Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
E-MAIL: daniel@lourenco.adv.br
NATUREZA JURÍDICA
Quando a Constituição fala em bens de uso comum do povo, devemos
fazer a leitura do dispositivo utilizando a concepção de que o meio ambiente
tem natureza difusa.
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.
§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do
Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio
nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de
condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive
quanto ao uso dos recursos naturais.
Por conta disso, quando o artigo fala em patrimônio nacional, não quer
dizer que esses biomas listados se tornam bens da União, considerando que
essa mentalidade já foi quebrada quando tratamos da natureza jurídica do bem
ambiental.
Quando estudamos a classificação dos bens em Direito Civil (móveis,
imóveis, consumíveis etc.), existe uma divisão, que vem lá do Direito Romano,
entre bens públicos e bens privados. A primeira espécie de bem público que
aparece no art. 99 do CC é o bem de uso comum do povo.
A definição de bem público está explicitada no art. 99 do CC “os bens do
domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno”.
Assim, com base no art.98, os bens de uso comum do povo são aqueles que
pertencem à União, aos Estados, ao DF e aos Municípios.
O ar que respiramos é um bem ambiental? Sim. Ele é de propriedade do
Município do Rio de Janeiro? Não. Portanto, a doutrina ambiental preconiza
que, na verdade, o meio ambiente não é um bem público, é um bem difuso, de
uso coletivo, visto que não pertence ao Estado, e sim à sociedade. Embora a
CF utilize a expressão “bem de uso comum do povo”, ela não deve ser
interpretada como um bem público, e sim como um bem difuso, coletivo, cujos
titulares somos todos nós, a sociedade.
O bem difuso se apresenta com uma categoria intermediária entre o bem
público e o bem privado. Sua titularidade é diferente das outras duas
classificações. Cada um de nós é “dono por inteiro” da qualidade ambiental. O
Estado é tão somente um gestor público de um bem que é da sociedade.
INTERESSES COLETIVOS
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das
vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título
coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste
código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam
titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos
deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja
titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com
a parte contrária por uma relação jurídica base;
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos
os decorrentes de origem comum.
HOMOGÊNEOS
CONCEITOS IMPORTANTES
ÉTICA AMBIENTAL
A Ética é um ramo da filosofia. Alguns preferem a denominação Filosofia
Moral. O radical grego éthos significa comportamento, e se assemelha muito à
palavra latina moral, que também significa comportamento. Nós as utilizamos
muitas vezes para distinguir o certo do errado, o adequado do inadequado.
Todavia, no campo acadêmico, alguns autores procuram traçar uma distinção
entre o campo da ética e o da moral.
A moral seria uma “fotografia” do comportamento social. Ela procura
investigar e constatar como as pessoas se comportam de fato. Tem um sentido
eminentemente descritivo de comportamentos. Regras de etiqueta social são
um exemplo de normas de moralidade (ir nu para a sala de aula viola uma
expectativa moral). A aceitação da escravidão nos séculos passados era uma
questão moral, era a forma como agíamos.
Os dilemas morais, dilemas de ética, são dilemas de difícil solução.
Haverá algumas perguntas que são muito relevantes para a ética e outras nem
tanto.
A ética sempre foi pensada desde os gregos como algo que se dizia
respeito do comportamento do homem com outro homem. O comportamento
humano também pode afetar de maneira relevante, outros seres, outros entes.
Ha limites éticos o que a gente pode fazer ou deixar de fazer.
Já a ética não se compromete apenas com uma descrição de
comportamentos. Ela pretende avaliar racionalmente esses comportamentos,
para investigar se eles tem bom fundamento ou não. A ética examina, sob uma
fundamentação racional, se a escravidão humana, por exemplo, possui bons
fundamentos para existir. A ética, tal como o Direito, é um “dever ser”.
A ética vai postular a existência de valores objetivos que vão informar a
sociedade humana universalmente, como um todo. Isso gera uma certa
perplexidade, porque é muito claro as sociedades humanas variam de
comportamento. Mas será que elas variam de valor? Os gregos enterravam
seus mortos em sinal de respeito, enquanto, pelo mesmo motivo, os
calassianos os comiam.
