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CADERNO DE DIREITO AMBIENTAL

PROFESSOR DR. DANIEL BRAGA LOURENÇO


TURMA C – 2018.1
MARIA EUGÊNIA PINHEIRO SENA DA SILVA

E-MAIL: daniel@lourenco.adv.br

DIREITO AMBIENTAL - INTRODUÇÃO


Uma primeira pergunta que devemos fazer, é o porquê da existência da
regulação ambiental. Qual a razão da existência dessa regulação? Podemos
responder essa questão com base no pensamento do autor Garret Hardin, no
artigo "A Tragédia das Commons", 1968. Inicialmente, precisamos conceituar
“Commons”. Commom é um instituto do direito anglo-saxão, que significa,
basicamente, pedaço de terra explorado conjuntamente.
Neste trabalho, o autor pede para que imaginemos uma commom onde
há três pastores de ovelhas, com o rebanho de tamanho aproximadamente
igual. Não podemos esquecer que o ser humano é um ser egoísta, e tende a
querer maximizar seus interesses. Entre esses interesses, está o interesse de
proteger e maximizar patrimônio.
Passado algum tempo, um dos pastores tem a ideia de acrescentar mais
um animal em seu rebanho, que é considerado pelo autor como uma unidade
produtiva. Entende-se, então, que a partir deste acréscimo haverá um prejuízo
para a coletividade, representado por uma fração resultante da pressão
ambiental por existir mais um animal.
Dito isso, o prejuízo derivado do incremento patrimonial afetará a todos
os integrantes da Commom. O autor utiliza essa metáfora para resolver o
problema que se dá entre a privatização de bônus e a socialização de perdas.
Quando o empreendedor captura um bem ambiental para coloca-lo
como um insumo em sua cadeia produtiva, está privatizando um bem, que em
principio é um bem coletivo. Por outro lado, há sempre um aspecto negativo em
termos de acréscimo de pressão ambiental. Assim, a perda gerada por essa
atividade produtiva não será suportada apenas por um indivíduo. Esses
impactos ambientais são compartilhados por uma sociedade inteira.
Para solucionar esse problema, inserimos a figura do Estado, para tentar
minimizar as perdas, regulando as atividades. Isto posto, entendemos que o
direito ambiental é um direito puramente regulador, com a meta de limitar a
livre iniciativa em nome da preservação ambiental.
Cada vez mais, tem se pensado que um problema ambiental não é só
um problema do Estado, mas da sociedade como um todo. A constituição
quando trata da matéria ambiental impõe um dever, no sentido de preservar, de
defender o meio ambiente.
Muitas pessoas, equivocadamente, depositam esperança na resolução
dos problemas ambientais através da tecnologia, e isso não tem se mostrado
verdadeiro. As novas tecnologias são boas, mas normalmente, trazem novas
questões que não eram inicialmente pensadas.
Um exemplo disso está no artigo "As Raízes Históricas da Tecnologia
Ambiental" - Lynn White, 1967, onde o autor diz que, nas grandes cidades em
um período onde os meios de transporte eram basicamente de tração animal, o
principal problema era lidar com os dejetos animais. Surge, então, como uma
solução, o automóvel, que em um primeiro momento, resolveria o problema.
Contudo, o que notamos atualmente, é que o automóvel é um dos principais
causadores dos problemas ambientais. *Essa questão da solução para os
dejetos animais foi a principal causa do primeiro encontro internacional sobre
direito ambiental, conforme veremos nesta aula.
O professor, ainda, cita o exemplo da energia elétrica. Indica que a
lâmpada fluorescente veio após a lâmpada normal, o que contribuiu para uma
econômica de energia. O LED é até melhor. No entanto, nos últimos 30 anos
houve aumento do uso per capta de energia elétrica. Dessa forma, surge o
seguinte questionamento: Se a lâmpada gasta menos energia, por que
consumimos mais? A resposta é bem simples: porque os aparelhos eletrônicos
à disposição são muito mais numerosos (celulares, computadores, ar
condicionado, etc.). Atualmente, há certa vulgarização da sustentabilidade.
Muitas pessoas e empresas tratam desse assunto, mas poucas delas
realmente realizam atitudes sustentáveis.
A Conferência de Estocolmo foi a primeira grande conferência
internacional de direito ambiental, em 1972. Em 1992, houve a conferência Eco
92, e em seguida, em 2012, a Rio+20. A principal dificuldade encontrada
nessas conferenciais é a de implementar políticas efetivas de preservação
ambiental. No relatório final da conferência, a palavra natureza foi escrita
apenas 5 vezes, “animais” apenas 2 vezes. A palavra desenvolvimento
apareceu 293 vezes.

HISTORIA DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL


É equivocado pensar que a legislação ambiental é uma coisa nova, ou
que surgiu com a Constituição de 1988, vez que, no Brasil sempre existiram
normas ambientais, como, por exemplo, a legislação ambiental presente nas
Ordenações do Reino, em que haviam normas ambientais proibindo caça de
certas espécies e o sofrimento excessivo dos animais, por exemplo. É claro
que essas normas não eram normas pontuais, mas sempre houve, em alguma
medida, uma preocupação normativa com o tema.
Em 1602, foi publicada uma lei sobre pesca de baleias no Brasil, e em
1605, uma lei sobre o Pau-Brasil. Por que a gente decide fazer uma lei sobre
pesca de baleias? Porque na região nordeste a pratica da pesca de baleia era
recorrente, e seu óleo era utilizado na iluminação pública. Partindo deste
panorama, surge a preocupação com a pesca desenfreada de baleias e a
possibilidade de extinção por conta da ausência de regulação. E qual a lógica
dessa lei? A lógica dessa lei é enxergar essas baleias como uma commodity.
Da mesma forma, a lei sobre a extração do Pau-Brasil, surge com a
preocupação do esgotamento dessa commodity.
Em 1934, Getulio Vargas editou uma série de normas ambientais por
meio de decretos presidenciais, regulando alguns setores importantes, como
por exemplo, os códigos de mineração, de águas, florestal, e a primeira grande
lei de proteção aos animais. Embora fossem decretos, eles têm valor de lei.
Depois da Segunda Guerra Mundial, temos uma modificação muito
grande em termos no padrão de consumo (o padrão americano de vida), que
traz muitas questões para o direito ambiental. Atrás dessas questões surgem
grandes acidentes ambientais (que deram origem a Conferência de
Estocolmo), como por exemplo, em 1952, o episódio do Smog (Smoke Fog) -
nesse período, muitas pessoas utilizavam o carvão para se aquecer no inverno,
e nesse ano, o fog se juntou a fumaça do carvão, e isso provocou a morte de
muitas pessoas por contaminação da atmosfera.
Em 1958, no Japão, houve um acidente na baia de Dinamarca, que
envolveu uma fábrica muito poderosa naquele momento, que despejava
regularmente mercúrio no mar. As pessoas passaram a ficar contaminadas por
mercúrio. Hoje podemos dizer que o oceano é um grande poço de metais
pesados. *A contaminação de mercúrio ocorre também por conta da atividade
de mineração.
No ano de 1962, foi lançado o livro "Primavera Silenciosa", em que a
autora Rachel Carson chama atenção sobre o uso indiscriminado do uso de
defensivos agrícolas na lavoura, e demonstrava isso com a redução da vida
animal nos locais em que havia grande pulverização de agrotóxicos.
Nos Estados Unidos, em 1969, surge o National Environmental Policy Ac
- NEPA, uma grande norma que criou a política federal ambiental, que,
posteriormente foi copiada pelo Brasil, em 1981.
Em 1972, por conta de todos os problemas supracitados, é realizada a
Conferência de Estocolmo, onde houve um grande debate entre os países
desenvolvidos e os países em desenvolvimento. Apesar de muito importante, a
Conferência não trouxe muitas mudanças efetivas, porque os mais
desenvolvidos queriam impedir o avanço do desenvolvimento dos menos; não
houve consenso.
No Brasil temos a Lei 6938/81 - Lei da Política Nacional do Meio
Ambiente (PNMA), anterior a promulgação da Constituição de 1988, que traz
uma conformação entre os principais órgãos de gestão ambiental no Brasil e
um balizamento sobre a responsabilidade civil e administrativa ambiental. É o
mais perto que temos de um código ambiental.
Na sequência temos a Constituição de 1988, que inovou no mundo
jurídico, dedicando um capitulo especifico para a matéria ambiental, formado
por um único dispositivo, que é o Art.225.
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder
público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover
o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do
País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de
material genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e
seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a
alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada
qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que
justifiquem sua proteção;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade
potencialmente causadora de significativa degradação do meio
ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará
publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,
métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade
de vida e o meio ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas
que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção
de espécies ou submetam os animais a crueldade.
§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar
o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida
pelo órgão público competente, na forma da lei.
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções
penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar
os danos causados.
§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do
Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio
nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de
condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive
quanto ao uso dos recursos naturais.
§ 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos
Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos
ecossistemas naturais.
§ 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua
localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser
instaladas.
§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste
artigo, não se consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem
animais, desde que sejam manifestações culturais, conforme o § 1º
do art. 215 desta Constituição Federal, registradas como bem de
natureza imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro,
devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-
estar dos animais envolvidos.

DEFINIÇÃO LEGAL DE MEIO AMBIENTE


A definição legal de meio ambiente aparece na lei 6938/81, em seu
artigo 3º, I. Esse artigo nos traz uma serie de conceitos em matéria ambiental.
Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e
interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e
rege a vida em todas as suas formas;

- Quais os elementos que constituem o meio ambiente?


Os autores dizem que a definição presente na lei esta muito voltada a
uma dimensão de meio ambiente natural. O problema é que esta não seria a
única dimensão da matéria ambiental, em outras palavras podemos dizer que
esta definição é uma dimensão limitada. Os autores indicam que existe o
chamado meio ambiente artificial, o meio ambiente cultural, e o meio ambiente
do trabalho. Essas seriam as três outras principais dimensões do meio
ambiente.

• MEIO AMBIENTE ARTIFICIAL: o meio ambiente artificial designa toda a


preocupação com o ordenamento urbano. Essa preocupação existe
porque hoje a realidade é que a maioria das pessoas vive na cidade.
Sentiu-se a necessidade, portanto, que criemos regras para permitir que
as pessoas que vivem nas cidades tenham uma melhor qualidade de
vida. A própria Constituição Federal quando trata da exigência do plano
diretor, que é um dever que determinados municípios tem, procura
organizar as cidades. Outro exemplo é o Estatuto das Cidades, que
também procura criar mecanismos de gestão urbana, como o estudo de
impacto de vizinhança (professor da o exemplo da construção de um
shopping). Alguns autores defendem que o direito urbanístico seria um
direito preocupado em enfrentar os mecanismos de gestão urbana.
• MEIO AMBIENTE CULTURAL: o meio ambiente cultural procura cuidar
das criações humanas que tem relevância cultural, sejam elas materiais
ou imateriais. Por exemplo, obras de artes, estátuas, edifícios históricos,
folclore, danças típicas, religiões, a musica, etc. São todas as
manifestações que possuem relevância para a identidade e a memória
do povo. A Constituição Federal em seus artigos 215 e 216, tutela,
basicamente, os chamados direitos culturais e o patrimônio cultural
(como por exemplo, o direito a meia entrada). A lei ambiental não
protege todos os tipos de manifestações culturais. Um exemplo disso é o
crime de balonismo, ou o caso do grafite e da pichação, ainda que
muitas pessoas entendam que a pichação e o grafite são manifestações
culturais. Juridicamente a lei de crimes ambientais prescreve também
um tipo penal para a pichação e o grafite, ressalvando que é possível
existir grafite desde que com autorização prévia. Entende-se, portanto,
que existe a necessidade do ordenamento proteger e fomentar o meio
ambiente artístico, mas que essa proteção não impossibilita a criação de
restrições. *O tombamento é um instituto de preservação do meio
ambiente cultural.

Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos


culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e
incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.
§ 1º O Estado protegerá as manifestações das culturas populares,
indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do
processo civilizatório nacional.
§ 2º A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta
significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais.
§ 3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração
plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do País e à
integração das ações do poder público que conduzem à:
I - defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro;
II - produção, promoção e difusão de bens culturais;
III - formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em
suas múltiplas dimensões;
IV - democratização do acesso aos bens de cultura;
V - valorização da diversidade étnica e regional.

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de


natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em
conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória
dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais
se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços
destinados às manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico,
artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
§ 1º O poder público, com a colaboração da comunidade, promoverá
e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários,
registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras
formas de acautelamento e preservação.
§ 2º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da
documentação governamental e as providências para franquear sua
consulta a quantos dela necessitem.
§ 3º A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento
de bens e valores culturais.
§ 4º Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na
forma da lei.
§ 5º Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de
reminiscências históricas dos antigos quilombos.

