Você está na página 1de 25

DIREITO AMBIENTAL

Prof. Me. Glauco de Souza Cunha


COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL AMBIENTAL
CRFB, Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e
à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

DIREITO FUNDAMENTAL DE 3º DEVER FUNDAMENTAL: O DEVER


DIMENSÃO: DIREITO AO MEIO DE DEFENDÊ-LO E PRESERVÁ-LO
AMBIENTE ECOLOGICAMENTE PARA AS PRESENTES E FUTURAS
EQUILIBRADO. GERAÇÕES.

SUSTENTABILIDADE
COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL AMBIENTAL

O direito ambiental pátrio está calcado na Constituição Federal de 1988, mesmo que
decorrente de Tratados Internacionais.
A partir da carta maior se estabeleceu um arcabouço jurídico dividido nas mais
diversas competências de cada ente da federação, os quais possuem autogoverno e
autolegislação, gerando um emaranhado de leis, decretos, regulamentos e portarias
organizando toda a estrutura e execução da Política Nacional do Meio Ambiente em
todo o país.
Antes porém, verifiquemos a questão ambiental nas constituições brasileiras
anteriores.
COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL AMBIENTAL

De início, a Constituição do Império de 1824 não trazia em seu texto de forma


expressa a questão ambiental, aplicava-se à época a legislação conhecida como
Ordenações do Reino, tendo o sistema econômico em vigor como base o setor
agrícola. Havia disposição de que as Câmaras Municipais possuíam
competência para disciplinar suas posturas.

A Constituição de 1891, da República dos Estados Unidos do Brasil, previa a


possibilidade de a União legislar sobre minas e terras, mas sem teor
preservacionista, foi o primeiro texto constitucional pátrio a estabelecer regras
para o uso do solo, iniciando a tendência normativa de alguns elementos da
natureza.
COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL AMBIENTAL
A carta de 1934 implementou a proteção das belezas naturais, do patrimônio
histórico, artístico e cultural, bem como a competência da União em matéria de
riquezas do subsolo, mineração, metalurgia, água, energia hidroelétrica,
florestas, caça e pesca, bem como sua exploração (art. 5º, XIX).
A Constituição de 1937 apresentou a preocupação com monumentos históricos,
artísticos e naturais, e também a competência da União em matéria de riquezas
do subsolo, mineração, metalurgia, água, energia hidroelétrica, florestas, caça e
pesca, bem como sua exploração ( art. 16, XIV).
A Constituição do Brasil de 1946 manteve a proteção do patrimônio histórico,
cultural e paisagístico, ampliou a competência da União para legislar sobre
mineração, metalurgia, água, energia elétrica, florestas, caça e pesca (5º, XV, l).
COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL AMBIENTAL

Na Constituição de 1967 houve, de certo modo, a manutenção das proteções


aos recursos naturais contidos nas Constituição anterior, e estabeleceu a
competência da União para organizar a defesa permanente contra as
calamidades públicas, especialmente a seca e as inundações, sendo inserido
através da Emenda 1/1969 a palavra ecológico em seu art. 172:

“A lei regulará mediante prévio levantamento ecológico, o aproveitamento


agrícola de terras sujeitas a intempéries e calamidades. O mau uso da terra
impedirá o proprietário de receber incentivos e auxílios do Governo”.
COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL AMBIENTAL

