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A Constituição afirma, no seu art. 225, que “todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-
lo para as presentes e futuras gerações”, de maneira que prescreve as seguintes normas
obrigatórias de atuação da Administração Pública e dos particulares, uma vez que as
condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores,
pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da
obrigação de reparar os danos causados (CF, art. 225, § 3º), consoante constantes no §
1º do art. 225 nos seus incisos, de I a VII:
I- preservação e restauração dos processos ecológicos essenciais e provimento do
manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
Observações - Cabe, nesse sentido, ressaltar que o inciso I do § 1º do art. 225, com
os incisos II, III e VII, recebeu regulamentação na Lei n. 9.985/2000, responsável,
mais especificamente, por instituir o Sistema Nacional de Unidades de Conservação.
Ali, no art. 2º, o legislador trouxe definição legal para uma série de termos que
aparecem no art. 225. De acordo com a Lei n. 9.985/2000, “preservação” significa o
“conjunto de métodos, procedimentos e políticas que visem a proteção a longo prazo
das espécies, habitats e ecossistemas, além da manutenção dos processos ecológicos,
prevenindo a simplificação dos sistemas naturais” (art. 2º, V, da Lei n. 9.985/2000).
Já a palavra “restauração” significa a “restituição de um ecossistema ou de uma
população silvestre degradada o mais próximo possível da sua condição original”
(art. 2º, XIV, da Lei n. 9.985/2000). Assim, preservar é diferente de restaurar, que
por sua vez é diferente de recuperar, palavra que foi usada no parágrafo segundo do
art. 225 e que significa “restituição de um ecossistema ou de uma população
silvestre degradada a uma condição não degradada, que pode ser diferente de sua
condição original” (art. 2º, XIII, da Lei n. 9.985/2000).
II- preservação da diversidade e da integridade do patrimônio genético do país e
fiscalização das entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;
Observação: Importante frisar que o patrimônio genético é um fator de enorme
interesse científico e econômico (basta pensar na indústria farmacêutica e nas
patentes), motivo pelo qual também fica evidente que deve o Poder Público
fiscalizar as entidades que sejam dedicadas a manipulação e pesquisa nessa área.
Assim, por tratar de dois pontos distintos de atuação, esse dispositivo acabou sendo
regulamentado pela Lei n. 9.985/2000 (que cuida, entre outras coisas, da
preservação da integridade e da diversidade do patrimônio genético do nosso país),
bem como pela Lei n. 11.105/2005, que estabelece normas de segurança e
mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos geneticamente
modificados e seus derivados.
III- definição, em todas as unidades da Federação, de espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão
permitidas somente por meio de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteção. Conforme decidiu o
Supremo Tribunal Federal, “a exigência de lei faz-se presente quando referida
modificação implicar prejudicialidade ou retrocesso ao status de proteção já
constituído naquela unidade de conservação, com o fito de coibir a prática de atos
restritivos que não tenham a aquiescência do Poder Legislativo”;
Observação: O inciso III do § 1º do art. 225 fala que apenas a supressão e a
alteração desses espaços devem ser feitas por meio de lei. Sua criação ou
delimitação, assim, pode ser feita por meio de atos administrativos, como decretos.
Nesse sentido, já se manifestou o Supremo Tribunal Federal:
“MANDADO DE SEGURANÇA. MEIO AMBIENTE. DEFESA. ATRIBUIÇÃO
CONFERIDA AO PODER PÚBLICO. ARTIGO 225, § 1º, III, CB/88.
DELIMITAÇÃO DOS ESPAÇOS TERRITORIAIS PROTEGIDOS. VALIDADE
DO DECRETO. SEGURANÇA DENEGADA. 1. A Constituição do Brasil atribui
ao Poder Público e à coletividade o dever de defender um meio ambiente
ecologicamente equilibrado. [CB/88, art. 225, §1º, III]. 2. A delimitação dos espaços
territoriais protegidos pode ser feita por decreto ou por lei, sendo esta
imprescindível apenas quando se trate de alteração ou supressão desses espaços.
Precedentes. Segurança denegada para manter os efeitos do decreto do Presidente da
República, de 23 de março de 2006” (STF, Pleno, MS 26.064/DF, rel. Min. Eros
Grau, DJ 5-8-2010).
Embora a criação de espaços especialmente protegidos seja uma técnica empregada
há tempos no Brasil, a Lei n. 9.985/2000 regulamentou efetivamente este dispositivo
constitucional, pondo fim à confusão de nomes e tipos de espaços especialmente
protegidos que eram criados pelo poder público municipal, estadual e federal.
Assim, “unidades de conservação” não é a mesma coisa de “espaços especialmente
protegidos”. O advento dessa lei foi, então, muito importante, dentre outros
aspectos, para definir os tipos de espaços ambientais especialmente protegidos,
atribuindo nomes de acordo com o seu regime de uso, atributos e finalidades.
Fixaram-se o conteúdo de cada espaço, os atributos a serem preservados, bem como
o critério de participação popular na sua criação. Tudo isso, evidentemente, trouxe
mais segurança jurídica. Dessa forma, são exemplos de espaços especialmente
protegidos a área de preservação permanente (APP), que não se encontra
regulamentada na Lei n. 9.985/2000, a Reserva Extrativista, o Monumento Natural,
a Reserva Biológica, o Jardim Zoológico, entre outros.
IV - exigência, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, de estudo prévio de
impacto ambiental, a que se dará publicidade;
V - controle sobre a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos
e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio
ambiente;
VI- promoção da educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
VII- proteção à fauna e à flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem
em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os
animais a crueldade.
Ainda, prosseguindo com aquilo que consta no art. 225 da Constituição Federal,
temos nos parágrafos seguintes:
§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio
ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público
competente, na forma da lei.
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal
Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á,
na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio
ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
§ 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações
discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
§ 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida
em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.
§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não se
consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam
manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição Federal,
registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural
brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar
dos animais envolvidos.
c) Observações finais