• MEIO AMBIENTE DO TRABALHO: o meio ambiente do trabalho


desrespeito a todas as regras que visam garantir ao empregado
melhores condições no ambiente em que realiza suas funções. Um
exemplo disso são as regras de segurança do trabalho.
É importante salientar, que o próprio Supremo Tribunal Federal, na ADI
3540, reconhece que a definição de meio ambiente não é só a definição de
meio ambiente natural.
(pegar o início com a Letícia)

É importante tentarmos lembrar de dois biomas que não estão nessa


lista, que são a caatinga e o serrado. O serrado é um dos biomas com mais
diversidade biológica, tem associação direta com as principais bacias
hidrográficas do planeta, mas é um dos mais degradados.
Antes de tratarmos do aspecto relacionado a expressão “patrimônio
nacional”, não podemos esquecer que a natureza jurídica do meio ambiente é
bem difuso, não de bem público. Ser patrimônio nacional significa dizer que o
estado deve dar uma atenção diferenciada em termos de proteção para essas
áreas, que seriam um pouco mais sensíveis. Não significa dizer que essas
áreas se tornam bens públicos. Tanto é assim, que os crimes ambientais
dentro desses biomas serão julgados pela Justiça Comum.

NATUREZA JURÍDICA
Quando a Constituição fala em bens de uso comum do povo, devemos
fazer a leitura do dispositivo utilizando a concepção de que o meio ambiente
tem natureza difusa.
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.
§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do
Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio
nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de
condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive
quanto ao uso dos recursos naturais.

Por conta disso, quando o artigo fala em patrimônio nacional, não quer
dizer que esses biomas listados se tornam bens da União, considerando que
essa mentalidade já foi quebrada quando tratamos da natureza jurídica do bem
ambiental.
Quando estudamos a classificação dos bens em Direito Civil (móveis,
imóveis, consumíveis etc.), existe uma divisão, que vem lá do Direito Romano,
entre bens públicos e bens privados. A primeira espécie de bem público que
aparece no art. 99 do CC é o bem de uso comum do povo.
A definição de bem público está explicitada no art. 99 do CC “os bens do
domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno”.
Assim, com base no art.98, os bens de uso comum do povo são aqueles que
pertencem à União, aos Estados, ao DF e aos Municípios.
O ar que respiramos é um bem ambiental? Sim. Ele é de propriedade do
Município do Rio de Janeiro? Não. Portanto, a doutrina ambiental preconiza
que, na verdade, o meio ambiente não é um bem público, é um bem difuso, de
uso coletivo, visto que não pertence ao Estado, e sim à sociedade. Embora a
CF utilize a expressão “bem de uso comum do povo”, ela não deve ser
interpretada como um bem público, e sim como um bem difuso, coletivo, cujos
titulares somos todos nós, a sociedade.
O bem difuso se apresenta com uma categoria intermediária entre o bem
público e o bem privado. Sua titularidade é diferente das outras duas
classificações. Cada um de nós é “dono por inteiro” da qualidade ambiental. O
Estado é tão somente um gestor público de um bem que é da sociedade.

INTERESSES COLETIVOS
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das
vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título
coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste
código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam
titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos
deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja
titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com
a parte contrária por uma relação jurídica base;
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos
os decorrentes de origem comum.

Ao falamos em interesse coletivo, devemos observar se estamos


tratando do gênero ou da espécie.

INTERESSE GRUPO* OBJETO DA ORIGEM***


PRETENSÃO**
DIFUSOS INDETERMINADO INDIVISÍVEL FATO

COLETIVOS DETERMINADO INDIVISÍVEL RELAÇÃO


JURÍDICA

INDIVIDUAIS DETERMINADO DIVISÍVEL FATO

HOMOGÊNEOS

• Grupo: Determinado ou Indeterminado (observar se é ou não possível


identificar individualmente os que compõem o grupo).
• Objeto da pretensão: Divisível ou Indivisível
• Origem: investiga se na origem do problema esse grupo de pessoas
possui vinculo jurídico ou uma circunstância de fato.

O art.81, parágrafo único, I, CDC, ao trazer a expressão


“Transindividual”, determina que os direitos ali elencados vão para além do
individual, ou seja, tratam-se de direitos coletivos.
O CDC busca defender, proteger a parte mais vulnerável na relação de
consumo, e uma das formas de defender o consumidor, é defendê-lo de
propagandas enganosas e propagandas abusivas (Art.37, CDC). Propaganda
enganosa é uma propaganda que ilude o consumidor, tanto pela qualidade,
como pela quantidade.
Imagine a seguinte situação: na década de 90, a Fanta Laranja vinculava
uma propaganda, que no final do reclame, dizia "Beba Fanta Laranja, sinta o
verdadeiro sabor da laranja". O direito se vale do homem médio, e o homem
médio não somos nós, que felizmente, somos uma minoria, e não seríamos
enganados com uma propaganda como essa. De acordo com o professor, o
homem médio é o Homer Simpson, é um cara com pouco acesso a informação
e mais vulnerável a algumas situações.
Outra modalidade de propaganda vedada é a propaganda abusiva, que
veicula a mensagem publicitária com algo que atente contra os valores sociais.
A Devassa (marca de cerveja) volta e meia é condenada por propaganda
abusiva. O caso mais teratológico da Devassa foi o da cerveja preta, onde
colocaram a foto da garrafa da cerveja preta e ao lado a foto de uma mulher
negra, com os dizeres "É pelo corpo que se reconhece a verdadeira negra". A
primeira coisa a ser observada, é que associar a imagem de mulher à bebida,
hoje é um pouco absurdo. Essa propaganda veicula um valor moralmente
condenável.
(INTERESSES DIFUSOS) Imagine a seguinte situação: foi veiculada na
televisão uma propaganda enganosa ou abusiva. Houve um grupo de pessoas
que sofreram um impacto dessa propaganda? Sim, um grupo indeterminado.
Uma das pretensões básicas e imediatas é acabar com a propaganda. Eu
posso parar a propaganda para um e para outro não? Não, não é possível
fracionar o objeto da pretensão, o objeto é indivisível. Na origem, essas
pessoas têm vinculo jurídico entre si? Não, são pessoas que não se conhecem,
há apenas uma relação de fato.
(INTERESSES COLETIVOS) O dano ambiental tipicamente é um dano
que afeta também o interesse difuso. Quando uma mineradora polui
ilicitamente as águas de um rio, o dano ambientalmente repercute em quem?
Todo mundo, indiretamente, em maior ou menor medida será afetado pela
perda de qualidade ambiental. É um grupo indeterminado de pessoas.
Quando ocorre o dano ambiental, queremos impor que o causador desse
problema restaure o problema, e essa pretensão é indivisível. Ainda, dizemos
que não há vínculo jurídico anterior, por tratar-se de um grupo
indeterminado. Este vínculo se dá na divisão do grupo e na origem deste
grupo.
Imagine que eu seja um bom vendedor de automóveis e convença vocês
a sair da aula e assinar um contrato de consórcio. Horas depois, alguns de
vocês me ligam e dizem que no contrato havia uma cláusula abusiva,
altamente prejudicial. O que podemos fazer em uma situação como esta?
Ingressar em juízo, para pretender que o poder judiciário declarasse a nulidade
dessa clausula abusiva. Este é um problema que envolve um interesse de
pessoas (coletivo), determinável (é possível identificar individualmente
cada um do grupo, através dos contratos assinados) e há uma relação
jurídica anterior.
O exemplo mais plausível é o nível de insalubridade no meio ambiente
de trabalho, vez que essa categoria profissional esta sendo afetada
ambientalmente no exercício daquela função.
Interesses Individuais Homogêneos - Não parece esquisito esse
nome? Não estamos falando de interesse coletivo? Não parece certo
contrassenso? Realmente tem esse problema. Estou chamando atenção para o
fato de que a ultima categoria é de interesse individual. O direito permite que
essas pessoas que individualmente tenham interesses individuais muito
parecidos com as outras, possam usar a tutela coletiva, que trás algumas
vantagens a tutela meramente individual. Se abrirmos a lei de ação civil
pública, vamos verificar que ela traz uma vantagem muito boa, que é a
vantagem de não condenação a verbas sucumbenciais. O interesse individual
homogêneo é esse interesse individual semelhante, que permite o uso da tutela
coletiva.
O interesse individual é determinado, divisível e na origem, é uma
origem de fato.
Se abandonarmos a coluna da origem, com as duas outras colunas do
grupo e da origem, nos permite analisar a diferença entre cada uma dessas
categorias.
O professor da o exemplo do Fiat Tipo, que entrava em combustão
sozinho. Em casos como esse, o CDC prevê o instituto do recall. Nesse caso
do Fiat Tipo, a Fiat não fez o recall, e infelizmente, alguns acidentes
aconteceram, possibilitando que e os proprietários fossem, individualmente, ao
judiciário pretendendo se compensarem do prejuízo - valor equivalente ao
conserto do carro, ou a perda de valor de mercado do veiculo. Contudo, há a
hipótese de que os proprietários lancem mão da tutela coletiva.
Outro exemplo é o caso da Samarco. Quando houve o derramamento de
lama, houve um dano difuso, e, além desse aspecto, não existiam pessoas que
viviam ali, que tiveram suas casas soterradas? O dano ambiental afeta
difusamente a coletividade, mas pode também causar um dano individual a
essas pessoas.

CONCEITOS IMPORTANTES

Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:


I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e
interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e
rege a vida em todas as suas formas;
II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das
características do meio ambiente;
III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de
atividades que direta ou indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões
ambientais estabelecidos;
IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,
responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de
degradação ambiental;
V - recursos ambientais, a atmosfera, as águas interiores, superficiais
e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo e os
elementos da biosfera.
V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais
e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os
elementos da biosfera, a fauna e a flora.

• DEGRADAÇÃO DO MEIO AMBIENTE (Inciso II): entende-se por


degradação do meio ambiente toda alteração prejudicial da qualidade
ambiental. Degradação é um gênero, e poluição é uma espécie de
degradação.
• POLUIÇÃO (Inciso III): A poluição é a degradação causada pelo
homem, fruto de conduta humana. Por exemplo, cai um raio em uma
floresta e pega fogo. Houve degradação ambiental? Sim. Houve
poluição? Não. Contudo, se alguém vai até essa floresta, joga um
cigarro, e este cigarro é o causador do incêndio, há degradação
ambiental e poluição.
• POLUIDOR (Inciso IV): poluidor é toda pessoa física ou jurídica de
direito publico ou de direito privado, responsável direta ou indiretamente
por dano ambiental. Quem é o responsável indireto? É aquele que
indiretamente colabora para o dano ambiental.
• RECURSOS NATURAIS (Inciso V): São a atmosfera, as águas, os
estuários, o mar territorial (...). São os elementos naturais que compõe o
meio ambiente.