Caso do bonde desgovernado. Imagine uma situação em que temos
uma linha de trem, e por alguma razão, você saiba que ele está desgovernado.
Você é um espectador que sabe que o bonde está desgovernado, e que
existem 5 pessoas inocentes, que estão amarradas no trilho do trem. Diante de
você, há uma única alternativa, que é acionar uma alavanca, que desloca o
trem para uma via secundaria, um outro trilho. Contudo, nessa outra via, temos
uma pessoa amarrada no trilho do trem. As opções são: não fazer nada ou
acionar a alavanca e salvar o maior número de vidas humanas inocentes.
A conduta moralmente correta é aquele que maximiza a felicidade, de
acordo com o raciocínio utilitário, consequencialista. Esse filósofos são
reformistas sociais, são todos ingleses, na sua grande maioria.
O professor modifica o exemplo, retira a possibilidade de acionar a
alavanca, e coloca um cara gordinho, que, se jogado no trilho, impedirá a morte
dos 5 amarrados no trilho. Nesse caso, a maioria das pessoas da sala
responderam que não sacrificariam o gordinho, se aproximando do
pensamento deontológico.
ADI4983/CE procurou analisar a constitucionalidade da Lei 15.299/CE,
uma lei estadual que regulamentava a vaquejada como prática desportiva e
cultural. Uma peculiaridade é que Associação Brasileira de Vaquejada pediu
para ser ouvida como amicus curiae. A vaquejada é uma atividade cultural do
Nordeste brasileiro, onde dois participantes, a cavalo, correm atrás de um boi
em disparada. Os participantes devem tracionar o rabo do boi, para que ele
caia dentro de uma área específica, a depender da pontuação. Lesões graves
aos animais são comuns, visto que os mesmos são derrubados violentamente,
e que o rabo é uma extensão da coluna vertebral.
A ADI procurou questionar uma lei do estado do Ceara, que
regulamentava a prática da vaquejada. De acordo com o procurador geral, a lei
violava a previsão do Art.225, §1º, VII, CP – que preconiza que incumbe ao
Poder Público, para assegurar a efetividade do direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da
lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a
extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade.
Crueldade é um conceito jurídico indeterminado, mas os tribunais tem
entendido que crueldade significa a imposição de um sofrimento
desnecessário, sem razão, sem justificativa para existir. Por outro lado, a
mesma constituição protege um outro valor, que é o valor da manifestação
cultural, há uma tutela do patrimônio cultural.
Haveria, portanto, na vaquejada, um confronto entre essas duas
previsões, porque a vaquejada é uma manifestação cultural, e por outro lado,
há a preocupação com a lesão aos animais. Existiria um obstáculo
constitucional a prática da vaquejada? O STF decidiu esse caso, e foi um caso
muito aflitivo, porque a decisão final foi de 6 a 5. O último voto foi da Ministra
Carmem Lucia, que decidiu contra a vaquejada, sob o argumento que nesse
conflito de valores, deveria prevalecer a proteção dos animais contra a
crueldade.
Um julgamento de mérito em sede de controle concentrado, projeta em
princípio, efeito contra terceiros. Evidentemente, que o legislativo não fica
vinculado a questão.
Houve um efeito na bancada ruralista - atrelada ao agronegócio-, que se
manifestou por conta do inconformismo após a ADI, e propôs a Emenda
Constitucional 96, de 2017, a qual inseriu o §7º ao artigo 225, que diz que a
vaquejada não se enquadra como uma prática cruel vedada pelo §1º, VII. “Se o
STF tá dizendo que prática é inconstitucional, é simples de resolver: alteramos
a Constituição”.
Este é um caso de ativismo legislativo, que ocorre quando o Poder
Legislativo quer contornar uma decisão judicial. Foi a Proposta de Emenda
Constitucional que tramitou mais rápido na história do país. Em função disso, já
foi proposta no STF uma ADI contra a EC 96.