A Constituição Federal de 1988 foi a primeira a incluir em seu texto a


expressão “meio ambiente”, tendo inclusive um capítulo específico na ordem
social.
A doutrina aponta que houve uma saída do “estado de miserabilidade ecológica
constitucional”, próprio das cartas liberais, para um estágio de “opulência
ecológica constitucional”, sendo o capítulo destinado ao meio ambiente o ápice
de um regime constitucional que em vários pontos é dedicado de forma direta
ou indireta dedica-se à gestão dos recursos ambientais.
COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL AMBIENTAL
Como já foi dito, o art. 225 da CF/88 é o “hábitat natural” da tutela
constitucional do meio ambiente.
Constitui ele o único artigo do Capítulo VI (Do Meio Ambiente) do Título VIII
(Da Ordem Social). Por isso mesmo, afirmamos que, ali, a proteção ao meio
ambiente se dá de forma direta ou imediata.
Apesar de ser apenas um artigo, é grande o número de normas ali contidas. Não
nos enganemos: são, ao todo, sete parágrafos, sendo que o primeiro deles
possui nada menos que sete incisos. O parágrafo sétimo foi acrescentado pela
EC 96 em 2017.
Enfim, não obstante constituir-se o Capítulo VI de um único artigo, vê-se que o
legislador constituinte deu atenção especial à proteção ambiental, tratando de
variados e importantíssimos aspectos relativos ao meio ambiente.
COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL AMBIENTAL
CRFB, Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e
à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

DIREITO FUNDAMENTAL DE 3º DEVER FUNDAMENTAL: O DEVER


DIMENSÃO: DIREITO AO MEIO DE DEFENDÊ-LO E PRESERVÁ-LO
AMBIENTE ECOLOGICAMENTE PARA AS PRESENTES E FUTURAS
EQUILIBRADO. GERAÇÕES.

SUSTENTABILIDADE
COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL AMBIENTAL
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I — preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo
ecológico das espécies e ecossistemas;
II — preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e
fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;
III — definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão
permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
IV — exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de
impacto ambiental, a que se dará publicidade;
COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL AMBIENTAL
V — controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e
substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio
ambiente;
VI — promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
VII — proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que
coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou
submetam os animais a crueldade.

§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio


ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público
competente, na forma da lei.
COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL AMBIENTAL
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o


Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua
utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a
preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.

§ 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por


ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.

§ 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização
definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.
COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL AMBIENTAL

§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não se
consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam
manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição Federal,
registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural
brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-
estar dos animais envolvidos.”
COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL AMBIENTAL

Como já vimos, no caput do art. 225, o legislador cuidou de fixar uma série de
aspectos fundamentais para a tutela do meio ambiente e até mesmo para o direito
ambiental como ciência.
A começar pela definição do objeto de tutela deste ramo do direito, que, como já
estudamos, é o equilíbrio ecológico. Estabeleceu, ainda, a titularidade deste
direto (o povo; todos das presentes e futuras gerações) e seu regime jurídico
(bem público de uso comum, essencial à qualidade de vida).
Por fim, se por um lado assegurou um Direito ao equilíbrio ecológico, por outro
previu que o Dever de defender e preservar o meio ambiente impõe-se não só ao
Poder Público, mas a toda a coletividade, num caráter eminentemente solidário e
participativo. Há, portanto, um direito e um correlato dever jurídico.
COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL AMBIENTAL
Incumbências do Poder Público (§ 1º do art. 225)

Depois, no parágrafo primeiro, tratou de enumerar, em cada um dos sete incisos


que o compõem, algumas atribuições específicas do Poder Público, destinadas a
assegurar a efetividade do direito contido no caput.

Assim, nesse parágrafo, o legislador constitucional previu algumas ferramentas


(instrumentos) e expressamente elencou algumas condutas, bem como alguns
fins que devem ser cumpridos pelo Poder Público, tudo com vistas à asseguração
do direito a um ambiente ecologicamente equilibrado.

Vejamos a seguir, quais são eles.


COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL AMBIENTAL
No inciso I, determinou-se que cabe ao Poder Público “preservar e restaurar os
processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e
ecossistemas”.
IMPORTANTE: o inciso I do § 1º do art. 225, com os incisos II, III e VII,
recebeu regulamentação na Lei n. 9.985/2000, destinada, mais especificamente, a
instituir o Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Ali, no art. 2º, o
legislador trouxe definição legal para uma série de termos que aparecem no art.
225.
De acordo com a Lei n. 9.985/2000, “preservação” significa o “conjunto de
métodos, procedimentos e políticas que visem a proteção a longo prazo das
espécies, habitats e ecossistemas, além da manutenção dos processos
ecológicos, prevenindo a simplificação dos sistemas naturais” (art. 2º, V, da
Lei n. 9.985/2000).
COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL AMBIENTAL
Já a palavra “restauração” significa a “restituição de um ecossistema ou de uma
população silvestre degradada o mais próximo possível da sua condição original”
(art. 2º, XIV, da Lei n. 9.985/2000).
Assim, preservar é diferente de restaurar, que por sua vez é diferente de recuperar,
palavra que foi usada no parágrafo segundo do art. 225 e que significa “restituição de
um ecossistema ou de uma população silvestre degradada a uma condição não
degradada, que pode ser diferente de sua condição original” (art. 2º, XIII, da Lei n.
9.985/2000).
Da mesma forma, o inciso I mencionou “processos ecológicos”, expressão que
significa o conjunto de atos que tipificam os fenômenos ecológicos que sejam
essenciais para a manutenção da vida e do ambiente.
Estes, os processos ecológicos essenciais, podem ser classificados e identificados em
unidades de organização diversas e variadas. Aqui, o texto constitucional deixa claro
que todos os processos ecológicos essenciais de qualquer ambiente e qualquer
ecossistema devem ser preservados e restaurados.
COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL AMBIENTAL
Além da preservação e restauração dos processos ecológicos, o inciso I deixa
evidente que o manejo ecológico é uma importante técnica a ser utilizada para se
proteger os ecossistemas e as espécies.

O manejo ecológico deve ser empregado tanto sob uma perspectiva individual
(envolvendo uma espécie), como sob uma perspectiva global (envolvendo todo
um ecossistema).

O Superior Tribunal de Justiça reconheceu o dever jurídico de elaboração dos


planos de manejo das unidades de conservação (Lei n. 9.985/2000). Nessa lei
está estabelecido que, salvo exceção nela prevista, as unidades de conservação
devem ter um plano de manejo, fundamental para organização, administração e
gestão das unidades de conservação. (AgInt no AREsp 1.656.657/MG, rel. Min.
Herman Benjamin, 2ª Turma, julgado em 12-4-2021, DJe 3-8-2021).
COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL AMBIENTAL

UNIÃO:
Competência legislativa exclusiva, art. 22, IV, XII e XXVI:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;
XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;
XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;
COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL AMBIENTAL
UNIÃO:
Competência administrativa exclusiva, art. 21, XVIII, XIX, XX, XXIII, d.
XVIII - planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente as
secas e as inundações;
XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga
de direitos de seu uso;
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e
transportes urbanos;
XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal
sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de
minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições:
d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa;
COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL AMBIENTAL
Estados e Distrito Federal
Competência legislativa: art. 25, §3º.
Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem,
observados os princípios desta Constituição.
§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas,
aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios
limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de
interesse comum.

Competência administrativa: art. 25, § 1º


§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta
Constituição.
COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL AMBIENTAL
Municípios:
Competências legislativas: art. 30, I e II.
Art. 30. Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;

Competência administrativa: Art. 30, VIII e IX.


Art. 30. Compete aos Municípios:
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e
controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano;
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a
ação fiscalizadora federal e estadual.
COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL AMBIENTAL

Competência administrativa comum entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios:


Art. 23, III, IV, VI, VII e XI.
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os
monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de
valor histórico, artístico ou cultural;
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de
recursos hídricos e minerais em seus territórios;
COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL AMBIENTAL
Competência legislativa concorrente União, Estados e Distrito Federal:
Art. 24, VI, VII, VIII.

VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos
naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;

VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;

VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 19. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2017.

MAZZILLI, Hugo Nigri. A defesa dos interesses difusos em juízo: meio ambiente, consumidor,
patrimônio cultura, patrimônio público e outros interesses. 24.ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

MILARÉ, Edis. Direito do ambiente. 7.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

MUKAI, Toshio, Direito ambiental sistematizado. 10a ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense,
2016.

RODRIGUES, Marcelo Abelha. Direito ambiental esquematizado. 4. ed. – São Paulo : Saraiva,
2017.

SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 9.ed. São Paulo: Malheiros, 2011.

SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de direito ambiental. 16. ed. – São Paulo : Saraiva Educação,
2018.

Você também pode gostar