ÉTICA AMBIENTAL
A Ética é um ramo da filosofia. Alguns preferem a denominação Filosofia
Moral. O radical grego éthos significa comportamento, e se assemelha muito à
palavra latina moral, que também significa comportamento. Nós as utilizamos
muitas vezes para distinguir o certo do errado, o adequado do inadequado.
Todavia, no campo acadêmico, alguns autores procuram traçar uma distinção
entre o campo da ética e o da moral.
A moral seria uma “fotografia” do comportamento social. Ela procura
investigar e constatar como as pessoas se comportam de fato. Tem um sentido
eminentemente descritivo de comportamentos. Regras de etiqueta social são
um exemplo de normas de moralidade (ir nu para a sala de aula viola uma
expectativa moral). A aceitação da escravidão nos séculos passados era uma
questão moral, era a forma como agíamos.
Os dilemas morais, dilemas de ética, são dilemas de difícil solução.
Haverá algumas perguntas que são muito relevantes para a ética e outras nem
tanto.
A ética sempre foi pensada desde os gregos como algo que se dizia
respeito do comportamento do homem com outro homem. O comportamento
humano também pode afetar de maneira relevante, outros seres, outros entes.
Ha limites éticos o que a gente pode fazer ou deixar de fazer.
Já a ética não se compromete apenas com uma descrição de
comportamentos. Ela pretende avaliar racionalmente esses comportamentos,
para investigar se eles tem bom fundamento ou não. A ética examina, sob uma
fundamentação racional, se a escravidão humana, por exemplo, possui bons
fundamentos para existir. A ética, tal como o Direito, é um “dever ser”.
A ética vai postular a existência de valores objetivos que vão informar a
sociedade humana universalmente, como um todo. Isso gera uma certa
perplexidade, porque é muito claro as sociedades humanas variam de
comportamento. Mas será que elas variam de valor? Os gregos enterravam
seus mortos em sinal de respeito, enquanto, pelo mesmo motivo, os
calassianos os comiam.
Caso do bonde desgovernado. Imagine uma situação em que temos
uma linha de trem, e por alguma razão, você saiba que ele está desgovernado.
Você é um espectador que sabe que o bonde está desgovernado, e que
existem 5 pessoas inocentes, que estão amarradas no trilho do trem. Diante de
você, há uma única alternativa, que é acionar uma alavanca, que desloca o
trem para uma via secundaria, um outro trilho. Contudo, nessa outra via, temos
uma pessoa amarrada no trilho do trem. As opções são: não fazer nada ou
acionar a alavanca e salvar o maior número de vidas humanas inocentes.
A conduta moralmente correta é aquele que maximiza a felicidade, de
acordo com o raciocínio utilitário, consequencialista. Esse filósofos são
reformistas sociais, são todos ingleses, na sua grande maioria.
O professor modifica o exemplo, retira a possibilidade de acionar a
alavanca, e coloca um cara gordinho, que, se jogado no trilho, impedirá a morte
dos 5 amarrados no trilho. Nesse caso, a maioria das pessoas da sala
responderam que não sacrificariam o gordinho, se aproximando do
pensamento deontológico.
ADI4983/CE procurou analisar a constitucionalidade da Lei 15.299/CE,
uma lei estadual que regulamentava a vaquejada como prática desportiva e
cultural. Uma peculiaridade é que Associação Brasileira de Vaquejada pediu
para ser ouvida como amicus curiae. A vaquejada é uma atividade cultural do
Nordeste brasileiro, onde dois participantes, a cavalo, correm atrás de um boi
em disparada. Os participantes devem tracionar o rabo do boi, para que ele
caia dentro de uma área específica, a depender da pontuação. Lesões graves
aos animais são comuns, visto que os mesmos são derrubados violentamente,
e que o rabo é uma extensão da coluna vertebral.
A ADI procurou questionar uma lei do estado do Ceara, que
regulamentava a prática da vaquejada. De acordo com o procurador geral, a lei
violava a previsão do Art.225, §1º, VII, CP – que preconiza que incumbe ao
Poder Público, para assegurar a efetividade do direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da
lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a
extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade.
Crueldade é um conceito jurídico indeterminado, mas os tribunais tem
entendido que crueldade significa a imposição de um sofrimento
desnecessário, sem razão, sem justificativa para existir. Por outro lado, a
mesma constituição protege um outro valor, que é o valor da manifestação
cultural, há uma tutela do patrimônio cultural.
Haveria, portanto, na vaquejada, um confronto entre essas duas
previsões, porque a vaquejada é uma manifestação cultural, e por outro lado,
há a preocupação com a lesão aos animais. Existiria um obstáculo
constitucional a prática da vaquejada? O STF decidiu esse caso, e foi um caso
muito aflitivo, porque a decisão final foi de 6 a 5. O último voto foi da Ministra
Carmem Lucia, que decidiu contra a vaquejada, sob o argumento que nesse
conflito de valores, deveria prevalecer a proteção dos animais contra a
crueldade.
Um julgamento de mérito em sede de controle concentrado, projeta em
princípio, efeito contra terceiros. Evidentemente, que o legislativo não fica
vinculado a questão.
Houve um efeito na bancada ruralista - atrelada ao agronegócio-, que se
manifestou por conta do inconformismo após a ADI, e propôs a Emenda
Constitucional 96, de 2017, a qual inseriu o §7º ao artigo 225, que diz que a
vaquejada não se enquadra como uma prática cruel vedada pelo §1º, VII. “Se o
STF tá dizendo que prática é inconstitucional, é simples de resolver: alteramos
a Constituição”.
Este é um caso de ativismo legislativo, que ocorre quando o Poder
Legislativo quer contornar uma decisão judicial. Foi a Proposta de Emenda
Constitucional que tramitou mais rápido na história do país. Em função disso, já
foi proposta no STF uma ADI contra a EC 96.
Existe um fenômeno hoje no direito constitucional, que é o chamado
ativismo legislativo, que é uma reação do legislativo a uma decisão judicial.
Propuseram então uma PEC, que modificaria o texto da constituição brasileira,
inserindo um novo parágrafo no art.225. Essa PEC foi aprovada em tempo
recorde, e passou a dizer (EC 96/17) que se uma prática, uma atividade for
considerada patrimônio cultural, ela fica fora do alcance do art. 225, par.1, VII,
CF.
A decisão de mérito (procedência ou improcedência) no caso de uma
ADI, no chamado controle concentrado de constitucionalidade, gera um
primeiro grande efeito, que o efeito retroativo temporal. Quando o STF decide
pela procedência de uma ADI, aquela norma é tida como inconstitucional desde
a sua origem (ex tunc). Outro grande efeito dessa decisão é que ela afetará,
em princípio, a todos (erga omnes).
Em relação aos efeitos contra todos, existem duas correntes doutrinárias
que analisam o tema. Para a corrente majoritária, só a parte dispositiva da
decisão vincula terceiros. Para a corrente minoritária, toda a decisão vai gerar
efeitos contra terceiros, todos os fundamentos de fato e de direito que
permitiram aquela conclusão.
A consequência prática é que, partindo da primeira visão, somente a Lei
“X” é inconstitucional, mas, partindo da segunda visão, com base nos
fundamentos da decisão, outras leis que se enquadram naquela discussão
estariam maculadas pelo mesmo vício.
Outra peculiaridade neste caso da ADI 4983 é que, logo após a decisão
do STF, por conta da pressão de setores envolvidos com a prática da
vaquejada (consideremos que esta “atração” gera bastante lucro), a bancada
ruralista do Congresso Nacional,
Já tramitam duas ADI's contra a Emenda. O principal argumento é o de
que se está esvaziando a previsão constitucional. O STF quando decidiu contra
a vaquejada, entendeu que o caso trazia um debate principiológica, utilizando-
se da técnica de ponderação. De acordo com o professor, esse caso não é um
caso resolvível por meio de ponderação, seja para delimitar que prepondera o
valor de proteção aos animais, seja pela manutenção da vaquejada.
Porque, o art.225, par.1, VII, CF, é uma regra. Embora crueldade seja
um conceito jurídico indeterminado, isso se torna uma regra, uma mandamento
proibitivo expresso. Nas palavras do professor o melhor método de solução
para esse problema é a subsunção de fato a regra. O fato se amolda a regra ou
não se amolda? Qual o fato? A vaquejada. A vaquejada é cruel ou não é cruel?
Ainda, de acordo com o professor, a maioria dos ministros não fez uso
dos precedentes da própria corte, e existe uma rega no Novo CPC que diz o
seguinte: se a parte submete a corte um caso e pede que esse caso seja
julgado de acordo com os precedentes da própria corte, que, nesse caso,
deverá fazer um juízo de semelhança. Por conta disso, o STF deveria justificar
o porquê as regras das decisões da farra do boi e dos casos da rinha de galo,
se aplicam ou não ao caso da vaquejada.
Além disso, o STF poderia ter decido a questão de uma maneira muito
mais simples, utilizando o art. 489, §1º, do CPC/15, que estabelece que
quando a parte invoca a se favor um precedente da Corte, a Corte é obrigada a
dizer as razões pelas quais entende que os precedentes devem ser aplicados
ou não aquele caso. No passado, o STF já havia julgado casos semelhantes
(farra do boi, rinha de galo) e o MPF invocou esses precedentes em que o STF
julgou tais práticas inconstitucionais. Contudo, neste caso, o STF ignorou o
dispositivo do CPC e não ouviu o MPF.
O tema do uso cultural de animais é bastante complicado. É difícil
estabelecermos essa linha de até onde podemos ir. Por exemplo, a vedação de
sacrifícios humanos, do uso de drogas que facilitam um estado de transe, a
restrição da poluição sonora de alguns templos em horários impróprios. E a
questão animal se enquadra exatamente aí.

PRINCÍPIOS QUE ORIENTAM O DIREITO AMBIENTAL


Não há ainda uma uniformidade entre os autores sobre quais são os
princípios que regem o Direito Ambiental, contudo, vamos conhecer os
principais:
1. FUNDAMENTALIDADE DA TUTELA DO MEIO AMBIENTE: Direito
ambiental, é na verdade, direito humano. A tutela ambiental, na verdade,
é um direito fundamental, ainda que não esteja previsto no rol de direitos
ambientais.
Aparece no próprio caput do art. 225 da CF “todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida (...)”. Eu protejo o meio ambiente
para garantir a qualidade de vida das pessoas. Imaginemos, por
exemplo, as condições de existência das pessoas que moram nos
arredores de um lixão.
Art.2, Lei 6938/81. Esse dispositivo trás o grande dispositivo da
chamada política nacional do meio ambiente, que alem de proteger o meio
ambiente, também busca um meio ambiente saudável
Na ADI 3540, entre muitas coisas, o STF disse que a tutela ambiental é
um direito humano de 3ª geração. A 3ª geração compreende os direitos
humanos de titularidade coletiva, os direitos difusos (meio ambiente, direitos do
consumidor).
VALOR DOS TRATADOS INTERNACIONAIS
A constituição federal, no art.5º, parágrafo 3º, vai passar a tratar, a partir
de 2004 (EC 45/04), de um valor especial para os tratados de direitos
humanos. Nesse sentido:
Art.5º,§ 3º, CF. Os tratados e convenções internacionais sobre direitos
humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em
dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão
equivalentes às emendas constitucionais.

Sendo o direito ambiental um direito humano. Por conta disso, um


tratado de matéria ambiental, sendo o Brasil signatário, é um tratado de direitos
humanos.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem
outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos
tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

Existe, desde 88, no art.5, o parágrafo 2, que nos diz que os direitos e
garantias fundamentais estabelecidos pelo legislador nãoe excluem outros
decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. Isso dá uma
ideia de que o Brasil pode assinar os tratados que achar conveniente. Além
disso, o artigo nos dá a perspectiva de que os direitos fundamentais não são
apenas os previstos na Constituição, sem excluir aquele que podem ser
trazidos por via de tratados. A leitura desse dispositivo nos permite entender
que os tratados internacionais de direitos humanos deveriam ingressar no
nosso ordenamento com força constitucional.
Um dos problemas, é que a nossa CF tem duas características:
• Formal;
• Rígida (significa dizer, que a nossa constituição, em tese,
estabelece um procedimento especial para que seu texto seja
modificado).
Dessa forma, admitir que os tratados de direito internacional ingressem
no Ordenamento Jurídico sem qualquer procedimento especial, seria como
"quebrar" essa lógica da rigidez. Com base nesse questionamento, o STF
consolidou uma posição, segundo a qual, esses tratados internacionais de
direitos humanos deveriam gozar de forca supralegal. A supralegalidade é um
espaço que fica entre a norma Constitucional e a Lei Ordinária.
Em 2004, a nossa CF foi emendada, e tivemos a edição da EC/45, e no
bojo dessa emenda, inserimos um novo parágrafo a esse artigo, que foi o
parágrafo 3º. Tal parágrafo irá versar sobre a forma especial de incorporação
(3/5 em 2 turnos nas duas casas - Câmara dos Deputados e Senado Federal),
em que o tratado passará a ter forca constitucional. Em 2007 tivemos a
internalização e a aprovação de um tratado de direitos humanos, que versava
sobre as pessoas com Deficiência.
Até o momento, nenhum tratado de direito ambiental foi internalizado
dessa forma, tendo, portanto, força supralegal.
2. PRINCÍPIO DA NATUREZA PÚBLICA DA PROTEÇÃO AMBIENTAL:
Também pode ser colhido da leitura do Art.225, caput, CF. Há uma
imposição ao poder publico de defesa do meio ambiente, ou seja, tem
um compromisso de efetivar políticas públicas e leis que visem melhorar
a qualidade ambiental. Não devemos confundir com a natureza jurídica
do meio ambiente, que tem natureza de bem difuso, não de bem publico.