Existe um fenômeno hoje no direito constitucional, que é o chamado
ativismo legislativo, que é uma reação do legislativo a uma decisão judicial.
Propuseram então uma PEC, que modificaria o texto da constituição brasileira,
inserindo um novo parágrafo no art.225. Essa PEC foi aprovada em tempo
recorde, e passou a dizer (EC 96/17) que se uma prática, uma atividade for
considerada patrimônio cultural, ela fica fora do alcance do art. 225, par.1, VII,
CF.
A decisão de mérito (procedência ou improcedência) no caso de uma
ADI, no chamado controle concentrado de constitucionalidade, gera um
primeiro grande efeito, que o efeito retroativo temporal. Quando o STF decide
pela procedência de uma ADI, aquela norma é tida como inconstitucional desde
a sua origem (ex tunc). Outro grande efeito dessa decisão é que ela afetará,
em princípio, a todos (erga omnes).
Em relação aos efeitos contra todos, existem duas correntes doutrinárias
que analisam o tema. Para a corrente majoritária, só a parte dispositiva da
decisão vincula terceiros. Para a corrente minoritária, toda a decisão vai gerar
efeitos contra terceiros, todos os fundamentos de fato e de direito que
permitiram aquela conclusão.
A consequência prática é que, partindo da primeira visão, somente a Lei
“X” é inconstitucional, mas, partindo da segunda visão, com base nos
fundamentos da decisão, outras leis que se enquadram naquela discussão
estariam maculadas pelo mesmo vício.
Outra peculiaridade neste caso da ADI 4983 é que, logo após a decisão
do STF, por conta da pressão de setores envolvidos com a prática da
vaquejada (consideremos que esta “atração” gera bastante lucro), a bancada
ruralista do Congresso Nacional,
Já tramitam duas ADI's contra a Emenda. O principal argumento é o de
que se está esvaziando a previsão constitucional. O STF quando decidiu contra
a vaquejada, entendeu que o caso trazia um debate principiológica, utilizando-
se da técnica de ponderação. De acordo com o professor, esse caso não é um
caso resolvível por meio de ponderação, seja para delimitar que prepondera o
valor de proteção aos animais, seja pela manutenção da vaquejada.
Porque, o art.225, par.1, VII, CF, é uma regra. Embora crueldade seja
um conceito jurídico indeterminado, isso se torna uma regra, uma mandamento
proibitivo expresso. Nas palavras do professor o melhor método de solução
para esse problema é a subsunção de fato a regra. O fato se amolda a regra ou
não se amolda? Qual o fato? A vaquejada. A vaquejada é cruel ou não é cruel?
Ainda, de acordo com o professor, a maioria dos ministros não fez uso
dos precedentes da própria corte, e existe uma rega no Novo CPC que diz o
seguinte: se a parte submete a corte um caso e pede que esse caso seja
julgado de acordo com os precedentes da própria corte, que, nesse caso,
deverá fazer um juízo de semelhança. Por conta disso, o STF deveria justificar
o porquê as regras das decisões da farra do boi e dos casos da rinha de galo,
se aplicam ou não ao caso da vaquejada.
Além disso, o STF poderia ter decido a questão de uma maneira muito
mais simples, utilizando o art. 489, §1º, do CPC/15, que estabelece que
quando a parte invoca a se favor um precedente da Corte, a Corte é obrigada a
dizer as razões pelas quais entende que os precedentes devem ser aplicados
ou não aquele caso. No passado, o STF já havia julgado casos semelhantes
(farra do boi, rinha de galo) e o MPF invocou esses precedentes em que o STF
julgou tais práticas inconstitucionais. Contudo, neste caso, o STF ignorou o
dispositivo do CPC e não ouviu o MPF.
O tema do uso cultural de animais é bastante complicado. É difícil
estabelecermos essa linha de até onde podemos ir. Por exemplo, a vedação de
sacrifícios humanos, do uso de drogas que facilitam um estado de transe, a
restrição da poluição sonora de alguns templos em horários impróprios. E a
questão animal se enquadra exatamente aí.
