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DEFESA DO MEIO AMBIENTE

1) A proteção do meio ambiente na constituição federal de 1988

A defesa do meio ambiente se enquadra como um direito humano de terceira


dimensão, ou seja, transindividual, que se reflete em toda a sociedade e mesmo no
gênero humano. Enquanto os direitos humanos da primeira dimensão dizem respeito às
liberdades públicas e aos direitos políticos, ou seja, direitos civis e políticos a traduzir o
valor liberdade e os de segunda dimensão envolvem uma perspectiva de evidenciação
dos direitos sociais, culturais e econômicos, bem como dos direitos coletivos, ou de
coletividade, correspondendo aos direitos de igualdade (substancial, real e material, e
não meramente formal), os direitos fundamentais da terceira dimensão são marcados
pela alteração da sociedade por profundas mudanças na comunidade internacional
(sociedade de massa, crescente desenvolvimento tecnológico e científico),
identificando-se profundas alterações nas relações econômico-sociais. Novos problemas
e preocupações mundiais surgem, ressaltando-se a necessidade de preservacionismo
ambiental e a proteção dos consumidores, Tais direitos da terceira dimensão são direitos
transindividuais, isto é, direitos que vão além dos interesses do indivíduo; pois são
concernentes à proteção do gênero humano, com altíssimo teor de humanismo e
universalidade. A título complementar, os direitos de quarta dimensão se associam à
globalização dos direitos fundamentais (envolvendo a democracia, a informação e o
pluralismo) e, conforme Norberto Bobbio, também se relacionam aos avanços no campo
da engenharia genética, ao colocarem em risco a própria existência humana, em razão
da manipulação do patrimônio genético.
Antes de 1981, a proteção ao meio ambiente era prevista apenas de maneira
indireta, como reflexo da tutela de outros valores, mas, com a Política Nacional do
Meio Ambiente (Lei 6.938/81), o meio ambiente passou a ser objeto autônomo de
tutela jurídica. Ou seja, o meio ambiente passou a merecer proteção legislativa por seu
valor em si mesmo, e não pela importância que representa para outros direitos. Se antes
o que se tinha era a proteção de alguns microbens ambientais específicos (recursos
ambientais), sem uma orientação ecológica direta, mas somente sanitária e econômica,
atualmente observamos que é o macrobem (equilíbrio ecológico) que é protegido a
partir da função ecológica dos microbens (recursos ambientais).
Conforme o art. 3º, I, da Lei 6.938/81, temos o conceito de meio ambiente
como o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,
química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.
É importante frisar que em toda tutela de um microbem ambiental (recurso
ambiental) há a proteção da sua função ecológica, da sua contribuição com o equilíbrio
ecológico (macrobem), não se podendo dissociar um do outro, como bem afirma a
posição do Superior Tribunal de Justiça ao reconhecer a indivisibilidade da tutela de um
e outro (REsp 1.120.117/AC, rel. Min. Eliana Calmon, 2ª Turma, julgado em
10/11/2009, DJe 19/11/2009).
O ordenamento jurídico ambiental brasileiro é muito rico e complexo. Seguindo
a Lei 6.938/81, temos a própria Constituição Federal de 1988 (em especial no seu artigo
225 e, já anteriormente no artigo 170, inciso VI), bem como diversas leis, como a Lei
9.433/97 (Recursos Hídricos) e a Lei 11.105/2005 (Biossegurança). A estas podemos
ainda adicionar leis anteriores, que estabeleceram instrumentos para a proteção do
equilíbrio ecológico, como, por exemplo, a Lei 7.347/85 (Ação Civil Pública), a Lei
9.605/98 (Crimes Ambientais), e a Lei n. 9.795/99 (Lei de Educação Ambiental).

a) Proteção ao meio ambiente na Constituição Federal de 1988 – visão geral.