3. IMPRESCRITIBILIDADE DO DANO AMBIENTAL: O cerne da


discussão desrespeito ao instituto da prescrição. Todo mundo sabe, que
a prescrição trabalha com um valor importante para o direito, que é o
valor da segurança jurídica/estabilidade das relações jurídicas. O direito,
em princípio, vai impor um prazo para que a vítima do dano possa
resolver as situações lesivas.
Nesse sentido: “Art. 189 - Violado o direito, nasce para o titular a
pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os
arts. 205 e 206”. Esse artigo traz os elementos centrais que compõe o instituto
da prescrição. Violado o direito, quando alguém pratica um ato ilícito, nasce
uma pretensão que se estingue com o tempo.
A prescrição, então, representaria a extinção pelo decurso do tempo.
Art. 206. Prescreve:
§ 1o Em um ano:
I - a pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de víveres destinados a
consumo no próprio estabelecimento, para o pagamento da hospedagem ou
dos alimentos;
II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele,
contado o prazo:
a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em
que é citado para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro
prejudicado, ou da data que a este indeniza, com a anuência do segurador;
b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão;
III - a pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça, serventuários judiciais,
árbitros e peritos, pela percepção de emolumentos, custas e honorários;
IV - a pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens que entraram
para a formação do capital de sociedade anônima, contado da publicação
da ata da assembléia que aprovar o laudo;
V - a pretensão dos credores não pagos contra os sócios ou acionistas e os
liquidantes, contado o prazo da publicação da ata de encerramento da
liquidação da sociedade.
§ 2o Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir
da data em que se vencerem.
§ 3o Em três anos:
I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos;
II - a pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias ou
vitalícias;
III - a pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações
acessórias, pagáveis, em períodos não maiores de um ano, com
capitalização ou sem ela;
IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa;
V - a pretensão de reparação civil;
VI - a pretensão de restituição dos lucros ou dividendos recebidos de má-fé,
correndo o prazo da data em que foi deliberada a distribuição;
VII - a pretensão contra as pessoas em seguida indicadas por violação da
lei ou do estatuto, contado o prazo:
a) para os fundadores, da publicação dos atos constitutivos da sociedade
anônima;
b) para os administradores, ou fiscais, da apresentação, aos sócios, do
balanço referente ao exercício em que a violação tenha sido praticada, ou
da reunião ou assembléia geral que dela deva tomar conhecimento;
c) para os liquidantes, da primeira assembléia semestral posterior à
violação;
VIII - a pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do
vencimento, ressalvadas as disposições de lei especial;
IX - a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro
prejudicado, no caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório.
§ 4o Em quatro anos, a pretensão relativa à tutela, a contar da data da
aprovação das contas.
§ 5o Em cinco anos:
I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento
público ou particular;
II - a pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais,
curadores e professores pelos seus honorários, contado o prazo da
conclusão dos serviços, da cessação dos respectivos contratos ou mandato;
III - a pretensão do vencedor para haver do vencido o que despendeu em
juízo.
No caso ambiental, quando por exemplo uma empresa laca um material
contaminante no rio. Violou o direito? Violou. Surge uma pretensão? Surge.
Qual é a vítima? A sociedade. A sociedade tem representantes para
ingressar essa ação? Sim, o MP. Incide prescrição?

Dano imprescritível - Justificativas:


Os defensores desta tese dizem que prescrição é instituto de direito
privado. É correto dizer isso? A prescrição não se aplicaria ao direito público?
De acordo com o professor, essa afirmativa é uma meia verdade, porque
historicamente a prescrição nasce no direito privado, mas com o tempo ela se
"desgarra dessa mãe” e vai sendo operacionalizada pelo direito público, como
por exemplo, no direito penal. Esse argumento esta superado.
Um dos elementos essenciais do instituto da prescrição é o tempo.
Afirma-se que a legislação ambiental não traz prazo prescricional, como faz o
código civil. Haveria uma carência da fixação do prazo, e isso prejudicaria o
instituto da prescrição. Esse argumento é superado, por conta da analogia
possível com os prazos da legislação penal e da legislação civil.
O terceiro argumento trás um outro problema, que é a contagem do
prazo, por conta, principalmente do termo inicial da contagem do prazo. Porque
o dano ambiental, normalmente é um dano que se projeta no tempo e no
espaço. Por conta disso, alguns autores vão dizer que de nada adianta
estabelecer prazos para a legislação ambiental, pois a todo momento o termo
inicial se renova, porque o dano vai se renovando a todo segundo. Esse
argumento, faticamente, parece um argumento interessante, mas, a apesar
disso, é possível identificar o termo inicial, o momento inicial do dano. No
exemplo da Samarco, conseguimos estabelecer como termo inicial o momento
do desabamento da barragem.
O quarto argumento vai trabalhar com outro elemento da prescrição, que
é o elemento da inércia. Para que a prescrição ocorra, a vitima não pode
exercer a pretensão. No caso do dano ambiental, a vitima é a sociedade. Como
podemos medir a inércia da sociedade? É impossível medir a inércia do titular
do bem jurídico violado no dano jurídico ambiental. Reconhecendo isso, a lei
legitima órgãos para a legitimação extraordinária, (ingressa em nome próprio
defendendo direito alheio) que é caso, por exemplo, do MP. A inércia, nesse
caso, seria a inércia dos representantes da sociedade.
O quinto argumento faz uma analogia com o Art.37, parágrafo 5, CF-
trata das ações de ressarcimento por danos causados ao erário público. as
ações de ressarcimento por danos causados o erário publico são
imprescritíveis. Sendo o dano ambiental muito próximo ao dano do erário
publico, as ações de ressarcimento de dano ambiental também são
imprescritíveis. A crítica a ser feita a esse argumento esta centrada na natureza
jurídica do meio ambiente.
Por fim, o sexto argumento estabelece uma conexão entre matéria
ambiental e matéria de direitos humanos. Na teoria geral dos direitos humanos,
ha uma tese de que os direitos humanos são imprescritíveis. Ha uma tese de
que as graves lesões as direitos humanos são imprescritíveis. Dessa forma, um
homicídio simples, por exemplo, ainda que configure uma violação a direito
humano, se comparado ao genocídio, seria uma lesão menos grave.
Dano Prescritível - Contrapontos:
De fato, a prescrição foi pensada, inicialmente, no âmbito do direito
privado, entretanto, hoje em dia podemos ver sua aplicação no direito público,
por exemplo, no Direito Penal, Tributário, Administrativo. Por que não no Direito
Ambiental? Não há um impedimento teórico que vede a aplicação deste
instituto para além do direito privado.
As ações de ressarcimento por danos ambientais, a princípio, têm
natureza cível. Tanto é assim, que a principal ação é a ação civil pública.
Embora não haja prazo específico de prescrição na legislação ambiental, por
analogia, já que a natureza é cível, podemos buscar esses prazos na
legislação civil. Então, qual vai ser esse prazo?
Existe uma corrente que vai dizer que esse prazo é um prazo de 3 anos,
que é o prazo de reparação civil fixado pelo Código Civil. Outros vão dizer que
o prazo é de 5 anos, por uma analogia com o Art.27, CDC. Por fim, há uma
corrente que defende que o prazo é de 10 anos, por conta do prazo geral. Tem
havido uma simpatia por essa ultima corrente, por ser mais benéfico a vítima.
Em relação a inércia da sociedade, está pode ser medida, já que
legislação prevê que determinadas pessoas estejam autorizadas para falar em
nome da sociedade (Ministério Público, Defensoria Pública, ONGs,
Administração Direta, Administração Indireta). Estas pessoas estariam
legitimadas para defender o meio ambiente em juízo, sendo possível a aferição
da inércia da sociedade.
Por fim, o dano ambiental projeta, sim, efeitos no tempo, mas é possível,
através de uma perícia, identificar o termo inicial, o momento que o dano
começou, o primeiro dia que o agente poluiu. O prazo deve ser contado deste
momento, ou, quando muito, do conhecimento do fato poluidor/degradador.
O STJ, em várias ocasiões, decidiu no seguinte sentido: fez uma
distinção entre duas situações envolvendo dano ambiental. Vai dizer que existe
o dano ambiental que repercute difusamente, e o dano ambiental que repercute
individualmente. No exemplo da Samarco, quando a barragem se rompeu,
esse dano teve repercussão difusa. A despeito dessa realidade, haviam
pessoas que moravam embaixo da represa, e a lama invadiu a casa dessas
pessoas. Esse dano é dano difuso? Não, é um dano ambiental repercutindo
também individualmente.
O STJ disse que o dano ambiental difuso é imprescritível, mas em
relação ao dano individual, entendeu que é prescritível.

4. VEDAÇÃO DE RETROCESSO AMBIENTAL: Essa tese não é uma tese


de direito ambiental. Novamente o direito ambiental vai beber da fonte
dos direitos humanos, na teoria da vedação de retrocesso social. Essa
ideia, em resumo, vai postular que, uma vez conquistados e garantidos
determinados direitos, esses direitos não poderiam ser suprimidos ou
alterados para pior. A única possibilidade seria ampliar esses direitos,
mas nunca diminuir o alcance da proteção estabelecida, como as
clausulas pétreas (cláusula gravada na pedra), por exemplo.
Essa ideia encontra fundamento legal em duas vertentes:
• Pacto de São José da Costa Rica - Convenção Americana dos
Direitos Humanos - art. 26 - ideia de garantir os direitos
fundamentais de maneira progressiva, ampliativa, nunca no
sentido de retrocesso.
• Lei 6938/81, art. 2º - objetivos da política nacional do meio
ambiente - dentre eles, há o objetivo de melhoria da proteção
ambiental.
Quando a CF estabelece a idade penal em 18 anos, isso é uma garantia
para o cidadão. A garantia de que, antes dos 18 anos, o fato ilícito praticado
por ele não será nunca crime. É, portanto, uma garantia fundamental. Existe,
então, um debate de que a alteração da idade penal seria uma violação a esse
principio.
Quanto à questão ambiental, recentemente, o Código Florestal foi
alterado, em 2012, e o STF julgou varias ações diretas de
inconstitucionalidade, que argumentava, em tese que o novo código florestal
era inconstitucional, porque havia um retrocesso ambiental. Em relação à
vaquejada, muitos defendem que, quando a constituição é alterada para
permitir que práticas culturais possam ser cruéis, essas alterações são
inconstitucionais, por violar o principio da vedação de retrocesso ambiental.

5. PRINCIPIO DO IN DUBIO PRO NATURA: In dubio pro natura, tem um


viés hermenêutico, um viés normativo, uma dúvida em favor da
natureza. Isso significa dizer que ha um compromisso interpretativo de
realizar uma interpretação sempre mais favorável a natureza.
Há pouco tempo, chegou no STF a questão do uso de fogo para a
supressão de plantação. Existem muitas questões envolvendo as queimadas,
principalmente envolvendo a cana de açúcar. No código florestal há uma
proibição do uso de fogo para suprimir a vegetação. Contudo, havia uma
dúvida se essa proibição se estendia para a vegetação plantada ou se ela se
restringia a vegetação nativa. O STF interpretou amplamente essa restrição, de
acordo com o in dúbio pro natura.

6. PRINCÍPIO DO ACESSO EQUITATIVO AO MEIO AMBIENTE: Art.225,


caput, CF. Todos têm direito ao meio ambiente (...). Será que todos
realmente têm acesso a qualidade ambiental? Ou será que esse acesso
não é distribuído igualmente por todos? Será que ha alguma classe de
pessoas, categoria, que são mais atingidas pelos danos ambientais?
Existem várias correntes ideológicas, e uma delas se chama corrente
da justiça ambiental. Essa corrente tem origem na década de 80, nos EUA,
em um estudo sobre os aterros sanitários. Nessa pesquisa foi constatado que
os lixões são colocados nas regiões periféricas, impondo a um segmento
social, que é mais vulnerável economicamente, a realidade de ter que lidar
diretamente com esse ônus ambiental. Cita ainda, o exemplo do lixo
internacional, momento em que o Brasil importava lixo da Europa.
Outro aspecto importante é a equidade interageracional, ou seja, há
um compromisso da nossa geração para com as gerações futuras. Alguns
autores chegam a dizer que há até mesmo o conceito de racismo ambiental, de
forma metafórica, como uma questão de impor as pessoas mais vulneráveis
uma onerosidade ambiental excessiva.
7. PRINCIPIO DO POLUIDOR PAGADOR: Esse princípio tem um nome
bem ingrato, porque quem nunca estudou pode imaginar que o principio
trata de uma compra do direito de poluir. O principio do poluidor pagador
não representa um pagamento pelo direito de poluir.
Princípio 16. As autoridades nacionais devem procurar promover a
internacionalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos
econômicos, tendo em vista a abordagem segundo a qual o poluidor deve,
em princípio, arcar com o custo da poluição, com a devida atenção ao
interesse público e sem provocar distorções no comércio e nos
investimentos internacionais.