Existe, desde 88, no art.5, o parágrafo 2, que nos diz que os direitos e
garantias fundamentais estabelecidos pelo legislador nãoe excluem outros
decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. Isso dá uma
ideia de que o Brasil pode assinar os tratados que achar conveniente. Além
disso, o artigo nos dá a perspectiva de que os direitos fundamentais não são
apenas os previstos na Constituição, sem excluir aquele que podem ser
trazidos por via de tratados. A leitura desse dispositivo nos permite entender
que os tratados internacionais de direitos humanos deveriam ingressar no
nosso ordenamento com força constitucional.
Um dos problemas, é que a nossa CF tem duas características:
• Formal;
• Rígida (significa dizer, que a nossa constituição, em tese,
estabelece um procedimento especial para que seu texto seja
modificado).
Dessa forma, admitir que os tratados de direito internacional ingressem
no Ordenamento Jurídico sem qualquer procedimento especial, seria como
"quebrar" essa lógica da rigidez. Com base nesse questionamento, o STF
consolidou uma posição, segundo a qual, esses tratados internacionais de
direitos humanos deveriam gozar de forca supralegal. A supralegalidade é um
espaço que fica entre a norma Constitucional e a Lei Ordinária.
Em 2004, a nossa CF foi emendada, e tivemos a edição da EC/45, e no
bojo dessa emenda, inserimos um novo parágrafo a esse artigo, que foi o
parágrafo 3º. Tal parágrafo irá versar sobre a forma especial de incorporação
(3/5 em 2 turnos nas duas casas - Câmara dos Deputados e Senado Federal),
em que o tratado passará a ter forca constitucional. Em 2007 tivemos a
internalização e a aprovação de um tratado de direitos humanos, que versava
sobre as pessoas com Deficiência.
Até o momento, nenhum tratado de direito ambiental foi internalizado
dessa forma, tendo, portanto, força supralegal.
2. PRINCÍPIO DA NATUREZA PÚBLICA DA PROTEÇÃO AMBIENTAL:
Também pode ser colhido da leitura do Art.225, caput, CF. Há uma
imposição ao poder publico de defesa do meio ambiente, ou seja, tem
um compromisso de efetivar políticas públicas e leis que visem melhorar
a qualidade ambiental. Não devemos confundir com a natureza jurídica
do meio ambiente, que tem natureza de bem difuso, não de bem publico.
O artigo segundo dessa lei vai dizer o seguinte: o cidadão deve ser amplo
acesso as informações ambientais, independentemente de interesse. Isso se
dá porque apenas um cidadão bem informado tem uma melhor condição de
participar politicamente, de se inserir no debate das grandes questões
ambientais.
Está de mãos dadas com o princípio da participação
comunitária/participação popular. Um dos grandes instrumentos desse
principio é justamente as chamadas audiências públicas. Uma das etapas do
licenciamento ambiental, por exemplo, é a realização de uma audiência
pública.
A pergunta que fica é a seguinte: o órgão ambiental é obrigado a
realizar audiência pública em todos os procedimentos de licenciamento
ambiental? Não, existe uma discricionariedade por parte do órgão ambiental,
que permite a realização ou não de audiência pública. Há uma
discricionariedade do órgão ambiental na delimitação de audiência pública –
resolução 237/87 do CONAMA. O art. 3º dessa resolução coloca que os órgãos
ambientais realizarão audiências públicas quando couber.
RESOLUÇÃO 9/87, CONAMA. Se o órgão ambiental, por ventura, não
determinar a realização da audiência pública, existe um mecanismos que a
população pode usar para obrigar o órgão ambiental a fazer essa audiência
pública: abaixo-assinado. Se 50 ou mais cidadãos requererem a audiência
pública, o órgão ambiental é obrigado a requerer a audiência pública.
O MP, representando a sociedade, assim como as ONGs Ambientais,
podem requerer sua realização. A audiência pública é um sistema que vem
funcionando relativamente bem, e foi incorporada inclusive em sede judicial.