A Constituição Federal de 1988 deu uma importância especial à proteção do


meio ambiente, exercendo um papel fundamental neste sentido. Se a Lei 6.938/81 foi
um marco inicial para a proteção autônoma do meio ambiente, a CF enriqueceu essa
tutela dentro de nosso ordenamento, ao lhe conceder um caráter constitucional.
A proteção ao meio ambiente na Constituição Federal de 1988 (CF) tem uma
citação marcante no artigo 170 onde encontramos (inciso VI) que: “A ordem
econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre-iniciativa, tem por
fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,
observados os seguintes princípios: (...) VI - defesa do meio ambiente, inclusive
mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e
serviços e de seus processos de elaboração e prestação”.
O artigo da CF, por excelência, que se relaciona ao meio ambiente, entretanto, é
o artigo 225, conforme será descrito a seguir.
Entretanto, além dessas duas referências importantes na CF, ainda temos outras.
O art. 5º, LXXIII afirma que “qualquer cidadão é parte legítima para propor ação
popular que vise a anular ato lesivo (...) ao meio ambiente (...), ficando o autor, salvo
comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência”. No art. 23, VI
é ressaltada a competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios para “proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas
formas”. O art. 24, VI e VIII afirma ainda que: “Compete à União, aos Estados e ao
Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (...) florestas, caça, pesca, fauna,
conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio
ambiente e controle da poluição; (...) responsabilidade por dano ao meio ambiente (...)”.
O art. 129 elenca como função institucional do Ministério Público promover o inquérito
civil e a ação civil pública para a proteção do patrimônio público e social, do meio
ambiente e de outros interesses difusos e coletivos. O art. 174, § 3º, afirma que “O
Estado favorecerá a organização da atividade garimpeira em cooperativas, levando em
conta a proteção do meio ambiente e a promoção econômico-social dos garimpeiros”.
Prelecionam ainda com relação ao meio ambiente o art. 186, II: “A função social é
cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus
de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: (...) utilização adequada dos
recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente”; o art. 200, VIII: “Ao
sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: (...)
colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho”; e, por fim,
o art. 220, § 3º, II: “Compete à lei federal: (...) estabelecer os meios legais que garantam
à pessoa e à família a possibilidade de se defenderem (...) da propaganda de produtos,
práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente”.
Indiretamente, tratando de proteger o equilíbrio ecológico, a Constituição federal
ainda prevê a regra de que a propriedade privada atenderá à sua função social (art. 5º,
XVIII), estabelece os princípios e regras da política urbana (art. 182) e da política
agrária (art. 184), e, por fim, estabelece regras para exploração e uso dos recursos
hídricos (art. 20, § 1º; art. 21, XIX; art. 231, § 3º).