O princípio do poluidor pagador, como alguns autores utilizam, pretende


internalizar as exterioridades negativas - consta do principio 16 da Declaração
do Rio, que foi realizada no período da ECO92. O processo produtivo gera, no
final, coisas boas e coisas ruins, ou seja, externalidades positivas e negativas.
Destrinchando os termos, temos que a palavra “externalidade” se refere a tudo
aquilo que deriva do processo produtivo, que pode gerar (i) externalidades
positivas (trabalho, renda, emprego e o próprio produto final) e (ii)
externalidades negativas (tudo aquilo que é gerado a partir do processo
produtivo e que não é, em princípio, desejado). Um grande exemplo de
externalidade negativa é a própria degradação ambiental.
A degradação ambiental é um exemplo clássico de externalidade
negativa. Idealmente, no mundo “cor de rosa”, não teríamos que viver com a
degradação ambiental, mas ela existe, e, por isso, temos que criar mecanismos
para internalizar essa degradação, no sentido de fazer com que o degradador
assuma os custos sociais e ambientais do seu processo produtivo.
Normalmente, até os autores indicam que as externalidades negativas
representam falhas de mercado, porque dificilmente o preço final do produto
reflete o custo social e ambiental de produção. É uma anomalia no sentido de
não ser capturada pelo preço do produto.
Geralmente a solução mais típica é a solução de "taxação". O Estado -
poder público- permite o exercício do empreendedorismo, mas sem ultrapassar
determinados limites predeterminados. Caso esses limites sejam
ultrapassados, haverá uma sanção econômica. Não é interessante, em
princípio, para o fabricante ficar arcando continuamente com as sanções
econômicas, porque isso vai gerar um efeito no preço final. É como se o Estado
dissesse: “você, poluidor, pode poluir até determinado nível e eu aceito em
nome de gerar renda, gerar aquecimento da economia e atender a demanda da
população sobre determinado serviço. Aceito que você polua até aqui, e se
você, todavia, ultrapassar esse limite que eu fixei, irei te sancionar, impor uma
sanção pecuniária, uma multa”.
A lógica desse sistema é que, quando o empreendedor ultrapassa esse
limite e é multado/sancionado economicamente, como consequência, o custo
produtivo dele aumenta e o preço do produto fica mais caro, repassando o
custo desse aumento ao consumidor que reagirá não comprando o produto e
migrando para outros fabricantes/fornecedores. É uma estratégia que,
indiretamente, acaba fazendo com que o empreendedor não deseje poluir, que
ele tente ficar ao máximo dentro dos limites que o Estado previamente fixa,
tendo em vista que, se ele ultrapassar, o custo produtivo dele aumenta, assim
como o preço do produto, e, normalmente, as pessoas migrarão para outros
fabricantes com preços mais acessíveis.
A solução pública de taxação tem um lado muito produtivo, que é o fato
de tornar o produtor muito ativo na busca de novas soluções tecnológicas que
lhe permitam continuar produzindo sem ultrapassar aquele limite que o Estado
fixou. O lado negativo dessa proposta é que o custo operacional de fiscalização
é muito alto, isso porque o fiscal, por exemplo, tem que ir na fábrica fiscalizar
emissão (medir o nível de poluentes que sai da chaminé), tem que ir fazer
análise bioquímica da água para saber se o limite foi, ou não, ultrapassado etc..
Ou seja, é uma fiscalização muito dispendiosa, e, considerando o nosso
cenário de baixo investimento nos órgãos ambientais, e que, como
consequência, o Estado não dispõe do aparato técnico e de pessoal necessário
para tanto.
Outra forma de tratar a solução pública é mediante a regulação. Aqui o
Estado não cria uma limitação, ele fornece uma “receita de bolo”, ou seja,
estabelece pré-requisitos para exercer determinada atividade atividade. Dessa
forma, o poder publico condiciona aquele empreendedor. A vantagem desse
segundo sistema é a diminuição do custo de fiscalização. O problema dessa
segunda solução é acomodar o empresário, que não vai ficar atento as
inovações tecnológicas.
Não é fácil encontrar os mecanismos que sejam eficazes para fazer com
que o empresário arque com os prejuízos ambientais por ele causados. No
Brasil a gente tem um sistema misto, que aglutina os dois sistemas, mas sem
muita efetividade.
8. PRINCIPIO DO USUÁRIO-PAGADOR: Muitos autores entendem esse
princípio como um “princípio-filhote” do princípio do poluidor-pagador.
Art. 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará:
VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou
indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização
de recursos ambientais com fins econômicos.

Preconiza que quem usa recursos naturais, especialmente para a


finalidade econômica, deve pagar pelo uso desses recursos. O uso do bem
ambiental deve ser um uso remunerado (mediante pagamento), e nunca
gratuito. “O uso deve ser pago” traduz a lógica evidente de que, pagando,
tenderemos a racionalizar o uso.
Se o empreendedor necessita fazer uso da água, por exemplo, e a lei da
Política Nacional dos Usos Hídricos (Lei nº 9433/97) prevê um custo, o que,
tecnicamente faria com que a utilização fosse moderada. O mesmo ocorre com
o uso racional da energia elétrica. Ou seja, esse princípio está interligado a
ideia de racionalizar.

9. PRINCIPIO DO PROTETOR RECEBEDOR: Quem protege o meio


ambiente, quem realiza atividades benéficas ao meio ambiente, em
princípio deve ser estimulado. Nós devemos encontrar para que as
pessoas se sintam estimuladas a proteger o meio ambiente.
Um exemplo muito comum é a ideia de usarmos a extrafiscalidade, ou
seja, usar os tributos na sua função extrafiscal para estimular ou desestimular
determinadas condutas. No caso do meio ambiente, o uso adequado do meio
ambiental poderia ser incentivado a partir de mecanismos tributários e, por
outro lado, o aparato tributário poderia servir para desestimular usos
inadequados.
Exemplo: IPI - Para o estabelecimento da alíquota do IPI, funciona o
princípio da seletividade, de acordo com o qual produtos mais essenciais
devem ter uma alíquota menor e produtos supérfluos devem ter uma alíquota
maior (exemplo do cigarro, que é muito tributado para, em tese, desestimular o
consumo, que gera custo de saúde pública para o Estado/outro exemplo:
alíquota favorecida para quem usufrui de maneira adequada o meio ambiente).
Cita, ainda, o exemplo do IPVA, dizendo que os carros menos poluentes
deveriam ter um favorecimento de alíquota do imposto.

10. PRINCÍPIOS DA PREVENÇÃO E PRECAUÇÃO: Dizem respeito a


antecipação de riscos.
a. Prevenção: desrespeito a antecipação de um risco conhecido, de
um risco real. A humanidade sobre o risco de determinadas
atividades, criando mecanismos de mitigação do risco. O dano
ambiental é de difícil reparação, logo, deve-se evitar seu dano.
Por exemplo, ao construir estradas, deve-se pensar nas
alternativas que afetem menos o meio ambiente
b. Precaução: desrespeito a antecipação de um risco
desconhecido, um risco hipotético, porém, plausível. Muitas vezes
o dano ambiental não consegue ser restaurado, e por conta disso,
o poder público deve fazer de tudo para que ele não ocorra na
prática. Exemplo 1: Transgêneros – há dúvida quanto ao risco
para a saúde humana de alimentos geneticamente modificados. É
plausível. Nesse sentido, a lei de biossegurança exerce controle
sobre a liberação de organismos modificados.
Exemplo 2: Ondas eletromagnéticas – Não há certeza quanto a
geração de problemas de saúde, mas é plausível imaginar que
pode ter. Assim, em alguns Municípios não se pode colocar uma
antena de captação de dados ao lado de hospital.
Na prática, é muito difícil medir os riscos da atividade. A precaução é uma
ideia que esta associada a um cenário de incerteza cientifica, especialmente
associados a novas tecnologias.
DICA: o principio da precaução esta condensado como principio 15 da
Declaração do Rio. Esse artigo coloca que mesmo diante da ausência de
certeza, deve-se tomar precauções. O problema é que o princípio 15 da
declaração do Rio tem uma redação um pouco trancada. In verbis:
Princípio 15. Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da
precaução deverá ser amplamente observado pelos Estados, de acordo
com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou
irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada
como razão para o adiamento de medidas economicamente viáveis para
prevenir a degradação ambiental.
11. PRINCIPIO DA INFORMAÇÃO: A ideia é de que as pessoas devem ter
o mais amplo acesso a informação ambiental. Existe uma lei que regula
o acesso a informação ambiental, lei 10650/03.
Art. 2o Os órgãos e entidades da Administração Pública, direta, indireta e
fundacional, integrantes do Sisnama, ficam obrigados a permitir o acesso
público aos documentos, expedientes e processos administrativos que
tratem de matéria ambiental e a fornecer todas as informações ambientais
que estejam sob sua guarda, em meio escrito, visual, sonoro ou eletrônico,
especialmente as relativas a:
I - qualidade do meio ambiente;
II - políticas, planos e programas potencialmente causadores de impacto
ambiental;
III - resultados de monitoramento e auditoria nos sistemas de controle de
poluição e de atividades potencialmente poluidoras, bem como de planos e
ações de recuperação de áreas degradadas;
IV - acidentes, situações de risco ou de emergência ambientais;
V - emissões de efluentes líquidos e gasosos, e produção de resíduos
sólidos;
VI - substâncias tóxicas e perigosas;
VII - diversidade biológica;
VIII - organismos geneticamente modificados.
§ 1o Qualquer indivíduo, independentemente da comprovação de interesse
específico, terá acesso às informações de que trata esta Lei, mediante
requerimento escrito, no qual assumirá a obrigação de não utilizar as
informações colhidas para fins comerciais, sob as penas da lei civil, penal,
de direito autoral e de propriedade industrial, assim como de citar as fontes,
caso, por qualquer meio, venha a divulgar os aludidos dados.
§ 2o É assegurado o sigilo comercial, industrial, financeiro ou qualquer outro
sigilo protegido por lei, bem como o relativo às comunicações internas dos
órgãos e entidades governamentais.
§ 3o A fim de que seja resguardado o sigilo a que se refere o § 2o, as
pessoas físicas ou jurídicas que fornecerem informações de caráter sigiloso
à Administração Pública deverão indicar essa circunstância, de forma
expressa e fundamentada.
§ 4o Em caso de pedido de vista de processo administrativo, a consulta será
feita, no horário de expediente, no próprio órgão ou entidade e na presença
do servidor público responsável pela guarda dos autos.
§ 5o No prazo de trinta dias, contado da data do pedido, deverá ser
prestada a informação ou facultada a consulta, nos termos deste artigo.

O artigo segundo dessa lei vai dizer o seguinte: o cidadão deve ser amplo
acesso as informações ambientais, independentemente de interesse. Isso se
dá porque apenas um cidadão bem informado tem uma melhor condição de
participar politicamente, de se inserir no debate das grandes questões
ambientais.
Está de mãos dadas com o princípio da participação
comunitária/participação popular. Um dos grandes instrumentos desse
principio é justamente as chamadas audiências públicas. Uma das etapas do
licenciamento ambiental, por exemplo, é a realização de uma audiência
pública.
A pergunta que fica é a seguinte: o órgão ambiental é obrigado a
realizar audiência pública em todos os procedimentos de licenciamento
ambiental? Não, existe uma discricionariedade por parte do órgão ambiental,
que permite a realização ou não de audiência pública. Há uma
discricionariedade do órgão ambiental na delimitação de audiência pública –
resolução 237/87 do CONAMA. O art. 3º dessa resolução coloca que os órgãos
ambientais realizarão audiências públicas quando couber.
RESOLUÇÃO 9/87, CONAMA. Se o órgão ambiental, por ventura, não
determinar a realização da audiência pública, existe um mecanismos que a
população pode usar para obrigar o órgão ambiental a fazer essa audiência
pública: abaixo-assinado. Se 50 ou mais cidadãos requererem a audiência
pública, o órgão ambiental é obrigado a requerer a audiência pública.
O MP, representando a sociedade, assim como as ONGs Ambientais,
podem requerer sua realização. A audiência pública é um sistema que vem
funcionando relativamente bem, e foi incorporada inclusive em sede judicial.

Logo, a realização da audiência é mitigada, pois pode-se supri-la por


simples requerimento.

12. PRINCIPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: Preconiza uma


harmonização, um equilíbrio entre três valores:
a. O valor do desenvolvimento econômico;
b. O valor do desenvolvimento social;
c. O valor da proteção ambiental;
Em termos normativos nossa, CF não fala em sustentabilidade ou
desenvolvimento sustentável. O máximo que podemos encontrar sobre é o art.
170, VI, da CF, que trata sobre a ordem econômica, dizendo que esta deve ser
exercida estando atenta à preservação do meio ambiente. É uma tentativa de
condicionar o exercício da ordem econômica à atenção à problemática
ambiental.
Art. 170 - A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano
e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna,
conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
[...]
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado
conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos
de elaboração e prestação.

Em termos infraconstitucionais, há o art. 4º, I, da Lei 6.938/81, que trata


dos objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente. O inciso I vai dizer que o
objetivo central da PNMA é promover o desenvolvimento econômico atento às
questões sociais e às questões ambientais. Fala indiretamente em
desenvolvimento sustentável.
Há também a Lei 8666/93, Lei de Licitações, que cita a expressão
desenvolvimento sustentável. Existe uma preferência de aquisição de produtos
sustentáveis, produzidos a partir de matrizes “ecologicamente mais sensíveis”.

13. PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE: Está previsto no Art.225,


parágrafo 3 da CF. O infrator ambiental pode ficar sujeita a três esferas
de responsabilidade: responsabilidade penal, responsabilidade
administrativa e responsabilidade civil.
Art. 225, § 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio
ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções
penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os
danos causados.

• Lei 9658 - vai trazer os tipos penais ambientais.


• Decreto 6514/08 - regula as infrações administrativas ambientais.
• Art.14, parágrafo 1, da Lei 6938/81 - responsabilidade civil.
Essas esferas não são excludentes, o que significa dizer que podem ser
cumuladas. Não é uma repetição, não há bis in idem.