COMPETÊNCIAS
COMPETÊNCIA ADMINISTRATIVA
Quando falamos em competência administrativa, estamos falando da
execução de ações de Estado, de tarefas administrativas de Estado. Na
matéria ambiental, falamos de tarefas administrativas voltadas à proteção do
meio ambiente, examinando o exercício do poder de polícia ambiental.
Quanto ao poder de polícia ambiental, estamos fundamentalmente
fazendo alusão às atividades de licenciamento ambiental e atividades de
fiscalização.
Por atividade de licenciamento ambiental tem-se uma atividade prévia,
que representa um ato de consentimento estatal, ou seja, o Poder Público pode
impor condições para o exercício da atividade econômica no momento da
concessão da licença ambiental, dizer como deve ser desempenhada tal
atividade.
Já a atividade de fiscalização ocorre em um momento posterior ao
licenciamento, com a atividade já licenciada em andamento. Essa fiscalização
ambiental pode resultar na lavratura de um auto de infração e instauração de
um processo administrativo para apurar a infração.
Então, quando se fala de competência administrativa ambiental, quer se
falar das atividades de licenciamento e de fiscalização: quem pode licenciar e
quem deve fiscalizar a matéria ambiental no direito brasileiro?
(1) Base no art. 23 CF. Estabelece que a competência administrativa
ambiental é dita comum, pois é subdividida entre todos os entes federativos.
Tanto União, como Estados, DF e Municípios podem e devem exercer o poder
de polícia ambiental. Seria, no entanto, razoável imaginar que o empreendedor
tivesse que se submeter a licenciamentos múltiplos, ou a fiscalizações
múltiplas sob o mesmo fato? Não seria isso um bis in idem?
Exemplo 1 - Eu sou um empreender e quero licenciar minha atividade.
Tenho que fazê-la junto ao IBAMA (órgão ambiental federal), junto ao INEA
(órgão ambiental do Estado do RJ) e junto à Secretaria Municipal de Meio
Ambiente (órgão ambiental do Município)? É preciso ter as 3 licenças para
poder funcionar? Não parece razoável, uma vez que para tirar apenas uma das
licenças já é difícil.
Nota-se, portanto, que essa interpretação não é adequada, pois gera
insegurança jurídica, um excesso de intervenção estatal.
(2) Base no art. 10 da Lei 6938/81. Esse artigo, em sua redação original,
dizia “a competência administrativa ambiental deve ser exercida, em princípio,
pelo órgão ambiental estadual e, supletivamente, atua o IBAMA (órgão
ambiental federal) em situações de afetação do interesse nacional.”.
Então, a lógica do art. 10 é estabelecer que, via de regra, o poder de
polícia ambiental é exercido pelo Estado e, excepcionalmente, nos casos de
afetação do interesse nacional, atuaria o IBAMA como órgão federal.
O problema dessa solução é que o referido artigo não previu um espaço
de atuação para o Município, sendo que, pela CF, a competência comum
consiste na ação simultânea de todos os entes federativos, incluindo o
Município. A justificativa para essa ausência se dá na data de publicação da
Lei, que é 1981, anterior ao texto constitucional (de 1988), que possui tal
previsão.
(3) Resolução nº 237/97 do CONAMA. Estabelecia o critério da
predominância do interesse. Se o interesse afetado pelo empreendimento
potencialmente for de interesse nacional, atua o IBAMA (órgão federal); se for
de interesse regional, atua o órgão ambiental estadual (no caso do Rio de
Janeiro é o INEA); se o interesse afetado for local, atua o órgão ambiental do
Município (Secretaria Municipal de Meio Ambiente).
No entanto, ainda que o critério da predominância do interesse seja
razoável, ele apresenta um problema prático: é um critério indeterminado, não
se sabe dizer com exatidão o limite de cada caso, a maioria deles inclusive.
Quando uma situação deixa de ser de interesse local e vira regional? Quando
uma situação regional deixa de ser regional e passa a ser nacional?