b) Proteção ao meio ambiente na Constituição Federal de 1988 – visão específica

A Constituição afirma, no seu art. 225, que “todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-
lo para as presentes e futuras gerações”, de maneira que prescreve as seguintes normas
obrigatórias de atuação da Administração Pública e dos particulares, uma vez que as
condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores,
pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da
obrigação de reparar os danos causados (CF, art. 225, § 3º), consoante constantes no §
1º do art. 225 nos seus incisos, de I a VII:
I- preservação e restauração dos processos ecológicos essenciais e provimento do
manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
Observações - Cabe, nesse sentido, ressaltar que o inciso I do § 1º do art. 225, com
os incisos II, III e VII, recebeu regulamentação na Lei n. 9.985/2000, responsável,
mais especificamente, por instituir o Sistema Nacional de Unidades de Conservação.
Ali, no art. 2º, o legislador trouxe definição legal para uma série de termos que
aparecem no art. 225. De acordo com a Lei n. 9.985/2000, “preservação” significa o
“conjunto de métodos, procedimentos e políticas que visem a proteção a longo prazo
das espécies, habitats e ecossistemas, além da manutenção dos processos ecológicos,
prevenindo a simplificação dos sistemas naturais” (art. 2º, V, da Lei n. 9.985/2000).
Já a palavra “restauração” significa a “restituição de um ecossistema ou de uma
população silvestre degradada o mais próximo possível da sua condição original”
(art. 2º, XIV, da Lei n. 9.985/2000). Assim, preservar é diferente de restaurar, que
por sua vez é diferente de recuperar, palavra que foi usada no parágrafo segundo do
art. 225 e que significa “restituição de um ecossistema ou de uma população
silvestre degradada a uma condição não degradada, que pode ser diferente de sua
condição original” (art. 2º, XIII, da Lei n. 9.985/2000).
II- preservação da diversidade e da integridade do patrimônio genético do país e
fiscalização das entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;
Observação: Importante frisar que o patrimônio genético é um fator de enorme
interesse científico e econômico (basta pensar na indústria farmacêutica e nas
patentes), motivo pelo qual também fica evidente que deve o Poder Público
fiscalizar as entidades que sejam dedicadas a manipulação e pesquisa nessa área.
Assim, por tratar de dois pontos distintos de atuação, esse dispositivo acabou sendo
regulamentado pela Lei n. 9.985/2000 (que cuida, entre outras coisas, da
preservação da integridade e da diversidade do patrimônio genético do nosso país),
bem como pela Lei n. 11.105/2005, que estabelece normas de segurança e
mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos geneticamente
modificados e seus derivados.
III- definição, em todas as unidades da Federação, de espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão
permitidas somente por meio de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteção. Conforme decidiu o
Supremo Tribunal Federal, “a exigência de lei faz-se presente quando referida
modificação implicar prejudicialidade ou retrocesso ao status de proteção já
constituído naquela unidade de conservação, com o fito de coibir a prática de atos
restritivos que não tenham a aquiescência do Poder Legislativo”;
Observação: O inciso III do § 1º do art. 225 fala que apenas a supressão e a
alteração desses espaços devem ser feitas por meio de lei. Sua criação ou
delimitação, assim, pode ser feita por meio de atos administrativos, como decretos.
Nesse sentido, já se manifestou o Supremo Tribunal Federal:
“MANDADO DE SEGURANÇA. MEIO AMBIENTE. DEFESA. ATRIBUIÇÃO
CONFERIDA AO PODER PÚBLICO. ARTIGO 225, § 1º, III, CB/88.
DELIMITAÇÃO DOS ESPAÇOS TERRITORIAIS PROTEGIDOS. VALIDADE
DO DECRETO. SEGURANÇA DENEGADA. 1. A Constituição do Brasil atribui
ao Poder Público e à coletividade o dever de defender um meio ambiente
ecologicamente equilibrado. [CB/88, art. 225, §1º, III]. 2. A delimitação dos espaços
territoriais protegidos pode ser feita por decreto ou por lei, sendo esta
imprescindível apenas quando se trate de alteração ou supressão desses espaços.
Precedentes. Segurança denegada para manter os efeitos do decreto do Presidente da
República, de 23 de março de 2006” (STF, Pleno, MS 26.064/DF, rel. Min. Eros
Grau, DJ 5-8-2010).
Embora a criação de espaços especialmente protegidos seja uma técnica empregada
há tempos no Brasil, a Lei n. 9.985/2000 regulamentou efetivamente este dispositivo
constitucional, pondo fim à confusão de nomes e tipos de espaços especialmente
protegidos que eram criados pelo poder público municipal, estadual e federal.
Assim, “unidades de conservação” não é a mesma coisa de “espaços especialmente
protegidos”. O advento dessa lei foi, então, muito importante, dentre outros
aspectos, para definir os tipos de espaços ambientais especialmente protegidos,
atribuindo nomes de acordo com o seu regime de uso, atributos e finalidades.
Fixaram-se o conteúdo de cada espaço, os atributos a serem preservados, bem como
o critério de participação popular na sua criação. Tudo isso, evidentemente, trouxe
mais segurança jurídica. Dessa forma, são exemplos de espaços especialmente
protegidos a área de preservação permanente (APP), que não se encontra
regulamentada na Lei n. 9.985/2000, a Reserva Extrativista, o Monumento Natural,
a Reserva Biológica, o Jardim Zoológico, entre outros.
IV - exigência, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, de estudo prévio de
impacto ambiental, a que se dará publicidade;
V - controle sobre a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos
e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio
ambiente;
VI- promoção da educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
VII- proteção à fauna e à flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem
em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os
animais a crueldade.
Ainda, prosseguindo com aquilo que consta no art. 225 da Constituição Federal,
temos nos parágrafos seguintes:
§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio
ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público
competente, na forma da lei.
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal
Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á,
na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio
ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
§ 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações
discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
§ 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida
em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.
§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não se
consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam
manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição Federal,
registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural
brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar
dos animais envolvidos.

