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INSTITUTO EDUCACIONAL DO NORTE DE MATO GROSSO (IENOMAT)

FACULDADE DE DIREITO DE ALTA FLORESTA (FADAF)


CURSO DE DIREITO

LARISSA PEREIRA ROCHA

ESPAÇOS AMBIENTALMENTE PROTEGIDOS

Alta Floresta – MT
2019
O meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito fundamental
consagrado na Constituição Federal brasileira de 1988, que ainda estabelece ser dever
da coletividade e do Poder Público mantê-lo sadio. A Constituição determina, ainda,
que o meio ambiente é um bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida (art. 225, caput), sujeitando-o, assim, a um regime jurídico especial.
Portanto, procurando efetivar o direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado e o dever do Poder Público de assegura-lo às presentes e futuras gerações, a
Constituição Federal de 1988 estabeleceu uma série de atribuições específicas, dentre
elas a instituição dos espaços territoriais especialmente protegidos. Segundo dispõe o
art., 225, §1°, III, é vedada qualquer utilização que comprometa sua integridade, assim
como a supressão ou alteração sem a prévia edição de lei.
A Lei federal 9985/2000 regulamenta especificamente tal dispositivo
constitucional, sem, contudo, tratar da questão de forma exaustiva. Além disso,
costuma-se incluir no conceito de espaços territoriais citados na Constituição a área de
preservação permanente e a de reserva legal, previstos no Código Florestal, tanto o
revogado (Lei 4771/1965), como no atual (Lei 12.651/2012). Há, ainda, conflitos
correspondentes à possibilidade de supressão ou alteração da área a ser protegida, assim
como sua utilização. Um exemplo refere-se à alteração do art.4º do Código Florestal de
1965 (Lei 4.771/1965), feito pelo artigo 1° da Medida Provisória n° 2.166-67/2001, cuja
constitucionalidade foi questionada por meio de uma ação direta de
inconstitucionalidade, ajuizada pelo Procurador-Geral da República em 14/07/2005.
O artigo 225, caput da Constituição Federal é o que traz as normas mais
importantes, destacando-se a previsão de que “Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-
lo para as presentes e também as futuras gerações”. A Constituição de 1988 foi
inovadora, sendo a primeira brasileira a tratar deliberadamente da questão ambiental ao
criar um capítulo exclusivo ao meio ambiente e trazendo mecanismos para sua proteção
e controle, inclusive sendo tratada por alguns autores como “Constituição Verde”.
O direito ao meio ambiente e o seu reconhecimento como um direito fundamental
surgiu com a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano,
realizada pela ONU em 1972, na cidade de Estocolmo, a qual deu origem ao Programa
das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Como resultado das discussões dessa
conferência, foi elaborada a “Declaração de Estocolmo”, conjunto de 26 proposições
denominadas Princípios.
Nos Princípios 1 e 2 dessa Declaração afirma-se que:
1 - O homem tem direito fundamental à liberdade, à igualdade e condições de
vida adequadas, em um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar
uma vida digna, gozar de bem-estar e é portador solene de obrigação de
proteger e melhorar o meio ambiente, para as gerações presentes e futuras.
2 - Os recursos naturais da Terra, incluídos o ar, a água, o solo, a flora e a
fauna e, especialmente, parcelas representativas dos ecossistemas naturais,
devem ser preservados em benefício das gerações atuais e futuras, mediante
um cuidadoso planejamento ou administração adequada.
Assim o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é um
direito difuso, de terceira dimensão ou geração. Os direitos de terceira geração
caracterizam-se por estar vinculados a critérios patrimoniais ou individuais, estando
diretamente ligado aos direitos da coletividade. Neste sentido, são direitos difusos, que:
“não se destinam especificamente à proteção dos interesses de um indivíduo, de um
grupo ou de um determinado Estado.
O Supremo Tribunal Federal já se posicionou no sentido de que o direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado é um direito fundamental, pertencente à
coletividade, e, portanto, de terceira geração:
A QUESTÃO DO DIREITO AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE
EQUILIBRADO. DIREITO DE TERCEIRA GERAÇÃO. PRINCÍPIO DA