Há uma zona cinzenta muito extensa. Os empresários não se deram por
satisfeitos, por não ter segurança jurídica acerca de qual órgão daria a licença
que ele precisa ter para o empreendimento estar regularizado. O critério
precisa ser objetivo, não pode ser amplo/indeterminado.
Com base nessa crítica de certa instabilidade/insegurança jurídica trazida
por esse critério estabelecido, chegamos a última e quarta tentativa de
resolução do problema da delimitação da competência administrativa
ambiental.
(4) Lei Complementar 140/11, que está em vigor, e foi editada para
resolver a questão. Observações importantes:
• A LC 140/11 diz respeito à competência administrativa, mas não é uma
LC exclusivamente ambiental. Trata também de outros temas além do
direito ambiental.
• No que se refere à questão ambiental, a LC 140/11 adotou o mesmo
critério da Resolução nº 237/97 – critério da predominância do interesse.
Contudo, na LC 140/11, o critério foi detalhado, sendo mais objetivo.
Alguns dispositivos da LC 140/11 que fazem referência à matéria
ambiental são os artigos 7, 8 e 9. O artigo 7 diz respeitos às ações
administrativas da União, enquanto o artigo 8º diz respeito às ações
administrativas dos Estados, e, consequentemente, o artigo 9º diz respeito às
ações administrativas dos Municípios.
Atentar, nesses 3 dispositivos, aos incisos XIII e XIV de cada um. Os
incisos XIII e XIV, tanto do artigo 7º quanto dos artigos 8º e 9º, dizem a mesma
coisa. Eles trazem a lógica de “quem licencia, posteriormente, fiscaliza”. Ou
seja, se o empreendedor pegou a licença com o IBAMA, apenas o IBAMA pode
vir a lavrar um auto de infração sobre ele, posteriormente. Sendo essa a ideia,
a questão principal é saber quem licencia o que. As hipóteses de licenciamento
ambiental estão previstas nos incisos XIV de cada artigo:
• Art. 7º, XIV: hipóteses de licenciamento ambiental pelo órgão
federal (IBAMA);
• Art. 8º, XIV: hipóteses de licenciamento ambiental pelo órgão
estadual (INEA - RJ);
• Art. 9º, XIV: hipóteses de licenciamento ambiental pelo órgão
municipal (Secretaria Municipal do Meio Ambiente);
NEXO CAUSAL
Analisaremos duas teorias (dentre outras) que fundamentam o nexo
causal:
• Teoria da equivalência das condições - Tudo aquilo que
colabora para o evento danoso é causa do dano. Todos os
episódios que tiverem relação de causalidade com o dano são
juridicamente causa do dano.
Problema: ela pode gerar uma regressão ao infinito do exame causal,
pois, indiretamente, tudo pode ser causa para tudo. O fabricante da arma e a
mãe que pariu o assassino responderiam pelo homicídio.
• Teoria da causalidade adequada - Dentre os antecedentes
causais, deve-se identificar qual é o mais adequado a gerar o
dano (sem os quais o dano não teria ocorrido).
o Teoria do dano direto e imediato (adotado pelo CC/02 –
art. 403). É um desdobramento da teoria anterior. Coloca
que dentre os antecedentes causais, deve-se eleger quais
estão espacial e temporalmente mais próprios do dano.
Logo, o antecedente causal deve estar vinculado
diretamente com o evento danoso.
No Direito brasileiro, alguns autores falam que o Código Civil, por conta
de seu art. 403, teria construído no nosso sistema uma teoria que seria um
desdobramento da causalidade adequada, chamada teoria da causalidade
direta ou imediata. O dano é o dano direto, o dano imediato. A causa é a causa
direta, a causa imediata. Dentre os antecedentes causais, eu tenho que eleger
quem efetivamente está, temporalmente e espacialmente, mais relacionado ao
dano.
Art. 403 - Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e
danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela
direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual.
CONDUTA
O elemento “conduta” também é um elemento central para a
configuração da responsabilidade civil. Na teoria clássica da responsabilidade
civil. Mas não uma conduta qualquer, apenas a conduta qualificada pela culpa.
