ambiental Penal, tratam sobre crimes e criminosos. A
normalização da criação de animais silvestres como animais domésticos é estímulo
para que mais pessoas se sintam encorajadas para capturar, adquirir e até traficar
animais.
Segundo o sociólogo Sérgio Adorno, coordenador do Núcleo de Estudos da
Violência da Universidade de São Paulo (USP), o judiciário tem aceitado vários
recursos dos réus e isto, somado à falta de investigação séria e efetiva da polícia,
culmina na falta de responsabilização dos agentes criminosos. Se no caso dos crimes
positivados no código penal a impunidade resulta de uma soma de erros do judiciário
e da polícia, no caso da lei de crimes ambientais o resultado é responsabilidade
apenas do judiciário que, por diversas vezes, utiliza a faculdade de intérprete da lei
para ampliar conceitos e preencher lacunas que não existem nos dispositivos legais,
desrespeitando o legislador e causando uma deturpação do sentido original atribuído
pelo legislador aos dispositivos.
Interessante reflexão sobre esta atitude do judiciário foi realizada pela ministra
Regina Helena Costa, que no julgamento do recurso REsp 1797365/RS, que tinha por
objeto a análise sobre a estabilização da tutela de urgência antecipada antecedente.
A ministra votou pela interpretação restritiva do art. 304 do CPC e proferiu a seguinte
crítica ao judiciário: a interpretação ampliada do conceito, efetuada pelo tribunal de
origem, caracterizaria indevida extrapolação da função jurisdicional. Entendemos que
a interpretação adotada atualmente pelo judiciário na inaplicabilidade da sanção
administrativa disposta no art. 72 da Lei 9.605/98 revela clara usurpação do poder de
legislar. Não pode o judiciário aplicar seu entendimento e ignorar totalmente as
disposições do legislador. O princípio da legalidade ficou no passado?
Em conclusão, entendemos que o correto nos casos de guarda e manutenção
de animais silvestres como domésticos é a aplicação de todas as sanções penais e
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administrativas, a fim de garantir a eficácia jurídica e social da lei de crimes
ambientais, haja vista que a penalização servirá como um desestímulo para a prática
de novos crimes da mesma natureza. Somente assim será atingido o fim precípuo do
art. 225, 1º, VII da Constituição Federal e a fauna será protegida de práticas que
provocam a extinção de espécies e a exposição de animais a maus tratos e condições
degradantes.
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5 CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
LEITE, José Rubens Morato. Manual de Direito Ambiental. São Paulo: Saraiva, 2015.
27
Rodrigo Varela: Crimes Ambientais – Lei 9605/1998. Disponível em:<
https://s3.amazonaws.com/mestre-portal/news/home/material_apoio/Rodrigo_varela-
Leis_especiais/Lei_Crimes_Ambientais_total.pdf>. Acesso em: 02/10/2023.
Sem autor: Importância da Fauna Para o Equilíbrio ecológico. Legado das águas,
2022. Disponível em: https://legadodasaguas.com.br/importancia-da-fauna-para-o-
equilibrio-ecologi
co/#:~:text=A%20fauna%20participa%20n%C3%A3o%20apenas,mantendo%20a%2
0floresta%20em%20p%C3%A9. Acesso em: 28/09/2023.
NALINI, José Renato. Direito Penal Ambiental. In Revista dos Tribunais. São Paulo:
RT. 2ª Edição, jul. 2013
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