SOLIDARIEDADE.O direito à integridade do meio ambiente – típico direito
de terceira geração – constitui prerrogativa jurídica de titularidade coletiva,
refletindo, dentro do processo de afirmação de direitos humanos, a expressão
significativa de um poder atribuído, não a indivíduo identificado em sua
singularidade, mas num sentido verdadeiramente mais abrangente, à própria
coletividade social (Tribunal Pleno, MS nº 22.164, Rel.: Min. Celso de
Mello, 30 out. 1995.)
O parágrafo 4º do artigo 225 da CF estabelece que a Floresta Amazônica
brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona
Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, o que é uma
forma de proteção especial. Terras Indígenas, quilombolas e sítios arqueológicos são,
igualmente, áreas protegidas.
Desta forma, é possível dividir as áreas protegidas em dois grandes grupos: (a) por
determinação legal e (b) por ato do poder público.
Por determinação legal são as áreas genericamente protegidas tais como aquelas
contidas no Código Florestal (Lei nº 12.651/2012), (a) áreas de preservação permanente
(APP) (b) reserva florestal legal e (c) áreas de uso restrito. Cabe observar, todavia, que
as APP se dividem em duas modalidades: (i) por determinação legal e (ii) por ato do
poder público. O Código Florestal também estabelece um regime de micro proteção
aplicável a indivíduos (espécimes) – uma árvore específica- ou a espécies (Carnaúba,
por exemplo) neste último caso devendo ser indicadas as coordenadas geográficas sobre
as quais a proteção especial é aplicável.
Por ato do poder público, como regra, são os ETEP incluídos no Sistema Nacional
de Unidades de Conservação (SNUC) (Lei nº 9.985/2000). O SNUC opera com duas
grandes categorias, a saber: (a) proteção integral e (b) uso sustentável.
As unidades de proteção integral são aquelas nas quais a utilização permitida é,
apenas, a indireta, isto é, não há exploração econômica do bem natural em si
mesmo. Há várias modalidades de unidades em tal categoria, com destaque para os
Parques – nacionais, estaduais ou municipais, conforme o ente federativo que os tenha
criado – que devem ser constituídos por terras públicas ou desapropriadas no prazo de
cinco anos após a instituição do parque, segundo o meu entendimento.
As unidades de uso sustentável são aquelas que objetivam conciliar a conservação
ambiental com o uso econômico. As mais destacadas em tal grupo são as Áreas de
Proteção Ambiental que, muitas vezes, por erro de zoneamento e concepção têm planos
de manejo que as transformam em verdadeiros parques. Também merecem menção
especial as Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) que são “parques
privados” abertos à visitação pública, pesquisa científica etc. Não geram custos para o
Tesouro (dinheiro publico), salvo alguma renúncia fiscal de imposto sobre a
propriedade. É uma modalidade exitosa. Outros tipos de UC de uso sustentável são as
destinadas às populações tradicionais como as Reservas de Desenvolvimento
Sustentável.
Assim as áreas protegidas englobam as Unidades de Conservação (UCs),
mosaicos e corredores ecológicos, espaços considerados essenciais, do ponto de vista
econômico, por conservarem a sócio biodiversidade, além de serem provedores de
serviços ambientais e geradores de oportunidades de negócios.
Espaços como os parques, florestas nacionais, mosaicos florestais e as UCs
mantidas pelo Programa de Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa) são responsáveis pela
produção direta de parte da água destinada ao consumo humano, bem como impedem a
emissão de bilhões de toneladas de carbono na atmosfera.
São de grande importância os corredores ecológicos, que conectam os fragmentos
de áreas naturais e são definidos no Sistema Nacional de Unidades de Conservação
(SNUC) como porções de ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando UCs,
possibilitam o fluxo de genes e o movimento da biota - conjunto de seres vivos de um
ecossistema, o que inclui a flora, a fauna, os fungos e outros grupos de organismos -,
facilitando a dispersão de espécies e a re colonização de áreas degradadas, e ainda a
manutenção de populações que demandam, para sua sobrevivência, de áreas com
extensão maior do que aquelas das unidades individuais.

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