c) Observações finais

É importante ainda ressaltar que a Constituição Federal afirma a proteção à


Floresta Amazônica brasileira, à Mata Atlântica, à Serra do Mar, ao Pantanal Mato-
grossense e à Zona Costeira, definindo-os como patrimônio nacional, e determinando
que sua utilização será regulamentada por lei, dentro de condições que assegurem a
preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
Entretanto, o Supremo Tribunal Federal prescreveu que “o preceito consubstanciado no
art. 225, § 5º, da Carta da República, além de não haver convertido em bens públicos os
imóveis particulares abrangidos pelas florestas e pelas matas nele referidas (Mata
Atlântica, Serra do Mar, Floresta Amazônica brasileira), também não impede a
utilização pelos próprios particulares, dos recursos naturais existentes naquelas áreas
que estejam sujeitas ao domínio privado, desde que observadas as prescrições legais e
respeitadas as condições necessárias à preservação ambiental”.
Cumpre salientar a posição do Superior Tribunal de Justiça: “1. Já não se duvida,
sobretudo à luz da Constituição Federal de 1988, que ao Estado a ordem jurídica abona,
mais na fórmula de dever do que de direito ou faculdade, a função de implementar a
letra e o espírito das determinações legais, inclusive contra si próprio ou interesses
imediatos ou pessoais do Administrador. Seria mesmo um despropósito que o
ordenamento constrangesse os particulares a cumprir a lei e atribuísse ao servidor a
possibilidade, conforme a conveniência ou oportunidade do momento, de por ela zelar
ou abandoná-la à própria sorte, de nela se inspirar ou, frontal ou indiretamente,
contradizê-la, de buscar realizar as suas finalidades públicas ou ignorá-las em prol de
interesses outros. 2. Na sua missão de proteger o meio ambiente ecologicamente
equilibrado para as presentes e futuras gerações, como patrono que é da preservação e
restauração dos processos ecológicos essenciais, incumbe ao Estado “definir, em todas
as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem
especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de
lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que
justifiquem sua proteção” (Constituição Federal, art. 225, § 1º, III). 3. A criação de
Unidades de Conservação não é um fim em si mesmo, vinculada que se encontra a
claros objetivos constitucionais e legais de proteção da Natureza. Por isso, em nada
resolve, freia ou mitiga a crise da biodiversidade - diretamente associada à insustentável
e veloz destruição de habitat natural -, se não vier acompanhada do compromisso estatal
de, sincera e eficazmente, zelar pela sua integridade físico-ecológica e providenciar os
meios para sua gestão técnica, transparente e democrática. A ser diferente, nada além de
um ‘sistema de áreas protegidas de papel ou de fachada’ existirá, espaços de ninguém,
onde a omissão das autoridades é compreendida pelos degradadores de plantão como
autorização implícita para o desmatamento, a exploração predatória e a ocupação ilícita
(...)” (REsp 1.071.741/SP, rel. Min. Herman Benjamin, 2ª Turma, julgado em
24/03/2009, DJe 16/12/2010).
Como outro exemplo de jurisprudência nessa linha, temos o julgamento da Ação
Direta de Inconstitucionalidade 5475 pelo STF (tendo como relatora a Ministra Carmen
Lúcia, em julgamento no dia 20/04/2020 com publicação em 03/06/2020, sendo o órgão
julgador o Tribunal Pleno), julgando procedente o pedido formulado na ação direta para
declarar formal e materialmente inconstitucionais o inc. IV e o § 7º do art. 12 da Lei
Complementar nº 5/1994 do Amapá, alterada pela Lei Complementar estadual nº
70/2012, nos termos do voto da Relatora, vencido o Ministro Gilmar Mendes,
apresentou a seguinte ementa: “Ação direta de inconstitucionalidade. inc. IV e § 7º do
art. 12 da lei complementar n. 5/1994 do Amapá, alterada pela Lei Complementar
Estadual n. 70/2012. Licença ambiental única. Dispensa de obtenção das licenças
prévias, de instalação e de operação, estabelecidas pelo CONAMA (inc. I do art. 8º da
Lei n. 6.938/1981). Ofensa à competência da União para editar normas gerais sobre
proteção do meio ambiente. Desobediência ao princípio da prevenção e do dever de