14. PRINCIPIO DA FUNCAO SOCIOAMBIENTAL DA PROPRIEDADE: A


partir de 88, começa a ser construir a ideia de que alem da função social
da propriedade, há um princípio da função socioambiental da
propriedade, art.1228, parágrafo 1º, CC.
Art. 1.228 - O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa,
e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou
detenha.
§ 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as
suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados,
de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as
belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico,
bem como evitada a poluição do ar e das águas.
O Código florestal estabelece a necessidade da preservação de
determinadas áreas, como a reserva legal (o proprietário rural tem que reservar
uma parte do imóvel para a destinação ambiental, não pode dar destinação
econômica àquela faixa). Essa limitação administrativa deve ser indenizada
pela perda de oportunidade de uso econômico daquela parcela
propriedade? É uma espécie de desapropriação indireta deste imóvel? Os
tribunais têm entendido de modo negativo, dizendo que essa restrição imposta
pela lei é uma limitação administrativa que cria um regime jurídico de proteção
ambiental, e não há direito adquirido nem indenização cabível contra regime
jurídico. Ou seja, as limitações administrativas impostas a propriedade em
nome da preservação ambiental não geram direito a indenização pelo não-uso.

COMPETÊNCIAS

Competência Competência Competência


Competência
Privativa Comum Concorrente
Exclusiva
Legislativa Administrativa Legislativa
Administrativa
União Todos União, Estados,
União
DF
art. 22, § art. 26, IV. Ex.: art. 24, VI.
Indelegável.
único.

• Competência Exclusiva - art. 21, CF - é uma competência


administrativa; tarefas de estado conferidas apenas à União; é
indelegável, não pode compartilhar essa competência com outro entes
federativos. Ex.: Emitir moeda. Neste artigo não se fala em Direito
Ambiental.
• Competência Privativa - art.22, CF - é uma competência legislativa;
algumas matérias/assuntos serão tratados pela União. Ex.: legislar sobre
Direito Penal, Direito Processual Civil. Há uma exceção no art. 22, §
único, em que se admite a delegação por meio de lei complementar. A
União pode editar uma lei complementar e delegar parte dessas
atribuições aos Estados, mas não toda. Neste artigo não se fala em
Direito Ambiental.
• Competência Comum - art. 23, CF. - é uma competência
administrativa; todos os entes federativos podem e devem executar as
tarefas previstas neste artigo (União, Estados, DF e Municípios); o inciso
VI trata da matéria ambiental, da preservação do meio ambiente. Todos
farão, o que observaremos é a organização, como cada ente vai cumprir
isso.
• Competência Concorrente - art. 24, CF - é uma competência
legislativa; aqui é pra União, Estados e DF - Municípios não; no inciso VI
temos a competência destes entes para tratar da matéria ambiental.

O município pode legislar sobre matéria ambiental? A resposta é


positiva. A Doutrina procurou incluir os municípios neste jogo, por meio da
alusão ao art. 30, I e II, da CF, que trata sobre a competência legislativa
municipal. Segundo este entendimento, o município poderia criar uma lei
municipal ambiental que tenha um caráter local, complementando a lei federal
ou estadual. Portanto, mesmo sem a previsão no art. 24 da CF, a
jurisprudência do STF tem reconhecido que essa atividade legislativa protetiva
do meio ambiente se estende aos Municípios.
O que, exatamente, significa suplementar? Suplementar significa
preencher de sentido, complementar. Analisaremos 2 exemplos que discutem
esse caráter suplementar da legislação ambiental, previsto no art. 24, §2º, CF:
• 1º CASO - Em 2014, a Bahia editou uma lei estadual permitindo a
comercialização e consumo de bebidas alcoólicas nos estádios de
futebol. No entanto, havia o entendimento de sua proibição no Estatuto
do Torcedor, que se trata de um lei federal. Dessa forma, essa lei
estadual está dispondo em sentido contrário da federal, não
suplementar.
• 2º CASO - Em 2009, o Paraná definiu que os postos de gasolina
deveriam colocar uma placa com informações detalhadas acerca da
composição dos combustíveis, no entanto, o Código de Defesa do
Consumidor não traz essa obrigação, vez que, o art. 6º, CDC prevê o
acesso à informação. Assim, verifica-se que aqui também houve uma
suplementação.
• 3º CASO - No início dos anos 2000, vários estados proibiram a
comercialização do amianto branco. No entanto, uma lei federal de 1995
permitia seu uso, sob certas condições. Entende-se que essa lei
estadual seria inconstitucional por não ser suplementar.
Outro entendimento seria que a União estabelece normas gerais e o
Estado poderia ampliar essa proteção. Logo, seria válido, uma vez que o
Estado está indo ao máximo da proteção ambiental. O STF tem entendido ser
inconstitucional.

COMPETÊNCIA ADMINISTRATIVA
Quando falamos em competência administrativa, estamos falando da
execução de ações de Estado, de tarefas administrativas de Estado. Na
matéria ambiental, falamos de tarefas administrativas voltadas à proteção do
meio ambiente, examinando o exercício do poder de polícia ambiental.
Quanto ao poder de polícia ambiental, estamos fundamentalmente
fazendo alusão às atividades de licenciamento ambiental e atividades de
fiscalização.
Por atividade de licenciamento ambiental tem-se uma atividade prévia,
que representa um ato de consentimento estatal, ou seja, o Poder Público pode
impor condições para o exercício da atividade econômica no momento da
concessão da licença ambiental, dizer como deve ser desempenhada tal
atividade.
Já a atividade de fiscalização ocorre em um momento posterior ao
licenciamento, com a atividade já licenciada em andamento. Essa fiscalização
ambiental pode resultar na lavratura de um auto de infração e instauração de
um processo administrativo para apurar a infração.
Então, quando se fala de competência administrativa ambiental, quer se
falar das atividades de licenciamento e de fiscalização: quem pode licenciar e
quem deve fiscalizar a matéria ambiental no direito brasileiro?
(1) Base no art. 23 CF. Estabelece que a competência administrativa
ambiental é dita comum, pois é subdividida entre todos os entes federativos.
Tanto União, como Estados, DF e Municípios podem e devem exercer o poder
de polícia ambiental. Seria, no entanto, razoável imaginar que o empreendedor
tivesse que se submeter a licenciamentos múltiplos, ou a fiscalizações
múltiplas sob o mesmo fato? Não seria isso um bis in idem?
Exemplo 1 - Eu sou um empreender e quero licenciar minha atividade.
Tenho que fazê-la junto ao IBAMA (órgão ambiental federal), junto ao INEA
(órgão ambiental do Estado do RJ) e junto à Secretaria Municipal de Meio
Ambiente (órgão ambiental do Município)? É preciso ter as 3 licenças para
poder funcionar? Não parece razoável, uma vez que para tirar apenas uma das
licenças já é difícil.
Nota-se, portanto, que essa interpretação não é adequada, pois gera
insegurança jurídica, um excesso de intervenção estatal.
(2) Base no art. 10 da Lei 6938/81. Esse artigo, em sua redação original,
dizia “a competência administrativa ambiental deve ser exercida, em princípio,
pelo órgão ambiental estadual e, supletivamente, atua o IBAMA (órgão
ambiental federal) em situações de afetação do interesse nacional.”.
Então, a lógica do art. 10 é estabelecer que, via de regra, o poder de
polícia ambiental é exercido pelo Estado e, excepcionalmente, nos casos de
afetação do interesse nacional, atuaria o IBAMA como órgão federal.
O problema dessa solução é que o referido artigo não previu um espaço
de atuação para o Município, sendo que, pela CF, a competência comum
consiste na ação simultânea de todos os entes federativos, incluindo o
Município. A justificativa para essa ausência se dá na data de publicação da
Lei, que é 1981, anterior ao texto constitucional (de 1988), que possui tal
previsão.
(3) Resolução nº 237/97 do CONAMA. Estabelecia o critério da
predominância do interesse. Se o interesse afetado pelo empreendimento
potencialmente for de interesse nacional, atua o IBAMA (órgão federal); se for
de interesse regional, atua o órgão ambiental estadual (no caso do Rio de
Janeiro é o INEA); se o interesse afetado for local, atua o órgão ambiental do
Município (Secretaria Municipal de Meio Ambiente).
No entanto, ainda que o critério da predominância do interesse seja
razoável, ele apresenta um problema prático: é um critério indeterminado, não
se sabe dizer com exatidão o limite de cada caso, a maioria deles inclusive.
Quando uma situação deixa de ser de interesse local e vira regional? Quando
uma situação regional deixa de ser regional e passa a ser nacional?
Há uma zona cinzenta muito extensa. Os empresários não se deram por
satisfeitos, por não ter segurança jurídica acerca de qual órgão daria a licença
que ele precisa ter para o empreendimento estar regularizado. O critério
precisa ser objetivo, não pode ser amplo/indeterminado.
Com base nessa crítica de certa instabilidade/insegurança jurídica trazida
por esse critério estabelecido, chegamos a última e quarta tentativa de
resolução do problema da delimitação da competência administrativa
ambiental.
(4) Lei Complementar 140/11, que está em vigor, e foi editada para
resolver a questão. Observações importantes:
• A LC 140/11 diz respeito à competência administrativa, mas não é uma
LC exclusivamente ambiental. Trata também de outros temas além do
direito ambiental.
• No que se refere à questão ambiental, a LC 140/11 adotou o mesmo
critério da Resolução nº 237/97 – critério da predominância do interesse.
Contudo, na LC 140/11, o critério foi detalhado, sendo mais objetivo.
Alguns dispositivos da LC 140/11 que fazem referência à matéria
ambiental são os artigos 7, 8 e 9. O artigo 7 diz respeitos às ações
administrativas da União, enquanto o artigo 8º diz respeito às ações
administrativas dos Estados, e, consequentemente, o artigo 9º diz respeito às
ações administrativas dos Municípios.
Atentar, nesses 3 dispositivos, aos incisos XIII e XIV de cada um. Os
incisos XIII e XIV, tanto do artigo 7º quanto dos artigos 8º e 9º, dizem a mesma
coisa. Eles trazem a lógica de “quem licencia, posteriormente, fiscaliza”. Ou
seja, se o empreendedor pegou a licença com o IBAMA, apenas o IBAMA pode
vir a lavrar um auto de infração sobre ele, posteriormente. Sendo essa a ideia,
a questão principal é saber quem licencia o que. As hipóteses de licenciamento
ambiental estão previstas nos incisos XIV de cada artigo:
• Art. 7º, XIV: hipóteses de licenciamento ambiental pelo órgão
federal (IBAMA);
• Art. 8º, XIV: hipóteses de licenciamento ambiental pelo órgão
estadual (INEA - RJ);
• Art. 9º, XIV: hipóteses de licenciamento ambiental pelo órgão
municipal (Secretaria Municipal do Meio Ambiente);

Hipóteses de licenciamento ambiental pelo órgão federal - art. 7º, XIV,


alíneas:
a) Empreendimentos e atividades localizados ou desenvolvidos
conjuntamente no Brasil e em país limítrofe;
b) Empreendimentos e atividades localizados ou desenvolvidos no mar
territorial, na plataforma continental ou na zona econômica exclusiva.
Ex.: No caso de a Petrobrás perfurar um novo poço/campo de petróleo
em alto mar, é o IBAMA quem vai exercer o poder de polícia em matéria
ambiental.
c) Empreendimentos e atividades localizados ou desenvolvidos em terras
indígenas;
d) Empreendimentos e atividades localizados ou desenvolvidos em
unidades de conservação instituídas pela União, exceto em Áreas de
Proteção Ambiental (APAs);
e) Empreendimentos e atividades localizados ou desenvolvidos em 2 (dois)
ou mais Estados; (para evitar um conflito de competência entre Estados)
f) Empreendimentos e atividades de caráter militar, excetuando-se do
licenciamento ambiental, nos termos de ato do Poder Executivo, aqueles
previstos no preparo e emprego das Forças Armadas, conforme disposto
na Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999;
g) Empreendimentos e atividades destinados a pesquisar, lavrar, produzir,
beneficiar, transportar, armazenar e dispor material radioativo, em
qualquer estágio, ou que utilizem energia nuclear em qualquer de suas
formas e aplicações, mediante parecer da Comissão Nacional de
Energia Nuclear (CNEN) (em razão da periculosidade); ou
h) Empreendimentos e atividades que atendam tipologia estabelecida por
ato do Poder Executivo, a partir de proposição da Comissão Tripartite
Nacional, assegurada a participação de um membro do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), e considerados os critérios de
porte, potencial poluidor e natureza da atividade ou empreendimento;
Hipóteses de licenciamento ambiental pelo órgão Municipal - art. 9º,
XIV, alíneas:
a) Empreendimentos e atividades que causem ou possam causar impacto
ambiental de âmbito local, conforme tipologia definida pelos respectivos
Conselhos Estaduais de Meio Ambiente, considerados os critérios de
porte, potencial poluidor e natureza da atividade;
Quem define o interesse local é uma resolução do CONEMA - Conselhos
Estaduais de Meio Ambiente (órgão deliberativo que integra a estrutura dos
Estados - cada estado tem o seu e cada órgão estadual tem a sua resolução
específica). Normalmente, trabalham com o critério do porte e do potencial
poluidor da atividade.
b) Empreendimentos e atividades localizados em unidades de conservação
instituídas pelo Município, exceto em Áreas de Proteção Ambiental
(APAs). Se a atividade se encaixa na resolução do CONEMA, quem
promove o licenciamento ambiental é o órgão municipal. Se não se
encaixar, a competência é residual para o órgão estadual.