Por culpa entendemos uma falta de dever geral de cautela, e o elemento
intencional.
Fala-se, nesse sentido, no modelo de Responsabilidade Civil Subjetiva.
A vítima tem que demonstrar que o agente infrator agiu culposamente, com
imperícia, imprudência ou negligência, ou no comportamento intencional (dolo).
Com o novo paradigma de produção e consumo em massa, verificado a
partir da Revolução Industrial, observou-se que a necessidade de a vítima
comprovar a culpa afastava, muitas vezes, a possibilidade de indenização.
Nesse contexto, desenvolveu-se a Responsabilidade Civil Objetiva, que
independe da demonstração da culpa. O Código Civil estabelece algumas
hipóteses de responsabilização civil objetiva, como no caso do art. 927,
parágrafo único, do CC.
Art. 927 - Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente
de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza,
risco para os direitos de outrem.
DANO
No Direito Civil existem algumas categorias de dano:
1. Dano emergente: é aquele que decorre diretamente da
situação lesiva, podendo ser um dano emergente material ou um
extrapatrimonial/moral, como por exemplo o prejuízo causado em uma
batida de carro. Engloba os gastos com o reparo do carro, as despesas
médicas. Se houver a amputação de um membro ou uma cicatriz, há
também o dano moral em virtude do dano estético.
2. Lucro cessante: é tudo aquilo que a pessoa deixou de
ganhar; perda de um lucro real estimado. No mesmo exemplo da batida
de carro, imaginemos que a vítima era um taxista que ficou
impossibilitado de trabalhar.
3. Perda de uma chance: representa uma categoria
intermediária entre as outras duas modalidades de dano, que seria a
perda de oportunidade de vir a obter uma posição de vantagem,
decorrente de um fato ilícito de terceiro.
Exemplo 1: Caso Perruche - uma gestante que residia nos arredores de
Paris foi até um hospital privado realizar seus exames pré-natais e explicou aos
médicos que, se houvesse alguma anomalia grave com o feto, ela gostaria de
ser informada, porque possivelmente realizaria o aborto. Os médicos omitiram
que ela tinha rubéola, e a criança nasceu com graves problemas físicos e
mentais. Então, essa mãe então ingressou com uma ação judicial, cujo
principal fundamento era a perda de uma chance, isto é, a omissão de um
resultado médico importante (ato ilícito de terceiro) retirou dela a oportunidade
de realizar o aborto.
Exemplo 2: Caso Show do Milhão - esse ocorreu no Brasil, naquele
programa de perguntas e respostas, onde quem respondia a pergunta que valia
1 milhão de reais podia parar e levar a metade ou arriscar responder. A
pergunta final feita à uma senhora foi formulada incorretamente, e ela se
recusou a respondê-la (não porque não soubesse a resposta, mas pela forma
que a pergunta foi feita) e parou com os R$ 500.000,00. Ela entrou com uma
ação judicial alegando a perda da chance de ganhar o prêmio final. Esse caso
foi até o STJ, que deu 125 mil reais, de acordo com cálculos baseados na
possibilidade da parte autora ganhar o jogo (uma chance dentre 4 alternativas).
Em tese, não há impedimento para que essas modalidades de dano
sejam transportadas para o Direito Ambiental. Existe a possibilidade de
falarmos em dano moral coletivo/dano moral ambiental? O dano moral sempre
foi pensado na ideia de um aborrecimento. Classicamente, o titular do dano
moral é uma pessoa natural, só que o próprio Direito já quebrou esse
paradigma, possibilitando que pessoas jurídicas sejam titulares de alguns
direitos da personalidade, ensejando dano moral, por exemplo, um abalo à
honra objetiva de uma sociedade empresária.
Mas e coletividade/sociedade como um todo poderia sofrer um abalo
moral? E se for um caso ambiental, como, por exemplo, no rompimento da
barreira de Mariana? A Lei nº 7347/85 (Lei da Ação Civil Pública) admite isso
em seu art. 1º, inc. I.
Art. 1º - Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação
popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais
causados:
I - ao meio-ambiente;