proteção do meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225 da constituição da
república). Ação julgada procedente para declarar a inconstitucionalidade do inc. IV e
do § 7º do art. 12 da Lei Complementar n. 5/1994 do Amapá, alterada pela lei
complementar estadual n. 70/2012”.
No caso do inciso IV do § 1º do art. 225, foi declarada ser inconstitucional a lei
do Estado de Santa Catarina que dispensava “a elaboração de estudo prévio de impacto
ambiental no caso de áreas de florestamento ou reflorestamento para fins empresariais”.
Conforme segue: “AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO 182,
§ 3º, DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE SANTA CATARINA. ESTUDO DE
IMPACTO AMBIENTAL. CONTRARIEDADE AO ARTIGO 225, § 1º, IV, DA
CARTA DA REPÚBLICA. A norma impugnada, ao dispensar a elaboração de estudo
prévio de impacto ambiental no caso de áreas de florestamento ou reflorestamento para
fins empresariais, cria exceção incompatível com o disposto no mencionado inciso IV
do § 1º do artigo 225 da Constituição Federal. Ação julgada procedente, para declarar a
inconstitucionalidade do dispositivo constitucional catarinense sob enfoque” (STF,
Pleno, ADI 1.086/SC, rel. Min. Ilmar Galvão, DJ 10-8-2001).
Quanto ao inciso V do § 1º do art. 225, são delineadas condutas que devem ser
tomadas pelo Poder Público ao dizer que deve “controlar a produção, a comercialização
e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a
qualidade de vida e o meio ambiente”. Aqui o legislador reconhece que principalmente
(mas não de forma exclusiva), a atividade econômica utiliza técnicas, métodos e
substâncias que são reconhecidamente agressivos ao meio ambiente e à qualidade de
vida, tais como os defensivos agrícolas, pesticidas, adubos químicos, dentre outros que
são utilizados na atividade agrícola, bem como as técnicas e os métodos de produção da
indústria siderúrgica, por exemplo. Nota-se nesse dispositivo o fato de que ele antecipa
para o momento do risco a proteção da vida com qualidade e do meio ambiente. Isso é
importante isso porque, antes de se falar em prevenir contra o dano, o legislador
constitucional admite a tutela preventiva do próprio risco. Desse modo, o inciso V
afirma que, em relação a técnicas, métodos e substâncias que coloquem em risco o meio
ambiente e a qualidade de vida, não há por que o ônus do risco ser suportado pela
sociedade. No caso concreto há uma situação indiciária, potencial e concreta para a
tutela do risco. O momento do dano, nessas hipóteses, já foi antecipado para a
existência de uma situação de risco ambiental.
A educação ambiental pode e deve ser exigida, conforme é preconizado no
inciso VI do § 1º do art. 225, como por exemplo, no mercado de consumo, informando
adequadamente o consumidor sobre os riscos ambientais do produto e do serviço que
contrata. É importante frisar que em 1999 foi promulgada a Lei n. 9.795,
especificamente voltada à Educação Ambiental.
No que diz respeito ao artigo VII do § 1º do art. 225, temos que, em relação a
essa proteção constitucional aos animais, decidiu o Supremo Tribunal Federal que “a
obrigação de o Estado garantir a todos o pleno exercício de direitos culturais,
incentivando a valorização e a difusão das manifestações, não prescinde da observância
da norma do inciso VII do artigo 225 da Constituição Federal, no que veda prática que
acabe por submeter os animais à crueldade. Procedimento discrepante da norma
constitucional, denominado ‘farra do boi’”, também incluindo a “rinha de galo”. Da
mesma maneira, o STF, por declarou a inconstitucionalidade de lei estadual do Ceará
que regulamentava a “vaquejada”. Posteriormente, em 6 de junho de 2017, o Congresso
Nacional aprovou a Emenda Constitucional nº 96, que acrescentou o § 7º ao artigo 225
para determinar que práticas desportivas que utilizem animais não são consideradas
cruéis, ressaltando, no entanto, que desde que sejam manifestações culturais, registradas
como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro, devendo
ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar dos animais envolvidos.

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