Hipóteses de licenciamento ambiental pelo órgão estadual - art. 8º,


XIV;
c) Promover o licenciamento ambiental de atividades ou empreendimentos
utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente
poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação
ambiental, ressalvado o disposto nos arts. 7o e 9o;
O próprio art. 8º, XIV, afirma que a competência de licenciamento
ambiental por órgão estadual é residual. Ou seja, se a competência não for da
União e não for do Município, é do Estado.
Se um cliente procura uma advogado dizendo que é empresário e possui
uma empresa XYZ, que pretende realizar tal atividade econômica e quer saber
em que lugar deve ir para conseguir a licença ambiental: União, Estado ou
Município? Licenciamento ambiental é uma manifestação do poder de polícia
do Estado, e, como tal, se insere na discussão da competência administrativa,
que está disciplinada no art. 23 da CF/88. Esse artigo diz que a competência
administrativa ambiental é comum, todos os entes podem fazer, mas temos a
LC 140/11, em vigor, que determina critérios para dividir os interesses. Em 1º
lugar, verifica-se se a sua atividade se encaixa dentre as hipóteses que
caracterizam a competência federal. Sendo uma atividade em alto mar, ou de
caráter militar, ou em zona limítrofe, entre outros, o licenciamento é no órgão
federal. Não sendo, deve verificar se sua atividade se encaixa nas hipóteses de
competência municipal, pela resolução do CONEMA do seu Estado. Sendo
interesse local, o licenciamento ocorre com a Secretaria Municipal de Meio
Ambiente. Por fim, não sendo da União, nem do Município, a competência é
estadual.
Na prática, quantitativamente falando, a maioria dos licenciamentos
ambientais atualmente é de competência estadual, pois as hipóteses tanto
federais quanto municipais são muito restritivas. Logo, a LC 140/11, em certo
sentido, acaba sobrecarregando os órgãos ambientais estaduais com a função
de licenciamento ambiental.
OBS.: Cemitérios, tanto os verticais quanto os clássicos, precisam de
licença ambiental para funcionar, em razão da decomposição dos corpos, que
gera o necro chorume (resíduo líquido da decomposição do cadáver), o qual é
altamente contaminante para o lençol freático, causando problemas ambientais
gravíssimos. Por isso, deve haver uma previsão de tratamento adequado pelo
cemitério, entre outras medidas. O Cemitério de Duque de Caxias, por
exemplo, recém construído, não observou uma série de normas ambientais,
como a Resolução nº 335 do CONAMA. Geralmente, o licenciamento de
cemitério é de competência municipal, pois classifica-se como impacto local.
Em relação ao artigo 17 da LC 140/11, fazemos menção ao caput, que
trata novamente da lógica de “quem licencia, fiscaliza”. Deve ser mencionado
também o §3º, que vai na contramão dessa lógica e do princípio de
licenciamento em único nível federativo, uma vez que dispõe sobre a
possibilidade de a fiscalização ocorrer não apenas por um único nível, mas por
todos eles. A fiscalização pode ser conjunta, mas prevalece o auto de infração
ambiental lavrado pelo órgão que tem competência para licenciar.
Exemplo 1: Na manhã do dia 04/10, um fiscal do IBAMA (União) vai à
empresa X (licenciada pelo Município) e lavra uma auto de infração, por ter
encontrado alguma irregularidade no empreendimento. Às 12h, bate um fiscal
do INEA (Estado) e lavra também um auto de infração pela mesma
irregularidade. Às 14h, vai um fiscal da Secretaria Municipal de Meio Ambiente
(Município) e faz mesma coisa. Ou seja, há 3 autos de infração sobre o mesmo
fato. De acordo com o 17, §3, o Daniel só precisa pagar o auto de infração
lavrado pelo órgão municipal.
Imaginemos que nesse mesmo caso, apenas o fiscal do IBAMA lavrou o
auto de infração. Os outros dois fiscais não foram na empresa e não lavraram
nada. Segundo o dispositivo, o empresário deve pagar o auto de infração do
órgão federal, mesmo tendo sido licenciado pelo Município.
Ainda, no mesmo caso, apenas os fiscais do IBAMA e do INEA foram e
lavraram o auto de infração. O fiscal do Município, quem licenciou o
empreendimento, não apareceu. Aqui, teoricamente, não há quem prevalecer;
não há resposta.
Por fim, imaginemos que os dois fiscais compareceram e lavraram o auto
de infração, e o fiscal do Município também compareceu, mas não lavrou
nenhum auto de infração por entender que não havia qualquer irregularidade.
Outra possibilidade é a cooperação entre os entes federativos no sentido
de que se um órgão federal, por exemplo, identifica uma irregularidade em um
empreendimento licenciado pelo Município, ele não lavra o auto de infração e
comunica ao órgão ambiental municipal para que o faça.
A legislação causou uma complexidade enorme na questão da
fiscalização, abrindo mil possibilidades de erro, pela solução precária dada no
dispositivo legal. Teria sido muito mais simples e eficaz manter a fiscalização
em único nível federativo, assim como é o licenciamento.

RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL


Existe um grande princípio que orienta o Direito, de forma geral, que é o
princípio da não lesão. Idealmente, as pessoas não deveriam interferir no
patrimônio jurídico alheio, mas isso acontece, então o Direito procurou criar
mecanismos de resposta. A Responsabilidade Civil foi criada para dar
respostas a danos. Toda estrutura da Responsabilidade Civil foi originalmente
pensada, a luz de um conflito intersubjetivo privado.
O “dono” do meio ambiente é a sociedade como um todo. Isso faz com
que tenhamos que adaptar institutos clássicos da responsabilidade civil. Nós
temos no Código Civil de 2002 dois artigos centrais sobre responsabilidade
civil:
Art. 186 - Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 927 - Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo.

Nesse sentido, há 3 elementos centrais para a responsabilidade civil: a


conduta, o dano e o nexo causal (que é a relação de causalidade entre a
conduta e dano). Se faltar pelo menos um deles, não podemos falar em
responsabilidade civil.

NEXO CAUSAL
Analisaremos duas teorias (dentre outras) que fundamentam o nexo
causal:
• Teoria da equivalência das condições - Tudo aquilo que
colabora para o evento danoso é causa do dano. Todos os
episódios que tiverem relação de causalidade com o dano são
juridicamente causa do dano.
Problema: ela pode gerar uma regressão ao infinito do exame causal,
pois, indiretamente, tudo pode ser causa para tudo. O fabricante da arma e a
mãe que pariu o assassino responderiam pelo homicídio.
• Teoria da causalidade adequada - Dentre os antecedentes
causais, deve-se identificar qual é o mais adequado a gerar o
dano (sem os quais o dano não teria ocorrido).
o Teoria do dano direto e imediato (adotado pelo CC/02 –
art. 403). É um desdobramento da teoria anterior. Coloca
que dentre os antecedentes causais, deve-se eleger quais
estão espacial e temporalmente mais próprios do dano.
Logo, o antecedente causal deve estar vinculado
diretamente com o evento danoso.
No Direito brasileiro, alguns autores falam que o Código Civil, por conta
de seu art. 403, teria construído no nosso sistema uma teoria que seria um
desdobramento da causalidade adequada, chamada teoria da causalidade
direta ou imediata. O dano é o dano direto, o dano imediato. A causa é a causa
direta, a causa imediata. Dentre os antecedentes causais, eu tenho que eleger
quem efetivamente está, temporalmente e espacialmente, mais relacionado ao
dano.
Art. 403 - Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e
danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela
direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual.

No Direito Ambiental, por conta da definição legal de poluidor (art. 3, IV,


da lei 6938/81), temos uma abertura para a causalidade indireta, pois este
dispositivo fala que poluidor é toda pessoa física ou jurídica responsável direta
ou indiretamente pela degradação ambiental.
Há o poluidor direto (ex. a pessoa que caça o animal sem autorização,
desmata, joga dejetos num rio - aquele que diretamente causa o dano
ambiental), e o poluidor indireto (ex. BNDES quando financia uma atividade
que acarreta em degradação ambiental).
Hipóteses de poluidor indireto
a) Obrigações propter rem: São obrigações em razão/em função da
coisa, que decorrem da propriedade, da posse, ou do domínio útil de um
bem. São obrigações reais, têm natureza real.
Exemplo: art. 130, CTN - sub-rogação do crédito tributário de um imóvel
na pessoa do novo adquirente - não importa se o proprietário anterior não
pagou o IPTU, o proprietário atual assume a obrigação, o passivo tributário - o
Fisco vai atrás dele, pois é mais fácil de obter a satisfação do crédito. Deve-se
sempre avaliar isso quando for comprar um imóvel, pois quando você for o
novo proprietário, se houver débitos fiscais, você deverá pagar, tendo em vista
que essa obrigação está vinculada ao bem, assim, eventualmente, vem junto, é
como se fosse um acessório.
No Direito Ambiental o passivo ambiental é transmitido ao novo
adquirente/proprietário do imóvel. Assim, se uma pessoa compra uma fazenda
e faz o registro no RGI e no dia seguinte, aparece um fiscal ambiental que
constata irregularidades (não tem a área de reserva legal demarcada, por
exemplo, era tudo plantação), o fiscal vai lavrar um auto de infração frente ao
atual proprietário, ainda que o erro tenha sido cometido pelo proprietário
anterior. O atual proprietário, que não foi quem degradou, ingressa na cadeia
causal como indiretamente responsável logo após o registro da propriedade,
assumindo o passivo ambiental.
O próprio art. 2º do Código Florestal estabelece que as obrigações que
ele estipula têm natureza real, e, portanto, são transmitidas ao novo adquirente.
Exemplo 2 - Um posto de gasolina foi desativado e foi construído um
prédio residencial no local. Tempos depois, constatou-se que o posto não
manteve adequadamente os tanques de combustível e houve vazamento para
os lençóis freáticos, causando diversos casos de câncer na cidade, pois os
cidadãos consumiram água contaminada. O novo proprietário do imóvel deve
responder civilmente por isso? Nesse caso tem uma particularidade, pois gerir
postos de gasolina é uma atividade de risco, logo, seu funcionamento ou
desativação requerem uma licença junto ao órgão ambiental competente. Se o
novo comprador tomou o cuidado de exigir essa licença, há uma presunção de
boa-fé; se ele não pedir, pode ser responsabilizado.

b) Omissão de fiscalização pelo Estado (Poder Público): De acordo


com a CF, o Estado tem o dever de fiscalizar a qualidade ambiental.
Quando o Estado se omite, poderia ser responsabilizado indiretamente?
O entendimento jurisprudencial é que somente uma omissão específica
do Estado gera indenização.
Art. 70 (Lei n. 9.605/98). Considera-se infração administrativa ambiental
toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção,
proteção e recuperação do meio ambiente.
§ 3º A autoridade ambiental que tiver conhecimento de infração ambiental é
obrigada a promover a sua apuração imediata, mediante processo
administrativo próprio, sob pena de co-responsabilidade

Nesse caso, o Estado poderá ir regressivamente atrás o poluidor, a fim


de que o mesmo pague sua parte.
Exemplo 1 - Se há falha na segurança pública e você é assaltado e
baleado, você poderia processar o Estado? Não, pois a omissão do Estado só
é relevante juridicamente quando é específica. O Estado não é o segurador
universal de ninguém.
Exemplo 2 - O Estado não exerce o seu dever de fiscalizar o meio
ambiente, e, em decorrência dessa omissão, ocorre um dano ambiental grave.
O Estado poderia ser responsabilizado solidariamente pelo dano causado?
Essa questão é polêmica, pois o Estado também não é o segurador ambiental
do meio ambiente. Os órgãos ambientais não tem como fiscalizar dia e noite,
botar um fiscal atrás de cada árvore, mas já há decisões judiciais imputando
responsabilidade civil ao Estado pela omissão na fiscalização ambiental
quando há uma denúncia de um ato grave e o Estado não age para apurá-la.
Por exemplo, no meu bairro há uma empresa poluindo o meio ambiente
flagrantemente e eu filmo aquilo, tiro foto, faço um abaixo assinado com os
moradores da região, levo um dossiê completo para o órgão ambiental, que,
recebendo, nada faz. Nesta situação, o Estado seria corresponsável,
responsável solidário, estaria permitindo a continuidade do dano, seria um
poluidor indireto.

c) Contratos de financiamento bancário: O Banco por financiar uma


dada operação, que gerou dano ambiental, também se responsabiliza?
Imagine o exemplo em que uma empresa “X” precisa de capital para
colocar suas atividades em andamento, e procura um banco para fazer
um empréstimo. O banco analisa o pedido e decide financiar parte das
atividades. Com esse dinheiro, a empresa coloca suas atividades em
prática, as quais acarretam grave dano ambiental. É pacífico que a
empresa irá responder pelos danos, mas e o banco? O financiamento
caracteriza uma poluição indireta? Existe um grande debate.
Analisaremos 3 julgados:

• Em 2000, o TRF1 examinou um caso envolvendo a Caixa


Econômica Federal, que financiou uma obra pública que resultou
num dano ambiental grave. O Tribunal decidiu que o mero fato de
financiar não geraria a responsabilidade civil da instituição
financeira, o banco não deveria responder pelo dano ambiental.
• Em 2003, o TRF1 examinou um caso envolvendo o BNDES, que
emprestou dinheiro a uma empresa mineradora, cujas operações
causaram grave dano ambiental. Nesse julgado, o Tribunal disse
que o mero fato de financiar não gera a responsabilidade do
banco, todavia, se for comprovado que o banco tomou
conhecimento do dano e continuou a financiar, liberando as
parcelas subsequentes, a partir do momento do conhecimento do
dano, o banco se tornaria solidariamente responsável.
• Em 2009, o STJ analisou o Recurso Especial 1071.741/SP, em
que o relator votou “para o fim de apuração do nexo de
causalidade no dano urbanístico-ambiental e de eventual
solidariedade passiva, equiparam-se quem faz, quem não faz
quando deveria fazer, quem não se importa que façam, quem cala
quando lhe cabe denunciar, quem financia para que façam e
quem se beneficia quando outros fazem”. Isso parece ser um
exagero, afinal de contas, instituição financeira não é órgão
ambiental. Podemos até pensar em exigir que o banco tome
algumas cautelas ao emprestar dinheiro, por exemplo, solicitar da
empresa a apresentação das licenças ambientais.
Crise de inadimplemento: Imagine que uma empresa foi processada e
condenada a pagar quantia relativamente a uma indenização por dano
ambiental. Imagine -se que no momento da execução da decisão, a empresa
esteja em estado de insolvência. Nesse momento, instala -se a crise de
inadimplemento. Para resolver essa crise, temos, por exemplo, a
desconsideração da personalidade jurídica. No Direito ambiental, de maneira
excepcional, vige o sistema menor da desconsideração (artigo 4°, da Lei
9.605/98) – “Art. 4º. Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que
sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à
qualidade do meio ambiente”. Ou seja, basta a mera insuficiência patrimonial
para haver a desconsideração. Dessa forma, no exemplo da crise de
inadimplemento, poder-se-ia requerer ao juiz para atingir o patrimônio do sócio
– O sócio, indiretamente, responde por uma obrigação de outro (a pessoa
jurídica).
Para desconsiderar a personalidade jurídica afim de atingir o patrimônio
individual dos sócios, o sistema MAIOR exige-se a demonstração do elemento
subjetivo, da fraude, do desvio de finalidade, da prática do ilícito, ou seja,
demonstrar que a pessoa jurídica está sendo utilizada para prática de ilícitos.
Conforme dito anteriormente, no direito ambiental vige a teoria MENOR, por
conta disso, basta a mera comprovação da insuficiência patrimonial autoriza
que eu persiga o patrimônio individual dos sócios.
Os autores no direito ambiental indicam que uma das primeiras
características da responsabilidade civil ambiental é a solidariedade, em que
todos aqueles que colaboram para o dano ambiental, em princípio, devem
responder pelo dano. Uma das características fundamentais da solidariedade,
é que os agentes solidários se obrigam pelo todo.
Imagine a situação de três empresas que poluem um rio, em
quantidades diferentes. O ministério publico, ciente desse problema, ingressa
com uma Ação Civil Pública em face apenas de uma das empresas. Você,
como advogado dessa empresa, processualmente deveria realizar o
chamamento ao processo, convidar as partes que integram a lide a participar
do processo. Isso porque, ao final do processo, caso haja condenação, já
haverá a repartição as obrigações. No direito ambiental, a jurisprudência
entende que não é possível admitir intervenção de terceiros no processo. Esse
entendimento jurisprudencial tem como fundamento a ideia de que essa
intervenção torna a lide mais complexa, vai atrasar o desfecho da lide, e a lide
ambiental tem uma característica muito particular, que é a urgência na
resolução do problema. O STJ então entende que, embora a obrigação seja
solidaria, processualmente não ha possibilidade de intervenção de terceiros.

CONDUTA
O elemento “conduta” também é um elemento central para a
configuração da responsabilidade civil. Na teoria clássica da responsabilidade
civil. Mas não uma conduta qualquer, apenas a conduta qualificada pela culpa.
Por culpa entendemos uma falta de dever geral de cautela, e o elemento
intencional.
Fala-se, nesse sentido, no modelo de Responsabilidade Civil Subjetiva.
A vítima tem que demonstrar que o agente infrator agiu culposamente, com
imperícia, imprudência ou negligência, ou no comportamento intencional (dolo).
Com o novo paradigma de produção e consumo em massa, verificado a
partir da Revolução Industrial, observou-se que a necessidade de a vítima
comprovar a culpa afastava, muitas vezes, a possibilidade de indenização.
Nesse contexto, desenvolveu-se a Responsabilidade Civil Objetiva, que
independe da demonstração da culpa. O Código Civil estabelece algumas
hipóteses de responsabilização civil objetiva, como no caso do art. 927,
parágrafo único, do CC.
Art. 927 - Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente
de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza,
risco para os direitos de outrem.

Já os artigos 932 e 933, do CC, tratam da responsabilidade civil


pelo fato de terceiro.
Art. 932 - São também responsáveis pela reparação civil:
I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua
companhia;
II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas
mesmas condições;
III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e
prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;
IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se
albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes,
moradores e educandos;
V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a
concorrente quantia.
Art. 933 - As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente,
ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados
pelos terceiros ali referidos.

Exemplo: Se o meu filho atira um brinquedo pela janela do meu


apartamento e acerta um carro que estava estacionado, o dono do veículo,
para ser indenizado, não precisa provar que eu, pai, agi de forma descuidada
ao cuidar do meu filho, apenas demonstrar que o carro foi danificado.
A Responsabilidade Civil Ambiental, como já vimos, é objetiva, e está
fundamentada no art. 14, §1º, da Lei n. 6938/81.
Art 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal,
estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à
preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela
degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores:
§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o
poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar
ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por
sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade
para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados
ao meio ambiente.

Há um debate na Doutrina sobre qual seria a teoria que fundamenta a


responsabilidade objetiva. No direito ambiental, as teorias com maior relevância
são a Teoria do Risco Criado e a Teoria do Risco Integral.
• Teoria do Risco Criado: Toda pessoa física ou jurídica deve responder
objetivamente pelo risco que cria (o que estaria muito próximo do art.
927, parágrafo único, do CC). Existe a possibilidade de alegação de
causa excludente do nexo de causalidade.
• Teoria do Risco Integral: Havendo uma situação de risco excepcional
(não ordinário), a pessoa deverá responder objetivamente por ele. Não
há a possibilidade de alegação de excludentes do nexo de causalidade.
Fundamentalmente, a diferença entre as duas se dá pela intensidade do
risco.
São excludentes do nexo de causalidade:
a) Força maior e caso fortuito. Ex.: evento imprevisível da natureza
b) Fato de terceiro. Ex.: ato de uma pessoa alheia àquela relação.
c) Culpa exclusiva da vítima. Ex.: a própria vítima dá razão ao dano

Imaginemos o exemplo de uma barragem que se rompe por causa de


um terremoto, o que consequentemente gera uma degradação do meio
ambiente. A empresa que construiu devidamente a barragem, tem
responsabilidade civil sobre isso? Tem que arcar com os custos? Depende da
Teoria do Risco que você adotar. A responsabilidade civil ambiental é sempre
objetiva, mas ela for baseada no risco criado, o empresário pode alegar que
ficou caracterizado um caso de força maior, que rompe o nexo causal, não
havendo responsabilidade. Se fosse adotada a Teoria do Risco Integral, ele
responderia. Na Doutrina e na jurisprudência, o risco integral vem
prevalecendo.
O professor entende que há 2 problemas nessa fundamentação na
Teoria do Risco Integral:
1. Ela é fruto de uma construção doutrinária, não há na lei nada que diz
que a responsabilidade objetiva é baseada na teoria do risco integral. O
que temos é apenas o teor legal do art. 14, §1º, da Lei n. 6938/81., o
qual menciona a responsabilidade objetiva, mas não em qual teoria se
baseia.
2. O risco integral pode parecer ser melhor para o meio ambiente, contudo,
na maioria das vezes ele acaba sendo pior. Em que sentido? Pelo ponto
de vista do empresário. No caso da barragem, por exemplo, o
empresário acaba construindo de qualquer jeito, porque ele sabe que de
qualquer maneira vai responder. Ou seja, ele provavelmente vai fazer o
mínimo exigido pela lei, uma vez que é uma modalidade de risco muito
ampliativa, então, o empresário preocupado/cuidadoso e o desleixado
vão responder do mesmo modo.

DANO
No Direito Civil existem algumas categorias de dano:
1. Dano emergente: é aquele que decorre diretamente da
situação lesiva, podendo ser um dano emergente material ou um
extrapatrimonial/moral, como por exemplo o prejuízo causado em uma
batida de carro. Engloba os gastos com o reparo do carro, as despesas
médicas. Se houver a amputação de um membro ou uma cicatriz, há
também o dano moral em virtude do dano estético.
2. Lucro cessante: é tudo aquilo que a pessoa deixou de
ganhar; perda de um lucro real estimado. No mesmo exemplo da batida
de carro, imaginemos que a vítima era um taxista que ficou
impossibilitado de trabalhar.
3. Perda de uma chance: representa uma categoria
intermediária entre as outras duas modalidades de dano, que seria a
perda de oportunidade de vir a obter uma posição de vantagem,
decorrente de um fato ilícito de terceiro.
Exemplo 1: Caso Perruche - uma gestante que residia nos arredores de
Paris foi até um hospital privado realizar seus exames pré-natais e explicou aos
médicos que, se houvesse alguma anomalia grave com o feto, ela gostaria de
ser informada, porque possivelmente realizaria o aborto. Os médicos omitiram
que ela tinha rubéola, e a criança nasceu com graves problemas físicos e
mentais. Então, essa mãe então ingressou com uma ação judicial, cujo
principal fundamento era a perda de uma chance, isto é, a omissão de um
resultado médico importante (ato ilícito de terceiro) retirou dela a oportunidade
de realizar o aborto.
Exemplo 2: Caso Show do Milhão - esse ocorreu no Brasil, naquele
programa de perguntas e respostas, onde quem respondia a pergunta que valia
1 milhão de reais podia parar e levar a metade ou arriscar responder. A
pergunta final feita à uma senhora foi formulada incorretamente, e ela se
recusou a respondê-la (não porque não soubesse a resposta, mas pela forma
que a pergunta foi feita) e parou com os R$ 500.000,00. Ela entrou com uma
ação judicial alegando a perda da chance de ganhar o prêmio final. Esse caso
foi até o STJ, que deu 125 mil reais, de acordo com cálculos baseados na
possibilidade da parte autora ganhar o jogo (uma chance dentre 4 alternativas).
Em tese, não há impedimento para que essas modalidades de dano
sejam transportadas para o Direito Ambiental. Existe a possibilidade de
falarmos em dano moral coletivo/dano moral ambiental? O dano moral sempre
foi pensado na ideia de um aborrecimento. Classicamente, o titular do dano
moral é uma pessoa natural, só que o próprio Direito já quebrou esse
paradigma, possibilitando que pessoas jurídicas sejam titulares de alguns
direitos da personalidade, ensejando dano moral, por exemplo, um abalo à
honra objetiva de uma sociedade empresária.
Mas e coletividade/sociedade como um todo poderia sofrer um abalo
moral? E se for um caso ambiental, como, por exemplo, no rompimento da
barreira de Mariana? A Lei nº 7347/85 (Lei da Ação Civil Pública) admite isso
em seu art. 1º, inc. I.
Art. 1º - Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação
popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais
causados:
I - ao meio-ambiente;

Já há vários casos na jurisprudência que entendem pelo dano moral


coletivo no Brasil, como o caso em uma cachorrinha foi amarrada por
estudantes de medicina na traseira de um carro e arrastada pelas ruas da
cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul, morrendo de forma cruel.
Por fim, existe uma dificuldade na fixação do quantum indenizatório no
dano moral. No Direito norte americano foi criada a tese dos danos punitivos,
ou seja, um dos fatores do arbitramento do dano moral é seu caráter punitivo. A
lógica é de enriquecer a vítima em vez de deixar o infrator sem punição. Essa
ideia do direito morte americano, de certa maneira, veio para o direito
brasileiro.
Existe uma crítica a isso: a maioria dos civilistas acreditam que não há a
possibilidade de incorporarmos o caráter punitivo do dano moral. Aqui,
indenização é compensação e não sanção.

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